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Aula dia 10/02/2021 2ª PARTE Noções Gerais dos Títulos de Crédito e seus Princípios Prof. Carlos Henrique Passos Mairink Títulos de Crédito Página 2 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. AULA CURSO: Direito DISCIPLINA: Títulos de Crédito PERÍODO: 8º PROFESSOR: Carlos Henrique Passos Mairink AULA REFERÊNCIA - DIA: 10/02/2021 TEMA DA AULA: Noções Gerais dos Títulos e Crédito e os seus Princípios Orientações Em caso de dúvidas sobre a disciplina, favor entrar em contato: WhatsApp: (31) 98455-3659 E-mail: passosmairink@gmail.com 1 INTRODUÇÃO Olá! Continuaremos com o estudo da nossa disciplina. Trabalharemos nessa unidade com as noções gerais dos títulos e crédito e os princípios aplicáveis a toda a teoria. Saliento que o objetivo é ter uma visão global do instituto, bem como solidificar a ideia de que existem princípios gerais aplicáveis aos títulos de créditos. Bons estudos! Títulos de Crédito Página 3 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. 2 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: • Compreender de forma global os títulos de crédito. • Entender os princípios norteadores aos títulos de crédito. • Ratificar a ideia de aplicabilidade dos princípios, também, aos títulos de crédito de suporte eletrônico. 3 DESAFIO OBS: O DESAFIO DEVERÁ SER RESPONDIDO NA ATIVIDADE FÓRUM Analise a seguinte situação hipotética e responda os questionamentos: Alessandro sacou uma Letra de Câmbio contra Cinthia no valor de R$ 100.000,00 com data de vencimento para o dia 25- 05-2020, cujo favorecido é Renata. O motivo do saque da Letra de Câmbio foi devido a Alessandro ter vendido um carro, em 09-01-2020, para Cinthia e ter comprado de Renata um apartamento na mesma data. Cinthia não deu aceite na Letra de Câmbio no momento da compra do veículo. Títulos de Crédito Página 4 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. Sabedora que Cinthia estava com dificuldades financeiras, Renata pediu uma garantia a Alessandro, que pediu que Mirian a firmasse aval no título de crédito. Mirian aceitou firmar aval no título se Alessandro perdoasse uma dívida no valor de R$ 10.000,00 representada por uma Nota Promissória com vencimento à vista emitida por Miriam a favor de Alessandro. Alessandro resolveu perdoar a dívida de Mirian dando a mesma uma escritura pública de perdão de dívida, pois, Alessandro afirmou que perdeu a Nota Promissória. Pode-se afirmar que a Letra de Câmbio venceu, foi protestada dentro do prazo legal, e que não foi paga. Finalmente, sabe-se que a Letra de Câmbio não está prescrita. Perguntas: a) No presente caso o título foi regularmente emitido? b) Quais princípios referentes aos títulos de crédito estão presentes? c) Quem é o credor? d) Quais devedores podem ser executados? Responda o questionamento por meio da atividade Fórum. Títulos de Crédito Página 5 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. 4 TÍTULOS DE CRÉDITO Título de crédito corresponde a um documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado. Esse conceito, criado por Cesare Vivante, encerra em poucas palavras a essência do instituto jurídico. Por tal definição, evidenciam-se os princípios que norteiam a matéria. Em se tratando de título de crédito, a principiologia é específica, revelando um tratamento especial necessário a tais institutos. Modernamente, o direito empresarial encontra sua justificação não na tutela do comerciante, mas na tutela do crédito e da circulação de bens ou serviços, vale dizer, o fim último do direito empresarial é permitir o bom desenvolvimento das relações de crédito e das atividades econômicas. Dentro dessa concepção, a disciplina dos títulos de crédito ganha importância, na medida em que eles são os principais instrumentos de circulação de riquezas no mundo moderno. Assim, os títulos de crédito talvez representem a principal contribuição do direito comercial para a economia moderna. (TOMAZETTE, 2017, p. 33) annee Realce Títulos de Crédito Página 6 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. Os princípios relativos ao Direito Cambiário são, basicamente, a cartularidade ou incorporação, a literalidade, e a autonomia. A autonomia se desdobra em dois subprincípios, a saber, o subprincípio da abstração e o subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé. Princípio da cartularidade O princípio da cartularidade informa que os títulos de crédito devem ser materializados em papel, em uma cártula. Wille Duarte Costa, João Eunápio Borges e Luiz Emygdio F. da Rosa Júnior preferem falar em incorporação, pois para eles o título incorpora de tal forma o direito creditício mencionado, que a sua entrega a outra pessoa significa a transferência da titularidade do crédito. É certo que o surgimento dos títulos eletrônicos torna um tanto inadequada a expressão cartularidade, uma vez que inexistirá o papel, sendo melhor falar em incorporação para os títulos eletrônicos. Apesar disso, para os títulos representados em papel, a expressão cartularidade ainda é mais correta, na medida em que não se vale de qualquer metáfora ou imagem plástica. (TOMAZETTE, 2017, p. 53) Assim, a cartularidade ou incorporação significa que o título é o sinal imprescindível do direito, isto é, a posse do título é a condição mínima para o exercício do direito nele mencionado, annee Realce Títulos de Crédito Página 7 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. só quem possui o documento pode exigir o cumprimento do direito documentado. O documento é, pois, fundamental (necessário) para o exercício dos direitos nele mencionados. O exercício do direito contido no título de crédito só é possível mediante a apresentação da cártula original. Vale lembrar que nem mesmo uma cópia autenticada do título de crédito é suficiente para o exercício do direito creditício. Questão óbvia, pois se assim fosse, o portador autenticaria diversas cópias e as transferiria para terceiros, prejudicando o devedor. A desmaterialização dos Títulos de Crédito A evolução tecnológica vem aos poucos diminuindo o uso do papel. Essa evolução também chega aos títulos de crédito, sendo extremamente comum falar em títulos eletrônicos, isto é, títulos não materializados no papel. O próprio Código Civil (art. 889, § 3o) admite a criação do chamado título eletrônico criado a partir de caracteres gerados em computador, desde que contenha a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere e a assinatura do emitente. Essa desmaterialização põe em xeque a própria existência do princípio da cartularidade ou incorporação nos títulos de crédito, uma vez que não haverá sempre papel a ser apresentado. Diante dessa evolução, chegamos a três possíveis conclusões: (a) Títulos de Crédito Página 8 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. tal princípio não existe mais para os títulos de crédito; (b) tais títulos eletrônicos não são títulos de créditos, valendo a cartularidade ou incorporação apenas para os títulos de crédito; e (c) a cartularidade ou incorporação adquiriu novos contornos, continuando a valer para os títulos em papel e para os títulos eletrônicos. Negar a existência dos títulos eletrônicos é negar a própria evolução do Direito. Assim, a segunda conclusão deve ser completamente afastada, porquanto em nosso direito já temos títulos eletrônicos, como por exemplo os títulos do agronegócio disciplinados pela Lei no 11.076/2004, assim como no direito italiano. Diante dessa realidade, restam duas opções: ou oprincípio da cartularidade ou incorporação não mais se aplica aos títulos de crédito, ou continua valendo, adequando-se à realidade econômica moderna. A nosso ver, o princípio continua valendo também para os títulos eletrônicos. (TOMAZETTE, 2017, p. 53) Princípio da literalidade O princípio da literalidade prescreve que o direito creditício é exercido nos exatos limites do conteúdo da cártula. Para fins cambiários, apenas o que está descrito na cártula é válido. Nenhum direito a mais é exercido e nenhum interveniente é annee Realce Títulos de Crédito Página 9 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. incluído na relação cambiária, obrigando-se cambiariamente aqueles que no título já figuram ou dele tem posse. A literalidade pressupõe declarações cambiárias relativas ao crédito existente no título, significando dizer que o teor do título é o que se considera para identificar os requisitos de validade, os intervenientes cambiários, o crédito e os demais direitos e obrigações que devem constar do título. A conclusão é a de que aquilo que não está no título, a ele não se incorpora. Princípio da autonomia Pelo princípio da autonomia compreende-se que as relações jurídicas que podem existir no título são autônomas entre si. Sendo assim, a partir do momento em que o título é criado, cada relação que surge entre os vários intervenientes é concebida como autônoma em relação às demais. E deve ser assim, pois, um título pode dar margem a diversas relações jurídicas sem que haja qualquer vinculação ou conhecimento por parte dos intervenientes originários. O princípio da autonomia é mitigado quando se insere na cártula a relação jurídica de base. Assim, todos aqueles que receberem o título, por força da literalidade, terão conhecimento da relação jurídica subjacente e, consequentemente, o título a ela está vinculado. annee Realce annee Realce Títulos de Crédito Página 10 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. Abstração O subprincípio da abstração se refere ao desprendimento do título da causa que lhe deu origem, ou seja, da relação subjacente. Essa característica surge quando o título circula e chega a terceiro que não participou da relação causal originária. Assim, é possível dizer que o título entra em um nível de abstração por não mais se identificar com a relação subjacente. Nesse sentido, surge a ideia de independência, que se refere ao fato de que o título de crédito é o bastante para se exercer o direito nele contido. Portanto, a compreensão é a de que o título de crédito não se integra, não surge e não resulta de outro documento. Inoponibilidade das exceções pessoais A inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé constitui uma garantia ao terceiro que, estranho à relação originária, recebe o título de crédito. Deve o terceiro ser tutelado justamente pelo fato de que a razão de ser do título de crédito é a circulação de riqueza. Assim, para este terceiro ser tutelado ao receber um título, ele deve ter a garantia de que nenhuma exceção pessoal lhe possa ser oposta. A importância da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé eleva essa garantia ao status de princípio para alguns autores. Representando o próprio direito, os títulos de crédito permitem que a simples transferência do documento annee Realce annee Realce annee Realce annee Realce Títulos de Crédito Página 11 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. transfira o direito ali representado, assegurando à circulação dos direitos de crédito o máximo de simplicidade e segurança. Mesmo que não venham a circular, é certo que é constante em todos os títulos de crédito a vontade de criar um título circulatório. Assim, a função primordial dos títulos de crédito é a de facilitar e agilizar a circulação de riquezas, permitindo o melhor desempenho das atividades econômicas. Os títulos de crédito se destinam “a tornar mais simples, rápida e segura a movimentação de bens e direitos”. (TOMAZETTE, 2017, p. 35) Títulos de Crédito Típicos e Atípicos Waldirio Bulgarelli (1998, p. 96) reconhece, como um dos atributos dos títulos de crédito, a chamada legalidade ou tipicidade, a qual consistiria “na impossibilidade estabelecida pela Lei, de se emitirem títulos de crédito que não estejam previamente definidos e disciplinados por lei (numerus clausus)”. Dentro dessa ideia, não seria dada aos particulares a criação de títulos de crédito, uma vez que haveria a necessidade de lei específica sobre cada título de crédito. Opinião diversa é defendida por outros autores, para quem a criação dos títulos atípicos é perfeitamente válida, admitindo- se assim que os particulares criem documentos passíveis de Títulos de Crédito Página 12 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. endosso ou aval e, consequentemente, capazes de cumprir as principais funções dos títulos de crédito. A mesma opinião é praticamente pacífica no direito italiano. Marlon Tomazzete (2017, p. 37), entende que os títulos atípicos são perfeitamente admissíveis atualmente. Tais documentos surgem para atender à criatividade do meio empresarial, não se destinando a negócios em massa, mas a negócios peculiares, nos quais os títulos típicos não sejam capazes de atender às necessidades privadas. Portanto, da autonomia privada podem surgir novos títulos de crédito. Tal possibilidade de criação de títulos atípicos é fruto da existência de uma disciplina geral sobre os títulos de crédito no Código Civil italiano ou do Código Civil brasileiro de 2002. A nosso ver, apenas a lei pode garantir a aplicação da cartularidade ou incorporação, da literalidade, da autonomia e da abstração, mas não precisa ser uma lei específica, pode ser uma lei geral, como o Código Civil. Assim, apesar da opinião contrária de Fábio Ulhoa Coelho, os títulos de crédito atípicos são regidos pelo Código Civil de 2002. Tal interpretação se sustenta no disposto no artigo 903 do Código, que determina sua aplicação apenas na ausência de regra especial. Assim, o Código Civil se aplicaria nas lacunas dos títulos típicos e integralmente aos títulos atípicos. Títulos de Crédito Página 13 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. Outrossim, o artigo 907 diz que é nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial, logo, os títulos nominativos ou à ordem poderiam ser emitidos independentemente dessa autorização legal específica. (TOMAZETTE, 2017, p. 38) 5 INFOGRÁFICO Fonte Imagem: http://www.entendeudireito.blogspot.com.br 6 DICA DO PROFESSOR Negar a existência dos títulos eletrônicos é negar a própria evolução do Direito. Assim, a segunda conclusão deve ser completamente Títulos de Crédito Página 14 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. afastada, porquanto em nosso direito já temos títulos eletrônicos, como por exemplo os títulos do agronegócio disciplinados pela Lei no 11.076/2004, assim como no direito italiano. Diante dessa realidade, restam duas opções: ou o princípio da cartularidade ou incorporação não mais se aplica aos títulos de crédito, ou contínua valendo, adequando-se à realidade econômica moderna. A nosso ver, o princípio continua valendo também para os títulos eletrônicos. (TOMAZETTE, 2017, p. 53) 7 EXERCÍCIOS 1. O que são títulos de crédito? 2. Os títulos de crédito podem ser eletrônicos? 3. O que é o princípio da cartularidade? 4. O que é o princípio da literalidade? 5. O que é o princípio da autonomia? 6. O que é o princípio da abstração? 7. O que é inoponibilidade das exceções pessoais nos títulos de crédito? 8. O que são títulos de crédito típicos e atípicos? Títulos de Crédito Página15 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. 8 PRATICANDO Julgue o próximo item, relativo às normas relativas aos títulos de crédito. Justifique as proposições que segue: "Aos títulos de crédito eletrônicos não se aplicam o princípio da cartularidade / incorporação”. 9 SAIBA + Segue exemplos de títulos de crédito: Títulos de Crédito Página 16 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. 10 Aqui você terá a oportunidade de assistir a nossa aula remota: • Aula do dia 10-02-2021 https://youtu.be/KRM3hxDs2HY https://youtu.be/KRM3hxDs2HY Títulos de Crédito Página 17 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. Durante o percurso, estarei sempre a sua disposição para auxílio. De todo modo, é útil lembrar que a caminhada é de cada um e, por vezes, você poderá sentir-se solitário. É assim mesmo. A essa altura da vida, você já deve saber que a aprendizagem é um processo solitário e doloroso; isso porque faz pensar e afasta certezas, para a construção de um novo conhecimento. É assim que a gente aprende. Temos várias formas de comunicação, individualizada ou coletiva, que poderão ser utilizadas à vontade. Tenho a certeza de que, uma vez seguidas as orientações constantes no cronograma apresentado, tudo terminará bem. Mas não se esqueça de que você será o construtor da sua obra. Estaremos, porém, sempre a seu lado para garantir a solidez da aprendizagem. Vamos trilhar paralelamente os desafios que virão, e espero que, no final, o trabalho seja gratificante. Carlos Henrique Passos Mairink Títulos de Crédito Página 18 FAMIG – Faculdade Minas Gerais – Todos os direitos reservados. BRASIL, Código Civil. (2002). Código Civil: lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Brasília: Senado, 2002. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 31 jul. 2019. BULGARELLI, Waldirio. Títulos de crédito. 14. ed. São Paulo: Atlas, 1998. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Títulos de crédito, v. 2 - 8. ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2017.
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