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Daniel Carlini – MEDUNEB13 Endócrino: Hipófise e hipotálamo HIPÓFISE E HIPOTÁLAMO HIPÓFISE A hipófise é um pequeno órgão ovoide, loca- lizado na cavidade do osso esfenoide (sela túrcica). Liga-se ao hipotálamo por um pedí- culo. Revestindo a glândula, está uma cáp- sula de tecido conjuntivo. Ela é coberta su- periormente pelo diafragma da sela, que apresenta um furo central para a passagem do infundíbulo. Esse furo separa a face supe- rior da hipófise do quiasma óptico. Cânceres de hipófise têm apenas um cami- nho para se expandir, crescendo para o inte- rior do cérebro e contra os nervos ópticos. Por isso, qualquer aumento de tamanho está associado a problemas visuais e/ou ton- turas. A abordagem cirúrgica mais comum é a cirurgia transesfenoidal. Nela, o neuroci- rurgião faz uma pequena incisão ao longo do septo nasal e não há cicatriz visível. Ainda, nenhuma parte do cérebro é tocada, o que reduz muito a possibilidade de dano. Porém, para tumores maiores, utiliza-se a cranioto- mia, uma cirurgia mais invasiva. Nesse caso, a abertura é feita na parte frontal e lateral do crânio. A hipófise possui dupla origem embriológica. A parte epitelial é denominada adeno-hipó- fise e está localizada na porção anterior da glândula (lobo anterior). É composta de 3 partes: pars distalis (90%), pars tuberalis (cir- cunda a haste infundibular) e a pars interme- dia. A parte neural é a neuro-hipófise, cuja porção inferior é a pars-nervosa (lobo poste- rior). Nessa porção, estão a haste infundibu- lar e a eminência mediana do túber cinéreo. Embriologicamente, a adeno-hipófise se de- senvolve de uma evaginação do ectoderma oral que reveste a cavidade oral primitiva. Enquanto isso, a neuro-hipófise se desen- volve do neuroectoderma, como uma evagi- nação do diencéfalo. HIPOTÁLAMO Integra os sistemas efetores autônomo e en- dócrino. ---Anatomia----------------------------------------- É um componente do diencéfalo. Estende-se da lâmina terminal a um plano vertical pos- terior aos corpos mamilares; do sulco hipo- talâmica até a base do encéfalo, abaixo do terceiro ventrículo. Está abaixo do tálamo e anterior à parte tegmental do subtálamo e ao tegmento mesencefálico. Lateralmente, é delimitado pela parte anterior do subtá- lamo, pela cápsula interna e pelo trato óp- tico. Ele é composto por substância cinzenta agrupada em núcleos e por sistemas varia- dos de fibras, como o fórnix. Este divide o hi- potálamo em área medial (rica em substân- cia cinzenta e abriga os principais núcleos) e área lateral (menos corpos neuronais e com predomínio de fibras longitudinais). São funções do hipotálamo: controle do sis- tema nervoso autônomo; regulação da tem- peratura corporal; regulação do comporta- mento emocional; regulação do equilíbrio hidrossalino e da pressão arterial; regulação da ingestão de alimentos salgados (centro da fome e da saciedade); regulação do sis- Daniel Carlini – MEDUNEB13 tema endócrino; geração e regulação dos ci- clos circadianos; regulação do sono e vigília; integração do comportamento sexual. Além dos elementos neurais comuns, o hi- potálamo conta com neurônios específicos capazes de sintetizar hormônios peptídicos – neurônios peptidérgicos. Eles não realizam sinapses: a) Neurônios Parvocelulares – axônios cur- tos e produzem peptídeos reguladores da adeno-hipófise. b) Neurônios Magnocelulares – axônios longos, produzem ADH (núcleo supraóp- tico) e ocitocina (núcleo paraventricu- lar). Ambos são armazenados na neuro- hipófise. EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE A secreção feita pela região posterior da hi- pófise é controlada por sinais neurais do hi- potálamo. Já a secreção da adeno-hipófise é controlada por hormônios, também secreta- dos pelo hipotálamo. Cada eixo endócrino é composto por três níveis de células endócri- nas: neurônios hipotalâmicos, células da glândula pituitária anterior e glândulas en- dócrinas periféricas. Os neurônios hipotalâmicos liberam hormô- nios estimuladores hipotalâmicos (XRHs) es- pecíficos que estimulam a secreção de hor- mônios tróficos pituitários (XTHs). Em alguns casos, a produção de um hormônio trófico pituitário é regulada secundariamente por um hormônio inibidor da liberação (XIH). Os hormônios tróficos pituitários agem então sobre glândulas-alvo endócrinas periféricas específicas e as estimulam a liberarem hor- mônios periféricos (X). Sabe-se que, em cada nível dessa cascata hormonal, é possível um feedback negativo das etapas prévias. Hormônios hipotalâmicos são secretados em pulsos, estando atrelados a ritmos diá- rios e sazonais, por intermédio do SNC. Ainda, os núcleos hipotalâmicos recebem estímulos neuronais oriundos do cérebro. Tais estímulos podem ser de curta ou longa duração. A inclusão do hipotálamo em um eixo endócrino permite a interação de infor- mações para determinar ou alterar o ponto de equilíbrio desse eixo. O nanismo psicossocial é exemplo da função integradora de estímulos do ambiente exercida pelo hipotálamo. Essa doença ocorre em crianças que apresentam taxas de crescimento mais baixas após sofre- rem abusos ou serem submetidas a intenso estresse emocional. Isso resulta da redução da secreção do hormônio do crescimento pela hipófise. Níveis normalmente altos ou baixos de um hormônio periférico podem resultar de um defeito da glândula endócrina periférica (distúrbio endócrino primário), da hipófise (distúrbio endócrino secundário) ou do hipo- tálamo (distúrbio endócrino terciário). NEURO-HIPÓFISE A pars-nervosa corresponde ao local de libe- ração de neuro-hormônios, sendo adjacente a capilares fenestrados – o que facilita a di- fusão dos hormônios para dentro dos vasos. Os axônios originados de alguns grupos hi- potalâmicos terminam na neuro-hipófise. Os axônios de neurônios magnocelulares, que saem dos núcleos supraóptico e paraventri- cular, seguem para a neuro-hipófise. Eles formam o trato hipotalâmico-hipofisário neurossecretor, terminando próximo aos ca- pilares fenestrados do lobo posterior. Daniel Carlini – MEDUNEB13 Hormônios armazenados na neuro-hipófise: vasopressina (ADH), que controla a reabsor- ção de água pelos túbulos renais; e a ocito- cina, que promove a contração da muscula- tura lisa uterina durante o parto e a ejeção do leite pela mama durante a lactação. Am- bos são sintetizados como parte de pró-hor- mônios e armazenados em grânulos, que são transportados em direção às termina- ções nervosas no lobo neural. Ali, permane- cem armazenados até que potenciais de ação provoquem suas liberações. Cada um segue ao longo dos axônios em associação com a proteína precursora e transportadora, a neurofisina. Até alcançarem a pars-ner- vosa, eles já se tornaram maduros e são cli- vados de seus precursores. Obs.: Corpos de Herring são dilatações dos axônios resultantes do armazenamento dos grânulos secretores. Os corpos celulares dos neurônios que secretam vasopressina estão nos núcleos supra-ópticos do hipotálamo, enquanto os dos neurônios que secretam ocitocina estão nos núcleos paraventricula- res. Ainda, existem células de suporte semelhan- tes às células gliais, denominadas pituícitos, as quais formam uma bainha ao redor dos axônios e suas terminações. Elas contêm go- tículas lipídicas, pigmentos de lipocromo, fi- lamentos intermediários e prolongamentos citoplasmáticos. Estes interagem entre si, de modo a formar junções comunicantes. ADH (vasopressina ou hormônio antiduré- tico) É secretada quando a pressão osmótica do sangue aumenta. O estímulo de osmorre- ceptores do hipotálamo anterior promove a secreção em neurônios do núcleo supraóp- tico. Sua ação principal é aumentar a permeabilidade à água da mem- brana plasmática das células dos túbulos co- letores renais. Assim, mais água sai do lúmen tubular emdireção ao tecido conjuntivo ao redor, o que ajuda a regular o equilíbrio os- mótico. Em doses altas, promove a contra- ção do músculo liso de vasos sanguíneos, elevando a pressão sanguínea. O seu mecanismo de funcionamento renal se baseia na presença de receptores nas cé- lulas tubulares. Sem ADH, as membranas lu- minais das células epiteliais tubulares dos ductos coletores são quase impermeáveis à água. Dessa forma, ele é um hormônio es- sencial à absorção de água. Quando age nas células, o ADH se associa aos receptores de membrana que ativam a adenilil ciclase, le- vando à formação de cAMP no citoplasma das células tubulares. Tal formação leva à fosforilação dos elementos nas vesículas es- peciais, de modo que as vesículas se insiram nas membranas apicais, o que fornece alta permeabilidade à água. O ADH se liga no re- ceptor tubular V2, fazendo com que a aqua- porina permaneça na mesma membrana e com o poro aberto, permitindo a passagem da água. Assim, o ADH reduz o clearance de água livre, ou seja, faz com que o corpo eli- mine menos água livre. Fatores estimulantes da liberação de ADH: osmolaridade extracelular aumentada; re- dução do volume e pressão; aumento do só- dio no líquor; angiotensina II; dor, náuseas e vômitos; estresse; hipoglicemia; citocinas; aumento da temperatura; senescência; dro- gas, como nicotina, opiáceos, sulfoniluréias e agentes antineoplásicos. Fatores inibidores da liberação de ADH: GABA; etanol; neurotransmissores agonistas alfa-adrenérgicos; cortisol; hormônio tireoi- diano; peptídeo natriurético atril (ANP); lítio; aumento de volume; redução de tempera- tura; diminuição da osmolaridade do fluido extracelular. Lesões no hipotálamo que destroem as célu- las produtoras de ADH causam diabetes insí- pido, caracterizada pela perda da capaci- Daniel Carlini – MEDUNEB13 dade renal de concentrar urina. Consequen- temente, o paciente pode eliminar até 20L de urina por dia e sentir muita sede. Ocitocina Estimula a contração do músculo liso da pa- rede uterina durante o parto/penetração se- xual e das células mioepiteliais que cercam os alvéolos e ductos das glândulas mamá- rias. Sua secreção é estimulada pela disten- são da vagina, da cérvice uterina e pela ama- mentação, por meio de tratos nervosos que agem sobre o hipotálamo. Existe, também, um reflexo neuro-hormonal que é estimu- lado pela sucção dos mamilos – denominado reflexo de ejeção do leite. Mecanismo de ação: A ocitocina é um hor- mônio peptídico que age por meio de recep- tores específicos na membrana plasmática, associados a um sistema de segundos men- sageiros de cálcio/calmodulina (ou produz o fosfatidilinoitol, que também produz cálcio intracelular). Com o aumento do cálcio, au- menta-se a contração das células mioepite- liais da mama e do músculo liso da parede uterina. Em relações às interações com a oci- tocina, pode-se afirmar que os estrogênios aumentam a sua secreção e as catecolami- nas bloqueiam. Já os opioides inibem a sua liberação. Outras ações da ocitocina: auxiliar na ovula- ção e encerramento do corpo lúteo; auto- confiança e atividades de risco; nos homens, aumenta sua concentração no ato sexual e atinge o pico durante a ejaculação, propor- cionando a sensação de orgasmos e elimi- nando espermatozoides. SÍNTESE DE ADH E OCITOCINA O ADH e a ocitocina são sintetizados como pré-pró-hormônios, respectivamente, pré- provasofisina e pré-pró-oxifisina. Cada um contém a estrutura da ocitocina ou do ADH e um peptídeo cossecretado: a neurofisina (I se associada ao ADH; ou II se associada à oci- tocina). O peptídeo sinal N-terminal é cli- vado enquanto transportado para o retículo endoplasmático. Essa clivagem diferencia o pré-pró-hormônio do pró-hormônio. No interior do retículo endoplasmático e do complexo de Golgi dos corpos celulares dos núcleos hipotalâmicos, o pró-hormônio é ar- mazenado em grânulos secretores ligados a membranas. Tais grânulos são conduzidos pelo interior dos axônios até as terminações axônicas da pars nervosa, por meio de um mecanismo de transporte rápido depen- dente de ATP. Durante o trânsito, os pró- hormônios são clivados proteoliticamente, produzindo quantidades equimolares de hormônio e neurofisina. Os grânulos secre- tores contendo peptídeos totalmente pro- cessados são armazenados nas terminações axônicas – corpos de Herring. Nem sempre a hipofisectomia inter- rompe permanentemente a síntese e a secreção desses hormônios. Logo após a cirurgia, a secreção hormonal diminui. Toda- via, em semanas, a extremidade proximal seccionada do trato exibe uma modificação histológica. Formam-se pituícitos ao redor das terminações nervosas e se observam va- cúolos secretores. A secreção hormonal re- começa nessa extremidade seccionada e pode até retornar aos níveis normais. Por outro lado, uma lesão em uma porção mais alta da haste pituitária pode levar à perda de corpos celulares de neurônios dos núcleos supraóptico e paraventricular. ADENO-HIPÓFISE Desenvolvida a partir da bolsa de Rathke, é composta pela pars distalis, pars intermedia e pars tuberalis. A pars distalis é coberta por uma cápsula fi- brosa e constituída, majoritariamente, por células epiteliais de diferentes tamanhos e formatos. Estas estão organizadas em cor- dões/agregados irregulares, entre os quais Daniel Carlini – MEDUNEB13 se encontram capilares fenestrados, susten- tados por uma delicada rede de fibras reti- culares. As células epiteliais endócrinas se distin- guem, em parte, pelas suas diferentes afini- dades aos corantes. Células cujos grânulos se coram mais intensamente são denomina- das de células cromófilas; quando os grânu- los se coram menos, células cromófobas. As cromófilas podem ser classificadas em aci- dófilas (mais abundantes na pars distalis) e basófilas. As cromófobas possuem poucos (ou nenhum) grânulos de secreção. É possí- vel que algumas destas sejam cromófilas de- granuladas ou células-tronco da adeno-hi- pófise. A pars tuberalis é uma região em forma de funil que cerca o infundíbulo da neuro-hipó- fise e é composta de células basófilas cuboi- des a colunares baixas. Separando a pars tu- beralis da haste infundibular, encontram-se finas camadas de tecido conjuntivo. É alta- mente vascularizada por artérias e pelo sis- tema porta-hipofisário. Algumas células apresentam grânulos, provavelmente de FSH e LH. A pars intermedia, em adultos, é uma região rudimentar composta de cordões e folículos de células fracamente basófilas, as quais possuem pequenos grânulos de secreção. Além das células produtoras de hormônios, a adeno-hipófise apresenta células com a ca- pacidade de formar folículos. As células foli- culoestreladas, como são conhecidas, pos- suem um formato estrelado e prolongamen- tos que envolvem outras células. Elas estão interconectadas por junções comunicantes e se suspeita que, a partir dessas junções, as células foliculoestreladas transmitem sinais da pars tuberalis para a pars distalis. Tais si- nais podem regular a liberação de hormô- nios pela adeno-hipófise. SOMATOTROFOS OU CÉLULAS SOMATOTRÓ- FICAS São células ovais de tamanho médio, com núcleos esféricos e centrais. Correspondem à 50% das células na hipófise anterior e são responsáveis pela secreção de somatotro- fina (ou GH, ou hormônio do crescimento). São estimuladas pelo GHRH e inibidas pela somatostatina. Ainda, a grelina é um po- tente estimulado da GH produzido no estô- mago, que aumenta o apetite. O GH é um hormônio peptídico de cadeia simples sintetizado a partir do gene GH, da mesma família gênica que determina a sín- tese de prolactina e do lactogênico placen- tário humano (hPL). Consequentemente, ocorre uma sobreposição na atividade des- ses hormônios. O GH promove o cresci- mento de quase todos os tecidoscapazes de crescer, hipertrofia celular, hiperplasia (au- mento do número de mitoses), multiplica- ção e diferenciação celular. Além disso, au- menta a deposição de proteínas pelas célu- las osteogênicas e condrocíticas, causam o crescimento ósseo, convertem condrócitos em células osteogênicas (deposição de osso novo). O fígado é um alvo importante do GH, pois este estimula a produção hepática do fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1). Essa molécula inibe a síntese e a se- creção de GH pela hipófise, por meio de uma alça de retroalimentação. Os IGFs, de modo geral, são hormônios multifuncionais que re- gulam a proliferação, a diferenciação e o metabolismo celular, estimulam a captação de glicose e aminoácidos, assim como a sín- tese de proteínas e DNA. Foram inicialmente chamados de somatomedinas, pois me- deiam a ação do GH sobre o crescimento de cartilagens e ossos. A secreção de GH também exibe ritmos diá- rios, com pico no início da manhã (um pouco Daniel Carlini – MEDUNEB13 antes de acordar). Sabe-se que essa secre- ção é estimulada durante o sono profundo e está atrelada a padrões de sono-vigília, e não de claro-escuro. Como é característico dos hormônios da hipófise anterior, a secreção de GH é pulsátil. O GH também apresenta efeitos metabóli- cos, como: aumento da síntese proteica; au- mento da mobilização dos ácidos graxos do tecido adiposo, elevando o seu nível sérico e o utilizando como fonte energética (lipólise); e redução da utilização da glicose, aumen- tando sua concentração sanguínea. Assim, trata-se de um hormônio lipolítico que ativa a lipase e mobiliza gorduras neutras (triglice- rídeos) do tecido adiposo. O GH ainda anta- goniza a ação da insulina, no nível pós-recep- tor, na musculatura, esquelética e no tecido adiposo – mas não no fígado. O GH é classificado como um dos hormônios do “estresse”, aumentando tanto no es- tresse físico, como no neurogênico. A hipo- glicemia aguda também é um estímulo para a sua secreção. Entre outros hormônios que regulam a sua secreção, estão o estrógeno, os andrógenos e o hormônio tireoidiano, que intensificam a secreção de GH e IGF-1. LACTOTROFOS OU MAMOTROFOS Constituindo cerca de 15-20% das células parenquimatosas da adeno-hipófise, os lac- totrofos são células acidófilas poligonais e pequenas. Produzem prolactina, hormônio que promove o desenvolvimento das glân- dulas mamárias durante a gravidez, assim como a lactação após o nascimento. Sabe-se que, durante a gravidez, a progeste- rona inibe a secreção da prolactina, en- quanto o estrógeno estimula. Isso impede a produção adequada de leite. Após o nasci- mento, os níveis de estrógeno e progeste- rona caem, de modo a perder o efeito inibi- tório. O número de lactotrofos com o tempo. Ao final da amamentação, os grânu- los são degradados e o excesso de mamotro- fos regride. Além disso, a placenta secreta grandes quantidades de somatomamotro- pina coriônica humana – que, provavel- mente, tem propriedades lactogênicas, apoiando a prolactina da hipófise materna durante a gravidez. A prolactina induz a transdução dos genes para a síntese das proteínas do leite, como a caseína, da lactose e síntese de ácidos gra- xos e fosfolipídios. A liberação de prolactina é estimulada pelo fator liberador de prolac- tina (PRH) e pela ocitocina, sobretudo du- rante a amamentação, devido à manipula- ção mamilar. A secreção de prolactina pela hipófise anterior é controlada (quase) total- mente por fator inibidor formado no hipotá- lamo e transportado pelo sistema portal hi- potalâmico-hipofisário até à hipófise ante- rior. Por vezes, esse fator é chamado de hor- mônio inibidor de prolactina e é constituído por dopamina. Os lactotrofos não participam de nenhum eixo endócrino. A prolactina age direta- mente sobre as células não endócrinas para produzir as alterações fisiológicas, sem pas- sar por nenhuma glândula periférica. Ainda, a produção e a secreção de prolactina são controladas pelo hipotálamo, o qual exerce um efeito inibidor. Com isso, caso haja uma ruptura da haste infundibular, a prolactina seria o único hormônio da hipófise anterior a ter suas concentrações elevadas. A PRL é um dos hormônios liberados em res- posta ao estresse e sua secreção aumenta com sono. Porém, essa liberação não está associada a uma fase específica. Somatosta- tina, TSH e o GH inibem a secreção de PRL. O excesso de prolactina (hiperprolac- tinemia) bloqueia a síntese e a libe- ração de GNRH (hormônio do hipotálamo que estimula a produção das gonadotrofinas que agem sobre os órgãos sexuais). Isso pode resultar em infertilidade, além de ga- lactorreia, amenorreia e sinais de hipogona- dismo. A principal causa é o prolactinoma, tumor hipofisário produtor de prolactina. O Daniel Carlini – MEDUNEB13 tratamento é feito com agonista dopaminér- gico. GONADOTROFOS São células arredondadas, basófilas, com um complexo de Golgi desenvolvido e abundan- tes REG e mitocôndrias. Situados próximos aos capilares, elas secretam FSH (hormônio folículos-estimulante) e LH (hormônio luteini- zante), também denominados de gonado- trofinas. A secreção é estimulada pelo GNHR, hormônio peptídico de secreção pul- sátil, cujo efeito é mais proeminente sobre o LH e é inibido por vários hormônios produzi- dos pelos ovários e testículos. O FSH e o LH integram os eixos hipotalâ- mico-pituitário-testicular e hipotalâmico-pi- tuitário-ovariano. Eles são acondicionados em grânulos secretores distintos e não são cossecretados em quantidades equimolares. Assim, a secreção pelos gonadotrofos ocorre independentemente. A secreção é pulsátil, decorrente dos osciladores neurais intrínse- cos do hipotálamo; periódica, pois não é produzido durante a vida inteira – apenas na formação do eixo na embriogênese e na pu- berdade; e cíclica, apenas nas mulheres. As gonadotrofinas promovem a secreção de testosterona nos homens e de estrógeno e progesterona nas mulheres. Em ambos os sexos, o FSH também aumenta a secreção da inibina, um hormônio proteico que exerce retroalimentação negativa seletiva sobre a secreção de FSH. Por sua vez, o FSH promove a gametogênese ao estimular as células de Sertoli (testículo) e as células da granulosa do ovário. Já o LH faz a hormogênese, ao estimular as células da teca (ovário) e as células de Leydig (testí- culo) a secretarem testosterona e substân- cias importantes na reprodução. Em homens, a testosterona e o estrógeno exercem retroalimentação negativa sobre a pituitária e o hipotálamo. A progesterona exógena inibe a função gonadotrófica nos homens, sendo considerada um possível in- grediente de uma pílula contraceptiva mas- culina. Nas mulheres, a progesterona e a tes- tosterona exercem uma retroalimentação negativa sobre a função gonadotrófica hipo- talâmica e pituitária. Em doses baixas, o es- trógeno exerce uma retroalimentação nega- tiva sobre a secreção do FSH e do LH. Toda- via, níveis altos de estrógeno mantidos por 3 dias produzem um pico na secreção de LH e, em menor grau, na secreção de FSH. CORTICOTROFOS Constituindo de 15 a 20% das células da adeno-hipófise, os corticotrofos são células arredondadas/ovoides, com poucas organe- las e de núcleo excêntrico. Produzem a pró- opiomelanocortina (POMC), uma molécula precursora do hormônio adrenocorticotró- fico (ACTH), do hormônio melanócito-esti- mulante (MSH) e do hormônio lipotrófico (LPH), além de endorfinas e encefalinas. O MSH aumenta a pigmentação da pele, por meio do aumento da produção de melanina. A secreção do POMC é estimulada pelo CRH. O ACTH estimula a liberação dos produtos das células do córtex das suprarrenais. Ele aumenta a produção de cortisol e andróge- nos adrenais de modo abrupto, também au- menta a expressão dos genes das enzimas esteroidogênicase, a longo prazo, promove o crescimento das camadas do córtex adre- nal. A sua secreção tem um padrão diário, com um pico no início da manhã e um vale no final da tarde. Ainda, a secreção de CRH e, consequentemente, de ACTH ocorre em pulsos. O ACTH também exerce funções neuromo- dulatórias no cérebro, tem efeito inibitório sobre o sistema imune e, junto com o cor- tisol, aumenta a taxa de ácido clorídrico no suco gástrico. O cortisol, além disso, reduz a produção de muco no estômago. Fatores estimulantes para a secreção de ACTH: CRH; baixos níveis de cortisol; Daniel Carlini – MEDUNEB13 transição do sono-vigília; estresse; distúr- bios psiquiátricos que aumentam a ação do simpático; e ADH. Fatores inibitórios para a secreção de ACTH: elevadas concentrações de cortisol (feed- back negativo); encefalinas, opioides, ACTH (regulação autócrina, pois todos se originam do POMC); somatostatina; e GABA. TIREOTROFOS Representam cerca de 5% das células da pars distalis e são grandes células poligonais, com núcleos esféricos e excêntricos, situa- das mais profundamente nos cordões celu- lares. Os tireotrofos secretam o TSH (tireo- trofina). Tal secreção é estimulada pelo TRH (que também estimula a prolactina) e inibida pelos hormônios da tireoide (T4, tiroxina; e T3, triiodotironina), pela somatostatina, pela dopamina e pelo cortisol. Sobre o TRH, ele é liberado segundo um ritmo diário, com picos durante a noite e ní- veis mais baixos na hora do jantar. O TSH é produzido pela hipófise, assim como o LH e o TSH, como um heterodímeros com- posto por duas subunidades: alfa (comum ao FSH e LH) e beta (específica), cuja transcri- ção é estimulada pelo TRH. O TSH se liga ao receptor do TSH, localizado nas células epi- teliais da tireoide, e estimula praticamente todos os aspectos da função tireoidiana. Também possui um forte efeito trófico e es- timula a hipertrofia, hiperplasia e sobrevida das células epiteliais da tireoide. Em regiões geográficas com menor disponibilidade de iodeto, necessá- rio para a síntese do hormônio tireoidiano, os níveis de TSH são elevados pela reduzida retroalimentação negativa. Tais níveis eleva- dos podem produzir um crescimento da glândula tireoide – o bócio. SISTEMA PORTA-HIPOTALÂMICO O suprimento sanguíneo da hipófise é feito por dois grupos de artérias originadas das ar- térias carótidas internas: as artérias hipofisá- rias superiores (direita e esquerda; irrigam a eminência mediana e o infundíbulo) e as ar- térias hipofisárias inferiores (direita e es- querda; irrigam, principalmente, a neuro-hi- pófise, mas enviam alguns ramos para o pe- dículo da hipófise). No infundíbulo, as artérias hipofisárias supe- riores formam um plexo capilar primário, cu- jas células endoteliais são fenestradas. Tais capilares se reúnem e formam vênulas e pe- quenos vasos que se encaminham para a pars distalis, onde se ramificam e formam um plexo capilar secundário. Daniel Carlini – MEDUNEB13 Existem, portanto, dois sistemas venosos em cascata, caracterizando o sistema porta-hi- pofisário. O suprimento sanguíneo da pars distalis é feito de sangue vindo, sobretudo, do infundíbulo e, em escala bem menor, de alguns ramos das artérias hipofisárias inferi- ores. Por meio desse sistema vascular, mui- tos neuro-hormônios produzidos no hipotá- lamo são levados, diretamente, do infundí- bulo à pars distalis. CORRELAÇÕES CLÍNICAS ACROMEGALIA Se um tumor das células somatotróficas ocorrer depois da adolescência, quando ocorre a fusão das epífises dos ossos longos, o paciente não pode crescer mais, porém os ossos ficam mais espessos e os tecidos mo- les continuam a crescer. O aumento é acen- tuado nos ossos das mãos, dos pés e nos os- sos membranosos – crânio, nariz, sulcos su- praorbitários, maxila inferior e porções das vértebras. Nariz pode dobrar de tamanho; pés podem chegar a calçar 45 ou mais; dedos espessos, ao ponto de as mãos atingirem quase o do- bro do tamanho; as costas podem sofrer cur- vatura (cifose), devido às mudanças nas vér- tebras. Ainda, muitos órgãos de tecidos mo- les podem aumentar, como os rins, o fígado e a língua. PAN-HIPOTUITARISMO Trata-se da redução da secreção de todos os hormônios da hipófise anterior. No adulto ocorre por condições tumorais ou no pós- parto, quando a mãe desenvolve choque cir- culatório. Os efeitos gerais no adulto são: hipotireoi- dismo, redução da produção de glicocorti- coides pelas adrenais e secreção suprimida dos hormônios gonadotróficos. Assim, o quadro clínico é de pessoa letárgica, com ga- nho de peso e com perda das funções sexu- ais. NANISMO Surge quando a deficiência de GH ocorre an- tes da puberdade. Os indivíduos acometidos são relativamente bem proporcionados, mas, às vezes, podem ser prejudicados pela falta da lipólise induzida pelo GH. Exibem poucas anormalidades metabólicas, exceto a tendência à hipoglicemia, insulinopenia e ao aumento de sensibilidade à insulina. GIGANTISMO Nessa situação, todos os tecidos crescem ra- pidamente, inclusive os ossos. Caso ocorra antes da puberdade, o tamanho da pessoa aumenta, podendo alcançar 2m de altura. Em geral, o indivíduo acometido apresenta hiperglicemia e as células beta das ilhotas de Langerhans, no pâncreas, costumam dege- nerar, pois se tornam hiperativas. Diabetes melito pode ser uma consequência.
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