Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 1 INELEGIBILIDADES 1. Conceito “Impedimento ao exercício da cidadania passiva, de maneira que o cidadão fica impossibilitado de ser escolhido para ocupar cargo político-eletivo”. (GOMES, 2019, p. 227. “Adequação ao regime jurídico-eleitoral” STF. Inelegibilidade: impossibilidade do exercício da capacidade eleitoral passiva; Inalistabilidade: impossibilidade de inscrição eleitoral. Objetivos: Impedir o uso abusivo de cargos públicos; Manter a normalidade e a legitimidade das eleições. 2. Fontes Art. 14, §§ 4º ao 7º, CF; Art. 14, §9º, CF : “Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 2 exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”; LC 64/90. ATENÇÃO: As hipóteses de inelegibilidade precisam ser previstas pela Constituição ou por Lei Complementar, de forma que não é possível que, fora das fontes acima elencadas, seja fonte exclusiva de inelegibilidade: Lei Ordinária; Lei Delegada; Medida Provisória; Decreto e Resoluções Administrativos; Jurisprudência; Princípios. Sobre os Tratados Internacionais, é possível que contemplem hipóteses de inelegibilidade por força do art. 5º, §§ 2º e 3º da Constituição Federal. 3. Princípios 3.1 Legalidade As únicas fontes legítimas são a Constituição e Lei Complementar para a instituições de hipóteses de inelegibilidades. Os Tratados Internacionais a respeito da matéria também podem ser assim considerados à medida que se equiparam a emendas constitucionais ou se situam em uma situação de supralegalidade. Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 3 3.2 Ordem Pública Dizer que as normas jurídicas que preveem as inelegibilidades são de ordem pública implica dizer que elas não podem ser afastadas ou moldadas por vontade de seus destinatários, ainda que por acordo entre os mesmos. Também implica na possibilidade de reconhecimento de ofício por parte do poder jurisdicional. 3.3 Temporalidade Não pode haver hipótese de inelegibilidade ad eternum. Por isso, a própria Constituição em seu art. 14, §9º determinou que tais normas fixem os “prazos de sua cessação”. 3.4 Personalíssima A inelegibilidade não pode ser aplicada senão em relação ao específico cidadão que não revelou sua adequação aos requisitos exigidos à lisura do processo eleitoral. Desta forma, se um candidato é declarado inelegível e, em relação a seu irmão não houver qualquer causa impeditiva, poderá este concorrer sem problema algum. 3.5 Interpretação estrita Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 4 Para que se preserve a coerência das fontes de inelegibilidade, isto é, que provenham apenas da Constituição e de Lei Complementar, a interpretação do texto ali previsto não deve ocorrer de forma a ampliar as hipóteses legais de impedimento. 3.6 Ocorrência na data da eleição Tradicionalmente, o momento do dia da eleição é o que importa para a aferição da existência ou não de causas de inelegibilidade. No entanto, no direito brasileiro, a inelegibilidade é aferida no momento do registro da candidatura (Lei das Eleições, art. 11, §10). Se houver, naquele momento, alguma inelegibilidade esta poderá ser afastada até a data do pleito. No entanto, caso no momento do registro da candidatura não exista inelegibilidade, mas, antes do pleito, alguma se constitua, é possível a cassação do diploma do candidato, conforme o art. 262 do Código Eleitoral. 4. Classificação 4.1 Abrangência a) Absoluta: em relação a qualquer cargo, independentemente da circunscrição; b) Relativa: alguns cargos ou determinada circunscrição apenas são afetados. 4.2 Extensão Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 5 a) Amplo: Diz respeito a situações como a do art. 2º da LC 64/90. Neste caso inelegibilidade quer dizer, de forma ampla, hipóteses de elegibilidade. b) Restrito: neste sentido, o termo não é tão abrangente, se referindo somente às negativas de participação ao processo eleitoral. 4.3 Critério espacial ou territorial a) Nacional: inelegibilidade que impede que se concorra a cargos eletivos no âmbito federal; b) Estadual: inelegibilidade que impede que se concorra a cargos eletivos no âmbito do Estado; c) Municipal: inelegibilidade que impede que se concorra a cargos eletivos no âmbito do Município. 4.4 Critério temporal a) Atual: aquela existente no momento do registro eleitoral; b) Superveniente: aquela que advém após o registro da candidatura e antes do pleito. Se a inelegibilidade surgir após o dia das eleições ela só produzirá efeitos para as eleições seguintes. O que vale, neste caso, é a data do pleito. Neste sentido, tem-se o enunciado 47 da Súmula do TSE: “A inelegibilidade superveniente que autoriza a interposição de recurso contra expedição de diploma, fundado no art. 262 do Código Eleitoral, é aquela de índole constitucional ou, se infraconstitucional, superveniente ao registro de candidatura, e que surge até a data do pleito”. 4.5 Fonte Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 6 a) Constituição; b) Lei Complementar. 4.6 Incidência a) Direta: a que recai sobre a própria pessoa; b) Indireta: a que atinge terceiros. 4.7 Origem a) Originária ou inata: não possui caráter sancionatório, mas nasce a partir de circunstância que afetaria a lisura do processo eleitoral; b) Sanção: decorrente de previsão em decisão sancionatória ou ser consequência dela. 5. Duração da inelegibilidade 5.1 Originária ou inata Persiste enquanto existir a causa geradora: Causa Duração Analfabeto Enquanto não for alfabetizado Filho Enquanto o pai estiver na chefia do Executivo Funcional Enquanto não houver a desincompatibilização 5.2 Inelegibilidade-sanção Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 7 Neste caso, a inelegibilidade advém de decisão condenatória. Pode ser que a inelegibilidade seja apenas consequência da condenação, como no caso do art. 37, §4º, CF, ou ainda, pode haver disposição expressa na decisão condenatória, como no caso do art. 22, XIV da LC 64/90. A diferença para os dois casos será a do marco inicial do tempo contado para fins de inelegibilidade. Causa Tempo Indireta Variação do termo inicial, conforme a hipótese considerada Direta 8 anos subsequentes à eleição § INELEGIBILIDADES II Inelegibilidades Constitucionais 1. Referência normativa As hipóteses de inelegibilidades constitucionais estão dispostas no art. 14, § 4º ao 7º, CF: Art. 14 (...) § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 8 § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Assim, essa parte do material se dedicará à esmiuçar as hipóteses acima nominadas. 2. Inelegibilidade dos Inalistáveis Inalistável é aquele que não pode exercer nenhum dos direitos políticos. Conforme o próprio texto constitucional em seu art. 14, §2º: Os conscritos; Os analfabetos. Sobre a parte dos analfabetos, se adotássemos critérios mais rigorosos de identificação, a UNESCO considera que aqueles que não possuem ao menos 4 anos de estudos formais são analfabetos funcionais, porque não consolidaram o processo de alfabetização e podem regredir ao status quo. No Brasil, segundo o IBGE, é possível calcular que há cerca de 11,8 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que estão na condição de analfabetismo, correspondendo a 7,2% da população nessa faixa etária. No entanto, para fins de exercício da capacidade eleitoral passiva, o critério é mais flexível. Via de regra, a alfabetização pode ser comprovada mediante: Diploma; Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 9 Histórico Escolar; Certidão expedida por instituição de ensino. Caso o candidato não tenha tais documentos, é possível que demonstre a sua condição de alfabetizado pelas seguintes vias: Apresentação da CNH: Enunciado sumula 55 do TSE: “A Carteira Nacional de Habilitação gera a presunção da escolaridade necessária ao deferimento do registro de candidatura”; Produção de declaração de próprio punho perante a autoridade eleitoral. A simples assinatura no documento não é suficiente para a produção de prova neste sentido, de acordo com a jurisprudência; Submissão a prova ou teste, de forma individual e reservada. Não é permitida a aplicação de provas ou testes coletivos. 3 Inelegibilidade por motivos funcionais • Art. 14, §5º, CF. POSSIBILIDADE DE REELEIÇÃO Cargos Reeleição • Presidente da República; • Governador de Estado; • Governador do Distrito Federal; e Prefeitos Apenas uma recondução para o mesmo cargo • Senadores; • Deputados Federais; • Deputados Estaduais • Deputados Distritais; e Sem limites para reconduções Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 10 • Vereadores A cláusula impeditiva para a reeleição atinge, via de regra, sucessores e substitutos. a) Condição do Vice Exemplo 1: Se o prefeito eleito morre no curso do primeiro mandato e o Vice o sucede poderá concorrer apenas para a eleição seguinte, uma vez que se considera que no primeiro mandato houver exercício efetivo do cargo de Prefeito, ainda que por um tempo parcial ao mandato. No caso de substituição é essa mesma regra que se aplica. Pode o Vice ser eleito para três mandatos subsequentes? A resposta é não porque a chapa vitoriosa é integrada pelo titular e pelo vice, de forma que não pode a repetição. E se um Prefeito pretender, após dois mandatos consecutivos, ser candidato a Vice? Também há vedação neste sentido. O contrário, no entanto, pode acontecer. Ou seja, é possível que um Vice, após dois mandatos consecutivos, pleiteie a eleição para o cargo de Prefeito, sem precisar observar o período de desincompatibilização. E se o Vice sucedeu o titular no período anterior e quiser se candidatar a Vice nas eleições seguintes? Caso seja o primeiro mandato dele, poderá se candidatar a Vice, desde que observe a desincompatibilização. b) Eleição em circunscrição diversa Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 11 Exemplo 2: Um Prefeito, depois de dois mandatos consecutivos em um Município, decide mudar seu domicílio eleitoral para concorrer a um novo mandato de Prefeito em Município diverso. Pode? A posição da jurisprudência é de que não. 4. Desincompatibilização O art. 14, § 6º, CF, diz respeito apenas aos chefes do Poder Executivo. No entanto, o art. 1º, §2º da LC64/90 assim determina: § 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Prefeito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou substituído o titular. Assim, não há necessidade de desincompatibilização dos vices para que concorram a outros cargos, de forma semelhante aos parlamentares. Apenas, os vices não poderão substituir os chefes do poder executivo no período antecedentes de seis meses antes do pleito, caso pretendam concorrer a outros cargos. 5 Inelegibilidades reflexas São aquelas que versam sobre a situação de cônjuge, companheiro e parentesco, previstas pelo art. 14, §7º. Está limitada, novamente, aos chefes do poder executivo. Em relação à substituição, só ocorrerá se esta ocorrer nos últimos seis meses de mandato. Direito Eleitoral | Lucas Oliveira INELEGIBILIDADES www.focusconcursos.com.br | 12 Parentes podem integrar a mesma chapa? Sim. Necessidade de desincompatibilização: “O cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de governador de Estado, de território, ou do Distrito Federal são inelegíveis para sua sucessão, salvo se este, não tendo sido reeleito, se desincompatibilizar seis meses antes do pleito”. Art. 14, §2º da Resolução TSE 22.156/2006. O terceiro mandato para grupo familiar também é vedado. Suponha que um Prefeito se desincompatibilize e na eleição ganhe o seu irmão. Na eleição seguinte, não poderá qualquer membro da família se candidatar para o terceiro mandato seguido daquele grupo. Caso de morte Súmula 6 do TSE: São inelegíveis para o cargo de chefe do Executivo o cônjuge e os parentes, indicados no § 7º do art. 14 da Constituição Federal, do titular do mandato, salvo se este, reelegível, tenha falecido, renunciado ou se afastado definitivamente do cargo até seis meses antes do pleito Súmula Vinculante 18 do STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal. Incluem-se aqui as hipóteses de União estável e concubinato, A inelegibilidade pode ser afastada pela separação judicial, separação de fato, divórcio, desde que anteriores ao exercício do mandato. Inelegibilidade por parentesco. São inelegíveis: Genro; Cunhado; Cunhado em união estável. No caso do cunhadio, não alcança o cônjuge ou o companheiro do ocupante do mandato. INELEGIBILIDADES
Compartilhar