Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fármacos na gestação e amamentação Teratogenia Princípios gerais Os bebês são suscetíveis em razão do desenvolvimento incompleto de determinados órgãos (p. ex., os rins) ou da falta de expressão de algumas proteínas metabolizadoras ou transportadoras de fármacos que desempenham papéis farmacocinéticos fundamentais. Em gestantes, a placenta proporciona uma barreira para a transferência de determinados fármacos da mãe para o feto, entretanto, muitos compostos podem cruzar livremente a barreira placentária e ter acesso à circulação fetal. Um agente teratogênico, ou teratógeno, pode ser definido como qualquer substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência que, estando presente durante a vida embrionária ou fetal, produz uma alteração na estrutura ou na função da descendência. Os danos reprodutivos na espécie humana podem ser agrupados em classes principais: (a) perda do concepto (abortos, morte fetal tardia ou perinatal); (b) malformações; (c) retardo de crescimento intrauterino e (d) deficiências funcionais, incluindo-se aqui o retardo mental. Alguns exemplos de agentes teratogênicos: Medicamentos como talidomida, misoprostol, ácido retinóico, inibidores da ECA (ex. Captopril); antineoplasicos; antitireioideanos; barbituratos; carbamazepina; fenitoina; iodetos e iodo radioativo; lítio; misoprostol; retinoides; talidomida; tetraciclina; valproato de sódio; vitamina A (>18.000 UI/dia) e warfarina. Doenças Maternas: diabetes, epilepsia, hipotireoidismo... Infecções Congênitas: sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirus Radiações: (radioterapia Substâncias Químicas: mercúrio, chumbo... Outras Drogas como álcool, fumo, cocaína e outras. Farmacologia Por Ana Clara Melo ´ ~ ~ A ação de um teratógeno sobre o embrião ou feto depende de: 1. Estágio de desenvolvimento do concepto: 1ª e 2ª semana: período do tudo ou nada. 3ª a 8ª semana: período mais crítico com relação às malformações. 2. Relação entre dose e efeito: quanto maior a dose do agente, as manifestações variam desde nenhum efeito, passando pelos danos funcionais e malformações, até a morte do concepto. A dose a que um feto é exposto durante a gravidez depende tanto de fatores maternos como fetais, incluindo a farmacocinética materna, taxa de passagem placentária, metabolismos placentário e fetal, a distribuição fetal da substância e a presença de receptores ativos no compartimento fetal. 3. Genótipo materno-fetal: pode conferir maior suscetibilidade ou resistência à manifestação de um determinado agente. Fármacos na gestação Do ponto de vista clínico, não existe nenhum método direto para determinar a exposição do feto a um fármaco. A concentração do fármaco em relação ao tempo que permanece na circulação sistêmica da mãe constitui o principal determinante dessa exposição, mas outros fatores de contribuição incluem a quantidade, a solubilidade, a ionização e a ligação às proteínas do fármaco; seu transporte ativo para o interior e para fora da circulação placentária; e a taxa de depuração fetal, que compreende o metabolismo de primeira passagem pela placenta. Com base na escassez relativa de dados humanos sobre os efeitos teratogênicos de fármacos e da confiabilidade limitada, um princípio fundamental no tratamento de mulheres gestantes consiste em minimizar, sempre que possível, a exposição da mãe e do feto a fármacos; quando necessário, devem-se preferencialmente usar fármacos que possuem o melhor registro de segurança em gestantes sem efeitos adversos sobre o desenvolvimento do feto. Além disso, substâncias de uso abusivo (p. ex., cigarros, álcool, drogas ilícitas) devem ser evitadas e, sempre que possível, eliminadas antes da concepção. Toda gestante deve fazer uso de um multivitamínico contendo 400 μg de ácido fólico diariamente para reduzir a incidência de defeitos do tubo neural. Os fármacos mais comumente utilizados na gestação são antieméticos, antiácidos, anti- histamínicos, analgésicos, antimicrobianos, tranquilizantes, hipnóticos, diuréticos e drogas recreacionais e ilícitas. Com a gestação, ocorre algumas alterações fisiológicas como o retardo de esvaziamento gástrico, diminuição de motilidade intestinal; aumentos em volemia, débito cardíaco e fluxo plasmático renal; diminuição relativa das proteínas plasmáticas, alterações de metabolismo hepático, aumento de diurese que modificam a disposição farmacocinética dos medicamentos. As modificações digestivas não alteram significativamente a absorção de fármacos. Já a distribuição pode aumentar, devido a acréscimos em volume plasmático, água corporal e débito cardíaco. Isso pode exigir maiores doses de ataque. A diminuição relativa das proteínas plasmáticas aumenta a fração livre dos fármacos, com consequente intensificação de efeito e possível diminuição de sua duração. A biotransformação de fármacos na grávida é pouco conhecida. A depuração renal é maior pelo aumento de fluxo plasmático renal e filtração glomerular, obrigando a ajustes nos intervalos entre administrações. Os medicamentos administrados à mãe chegam ao feto através da placenta e depende de características físico-químicas do fármaco (lipossolubilidade, coeficiente de partição e peso molecular) e de suas concentrações plasmáticas na gestante, bem como de condições placentárias (espessura, superfície, integridade e permeabilidade da membrana absortiva, fluxo sanguíneo uteroplacentário, idade gestacional), ocorrendo por difusão simples ou facilitada, transporte ativo, fagocitose e pinocitose, já ocorrendo a partir da terceira semana embrionária. A maioria dos fármacos com peso molecular < de 500 dáltons atravessa prontamente a placenta e entra na circulação fetal. Substâncias com alto peso molecular (p. ex., fármacos ligados às proteínas) geralmente não atravessam a placenta. Uma exceção é a imunoglobulina G, que pode ser usada para tratar doenças como trombocitopenia aloimune fetal. Em geral, o equilíbrio entre o sangue materno e os tecidos fetais leva pelo menos 30 a 60 minutos; mas alguns fármacos não alcançam concentrações semelhantes na circulação materna e fetal. A placenta é órgão ativo, apta a metabolizar fármacos, sujeito a idade gestacional e irrigação sanguínea placentária. É portadora de sistemas enzimáticos capazes de realizar os processos clássicos de biotransformação: oxidação, redução, hidrólise e conjugação. O metabolismo placentário pode ser alterado por hipoxia e administração de estrogênios, corticosteroides, adrenalina e cocaína, dentre outros fármacos. Isso pode afetar a vitalidade fetal, já que é dependente da placenta. A farmacocinética fetal é peculiar em função da imaturidade dos sistemas de depuração e da distribuição diferenciada, influenciada por: Maior permeabilidade de membranas especializadas, como a barreira hematoencefálica, tornando o cérebro mais exposto a fármacos na vida intrauterina. Captação de fármacos por tecidos que têm por eles grande afinidade. Diminuição da capacidade de fixação de fármacos a proteínas plasmáticas fetais. Idade gestacional. Distribuição da circulação fetal. Os medicamentos chegam ao feto pela veia umbilical, passando pelo fígado que biotransforma alguns em pequeno grau, pois possui poucos sistemas enzimáticos para tal. Outros fármacos não sofrem metabolismo de primeira passagem. A excreção se faz pelo rim, pelo líquido amniótico e, direta e retrogradamente, pela circulação fetomaterna. Através da artéria umbilical, os metabólitos atingem a placenta, sendo excretados por sistemas de eliminação maternos. Por serem deficientes as funções fetais de inativação e excreção, fármacos administrados no períodopróximo ao parto podem ser lentamente eliminados pelo recém-nascido. A placenta humana possui um sistema renina-angiotensina que regula substâncias endógenas e exerce importantes funções biológicas no sistema reprodutivo. Os componentes desse sistema, expressos em tecido placentário, são: renina, pró-renina, angiotensina I, angiotensina II, enzima conversora de angiotensina, receptores de angiotensina e angiotensinogênio. Atuam direta ou indiretamente, mediados por diferentes mensageiros. No feto, os medicamentos podem localizar- se em: Tecidos suscetíveis: processa a ação farmacológica Indiferentes: armazenamento apenas Ativos: capazes de metabolizá-los Emunctórios: sítios de excreção Nos tecidos ativos, encontram-se receptores fetais com diferentes graus de afinidade por ligantes, o que também contribui para diferenças de efeitos. Os riscos potenciais das substâncias exógenas no concepto decorrem de: Efeitos diretos do fármaco em órgãos ou tecidos nos quais se processe a interação fármaco-receptor. Efeitos indiretos do fármaco, ao influenciar circulação placentária ou sistemas enzimáticos responsáveis por processos vitais. Este efeitos podem se expressarem no feto em defeitos letais (abortivos) e defeitos teratológicos, morfológicos e não morfológicos (bioquímicos, fisiológicos e comportamentais), precoces ou tardios. Categorias fixadas pelo FDA para uso na gestação A. Categoria A (sem risco): estudos controlados mostram não haver riscos. Estudos adequados e bem controlados em mulheres grávidas não demonstraram riscos para o feto. Medicamentos: vitaminas em geral, ácido fólico, minerais. B. Categoria B (em animais não houve risco): Não há evidências de riscos em humanos. Nesse caso, ou há estudos em animais mostrando riscos, mas estudos em humanos não os demonstraram, OU não há estudos em humanos e os estudos em animais não mostram riscos. Medicamentos: Paracetamol, Prednisona, Amoxicilina, Azitromicina e Loratidina (antialérgicos), Anfotericina B, Aciclovir, Hidroclorotiazida, Metformina, Glibenclamida, METILDOPA. C. Categoria C (efeitos adversos em animais, deve avaliar risco/benefício): Riscos não podem ser descartados. Não há estudos em seres humanos e os estudos em animais não existem ou os estudos em animais mostram risco fetal. Entretanto os benefícios potenciais superam os riscos. Medicamentos: Dipirona, Haldol (antipsicótico), Ciprofloxacino (atb), Albendazol (vermífugo), Calcitriol (Vitamina D), Omeprazol, Vitamina B12, Diazepam, Morfina. Vacinas: Hepatite A e B, pneumocócica, dT, haemophilus. D. Categoria D (evidência positiva de risco, considerar risco/benefício, apenas se fármacos mais seguros não podem ser usados ou não são mais eficazes, sem outras opções terapêuticas): Evidência positiva de risco. Dados experimentais em seres humanos ou estudos pós comercialização mostram riscos para o feto. Entretanto, os benefícios potenciais podem superar os riscos, uma vez que não existam alternativas seguras. Medicamentos: Ibuprofeno, Claritromicina (atb), Atenolol, AAS, Captopril, Ácido Valproico (anticonvulsivante). E. Categoria X (alto risco): Contraindicada na gestação. Estudos em animais ou seres humanos ou estudos pós comercialização mostram riscos fetais que claramente superam qualquer benefício potencial para o paciente. Não há justificativa para o uso dessas drogas na gestação. Medicamentos: Talidomida, Lovastatina (cvs), Tetraciclinas, Ergotamina, Varfarina, Vitamina A e Isotretinoina (derivado), Metotrexato, Misoprostol. Vacinas: varicela, rubéola, sarampo e caxumba. Todo o quimioterápico e contraindicado em maior ou menor escala. Categoria A - remota a possibilidade de dano fetal Categoria B - prescrição com Cautela Categoria C - prescrição com Risco Categoria D - prescrição com Alto Risco Categoria X - prescrição com Perigo (contraindicada) Efeitos dos fármacos na gestação Fármacos que atravessam a placenta podem ter um efeito tóxico direto ou um efeito teratogênico. Fármacos que não atravessam a placenta ainda podem prejudicar o feto ao: Constringir os vasos placentários e, assim, comprometer as trocas gasosas e de nutrientes Produzir hipertonia uterina grave que resulta em lesão anóxica Alterar a fisiologia materna (p. ex., causando hipotensão) A idade fetal afeta o tipo de efeito do fármaco: Antes do 20º dia após a fecundação: fármacos dados nesse período normalmente têm um efeito tudo-ou-nada, matando o embrião ou não lhe causando nenhuma alteração. A teratogênese é improvável durante esse estágio. Estágios pré-gastrulação – susceptíveis somente à indução de letalidade do embrião, não malformações. É quando a divisão e a diferenciação celular e a morfogênese estão em seu ponto máximo. Durante a organogênese (entre 20 e 56 dias depois da fecundação): maior probabilidade de ocorrer teratogênese. Os fármacos que alcançam o embrião durante esse estágio podem causar abortamento espontâneo, defeito anatômico macroscópico subletal (efeito teratogênico verdadeiro), embriopatia oculta (defeito metabólico sutil ou funcional permanente que pode se manifestar mais tarde na vida) ou maior risco de câncer na infância (p. ex., quando a mãe recebe iodo radioativo para tratar câncer de tireoide); ou outros fármacos podem não ter um efeito mensurável. Após organogênese (no 2º e 3º trimestres): a teratogênese é improvável, mas os fármacos podem alterar o crescimento e a função dos órgãos e tecidos fetais formados normalmente. À medida que o metabolismo da placenta aumenta, as doses precisam ser mais altas para que a toxicidade fetal ocorra. Se uma droga deve ser dada, a mais baixa dose efetiva deve ser prescrita pelo mais curto tempo de duração possível. Vacinas na gestação São recomendadas as vacinas da influenza no 2º ou 3º trimestre durante a época de influenza e a dTpa para todas as gestantes durante o 3º trimestre. Em situações de risco com maior chance de exposição podem ser feitas as vacinas contra cólera, hepatite A e B, sarampo, caxumba, poliomielite, raiva, febre tifoide e febre amarela. Já as vacinas com vírus vivos não devem ser administradas pois podem causar infecção subclínica na placenta e no feto. Fármacos na amamentação Deve-se atentar para alguns fármacos e lactação, pois podem interferir na produção e/ou na secreção de leite (p. ex., contraceptivos orais contendo estrogênio) ou podem ser secretados pelo leite da mama e expor o lactente a níveis potencialmente tóxicos durante o período perinatal vulnerável. A quantidade de fármaco que é secretada no leite materno depende de características do fármaco como volume, ionização, ligação às proteínas e farmacocinética de depuração. A amamentação somente deverá ser interrompida ou desencorajada, se: existirem evidências de que a droga usada pela nutriz é nociva para o lactente quando não existirem informações a respeito droga não puder ser substituída por outra que seja compatível com a amamentação. Drogas que podem aumentar a produção de leite e podem provocar galactorreia incluem antipsicóticos, cimetidina, metoclopramida e metildopa. Drogas contra-indicadas durante a amamentação inclui anfetaminas, bromocriptina, ergotamina, lítio, nicotina, várias drogas antineoplásicas e drogas de abuso. Ao contrário da placenta, o epitélio alveolar mamário funciona como uma barreira quase impermeável. A maioria das drogas passa para o leite materno, mas em pequenas quantidades; e mesmo quando presentes no leite, as drogas poderão ou não ser absorvidas no trato gastrointestinal do lactente. No entanto em mulheres com doenças que requer tratamentocom medicações incompatíveis com a amamentação, esta deve ser interrompida. Mecanismos Após atravessar o endotélio capilar, a droga passa para o interstício e atravessa a membrana basal das células alveolares do tecido mamário. Proteínas e lipídeos da membrana exercem influência na velocidade da passagem e na concentração da droga no leite. A passagem para o leite materno pode ocorrer por: Difusão transcelular: moléculas pequenas não ionizadas e hidrossolúveis (etanol, uréia) atravessam os poros da membrana celular por difusão. Difusão passiva: moléculas pequenas ionizadas e proteínas menores atravessam a membrana celular basal pelos canalículos de água; é o principal mecanismo para passagem de um fármaco para o leite materno. Difusão intercelular: moléculas grandes podem aparecer no leite humano, por exemplo, imunoglobulinas, interferon, cuja passagem ocorre entre as células e não através delas. Ligação com proteínas carreadoras: substâncias polares penetram nas membranas celulares ligadas a proteínas carreadoras. Tanto a excreção como a absorção dos fármacos dependem de alguns fatores relacionados com: 1. Nutriz: as funções renais e hepáticas influenciam os níveis séricos das drogas e, consequentemente, as suas concentrações no leite. Desta forma, nutrizes com doenças hepáticas ou renais tendem a apresentar e manter por mais tempo níveis elevados dos fármacos na circulação sanguínea. As proteínas e lipídeos presentes no leite materno podem funcionar como transportadores de medicamentos ingeridos pela mãe. Drogas com grande afinidade por proteínas plasmáticas maternas aparecem em pouca quantidade no leite. A variação na composição lipídica do leite (leite anterior, leite posterior) influi na quantidade da droga nele contida. O epitélio alveolar mamário representa uma barreira lipídica, mais permeável na fase de colostro (primeira semana pós-parto). O pH do leite humano (6,6 a 6,8) é um pouco menor do que o do plasma, ou seja, mais ácido, o que favorece a concentração de substâncias com características básicas, por mecanismo de ionização. O volume e a composição do leite, que são variáveis, podem afetar os níveis de drogas excretadas como o leite de mães de recém-nascidos pré-termo tem baixo teor de gordura e alto teor de proteína. 2. Lactente: a idade influencia na qualidade do leite visto que a maioria dos efeitos adversos ocorre em recém- nascidos e lactentes jovens. A relação entre idade do lactente e risco de efeito adverso sofre influência do tipo de aleitamento praticado, se exclusivo ou não, e do grau de maturidade dos principais sistemas de eliminação de fármacos. Além disso, a barreira hematoencefálica é imatura em recém- nascidos e lactentes jovens, havendo aumento da passagem de fármacos lipossolúveis que atuam no sistema nervoso central. A hipóxia, acidose metabólica, sepses e outras doenças podem interferir no metabolismo e excreção das drogas pela criança, determinando maior risco para o lactente. O efeito destas substâncias no lactente é influenciado também pela taxa de absorção das drogas pelo seu trato digestório. Assim, drogas excretadas em grandes concentrações no leite materno provavelmente não produzirão efeitos sistêmicos no lactente caso não sejam absorvidas. 3. Substância: a transferência de fármacos para o leite materno depende das seguintes características: (1) peso molecular; (2) lipossolubilidade; (3) capacidade de ligação às proteínas plasmáticas; (4) grau de ionização; (5) meia-vida de eliminação; (6) biodisponibilidade; e (7) concentração sanguínea materna. Desta forma, a excreção da droga do sangue para o leite é facilitada quando a droga em questão apresenta: (1) baixo peso molecular, (2) elevada lipossolubilidade, (3) baixa capacidade de ligação às proteínas plasmáticas, (4) forma não ionizada, (5) elevada meia-vida de eliminação, (6) alta biodisponibilidade e (7) elevado poder de concentração no plasma materno. Usualmente, o pico da substância na corrente sanguínea da mãe coincide com o pico no leite materno, sendo menor neste. Portanto, conhecer o pico sérico de um medicamento é útil para adequar os horários de administração da droga e de amamentação da criança. A presença e/ou a concentração da droga no leite dependerá, dentre outros fatores, da via de administração à mãe. As drogas podem ser administradas à mãe por diversas vias, tais como oral, injetável (venosa ou intramuscular), retal ou vaginal, aerossol e tópica (pomadas e cremes). Uma vez no sangue materno, os medicamentos podem ser excretados parcialmente para a glândula mamária e, daí, para o leite. O fator determinante da quantidade de droga que aparece no leite é sua concentração no sangue materno, exceto se for um medicamento de aplicação tópica diretamente na mama. É importante ressaltar a ocorrência de interação entre fármacos utilizados pela mãe, pois o risco de efeitos tóxicos de um fármaco pode ser potencializado pela ação de outro. Talidomida É um medicamento que foi desenvolvido como ansiolítico e sedativo. A talidomida causa algumas más-formações nos tecidos do mesoderma, como os ossos longos dos membros. É derivado do ácido glutâmico, relacionado quimicamente a glutetimida e clortalidona. O efeito teratogênico pode ser explicado por três hipóteses: Alteração do desenvolvimento da crista neural Inibição da angiogênese em células cardíacas dos embriões e/ou Redução dos receptores de adesão de células-mãe que originam os membros superiores e inferiores e das células cardíacas de embriões. Verificou-se depressão da quimiotaxia dos PMNL’s e, possivelmente, a sua fagocitose; Diminui a capacidade fagocitária dos monócitos e a quimioluminescência; Supressão da produção de radicais livres derivados do oxigênio e outros mediadores da resposta inflamatória LUES E Hanseníase; Parece reduzir o TNF-alfa em pacientes com reação hansênica tipo II; Menor afinidade de ligação aos linfócitos T helper do que aos linfócitos T supressor e citotóxico. Alguns mecanismos de dismorfogênese do esqueleto apendicular foram propostos: Diminuição da expressão de vários receptores de superfície ligados à adesão celular, causando alterações na comunicação intercelular e destas com a matriz extracelular, inibindo a diferenciação cartilaginosa (condroblastos em condrócitos), pré- requisito para a ossificação endocondral. Indução direta de apoptose de células embrionárias, semelhante à ação imunomoduladora da inibição de reações autoimunes. Aumento da concentração de derivados de glutaramida no tecido fetal, inibidores da síntese proteica. Reação direta com o DNA embriônico, provocando danos oxidativos mediante liberação de radicais livres. Capacidade de ligação dos metabólitos ativos da talidomida a sítios promotores G-C dos genes responsáveis pela angiogênese dos brotos dos membros, inibindo a transcrição desses genes, levando à interrupção do desenvolvimento dos membros por falta de aporte vascular. Praticamente todos os órgãos do corpo podem ser afetados. Malformações e/ou perda auditiva são muito comuns, sendo a microtia e anotia as mais frequentes. Anormalidades oculares, tais como coloboma, oftalmomegalia, microftalmia, anoftalmia, entre outras são comumente encontradas. Anormalidades neurológicas mais com uns são surdez e paralisia de nervos faciais. Hemangioma na linha média da face e fenda labial e/ ou palatina são frequentes. Entre as anormalidades de órgãos internos, são frequentes as anormalidades de laringe, traqueia e lobulação dos pulmões. Entre as anomalias cardíacas estão os defeitos do septo ventricular, coarctação da aorta etetralogia de Fallot. O período mais crítico para a ação teratogênica da talidomida é entre o 34º ao 50º dia após a última menstruação, ou 20 a 36 dias após a fertilização. A focomelia de membros inferiores foi associada à exposição durante 30-33 dias, aplasia vesicular nos dias 42-43, atresia do duodeno nos dias 40-47. Ainda é comercializada na função de imunomodulador em casos de LES – Lúpus Eritrematoso Sistêmico; tratamento do eritema nodoso da hanseníase, úlceras aftoide idiopática em pacientes com HIV/AIDS; e mieloma múltiplo. Anti-hipertensivos O uso de anti-hipertensivos pode reduzir o fluxo de sangue para a placenta ao reduzirem a pressão arterial com muita rapidez em gestantes. Vários tipos de anti-hipertensivos, como inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA) e diuréticos à base de tiazida, geralmente não são administrados a gestantes. Esses medicamentos podem causar problemas graves no feto, como danos ao rim, restrição do crescimento e defeitos congênitos. A espironolactona também não é administrada a gestantes. Esse medicamento pode causar o desenvolvimento de características femininas em um feto masculino. Antidepressivos Os antidepressivos tricíclicos não causam aumento na incidência de defeitos congênitos, ou mesmo alterações no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) e na inteligência dessas crianças, porém observou-se sintomas de abstinência como tremores, irritabilidade, taquipneia, cianose e cólica. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina não apresentaram efeitos negativos neurocomportamentais, mas observou-se a ocorrência de efeitos neonatais transitórios leves no final da gestação. Estes efeitos incluem sinais de alteração de sistema nervoso central (tremores, irritabilidade, hiper-reflexia, alteração de sono, choro excessivo), alterações motoras (aumento de tônus muscular), respiratórias e gastrintestinais. Não existe evidência de risco de defeitos congênitos associados ao uso de antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina durante o primeiro trimestre de gravidez, exceto a paroxetina com um risco discretamente maior de defeitos congênitos cardíacos (defeitos septais). Pela maior comprovação de sua segurança, a fluoxetina é o ISRS de escolha na gestação. Durante a lactação, recomenda-se, para qualquer antidepressivo utilizado, que os horários de amamentação sejam adaptados para minimizar a exposição do bebê à droga. Inibidores da MAO Informação escassa; Sem relatos de teratogenicidade; Amamentação: contraindicado. Anti-inflamatórios Os anti-inflamatórios não esteroides são um grupo heterogêneo de drogas caracterizadas por um mecanismo de ação comum, a inibição da enzima cicloxigenase e, consequentemente, da produção de prostaglandinas causando grande parte de seus efeitos analgésicos, antipiréticos e anti- inflamatórios. Os efeitos adversos dos AINEs dependem da isoforma de cicloxigenase que é preferencialmente inibida. De modo geral, a diminuição da prostaglandina E2 (PGE2) pode produzir constrição do ducto arterioso, podendo levar a hipertensão pulmonar primária no recém-nascido e diminuição do fluxo sanguíneo renal, reduzindo a produção de líquido amniótico podendo induzir à formação de oligodrâmnio. A inibição das prostaglandinas, no final da gestação, tem efeito tocolítico e pode prolongar ou inibir o trabalho de parto; alguns AINEs, em particular a indometacina, podem ser usados para o manejo de trabalho de parto prematuro na prática obstétrica, preferencialmente antes das 32 semanas. Logo podem ser usados com segurança nos dois primeiros trimestres, pois não parecem possuir potencial teratogênico e está contraindicado no terceiro trimestre, com algumas exceções (paracetamol). O principal risco do uso de paracetamol durante a gravidez parece ser o acometimento hepático em doses tóxicas, que pode ocorrer tanto na gestante como no feto embora a intoxicação materna geralmente ocorra sem acometimento fetal). O ibuprofeno demonstrou em estudos experimentais: distúrbios de implantação, constrição do ducto arterioso e prolongamento do trabalho de parto. Gastrosquise foi a única malformação congênita relacionada. A aspirina pode exercer efeitos danosos como anemia, a hemorragia e o prolongamento do trabalho de parto; e benéficos como redução de abortamentos em gestantes com lúpus eritematoso sistêmico e síndrome antifosfolipídios, prevenção da pré- eclâmpsia e de restrição do crescimento intrauterino, quando utilizada antes da 17a semana de gestação em baixas doses. A indometacina é muito utilizada como agente tocolítico para a prevenção de trabalho de parto prematuro devido à sua ação sobre a prostaglandina E2 (PGE2). Se utilizados no último trimestre de gestação (a partir da 29ª semana), sem controle ultrassonográfico, tem comprovado efeito sobre o canal arterial, estando documentada a constrição do canal arterial associada à insuficiência cardíaca grave e aumento de morbidade. Este estado de constrição é revertido com a interrupção do uso, mas ainda assim pode haver problemas para o feto, como hipertensão pulmonar resultante do aumento de fluxo para os pulmões em razão da constrição ductal. Outras complicações descritas nos neonatos foram: cesárea de emergência, intubação, acidose metabólica, cianose intensa e até mesmo óbito. Atenção: Diclofenacos Amamentação: compatível Derivados pirazolônicos (C) Dipirona - 77 anos no mercado demonstra eficácia e segurança Persiste a discussão sobre seu uso Amamentação: há passagem para o leite materno Escopolamina (C) Não há evidências de malformações ou outros efeitos adversos quando utilizada durante a gravidez Amamentação: compatível com aleitamento Opióides (B/D) Em período próximo ao parto, podem causar pressão respiratória e síndrome de privação do recém- nascido Não são descritos efeitos teratogênicos Amamentação: evitar Meperidina; Metadona pode ser compatível; Morfina tem pouca passagem para o leite (cautela RN) Salicilatos (C) Já foi descrito aumento da taxa de abortamento Amamentação: a aspirina e outros salicilatos são transferidos em baixas concentrações para o leite materno - risco relacionado a doses altas (uso cauteloso) Acetominofen (Paracetamol) (B) Possui efeito analgésico importante sem os mesmos colaterais do ácido acetilsalicílico; É o grupo de anti-inflamatório e analgésico mais utilizado na gestação (uso seguro em doses terapêuticas/curto prazo); Amamentação: é excretado em baixas doses no leite materno, considerado compatível com a amamentação. Anti-inflamatórios hormonais Hidrocortisona – pouco risco ao concepto, achados não confirmados em humanos Predinisolona e predinisona (C) durante a gravidez apresenta pequeno risco de fendas faciais ao concepto Amamentação: drogas compatíveis Antibióticos Penicilinas (B) Atravessam rapidamente a barreira placentária e são encontrados no sangue fetal e líquido amniótico em doses terapêuticas; Gravidez - Maior fluxo sanguíneo renal – menores níveis séricos – maior excreção (podendo haver ajustes na dose em grávidas); Muito usados na gestação; Efeitos adversos amamentação: modificação da flora intestinal, alergias no lactente e interferência em resultados de cultura. Tetraciclina (D) Atravessam facilmente barreira placentária; Quelação ao cálcio nos ossos e dentes; Contraindicadas no segundo e terceiro trimestre; Hepatotoxicidade em gestantes tratadas em grandes doses; Primeiro trimestre: relatos de hipospadia, hérnia inguinal, hipoplasia de membros; Amamentação: compatíveis. Cloranfenicol (D) No RN – pouca excreção - Síndrome cinzenta; Não prejudicial ao feto quando administrada em gestantes; Amamentação: evitar (tóxico). Eritromicina (B) Estearato de eritromicina indicado na gestação como alternativa a penicilina e derivados, pois atravessam pouco a barreira placentária; Estolato de eritromicina – Teratogênico; Amamentação: é compatível. Gentamicina (C) Aminoglicosídeo; Sem comprovação de efeitos adversos nos rins e aparelho auditivo; Uso: benefícios maiores que o risco (valvopatias /infecções renais). Cefalosporinas (B) Sem efeitos teratogênicos relatados Bem tolerados pelo RN Amamentação: compatível Sulfonamidas (B) Evitar uso em mulheres com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase; Indicação: tratamento da hanseníase Não causam lesões conhecidas do feto no útero; Prejudiciais: sangue do RN após nascimento; Aumentam risco de hiperbilirrubinemia; Amamentação: compatível. Metronidazol (B) Evitar uso no 1º trimestre Casos de tricomoníase – uso aceitável Indicada em casos que não haja outra alternativa terapêutica Amamentação: uso com precaução Floroquinolonas (C) Ciprofloxacina e norfloxacina: utilização criteriosa no 1º trimestre; Contraindicada por existir alternativas terapêuticas; Amamentação: poucos dados – indícios de compatibilidade. Nitrofumatoína (B) Usada na gravidez em casos de infecções no trato urinário; Anemia hemolítica em RN expostos intraútero; Amamentação: poucos dados – indícios de compatibilidade. Vancomicina (B) Indicação: infecções por Staphylococus aureus resistentes a outras drogas, infecções valvares e intestinais com distensão tóxica pelo Clostridium difficile; Administrado intravenosa; Sem descrições de malformações fetais; Amamentação: poucos dados – indícios de ser compatível. Clindamicina (B) Indicação: infecções uterinas pós- parto; Sem descrições de malformações fetais; Amamentação: compatível. Antieméticos Metoclopramida (B) Segura e eficaz; Atravessa a barreira placentária no termo; Síndrome extrapiramidal; Amamentação: não apresenta risco se ≤ 45mg/dia; Dimenidrato (B) Mais utilizado na clínica obstétrica; Sem evidências de teratogenicidade; Amamentação: há indícios de que seja compatível; Drogas com ação cardiovascular. Hipotensores (B/C) Alfametildopa (C) – não apresenta efeitos deletérios sobre o feto; Betabloqueadores (B/C/D) – exigem precaução; Bradicardia nos lactentes. Inibidores da ECA Atravessam a placenta; Nocivos para o feto; Retardo de crescimento e óbito intraútero. Antipsicóticos Não recomendado na gravidez e na lactação (observar risco-benefício); Maior incidência de baixo peso ao nascimento (10% x 2%) e de abortamento (14,5% x 8,6%); Não se sabe se existe risco de teratogenicidade; Amamentação: potencial sedação. Benzodiazepínicos Há controvérsias sobre o uso na gestação sobre sua teratogenicidade; Efeitos neonatais: sedação, hipotonia, recusa à sucção, apneia, cianose e distúrbios metabólicos; Redução da dose na gravidez; Amamentação: depressão do sistema nervoso central, mas é seguro em curto prazo (1-2 semanas). Antiepiléticos Defeitos no fechamento do tubo neural, cardíacos e faciais; Alterações da função neurológica e intelectual; Amamentação: meta- hemoglobinemia, hepatite, supressão medular, colestase. Lítio Usado para transtornos bipolares; Anomalia de Ebstein; Efeitos neonatais: hipóxia, letargia, hipotonia, distúrbios respiratórios, cianose e sintomas de intoxicação; Amamentação: deve ser evitado o uso concomitante de lítio. Medicamentos mais contraindicados Medicamentos utilizados durante o parto Os analgésicos usados durante a gestação (como anestésicos locais e opioides) geralmente atravessam a placenta e podem afetar o recém-nascido levando ao enfraquecimento o reflexo de respiração do bebê. Por isso, se forem realmente necessários, eles são administrados nas menores doses eficazes possíveis. Fármaco Efeito Amiodarona Hipotireoidismo Antineoplásicos e Imunossupressores Supressão da medula óssea Bromocriptina Supressão da lactação Isotretinoína Alteração da função hepática, anorexia, náuseas, vômitos, fadiga e cefaleia
Compartilhar