Buscar

A Abolição no Parlamento 65 anos de luta 1823 1888 Volume I

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 708 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 708 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 708 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

A Abolição 
no Parlamento
65 anos de lutas
Volume i
2a Edição
Brasília - 2012
1823 - 1888
Senado Federal
Mesa
Biênio 2011/2012
Senador José Sarney
Presidente
Senador Anibal Diniz
1o Vice-Presidente
Senador Waldemir Moka
2o Vice-Presidente
Senador Cícero Lucena
1o Secretário
Senador João Ribeiro
2o Secretário
Senador João Vicente Claudino
3o Secretário
Senador Ciro Nogueira
4o Secretário
Suplentes de Secretário
Senador Casildo Maldaner
Senador João Durval
Senadora Maria do Carmo Alves
Senadora Vanessa Grazziotin
Doris Marize Romariz Peixoto
Diretora-Geral
Claudia Lyra Nascimento
Secretária-Geral da Mesa
A Abolição no Parlamento: 
 anos de luta 
7ğĜĥĝĕ�*���t���˪˱˫ˬ�đ�˪˱˱ˬ
SENADO FEDERAL 
 
A Abolição no Parlamento: 
 anos de luta 
	˪˱˫ˬ��˪˱˱˱
Volume I 
Secretaria Especial de
Editoração e Publicações _ SEEP
Brasília t��˫˩˪˫
˫‹�ĕĔęşśğ�
Créditos
Revisão
Bárbara Aguiar, Marco Aurélio Couto, Fernando Varela, Rafael Chervenski, Maria Suely Bueno, 
Maria Maciel, Marianna de Carvalho, Thaíza dos Santos, Thalita de Araújo, Luísa Lima, Jhessyka 
Cotrim, Kátia Priess
Coordenação-geral de revisão
Cândida do Amaral
Diagramação eletrônica
Jackson Ferreira Barbosa, Raimilda Bispo dos Santos, Valdete Cardoso da Silva, José Batista de 
Medeiros, Ana Farias, Rodrigo Melo, Raul Grilo, Fabiana dos Santos, Marcus Victor do E. Santo
Produção digital dos originais
Aurílio Jonhson Alves de Ribeiro, Jackson Ferreira Barbosa
Projeto gráfico e organização
Ana Farias, Eduardo Perácio, Raul Grilo, Rodrigo Melo
Coordenador-geral da produção
Eduardo Perácio
Iniciativa da Segunda Edição
Diretoria-Geral
Acordo de Cooperação Técnica no 001/2012 entre Senado Federal 
e Secretaria de Políticas de Promoção da Iguadade Racial.
1SPHSBNB�1SØ�&RVJEBEF�EF�(ÐOFSP�F�3BÎB�EP�4FOBEP�'FEFSBM�
"� BCPMJÎÍP� OP� QBSMBNFOUP� �� ��� BOPT� EF� MVUB
� 	���������
� � ���
BQSFTFOUBÎÍP�EP�QSFTJEFOUF�+PTÏ�4BSOFZ��o����FE�����
 Brasília : Senado Federal, Secretaria Especial de 
 Editoração e Publicações, 2012.
 2 v. 
 Inclui bibliografia 
 1. Abolição da escravidão – Brasil. 2. Abolicionismo – 
 3. Escravidão no Brasil – I. Brasil. Congresso Nacional.
� 4FOBEP�'FEFSBM��4FDSFUBSJB�EF�"SRVJWP�o�**��4ÏSJF��
 CDD 326 
"QSFTFOUBÎÍͼ�t�ð‹�FEJÎÍͼ�	ðîïð
Durante as comemorações do centenário da Abolição, o Senado Fe�
deral publicou coletânea de documentos sobre a luta pelo fim da es�
DSBWJEÍP�OP�#SBTJM�OPT����BOPT�RVF�USBOTDPSSFSBN�FOUSF�B�OPTTB�QSJ�
meira Assembleia Constituinte – a de 1823 – e a Lei Áurea. Esta obra 
é reeditada agora, na tarefa sempre importante de lembrar uma data 
DFOUSBM�EB�WJEB�CSBTJMFJSB
�F
�BJOEB�F�TFNQSF
�OB�FTQFSBOÎB�EF�RVF�TBJ�
CBNPT�SFTHBUBS�UPEP�P�IPSSPS�RVF�FMB�RVJT�EFJYBS�QBSB�USÈT��-FNCSBS�
B�"CPMJÎÍP�Ï�OÍP�FTRVFDFS�B�USBHÏEJB�EB�FTDSBWJEÍP�
Em 13 de março de 1888, as ruas da Capital do Brasil tinham o 
QPWP�FN�GFTUB
�OB�FYBMUBÎÍP�EPT�IFSØJT�EB�WJUØSJB��"�MVUB�TF�FTUFOEFSB�
por 70 dos 300 anos de sofrimento e opróbrio da raça negra. Chegara 
BP�mN�DPN�B�MJCFSUBÎÍP�EPT���������RVF�BJOEB�FSBN�FTDSBWPT�OBRVFMF�
mN�EF�TÏDVMP�o�OÞNFSP�RVF�EFTNFOUF�P�NJUP�EF�RVF�KÈ�QSBUJDBNFOUF�
não havia escravidão no Brasil.
A lei é singela: é declarada extinta desde a data desta lei a escravi-
dão no Brasil. &SB�BQFOBT�VN�QFRVFOP�UFYUP�MFHBM
�NBT�TVBT�QBMBWSBT�
F�BMDBODF�DPOTUJUVÓBN�TBOHVF
�EPS
�TPGSJNFOUP�F� MVUB��0�UFYUP�FSB�B�
TPNB�EF�UBOUPT�IFSØJT�F�NÈSUJSFT�RVF
�QFMB�WJEB�F�QFMB�QBMBWSB
�BCSB�
ÎBSBN�B�DBVTB�EB�MJCFSEBEF��/BCVDP�BmSNBWB�RVF�FSB�TØ�P�DPNFÎP�
de uma grande caminhada. É um clarão de liberdade, mas apenas 
uma porta de entrada numa imensa obra de resgate de mulheres e 
IPNFOT
�DSJBOÎBT�F�WFMIPT
�RVF�IBWJBN�TJEP�FTDSBWPT�PV�FSBN�EFT�
DFOEFOUFT� EF� FTDSBWPT�� 6NB� PCSB� RVF� OÍP� SFBMJ[BNPT
� RVF� OVODB�
realizaremos em sua plenitude – pois ficará para sempre a mancha 
JOEFMÏWFM�EP�TPGSJNFOUP�o
�NBT�RVF�QSFDJTBNPT�OPT�FTGPSÎBS
�B�DBEB�
EJB
�UPEPT�PT�EJBT
�TFNQSF
�QBSB�SFBMJ[BS��5VEP�RVF�GPS�GFJUP�QBSB�EJT�
criminar favoravelmente o negro será sempre incomensuravelmente 
NFOPT� EP� RVF� P� RVF� GPJ� GFJUP� QBSB� EJTDSJNJO�MP� OFHBUJWBNFOUF
� F�
NFOPT�UBNCÏN�EP�RVF�Ï�B�EJTDSJNJOBÎÍP�RVF�BJOEB�TPGSF�
A história da escravidão africana no Ocidente é tristemente li�
gada a nossa história. Ela começou com as navegações portuguesas 
na costa da África, com a introdução do escravo negro na Europa. 
Descoberto o Brasil, o primeiro pensamento foi o da escravidão do 
indígena. O Padre Manuel da Nóbrega começou o combate contra 
FTTB�EFTHSBÎB
�DPNCBUF�EF�RVF�GPJ�DBNQFÍP�P�1BESF�"OUÙOJP�7JFJSB��
Pelo combate dos jesuítas, pela inaptidão dos índios para os grandes 
esforços de nossa primeira indústria, logo vieram os negros. Já no 
TÏDVMP�97*�P�OÞNFSP�EF�FTDSBWPT�OFHSPT�OP�#SBTJM�JHVBMPV�TF�BP�EB�
população branca.
Não pensemos apenas na falta da liberdade de ir e vir, de decidir 
TFV�EFTUJOP��"�FTDSBWJEÍP�FSB�VNB�UPSUVSB�DPOUÓOVB
�TFN�MJNJUFT�RVF�
não fossem a morte e o desespero.
Durante todo o século XVII concorreram no Brasil a luta contra a 
escravidão do indígena brasileiro e a aceitação da escravidão do afri�
DBOP��"�DBOB�EF�BÎÞDBS�NPTUSPV�TF�P�ÞOJDP�JOTUSVNFOUP�FDPOÙNJDP�
da colonização. Assentava ela no uso brutal e completo da servidão 
negra. Nem um vislumbre de luz pode ser encontrado. Os mercados 
de madeira e especiarias ficaram sempre no patamar do sonho e da 
fantasia. O País – os dois Estados, o do Brasil e o do Maranhão – vi�
WJB�OB�QPCSF[B�FYUSFNB�
No Diálogos das Grandezas do Brasil, um dos primeiros livros 
brasileiros, Ambrósio Fernandes Brandão lembra as condições de 
OPTTB�NJTÏSJB
�F�FYQMJDB��i&�UPEPT
�BTTJN�VOT�DPNP�PVUSPT
�GB[FN�TVBT�
MBWPVSBT�F�HSBOKFBSJBT�DPN�FTDSBWPT�EF�(VJOÏ
�RVF�QBSB�FTTF�FGFJUP�
DPNQSBN�QPS�TVCJEP�QSFÎP��F�<���>�P�EP�RVF�WJWFN�Ï�TPNFOUF�EP�RVF�
granjeiam com os tais escravos”.
O capital, mostrou Celso Furtado, tinha um efeito perverso: era 
NBJT�CBSBUP�SFQPS�BT�iQFÎBTw�o�BTTJN�NFTNP�FSBN�USBUBEPT
�DPNP�
OÍP�FOUFT
�DPNP�QFEBÎPT�EF�FRVJQBNFOUP�o�EP�RVF�EBS�MIFT�VN�NÓ�
OJNP�EF�DPOEJÎÍP�EF�TPCSFWJWÐODJB��NBJT�CBSBUP�VTBS�TFN�NBOVUFO�
ÎÍP�F�SFQPS�EFQPJT�EP�RVF�HBTUBS�DPN�iUBYB�EF�NBOVUFOÎÍPw�F�QSPMPO�
HBS�B�WJEB�EP�iBOJNBMw�o�UBNCÏN�BTTJN�FSBN�USBUBEPT�
No Brasil, como já tinha acontecido nos Açores e em Cabo Ver�
de, os negros se adaptaram com facilidade ao monótono trabalho do 
BÎÞDBS�F�ËT�DPOEJÎÜFT�OBUVSBJT��0T�OÞNFSPT�TÍP�FMPRVFOUFT��FSBN����
mil no fim do século XVI, mais de 150 mil no fim do século XVII. Ao 
MPOHP�EP�TÏDVMP�97***�F�BUÏ�B�*OEFQFOEÐODJB
�GPSBN�USB[JEPT�UBMWF[�
mais dois milhões.
A ideia abolicionista surgiu no fim do século XVIII, e suas pri�
NFJSBT�DPOTFRVÐODJBT�GPSBN�P�BMWBSÈ�EF�BCPMJÎÍP�HSBEVBM�EF�%��+PTÏ�
*�o�RVFS�EJ[FS
�EF�1PNCBM�o�EF�����
�o Pennsylvania Gradual Aboli-
tion Act, de 1780, e a proibição do tráfico pela Dinamarca em 1792 
e pela Inglaterra em 1807/08. Nas regiões escravistas a emancipação 
começou 40 anos depois da Revolução Francesa e se concretizou em 
menos de 60 anos. Um único episódio teve um rumo diferente, o da 
JOEFQFOEÐODJB�EP�)BJUJ
�DPN�TFV�IFSPÓTNP�F�TVB�USBHÏEJB�
Na Inglaterra, o problema estava relacionado com a situação ame�
SJDBOB��"UÏ�B�JOEFQFOEÐODJB�BNFSJDBOB
�P�USÈmDP�EF�FTDSBWPT�B�GPS�
talecia. A primeira moção para proscrever a escravidão na Casa dos 
Comuns é de 1776. Nessa época, num dos esboços da Declaração de 
*OEFQFOEÐODJB
�P�3FJ�(FPSHF�***�FSB�BDVTBEP�EF�QBSUJDJQBS�EP�USÈm�
DP��"QFTBS�EB�QSFTTÍP�RVF�B�*OHMBUFSSB�GB[�OP�DPNFÎP�EP�TÏDVMP�9*9�
DPOUSB�P�USÈmDP�o�RVF�B�FTUB�BMUVSB�B�FOGSBRVFDJB�o
�B�BCPMJÎÍP�OBT�
DPMÙOJBT�JOHMFTBT�TØ�TF�EÈ�FN������
Nos Estados Unidos, o compromisso para se fazer a sua grande 
$POTUJUVJÎÍP�QBTTB�QFMP�TJMÐODJP�TPCSF�B�RVFTUÍP�EP�OFHSP��&TTF�BEJB�
mento foi pago, mais tarde,com a tragédia da guerra civil. Na França, 
FN�����
�B�%FDMBSBÎÍP�EPT�%JSFJUPT�EP�)PNFN�F�EP�$JEBEÍP�DBMB�
sobre o assunto, e só em 1794 a Convenção proclama a abolição.
Mas em 1801 volta a escravidão, para ser abolida definitivamente 
em 1848.
/P�#SBTJM
�+PTÏ�#POJGÈDJP�QFOTBWB�RVF�P�FRVBDJPOBNFOUP�EB�MJCFS�
dade dos negros, com sua integração completa à sociedade, era uma 
QSFMJNJOBS�EB�EFmOJÎÍP�EP�&TUBEP��/BRVFMFT�EJBT�EB�JOEFQFOEÐODJB
�
RVBOEP�TBJV�EF�TVB�BQPTFOUBEPSJB�QBSB�GB[FS�EP�#SBTJM�VNB�OBÎÍP�F�
uma só nação, escreveu sua Representação sobre a escravatura.
$MBNBWB�RVF�FSB�UFNQP�EF�DPNFÎBS�B�iFYQJBÎÍP�EF�OPTTPT�DSJNFT�
e pecados velhos”. E insistia: educação, amparo à maternidade e à 
WFMIJDF
�JOUFHSBÎÍP�FDPOÙNJDB�F�TPDJBM�UÐN�RVF�BDPNQBOIBS�B�FYUJO�
ÎÍP�EP�USÈmDP�F�B�MJCFSUBÎÍP��&N�����
�EP�FYÓMJP�OB�'SBOÎB
�MFNCSBWB��
i4FN�B�FNBODJQBÎÍP�EPT�BUVBJT� DBUJWPT�OVODB�P�#SBTJM�mSNBSÈ� TVB�
JOEFQFOEÐODJB� OBDJPOBM� F� TFHVSBSÈ� F� EFGFOEFSÈ� B� TVB� MJCFSBM� DPOT�
tituição. Sem liberdade individual não pode haver civilização, nem 
TØMJEB�SJRVF[B��OÍP�QPEF�IBWFS�NPSBMJEBEF�F�KVTUJÎB
�F�TFN�FTUBT�mMIBT�
do Céu, não há nem pode haver brio, força e poder entre as nações”.
A lei de 7 de novembro de 1831, proibindo o tráfico e emancipan�
EP�PT�BGSJDBOPT
�OVODB�GPJ�PCTFSWBEB��&MB�FSB�DMBSB��i"SU���¡�5PEPT�PT�
FTDSBWPT�RVF�FOUSBSBN�OP�UFSSJUØSJP�PV�QPSUPT�EP�#SBTJM
�WJOEPT�EF�
fora, ficam livres”. Ela significava a liberdade de pelo menos metade 
EPT�FTDSBWPT
�OBRVFMF�NPNFOUP
�F�EF�NBJT�VN�NJMIÍP�USB[JEPT�BOUFT�
EF�����
�RVBOEP�P�USÈmDP�Ï�DPOUJEP��.BT
�OP�DPOKVOUP�B� MFHJTMBÎÍP�
CSBTJMFJSB�UJOIB�VN�WB[JP�KVSÓEJDP�RVF
�MJUFSBMNFOUF
�DPMPDBWB�PT�FT�
DSBWPT�GPSB�EB�MFJ��5FPSJDBNFOUF�RVFN�WJWJB�OP�#SBTJM�PV�FSB�DJEBEÍP�
brasileiro – e portanto, sob a proteção da Constituição, não poderia 
ser escravizado – ou era estrangeiro ou apátrida – e a lei brasilei�
SB�OÍP�QPEJB�BMDBOÎÈ�MP��5ÍP�HSBOEF�FSB�B�DPOTDJÐODJB�EB�IJQPDSJTJB�
DPOWFOJFOUF�RVF�OVODB�TF�NFYFV�OB�MFJ�EF�����
�QPJT�TJHOJmDBSJB�SF�
DPOIFDFS�B�FYJTUÐODJB�EB�DPOUSBEJÎÍP��®�EFTGBÎBUF[�EBT�"TTFNCMFJBT�
EF�#BIJB�F�.JOBT�RVF�QFEJBN�B�SFWPHBÎÍP�EB�MFJ�QBSB�OÍP�TFSFN�PCSJ�
HBEPT�B�WJPM�MB�UPEPT�PT�EJBT
�TPNBWB�TF
�NBJT�GPSUF
�P�TJMÐODJP�DPO�
veniente de magistrados e legisladores.
Até a campanha abolicionista, a escravidão nunca conseguiu se 
UPSOBS�VN�UFNB�EP�QFOTBNFOUP�OBDJPOBM��"P�MPOHP�EB�DPMÙOJB
�PV�
WJV�TF�BQFOBT�B�WP[�EPT�KFTVÓUBT�DPOUSB�B�FTDSBWJEÍP�EP�ÓOEJP��"T�NB�
OJGFTUBÎÜFT�F
�TPCSFUVEP
�BT�WJPMÐODJBT
�DPNP�BT�EBT�HVFSSBT�EBT�NJT�
TÜFT
�PT�CPUB�GPSB�EPT�QBESFT
�PT�NFEPT�QSPWPDBEPT�QFMBT�JODVSTÜFT�
dos capitães do mato e dos bandeirantes, tudo isso se passava em 
argumentos esporádicos, junto à Corte, junto aos ministros, junto à 
Igreja. Não era uma discussão brasileira.
A escravidão negra, em si, era tratada com grande naturalidade, 
DPNP�VN�GBUP�EB�WJEB��"T�SBSBT�WP[FT�TÍP�FYDFÎÜFT��/ÍP�QBSFDF�IBWFS�
NBJT�RVF�B�BDFJUBÎÍP�EP�NBSUÓSJP��0T�1BMNBSFT�TÍP�WJTUPT�DPNP�VNB�
ruptura da ordem, como um desafio ao Estado, não como um dra�
ma social, como uma tragédia humana. A análise de Vieira, em sua 
WFMIJDF�EF�WJTJUBEPS�OB�#BIJB
�EF�RVF�B�ÞOJDB�TPMVÎÍP�QBSB�P�DPOnJUP�
TFSJB�B�iMJCFSBM�F�TFHVSB�MJCFSEBEFw
�EBEB�B�JNQPTTJCJMJEBEF�OBUVSBM�EP�
IPNFN�TF�DPOGPSNBS�DPN�B�FTDSBWJEÍP�o�F�RVF� MFWBSJB
� MFNCSBWB
�
Ë�EJTTPMVÎÍP�EP�&TUBEP�FTDSBWPDSBUB�RVF�FSB�P�#SBTJM�o
�B�BOÈMJTF�EF�
Vieira parecia ser só mais uma doidice do velho sonhador.
Os homens do sonho mineiro não chegaram a formular o proble�
NB��.BJT�UBSEF�PT�EPDVNFOUPT�EPT�"OESBEBT
�EF�"OUÙOJP�$BSMPT�FN�
1817, de José Bonifácio em 1823, nunca foram debatidos ou contesta�
dos: foram ignorados. Talvez, como levantava Nabuco, tivessem tido 
parte em seu ostracismo, dada a notória ligação dos vencedores de 
1823 com os interesses escravagistas.
A coligação dos interesses de proprietários rurais e traficantes foi 
B�GPSÎB�EPNJOBOUF�EB�QPMÓUJDB�CSBTJMFJSB��'BMBOEP�EP�HSBOEF�QBTTP�RVF�
GPJ�B� MFJ�EF���EF�TFUFNCSP�EF�����
�&VTÏCJP�EF�2VFJSØT�EJ[JB�RVF�P�
USÈmDP�TØ�BDBCPV�iQFMP�JOUFSFTTF�EPT�BHSJDVMUPSFT
�DVKBT�QSPQSJFEBEFT�
estavam passando para as mãos dos especuladores e traficantes de 
escravos”. Essa força segurava as discussões, até mesmo no Conselho 
de Estado, com Nabuco de Araújo, Pimenta Bueno (a voz de Pedro 
**
�QFMB�FNBODJQBÎÍP�HSBEVBM
� +FRVJUJOIPOIB
�4PV[B�'SBODP
�4BMMFT�
5PSSFT�)PNFN�DPNCBUJEPT�QPS�0MJOEB
�1BSBOIPT
�&VTÏCJP
�RVBOEP�
mOBMNFOUF�TF�EJTDVUF�B�MJCFSEBEF��'PSÎB�RVF�GBSÈ�DPN�RVF�PT�HSBOEFT�
passos sejam dados pelos conservadores, com Eusébio, Rio Branco e 
Ouro Preto.
Feita a abolição, os negros foram tratados como um fundo de ta�
cho, sem importância bastante para receber uma atenção especial 
do Estado. A República os ignorou. Quando o pensamento brasilei�
SP� TF�WPMUPV�OPWBNFOUF�QBSB�FMFT
� DPN�P�HÐOJP�EF�(JMCFSUP�'SFJSF
�
DPOTUBUPV�TF�TFV�QBQFM�GVOEBNFOUBM�FN�OPTTB�GPSNBÎÍP��NBT�EFNP�
ramos para tratar do problema da integração social, do resgate de 
OPTTB�EÓWJEB
�EP�HJHBOUFTDP�QSPCMFNB�IVNBOP�RVF�BMJFOPV�FOUSF�PT�
mais pobres dos mais pobres toda uma parte dos brasileiros, tornan�
EP� P� CSBORVFBNFOUP�OFDFTTJEBEF� GVOEBNFOUBM� EB� BTDFOTÍP� TPDJBM��
O negro continuou, ao longo do tempo, sendo tratado como um não 
humano, como coisa, sem direitos.
"�"CPMJÎÍP�GPJ�VNB�DPOTUSVÎÍP�DPMFUJWB
�FN�RVF�TF�FNQFOIBSBN
�
numa união nunca vista, negros e brancos. Foi um esforço de mobi�
MJ[BÎÍP�TPDJBM�F�QPQVMBS
�RVF�FNQPMHPV�P�#SBTJM��"�IJTUØSJB�EB�MVUB�Ï�
simples: é a história da tentativa dos proprietários – de terra e de es�
DSBWPT
�RVF�UVEP�WJOIB�B�EBS�OP�NFTNP�o�EF�JNQFEJS�F�BEJBS�B�FNBO�
cipação; a luta do desespero contra a esperança. Vencida a batalha do 
tráfico, os proprietários se empenharam para impedir a abolição. Um 
CBOEP�EF�IPNFOT�GPJ�B�QFRVFOB�MJOIB�EF�GSFOUF�EP�FOPSNF�FYÏSDJUP�
preso ao eito. Seus nomes são sagrados, como se diria na oratória 
EBRVFMB�ÏQPDB
�F�PT�EFWFNPT�EFDMJOBS�DPN�SFWFSÐODJB��BMHVOT�UJOIBN�
sido escravos, como Luís Gama; outros eram descendentes de escra�
vos, como André Rebouças, Ferreira de Meneses, José do Patrocí�
OJP
�7JDFOUF�EF�4PVTB
�'SBODJTDP�(�"DBJBCB�EF�.POUF[VNB��PVUSPT�
FSBN�CSBODPT
� DPNP� +FSÙOJNP�4PESÏ
�3VJ�#BSCPTB
�(VTNÍP�-PCP
�
/JDPMBV�.PSFJSB
�+PÍP�$MBQQ
�"OUÙOJP�1SBEP
�$BTUSP�"MWFT
�+PBRVJN�
Serra, Ângelo Agostini, Sousa Dantas, José Bonifácio o Moço, Cris�
tiano Ottoni, João Alfredo. Foram jornalistas, advogados, escritores, 
políticos.
0�HSBOEF�MÓEFS�EF�UPEPT�FMFT�GPJ�+PBRVJN�/BCVDP��2VBOEP�DIFHB�Ë�
Câmara dos Deputados é a voz da liberdade, amada como nenhuma 
PVUSB�P�GPJ�FN�OPTTB�IJTUØSJB��/BCVDP�DPOTUBUB�B�JOTVmDJÐODJB�EB�MFJ�
de 28 de setembro – por ela a escrava nascida a 27 de setembro de 
�����QPEFSJB�TFS�NÍF�FN������EF�VN�EPT�DIBNBEPT�JOHÐOVPT
�RVF�
ficaria em cativeiro provisório até 1932 – e coloca a Abolição como a 
RVFTUÍP�GVOEBNFOUBM�EP�1BÓT�
A repercussão da mensagem de Nabuco é universal, corre mundo 
e, sobretudo, percorre o Brasil. No ano de 1884, a vitória parece pró�
YJNB��/P�$FBSÈ
�POEF�PT�KBOHBEFJSPT�IBWJBN�UPNBEP�B�JOJDJBUJWB�EF�
OFHBS�P�USBOTQPSUF�EPT�FTDSBWPT�BPT�OBWJPT
�GB[�TF�B�FNBODJQBÎÍP�OP�
dia 25 de março. A 20 de junho é a vez do Amazonas.
&ORVBOUP� JTUP
� PT� MJCFSBJT� IBWJBN�TF� UPSOBEP� BCPMJDJPOJTUBT�� 0�
Imperador chama Dantas para formar Ministério. Mas seu progra�
NB�OÍP�TBUJTGB[��/P�iA pedidos” do Jornal do Commercio, Gusmão 
-PCP
� DPNP� i$MBSLTPOw, 3VJ� #BSCPTB
� DPNP� iGrey”, Nabuco como 
iGarrisonw
� iPT� JOHMFTFTw
� GB[FN�VN�DPNCBUF�EJÈSJP��%P�PVUSP� MBEP
�
PT�iDMVCFT�EB�MBWPVSBw�GPSNBN�TF�F�QSFQBSBN�TF�QBSB�B�MVUB�BSNBEB��
O projeto emancipacionista, apresentado por Dantas, não consegue 
passar. A Câmara é dissolvida.
Mas as iniciativas do Ceará e do Amazonas dão a partida a atos 
localizados de libertação. Porto Alegre, Uruguaiana, São Borja, Via�
mão, Conceiçãodo Arroio, no Rio Grande do Sul; o largo de São 
Francisco, em São Paulo; o largo de São Francisco e a rua do Teatro, 
OP�3JP�EF�+BOFJSP��B�"CPMJÎÍP�BWBOÎB�NVOJDÓQJP�B�NVOJDÓQJP
�RVBSUFJ�
SÍP�B�RVBSUFJSÍP�
$IFHB�B�-FJ�EPT�4FYBHFOÈSJPT
�EF�4BSBJWB
�RVF��VNB�EFSSPUB�FOPS�
me. Nabuco, falando em nome dos abolicionistas decepcionados, ad�
WFSUF�RVF�B�.POBSRVJB�DPSSF�SJTDP�FN�UFOUBS�JNQFEJS�B�"CPMJÎÍP��Ï�
QPTTÓWFM�RVF�iVN�HSBOEF�DJDMPOF�EF�JOEJHOBÎÍP�WBSSB�EJBOUF�EF�TJ�OÍP�
só a escravidão, não só o ministério, [...] mas alguma coisa mais...”.
Em 1888, desemboca todo o movimento nacional. Os proprietá�
SJPT�QBVMJTUBT
�"OUÙOJP�1SBEP�Ë�GSFOUF
�UPNBN�B�JOJDJBUJWB�EF�DPODSF�
tizar a emancipação. A 12 de fevereiro de 1888, a cidade de São Paulo 
BMGPSSJB�TFVT�FTDSBWPT��"��¡�EF�BCSJM�Ï�B�WF[�EF�B�1SJODFTB�*TBCFM�MJCFS�
tar Petrópolis. Num incidente com o chefe de polícia da capital, im�
popular pela repressão, cuja demissão lhe pede a Princesa, Cotegipe 
FODPOUSB�P�QSFUFYUP�QBSB�EFJYBS�P�HPWFSOP��²�DIBNBEP�+PÍP�"MGSFEP�
"���EF�NBJP�BCSF�TF�B�TFTTÍP��"�3FHFOUF�Ï�SFDFCJEB�DPN�nPSFT��"�
7 de maio, o Ministério apresenta o programa abolicionista. No dia 8 
Ï�MJEP�P�QSPKFUP��i²�EFDMBSBEB�FYUJOUB�B�FTDSBWJEÍP�OP�#SBTJMw��/BCVDP�
QFEF�B�EJTQFOTB�EF�QSB[PT��"T�HBMFSJBT�FYQMPEFN�
No dia 13 de maio, um domingo, o Senado faz uma sessão espe�
cial. A Princesa desce de Petrópolis. No Paço, sanciona a lei. Patro�
DÓOJP�BKPFMIB�TF�B�TFVT�QÏT��0T�QSÏTUJUPT�FODIFN�B�DJEBEF��.BDIBEP�
conta no Memorial de Aires: i"JOEB� CFN�RVF� BDBCBNPT� DPN� JTUP��
&SB�UFNQP��&NCPSB�RVFJNFNPT�UPEBT�BT�MFJT
�EFDSFUPT�F�BWJTPT
�OÍP�
poderemos acabar com os atos particulares, escrituras e inventários, 
OFN�BQBHBS�B�JOTUJUVJÎÍP�EB�)JTUØSJB
�PV�BU�EB�1PFTJBw�
Nas primeiras páginas de 0 Abolicionismo
� +PBRVJN�/BCVDP�BE�
WFSUF��i)�<VNB�DBVTB>�NBJPS
�B�EP�GVUVSP��B�EF�BQBHBS�UPEPT�PT�FGFJ�
UPT�EF�VN�SFHJNF�RVF
�IÈ�USÐT�TÏDVMPTw�o�IPKF�KÈ�TÍP�RVBTF�DJODP�o�iÏ�
uma escola de desmoralização e inércia, de servilismo e irresponsa�
CJMJEBEF�QBSB�B�DBTUB�EPT�TFOIPSFT
�F�RVF�GF[�EP�#SBTJM�P�1BSBHVBJ�EB�
escravidão”.
E prossegue:
i2VBOEP�NFTNP�B�FNBODJQBÎÍP�UPUBM�GPTTF�EFDSFUBEB�BNBOIÍ
�B�
MJRVJEBÎÍP�EFTTF�SFHJNF�EBSJB�MVHBS�B�VNB�TÏSJF�JOmOJUB�EF�RVFTUÜFT
�
RVF� T�QPEFSJBN� TFS� SFTPMWJEBT�EF� BDPSEP� DPN�PT� JOUFSFTTFT� WJUBJT�
EP�1BÓT� QFMP�NFTNP�FTQÓSJUP�EF� KVTUJÎB� F�IVNBOJEBEF�RVF�EÈ� WJEB�
BP�BCPMJDJPOJTNP��%FQPJT�RVF�PT�ÞMUJNPT�FTDSBWPT�IPVWFTTFN�TJEP�
BSSBODBEPT�BP�QPEFS�TJOJTUSP�RVF�SFQSFTFOUB�QBSB�B�SBÎB�OFHSB�B�NBM�
dição da cor, será ainda preciso debastar, por meio de uma educação 
viril e séria, a lenta estratificação de trezentos anos de cativeiro, isto 
é, de despotismo, superstição e ignorância.”
"UÏ�BRVJ�/BCVDP��+È�OP�NFV�.BSBOIÍP
�FN�����
�P�OFHSP�$PTNF
�
RVF�DIBNBWB�B�TJ�NFTNP�EF�o Imperador das liberdades Bentevi e foi 
P�HSBOEF�MÓEFS�EB�#BMBJBEB
�UJOIB�B�QSFPDVQBÎÍP�EF�iGB[FS�VNB�FTDPMB
�
VNB�FTDPMB�OP�2VJMPNCPw
�QPSRVF�UJOIB�OPÎÍP�EF�RVF�OÍP�CBTUBWB�B�
liberdade. O Quilombo do negro Cosme, com mais de 3.000 negros, 
FSB�VN�DBNJOIP�QBSB�B� MJCFSEBEF��.BT�P�WFMIP�$PTNF�TBCJB�RVF��
QSFDJTP�MJCFSUBS�TF�UBNCÏN�QFMB�FEVDBÎÍP�
&TUPV�DPOWFODJEP�EF�RVF�P�#SBTJM�Ï�VNB�EFNPDSBDJB�SBDJBM��F�OÍP�
há dúvida disso. Mas carregamos enorme carga de preconceito. Se 
não temos segregação racial, a discriminação racial faz parte de nos�
TP�RVPUJEJBOP
�OVNB�GPSNB�FTQFDJBMNFOUF�JOTJEJPTB
�B�EJTDSJNJOBÎÍP�
FODPCFSUB
�NBTDBSBEB
�FTDPOEJEB
�BU�NFTNP�JODPOTDJFOUF��"�FYDMV�
são dos negros e da comunidade negra coincide em grande parte com 
B�EPT�QPCSFT��.BT
�NFTNP�RVF�TVQFSQPTUBT
�FMBT�OÍP�QPEFN�TFS�DPO�
fundidas. Os negros, entre os pobres, são os mais pobres; entre os 
RVF�OÍP�DPOTFHVFN�P�BDFTTP�Ë�FEVDBÎÍP
�B�NBJPSJB��FOUSF�PT�EPFOUFT
�
os mais graves.
"�RVFTUÍP�EPT�EFTDFOEFOUFT�EF�FTDSBWP�OP�#SBTJM�EFWF�TFS�FODB�
rada com objetividade. O grave problema é o atraso social, a pro�
NPÎÍP�IVNBOB�RVF�mDPV�FTUBHOBEB
�EBOEP�BPT�OFHSPT�VNB�QPTJÎÍP�
de marginalidade dentro de nossa sociedade. As terríveis estatísticas 
RVF�NPTUSBN�P�QSPCMFNB�OÍP�SFQSFTFOUBN�BCTUSBÎÜFT��&MFT�TJHOJm�
cam realidades intoleráveis: a perpetuação da fome, da miséria, da 
ignorância, da marginalização social. O maior número de negros en�
tre os mais pobres, os menos educados, os mais desempregados não 
BDPOUFDF� T�QPSRVF�EFTDFOEBN�EF�QPCSFT
� EF�QPVDP� FEVDBEPT
� EF�
EFTFNQSFHBEPT��BDPOUFDF�QSJODJQBMNFOUF�QPSRVF�TÍP�OFHSPT��&�OÍP�
I�DPNP�OFHBS�P�RVF�BDPOUFDFV��VOT�GPSBN�FTDSBWPT
�PVUSPT�GPNPT�
senhores. Uns eram negros, outros eram brancos. O trabalho de res�
HBUF�OÍP�BDPOUFDFV��²�QSFDJTP�GB[Ð�MP�
"�"CPMJÎÍP�Ï�VNB�PCSB�FN�BCFSUP��4FVT�����BOPT�NPTUSBN�RVF�
QPVDP
�NVJUP�QPVDP� GPJ� GFJUP�EFQPJT�EBRVFMB� GFTUB� JOJDJBM��)�NVJ�
UP�P�RVF�GB[FS��'BÎBNPT�VN�mea culpa. Nós não realizamos o ideal 
de igualdade, de justiça social. Nós ainda estamos engatinhando no 
QBHBNFOUP�EF�OPTTB�EÓWJEB�DPN�PT�EFTDFOEFOUFT�EPT�FTDSBWPT��)È�
NVJUP�P�RVF�GB[FS��²�QSFDJTP�GB[Ð�MP�
É, mais uma vez, hora de aplaudir o passado e começar o futuro.
José Sarney
Presidente do Senado Federal
"QSFTFOUBÎÍͼ�t�ï‹�FEJÎÍͼ�	ï÷öö
Ao ensejo das comemorações do Centenário da Abolição da escra�
WBUVSB�OP�#SBTJM
�P�4FOBEP�'FEFSBM� KVOUB�TF�ËT�EJWFSTBT�JOJDJBUJWBT�F�
NBOJGFTUBÎÜFT�RVF�B�TPDJFEBEF�CSBTJMFJSB
�FN�TFVT�EJWFSTPT�TFHNFO�
tos oficiais e comuni tários, realiza para rememorar o longo processo 
vivido pelo país entre a escravatura e a liberdade, suas implicações 
DPOKVOUVSBJT�EP�MBEP�FDPOÙNJDP
�QPMÓUJDP�F�TPDJBM��
O Senado Federal, depositário de valioso acervo documental so�
CSF�B�)JTUØSJB�EP�#SBTJM
�QVCMJDB
�BUSBWÏT�EF�TVB�4VCTFDSFUBSJB�EF�"S�
RVJWP
�FTUB�QFTRVJTB�JOÏEJUB�TPCSF�P�QSPDFTTP�BCPMJDJPOJTUB�FN�OPTTP�
1BÓT
�FN�RVF
�BUSBWÏT�EF�VNB�DSPOPMPHJB�RVF�TF�SFQPSUB�B�����
�DPN�B�
SFQSFTFOUBÎÍP�GFJUB�QPS�+PTÏ�#POJGÈDJP
�P�1BUSJBSDB�EB�*OEFQFOEÐODJB
�
à Assembleia Geral Constituinte Legislativa, tratando da escravidão, 
BUÏ�B�USBNJUBÎÍP
�EJTDVTTÍP�F�WPUBÎÍP�EP�QSPKFUP�RVF�TF�USBOTGPSNPV�
na Lei no������
�EF����������
�DIBNBEB�EF�-FJ�«VSFB
�RVF� MJCFSUPV�
do jugo escravo parte da população negra, ao tempo do período co�
MPOJBM
�TFNQSF�NBJPS�RVF�B�QPQVMBÎÍP�CSBODB
�NBT�RVF�ËT�WÏTQFSBT�
da Abolição continha apenas um remanescente de cerca de 720.000 
FTDSBWPT
�EFWJEP�ËT�EJWFSTBT�MFJT�RVF
�QSPHSFTTJWBNFOUF
�GPSBN�FTUB�
belecendo critérios de liberação. 
A luta pela abolição da escravatura no Brasil remonta aos tem�
QPT� EPT� RVJMPNCPT
� DPN� B� USBHÏEJB� ÏQJDB� EP� ;VNCJ� EB� 3FQÞCMJDB�
dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, no século XVII, e 
USBOTQPSUB�TF
�PCKFUJWBNFOUF
�QBSB�P�SFDJOUP�EP�1BSMBNFOUP�FN�����
�
MFWBOEP�B����BOPT�QBSB�RVF�PT�BCPMJDJPOJTUBT�USJVOGBTTFN�TPCSF�PT�
escravocratas. 
0�USÈmDP�EF�FTDSBWPT�FSB� UÍP� MVDSBUJWP�RVBOUP�EFTVNBOP��.PS�
riam 25% no transporte, sendo, mesmo assim, o lucro de mais de 
500%. Com a perseguição aos traficantes, motivada pelo sistema eco�
OÙNJDP�RVF�TF�JNQV�OIB�DPN�B�3FWPMVÎÍP�*OEVTUSJBM
�JOUFSFTTBEB�FN�
mão de obra livre e livre mercado, bem como amenizar a concor�
SÐODJB�CSBTJMFJSB�OPT�TFVT�QSPKFUPT�DBOBWJFJSPT�OBT�"OUJMIBT
�NVJUBT�
WF[FT�PT�OBWJPT�OFHSFJSPT
�RVBOEP�TFHVJEPT�QPS�BMHVN�WBTP�CSJUÉOJDP
�
iBGVOEBWBN�B�DBSHBw�F�DPN�FMB�BT�QSPWBT�EP�USÈmDP�RVF
�NFTNP�BT�
sim, perdurou por muitas décadas. 
"� JNQPSUÉODJB�EFTUB�PCSB
� RVF� TF�QVCMJDB� DPN�VNB� JOUSPEVÎÍP�
do eminente jurista e escritor Afonso Arinos, é de mostrar, passo 
a passo, toda a evolução do ideário favorável e contrário à escravi�
EÍP
�SFWFMBS�B�MVUB
�P�EFCBUF
�B�BSHV�NFOUBÎÍP�RVF�NBOUJOIB�P�iTUBUVT�
RVPw�F�BT�OPWBT�JEÏJBT�RVF�RVFSJBN�USBOT�GPSNÈ�MP
�FYQPS�B�QSPHSFTTJ�
WB�DPOTPMJEBÎÍP�EB�DPOTDJÐODJB�OBDJPOBM�FN�GBWPS�EB�MJCFSUBÎÍP�EPT�
FTDSBWPT�DPN�BT�BEFTÜFT�RVF�GPSBN�TVSHJOEP�OPT�EJWFSTPT�TFUPSFT�EBT�
lideranças sociais. 
Esta obra destaca, entreoutras, fases importantes do processo; a 
Lei do Governo Feijó, em 1831; o Bil Aberdeen, em 1845; a Lei de Eu�
TÏCJP�EF�2VFJSP[
�FN�������B�-FJ�EP�7FOUSF�-JWSF
�FN�������B�-FJ�EP�
4FYBHFOÈSJP
�FN������F
�mOBMNFOUF
�B�-FJ�«VSFB��3FTTBMUB�B�EJOÉNJDB�
EFTUF�NPWJNFOUP�BUSBWÏT�EF�SFGFSÐODJBT
�UFYUPT�EPT�EFCBUFT�F�QSJODJ�
pais pronunciamentos dos mais destacados personagens da época: 
parlamentares, jornalistas, inte lectuais, poetas etc., entre eles: José 
#POJGÈDJP
�7JTDPOEF�EF�+FRVJUJOIPOIB
�1FSEJHÍP�.BMIFJSP
�1JNFOUB�
Bueno, Silveira da Mota, Luiz Gama, Castro Alves, André Rebouças, 
'FSSFJSB�EF�"SBÞKP
�+PBRVJN�4FSSB
�+PÍP�$MBQQ
�'FSSFJSB�EF�.FOF[FT
�
José do Patrocínio, Souza Dantas, Eusébio de Queiroz, Visconde do 
Rio Branco, Andrade Figueira, Barão de Cotegipe, Rui Barbosa e Jo�
BRVJN�/BCVDP��
Da leitura, vista de documentos e ilustrações deste livro mergu�
MIB�TF�FN�OPTTB�IJTUØSJB�QBSB�NFMIPS�TF�DPOIFDFS�BT�OPTTBT�SBÓ[FT�F�
a evolução de nossa nacionalidade, a índole do nosso povo, e, princi�
QBMNFOUF
�B�OPTTB�UFOEÐODJB�F�WPDBÎÍP�QBSB�P�EJÈMPHP
�OB�TPMVÎÍP�EPT�
HSBOEFT�F�DSVDJBJT�QSPCMF�NBT
�QPJT
�FORVBOUP�OP�OPSUF�EB�"NÏSJDB�
a escravidão foi varrida pelas armas e lavada pelo sangue de irmãos, 
BRVJ�TF�QSPDFTTPV
�TBMWP�BMHVOT�JODJEFOUFT
�QFMB�GPSÎB�EB�QBMBWSB�F�EBT�
JEFJBT
�QFMB�OFHPDJBÎÍP
�mDBOEP�EFTUB�FYQFSJÐODJB�NJMFOBS�EB�IVNB�
nidade – o escravismo – suas cores, cânticos, rituais, crenças, tem�
peros e outros traços na miscigenação de nossa raça, na forma ção 
de nosso folclore, na consolidação de nossa cultura e de nossa feição 
nacional. 
A Lei Áurea foi aprovada na Câmara dos Deputados com apenas 
nove votos contrários e no Senado com seis, e após a assinatura desta 
MFJ
�QFMB�1SJODFTB�*TBCFM
�+PBRVJN�/BCVDP
�VN�EPT�HSBOEFT�CBMVBSUFT�
EFTUF�NPWJNFOUP
�QSPDMB�NPV�QBSB�B�NVMUJEÍP�SFVOJEB�B�����������
FN� GSFOUF�Ë� TBDBEB�EP�1BMÈDJP� *NQFSJBM�� i/ÍP�IÈ�NBJT� FTDSBWPT�OP�
Brasil”. 
&�BTTJN
�B�FTUF�QSJNFJSP�FDP�EP�#SBTJM�MJWSF�EF�FTDSBWPT
�TVDFEF�TF
�
em 19 de junho do mesmo ano, o último suspiro da escravidão, um 
projeto de autoria do Barão de Cotegipe autorizando o Governo a 
indenizar os proprietários dos escravos libertos. 
/FTUF�BOP�EF�����
�FN�RVF�USBOTDPSSF�P�QSJNFJSP�DFOUFOÈSJP�EB�
"CPMJÎÍP
�RVBOEP�B�DVSJPTJEBEF�JOUFMFDUVBM�F�B�JOUFMJHÐODJB�CSBTJMFJSB�
DFSUBNFOUF�SFnF�UJSÍP�TPCSF�P�#SBTJM�FTDSBWP
�FTUB�PCSB�TPCSF�TVB�MJ�
CFSUBÎÍP�OÍP�QPEFSÈ�EFJYBS�EF�TFS�DPNQVMTBEB���
Senador Humberto Lucena 
Presidente
Centenário da Abolição 	ï÷öö
%JTDVSTP�EP�4FOBEPS�"GPOTP�"SJOPT�OB�TFTTÍP�TPMFOF�DPNFNP�
rativa do Centenário da Abolição à Escravatura. 
O Centenário da Abolição deve ser comemorado na sede do Con�
gresso Nacional, não só como data festiva, mas como oportunidade 
QBSB�SFnFYÜFT�EF�DBSÈUFS�TØDJP�IJTUØSJDP
�EFTQJEBT�EF�QSPQØTJUPT�JEF�
PMØHJDPT�QPMÓUJDP�QBS�UJEÈSJPT
�PV�EF�SFTTFOUJNFOUPT�SBDJBJT��3FnFYÜFT�
RVF�DPOEV[BN�B�VNB�WJTÍP�FRVJMJCSBEB�F�KVTUB�EP�OPTTP�DPOUFYUP�TP�
DJBM
�QBTTBEP
�QSFTFOUF�F�GVUVSP
�OP�UPDBOUF�Ë�JOnVÐODJB�EB�FTDSBWJEÍP�
F�EB�NJTDJHFOBÎÍP�OP�DPOUFYUP�TPDJBM�CSBTJMFJSP��&TDSBWJEÍP�F�NJTDJ�
HFOBÎÍP�JOUJNBNFOUF�MJHBEBT�BPT�RVBTF�DJODP�TÏDVMPT�EF�GPSNBÎÍP�F�
desenvolvimento do nosso povo. 
"�HSBOEF�&ODJDMPQÏEJB�EF�$JÐODJBT�4PDJBJT�EB�&EJUPSB�.D��.JMMBO
�
provavel mente a melhor síntese científica sobre o assunto da escra�
vidão em geral, estuda o problema no mundo, desde os primórdios, 
na Antiguidade, até a Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, sem 
FTRVFDFS� B� QBSUF� EFEJDBEB� BP�#SBTJM��"� BCPMJÎÍP
� OPT� &TUBEPT�6OJ�
dos, ocorrida 15 anos apenas antes da nossa, com ela contrasta, de 
forma impressionante, pelo seu imenso custo histórico. Lá, a feroci�
dade devastadora da luta entre o Sul e o Norte encobre, pela som�
bra da tragédia, a formidável ação do Presidente Lincoln e do seu 
vitorioso governo. No Brasil houve luta também (basta recordar a 
NBJPS�F�B�NBJT�EVSBEPVSB�EF�UPEBT
�RVF�GPJ�B�EF�1BMNBSFT
�OP�TÏDVMP�
97**
�NBT�B�TPMVÎÍP�EP�QSPCMFNB�TØ�GPJ�QPTTÓWFM�OP�TÏDVMP�9*9
�BP�
termo de uma grande campanha sem guerra. Longa campanha de 
persuasão nacio nal pela oratória parlamentar, pela ação da imprensa, 
QFMB�DPORVJTUB�EP�BQPJP�EF�UPEB�B�TPDJFEBEF��0�QSJNFJSP�CSBTJMFJSP�
NBSDBOUF�B�TF�NBOJGFTUBS�TPCSF�P�BTTVOUP�GPJ�OJOHVÏN�NFOPT�EP�RVF�
+PTÏ�#POJGÈDJP
�P�1BUSJBSDB�EB�*OEFQFO�EÐODJB��&N������FMF�QSFQBSPV�
MPOHB�FYQPTJÎÍP�Ë�OPTTB�QSJNFJSB�"TTFNCMFJB�$POTUJUVJOUF
�OB�RVBM�
combatia, em linguagem candente, o tráfico de africanos para o Bra�
TJM��%FOVODJBWB�PT�IPSSPSFT�EBRVFMF�DPNÏSDJP�F�PT�DSJNFT�FYJHJEPT�
pela sua prática, bem como criticava com vigor os donos de escravos, 
SFGFSJOEP�TF�FTQFDJBMNFOUF�BPT�QSPQSJFUÈSJPT�EF�UFSSBT
�BPT�QBESFT�F�
aos magis trados, visando assim, diretamente, às altas camadas so�
ciais da época. 
&N������P�.JOJTUSP�EB� +VTUJÎB
�%JPHP�"OUÙOJP�'FJKØ
�FYQFEJV�P�
primeiro ato proibitivo do tráfico, mas tal medida não produziu re�
sultado. O passo inaugural dado efetivamente nesse assunto foi o 
decreto do ilustre Euzébio de Queiroz, Ministro da Justiça, a 14 de 
PVUVCSP�EF�����
�RVF�WFJP�EBS�WFSEBEFJSB�FmDÈDJB�BP�BUP�QSPJCJUJWP�EF�
Diogo Feijó. 
A Abolição continuou abrindo caminho pelas leis. Em 1871 veio 
B�-FJ�EP�7JTDPOEF�EP�3JP�#SBODP
�PV�EP�7FOUSF�-JWSF
�RVF�EBWB�MJCFS�
dade aos nascituros de escravos, ao completarem 20 anos. Em segui�
EB�GPJ�B�-FJ�EPT�4FYBHFOÈSJPT
�EP�(BCJOFUF�4PVTB�%BOUBT
�FN�����
�
BQPJBEB�OP�FYUSBPSEJOÈSJP�QBSFDFS�EF�VN�KPWFN�EFQVUBEP
�DIBNBEP�
Rui Barbosa. 
O Império Brasileiro continuava, através de leis, a resolver o pro�
CMFNB� RVF� UBOUP� TBOHVF� m[FSB� EFSSBNBS� Ë� 3FQÞCMJDB� "NFSJDBOB��
Mas, no Brasil, o caminho do Legislativo, aberto por José Bonifá�
cio, foi acompanhado e estimulado pelos estudos dos historiadores, 
DPNP�1FSEJHÍP�.BMIFJSP�� QFMB� FMPRVÐODJB� EPT� PSBEPSFT� QBSMBNFO�
UBSFT
�DPNP�+PBRVJN�/BCVDP��QFMP�EFTUF�NPS�EPT� KPSOBMJTUBT
�DPNP�
José do Patrocínio; pelos versos de poetas, como Castro Alves; pela 
BEFTÍP�DSFTDFOUF�EF�NVJUPT�TFOIPSFT�RVF�BMGPSSJBWBN�TFVT�FTDSBWPT�
F
�mOBMNFOUF
�QFMP�BQPJP�DSFTDFOUF�EP�*NQFSBEPS
�FYQSFTTP�BmOBM�OB�
participação direta de sua filha, a Princesa Regente Isabel. Imitando 
(JMCFSUP�'SFZSF
�TFSJB�QPTTÓWFM�FTDSFWFS�TF�VNB�IJTUØSJB�EB�"CPMJÎÍP�
FN�MJWSP�RVF�UJWFTTF�QPS�UÓUVMP�i5SPOP�F�4FO[BMBw��
"�"CPMJÎÍP�GF[�BMHVOT�HSBOEFT�IPNFOT�EP�*NQÏSJP
�UBOUP�RVBOUP�
FTUFT�m[FSBN�B�"CPMJÎÍP��&N�NFJP�B�VNB�EBT�TVBT�DPOGFSÐODJBT�GB�
mosas no Teatro Santa Isabel, do Recife, a propósito da escravidão e 
SFGFSJOEP�TF�BP�7JTDPOEF�EF�3JP�#SBODP
�FYDMBNPV�+PBRVJN�/BCV�
DP��i/ÍP�GPJ�P�OPNF�EF�1BSBOIPT�RVF�GF[�HSBOEF�B�FNBODJQBÎÍP�EPT�
FTDSBWPT
�GPJ�B�FNBODJQBÎÍP�EPT�FTDSBWPT�RVF�GF[�HSBOEF�P�OPNF�EF�
Paranhos!” Realmente: só pelas grandes causas se fazem os grandes 
nomes. 
A escravidão dos negros na Europa começou bem antes das via�
gens de Colombo ou de Cabral. Desde meio século antes do desco�
brimento do Brasil, já os navegadores portugueses levavam negros da 
«GSJDB�QBSB�-JTCPB
�DJEBEF�RVF�DIFHPV�B�BCSJHBS�EF[FOBT�EF�NJMIBSFT�
EFMFT��0T�DIBNBEPT�iQPN�CFJSPTw�BGSJDBOPT
�ËT�WF[FT�NVMBUPT
�FSBN�
intermediários na captura de ne gros, de várias nações africanas, 
aprisionados nas lutas entre tribos e vendidos aos traficantes por�
UVHVFTFT�FN�"OHPMB
�$PTUB�EB�.JOB
�(VJOÏ
�.PÎBNCJRVF�PV�PVUSPT�
pontos apropriados. Na frota de Cabral, talvez já viessem escravos 
OFHSPT�EF�TFSWJÎP��1FMBT�i%FOVODJBÎÜFT�F�$POmTTÜFT�EP�4BOUP�0G Ó�
DJPw
�OP�TÏDVMP�97*
�PCTFSWB�TF�B�DPOTUBOUF�QSFTFOÎB�EPT�FTDSBWPT�F�
das escravas entre os padres, os governadores e outras autoridades, 
em suma, entre os poderosos e ricos senhores, desde o primeiro sé�
culo. A literatura menciona sempre escravos, desde o romantismo da 
i&TDSBWB�*TBVSBw
�EF�#FSOBSEP�(VJNBSÍFT
�BUÏ�PT�FTDSBWPT�EPNÏTUJDPT�
ligados às famílias dos personagens, na primeira parte inicial da obra 
deMachado de Assis. 
No Brasil, como nos Estados Unidos, a escravidão, por doloro�
TP�RVF�TF�P�EJHB
�GPJ�VNB�DPOEJÎÍP�EP�EFTFOWPMWJNFOUP�FDPOÙNJDP
�
SFTVMUBOUF�EB�FYQMPSBÎÍP�FYUFOTJWB�EB� UFSSB�OB�DVMUVSB�EB�DBOB�EF�
�BÎÞDBS
�EP� UBCBDP
�EP�BMHPEÍP�F�EP�DBGÏ
� TVDFTTJWBNFOUF��&SB�VNB�
GPSNB�QSJNJUJWB�EF�PSHBOJ[BÎÍP�EP�USBCBMIP
�TFN�RVBMRVFS�BMUFSOBUJ�
va, como havia acontecido, no Egito, na Grécia, em Roma, muitos sé�
culos antes do tráfico de escravos negros para as Antilhas, os Estados 
Unidos e o Brasil. A importação americana começou para as Anti�
lhas, antes de chegar ao Brasil, e os ingleses participavam larga mente 
EFTTF� USÈmDP� QBSB� P�)BJUJ
� BT� *MIBT�7JSHFOT
� 4ÍP�%PNJHPT� F� PVUSBT�
DPMÙOJBT��4Ø�NBJT� UBSEF
� KÈ�OP�TÏDVMP�9*9
�DPN�P�EFTFOWPMWJNFOUP�
JOEVTUSJBM�EFWJEP�BP�DBSWÍP
�ËT�FTUSBEBT�EF�GFSSP
��NBRVJOBSJB�F�BP�
DSÏEJUP�CBODÈSJP�	PT�3PUTDIJME�TÍP�EFTTB�ÏQPDB
�PT�JOHMFTFT
�IBWFO�
do abolido a escravidão nas suas terras da América, começaram a 
DBNQBOIB�DPOUSB�P�USÈmDP�OP�#SBTJM
�QPSRVF�P�USBCBMIP�FTDSBWP�CBSB�
UFBWB�BRVJ�QSPEVUPT�RVF�FMFT�UBNCÏN�FYQMPSBWBN��0�OPUÈWFM�FTUVEP�
EP�NFV�TBVEPTP�BNJHP�F�NFTUSF�"GPOTP�EF�5BVOBZ�TPCSF�B�i)JTUØSJB�
do Tráfico Africano no Brasil Colonial” reproduz a estrofe do poeta 
(BSDJB�EF�3F[FOEF
�OBTDJEP�FN�mOT�EP�TÏDVMP�97
�RVF�EJ[��
i7FN�HSÍ�TPNB�B�1PSUVHBM��$BEB�BOP� UBNCÏN�ËT� *MIBT
�²�DPJTB�
RVF�TFNQSF�WBJ�&�USFTEPCSB�P�DBQJUBM�&N�$BTUFMB�F�OBT�"OUJMIBT�w�
Assim, a dura luta travada contra nós pela Inglaterra, no século 
XIX, após a lei Aberdeen, com a apreensão de navios negreiros até 
FN�QPSUPT�OBDJPOBJT
�FSB�UBMWF[�NBJT�BQPJBEB�FN�JOUFSFTTFT�FDPOÙ�
NJDPT�EP�RVF�FN�SB[ÜFT�NPSBJT��
Por outro lado, o decreto de Euzébio de Queiroz, de outubro de 
1850, realmente proibitivo do tráfico, de fato o estimulou a princípio, 
QPSRVF�BVNFO�UPV�P�QSFÎP�EB�DBSHB�IVNBOB�F
�QPSUBOUP
�PT�MVDSPT�EPT�
USBmDBOUFT�QPSUVHVF�TFT�F�CSBTJMFJSPT�RVF�WJWJBN�SJDBNFOUF�OB�$PSUF
�
TFN�RVF�TF�*IFT�QVEFTTF
�OB�WFSEBEF
�EVSBOUF�BOPT
�DPJCJS�P�DSJNF��
.BT� B� "CPMJÎÍP
� ÞOJDP� SFNÏEJP
� TF� BQSPYJNBWB�� "� DBNQBOIB�
OBDJPOBM�DPORVJTUBWB�UFSSFOP��"T�GSPOUFJSBT�FOUSF�PT�QBSUJEPT�TF�FT�
batiam, no Parla mento, diante da causa comum. As contradições 
dos partidos Liberal e Con servador determinavam O crescimento 
do Partido Republicano, fundado a 3 de dezembro de 1870, com o 
fecundo manifesto de Saldanha Marinho e Quintino Bocaiúva, no 
RVBM
�EJHB�TF�EF�QBTTBHFN
�OÍP�TF�BMVEF�BP�TJTUFNB�QSFTJEFODJBM
�NBT
�
BP�DPOUSÈSJP
�UPNBWB�TF�QPS�NPEFMP�P�1BSMBNFOUBSJTNP�3FQVCMJDBOP�
GSBODÐT
�RVF�OBTDJB�UBNCÏN
�FOUÍP
�DPN�B�EFSSPUB�EF�/BQPMFÍP�***�OB�
guerra contra a Prússia de Bismark. 
/BCVDP
�OP�TFV�MJWSP�i0�"CPMJDJPOJTNPw
�QVCMJDBEP�FN�����
�EJ[��
i4PC�B�CBOEFJSB�EB�"CPMJÎÍP�DPNCBUFN
�IPKF
�MJCFSBJT
�DPOTFSWB�
dores e republicanos, sem outro compromisso.” 
"�"CPMJÎÍP�TF�BQSPYJNBWB
�BTTJN
�EF�GPSNB�JSSFTJTUÓWFM��/P�BOP�EF�
����
�B����EF�BCSJM
�JOTUBMBWBN�TF�BT�TFTTÜFT�QSFQBSBUØSJBT�EB�$ÉNBSB�
dos Deputa dos, mas a sessão legislativa só foi aberta, oficialmente, 
como era de regra, a 3 de maio, no glorioso Palácio da Cadeia Velha, 
RVF�BJOEB�DIFHVFJ�B�DPOIFDFS
�OB�NJOIB�JOGÉODJB
�MFWBEP�QPS�NFV�QBJ��
A Fala do Trono foi lida pela Regente do Império, Princesa Isabel, na 
BVTÐODJB�EP�QBJ
�P�*NQFSBEPS
�RVF�TF�FODPO�USBWB�OB�&VSPQB��"�"CP�
lição aparece no seguinte tópico do documento: 
i"�FYUJOÎÍP�EP�FMFNFOUP�TFSWJM
�QFMP� JOnVYP�EP�TFOUJNFOUP�OB�
DJPOBM�F�EBT�MJCFSBMJEBEFT�QBSUJDVMBSFT
�FN�IPOSB�EP�#SBTJM
�BEJBO�
UPV�TF�QBDJmDBNFOUF�EF�UBM�NPEP�RVF�Ï
�IPKF
�BTQJSBÎÍP�BDMBNBEB�
QPS�UPEBT�BT�DMBTTFT
�DPN�BENJSÈWFJT�FYFNQMPT�EF�BCOFHBÎÍP�QPS�
parte dos proprietários. Quando o próprio interesse privado vem 
FTQPOUBOFBNFOUF�DPMBCPSBS�QBSB�RVF�P�#SBTJM�TF�EFTGBÎB�EB�JOGFMJ[�
IFSBOÎB
�RVF�BT�OFDFTTJEBEFT�EB�MBWPVSB�IBWJBN�NBOUJEP
�DPOmP�
FN�RVF�OÍP�IFTJUBSFJT�FN�BQBHBS�EP�EJSFJUP�QÈUSJP�B�ÞOJDB�FYDFÎÍP�
RVF�OFMF�mHVSB�FN�BOUBHPOJTNP�DPN�P�FTQÓSJUP�DSJTUÍP�F�MJCFSBM�
das nossas instituições.” 
A resposta a esta Fala do Trono só foi lida na Câmara dos Depu�
tados a 21 de maio, portanto, já depois da Lei Áurea. Mas a Câmara 
OÍP�EFJYPV�EF�DPOTJHOBS�P�GBUP�OBT�TFHVJOUFT�F�NFNPSÈWFJT�QBMBWSBT��
i4FOIPSB�o�"�GPSUVOB�QFSNJUJV�RVF��1SJODFTB�*NQFSJBM�3FHFOUF
�
em nome do Imperador, fosse reservada a glória de presidir aos 
dois atos mais importantes da nossa vida política, depois da 
reforma da Constituição do Império. O último, de data recen�
UÓTTJNB
�F�QFMP�RVBM�I�EF�DBCFS�B�7PTTB�"MUF[B�*NQFSJBM�P�NBJT�
JOWFKÈWFM� UÓUVMP
� DPMPDB� P� #SBTJM� FN� DJSDVOTUÉODJBT� RVF
� ÈSEVBT�
FNCPSB
�BmHVSBN�TF�Ë�$ÉNBSB�EPT�%FQVUBEPT�DPNP�P�QPOUP�EF�
QBSUJEB�NBJT�mSNF�EB�TVB�QSPHSFTTJWB�FWPMVÎÍP�FDPOÙNJDB�w�
/P�mN�EP�BOP
�OP�NÐT�EF�OPWFNCSP
�P�*NQFSBEPS
�BP�SFHSFTTBS�
da Europa, onde estivera em tratamento de saúde, encerra a sessão 
EP�1BSMB�NFOUP�DPN�B�'BMB�EP�5SPOP
�EB�RVBM�DPOTUB�P�TFHVJOUF�USFDIP��
i1PEFNPT�EFTWBOFDFS�OPT�EP�NPEP�QBDÓmDP�QPS�RVF�TF�PQFSB�B�
transformação do trabalho, em virtude da lei de 13 de maio, cuja 
decretação tanto me consolou das saudades da pátria, minorando 
os meus sofrimentos f ísicos.” 
Voltemos, porém, à origem imediata da Lei Áurea. No dia 7 de 
NBSÎP
�SFUJSBWB�TF�P�HBCJOFUF�QSFTJEJEP�QFMP�#BSÍP�EF�$PUFHJQF�F
�OP�
dia 10, subia ao poder o novo Ministério chefiado pelo Conselheiro 
João Alfredo. Com o início da sessão legislativa de 3 de maio, o Mi�
OJTUÏSJP�BQSFTFOUPV�TF�Ë�$ÉNBSB
�OP�EJB����/P�EJTDVSTP�EF�BQSFTFO�
tação, afirmou o Presidente do Conselho: 
i%JSFJ�TPNFOUF�RVF�P�.JOJTUÏSJP
�TF�UJWFS�P�BQPJP�EP�1BSMBNFOUP
�
IÈ�EF�FTGPSÎBS�TF�RVBOUP�GPS�QPTTÓWFM�QBSB�RVF�FTTF�QSPHSBNB�TF�
DPOWFSUB�FN�SFBMJEBEF
�F
�TPCSFUVEP
�QBSB�RVF�TF�FGFUVF
�RVBOUP�
BOUFT
�B�SFGPSNB�EP�FMFNFOUP�TFSWJM
�RVF�Ï�B�BTQJSBÎÍP�OBDJPOBM
�
F�RVF�P�HBCJOFUF�UFN�P�FNQFOIP�FN�GB[FS�UÍP�QFSGFJUB�RVBOUP�B�
PQJOJÍP�QÞCMJDB�B�JOEJDB�F�RVFS��"NBOIÍ�TFSÈ�BQSFTFOUBEB�B�QSP�
QPTUB�EP�1PEFS�&YFDVUJWP�QBSB�RVF�TF�DPOWFSUB�FN�*FJ�B�FYUJOÎÍP�
imediata e incondicional da escravidão no Brasil.” (Aplausos no 
SFDJO�UP�F�OBT�HBMFSJBT�
�
-PHP�OP�EJB�TFHVJOUF
��
�WFJP
�iQPS�PSEFN�EB�1SJODFTB�*NQFSJBM�
Regente e em nome de S. M. o Imperador”, o projeto de lei. A redação 
era a mais simples e enérgica: 
i"SU����²�EFDMBSBEB�FYUJOUB�B�FTDSBWJEÍP�OP�#SBTJM��
"SU����3FWPHBN�TF�BT�EJTQPTJÎÜFT�FN�DPOUSÈSJP�w�
Quem apresentou o projeto à Câmara, em nome do governo, foi 
P�.JOJTUSP�EB�"HSJDVMUVSB
�3PESJHP�4JMWB
�RVF
�BU�SFDFOUFNFOUF
�OÍP�
aceitava a Abolição imediata. Votaram a favor, no dia 13 de maio, 83 
Deputados e, contrariamente, apenas nove. 
Neste momento, peço licença para declinar perante os Consti�
tuintes brasileiros, com sincera emoção, os nomes de dois Deputados 
RVF
�IÈ�VN�TÏDVMP
�OP�EJB�EF�IPKF
�WPUBSBN�QFMB�"CPMJÎÍP�EB�FTDSB�
WJEÍP�OP�#SBTJM��NFV�BWÙ
�$FTÈSJP�"MWJN
�%FQVUBEP�QFMB�1SPWÓODJB�EF�
.JOBT�(FSBJT
�F�P�BWÙ�EF�NJOIB�FTQPTB
�3PESJHVFT�"MWFT
�%FQVUBEP�
pela Província de São Paulo. 
No mesmo dia 13 de maio passou o projeto da Câmara ao Se�
nado, onde falaram a favor os Senadores Souza Dantas, autor da Lei 
EPT�4FYBHF�OÈSJPT�EF�����
�F�P�1SFTJEFOUF�EP�$POTFMIP
�+PÍP�"MGSFEP��
$POUSB� B� BQSPWBÎÍP� GBMPV�P�4FOBEPS�nVNJOFOTF
�$POTFMIFJSP�1BV�
lino de Souza, filho do ilustre Visconde do Uruguai, de conhecida 
tradição conservadora. Como o Senador Paulino prolongasse seu 
EJTDVSTP
�GPJ�BEWFSUJEP�EFMJDBEBNFOUF�EF�RVF�B�1SJODFTB�*TBCFM�BHVBS�
EBWB�P�UFYUP�OP�1BÎP
�QBSB�TBODJPO�MP
�BWJTP�RVF�QSPWP�DPV�B�BNÈWFM�
réplica do orador: 
i7PV�UFSNJOBS��/ÍP�TF�GB[�FTQFSBS�EBNB�EF�UÍP�BMUB�IJFSBSRVJB�w�
Com esta frase respeitosa e galante estava fechado o ciclo glo�
rioso da Abolição no Brasil. Fechado, como devia ser, pelo Parla�
mento, represen tante de todo o povo. 
i4FOIPS Presidente, senhores Constituintes: 
Como membro mais idoso desta Assembléia NacionalConsti�
UVJOUF
�QFÎP�B�%FVT�RVF�B�JOTQJSF�OFTUFT�FYFNQMPT�JNPSSFEPVSPT�
EB� OPTTB� IJTUØSJB� F� OÍP� TF� JOnVFODJF� QFMPT� RVF� UFNFN� P� QSP�
gresso, em todas as suas formas. 
/ÍP�EFWFNPT� SFDFBS�NVEBOÎBT� RVF�OPT� MFWFN�B�VNB�OPWB�
"CPMJÎÍP
�B�EB�FYUSFNB�QPCSF[B
�B�EP�BOBMGBCFUJTNP
�B�EB�DBSÐODJB�
EF� IBCJUBÎÜFT
� EF� IJHJFOF
� EF� TBÞEF
� EF� UBOUBT� DBSÐODJBT� RVF�
tornam incompleta a liberdade e transformam a vida de muitos 
milhões de brasileiros, neste fim de século, em um cativeiro de 
homens livres. Marchemos para a Abolição da escravidão social.” 
Afonso Arinos

Representação de José 
Bonifácio à Assembleia 
Geral Constituinte 
Legislativa do Império 
do Brasil. 31

Projeto de Lei 
do Deputado 
Clemente Pereira 
extinguindo 
o comércio 
de escravos 
(31-12-1840). 51
Decreto dispondo 
sobre sentença 
de morte 
(11-9-1826). 51
Acordo Anglo-
Brasileiro (extinção 
do tráfico), de 
23-11-1826. 53

Projeto dispondo 
sobre pena de morte 
para os escravos 
(11-4-1829). 59

Projeto do Deputado 
Antônio F. França, 
acabando com a 
escravidão em 1880 
(15-5-1830). 63
Projeto dos Deputados 
B. P. de Vasconcelos, 
Mendes Viana, 
Duarte Silva e M. F. 
R. de Andrada, sobre 
venda em hasta 
pública de escravos do 
Arsenal de Marinha 
(17-7-1830). 63

Projeto dos deputados 
sobre: extinção 
da escravidão no 
Brasil, compra de 
alforria e liberdade 
para os africanos 
contrabandeados 
(16-6-1831) 67
Lei do Governo Feijó 
(Lei de 7-11-1831). 69

Decreto de 12-4-1832 
sobre exames de 
embarcações suspeitas 
de importação e 
reexportação de 
escravos. 75

Proposta do Ministro 
Aureliano de Souza 
sobre pena de 
morte para escravos 
que matassem ou 
ferissem seu senhor 
(10-6-1833). 81

Dois projetos do 
Senador J. A. 
Rodrigues de Carvalho 
sobre matrículas de 
escravos e apreensão 
de embarcações que 
tragam escravos 
(25-4-1834). 85
Sumário Cronológico
ïöðñ�ʹ�ïööñ

Lei no 4, de 10-6-1835 
(Pena de morte). 93
Projeto do Senador 
João V. de Carvalho, 
Conde de Lages, 
sobre a proibição de 
escravos no serviço 
dos estabelecimentos 
nacionais, exceto em 
agricultura ou criação 
(22-9-1835). 95

Decreto sobre direito 
de Petição de Graça 
ao Poder Moderador 
na pena de morte. 
(9-3-1837). 99
Projeto do Senado no 
133, do Marquês de 
Barbacena, proibindo 
a importação de 
escravos para o Brasil 
(30-3-1837). 100

Nota do Ministro 
Paulino J. S. de 
Souza sobre violação 
do Acordo Anglo-
Brasileiro de 1826 
(11-1-1844). 107

Protesto da Legação 
Imperial do Brasil em 
Londres contra o “Bill” 
(25-7 -1845). 121
O “Bill Aberdeen” 
(8-8-1845). 125
Protesto do Governo 
Imperial contra o 
“Bill Aberdeen” 
(22-10-1845). 129

Projeto do Deputado 
Silva Guimarães a 
favor da liberdade 
para os nascidos 
de ventre escravo 
(22-3-1850). 143
Projetos dos Senadores 
Holanda Cavalcanti e 
Cândido B. de Oliveira 
sobre tráfico de escravos 
(maio de 1850). 143
Pedido de discussão 
do art, 13 do PL no 
133/1837 do Marquês 
de Barbacena (Filisberto 
Caldeira Brant) sobre 
tráfico de escravos 
(12-7-1850). 156
Emendas ao PLS 
- 133/1837. 157
Lei no 581, de 4-9-
1850 (Lei Eusébio de 
Queiroz) sobre tráfico 
de africanos. 159
Decreto no 708, de 14-
10-1850, regulando a 
Lei no 581. 162

Projeto do Deputado 
Silva Guimarães 
considerando livres 
os que nascessem 
de ventre escravo, 
(4-6-1852). 179
Projeto contra 
tráfico de africanos 
(apud Perdigão 
Malheiro). 180

Resolução sobre 
a competência 
dos Auditores 
da Marinha para 
processar e julgar réus 
envolvidos em tráfico 
(23-9-1853). 185
Decreto nº 1.303 
emancipando, depois 
de quatorze anos, os 
africanos livres que 
foram arrematados por 
particulares. 187

Decreto nº 1.310, 
de 2-1-1854 manda 
executar a Lei de 10-
6-1835 sem recurso, 
salvo o do Poder 
Moderador, em caso 
de pena de morte 
para os escravos. 191
Lei nº 731, de 5-6-
1854 – punição para 
capitão ou mestre, 
Piloto ou contramestre 
de embarcação que 
fizesse tráfico de 
escravos. 192
Projetos nº 117 e s/nº 
do Barão de Cotegipe 
(J,M,Wanderlei) 
sobre comércio 
interprovincial 
de escravos e 
sobre alforria 
(11-8-1854). 193

Projeto do Senador 
Silveira da Mota 
proibindo a venda 
de escravos em 
leilões, pregões e 
exposições públicas 
(18-6-1860). 197

Projeto nº 39, de 
1862 do Senador 
Silveira da Mota 
proibindo venda 
de escravos em 
pregão e em 
exposição pública 
(9-5-1862). 205

Projeto do Senador 
Silveira da Mota 
relacionando os 
que não podem 
possuir escravos 
(26-1-1864). 211
Decreto nº 3,310, 
de 24-9-1864, 
concedendo 
emancipação a todos 
os africanos livres no 
Império. 212
Lei nº 1,237, de 24-9-
1864 considerando os 
escravos pertencentes 
às propriedades 
agrícolas como objeto 
de hipoteca e de 
penhor. 214

Projeto do Senador Visconde 
de Jequitinhonha sobre 
alforria para os “achados de 
vento”. 234
Projeto do Senador Visconde 
de Jequitinhonha sobre 
alforria aos escravos que 
estivessem sentando praça 
nos corpos de linha como 
voluntários. 236
Projeto do Senador Silveira da 
Motta proibindo estrangeiros 
residentes no Império de 
adquirirem ou possuírem 
escravos. 236
Projeto de resolução do 
Senador Visconde de 
Jequitinhonha considerando 
livre o ventre da escrava que 
tivesse sido legada ou doada 
para serviço, por determinado 
tempo, sem a transmissão 
de domínio e sem a cláusula 
expressa de voltar ao antigo 
cativeiro. 237

Exposição de Motivo do Marquês de São Vicente 
(Pimenta Bueno) ao Imperador apresentando projetos 
de sua autoria. 241
Projeto do Marquês de São Vicente, nº 1 – liberdade 
para os filhos de mulher escrava. 246
Projeto do Marquês de São Vicente, nº 2 – criação 
de junta central protetora da emancipação em cada 
província. 248
Projeto do Marquês de São Vicente, nº 3 – matrícula 
de escravos (isentos de taxa) na coletoria das 
respectivas paróquias ou municípios. 253
Projeto do Marquês de São Vicente, nº 4 – libertando 
todos os escravos em cinco anos. 255
Projeto do Marquês de São Vicente, nº 5 – 
emancipação dos escravos de ordens religiosas. 256
Trecho de Joaquim Nabuco sobre os projetos do 
Marquês de São Vicente. 258
Decreto da Assembléia Geral Legislativa 
estabelecendo o conceito de livre ventre (reprodução 
do original). 262
Projeto do Deputado Tavares Bastos mandando dar 
“cartas de alforria a todos os escravos e escravas da 
Nação” (aditivo à Lei do Orçamento) 26-6-1866. 264

Fala de Trono de 22.5.1867 
(cf, elemento servil). 267
Discurso de José Bonifácio, 
sobre as questões 
financeira e servil (sob 
enfoque econômico), em 
17.7.1867. 270
Projeto de José Thomaz 
Nabuco de Araújo sobre 
emancipação de escravos 
(fusão dos cinco projetos do 
Marquês de São Vicente, de 
1866). de 20-8-1867. 322
Redação final do Projeto de 
Nabuco de Araújo, assinado 
pela Comissão que o 
estudou. 327

Projeto no 3, de 15.8.1870, do Deputado Teodoro M. F. Pereira da 
Silva (sobre penas para escravos). 341
Projeto no 18, 23-5-1 870, do Deputado Araújo Lima (libertando 
os filhos de mulheres escravas). 342
Projeto no 19, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigão Malheiro 
(contra pena de açoites para escravos). 343
Projeto no 20, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigão Malheiro 
(sobre alforria). 344
Projeto no 21, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigão Malheiro 
(dando ao filho da mulher escrava a obrigação de servir 
gratuitamente ao senhor até 18 anos). 346
Projeto no 22, de 23-5-1 870, do Deputado Perdigão Malheiro 
(sobre alforria). 348
Projeto no 69, de 3-6-1 870, de Theodoro M, p, da Silva (registro 
de escravos). 348Projeto no 121, de 7-7-1 870, do Deputado José de Alencar 
(isenção de taxa dos escravos comprados para serem 
libertados). 350
Relatório da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, 
encarregada de dar Parecer sobre o elemento servil. 351
Projeto no 200, de 1.870, apresentado pela Comissão encarregada 
de dar Parecer sobre o elemento servil. 394
Voto em separado de Rodrigo da Silva (membro da Comissão 
encarregada de dar Parecer sobre o elemento servil). 400
Anexos do Parecer da Comissão. 427

Parecer da Comissão Especial nomeada para estudar o 
Projeto (contendo a proposta e as emendas). 465
Redação final do Projeto na Câmara. 520
Redação Final do Projeto no Senado. 525
Lei no 2.040 – de 28 de setembro de 1871. 525
Reprodução do original do texto final, do Projeto no 
Senado. 531
Decreto no 4.815, de 11-11-1871 , regulamentando o 
art. 6o do § 1o da Lei 2.040. 538
Decreto no 4.835, de 1o-12-1871, aprova o regulamento 
para a matrícula especial dos escravos e dos filhos livres 
de mulher escrava. 541

Decreto no 4.960, de 
8-5-1.872, alterando o 
regulamento aprovado 
pelo Decreto no 4.835, 
na parte relativa à 
matrícula dos filhos 
livres de mulher 
escrava. 563
Decreto no 5.135, 
de 13-11-1.872, 
regulamentando a Lei 
no 2.040, de 28-9-
1871 (Lei do Ventre 
Livre). 564

Projeto no 30, de 1869, do 
Deputado Manoel Francisco Correa, 
concedendo loterias para libertação 
de escravos. 335
Projeto no 31, de 1869, do Deputado 
Manoel Francisco Correa, mandando 
proceder a nova matrícula de 
escravos e considerando livres os que 
fossem dela excluídos. 336
Projeto s/no 1869, proibindo 
venda de escravos em leilão e em 
hasta pública, (ACD, 1869, T II, p, 
53). 337
Decreto no 1.695, de 15-9-1869, 
proibindo venda de escravos em 
pregão e em exposição pública. 337

Projeto “G”, de 
3-5-1.877, sobre o 
tráfico interprovincial 
(reprodução do 
original). 611
Projeto de Lei de 
8-10-1.877 (aditivo 
ao Projeto de Lei do 
Orçamento para 1.877 
-1.878) reprodução do 
original. 613

Manifesto da Sociedade 
Brasileira contra a 
escravidão. 619

Discurso do Senador Silveira da Mota, em 26-6-1883, 
sobre a sentença dada por Juiz de Direito de Pouso Alto a 
respeito da liberdade de africano introduzido como escravo 
no Brasil depois da Lei Feijó. 635
Discurso do Senador Lafayette, em 27-6-1883 sobre 
requerimento do Senador Silveira da Mota. 641
Discurso do Senador Christiano Ottoni, em 30-6-1883, 
na discussão do requerimento de Silveira da Mota e sobre 
matrícula de escravos. 645
Manifesto da Confederação Abolicionista do Rio de 
Janeiro. 671

Manifesto da 
Sociedade 
Abolicionista Baiana 
ressaltando o papel do 
legislador na luta pela 
Abolição e propondo 
medidas de libertação 
de escravos com 50 
anos (para homens) 
e 45 (para mulheres) 
e fixação do valor 
para o escravo e 
para seu trabalho (cf. 
auto-resgate pelo seu 
próprio serviço). 593
1823
A Representação de José Bonifácio de Andra-
da e Silva estava para ser apresentada à As-
sembleia Geral Constituinte Legislativa do 
Império do Brasil, quando ela foi dissolvida 
(--). José Bonifácio, junto com outros 
deputados, foi preso e deportado. Existia, to-
davia, uma cópia do documento com alguém de 
sua confiança, o que permitiu dela se tomasse 
conheci mento. Essa Representação foi publi-
cada em Paris no ano de . nela, José Boni-
fácio mostra a necessidade de abolir o tráfico 
da escravatura, de melhorar a forma de vida 
dos cativos e de “promover a sua progressiva 
emancipação”. 
Chama a atenção para o fato de sermos a “úni-
ca Nação de sangue europeu que ainda comer-
cia clara e publicamente escravos africanos”. 
A Representação é uma verdadeira diatribe 
contra Portugal, a Igreja e o Clero da época, 
assim como contra a ganância dos brasileiros 
explorando os escravos na lavoura. 
Conclui com a apresentação de um projeto em 
que solicita o término do comércio de escrava-
tura africana em quatro ou cinco anos, exor-
tando os legisladores a colabo rarem nesse 
trabalho. 
Ano t 
Representação de José Bonifácio
Representação 
de José Bonifácio 
à Assembleia 
Geral Constituinte 
Legislativa do 
Império do Brasil.
 Chegada a época feliz da regeneração política da Nação brasileira, 
e devendo todo o cidadão honrado e instruído concorrer para tão 
grande obra, também eu me lisonjeio que poderei levar ante a As-
sembleia Geral Consti tuinte e Legislativa algumas ideias, que o estu-
do e a experiência têm em mim excitado e desenvolvido. 
Como cidadão livre e deputado da Nação, dois objetos me pare-
cem ser, fora a Constituição, de maior interesse para a prosperidade 
futura deste Império. O primeiro é um novo regulamento para pro-
mover a civilização geral dos índios no Brasil, que farão com o andar 
do tempo inúteis os escravos - cujo esboço já comuniquei a esta As-
sembleia. E o segundo, uma nova lei sobre o comércio da escravatura 
e tratamento dos miseráveis cativos. Este assunto faz o objeto da atu-
al representação. Nela me proponho mostrar a necessidade de abolir 
o tráfico da escravatura, de melhorar a sorte dos atuais cativos, e de 
promover a sua progressiva emancipação. 
Quando verdadeiros cristãos e filantropos levantaram a voz pela 
primeira vez na Inglaterra contra o tráfico de escravos africanos, hou-
ve muita gente interesseira ou preocupada que gritou ser impossível 
ou não política a abolição porque as colônias britânicas não podiam 
escusar um tal comércio sem uma total destruição: todavia, passou 
o bill e não e arruinaram as colônias. Hoje em dia que Wilberforces 
e Buxtons trovejam de novo no Parlamento a favor da emancipação 
progressiva dos escravos, agitam-se outra vez os inimigos da huma-
nidade como outrora: mas espero da Justiça e generosidade do povo 
inglês, que se conseguirá a emancipação, como já se conseguiu a abo-
lição de tão infame tráfico. E porque os brasileiros somente continu-
aram a ser surdos aos gritos da razão e da religião cristã, e direi mais, 
da honra e brio nacional? Pois somos a única Nação de sangue euro-
peu que ainda comercia clara e publicamente os escravos africanos. 
Eu também sou cristão, filantropo e Deus me anima para ousar le-
vantar a minha fraca voz no meio desta augusta assembleia a favor da 
causa da justiça, e ainda da sua política, causa a mais nobre e santa, 
animar corações generosos e humanos. Legisladores, não temais os 
A Abolição no Parlamento:  anos de luta t Volume I

urros do sórdido interesse; cumpre progredir sem pavor na carreira 
da justiça e da regeneração política; mas todavia cumpre que sejamos 
precavidos e prudentes. Se o antigo despotismo foi insensível a tudo, 
assim lhe convinha ser por utilidade própria: queria que fôssemos 
um povo mesclado e hetero gêneo, sem nacionalidade, e sem irman-
dade, para melhor nos escravizar. Graças aos céus, e a nossa posição 
geográfica, já somos um povo livre e independente. 
Mas como poderá haver uma Constituição liberal e duradoura em 
um país continuamente habitado por uma multidão imensa de escra-
vos brutais e inimigos? Comecemos, pois, esta grande obra pela ex-
piação de nossos crimes e pecados velhos. Sim, não se trata somente 
de sermos justos, devemos também ser penitentes: devemos mostrar 
à face de Deus e dos outros homens que nos arrependemos, e tudo 
o que nesta parte temos obrado há séculos contra a justiça e contra 
a religião, que nos bradam acordes que não façamos aos outros o 
que queremos que não façam a nós. É preciso, pois, que cessem de 
uma vez os roubos, incêndios, e guerras que fomentamos entre os 
selvagens da África. É preciso que não venham mais a nossos por-
tos milhares e milhares de negros, que morriam abafados no porão 
de nossos navios, mais apinhados que fardos de fazenda: épreciso 
que cessem de uma vez todas essas mortes e martírios sem conta, 
com que flagelávamos e flagelamos ainda esses desgraçados em nos-
so próprio território. É tempo, pois, e mais que tempo, que acabemos 
com um tráfico tão bárbaro e carniceiro; é tempo também que vamos 
acabando gradualmente até os últimos vestígios da escravidão entre 
nós, para que venhamos a formar em poucas gerações uma Nação 
homogênea, sem o que nunca sere mos verdadeiramente livres, res-
peitáveis e felizes. É da maior necessidade ir acabando tanta hete-
rogeneidade f ísica e civil; cuidemos pois em combinar desde já, em 
combinar sabiamente tantos elementos discordes e contrários, e em 
amalgamar tantos metais diversos, para que saia um todo homogê-
neo e compacto, que não se esfarele ao pequeno toque de qualquer 
nova convul são política. Mas que ciência química e que desteridade 
não são precisas aos operadores de tão grande e dif ícil manipulação? 
Sejamos sábios e prudentes, porém, constantes sempre. 
Com efeito, senhores, nação nenhuma talvez pecou mais contra 
a huma nidade do que a portuguesa de que fazíamos outrora parte. 
Andou sempre devastando não só as terras da África e da Ásia, como 
Ano t 
disse Camões, mas igualmente as do nosso País. Foram os portugue-
ses os primeiros que, desde o tempo do infante D. Henrique, fizeram 
um ramo de comércio legal de prear homens livres e vendê-los como 
escravos nos mercados europeus e americanos. Ainda hoje, perto de 
40 mil criaturas humanas são anual mente arrancadas da África, pri-
vadas de seus lares, de seus pais, filhos e irmãos, transportadas às 
nossas regiões, sem a menor esperança de respirarem outra vez os 
pátrios ares, e destinadas a trabalhar toda a vida debaixo do açoite 
cruel de seus senhores, elas, seus filhos, e os filhos de seus filhos para 
todo e sempre! 
Se os negros são homens como nós e não formam uma espécie de 
brutos animais; se sentem e pensam como nós, que quadro de dor e 
de miséria não apresentam eles à imaginação de qualquer homem 
sensível e cristão? Se os gemidos de um bruto nos condoem, é im-
possível que deixemos de sentir também certa dor simpática com as 
desgraças e misérias dos escravos; mas tal é o efeito do costume e a 
voz da cobiça que veem homens correr lágrimas de outros homens, 
sem que estas lhes premam dos olhos uma só gota de compaixão e 
de ternura. Mas a cobiça não sente nem discorre como a razão e a 
humanidade. Para lavar-se pois das acusações que merecia lançou 
sempre mão e ainda agora lança de mil motivos capciosos, com que 
pretende fazer a sua apologia; diz que é um ato de caridade trazer 
escravos da África, porque assim, escapam esses desgraçados de se-
rem vítimas de despóticos reis; diz igualmente que, se não viessem 
esses escravos, ficariam privados da luz do evangelho, que todo cris-
tão deve promo ver e espalhar; diz que esses infelizes mudam de um 
clima e país ardente e horrível para outro doce, fértil e ameno; diz, 
por fim, que devendo os criminosos e prisioneiros de guerra serem 
mortos imediatamente pelos seus bárbaros costumes é um favor que 
se lhes faz, conservar a vida, ainda que seja em cativeiro. 
Homens perversos e insensatos! Todas essas razões apontadas va-
leriam alguma coisa se vós fosseis buscar negros à África para lhes 
dar liberdade no Brasil e estabelecê-los como colonos; mas perpetuar 
a escravidão, fazer esses desgraçados mais infelizes do que seriam, se 
alguns fossem mortos pela espada da injustiça, e até dar azos certos 
para que se perpetuem tais horrores é de certo um atentado manifes-
to contra as leis eternas da justiça e da religião. E por que continua-
ram e continuam a ser escravos os filhos desses africanos? Comete-
A Abolição no Parlamento:  anos de luta t Volume I

ram eles crimes? Foram apanhados em guerra? Mudaram de clima 
ruim para outro melhor? Saíram das trevas do paganismo para a luz 
do Evangelho? Não, todavia, seus filhos e filhos desses filhos devem, 
segundo vós, ser desgraçados para todo o sempre. Fala pois contra 
vós a justiça e a religião, e só vós podeis escorar no bárbaro direito 
público das antigas nações, e principalmente na farragem das chama-
das leis romanas: com efeito, os apologistas da escravidão escudam-
-se com os gregos e romanos, sem advertirem que entre os gregos e 
romanos não estavam ainda bem desenvolvidos e demonstrados os 
princípios eternos do direito natural e os da religião; e todavia, como 
os escravos de então eram da mesma cor e origem dos senhores, e 
igualmente tinham a mesma, ou quase igual, civilização que a de seus 
amos, sua indústria, bom comportamento e talentos os habilitavam 
facilmente a merecer o amor de seus senhores, e a consideração dos 
outros homens; o que de nenhum modo pode acontecer em regra aos 
selvagens africanos. 
Se ao menos os senhores de negros no Brasil tratassem esses 
miserá veis com mais humanidade, eu certamente não escusaria, mas 
ao menos me condoeria da sua cegueira e injustiça. Porém, o habi-
tante livre no Brasil, e mormente o europeu, é não só, pela maior par-
te, surdo às vozes da justiça e aos sentimentos do evangelho, mas até 
é cego a seus próprios interesses pecuniários e à felicidade doméstica 
da família. 
Com efeito, imensos cabedais saem anualmente deste Império 
para a África; e imensos cabedais se amortizam dentro deste vasto 
país, pela compra de escravos, que morrem, adoecem, e se inutili-
zam, e demais pouco trabalham. Que luxo inútil de escravatura tam-
bém não apresentam nossas vilas e cidades, que sem eles poderiam 
limitar-se a poucos e necessários criados? Que educação podem ter 
as famílias, que se servem destes entes infelizes, sem honra nem re-
ligião? De escravas que se prostituem ao primeiro que as procura? 
Tudo porém se compensa nesta vida; nós tiranizamos os escra vos, e 
os reduzimos a brutos animais, e eles nos inoculam toda a sua imo-
ralidade, e todos os seus vícios. 
E, na verdade, senhores, se a moralidade e a justiça social de qual-
quer povo se fundem, parte nas suas instituições religiosas e políticas 
e parte na filosofia, para dizer assim, doméstica de cada família, que 
quadro pode apresentar o Brasil, quando o consideramos debaixo 
Ano t 
destes dois pontos de vista? Qual é a religião que temos, apesar da be-
leza e santidade do Evangelho, que dizemos seguir? A nossa religião é 
pela maior parte um sistema de superstições e de abusos antissociais; 
o nosso clero, em muita parte ignorante e corrompido, é o primeiro 
que se serve de escravos, e os acumula para enriquecer pelo comér-
cio, e pela agricultura, e para formar, muitas vezes, das desgraçadas 
escravas um harém turco. As famílias não têm educa ção, nem a po-
dem ter com o tráfico de escravos, nada as pode habituar a conhecer 
e amar a virtude e a religião. Riquezas e mais riquezas gritam os nos-
sos pseudoestadistas, os nossos compradores e vendedores de carne 
humana; os nossos sabujos eclesiásticos; os nossos magistrados, se 
é que se pode dar um tão honroso título a almas, pela maior parte, 
venais, que só empunham a vara da Justiça para oprimir desgraça-
dos, que não podem satisfazer à cobiça, ou melhorar a sua sorte. E 
então, senhores, como pode grelar a justiça e a virtude e florescerem 
os bons costumes entre nós? Senhores, quando me emprego nestas 
tristes considerações, quase que perco de todo as esperanças de ver 
o nosso Brasil um dia regenerado e feliz, pois que se me antolha que 
a ordem das vicissitudes humanas está de todo invertida no Brasil. O 
luxo e a corrupção nasceram entre nós antes da civilização e da in-
dústria; e qual será a causa principal de um fenô meno tão espantoso? 
A escravidão, senhores, a escravidão, porque o homem, que conta 
com os jornais de seus escravos, vive na indolência, e a indolência 
traz todos os vícios após si. 
Diz porém a cobiça cega que os escravos são precisos no Bra-
sil,porque a gente dele é frouxa e preguiçosa. Mentem por certo. 
A Província de São Paulo, antes da criação dos engenhos de açúcar, 
tinha poucos escravos, e todavia crescia anualmente em povoação e 
agricultura, e sustentavam de milho, feijão, farinha, arroz, toucinhos, 
carnes de porco etc., a muitas outras províncias marítimas e interio-
res. Mas conceda-se (caso negado) que com efeito a gente livre do 
Brasil não pode com tantos trabalhos aturados da lavoura, como na 
Europa, pergunto, se produzindo o milho, por exemplo em Portugal, 
nas melhores terras quarenta por um, e no Brasil acima de duzentos, 
e as mais sementeiras à proporção; e estando as horas do trabalho 
necessário da lavoura na razão inversa do produto da mesma; para 
que se precisa de maior robustez e trabalhos mais aturados? Os la-
vradores da Índia são, porventura, mais robustos do que um branco, 
A Abolição no Parlamento:  anos de luta t Volume I

um mulato, um cabra do Brasil? Não por certo, e todavia não morre 
aquele povo de fome. E por que eles não têm escravos africanos, dei-
xam as suas terras de ser agricul tadas, e o seu país um dos mais ricos 
da Terra, apesar de sua péssima religião e governo, e da impolítica 
infernal da divisão em castas? 
Hoje em dia, a cultura dos canaviais e fabricação do açúcar têm 
crescido prodigiosamente, cujo produto já rivaliza nos mercados pú-
blicos da Europa com o do Brasil e ilhas do Golfo do México. 
Na Conchinchina não há escravos, e todavia a produção e expor-
tação do açúcar já montava em 1750, segundo nos diz o sábio Poivre, 
a 40 mil pipas de duas mil libras cada uma, e o seu preço era baratís-
simo no mercado; ora, advirta-se que todo este açúcar vinha de um 
pequeno país sem haver necessidade de estragar matas e esterilizar 
terrenos, como desgra çadamente entre nós está sucedendo. 
Demais, uma vez que acabe o péssimo método da lavoura de des-
truir matas e esterilizar terrenos em rápida progressão, e se forem in-
troduzindo os melhoramentos da cultura na Europa, de certo poucos 
braços, a favor dos arados e outros instrumentos rústicos, a agricul-
tura ganhará pés diaria mente, as fazendas serão estáveis, e o terreno, 
quanto mais trabalhado, mais fértil ficará. A natureza próvida e sábia 
em toda e qualquer parte do globo dá os meios precisos aos fins da 
sociedade civil, e nenhum país necessita de braços estranhos e força-
dos para ser rico e cultivado. 
Além disto, a introdução de novos africanos no Brasil não aumen-
ta a nossa população, e só serve de obstar a nossa indústria. Para 
provar a primeira tese bastará ver com atenção o censo de cinco ou 
seis anos passa dos, e ver-se-á que apesar de entrarem no Brasil, como 
já disse, perto de 40 mil escravos anualmente, o aumento desta classe 
é ou nulo, ou de muito pouca monta: quase tudo morre ou de misé-
ria, ou de desesperação, e todavia custaram imensos cabedais, que se 
perderam para sempre, e que nem sequer pagaram o juro do dinheiro 
empregado. 
Para provar a segunda tese, que a escravatura deve obstar a nossa 
indústria, basta lembrar que os senhores que possuem escravos vi-
vem, em grandíssima parte na inércia, pois não se vêem precisados 
pela fome ou pobreza a aperfeiçoar sua indústria, ou melhorar sua 
lavoura. Demais continuando a escravatura a ser empregada exclu-
sivamente na agricultura e nas artes, ainda quando os estrangeiros 
Ano t 
 pobres venham estabelecer-se no país, em pouco tempo, deixam de 
trabalhar na terra com seus próprios braços e logo que podem ter dois 
ou três escravos entregam-se à vadiação e desleixo, pelos caprichos 
de um falso pundonor. As artes não se melhoraram: as máquinas que 
poupam braços, pela abundância extrema de escravos nas povoações 
grandes são desprezadas. Causa raiva ou riso ver vinte escravos ocu-
pados em transportar vinte sacos de açúcar, que podiam conduzir 
uma ou duas carretas bem construídas com dois bois ou duas bestas 
muares. A lavoura do Brasil, feita por escravos boçais e preguiçosos, 
não dá os lucros com que homens, ignorantes e fanáticos se iludem. 
Se calculamos o custo da aquisição do terreno, os capitais emprega-
dos nos escravos que devem cultivar, o valor dos instrumentos rurais 
com que devem trabalhar cada escravo, sustento e vestuário, molés-
tias reais e afetadas e seu curativo, as mortes numerosas, filhas de 
mau tratamento e da desesperação, as repetidas fugidas aos matos e 
quilombos, claro fica que o lucro da lavoura deve ser muito pequeno 
no Brasil, ainda apesar da prodigiosa, fertilidade de suas terras, como 
mostra a experiência. 
No Brasil, a renda dos prédios rústicos não depende da exten-
são e valor do terreno, nem dos braços que o cultivam, mas sim da 
mera indústria e inteligência do lavrador. Um senhor de terra é de 
fato pobríssimo, se pela sua ignorância ou desmazelo não sabe tirar 
proveito da fertilidade de sua terra, e dos braços que nela emprega. 
Eu desejava, para bem seu, que os possuidores de grande escravatu-
ra conhecessem que a proibição do tráfico de carne humana os fará 
mais ricos; porque seus escravos atuais virão a ter então maior valor, 
e serão por interesse seu mais bem tratados. Os senhores promove-
rão os casamentos e estes à população. Os forros aumentando, para 
ganharem a vida, aforarão pequenas porções de terras descobertas 
ou taperas, que hoje nada valem. 
Os bens rurais serão estáveis, e a renda da terra não se confundirá 
com a do trabalho e indústria individual. 
Não são só estes males particulares que traz consigo a grande 
escravatura no Brasil, o Estado é ainda mais prejudicado. Se os se-
nhores de terras não tivessem uma multidão demasiada de escravos, 
eles mesmos aproveitariam terras já abertas e livres de matos, que 
hoje jazem abandonadas como maninhas. Nossas matas preciosas 
em madeiras de construção civil e náutica não seriam destruídas 
A Abolição no Parlamento:  anos de luta t Volume I

pelo machado assassino do negro, e pelas chamas devastadoras da 
ignorância. Os cumes de nossas serras, fonte perene de umidade e 
fertilidade para as terras baixas, e de circulação elétrica, não esta-
riam escalvados e tostados pelos ardentes estios do nosso clima. É 
pois evidente que, se a agricultura se fizer com os braços livres dos 
pequenos proprietários, ou por jornaleiros, por necessidade e inte-
resse serão aprovei tadas essas terras, mormente nas vizinhanças das 
grandes povoações, onde se acha sempre um mercado certo, pronto e 
proveitoso, e deste modo se conservarão, como herança sagrada para 
nossa posteridade, as antigas matas virgens, que pela sua vastidão e 
frondosidade caracterizam o nosso belo país. 
É de espantar pois que um tráfico tão contrário às leis da moral 
humana, e às santas máximas do evangelho, e até contra as leis de 
uma sã política, dure há tantos séculos entre homens que se dizem 
civilizados e cristãos! Mentem, nunca o foram. 
A sociedade civil tem por base primeira a justiça, e por fim prin-
cipal a felicidade dos homens; mas que justiça tem um homem para 
roubar a liberdade de outro homem, e o que é pior, dos filhos deste 
homem, e dos filhos destes filhos? Mas dirão que se favorecerdes a 
liberdade dos escravos será atacar a propriedade. Não vos iludais, 
senhores, a propriedade foi sancionada para bem de todos, e qual é 
o bem que tira o escravo de perder todos os seus direitos naturais, e 
se tornar de pessoa a coisa, na frase dos jurisconsultos? Não é pois 
o direito de propriedade que querem defender, é o direito da força, 
pois que o homem, não podendo ser coisa, não pode ser objeto de 
propriedade. Se a lei deve defender a propriedade, muito mais deve 
defender a liberdade pessoal dos homens, que não pode ser proprie-
dade de ninguém, sem atacar os direitos da providência, que fez os 
homens livres, e não escravos; sem atacar a ordem moral das socie-
dades, que é a execução estrita de todosos deveres prescritos pela 
natureza, pela religião e pela sã política: ora, a execução de todas 
estas obrigações é o que constitui a virtude; e toda legislação e todo 
governo (qualquer que seja a sua forma) que a não tiver por base, é 
como a estátua de Nabucodonosor, que uma pedra desprendida da 
monta nha a derribou pelos pés; é um edif ício fundado em areia solta, 
que a mais pequena borrasca abate e desmorona. 
Gritam os traficantes de carne humana contra os piratas barba-
rescos, que cativam por ano mil, ou dois mil brancos, quando muito, 
Ano t 
e não gritam contra dezenas de milhares de homens desgraçados, 
que arrancamos de seus lares, eternizando em dura escravidão toda 
a sua geração. Não basta responder que os compramos com o nos-
so dinheiro; como se dinheiro pudesse comprar homens! Como se a 
escravidão perpétua não fosse um crime contra o direito natural, e 
contra as leis do Evangelho, como disse. As leis civis, que consen tem 
estes crimes, são não só culpadas de todas as misérias que sofre esta 
porção da nossa espécie, e de todas as mortes e delitos que come-
tem os escravos, mas igualmente o são de todos os horrores, que em 
poucos anos deve produzir uma multidão imensa de homens deses-
perados, que já vão sentindo o peso insuportável da injustiça, que os 
condena a uma vileza e miséria sem fim. 
Este comércio de carne humana é pois um cancro que rói as en-
tranhas do Brasil, comércio, porém, que hoje em dia já não é preciso 
para aumento da sua agricultura e povoação, uma vez que, por sábios 
regulamentos, não se consinta a vadiação dos brancos, e outros ci-
dadãos mesclados, e a dos forros; uma vez que os muitos escravos 
que já temos, possam, às abas de um governo justo, propagar livre e 
naturalmente com as outras classes, uma vez que possam bem criar e 
sustentar seus filhos, tratando-se esta desgraçada raça africana com 
maior cristandade, até por interesse próprio; uma vez que se cuide 
enfim na emancipação gradual da escravatura, e se convertam brutos 
imorais em cidadãos úteis, ativos e morigerados. 
Acabe-se pois de uma vez o infame tráfico da escravatura africa-
na; mas com isto não está tudo feito; é também preciso cuidar seria-
mente em melhorar a sorte dos escravos existentes, e tais cuidados 
são já um passo dado para a sua futura emancipação. 
As leis devem prescrever estes meios, se é que elas reconhecem 
que os escravos são homens feitos à imagem de Deus. E se as leis os 
consideram como objetos de legislação penal, por que o não serão 
também da proteção civil? 
Torno a dizer porém que eu não desejo ver abolida de repente 
a escra vidão; tal acontecimento traria consigo grandes males. Para 
emancipar escra vos sem prejuízo da sociedade, cumpre fazê-los pri-
meiramente dignos da liberdade: cumpre que sejamos forçados pela 
razão e pela lei a convertê-los gradualmente de vis escravos em ho-
mens livres e ativos. Então os moradores deste Império, de cruéis 
que são em grande parte neste ponto, se tornarão cristãos e justos, 
A Abolição no Parlamento:  anos de luta t Volume I

e ganharão muito pelo andar do tempo, pondo em livre circulação 
cabedais mortos, que absorve o uso da escravatura: livrando as suas 
famílias de exemplos domésticos de corrupção e tirania; de inimigos 
seus e do estado; que hoje não têm pátria, e que podem vir a ser nos-
sos irmãos, e nossos compatriotas. 
O mal está feito, senhores, mas não o aumentemos cada vez mais; 
ainda é tempo de emendar a mão. Acabado o infame comércio de 
escravatura, já que somos forçados pela razão política a tolerar a 
existência dos atuais escravos, cumpre em primeiro lugar favorecer 
a sua gradual emancipação, e antes que consigamos ver o nosso país 
livre de todo deste cancro, o que levará tempo, desde já abrandemos 
os sofrimentos dos escravos, favore çamos e aumentemos todos os 
seus gozos domésticos e civis; instruamo-los no fundo da verdadeira 
religião de Jesus Cristo, e não em momices e supers tições: por todos 
estes meios nós lhes daremos toda a civilização de que são capazes 
no seu desgraçado estado, despojando-os o menos que puder mos da 
dignidade de homens e cidadãos. Este é não só o nosso dever, mas o 
nosso maior interesse, porque só então conservando eles a esperança 
de virem a ser um dia nossos iguais em direitos, e começando a gozar 
desde já da liberdade e nobreza da alma, que só o vício é capaz de 
roubar-nos, eles nos servirão com fidelidade e amor; de inimigos se 
tornarão amigos e clientes. Sejamos pois justos e benéficos, senhores, 
e sentiremos dentro da alma que não há situação mais deliciosa que 
a de um senhor carinhoso e humano, que vive sem medo e contente 
no meio de seus escravos, como no meio da sua própria família, que 
admira e goza do fervor com que esses desgraçados adivinham seus 
desejos, e obedecem a seus mandos, observa com júbilo celestial e 
como maridos e mulheres, filhos e netos, sãos e robustos, satisfeitos 
e risonhos, não só cultivam suas terras para enriquecê-lo, mas vêm 
voluntariamente oferecer-lhe até as premissas dos frutos de suas ter-
rinhas, de sua caça e pesca, como a um Deus tutelar. É tempo pois, 
que esses senhores bárbaros, que por desgraça nossa ainda pululam 
no Brasil, ouçam os brados de consciência e da humanidade ou pelo 
menos o seu próprio interesse, senão mais cedo do que pensa, serão 
punidos das suas injustiças, e da sua incorrigível barbaridade. 
Eu vou, finalmente, senhores, apresentar-vos os artigos, que po-
dem ser objeto da nova lei que requeiro: discuti-os, emendai-os, am-
pliai-os segun do a vossa sabedoria e justiça. Para eles me aproveitei 
Ano t 
da legislação dos dinamarqueses e espanhóis, e principalmente da 
legislação de Moisés, que foi o único, entre os antigos, que se con-
doeu da sorte miserável dos escravos, não só por humanidade, que 
tanto reluz nas suas instituições, mas também pela sábia política de 
não ter inimigos caseiros, mas antes amigos, que pudessem defender 
o novo Estado dos hebreus, tomando as armas, quando preciso fosse, 
a favor de seus senhores, como já tinham feito os servos do patriarca 
Habrahão antes dele. 
Artigo º 
Dentro de quatro a cinco anos cessará inteiramente o comércio da 
escravatura africana; e durante este prazo, de todo escravo varão que 
for importado se pagará o dobro dos direitos existentes; das escravas 
porém só a metade; para se favorecer os casamentos. 
Artigo º
Todo escravo, que for vendido depois da publicação desta Lei, quer 
seja vindo da África, quer dos já existentes no Brasil, será registrado 
em um livro público de notas, no qual se declarará o preço por que 
foi vendido. Para que este artigo se execute à risca fica autorizado 
qualquer cidadão a acusar a sua infração, e provado o fato, receberá 
metade do valor do escravo dos contratantes que o subnegaram ao 
registro. 
Artigo º
Nas alforrias dos escravos, cujo preço de venda não constar do re-
gistro, se procederá a uma avaliação legal por jurados, um dos quais 
será nomeado pelo senhor, e outro pela autoridade pública a quem 
competir. 
Artigo º
Nestas avaliações se atenderá aos anos de cativeiro e serviço do es-
cravo, ao estado de saúde, à idade do mesmo: por exemplo, as crian-
ças até um ano só pagarão o 12° do valor do homem feito; as de um 
até cinco só o sexto; as de cinco até 15 dois terços; as de 15 até 20 três 
quartos; de 20 até 40 o preço total; e daí para cima irá diminuindo o 
valor à proporção. 
Artigo º 
Todo escravo, ou alguém por ele, que oferecer ao senhor o valor por 
que foi vendido, ou porque for avaliado, será imediatamente forro.
A Abolição no Parlamento:  anos de luta t Volume I

Artigo º
Mas se o escravo, ou alguém por ele, não puder pagar todo preço por 
inteiro, logo que apresentar a sexta parte dele, será o senhor obrigado 
a recebê-la, e lhe dará um dia livre na semana, e assim

Outros materiais