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RELATO DE CASO - TRATAMENTO DE LEPTOSPIROSE EM CADELA

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ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO DE LEPTOSPIROSE EM 
CADELA – RELATO DE CASO 
 
NAARA CANESCHI ZEFERINO1, MARIELY THAÍS DE SOUZA2, LIVIA MARIA DE SOUZA ROCHA2 
 
1Discente do curso de Medicina Veterinária – UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP. 
2Docente do curso de Medicina Veterinária – UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP. 
RESUMO: Inicialmente a leptospirose é uma zoonose de distribuição mundial que apresenta o 
cão como importante hospedeiro, portanto, seu diagnóstico e tratamento nesta espécie é de 
suma importância, pois tem estreita relação com o homem. A leptospirose é uma doença de 
origem bacteriana, sendo a leptospira o agente infeccioso. Ela se desenvolve no organismo de 
ratos, que constantemente estão em contato com sujeira, fossas e esgotos. Ela atinge 
principalmente o fígado e os rins dos cães, trazendo aspectos típicos da doença, como a cor 
amarelada das mucosas, porém, por se tratar de uma doença sistêmica, os sinais clínicos 
apresentados pelo cão podem ser variados. No presente trabalho foi realizado o atendimento de 
uma cadela, sem raça definida, com cinco anos de idade, que apresentava sintomas 
característicos da doença. O diagnóstico para essa paciente foi firmado através da observação 
dos sinais clínicos e exames complementares como: hemograma, bioquímica sérica e PCR, o 
qual resultou em positivo para Leptospirose. O tratamento completo foi realizado no Hospital 
Veterinário do Centro Universitário Fundação de Ensino Octávio Bastos, UNIFEOB, contudo, os 
resultados não foram satisfatórios e a paciente veio a óbito. 
 
PALAVRAS-CHAVE: icterícia, insuficiência, leptospirose, roedores, zoonoses. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A leptospirose é uma das principais zoonoses com distribuição mundial, tendo sido 
descrita em todos os tipos de vertebrados de sangue quente. Os cães desempenham um papel 
importante na epidemiologia da leptospirose humana, pela proximidade aos seres humanos 
(WEEKES; EVERARD; LEVETT, 1997). 
O agente etiológico da leptospirose é uma bactéria que compõe a ordem 
Espirochaetales, família Leptospiraceae e o gênero Leptospira. As bactérias desta família 
possuem forma espiralada ou helicoidal, apresentam endoflagelos e motilidade, com 
extremidade na forma de gancho. Constituem este gênero espécies patogênicas e não 
patogênicas (saprófitas). Estes microrganismos são exigentes e requerem meios especializados 
para seu cultivo em laboratório (QUINN, 2005). 
Os roedores são considerados a principal fonte de infecção para os humanos, 
principalmente nos grandes centros urbanos (FAINE, 1999). Porém, os cães infectados também 
podem desempenhar um papel importante no risco de transmissão de leptospiras devido à sua 
estreita proximidade com os seres humanos e a capacidade de eliminar a bactéria pela urina de 
forma contínua ou intermitente (MIOTTO, 2016). Dessa forma, a evidência de sororreagentes 
para a leptospirose entre populações de cães é essencial para auxiliar na implementação de 
medidas preventivas com forte impacto em saúde pública (MIOTTO, 2006). 
Após entrarem em contato com o hospedeiro pelas mucosas nasais, orais ou 
conjuntivais, da pele lesada ou após contato prolongado com a água, as leptospiras rapidamente 
promovem infecção sistêmica através da corrente sanguínea, atingindo e replicando-se em 
diversos tecidos, incluindo rim, baço, fígado, sistema nervoso central, olhos e trato genital. Esta 
fase inicial, denominada leptospiremia, pode persistir por até 10 dias, até o hospedeiro montar 
uma resposta imunológica efetiva contra a bactéria, eliminando o organismo da corrente 
sanguínea e da maioria dos tecidos, persistindo somente em locais imunoprivilegiados, como os 
olhos e os túbulos renais, dando início à fase de leptospiúria, quando o animal elimina as 
leptospiras no ambiente, via urina (SCHULLER, 2017; HAGIWARA, 2015; GRENEE, 1993). 
Cães infectados podem apresentar uma grande diversidade de manifestações clínicas, 
variando desde quadros de infecções assintomáticas, doença febril leve e autolimitada a quadros 
agudos e graves com insuficiência hepática e renal, geralmente acompanhada de distúrbios 
hemorrágicos e pulmonares (MOHAMMED, 2011; ANDRE FONTAINE, 2006), na qual grandes 
quantidades de bactéria são eliminadas via secreções e fluidos corporais (SCHULLER, 2015). 
Os sinais clínicos dependem da resposta imunológica do hospedeiro frente à infecção e 
do sorovar infectante. Frequentemente, na fase aguda, são observados sinais de anorexia, 
vômitos, letargia, febre, dor abdominal, dispneia, taquipneia, icterícia, oligúria, anúria e uveíte 
(SCHULLER, 2017; HAGIWARA, 2015; NELSON; COUTO, 2015; GREENE, 1993). 
O diagnóstico é feito através de exames laboratoriais como hemograma, dosagem dos 
valores séricos de ureia e creatinina e urinálise que também podem ser utilizados como exames 
complementares, pois indicam alterações funcionais nos diferentes órgãos acometidos, 
contribuindo assim para a avaliação clínica do animal (NAVARRO; KOCIBA, 1982). O 
diagnóstico de cultura de sangue deve ser feito assim que possível. Apesar da cultura confirmar 
o diagnóstico, é raramente utilizada, por ser complicada, cara, consumir tempo, ser tecnicamente 
exigente, requerer incubação prolongada e ter baixa sensibilidade (AHMAD, 2005). Atualmente 
o teste de aglutinação microscópica (MAT) permanece sendo o exame sorológico definitivo 
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003). O diagnóstico molecular sendo a reação em cadeia 
de polimerase (PCR) é um método in vitro para amplificar seletivamente uma sequência de DNA 
alvo-específico (MÉRIEN, 1992). O PCR é um método mais sensível no diagnóstico precoce e 
crônico da leptospirose quando comparada ao MAT, uma vez que a sorologia negativa não 
descarta a fase hiperaguda ou a fase leptospirúria da doença (CHARELLO, 2006). 
O tratamento consiste em antibioticoterapia e terapia de suporte para os diferentes 
sistemas acometidos do organismo. As leptospiras são sensíveis a uma ampla variedade de 
antibióticos, dentre eles a penicilina, ou derivados, e a doxiciclina (usada para eliminar as 
leptospiras dos túbulos renais). Desta forma, inicia-se o tratamento via intravenosa com penicilina 
ou derivados (penicilina G, ampicilina ou amoxicilina) para tratar a leptospiremia e finaliza-se com 
a doxiciclina para tratar a leptospiúria (SCHULLER, 2017; SCHULLER, 2015). 
O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de leptospirose em uma cadela 
sem raça definida no anseio de buscar melhor compreensão da evolução de tal doença, 
desmembrando todas as fases do tratamento. Além de revisar a literatura sobre o tema e discutir 
as diferentes terapias, bem como sua importância na medicina veterinária. 
 
RELATO DE CASO 
 
Foi atendida no setor de Clínica Médica de Pequenos Animais do Hospital Veterinário da 
UNIFEOB, uma fêmea, da espécie canina, sem raça definida, castrada, com cinco anos de idade, 
pesando 17,1 kg. Sua vacinação estava desatualizada e a vermifugação realizada dois meses 
antes do atendimento. Durante a anamnese a tutora relatou que há uma semana o animal estava 
com apetite caprichoso, notou que ela apresentava coloração bem escura na urina e estava 
ficando com a pele e olhos amarelados. Ao exame físico o animal apresentava anorexia, apatia, 
icterícia de mucosas e pele, desidratação, sem mais alterações. Foram solicitados exames 
complementares na tentativa de concluir o diagnóstico, foi então realizado hemograma, o qual 
indicou trombocitopenia, plasma ictérico e presença de Anaplasma platys; bioquímica sérica que 
revelou uremia, hipoalbuminemia, aumento de fosfatase alcalina e soro extremamente ictérico. 
Foi realizado exame de PCR específico para leptospirose pelo método: Nested-Reação em 
cadeia da polimerase, resultando em positivo, com presença de DNA de Leptospira spp. Dessa 
forma concluímos o diagnóstico de leptospirose e anaplasmose. 
A terapia instituída para este caso foi fluidoterapia, para corrigir desequilíbrios hídricos e 
eletrolíticos, acompanhadode Ornitil® + Bionew®, para auxiliar no metabolismo hepático. Foi 
utilizado metoclopramida, como anti-emético, na dose de 0,5 mg/kg, por via endovenosa a cada 
12 horas; ranitidina, para reduzir a secreção gástrica na dose de 2 mg/kg, por via SC, a cada 12 
horas; Ursacol®, como protetor hepático, na dose de 15 mg/kg, por via oral, a cada 12 horas; 
Metacell Pet®, como suplemento vitamínico, na dose de 1ml para cada 10kg de peso, totalizando 
em aproximadamente 2 ml, por via oral, a cada 12 horas. Antibioticoterapia a base de doxiciclina, 
na dose de 10mg/kg, por via oral, a cada 24 horas, durante 28 dias. A alimentação da paciente 
durante a internação foi a base de ração úmida Royal Canin®, oferecida a cada três horas, 
durante o dia. A paciente manteve quadro estável durante quatro dias do tratamento hospitalar, 
demonstrando boa melhora clínica, porém, no quinto dia de tratamento houve uma piora do 
quadro e a paciente veio a óbito. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
As informações relacionadas aos sinais clínicos no caso relatado condizem com os 
achados de (SCHULLER, 2017; HAGIWARA, 2015; NELSON; COUTO, 2015; GREENE, 1993). 
Quando afirmou os sinais clínicos dependem da resposta imunológica do hospedeiro frente à 
infecção e do sorovar infectante. Frequentemente, na fase aguda, são observados sinais de 
anorexia, vômitos, letargia, febre, dor abdominal, dispneia, taquipneia, icterícia, oligúria, anúria e 
uveíte. Em seguida condizem também com a afirmação de (MOHAMMED, 2011; ANDRE 
FONTAINE, 2006), Cães infectados podem apresentar uma grande diversidade de 
manifestações clínicas, variando desde quadros de infecções assintomáticas, doença febril leve 
e autolimitada a quadros agudos e graves com insuficiência hepática e renal, geralmente 
acompanhada de distúrbios hemorrágicos e pulmonares. 
As características encontradas nos exames laboratoriais como hemograma, dosagem 
dos valores séricos de ureia e creatinina se encaixam nas mesmas descrições encontradas no 
diagnóstico de Leptospirose de (NAVARO; KOCIBA, 1982) que relatou que podem ser utilizados 
como exames complementares, pois indicam alterações funcionais nos diferentes órgãos 
acometidos, contribuindo assim para a avaliação clínica do animal. De acordo com (WORLD 
HEALTH ORGANIZATION, 2003), tem informações que direcionam o diagnóstico mais correto 
sendo o teste de aglutinação microscópica (MAT) permanece sendo o exame sorológico 
definitivo para leptospirose. Segundo (CHARELLO, 2006) O PCR é um método mais sensível no 
diagnóstico precoce e crônico da leptospirose quando comparada ao MAT. 
O tratamento que foi realizado descrito no relato, foi baseado no que (SCHULLER, 2017; 
SCHULLER, 2015) relatou que consiste nas informações que nos levam ao tratamento mais 
correto, com antibioticoterapia e terapia de suporte para os diferentes sistemas acometidos do 
organismo. 
Conclui-se que a leptospirose é uma zoonose de suma importância na clínica médica de 
pequenos animais, devido ao fato de humanos e cães possuírem relações próximas de 
convivência. No caso relatado, após confirmação do diagnóstico foi realizado exame físico, 
hemograma, bioquímico sérico e PCR, com resultado positivo para leptospirose. O tratamento 
adequado foi iniciado imediatamente, consiste em terapia de suporte e antibioticoterapia, porém, 
a paciente não respondeu de maneira satisfatória e acabou vindo a óbito. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDRE FONTAINE G. Canine leptospirosis - Do we have a problema Veterinary Microbiology, 
v.117, 2006. n.1, p.19–24. 
CHARELLO, T. et al. PCR no diagnóstico da leptospirose canina em presença de sorologia 
negativa. In: 14 EVINCI – Evento de Iniciação científica, 2006, Curitiba, UFPR, 2006. p. 139. 
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Microbiologia Veterinária e Doenças Infecciosas. Porto Alegre: Artmed, 2005. cap. 31, p. 179-
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SCHULLER, S.; FRANCEY, T.; HARTMANN, K.; HUGONNARD, M.; KOHN, B.; NALLY, J.E.; 
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