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Achados da Literatura do Crescimento Econômico Wendell Magalhães1 O artigo de Paul Romer Increasing Returns and Long Run Growth (1986) é considerado por Sala-i-Martin (2002) um marco do ressurgimento da pesquisa a respeito da temática do Crescimento Econômico, posto que, desde a teoria das expectativas racionais de Lucas, Barro, Prescott e Sargent, até o início da nova literatura versando sobre o crescimento econômico com Romer, Barro e Lucas, na que se inclui o artigo mencionado acima, os macroeconomistas não dedicaram-se a questões de longo prazo, restringindo-se ao trato da teoria do ciclo de negócios. Por sua vez, o ressurgimento da temática do Crescimento Econômico por meio de nova literatura contribuiu (e segue contribuindo) com a formação de nossa compreensão da ciência econômica, o que Sala-i-Martin (2002) se encarrega de mostrar apontando para alguns fatos presentes no desenvolvimento dessa ciência. O primeiro deles, e um dos mais flagrantes, foi o trato da questão empírica de forma mais séria e acurada que dá margem para a construção de novos conjuntos de dados. Summers e Heston (1988, 1991) aparecem como principais exemplos desse fato com seus respectivos trabalhos, em que construíram dados de contas nacionais para diferentes países ao longo de um substantivo período de tempo, com a maioria dos países tendo dados a partir dos anos de 1960 e alguns, somente, apresentando dados a partir dos anos de 1950. Como esse conjunto de dados ajustava-se pelo poder de compra dos diferentes países, permitindo uma melhor comparação entre os diferentes níveis de PIB de cada país em um determinado ponto no tempo, a utilidade de tais trabalhos, por mais que se questionem sua qualidade, resume-se na possibilidade do confronto de forma mais rigorosa das ideias desenvolvidas em âmbito predominantemente formal e teórico contra dados que lhe confiram, ou não, empiricidade. Tal coisa não era possível anteriormente, quando a pesquisa em torno do crescimento econômico se encontrava em voga, pela última vez, nos anos de 1960. No entanto, por mais que o conjunto de dados Summer-Heston se revelem como a principal referência no trato da questão empírica do crescimento econômico, ele não é o único. Sala-i-Martin (2002) nos remete ao trabalho de Barro e Lee (1993) que 1 Bacharel e Mestre em Economia pela Universidade Federal do Pará – UFPA. construiu um grande número de variáveis que estão relacionadas, principalmente, à educação e ao capital humano, o que se faz significativamente útil dado o fato de que a primeira geração de teorias do crescimento endógeno tem o capital humano como elemento fundamental em suas explicações para o crescimento econômico. Esse é o caso dos trabalhos de Paul Romer e Robert Lucas que, no fim dos anos de 1980, na Universidade de Chicago, incorporam a ideia do capital humano diretamente como um fator do modelo de crescimento. Romer (1986, 1990) explica o crescimento econômico dos países postulando que ao retorno decrescente do investimento em capital físico sobrepõe-se o retorno positivo desse investimento em capital humano. Isso é derivado do fato de o conhecimento desenvolvido pela atividade de pesquisa ter características peculiares, como o fato dele poder ser usado ao mesmo tempo por diferentes pessoas, com custos de compartilhamento baixos, diferentemente da maioria dos bens materiais, em que o uso por uma pessoa exclui a possibilidade de seu uso por outra, ao mesmo tempo; assim como o conhecimento não excluir terceiros de seu uso, por meio de uma apropriação por completo dele, estabelecendo um preço para quem tiver acesso (IOSCHPE, 2016). Lucas (1988) postula, igualmente, que a diferença fundamental do investimento em capital humano em relação ao capital físico é que aquele tem retornos externos, ou seja, quanto mais capital humano há em uma sociedade, mais produtiva será cada nova unidade de capital humano inserida na economia, o que implica que a presença de alguém com alto capital humano torna todos ao seu redor mais produtivos. Além do mais, o capital humano afeta o capital físico no modelo de Lucas, fazendo com que a taxa de capital físico varie de acordo com o crescimento do capital humano, formando uma complementaridade. Nesse sentido, quanto mais educada a mão de obra, mais rentável será o investimento em capital físico, fazendo com que economias com altos estoques de capital humano não sofram com rendimentos decrescentes, haja vista o emprego de novo capital físico tornar-se cada vez mais rentável a medida que o capital humano cresce com ele. O capital humano, portanto, contrabalança, com rendimentos positivos, os rendimentos negativos do capital físico. O resultado disso tudo são ciclos virtuosos de crescimento nos países com estoques de capital alto, e ciclos viciosos nos que, em contrapartida, apresentam estoques de capital baixos (IOSCHPE, 2016). O modelo apresentado por esses dois autores contrastam flagrantemente com o desenvolvido por Robert Solow em papers de 1956 e 1957, e que tinha na figura de um suposto “estado estacionário” da economia seu ponto central. Nesse estado, o crescimento econômico era apenas grande o suficiente para acompanhar o crescimento demográfico e a depreciação de ativos, de forma que o crescimento per capita permaneceria estável. Variáveis como capital, poupança e investimento sempre estariam variando em torno do nível necessário para que a economia, portanto, atingisse sempre esse estado estacionário. Se qualquer uma dessas variáveis fossem empregadas para além ou aquém do nível necessário para atingir esse estado, seja lá por que causas fossem, o tempo se encarregaria de ajustá-las. O único fator nesse modelo capaz de gerar o crescimento de produtividade seria o desenvolvimento tecnológico, entretanto não há explicação para a origem deste, já que é pressuposto que ele se dá de forma exógena. Romer e Lucas, por sua vez, explicam o avanço tecnológico pela necessidade dos capitais em concorrência obterem taxas de lucro maiores que seus concorrentes, mesmo que por um breve período de tempo em que sua produtividade era maior que a dos demais. Assim explicado o avanço tecnológico como produto do crescimento de capital humano no modelo de Romer e Lucas, se estabelecia uma relação direta entre capital humano e crescimento ou desenvolvimento econômico, não prevista por Solow, e que, agora, tratava-se de verificar-se empiricamente. Ioschpe (2016) destaca características desse modelo a serem problematizadas, primeiro no que tange ao crescimento econômico, em que o estado estacionário é a norma e os movimentos recessivos e expansionistas da economia são meros ajustes; segundo, que, partindo de diferentes níveis de capital, poupança e investimento, todos os países deveriam por fim alcançar o mesmo estado estacionário e, assim, ter os mesmos níveis de renda per capita. O contraste brutal dessas previsões com uma realidade marcada por uma profunda desigualdade entre países que só se agrava devido aos países desenvolvidos não se encontrarem num estado estacionário, mas elevarem progressivamente seus níveis de renda, destacaria os grandes problemas desse modelo e o faria insuficiente para descrever a realidade, fazendo, por isso mesmo, surgir trabalhos como o de Romer (1986, 1990) e Lucas (1988). Já em uma linha de pesquisa que enfatize as instituições como preponderante no crescimento econômico, incluindo, portanto, em suas explicações, variáveis políticas e sociais, os conjuntos de dados produzidos por Knack e Keefer (1995), Deining e Squire (1996), dentre outros, se mostram com especial relevância no trato empírico do crescimento econômico, constituindo-se como nova contribuição no trato dessa temática, segundo Sala-i-Martin (2002). Como já foi assinalada,o ressurgimento da pesquisa a respeito do crescimento econômico significou um melhor confronto dos dados com as teorias formuladas, anteriormente, em torno dessa temática. Isso, por sua vez, significa uma maior precisão e um maior rigor na análise e comprovação do que havia sido formulado formal e teoricamente, dada a maior disponibilidade de dados encontrados, organizados e padronizados, dentre outras, pelas pesquisas mencionadas acima. Especificando melhor, Sala-i-Martin (2002) nos diz que, enquanto a teoria neoclássica da década de 1960 ligou a teoria às evidências simplesmente mencionando fatos estilizados como comprovadores da teoria em questão, mesmo que tais “fatos” não tivessem sofrido uma análise empírica cuidadosa, agora, com o ressurgimento da pesquisa sobre o crescimento econômico munida de um conjunto de dados melhor trabalhado e com um ferramental estatístico melhor desenvolvido, tratava-se de especificar da forma mais precisa possível relações econométricas que encontrem sua comprovação nas amplas bases de dados disponibilizadas. Na realização dessa empreitada especificada acima, Sala-i-Martin (2002) cita como melhor exemplo a chamada literatura de convergência. Inclui-se nesta os trabalhos de Barro e Sala-i-Martin (1992), que usando o modelo de crescimento Ramsey-Cass-Koopmans (Ramsey (1928), Cass (1975) e Koopmans (1965)), derivam uma equação econométrica que relaciona o crescimento do PIB per capita com o nível inicial do PIB. Mankiw, Romer e Weil (1992) derivam uma equação semelhante do modelo de Solow-Swan (Solow (1956) e Swan (1956)), que pode ser descrita como: γi,t,t+T = β0 – β . ln yit + β . ln yi* + ϵit (1) Em que γi,t,t+T é a taxa de crescimento do PIB per capita para o país i entre o tempo t e o tempo t + T; yit é o PIB per capita para o país i no tempo t; yi* é o valor estacionário do PIB per capita para o país i; e ϵit é o termo de erro. O coeficiente é positivo se a função de produção é neoclássica, e é zero se a função de produção é linear no capital, o que geralmente era o caso na primeira geração de modelos de crescimento endógeno de um setor, também conhecidos como modelos “AK”. Este modelo está explicitado no artigo de Paul Romer (1986), assim como em Rebelo (1987), Jones e Manuelli (1990) e Barro (1990). Mais especificamente, de acordo com esse modelo, se a função de produção for Cobb-Douglas com uma parcela do capital dada por α, então, o parâmetro β (também conhecido como a velocidade da convergência) é dado por β = (1 – α)(δ + η), sendo δ a taxa de depreciação e η a taxa exógena de crescimento populacional. Vale pontuar que a derivação da equação correspondente a β assume taxas de poupança constantes segundo o modelo Solow-Swan e quando α é igual a 1 nessa equação, eis que o modelo passa a corresponder ao modelo AK, em que a velocidade de convergência é igual a β = 0. Sala-i-Martin (2002) tem como ponto principal da sua análise a respeito do desenvolvimento das teorias de crescimento econômico o fato de que a equação 1, disposta anteriormente, foi tomada pela literatura moderna como uma previsão séria da teoria e usada para testar os novos modelos de crescimento endógeno (como os AK, que pressupõem β = 0) em contraste aos modelos neoclássicos antigos, cujo β > 0. Para ele, diferente do concluído por alguns autores, no entanto, a equação 1 não demonstrava que a teoria neoclássica previa a convergência absoluta, ou seja, não provava que se assumíssemos β > 0, os países pobres deveriam crescer mais rápido que os demais. As conclusões contrárias a isso, no entanto, segundo o autor, provém de testes de regressão do tipo: Em que se testava se o coeficiente b̂ era positivo. Com isso se confirmando, se concluiria que os países pobres crescem mais rapidamente que os ricos, de modo que o modelo passaria a apontar para a existência de convergência entre os países. De modo contrário, com b̂ = 0, a conclusão era de que o nível de renda e a taxa de crescimento dos países não estão relacionadas, o que indicava a necessidade de rejeitar o modelo neoclássico tradicional e de se adotar o modelo AK de crescimento endógeno. Como os resultados empíricos baseados nessa regressão era o de que b̂ não era significativamente diferente de zero, a segunda conclusão, em favor do modelo AK de crescimento endógeno, foi a privilegiada. No entanto, Sala-i-Martin (2002) aponta que o erro das regressões baseadas nesse modelo estava no fato de que, conforme a equação 2, elas assumem implicitamente que todos os países se aproximam do mesmo estado estacionário, ou, no mínimo, de que o estado estacionário não correlaciona-se com o nível de renda. Dessa forma, se tomamos yi* = y*, logo este termo é absorvido pela constante b̂0 na equação 2 e desaparece da regressão. Nesse sentido, se se assume que os países convergem para o mesmo estado estacionário, logo a equação 2 torna-se mal especificada e o termo de erros torna-se ωit = ϵit + ln yi*. Com o estado estacionário correlacionado com o nível inicial de renda, o termo de erros passa a estar correlacionado com a variável explicativa, o que faz do coeficiente estimado tendencioso para zero. Ou seja, quando se apontou que não havia associação positiva entre o crescimento econômico e o nível inicial de renda, ignorou-se que isso poderia ser um artefato estatístico resultante da especificação incorreta com que se fez a equação 2. Para a solução desse problema, dentre as variadas soluções que se propuseram, destaca-se a utilização de dados em que o nível inicial de renda não estava correlacionado com o nível de renda estacionário, o que explica o largo uso, por parte de muitos pesquisadores, de conjuntos de dados regionais, como pode-se ver em Barro e Sala-i-Martin (1992, 1998). Outra solução foi a estimação de uma regressão multivariada, no lugar de uma regressão univariada como a da equação 2, para diferentes países, em que, além do nível inicial de renda, se mantenha proxies constantes para o estado estacionário, o que vem a compor a hipótese da convergência condicional. Conferindo maior rigor, portanto, à especificação do modelo que retratasse a teoria, chegou-se à conclusão empírica oposta à anterior: o modelo neoclássico não foi rejeitado pelos dados, mas sim o modelo AK. Segundo Sala-i-Martin, o que importa destacar aqui, não são simplesmente os conceitos de convergência ou convergência condicional, mas sim o fato de que os economistas do crescimento econômico passam a encarar com maior seriedade a teoria econômica do crescimento a partir do momento que passam a levar em conta os dados que passam a ser disponibilizados com o desenvolver e o ressurgir da pesquisa em torno desse tema. No entanto, apesar do descarte do modelo AK com a forte regularidade empírica apresentada pelo modelo de convergência condicional, modelos mais sofisticados de crescimento endógeno que exibem dinâmicas de transição também passam a apresentar consistência com a evidência de convergência, como é o caso dos modelos de dois setores endógenos de Uzawa (1965) e Lucas (1988), assim como os modelos AK de difusão tecnológica, todos eles apresentando previsões similares. Para além dos conceitos de convergência absoluta e condicional, destaca-se o de convergência σ, que analisa o nível de desigualdade entre os países, medido, por sua vez, como a variância do log do PIB per capita, e verifica se esse nível aumenta ao longo do tempo, o que se constitui em seu principal objetivo. As críticas que sobrevieram a essa análise provém de duas frentes. A primeira, conhecida como literatura “Twin-Peaks”, liderada por Danny Quah (1996, 1997), está interessada na evolução de como a distribuição de renda se distribui no mundoao longo do tempo, sendo a variação apenas um aspecto desta distribuição. Tentanto prever o comportamento futuro desta distribuição, sua conclusão foi a de que, a longo-prazo, a distribuição permanecerá bi-modal, tal qual havia se tornado a partir da década de 1990, embora o modo inferior inclua menos países que o modo superior. Em contrapartida, no entanto, a esses estudos, Jones (1997) e Kremer, Onatski e Stock (2001) mostraram que esses resultados dependem em muito se o conjunto de dados inclui os produtores de petróleo, haja vista a exclusão destes tenderem a transformar uma distribuição que seria bi-modal em uni-modal. A segunda linha de crítica à medida da convergência σ provém daqueles que afirmam que a unidade de análise não deve ser um país, posto que, no que tange à medida da velocidade de melhora do padrão de vida de pessoas pobres ou ricas, uma “pessoa” pode ser mais significativa do que um país. Logo, a evolução da renda per capita na China é mais importante do que a evolução de Lesoto, haja vista que a China tem muito mais pessoas. A proposta aqui é que uma melhor medida da evolução da desigualdade pessoal seria dada pela variância do log da renda per capita ponderada pela população (em oposição à variância simples do logarítmico do rendimento per capita, que dá o mesmo peso a todos os países, independentemente da população). O resultado é que a variância ponderada não aumenta monotonicamente ao longo do tempo, pois, como mostra Schultz (1998) e Dowrick e Akmal (2001), a variância ponderada aumenta na maioria dos anos 60 e 70, chegando ao pico em 1978. Depois disso, a variância ponderada declina, pautada no fato de que a China, com 20% da população mundial, experimentou grandes aumentos na renda per capita. Outra linha importante de pesquisa na literatura empírica segue Barro (1991) ao usar regressões entre países para encontrar os determinantes empíricos da taxa de crescimento de uma economia. A dimensão dessa literatura apresenta-se em um grande número de artigos que alega ter encontrado uma ou mais variáveis que estão parcialmente correlacionadas com a taxa de crescimento, sejam essas variáveis o capital humano, o investimento em P & D, variáveis políticas como a inflação ou o déficit fiscal, o grau de abertura, variáveis financeiras ou medidas de instabilidade política. A questão aí é saber, dado o grande número de variáveis, qual dessas são realmente robustas e significativas. A partir disso, Sala-i-Martin (2002) enumera o que podemos tomar como conclusões gerais acerca da pesquisa em torno do crescimento econômico segundo essa última literatura, sintetizando suas lições importantes nas seguintes sentenças: (i) Não existe um determinante simples do crescimento; (ii) O nível inicial de renda é a variável mais importante e robusta (logo, a convergência condicional é o fato empírico mais robusto nos dados); (iii) O tamanho do governo não parece importar muito. O que é importante é a "qualidade do governo" (governos que produzem hiperinflações, distorções nos mercados de câmbio, déficits extremos, burocracias ineficientes, etc. são governos prejudiciais para uma economia); (iv) A relação entre a maioria das medidas de capital humano e crescimento é fraca. Algumas medidas de saúde, no entanto, como é o caso da expectativa de vida) estão fortemente correlacionadas com o crescimento; (v) As instituições, como os mercados livres, os direitos de propriedade e o estado de direito) são importantes para o crescimento; (vi) economias mais abertas tendem a crescer mais rapidamente. No entanto, se um conjunto importante de contribuições da literatura de crescimento econômico é empírico, um outro conjunto é teórico e é representado na figura da endogeneização do progresso tecnológico. Sendo a principal característica física da tecnologia o fato de ela ser um bem "não rival", isso significa que a mesma fórmula ou o mesmo modelo pode ser usado por várias pessoas, simultaneamente. Este conceito deve ser distinguido do de "não-exclusão", posto que um bem só é excluível se a sua utilização puder ser evitada. No caso da tecnologia, para além de sua característica física de ser não-rival, ela pode ser não-excluível. Como diz Ioschpe (2016, p. 98), Por um lado, o criador do conhecimento pode instituir patentes e copyrights para lucrar com sua invenção, mas, por outro, pelo menos uma parte do conhecimento originário da pesquisa será apropriada por terceiros – através de técnicas de engenharia reversa, lendo a patente, contando o conteúdo do livro a um amigo etc. Esses fatos, por sua vez, acabam por ser impulsionadores do crescimento econômico. Para além disso, a antiga literatura neoclássica já apontou que a taxa de crescimento de longo prazo da economia é determinada pela taxa de crescimento da tecnologia. O problema, entretanto, é que era impossível modelar o progresso tecnológico dentro de um quadro neoclássico em que as empresas tomadoras de preços em mercados perfeitamente competitivos tivessem acesso a funções de produção com constantes retornos de escala no capital e no trabalho. Nesse sentido, uma vez que a tecnologia não é rival, uma empresa deve poder duplicar seu tamanho simplesmente replicando-se, ou seja, criando uma nova planta com exatamente os mesmos insumos. Para isso, a empresa precisaria dobrar capital e mão-de-obra, mas poderia usar a mesma tecnologia em ambos os lugares, o que significa que o conceito de retornos constantes de escala deve se aplicar somente ao capital e ao trabalho. Dado, no entanto, que as empresas neoclássicas perfeitamente competitivas pagam preços de aluguel em consonância com os produtos marginais de seus insumos, da feita que estes se encontram pagos, a produção total está esgotada e a empresa não pode dedicar recursos para melhorar a tecnologia. Segue-se que, dada a existência do progresso tecnológico, ele deve ser exógeno ao modelo, na medida em que P&D não pode ser "induzida e financiada" pelas empresas neoclássicas. Da feita, no entanto, que a tecnologia não é rival, há a necessidade de se produza ela uma só vez, pois, a partir de então, passa-se a fazer uso dela indefinidamente. Isso indica, porém, que há um grande custo fixo em sua produção (o custo de P & D), o que nos dá a noção de retornos crescentes, em que o custo médio da produção de tecnologia é sempre maior do que o seu custo marginal. Assim, sob uma concorrência de preços perfeita (em que uma competição leva à igualdade de preços com custos marginais), os produtores de tecnologia que pagam os custos fixos de P & D sempre perderão dinheiro. Logo, em um ambiente perfeitamente competitivo, nenhuma empresa tem o incentivo necessário para se engajar em pesquisa. Desta feita, se queremos modelar o progresso tecnológico de forma endógena, precisamos abandonar o mundo perfeitamente competitivo-pareto-otimizado que é o alicerce da teoria neoclássica para que se permita a concorrência imperfeita. Eis outra contribuição da literatura a respeito do crescimento econômico: Em contrapartida aos pesquisadores neoclássicos da década de 1960, os economistas de hoje lidam com modelos que não são considerados ótimos de Pareto. Esses novos conceitos são introduzidos por Romer (1990) em um modelo Dixit e Stiglitz (1977), cuja a inovação assume a forma de novas variedades de produtos. Aghion e Howitt (1992, 1998), por sua vez, estenderam a teoria a uma estrutura schumpeteriana na qual as empresas dedicam recursos de P & D na intenção de melhorar a qualidade dos seus produtos. A estrutura de escada de qualidade difere da estrutura da variedade de produtos, na medida em que a melhoria da qualidade de um produto torna a geração anterior de produtos obsoleta, o que nos leva à noção schumpeterianade "destruição criativa", em que as empresas criam novas ideias no intuito de destruir os lucros das empresas que apresentavam produtos baseados em ideias antigas (Schumpeter, 1942). Diante dos novos modelos de crescimento tecnológico, esclarece-se algumas questões a respeito das políticas de P&D, em que destaca-se o fato de que, apesar das falhas de mercado, não é de todo certo se o governo deve intervir, como deve ser essa intervenção potencial e, em particular, se deve introduzir subsídios de P & D, posto que a única distorção que é comum em todos os modelos é a decorrente da concorrência imperfeita em que os preços tendem a estar acima do custo marginal e a quantidade de ideias geradas tende a ficar abaixo do ideal. A melhor política para compensar esta distorção, no entanto, não é um subsídio a P&D, mas um subsídio às compras dos bens superfaturados. Uma segunda distorção pode advir das externalidades dentro do quadro de custos de P&D. Dado que a invenção de um novo produto afeta o custo da invenção da nova geração de produtos, então tem-se um papel para a intervenção no mercado. O problema é que não está claro se uma nova invenção aumenta ou diminui o custo das invenções futuras. A abordagem Schumpeteriana, em contrapartida, traz algumas distorções adicionais, dado que as pesquisas atuais tendem a exercer um efeito negativo sobre as pesquisas passadas através do processo de destruição criativa. Esses efeitos tendem a exigir impostos sobre P & D (em vez de subsídios de P & D), pois os pesquisadores atuais tendem a realizar muito, não muito pouco, a P & D. Finalmente, deve-se salientar que a intervenção do governo não é necessária desde que a empresa que esteja fazendo as pesquisas atuais seja a líder tecnológica. Outra contribuição importante da nova literatura de crescimento econômico é sua influência sobre outras literaturas econômicas e a maneira como se beneficiou delas, em contrapartida. Veja, por exemplo, sua interação com a literatura do desenvolvimento que, tradicionalmente, era institucional e centrada em torno do planejamento econômico. Os economistas de crescimento, por outro lado, que costumavam confiar nos modelos neoclássicos com ótimos de pareto e em mercados com concorrência perfeita, agora abandonam sistematicamente seus paradigmas tradicionais e passam a discutir o papel das instituições, igualmente. Da mesma forma que os economistas do desenvolvimento aprendem e passam a considerar valioso incorporar o equilíbrio geral e as características macroeconômicas aos seus modelos tradicionais. Referências AGHION, P.; HOWITT, P. A Model of Growth through Creative Destruction. Econometrica, 1992, LX 323-51. AGHION, P.; HOWITT, P. Endogenous Growth. MIT Press, 1998. BARRO, R.J., Economic Growth in a Cross Section of Countries. Quarterly Journal of Economics, May 1991. DIXIT, Avinash K.; STIGLITZ, J. E. Monopolistic Competition and Optimum Product Diversity, American Economic Review 67, June 1977. pp. 297-308. DOWRICK, S. ;AKMAL, M. 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