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Síndromes maníacas Introdução: A base da síndrome maníaca são os sintomas de euforia, alegria exacerbada, elação (expansão do eu), grandiosidade ou irritabilidade marcante, desproporcionais aos fatos da vida e distintos do estado comum de alegria ou entusiasmo que o indivíduo sadio apresenta em sua vida. A atitude geral do paciente pode ser alegre, brincalhona, eufórica, irritada, arrogante e até agressiva, com pensamentos grandiosos, superficiais e inconsequentes. É comum que o paciente apresente ideias de grandeza, poder, riqueza e importância social, que podem configurar verdadeiros delírios humor-congruentes, mas também podem ocorrer delírios humor-incongruentes (delírios de perseguição ou passividade). Também podem ocorrer alucinações. Os principais sintomas são: - Aumento da autoestima; - Diminuição da necessidade de sono (3 a 4 horas por noite sem que isso o afete); - Loquacidade (produção verbal rápida, fluente e persistente); - Logorreia (produção verbal muito rápida, fluente, com perdas das concatenações lógicas); - Pressão para falar; - Alterações formais do pensamento (fuga de ideias, desorganização do pensamento, superinclusão conceitual, tangencialidade, descarrilhamento, incoerência, ilogicidade, perda dos objetivos e repetição excessiva); - Distraibilidade (atenção voluntária diminuída e espontânea aumentada); - Aumento da atividade ou agitação psicomotora; - Envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas ou danosas (atividade financeira insensata, indiscrições sexuais…); - Labilidade afetiva (de modo geral, afetos superficiais); - Arrogância; - Heteroagressividade; - Desinibição social e sexual. Subtipos de síndromes maníacas: Mania franca ou grave: Trata-se da forma mais intensa de mania, com aceleração grave de todas as funções psíquicas, agitação psicomotora acentuada, heteroagressividade, alterações formais do pensamento, ideias e delírios de grandeza. Mania irritada ou disfórica: Trata-se de uma forma de mania na qual predomina a irritabilidade e o mau humor, a hostilidade em relação às outras pessoas. Pode ocorrer heteroagressividade e destruição de objetos. Mania com sintomas psicóticos: Trata-se de episódio maníaco grave com sintomas psicóticos, como delírios de grandeza ou poder (humor-congruentes) e delírios de perseguição (humor-incongruentes). No meio sociocultural brasileiro, os delírios místico-religiosos são relativamente comuns. Também podem ocorrer alucinações auditivas, olfativas e visuais. Mania mista: Ocorre quando sintomas maníacos e depressivos ocorrem conjuntamente ou se alternam no mesmo dia ou semana. Atualmente, considera-se que são sintomas frequentes nos quadros mistos: pensamento e comportamento confuso, agitação psicomotora, distúrbios do apetite, ideação suicida e sintomas psicóticos. Apresentam mais ansiedade, uso de substâncias psicoativas e maior risco de suicídio. Pessoas com transtorno bipolar e quadros mistos apresentam, mais frequentemente, ciclos rápidos, que se repetem em um mesmo ano. Tendem a ter um quadro de TB mais grave, com episódios cada vez mais intensos, pior resposta ao lítio e pior evolução psicossocial. Hipomania: É uma forma atenuada de episódio maníaco, que muitas vezes passa despercebida, sem receber atenção médica ou psicológica.O indivíduo está mais disposto que o normal, fala muito, conta piadas, faz muitos planos, não se ressente com as dificuldades e os limites da vida. Pode ter diminuição do sono. Para o DSM-V, a hipomania é muito semelhante à mania, com ressalva de que o episódio não pode ser suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou necessitar de internação. Ciclotimia: Diversos pacientes apresentam, ao longo de suas vidas, muitos e frequentes períodos de poucos e leves sintomas depressivos seguidos, em periodicidade variável, de certa elevação do humor. Isso ocorre sem que o indivíduo apresente episódios completos de depressão ou mania. Esses sintomas devem durar no mínimo dois anos, mas geralmente acompanham a pessoa acometida por toda a vida. Transtorno bipolar (tb): O TB, em seus vários tipos, é marcado por seu caráter episódico. Os episódios de mania e depressão ocorrem de modo relativamente delimitado em tempo e há períodos de remissão, em que o humor do paciente encontra-se normal, eutímico, e as alterações psicopatológicas mais graves regridem. Tem uma prevalência ao longo da vida de 1% em adultos. A idade média de início gira em torno de 21 anos e a chance de recorrência, após um primeiro episódio de mania ou depressão bipolar, é de 37% no primeiro ano e 87% em cinco anos. Apesar de ter fatores psicossociais envolvidos, os fatores genéticos são de extrema importância para o TB. É um transtorno mental grave, com importantes implicações na vida, na produtividade e sociabilidade das pessoas acometidas, bem como prejuízo neuropsicológico e risco aumentado de doenças físicas e suicídio (que é maior em pacientes que apresentam episódios mistos, ciclagem rápida, sintomas ansiosos preponderantes e refratários ao tratamento). Até 40% dos pacientes bipolares apresentam algum transtorno de personalidade, sendo os mais comuns: borderline, histriônica e narcisista. O transtorno bipolar é dividido entre tipo I e tipo II, sendo o primeiro marcado por episódios depressivos intercalados com fases de normalidade e pelo menos uma fase maníaca bem caracterizada. Já no segundo tipo, ocorrem episódios depressivos intercalados com períodos de normalidade e seguidos de fases hipomaníacas. Para o diagnóstico de transtorno bipolar com ciclagem rápida é necessário que o paciente tenha apresentado, no último ano, pelo menos 4 episódios bem caracterizados e distintos de mania ou depressão. Tem surgimento mais precoce e curso mais longo e está mais relacionado a uso de substâncias psicoativas e suicídio. Diagnóstico: Critérios diagnósticos para transtornos maníacos segundo DSM-V e CID-11: Episódio maníaco: Humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e pelo menos mais três dos sintomas abaixo durante pelo menos 1 semana: 1. Autoestima elevada ou grandiosidade; 2. Muito falante, loquaz ou logorreico; 3. Fuga de ideias; 4. Distraibilidade; 5. Menor necessidade de sono; 6. Aceleração psicomotora; 7. Desinibição social ou sexual e aumento do gasto financeiro; 8. Maior envolvimento em atividades prazerosas de risco. Episódio hipomaníaco: Por pelo menos 4 dias, deve haver 3 ou mais sintomas bem demarcados de humor persistentemente elevado, irritado ou expansivo. Não pode haver sintomas psicóticos; os sintomas não perturbam claramente o funcionamento profissional ou social e não há necessidade de hospitalização. Tratamento: A primeira decisão crítica do médico psiquiatra sobre o tratamento de um paciente bipolar é acerca da internação. Indicações claras para a hospitalização são: risco de suicídio ou homicídio, capacidade acentuadamente reduzida do indivíduo de obter alimento e abrigo e a necessidade de procedimentos diagnósticos. Uma história de sintomas de rápida progressão e a ruptura do sistema de apoio habitual também são indicações. Pacientes em mania, em geral, têm falta completa de insight e, por esse motivo, a hospitalização os parece absurda. Por isso, quando se faz necessária, muitas vezes ocorre contra a vontade do paciente. A psicoterapia, assim como em qualquer outra desordem psiquiátrica, é de suma importância. Mas diferentemente das síndromes depressivas e ansiosas, aqui, o pilar do tratamento é a farmacoterapia. O tratamento farmacológico dos transtornos bipolares é dividido em fases aguda e de manutenção. O lítio e sua combinação com antidepressivos, antipsicóticos e benzodiazepínicos tem sido a principal abordagem à doença, mas três anticonvulsivantes estabilizadores de humor (carbamazepina, valproato e lamotrigina) também são muito utilizados. A mania aguda ou hipomania é a fase de mais difícil tratamento, em partes porque a adesão ao tratamento é muitas vezes problemática. Esse fato associadoao julgamento comprometido, impulsividade e agressividade típicos do paciente em mania faz com que, muitas vezes, a hospitalização seja a melhor escolha. O carbonato de lítio é considerado o protótipo do estabilizador de humor. Porém sua ação antimaníaca é lenta e, portanto, é geralmente suplementado nas fases iniciais do tratamento por antipsicóticos, anticonvulsivantes e benzodiazepínicos de alta potência. Seu uso está em declínio devido à introdução de drogas mais modernas, com menos efeitos colaterais e menor toxicidade. O valproato ultrapassou o uso de lírio para mania aguda. Tem indicação formal apenas para mania aguda, mas alguns autores defendem também seu efeito profilático. Tem início rápido de resposta. A carbamazepina tem sido usada usada no mundo todo há décadas para o controle de mania aguda. O clonazepam e o lorazepam são benzodiazepínicos de alta potência e são altamente eficazes no tratamento adjuvante de agitação psicomotora da mania aguda, insônia, agressividade, disforia e pânico. Todos os antipsicóticos atípicos demonstram efeitos antimaníacos e têm menos efeitos colaterais que os típicos, como o haloperidol e a clorpromazina. Alguns pacientes requerem tratamento de manutenção com medicação antipsicótica. Já o tratamento da depressão bipolar aguda é, ainda, controverso, devido ao potencial efeito de virada maníaca de determinados antidepressivos, principalmente em pacientes com ciclagem rápida e estados mistos. No geral, utiliza-se medicamentos antidepressivos em doses mais baixas, potencializados com um estabilizador de humor. Uma combinação muito bem estabelecida e segura é a da olanzapina com a fluoxetina. Na manutenção do paciente bipolar, o objetivo é prevenir recidivas de episódios de humor. O lítio, a carbamazepina e o ácido valpróico isolados ou em combinação são os agentes de mais ampla utilização. Obs.: a lamotrigina não tem propriedades antimaníacas agudas, mas ajuda a prevenir a recidiva de episódios maníacos e depressivos. Camila Brito. Referências: - Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais - Dalgalarrondo; - Compêndio de Psiquiatria - Kaplan e Saddock.
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