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Lauana Sulzbach Farmacocinética Quatro propriedades farmacocinéticas determinam o início, a intensidade e a duração da ação do fármaco: - Absorção: entrada do fármaco (direta ou indiretamente) no plasma; - Distribuição: o fármaco pode, reversivelmente, sair da circulação sanguínea e distribuir-se nos líquidos intersticial e intracelular; - Biotransformação: o fármaco pode ser biotransformado no fígado ou em outros tecidos; - Eliminação: o fármaco e seus metabólitos são eliminados do organismo na urina, na bile ou nas fezes. Absorção TRANSPORTE DOS FÁRMACOS PELA MEMBRANA: É uma estrutura semipermeável, responsável pelo transporte e seleção de substâncias que entram e saem da célula. É formada por uma bicamada de fosfolipídios. Os fosfolipídios apresentam uma porção polar e outra apolar. A porção polar é hidrofílica e volta-se para o exterior. A porção apolar é hidrofóbica e voltada para o interior da membrana. Para que um fármaco chegue à corrente sanguínea, ele tem que atravessar a membrana plasmática da célula, que representa uma barreira à distribuição do fármaco, seja ela uma única camada de células (epitélio intestinal), ou de várias camadas de células e proteínas extracelulares associadas (pele). MECANISMOS DE ABSORÇÃO DOS FÁRMACOS A PARTIR DO TGI: - Difusão passiva: ocorre predominantemente do sangue para os tecidos. A maioria dos fármacos é absorvida por esse mecanismo. Os fármacos hidrossolúveis atravessam as membranas celulares através de canais ou poros aquosos, e os lipossolúveis movem-se facilmente através da maioria das membranas biológicas, devido à sua solubilidade na bicamada lipídica. - Difusão facilitada: alguns fármacos podem entrar na célula por meio de proteínas transportadoras transmembrana (extrusoras/carreadoras), que facilitam a passagem de moléculas grandes. Essas proteínas transportadoras sofrem alterações conformacionais, permitindo a passagem de fármacos ou moléculas endógenas para o interior da célula, movendo-os de áreas de alta concentração para áreas de baixa concentração. Ocorre, predominantemente, do tecido para o sangue. Quando um determinado fármaco está em concentrações elevadas essas proteínas são capazes de transportar esse fármaco de volta para a matriz extracelular. - Transporte ativo: capaz de mover fármacos contra um gradiente de concentração (baixa concentração de fármaco para outra com concentração mais elevada). O transporte ativo dependente de energia é movido pela hidrólise de trifosfato de adenosina. Esse processo é saturável. Os sistemas de transporte ativo são seletivos e podem ser inibidos competitivamente por outras substâncias cotransportadas. - Endocitose e exocitose: usados para transportar fármacos excepcionalmente grandes através da membrana celular. A endocitose envolve moléculas do fármaco pela membrana e seu transporte para o interior da célula pela compressão da vesícula cheia de fármaco. A exocitose é o inverso da endocitose. Muitas células usam a exocitose para secretar substâncias para fora por um processo similar ao da formação de vesículas. FATORES QUE INTERFEREM A ABSORÇÃO: pH: a maioria dos fármacos é ácido fraco ou base fraca. Fármacos ácidos (HA) liberam um próton (H+), causando a formação de um ânion (A–): HA ↔ H+ + A– As bases fracas (BH+) também podem liberar um H+. Contudo, a forma protonada dos fármacos básicos, em geral, é carregada, e a perda do próton produz a base (B) não ionizada: BH+ ↔ B + H+ Um fármaco atravessa a membrana mais facilmente se estiver não ionizado. Assim, para os ácidos fracos, a forma HA não ionizada consegue permear através das membranas, mas o A – não consegue. Para a base fraca, a forma não ionizada, B, consegue penetrar através das membranas celulares, mas a BH+ protonada não consegue. A relação entre as duas formas (ionizada e não ionizada) é determinada pelo pH no local de absorção e pela força do ácido ou base, que é representada pela constante de ionização, o pKa. Os fármacos ácidos são melhores absorvidos em meio ácido e os fármacos básicos são melhores absorvidos em meio básico. Moléculas ionizadas são extremamente hidrofílicas, ou seja, não conseguem transitar através das membranas celulares que são lipofílicas. Na administração por via oral há dois sítios de absorção: estômago (ácido) e intestino (básico). Sendo assim, fármacos ácidos são mais facilmente absorvidos no estômago (mesmo com as diversas camadas que compõem o estômago) e o contrário ocorre no intestino, onde fármacos básicos serão preferencialmente absorvidos. - Coeficiente de partição (CPE): calcula a solubilidade de um composto. Sendo assim, quanto maior o coeficiente de partição efetiva, maior a lipofilicidade da molécula e com mais facilidade ela atravessa a membrana plasmática, através da difusão simples. Um fármaco na forma ionizada e com baixo CPE terá dificuldade para passar pelas membranas da célula. Fluxo de sangue no local de absorção: os intestinos recebem um fluxo de sangue muito maior do que o estômago, de modo que a absorção no intestino é favorecida ante a do estômago. Área ou superfície disponível para absorção: o intestino tem uma superfície cerca de 1.000 vezes maior que a do estômago (superfície rica em bordas em escova contendo microvilosidades), por isso, a absorção de fármacos pelo intestino é mais eficiente. Tempo de contato com a superfície de absorção: se um fármaco se desloca muito rapidamente ao longo do TGI (diarreia intensa), ele não é bem absorvido. Contudo, qualquer retardo no transporte do fármaco do estômago para o intestino reduz a sua velocidade de absorção. - A presença de alimento no estômago dilui o fármaco e retarda o esvaziamento gástrico. Portanto, quando um fármaco é ingerido com o alimento, em geral, é absorvido mais lentamente. Expressão da glicoproteína P: é uma proteína transportadora transmembrana responsável pelo transporte de várias moléculas, incluindo fármacos, através da membrana celular. Está envolvida no transporte de fármacos dos tecidos para o sangue, “bombeia” fármacos para fora das células. Assim, nas áreas de expressão elevada, a glicoproteína P diminui a absorção de fármacos. Além de transportar vários fármacos para fora das células, ela também está associada com a resistência a vários fármacos. Biodisponibilidade Representa a taxa e a extensão com que um fármaco administrado alcança a circulação sistêmica. Conhecer a biodisponibilidade é importante para calcular a dosagem de fármaco para vias de administração não IV. Fatores que influenciam a biodisponibilidade: em contraste com a administração IV, que confere 100% de biodisponibilidade, a administração oral de um fármaco envolve frequentemente biotransformação de primeira passagem. A biotransformação, além das características físicas e químicas do fármaco, determina a velocidade e a extensão com que ele alcança a circulação sistêmica. - Biotransformação hepática de primeira passagem: quando um fármaco é absorvido a partir do TGI, primeiro ele entra na circulação portal antes de entrar na circulação sistêmica. Se o fármaco é rapidamente biotransformado no fígado ou na parede intestinal durante essa passagem inicial, a quantidade de fármaco inalterado que tem acesso à circulação sistêmica diminui. Isso é denominado biotransformação de primeira passagem. Fármacos com intensa biotransformação de primeira passagem devem ser administrados em dosagem suficiente para assegurar a quantidade necessária de fármaco ativo no local de ação desejado. - Solubilidade do fármaco: fármacos muito hidrofílicos são pouco absorvidos, devido à sua impossibilidade de atravessar membranas celulares ricas em lipídeos. Paradoxalmente, fármacos extremamente lipofílicos são também pouco absorvidos, pois são totalmente insolúveis nos líquidos aquosos do organismo e, portanto, não têm acesso à superfície das células. Para que um fármaco seja bem absorvido, ele deve ser basicamente lipofílico, mas ter alguma solubilidade em soluções aquosas. Essa é uma das razões pelas quais vários fármacos são ácidos fracos ou bases fracas.- Natureza da formulação do fármaco: a absorção do fármaco pode ser alterada por fatores não relacionados com a sua estrutura química. Por exemplo, o tamanho da partícula, o tipo de sal, o polimorfismo cristalino, o revestimento entérico e a presença de excipientes (como os agentes aglutinantes e dispersantes) podem influenciar a facilidade da dissolução e, por isso, alterar a velocidade de absorção. Distribuição Processo pelo qual um fármaco reversivelmente abandona o leito vascular e entra no interstício (líquido extracelular) e, então, nas células dos tecidos. Para fármacos administrados por via IV, onde não existe absorção, a fase inicial (isto é, imediatamente após a administração até a rápida queda na concentração) representa a fase de distribuição, na qual o fármaco rapidamente sai da circulação e entra nos tecidos. A passagem do fármaco do plasma ao interstício depende: - Débito cardíaco e do fluxo sanguíneo regional; - Permeabilidade capilar, volume do tecido; - Grau de ligação do fármaco às proteínas plasmáticas e tissulares; - Lipofilicidade relativa do fármaco. Os fármacos lipofílicos se movem mais facilmente através das membranas biológicas. Esses fármacos se dissolvem nas membranas lipídicas e permeiam toda a superfície celular. O principal fator que influencia a distribuição do fármaco lipofílico é o fluxo de sangue para aquela área. Em contraste, os fármacos hidrofílicos não penetram facilmente nas membranas celulares e devem passar através de junções com fendas. Há dois parâmetros básicos que modificam a farmacocinética: - Volume de distribuição: medida no corpo disponível para o fármaco, ela correlaciona a quantidade de fármaco no corpo à concentração do fármaco no sangue ou plasma. Os fármacos com volumes muito altos têm concentrações mais elevadas no compartimento extravascular que vascular, ou seja, ele não está distribuído de forma homogênea. - Depuração: capacidade do corpo de eliminá-lo. A eliminação de um fármaco pode envolver processos que ocorrem no rim, fígado, pulmão e outros órgãos. Para calcular essa depuração dividimos a velocidade de eliminação em cada órgão pela concentração do fármaco. Os dois sítios principais de eliminação do fármaco são os rins e fígado. A eliminação do fármaco não modificado na urina compõe a depuração renal. Dentro do fígado, a eliminação dos fármacos ocorre pela biotransformação em um ou mais metabólitos ou excreção do fármaco não modificado na bile ou ambas. BARREIRAS FARMACOLÓGICAS: Em geral, os medicamentos lipossolúveis podem atravessar mais rapidamente as membranas das células do que os medicamentos hidrossolúveis. Os fármacos hidrossolúveis vão ter a travessia pelas fenestrações. Fármacos lipossolúveis conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e desencadear um efeito neurológico, importante para sedativos, antidepressivos e antipsicóticos. - A barreira hematoencefálica regula a passagem de solutos entre o sangue e o sistema nervoso central (SNC) e tem junções oclusivas que dificultam a travessia de fármacos hidrossolúveis ou ionizados. Impedindo o mesmo entrar na circulação encefálica. Transportadores de efluxo (MDR ou GMPR) são transportadores presentes na barreira hematoencefálica, transportando o fármaco para fora da circulação encefálica e para dentro da corrente sanguínea. Ocorre em fármacos com resposta alta em razão da refratariedade. Proteínas podem ser empregadas nesse caso: MDR e GMRP (proteínas de resistência à multidrogas), sendo a principal a glicoproteína P (PgP). É devido a esse processo que muitas pessoas não têm reação/resposta a certos fármacos. - Na barreira placentária, fármacos lipossolúveis têm facilidade em passar. O pH fetal (em torno de 7.1) é levemente mais ácido que o nosso (em torno de 7.4). Dessa forma, drogas básicas vão ter maior facilidade de serem distribuídas pelo feto, além das drogas lipossolúveis. PROTEÍNAS PLASMÁTICAS: A ligação reversível às proteínas plasmáticas fixa os fármacos e retarda sua transferência para fora do compartimento vascular. A albumina é a principal proteína ligadora e pode atuar como uma reserva de fármaco. À medida que a concentração do fármaco livre diminui, devido à eliminação, o fármaco ligado se dissocia da proteína. Isso mantém a concentração de fármaco livre como uma fração constante do fármaco total no plasma. - Forma livre: é metabolizada e desempenha sua função; - Forma ligada: tanto no plasma como líquido extracelular. Não tem atividade e não sofre metabolização. A forma livre do fármaco vai exercer a função farmacológica, enquanto que a forma ligada atua como um reservatório. A partir do momento que o nível dessa droga cai na corrente sanguínea, a proteína plasmática libera a droga ligada. - Albumina: transporta preferencialmente os fármacos ácidos; - α-1-glicoproteína ácida (GPA): transporta preferencialmente fármacos básicos. Outras proteínas que levam fármacos específicos incluiriam as proteínas de membranas de eritrócitos, SHBG (globulina de ligação a hormônios sexuais) e TPG (globulina de ligação a hormônios tireoidianos), por exemplo. Além dessas proteínas, alguns fármacos podem ligar-se a proteínas nos tecidos, a fosfolipídios, ao tecido adiposo, podem ser incorporados aos ossos (metais, chumbos, antibióticos) e etc. O acúmulo de fármacos nos tecidos ou compartimentos corporais pode prolongar sua ação porque os tecidos liberam o fármaco acumulado à medida que diminui sua concentração plasmática. Redistribuição: alguns fármacos agem no compartimento central, mas seu local de ação é em um compartimento periférico, para isso ele precisa ser redistribuído. Na redistribuição ele já fez o seu efeito e vai achar outra forma de armazenamento. Sendo assim, uma parte vai ser metabolizada e eliminada, outra parte vai ser redistribuída e servindo de reservatório. Há um processo de tolerância e dependência. Tolerância é quando uma pessoa tem uma resposta medicamentosa reduzida, que ocorre quando o medicamento é usado repetidamente e o corpo se adapta a sua presença constante. Resistência se refere à capacidade dos microrganismos (bactérias e vírus, por exemplo) ou células cancerígenas de resistir aos efeitos de um medicamento que normalmente é eficaz contra eles. Biotransformação Facilita a eliminação do fármaco. Os rins não conseguem eliminar os fármacos lipofílicos de modo eficiente, pois estes facilmente atravessam as membranas celulares e são reabsorvidos nos túbulos contorcidos distais. Por isso, os fármacos lipossolúveis são primeiramente biotransformados no fígado em substâncias mais polares (hidrofílicas), usando dois grupos gerais de reações, denominados fase I e fase II. Sendo assim, o rim tem facilidade em eliminar substâncias com volumes moleculares pequenos ou com características polares (hidrossolúveis), como os grupos ionizados em pH fisiológico. As moléculas sem essas características são lipofílicas/lipossolúveis e não ionizadas ou parcialmente ionizadas. Essas são absorvidas de imediato nos túbulos renais pelos transportadores lá existentes. Dessa forma, sem a biotransformação os fármacos teriam uma ação prolongada caso dependesse apenas da excreção renal. BIOTRANSFORMAÇÃO FASE I: As reações de fase I convertem fármacos lipofílicos em moléculas mais polares, introduzindo ou desmascarando um grupo funcional polar, como –OH ou –NH2. As reações de fase I em geral envolvem redução, oxidação ou hidrólise. A biotransformação de fase I pode aumentar ou diminuir a atividade farmacológica, ou ainda não ter efeito sobre ela. - REAÇÕES DA FASE I UTILIZANDO O P450 As reações de fase I envolvidas com maior frequência na biotransformação de fármacos são catalisadas pelo sistema citocromo P450 (também denominado oxidases microssomais de função mista). O sistema P450 é importante para a biotransformação de vários compostos endógenos (como esteroides, lipídeos) e para a biotransformação de substâncias exógenas (xenobióticos). O citocromo P450, designado como CYP, é uma superfamília de isoenzimas contendo heme presentes na maioria das células,mas principalmente no fígado e no TGI. Variações na atividade de P450 podem alterar a eficácia dos fármacos e o risco de efeitos adversos. Muitas substâncias (como medicamentos e alimentos) afetam as enzimas do citocromo P -450. Se essas substâncias diminuírem a capacidade de as enzimas quebrarem um medicamento, os efeitos desse medicamento (inclusive os efeitos colaterais) serão aumentados. Quando as substâncias aumentam a capacidade de as enzimas quebrarem um medicamento, os efeitos desse medicamento serão reduzidos. - REAÇÕES DA FASE I QUE NÃO ENVOLVEM O SISTEMA P450 Essas reações incluem a oxidação de aminas (oxidação de catecolaminas ou histamina), a desidrogenação do álcool (oxidação do etanol), as esterases ( biotransformação do ácido acetilsalicílico no fígado) e a hidrólise (procaína). BIOTRANSFORMAÇÃO FASE II: Esta fase consiste em reações de conjugação. Se o metabólito resultante da fase I é suficientemente polar, ele pode ser excretado pelos rins. Contudo, vários metabólitos de fase I continuam muito lipofílicos para serem excretados. Uma reação subsequente de conjugação com um substrato endógeno (como ácido glicurônico, ácido sulfúrico, ácido acético ou aminoácido) produz um composto polar em geral mais hidrossolúvel e terapêuticamente inativo. Fármacos que possuem um grupo –OH, –NH2 ou –COOH podem entrar diretamente na fase II e ser conjugados sem uma reação de fase I prévia. O fármaco conjugado altamente polar é então excretado pelos rins ou pela bile. As reações da fase II são relativamente mais rápidas do que as reações catalisadas pelo P450, acelerando a efetividade da biotransformação dos fármacos. A importância da fase I se dá pela perda da fase biológica, ou seja, o fármaco será metabolizado e, com isso, perde sua atividade biológica ao virar um metabólito inativo. A fase dois forma um composto hidrossolúvel, polar e facilita sua eliminação. LOCAL DE METABOLIZAÇÃO: Embora cada tecido tenha alguma capacidade de metabolizar fármacos, o fígado é o principal órgão para isso. Depois da administração oral, muitos fármacos são absorvidos intactos no intestino delgado e transportados primeiramente pelo sistema porta ao fígado, onde passam por metabolismo extenso. Esse processo é chamado de efeito de primeira passagem. Os fármacos hidrossolúveis vão fazer parte da formação da urina, enquanto que os lipossolúveis têm um alto grau de absorção nos túbulos renais. O fígado vai fazer com que esse fármaco ativo se torne um composto solúvel, polar e, principalmente, inativo. Pró-fármacos: alguns medicamentos não são constituídos pelo fármaco ativo. Ao passar pelo fígado, induz reações químicas para que aquele fármaco passe a apresentar uma atividade fisiológica. A metabolização hepática é quem ativa os pró-fármacos. Eliminação Os fármacos devem ser suficientemente polares para serem eliminados do organismo. Para a eliminação do fármaco no organismo, ele sofre reações de biotransformação, com a formação de metabólitos que terão uma maior facilidade em ser excretado por umas das vias convencionais do organismo como a renal (principal), pulmonar, biliar, glandular (suor, leite, saliva). Pacientes com disfunção renal podem ser incapazes de excretar os fármacos, ficando sujeitos ao risco de acumulá-los e apresentar efeitos adversos. ELIMINAÇÃO RENAL: A eliminação de fármacos pelos rins na urina envolve os processos de filtração glomerular, secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. 1. Filtração glomerular: os fármacos chegam aos rins pelas artérias renais, que se dividem para formar o plexo capilar glomerular. O fármaco livre ( não ligado à albumina) difunde-se através das fendas capilares para o espaço de Bowman como parte do filtrado glomerular. A lipossolubilidade e o pH não influenciam a passagem dos fármacos para o filtrado glomerular. Contudo, variações na velocidade do filtrado glomerular e a ligação dos fármacos às proteínas afetam esse processo. 2. Secreção tubular proximal: fármacos que não foram transferidos para o filtrado glomerular saem dos glomérulos através das arteríolas eferentes. A secreção ocorre primariamente nos túbulos proximais por dois mecanismos de transporte ativo que exigem energia: um para ânions (formas desprotonadas de ácidos fracos) e outro para cátions (formas protonadas de bases fracas). Cada um desses sistemas de transporte apresenta baixa especificidade e pode transportar vários compostos. Assim, pode ocorrer competição entre fármacos pelos transportadores em cada um dos sistemas e reduzir a atividade do outro. Importante ao considerar as interações medicamentosas. Obs: prematuros e recém-nascidos não têm esse mecanismo secretor tubular completamente desenvolvido e, assim, podem reter certos fármacos no filtrado glomerular. 3. Reabsorção tubular distal: enquanto o fármaco s e desloca em direção ao túbulo contorcido distal, sua concentração aumenta e excede à do espaço perivascular. O fármaco, se for neutro, pode difundir-se para fora do lúmen, retornando à circulação sistêmica. A manipulação do pH da urina, para aumentar a fração ionizada do fármaco no lúmen, pode ser feita para minimizar a retrodifusão e, assim, aumentar a depuração de um fármaco indesejável. Como regra geral, ácidos fracos podem ser eliminados alcalinizando a urina, ao passo que a eliminação de bases fracas pode ser aumentada por acidificação da urina. Esse processo é denominado prisão iônica. A maioria dos fármacos é lipossolúvel e, sem a biotransformação, se difundiria para fora do lúmen tubular renal quando a sua concentração no filtrado se tornasse maior do que a do espaço perivascular. Para minimizar essa reabsorção, os fármacos são modificados basicamente no fígado em substâncias mais polares por meio das reações de fase I e fase II. Os conjugados polares ou ionizados são incapazes de difundir para fora do lúmen renal.
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