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Laís Kemelly – M14 FEBRE P1 Intermediária Introdução Primeiro de tudo: quais são os beta-lactâmicos? • Penicilinas • Cefalosporinas • Carbamênicos • Monobactâmicos Todos possuem a mesma estrutura, o anel beta- lactâmico, e compartilham do mesmo mecanismo de ação: inibem a parede celular bacteriana, que é composta de peptidoglicanos. Esses fármacos têm eficácia máxima quando os microrganismos estão se proliferando, sendo que seu efeito é pouco ou nenhum caso as bactérias não estejam crescendo ou se dividindo. Ou seja, associar um bacteriostático (se você não sabe o que é, vá no resumo de princípios da ATBterapia) com um beta-lactâmico não é muito interessante. Mecanismo de Ação Inibem a última etapa da síntese dos peptidoglicanos. O alvo das ações é referido coletivamente como proteínas de ligação às penicilinas (PLP). E o que são os peptidoglicanos, afinal? É um dos componentes da parede celular das bactérias, responsável pela estabilidade mecânica rígida. Tanto as Gram + quanto as Gram – possuem essa camada, porém: • Gram +: 50 a 100 moléculas • Gram -: 1 a 2 moléculas Resistência Bacteriana As bactérias podem ser resistentes aos antibióticos beta-lactâmicos por inúmeros mecanismos. 1. Redução da afinidade das PLP pelo antibiótico Uma cepa sensível pode adquirir mutações por recombinação homóloga e reduzir a afinidade PLP x antibiótico. Como a PLP é o local-alvo do ATB, isso implica diretamente em sua eficácia. Geralmente os antibióticos inibem muitas PLP diferentes de uma mesma bactéria. Isso significa que a mutação em uma única proteína não vai ter impacto na eficácia, mas o acúmulo de várias mutações em PLP diferentes sim. 2. Impossibilidade de que os fármacos alcancem seus sítios de ação Vou colocar de novo a imagem da estrutura das Gram + e Gram -. Sddd • Gram + → camada de peptidoglicano espessa na superfície • Gram - → camada de lipoproteínas antes da camada de peptidoglicano, que é mais delgada Ou seja, por aí já podemos concluir que o acesso do beta-lactâmico é “mais fácil” na Gram + que está com a camada exposta. Nas gram-negativas, temos a membrana interna recoberta por: • Membrana externa • Lipopolissacarídeos • Cápsula Antibióticos Beta-Lactâmicos Laís Kemelly – M14 FEBRE P1 Intermediária A membrana externa funciona como uma barreira impenetrável para alguns antibióticos. Nessa membrana existem alguns canais aquosos, poros, que permitem a passagem de alguns antibióticos hidrofílicos. O tamanho e quantidade desses poros varia de acordo com o microrganismo. 3. Inativação dos antibióticos Vá pensando que a bactéria é boba. Existem enzimas, as beta-lactamases, que podem inativar enzimaticamente os antibióticos. As gram-positivas produzem e secretam maior quantidade de beta-lactamase. (se você pensar tem sentido, já que não tem a proteção de barreira tem que investir na enzimática) As gram-negativas produzem quantidades relativamente pequenas de beta-lactamases, mas elas ficam localizadas entre as membranas celulares interna e externa para conferir proteção máxima ao organismo. (inteligente também, se tenho pouco vou colocar em locais estratégicos) Laís Kemelly – M14 FEBRE P1 Intermediária Penicilinas Classificação quanto ao espectro de atividade antimicrobiana • Penicilina G e penicilina V o Ativos: cepas sensíveis de cocos gram + o Ineficaz: Staphylococus aureus Isso acontece porque as penicilinas G e V são facilmente hidrolisadas pela penilciclase • Penicilinas resistentes à penilciclase o Ativos: S. auerus e S. epidermidis o Exemplos comerciais: meticiclina, nafciclina, oxaciclina, cloxaciclina • Aminopenicilinas o Ativos: Haemophilus influenzae, Eschericia coli, Proteus mirabilis o Comerciais: ampicilina, amoxicilina, bacampicilina, pivampicilina Sua atividade é ampliada para cobrir algumas bactérias Gram-negativas. Podem ser disponibilizados em preparações combinadas com inibidores de beta-lactamase, como clavulanato ou sulbactam, para evitar hidrólise pelas beta- lactamases. • Antibióticos com atividade antimicrobiana ampliada o Ativos: pseudomonas, enterobacter, proteus o Comerciais: azliciclina, carbenicilina, mezliciclona, ticarcilina, ticarcilina/clavulanato Penicilina G e V Atividade microbiana: são efetivas pra quê? • Gram-positivos aeróbios • Penicilina V: + ativa contra espécies de Neisseria • Clostridium • Actinomyces israelii • Streptobacillus moniliformis • Pasteurella multocida • L. monocytogenes • Leptospira • Treponema pallidum • Borrelia burgodrferi (doença de Lyme) Quais são resistentes a elas? • Estreptococus do grupo viridans • S. pneumoniae • S. aerus • S. epidermidis • Alguns raros meningococos • Bacteroides fragiles Usos terapêuticos • Infecções pneumocócicas Preferência de uso: penicilina G para tratar infecções causadas por cepas sensíveis de S. pneumoniae, mas a resistência é um problema crescente. • Pneumomia pneumocócica Penicilina G por no mínimo 5 dias • Meningite pneumocócica O tratamento deve iniciar com vancomicina + cefalosporina de terceira geração. Quando confirmado que o pneumococo é sensível à penicilina, entrar com penicilina G em infusão IV contínua ou doses fracionadas durante 10 ou 14 dias • Infecções por estreptococos beta- hemolíticos A faringite estreptocócica é a doença mais comum causada pelo Streptococus pyogenes. Tratamento com penicilina G, • Choque térmico e fascite necrosante causada por estreptococos beta- hemolíticos Penicilina + clindamicina • Pneumonia, artrite, meningite e endocardite causada por estreptococos beta-hemolíticos • Infecções causadas por outros estreptococos e enterococos Laís Kemelly – M14 FEBRE P1 Intermediária • Infecções por anaeróbios • Infecções meningocócicas • Sífilis • Actinomicose • Difteria • Antraz • Infecções por clostridium • Infecções por fusoespiroquetas • Febre da doença de rato • Infecções por Listeria • Doença de Lyme • Erisipeloide • Pasteurella multocida Usos profiláticos • Recidivas da febre reumática A administração oral de 200.000 unidades de penicilina G ou V a cada 12h reduz a incidência das recidivas em indivíduos suscetíveis. A profilaxia deve ser mantida durante todo o ano. • Sífilis Profilaxia para contatos sexuais recentes com um paciente portador de sífilis primária, secundária ou latente Penicilinas Resistentes à Penicilinase Essas penicilinas são resistentes à hidrólise pela penicilinase estafilocócica. Seu uso deve ser limitado ao tratamento de infecções causadas por estafilococus produtores dessa enzima, porque são menos ativos em relação à penicilina G contra as demais bactérias. Obs: alguns S. aerus e S. epidermidis expressam PLP com afinidade baixa, o que os torna resistentes. São denominados de acordo com essas siglas e geralmente tratados com antibióticos alternativos. (vancomicina, daptomicina, clindamicina, linezolida) Isoxazolilpenicilinas Sim, fármaco é um mundo de nome esquisito. Força na peruca. Em geral, esses antibióticos são menos eficazes contra microrganismos sensíveis à penicilina G e não são úteis contra bactérias Gram-negativas. Quem são? • Oxaciclina • Cloxaciclina • Dicloxaciclina o A mais ativa Nafciclina Altamente resistente à penicilinase, eficaz contra as cepas de S. aeurus que produzem essa enzima. Ligeiramente mais ativa do que a penicilina G, as concentrações que alcança do líquido cerebroespinal (LCS) é suficiente para tratamento da meningite estafilocócica. Aminopenicilinas A ampicilina e a amoxicilina são destinados para: • Bactérias gram-positivas• Bactérias gram-negativas sensíveis • Meningococos • L. monocytogenes • Enterococus Os seguintes patógenos são resistentes a esse ATB: • E. coli (20 – 50% das cepas) • P. mirabilis • Klebsiella • Shigella • Pseudomonas • Serratia • Acinetobacter • B. fragilis • Proteus São facilmente destruídas pelas beta-lactamases. Por esse motivo, podem ser administradas combinadas aos inibidores de beta-lactamase. Com essa associação, temos aumento no espectro de ação para: Laís Kemelly – M14 FEBRE P1 Intermediária • H. influenzae • E. coli • Klebsiella • Proteus • B. fragilis Usos terapêuticos Infecção de vias aéreas superiores Ativas contra: S. pyogenes, algumas cepas de S. pneumoniae e H. influenzae. Eficazes no tratamento de: sinusite, otite média, exacerbações agudas da otite crônica e epiglotite. A amoxicilina é o fármaco mais ativo de todos os antibióticos beta-lactâmicos contra as cepas de S. pneumoniae. As cepas de H. influenzae resistentes à ampicilina podem ser combatidas a partir da associação de inibidores de beta-lactamase • Clavulanato + amoxicilina • Sulbactam + ampicilina Infecções do trato urinário A maioria das ITUs não complicadas é causada por enterobactérias, sendo a E. coli a mais comum. As aminopenicilinas são eficazes para o tratamento, embora seja comum a alta prevalência de resistência. As infecções urinárias por enterococos podem ser tratadas com aminopenicilina. Meningite A meningite bacteriana nas crianças geralmente é causada por S. pneumoniae ou Neisseria meningitidis. 20 a 30% das cepas são resistentes à ampicilina, então o tratamento empírico com ela não é recomendado. Caso o agente etiológico seja (suspeito ou confirmado) o L. monocytogenes, que causa meningite em indivíduos imunossuprimidos, o seguinte esquema empírico é recomendado: • Ampicilina + vancomicina + cefalosporina de 3º geração Penicilinas anti-pseudomonas Existem dois grupos aqui. 1. Carboxipenicilinas a. Carbenicilina b. Ticarciclina 2. Ureidopenicilinas a. Mezlociclina b. Piperaciclina São ativas contra: • Pseudomonas aeruginosa • Proteus (algumas espécies) São ineficazes contra: • Enterococus feacalis • Klebsiella • L. monocytogenes Uso terapêutico São recomendadas para o tratamento de infecções graves causadas por bactérias gram-negativas. São úteis para tratar bacteremias, pneumonias, infecções de queimaduras e ITUs causadas por microrganismos resistentes à ampicilina. Efeitos Adversos Isso aqui é geral para todas as penicilinas. O principal é a hiperssensbilidade, que tem as seguintes manifestações clínicas: • Erupções maculopapulosas ou urticariformes • Febre • Broncoespasmo • Vasculite • Choque anafilático A eliminação do ATB melhora o quadro, mas ele pode persistir por até 2 semanas. Para pacientes que precisam ser tratados com penicilina, mas são alérgicos, realiza-se a dessensibilização. • Administração de doses gradativamente crescentes, na tentativa de se evitar uma reação grave. Laís Kemelly – M14 FEBRE P1 Intermediária Cefalosporinas São altamente resistentes à penicilinase. Atuam inibindo a síntese de parede celular bacteriana por mecanismos semelhantes às penicilinas. Nenhuma cefalosporina é eficaz contra: • Enterococus • L. monocytogenes • Legionella pneumophila • Mycoplasma pneumoniae • Chlamydophila pneumoniae • Legionella micdadei • C. difficile • Campylobacter jejuni • Acinectobacter spp. Mecanismos de Resistência Bacteriana O mecanismo mais prevalente de resistência às cefalosporinas é a destruição dos fármacos por hidrólise do anel beta-lactâmico. Classificação A classificação é feita em gerações, sendo três. Na terceira geração existem diferenciações com base nas atividades especiais dos fármacos. (pense como subclassificações) Primeira geração Quem são? • Cefazolina • Cefalexina • Cefradoxil Indicadas para tratar infecção da pele e tecidos moles Boa resposta em gram-positivas • Anaeróbios da cavidade oral o Exceto B. fragilis • Maioria dos cocos, exceto: o Enterococos e MRSA (significado lá em cima) Atividade modesta em gram-negativas • Moraxella catarrhalis • E. coli • Klebsiella pneumoniae • P. mirabilis Segunda geração Quem são? • Cefuroxima • Cefprozila • Cefoxitina Meio que inverte em relação a 1ª geração: gram- negativa é mais sensível, gram-positiva é menos sensível. Atividade um pouco maior contra gram- negativas (ex. H. influenzae), mas são menos ativas do que as de 3ª geração. Moderada resposta contra B. fragilis. Boa resposta em: • E. coli • Klebsiella • Proteus • H. influenzae • Moraxella catarrhalis Indicações: • Infecções respiratórias • Pneumonia e otite média causada por S. pneumoniae resistente à penicilina • Profilaxia pré-operatória (cefoxitina e cefotetana) • Peritonite e DIP causada por anaeróbios ou aeróbios-anaeróbios mistos Terceira geração São menos ativas do que as de primeira geração em relação a gram-positivos, e são mais ativos contra enterobactérias. Quem são? • Cefotaxina • Ceftriaxona Laís Kemelly – M14 FEBRE P1 Intermediária Indicações: • Infecções causadas por o E. coli, Klebsiella, Proteus, Serratia e Haemophilus spp • Gonorreia e formas graves da doença de Lyme → ceftriaxona • Meningite (adultos e crianças sem imunossupressão) → ceftriaxona ou cefotaxima Cefalosporinas anti-pseudomonas Ampliam a atividade gram-negativa das cefalosporinas de 3ª geração. Quem são? • Ceftazidima • Cefepima Cefalosporinas anti-MRSA Contém modificações estruturais que permitem que elas se liguem e inativem as PLP alteradas. Lembra que a alteração da PLP é um dos mecanismos de resistência contra as penicilinas? Quem são? • Ceftarolina • Ceftobiprol
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