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A Abolição no Parlamento 65 anos de lutas Volume i 2a Edição Brasília - 2012 1823 - 1888 Senado Federal Mesa Biênio 2011/2012 Senador José Sarney Presidente Senador Anibal Diniz 1o Vice-Presidente Senador Waldemir Moka 2o Vice-Presidente Senador Cícero Lucena 1o Secretário Senador João Ribeiro 2o Secretário Senador João Vicente Claudino 3o Secretário Senador Ciro Nogueira 4o Secretário Suplentes de Secretário Senador Casildo Maldaner Senador João Durval Senadora Maria do Carmo Alves Senadora Vanessa Grazziotin Doris Marize Romariz Peixoto Diretora-Geral Claudia Lyra Nascimento Secretária-Geral da Mesa A Abolição no Parlamento: anos de luta 7ğĜĥĝĕ�*���t���˪˱˫ˬ�đ�˪˱˱ˬ SENADO FEDERAL A Abolição no Parlamento: anos de luta ˪˱˫ˬ��˪˱˱˱ Volume I Secretaria Especial de Editoração e Publicações _ SEEP Brasília t��˫˩˪˫ ˫�ĕĔęşśğ� Créditos Revisão Bárbara Aguiar, Marco Aurélio Couto, Fernando Varela, Rafael Chervenski, Maria Suely Bueno, Maria Maciel, Marianna de Carvalho, Thaíza dos Santos, Thalita de Araújo, Luísa Lima, Jhessyka Cotrim, Kátia Priess Coordenação-geral de revisão Cândida do Amaral Diagramação eletrônica Jackson Ferreira Barbosa, Raimilda Bispo dos Santos, Valdete Cardoso da Silva, José Batista de Medeiros, Ana Farias, Rodrigo Melo, Raul Grilo, Fabiana dos Santos, Marcus Victor do E. Santo Produção digital dos originais Aurílio Jonhson Alves de Ribeiro, Jackson Ferreira Barbosa Projeto gráfico e organização Ana Farias, Eduardo Perácio, Raul Grilo, Rodrigo Melo Coordenador-geral da produção Eduardo Perácio Iniciativa da Segunda Edição Diretoria-Geral Acordo de Cooperação Técnica no 001/2012 entre Senado Federal e Secretaria de Políticas de Promoção da Iguadade Racial. 1SPHSBNB�1SØ�&RVJEBEF�EF�(ÐOFSP�F�3BÎB�EP�4FOBEP�'FEFSBM� "� BCPMJÎÍP� OP� QBSMBNFOUP� �� ��� BOPT� EF� MVUB � ��������� � � ��� BQSFTFOUBÎÍP�EP�QSFTJEFOUF�+PTÏ�4BSOFZ��o����FE����� Brasília : Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 2012. 2 v. Inclui bibliografia 1. Abolição da escravidão – Brasil. 2. Abolicionismo – 3. Escravidão no Brasil – I. Brasil. Congresso Nacional. � 4FOBEP�'FEFSBM��4FDSFUBSJB�EF�"SRVJWP�o�**��4ÏSJF�� CDD 326 "QSFTFOUBÎÍͼ�t�ð�FEJÎÍͼ� ðîïð Durante as comemorações do centenário da Abolição, o Senado Fe� deral publicou coletânea de documentos sobre a luta pelo fim da es� DSBWJEÍP�OP�#SBTJM�OPT����BOPT�RVF�USBOTDPSSFSBN�FOUSF�B�OPTTB�QSJ� meira Assembleia Constituinte – a de 1823 – e a Lei Áurea. Esta obra é reeditada agora, na tarefa sempre importante de lembrar uma data DFOUSBM�EB�WJEB�CSBTJMFJSB �F �BJOEB�F�TFNQSF �OB�FTQFSBOÎB�EF�RVF�TBJ� CBNPT�SFTHBUBS�UPEP�P�IPSSPS�RVF�FMB�RVJT�EFJYBS�QBSB�USÈT��-FNCSBS� B�"CPMJÎÍP�Ï�OÍP�FTRVFDFS�B�USBHÏEJB�EB�FTDSBWJEÍP� Em 13 de março de 1888, as ruas da Capital do Brasil tinham o QPWP�FN�GFTUB �OB�FYBMUBÎÍP�EPT�IFSØJT�EB�WJUØSJB��"�MVUB�TF�FTUFOEFSB� por 70 dos 300 anos de sofrimento e opróbrio da raça negra. Chegara BP�mN�DPN�B�MJCFSUBÎÍP�EPT���������RVF�BJOEB�FSBN�FTDSBWPT�OBRVFMF� mN�EF�TÏDVMP�o�OÞNFSP�RVF�EFTNFOUF�P�NJUP�EF�RVF�KÈ�QSBUJDBNFOUF� não havia escravidão no Brasil. A lei é singela: é declarada extinta desde a data desta lei a escravi- dão no Brasil. &SB�BQFOBT�VN�QFRVFOP�UFYUP�MFHBM �NBT�TVBT�QBMBWSBT� F�BMDBODF�DPOTUJUVÓBN�TBOHVF �EPS �TPGSJNFOUP�F� MVUB��0�UFYUP�FSB�B� TPNB�EF�UBOUPT�IFSØJT�F�NÈSUJSFT�RVF �QFMB�WJEB�F�QFMB�QBMBWSB �BCSB� ÎBSBN�B�DBVTB�EB�MJCFSEBEF��/BCVDP�BmSNBWB�RVF�FSB�TØ�P�DPNFÎP� de uma grande caminhada. É um clarão de liberdade, mas apenas uma porta de entrada numa imensa obra de resgate de mulheres e IPNFOT �DSJBOÎBT�F�WFMIPT �RVF�IBWJBN�TJEP�FTDSBWPT�PV�FSBN�EFT� DFOEFOUFT� EF� FTDSBWPT�� 6NB� PCSB� RVF� OÍP� SFBMJ[BNPT � RVF� OVODB� realizaremos em sua plenitude – pois ficará para sempre a mancha JOEFMÏWFM�EP�TPGSJNFOUP�o �NBT�RVF�QSFDJTBNPT�OPT�FTGPSÎBS �B�DBEB� EJB �UPEPT�PT�EJBT �TFNQSF �QBSB�SFBMJ[BS��5VEP�RVF�GPS�GFJUP�QBSB�EJT� criminar favoravelmente o negro será sempre incomensuravelmente NFOPT� EP� RVF� P� RVF� GPJ� GFJUP� QBSB� EJTDSJNJOÈ�MP� OFHBUJWBNFOUF � F� NFOPT�UBNCÏN�EP�RVF�Ï�B�EJTDSJNJOBÎÍP�RVF�BJOEB�TPGSF� A história da escravidão africana no Ocidente é tristemente li� gada a nossa história. Ela começou com as navegações portuguesas na costa da África, com a introdução do escravo negro na Europa. Descoberto o Brasil, o primeiro pensamento foi o da escravidão do indígena. O Padre Manuel da Nóbrega começou o combate contra FTTB�EFTHSBÎB �DPNCBUF�EF�RVF�GPJ�DBNQFÍP�P�1BESF�"OUÙOJP�7JFJSB�� Pelo combate dos jesuítas, pela inaptidão dos índios para os grandes esforços de nossa primeira indústria, logo vieram os negros. Já no TÏDVMP�97*�P�OÞNFSP�EF�FTDSBWPT�OFHSPT�OP�#SBTJM�JHVBMPV�TF�BP�EB� população branca. Não pensemos apenas na falta da liberdade de ir e vir, de decidir TFV�EFTUJOP��"�FTDSBWJEÍP�FSB�VNB�UPSUVSB�DPOUÓOVB �TFN�MJNJUFT�RVF� não fossem a morte e o desespero. Durante todo o século XVII concorreram no Brasil a luta contra a escravidão do indígena brasileiro e a aceitação da escravidão do afri� DBOP��"�DBOB�EF�BÎÞDBS�NPTUSPV�TF�P�ÞOJDP�JOTUSVNFOUP�FDPOÙNJDP� da colonização. Assentava ela no uso brutal e completo da servidão negra. Nem um vislumbre de luz pode ser encontrado. Os mercados de madeira e especiarias ficaram sempre no patamar do sonho e da fantasia. O País – os dois Estados, o do Brasil e o do Maranhão – vi� WJB�OB�QPCSF[B�FYUSFNB� No Diálogos das Grandezas do Brasil, um dos primeiros livros brasileiros, Ambrósio Fernandes Brandão lembra as condições de OPTTB�NJTÏSJB �F�FYQMJDB��i&�UPEPT �BTTJN�VOT�DPNP�PVUSPT �GB[FN�TVBT� MBWPVSBT�F�HSBOKFBSJBT�DPN�FTDSBWPT�EF�(VJOÏ �RVF�QBSB�FTTF�FGFJUP� DPNQSBN�QPS�TVCJEP�QSFÎP��F�<���>�P�EP�RVF�WJWFN�Ï�TPNFOUF�EP�RVF� granjeiam com os tais escravos”. O capital, mostrou Celso Furtado, tinha um efeito perverso: era NBJT�CBSBUP�SFQPS�BT�iQFÎBTw�o�BTTJN�NFTNP�FSBN�USBUBEPT �DPNP� OÍP�FOUFT �DPNP�QFEBÎPT�EF�FRVJQBNFOUP�o�EP�RVF�EBS�MIFT�VN�NÓ� OJNP�EF�DPOEJÎÍP�EF�TPCSFWJWÐODJB��NBJT�CBSBUP�VTBS�TFN�NBOVUFO� ÎÍP�F�SFQPS�EFQPJT�EP�RVF�HBTUBS�DPN�iUBYB�EF�NBOVUFOÎÍPw�F�QSPMPO� HBS�B�WJEB�EP�iBOJNBMw�o�UBNCÏN�BTTJN�FSBN�USBUBEPT� No Brasil, como já tinha acontecido nos Açores e em Cabo Ver� de, os negros se adaptaram com facilidade ao monótono trabalho do BÎÞDBS�F�ËT�DPOEJÎÜFT�OBUVSBJT��0T�OÞNFSPT�TÍP�FMPRVFOUFT��FSBN���� mil no fim do século XVI, mais de 150 mil no fim do século XVII. Ao MPOHP�EP�TÏDVMP�97***�F�BUÏ�B�*OEFQFOEÐODJB �GPSBN�USB[JEPT�UBMWF[� mais dois milhões. A ideia abolicionista surgiu no fim do século XVIII, e suas pri� NFJSBT�DPOTFRVÐODJBT�GPSBN�P�BMWBSÈ�EF�BCPMJÎÍP�HSBEVBM�EF�%��+PTÏ� *�o�RVFS�EJ[FS �EF�1PNCBM�o�EF����� �o Pennsylvania Gradual Aboli- tion Act, de 1780, e a proibição do tráfico pela Dinamarca em 1792 e pela Inglaterra em 1807/08. Nas regiões escravistas a emancipação começou 40 anos depois da Revolução Francesa e se concretizou em menos de 60 anos. Um único episódio teve um rumo diferente, o da JOEFQFOEÐODJB�EP�)BJUJ �DPN�TFV�IFSPÓTNP�F�TVB�USBHÏEJB� Na Inglaterra, o problema estava relacionado com a situação ame� SJDBOB��"UÏ�B�JOEFQFOEÐODJB�BNFSJDBOB �P�USÈmDP�EF�FTDSBWPT�B�GPS� talecia. A primeira moção para proscrever a escravidão na Casa dos Comuns é de 1776. Nessa época, num dos esboços da Declaração de *OEFQFOEÐODJB �P�3FJ�(FPSHF�***�FSB�BDVTBEP�EF�QBSUJDJQBS�EP�USÈm� DP��"QFTBS�EB�QSFTTÍP�RVF�B�*OHMBUFSSB�GB[�OP�DPNFÎP�EP�TÏDVMP�9*9� DPOUSB�P�USÈmDP�o�RVF�B�FTUB�BMUVSB�B�FOGSBRVFDJB�o �B�BCPMJÎÍP�OBT� DPMÙOJBT�JOHMFTBT�TØ�TF�EÈ�FN������ Nos Estados Unidos, o compromisso para se fazer a sua grande $POTUJUVJÎÍP�QBTTB�QFMP�TJMÐODJP�TPCSF�B�RVFTUÍP�EP�OFHSP��&TTF�BEJB� mento foi pago, mais tarde,com a tragédia da guerra civil. Na França, FN����� �B�%FDMBSBÎÍP�EPT�%JSFJUPT�EP�)PNFN�F�EP�$JEBEÍP�DBMB� sobre o assunto, e só em 1794 a Convenção proclama a abolição. Mas em 1801 volta a escravidão, para ser abolida definitivamente em 1848. /P�#SBTJM �+PTÏ�#POJGÈDJP�QFOTBWB�RVF�P�FRVBDJPOBNFOUP�EB�MJCFS� dade dos negros, com sua integração completa à sociedade, era uma QSFMJNJOBS�EB�EFmOJÎÍP�EP�&TUBEP��/BRVFMFT�EJBT�EB�JOEFQFOEÐODJB � RVBOEP�TBJV�EF�TVB�BQPTFOUBEPSJB�QBSB�GB[FS�EP�#SBTJM�VNB�OBÎÍP�F� uma só nação, escreveu sua Representação sobre a escravatura. $MBNBWB�RVF�FSB�UFNQP�EF�DPNFÎBS�B�iFYQJBÎÍP�EF�OPTTPT�DSJNFT� e pecados velhos”. E insistia: educação, amparo à maternidade e à WFMIJDF �JOUFHSBÎÍP�FDPOÙNJDB�F�TPDJBM�UÐN�RVF�BDPNQBOIBS�B�FYUJO� ÎÍP�EP�USÈmDP�F�B�MJCFSUBÎÍP��&N����� �EP�FYÓMJP�OB�'SBOÎB �MFNCSBWB�� i4FN�B�FNBODJQBÎÍP�EPT�BUVBJT� DBUJWPT�OVODB�P�#SBTJM�mSNBSÈ� TVB� JOEFQFOEÐODJB� OBDJPOBM� F� TFHVSBSÈ� F� EFGFOEFSÈ� B� TVB� MJCFSBM� DPOT� tituição. Sem liberdade individual não pode haver civilização, nem TØMJEB�SJRVF[B��OÍP�QPEF�IBWFS�NPSBMJEBEF�F�KVTUJÎB �F�TFN�FTUBT�mMIBT� do Céu, não há nem pode haver brio, força e poder entre as nações”. A lei de 7 de novembro de 1831, proibindo o tráfico e emancipan� EP�PT�BGSJDBOPT �OVODB�GPJ�PCTFSWBEB��&MB�FSB�DMBSB��i"SU���¡�5PEPT�PT� FTDSBWPT�RVF�FOUSBSBN�OP�UFSSJUØSJP�PV�QPSUPT�EP�#SBTJM �WJOEPT�EF� fora, ficam livres”. Ela significava a liberdade de pelo menos metade EPT�FTDSBWPT �OBRVFMF�NPNFOUP �F�EF�NBJT�VN�NJMIÍP�USB[JEPT�BOUFT� EF����� �RVBOEP�P�USÈmDP�Ï�DPOUJEP��.BT �OP�DPOKVOUP�B� MFHJTMBÎÍP� CSBTJMFJSB�UJOIB�VN�WB[JP�KVSÓEJDP�RVF �MJUFSBMNFOUF �DPMPDBWB�PT�FT� DSBWPT�GPSB�EB�MFJ��5FPSJDBNFOUF�RVFN�WJWJB�OP�#SBTJM�PV�FSB�DJEBEÍP� brasileiro – e portanto, sob a proteção da Constituição, não poderia ser escravizado – ou era estrangeiro ou apátrida – e a lei brasilei� SB�OÍP�QPEJB�BMDBOÎÈ�MP��5ÍP�HSBOEF�FSB�B�DPOTDJÐODJB�EB�IJQPDSJTJB� DPOWFOJFOUF�RVF�OVODB�TF�NFYFV�OB�MFJ�EF����� �QPJT�TJHOJmDBSJB�SF� DPOIFDFS�B�FYJTUÐODJB�EB�DPOUSBEJÎÍP��®�EFTGBÎBUF[�EBT�"TTFNCMFJBT� EF�#BIJB�F�.JOBT�RVF�QFEJBN�B�SFWPHBÎÍP�EB�MFJ�QBSB�OÍP�TFSFN�PCSJ� HBEPT�B�WJPMÈ�MB�UPEPT�PT�EJBT �TPNBWB�TF �NBJT�GPSUF �P�TJMÐODJP�DPO� veniente de magistrados e legisladores. Até a campanha abolicionista, a escravidão nunca conseguiu se UPSOBS�VN�UFNB�EP�QFOTBNFOUP�OBDJPOBM��"P�MPOHP�EB�DPMÙOJB �PV� WJV�TF�BQFOBT�B�WP[�EPT�KFTVÓUBT�DPOUSB�B�FTDSBWJEÍP�EP�ÓOEJP��"T�NB� OJGFTUBÎÜFT�F �TPCSFUVEP �BT�WJPMÐODJBT �DPNP�BT�EBT�HVFSSBT�EBT�NJT� TÜFT �PT�CPUB�GPSB�EPT�QBESFT �PT�NFEPT�QSPWPDBEPT�QFMBT�JODVSTÜFT� dos capitães do mato e dos bandeirantes, tudo isso se passava em argumentos esporádicos, junto à Corte, junto aos ministros, junto à Igreja. Não era uma discussão brasileira. A escravidão negra, em si, era tratada com grande naturalidade, DPNP�VN�GBUP�EB�WJEB��"T�SBSBT�WP[FT�TÍP�FYDFÎÜFT��/ÍP�QBSFDF�IBWFS� NBJT�RVF�B�BDFJUBÎÍP�EP�NBSUÓSJP��0T�1BMNBSFT�TÍP�WJTUPT�DPNP�VNB� ruptura da ordem, como um desafio ao Estado, não como um dra� ma social, como uma tragédia humana. A análise de Vieira, em sua WFMIJDF�EF�WJTJUBEPS�OB�#BIJB �EF�RVF�B�ÞOJDB�TPMVÎÍP�QBSB�P�DPOnJUP� TFSJB�B�iMJCFSBM�F�TFHVSB�MJCFSEBEFw �EBEB�B�JNQPTTJCJMJEBEF�OBUVSBM�EP� IPNFN�TF�DPOGPSNBS�DPN�B�FTDSBWJEÍP�o�F�RVF� MFWBSJB � MFNCSBWB � Ë�EJTTPMVÎÍP�EP�&TUBEP�FTDSBWPDSBUB�RVF�FSB�P�#SBTJM�o �B�BOÈMJTF�EF� Vieira parecia ser só mais uma doidice do velho sonhador. Os homens do sonho mineiro não chegaram a formular o proble� NB��.BJT�UBSEF�PT�EPDVNFOUPT�EPT�"OESBEBT �EF�"OUÙOJP�$BSMPT�FN� 1817, de José Bonifácio em 1823, nunca foram debatidos ou contesta� dos: foram ignorados. Talvez, como levantava Nabuco, tivessem tido parte em seu ostracismo, dada a notória ligação dos vencedores de 1823 com os interesses escravagistas. A coligação dos interesses de proprietários rurais e traficantes foi B�GPSÎB�EPNJOBOUF�EB�QPMÓUJDB�CSBTJMFJSB��'BMBOEP�EP�HSBOEF�QBTTP�RVF� GPJ�B� MFJ�EF���EF�TFUFNCSP�EF����� �&VTÏCJP�EF�2VFJSØT�EJ[JB�RVF�P� USÈmDP�TØ�BDBCPV�iQFMP�JOUFSFTTF�EPT�BHSJDVMUPSFT �DVKBT�QSPQSJFEBEFT� estavam passando para as mãos dos especuladores e traficantes de escravos”. Essa força segurava as discussões, até mesmo no Conselho de Estado, com Nabuco de Araújo, Pimenta Bueno (a voz de Pedro ** �QFMB�FNBODJQBÎÍP�HSBEVBM � +FRVJUJOIPOIB �4PV[B�'SBODP �4BMMFT� 5PSSFT�)PNFN�DPNCBUJEPT�QPS�0MJOEB �1BSBOIPT �&VTÏCJP �RVBOEP� mOBMNFOUF�TF�EJTDVUF�B�MJCFSEBEF��'PSÎB�RVF�GBSÈ�DPN�RVF�PT�HSBOEFT� passos sejam dados pelos conservadores, com Eusébio, Rio Branco e Ouro Preto. Feita a abolição, os negros foram tratados como um fundo de ta� cho, sem importância bastante para receber uma atenção especial do Estado. A República os ignorou. Quando o pensamento brasilei� SP� TF�WPMUPV�OPWBNFOUF�QBSB�FMFT � DPN�P�HÐOJP�EF�(JMCFSUP�'SFJSF � DPOTUBUPV�TF�TFV�QBQFM�GVOEBNFOUBM�FN�OPTTB�GPSNBÎÍP��NBT�EFNP� ramos para tratar do problema da integração social, do resgate de OPTTB�EÓWJEB �EP�HJHBOUFTDP�QSPCMFNB�IVNBOP�RVF�BMJFOPV�FOUSF�PT� mais pobres dos mais pobres toda uma parte dos brasileiros, tornan� EP� P� CSBORVFBNFOUP�OFDFTTJEBEF� GVOEBNFOUBM� EB� BTDFOTÍP� TPDJBM�� O negro continuou, ao longo do tempo, sendo tratado como um não humano, como coisa, sem direitos. "�"CPMJÎÍP�GPJ�VNB�DPOTUSVÎÍP�DPMFUJWB �FN�RVF�TF�FNQFOIBSBN � numa união nunca vista, negros e brancos. Foi um esforço de mobi� MJ[BÎÍP�TPDJBM�F�QPQVMBS �RVF�FNQPMHPV�P�#SBTJM��"�IJTUØSJB�EB�MVUB�Ï� simples: é a história da tentativa dos proprietários – de terra e de es� DSBWPT �RVF�UVEP�WJOIB�B�EBS�OP�NFTNP�o�EF�JNQFEJS�F�BEJBS�B�FNBO� cipação; a luta do desespero contra a esperança. Vencida a batalha do tráfico, os proprietários se empenharam para impedir a abolição. Um CBOEP�EF�IPNFOT�GPJ�B�QFRVFOB�MJOIB�EF�GSFOUF�EP�FOPSNF�FYÏSDJUP� preso ao eito. Seus nomes são sagrados, como se diria na oratória EBRVFMB�ÏQPDB �F�PT�EFWFNPT�EFDMJOBS�DPN�SFWFSÐODJB��BMHVOT�UJOIBN� sido escravos, como Luís Gama; outros eram descendentes de escra� vos, como André Rebouças, Ferreira de Meneses, José do Patrocí� OJP �7JDFOUF�EF�4PVTB �'SBODJTDP�(Ð�"DBJBCB�EF�.POUF[VNB��PVUSPT� FSBN�CSBODPT � DPNP� +FSÙOJNP�4PESÏ �3VJ�#BSCPTB �(VTNÍP�-PCP � /JDPMBV�.PSFJSB �+PÍP�$MBQQ �"OUÙOJP�1SBEP �$BTUSP�"MWFT �+PBRVJN� Serra, Ângelo Agostini, Sousa Dantas, José Bonifácio o Moço, Cris� tiano Ottoni, João Alfredo. Foram jornalistas, advogados, escritores, políticos. 0�HSBOEF�MÓEFS�EF�UPEPT�FMFT�GPJ�+PBRVJN�/BCVDP��2VBOEP�DIFHB�Ë� Câmara dos Deputados é a voz da liberdade, amada como nenhuma PVUSB�P�GPJ�FN�OPTTB�IJTUØSJB��/BCVDP�DPOTUBUB�B�JOTVmDJÐODJB�EB�MFJ� de 28 de setembro – por ela a escrava nascida a 27 de setembro de �����QPEFSJB�TFS�NÍF�FN������EF�VN�EPT�DIBNBEPT�JOHÐOVPT �RVF� ficaria em cativeiro provisório até 1932 – e coloca a Abolição como a RVFTUÍP�GVOEBNFOUBM�EP�1BÓT� A repercussão da mensagem de Nabuco é universal, corre mundo e, sobretudo, percorre o Brasil. No ano de 1884, a vitória parece pró� YJNB��/P�$FBSÈ �POEF�PT�KBOHBEFJSPT�IBWJBN�UPNBEP�B�JOJDJBUJWB�EF� OFHBS�P�USBOTQPSUF�EPT�FTDSBWPT�BPT�OBWJPT �GB[�TF�B�FNBODJQBÎÍP�OP� dia 25 de março. A 20 de junho é a vez do Amazonas. &ORVBOUP� JTUP � PT� MJCFSBJT� IBWJBN�TF� UPSOBEP� BCPMJDJPOJTUBT�� 0� Imperador chama Dantas para formar Ministério. Mas seu progra� NB�OÍP�TBUJTGB[��/P�iA pedidos” do Jornal do Commercio, Gusmão -PCP � DPNP� i$MBSLTPOw, 3VJ� #BSCPTB � DPNP� iGrey”, Nabuco como iGarrisonw � iPT� JOHMFTFTw � GB[FN�VN�DPNCBUF�EJÈSJP��%P�PVUSP� MBEP � PT�iDMVCFT�EB�MBWPVSBw�GPSNBN�TF�F�QSFQBSBN�TF�QBSB�B�MVUB�BSNBEB�� O projeto emancipacionista, apresentado por Dantas, não consegue passar. A Câmara é dissolvida. Mas as iniciativas do Ceará e do Amazonas dão a partida a atos localizados de libertação. Porto Alegre, Uruguaiana, São Borja, Via� mão, Conceiçãodo Arroio, no Rio Grande do Sul; o largo de São Francisco, em São Paulo; o largo de São Francisco e a rua do Teatro, OP�3JP�EF�+BOFJSP��B�"CPMJÎÍP�BWBOÎB�NVOJDÓQJP�B�NVOJDÓQJP �RVBSUFJ� SÍP�B�RVBSUFJSÍP� $IFHB�B�-FJ�EPT�4FYBHFOÈSJPT �EF�4BSBJWB �RVF�Ï�VNB�EFSSPUB�FOPS� me. Nabuco, falando em nome dos abolicionistas decepcionados, ad� WFSUF�RVF�B�.POBSRVJB�DPSSF�SJTDP�FN�UFOUBS�JNQFEJS�B�"CPMJÎÍP��Ï� QPTTÓWFM�RVF�iVN�HSBOEF�DJDMPOF�EF�JOEJHOBÎÍP�WBSSB�EJBOUF�EF�TJ�OÍP� só a escravidão, não só o ministério, [...] mas alguma coisa mais...”. Em 1888, desemboca todo o movimento nacional. Os proprietá� SJPT�QBVMJTUBT �"OUÙOJP�1SBEP�Ë�GSFOUF �UPNBN�B�JOJDJBUJWB�EF�DPODSF� tizar a emancipação. A 12 de fevereiro de 1888, a cidade de São Paulo BMGPSSJB�TFVT�FTDSBWPT��"��¡�EF�BCSJM�Ï�B�WF[�EF�B�1SJODFTB�*TBCFM�MJCFS� tar Petrópolis. Num incidente com o chefe de polícia da capital, im� popular pela repressão, cuja demissão lhe pede a Princesa, Cotegipe FODPOUSB�P�QSFUFYUP�QBSB�EFJYBS�P�HPWFSOP��²�DIBNBEP�+PÍP�"MGSFEP� "���EF�NBJP�BCSF�TF�B�TFTTÍP��"�3FHFOUF�Ï�SFDFCJEB�DPN�nPSFT��"� 7 de maio, o Ministério apresenta o programa abolicionista. No dia 8 Ï�MJEP�P�QSPKFUP��i²�EFDMBSBEB�FYUJOUB�B�FTDSBWJEÍP�OP�#SBTJMw��/BCVDP� QFEF�B�EJTQFOTB�EF�QSB[PT��"T�HBMFSJBT�FYQMPEFN� No dia 13 de maio, um domingo, o Senado faz uma sessão espe� cial. A Princesa desce de Petrópolis. No Paço, sanciona a lei. Patro� DÓOJP�BKPFMIB�TF�B�TFVT�QÏT��0T�QSÏTUJUPT�FODIFN�B�DJEBEF��.BDIBEP� conta no Memorial de Aires: i"JOEB� CFN�RVF� BDBCBNPT� DPN� JTUP�� &SB�UFNQP��&NCPSB�RVFJNFNPT�UPEBT�BT�MFJT �EFDSFUPT�F�BWJTPT �OÍP� poderemos acabar com os atos particulares, escrituras e inventários, OFN�BQBHBS�B�JOTUJUVJÎÍP�EB�)JTUØSJB �PV�BUÏ�EB�1PFTJBw� Nas primeiras páginas de 0 Abolicionismo � +PBRVJN�/BCVDP�BE� WFSUF��i)È�<VNB�DBVTB>�NBJPS �B�EP�GVUVSP��B�EF�BQBHBS�UPEPT�PT�FGFJ� UPT�EF�VN�SFHJNF�RVF �IÈ�USÐT�TÏDVMPTw�o�IPKF�KÈ�TÍP�RVBTF�DJODP�o�iÏ� uma escola de desmoralização e inércia, de servilismo e irresponsa� CJMJEBEF�QBSB�B�DBTUB�EPT�TFOIPSFT �F�RVF�GF[�EP�#SBTJM�P�1BSBHVBJ�EB� escravidão”. E prossegue: i2VBOEP�NFTNP�B�FNBODJQBÎÍP�UPUBM�GPTTF�EFDSFUBEB�BNBOIÍ �B� MJRVJEBÎÍP�EFTTF�SFHJNF�EBSJB�MVHBS�B�VNB�TÏSJF�JOmOJUB�EF�RVFTUÜFT � RVF� TØ�QPEFSJBN� TFS� SFTPMWJEBT�EF� BDPSEP� DPN�PT� JOUFSFTTFT� WJUBJT� EP�1BÓT� QFMP�NFTNP�FTQÓSJUP�EF� KVTUJÎB� F�IVNBOJEBEF�RVF�EÈ� WJEB� BP�BCPMJDJPOJTNP��%FQPJT�RVF�PT�ÞMUJNPT�FTDSBWPT�IPVWFTTFN�TJEP� BSSBODBEPT�BP�QPEFS�TJOJTUSP�RVF�SFQSFTFOUB�QBSB�B�SBÎB�OFHSB�B�NBM� dição da cor, será ainda preciso debastar, por meio de uma educação viril e séria, a lenta estratificação de trezentos anos de cativeiro, isto é, de despotismo, superstição e ignorância.” "UÏ�BRVJ�/BCVDP��+È�OP�NFV�.BSBOIÍP �FN����� �P�OFHSP�$PTNF � RVF�DIBNBWB�B�TJ�NFTNP�EF�o Imperador das liberdades Bentevi e foi P�HSBOEF�MÓEFS�EB�#BMBJBEB �UJOIB�B�QSFPDVQBÎÍP�EF�iGB[FS�VNB�FTDPMB � VNB�FTDPMB�OP�2VJMPNCPw �QPSRVF�UJOIB�OPÎÍP�EF�RVF�OÍP�CBTUBWB�B� liberdade. O Quilombo do negro Cosme, com mais de 3.000 negros, FSB�VN�DBNJOIP�QBSB�B� MJCFSEBEF��.BT�P�WFMIP�$PTNF�TBCJB�RVF�Ï� QSFDJTP�MJCFSUBS�TF�UBNCÏN�QFMB�FEVDBÎÍP� &TUPV�DPOWFODJEP�EF�RVF�P�#SBTJM�Ï�VNB�EFNPDSBDJB�SBDJBM��F�OÍP� há dúvida disso. Mas carregamos enorme carga de preconceito. Se não temos segregação racial, a discriminação racial faz parte de nos� TP�RVPUJEJBOP �OVNB�GPSNB�FTQFDJBMNFOUF�JOTJEJPTB �B�EJTDSJNJOBÎÍP� FODPCFSUB �NBTDBSBEB �FTDPOEJEB �BUÏ�NFTNP�JODPOTDJFOUF��"�FYDMV� são dos negros e da comunidade negra coincide em grande parte com B�EPT�QPCSFT��.BT �NFTNP�RVF�TVQFSQPTUBT �FMBT�OÍP�QPEFN�TFS�DPO� fundidas. Os negros, entre os pobres, são os mais pobres; entre os RVF�OÍP�DPOTFHVFN�P�BDFTTP�Ë�FEVDBÎÍP �B�NBJPSJB��FOUSF�PT�EPFOUFT � os mais graves. "�RVFTUÍP�EPT�EFTDFOEFOUFT�EF�FTDSBWP�OP�#SBTJM�EFWF�TFS�FODB� rada com objetividade. O grave problema é o atraso social, a pro� NPÎÍP�IVNBOB�RVF�mDPV�FTUBHOBEB �EBOEP�BPT�OFHSPT�VNB�QPTJÎÍP� de marginalidade dentro de nossa sociedade. As terríveis estatísticas RVF�NPTUSBN�P�QSPCMFNB�OÍP�SFQSFTFOUBN�BCTUSBÎÜFT��&MFT�TJHOJm� cam realidades intoleráveis: a perpetuação da fome, da miséria, da ignorância, da marginalização social. O maior número de negros en� tre os mais pobres, os menos educados, os mais desempregados não BDPOUFDF� TØ�QPSRVF�EFTDFOEBN�EF�QPCSFT � EF�QPVDP� FEVDBEPT � EF� EFTFNQSFHBEPT��BDPOUFDF�QSJODJQBMNFOUF�QPSRVF�TÍP�OFHSPT��&�OÍP� IÈ�DPNP�OFHBS�P�RVF�BDPOUFDFV��VOT�GPSBN�FTDSBWPT �PVUSPT�GPNPT� senhores. Uns eram negros, outros eram brancos. O trabalho de res� HBUF�OÍP�BDPOUFDFV��²�QSFDJTP�GB[Ð�MP� "�"CPMJÎÍP�Ï�VNB�PCSB�FN�BCFSUP��4FVT�����BOPT�NPTUSBN�RVF� QPVDP �NVJUP�QPVDP� GPJ� GFJUP�EFQPJT�EBRVFMB� GFTUB� JOJDJBM��)È�NVJ� UP�P�RVF�GB[FS��'BÎBNPT�VN�mea culpa. Nós não realizamos o ideal de igualdade, de justiça social. Nós ainda estamos engatinhando no QBHBNFOUP�EF�OPTTB�EÓWJEB�DPN�PT�EFTDFOEFOUFT�EPT�FTDSBWPT��)È� NVJUP�P�RVF�GB[FS��²�QSFDJTP�GB[Ð�MP� É, mais uma vez, hora de aplaudir o passado e começar o futuro. José Sarney Presidente do Senado Federal "QSFTFOUBÎÍͼ�t�ï�FEJÎÍͼ� ï÷öö Ao ensejo das comemorações do Centenário da Abolição da escra� WBUVSB�OP�#SBTJM �P�4FOBEP�'FEFSBM� KVOUB�TF�ËT�EJWFSTBT�JOJDJBUJWBT�F� NBOJGFTUBÎÜFT�RVF�B�TPDJFEBEF�CSBTJMFJSB �FN�TFVT�EJWFSTPT�TFHNFO� tos oficiais e comuni tários, realiza para rememorar o longo processo vivido pelo país entre a escravatura e a liberdade, suas implicações DPOKVOUVSBJT�EP�MBEP�FDPOÙNJDP �QPMÓUJDP�F�TPDJBM�� O Senado Federal, depositário de valioso acervo documental so� CSF�B�)JTUØSJB�EP�#SBTJM �QVCMJDB �BUSBWÏT�EF�TVB�4VCTFDSFUBSJB�EF�"S� RVJWP �FTUB�QFTRVJTB�JOÏEJUB�TPCSF�P�QSPDFTTP�BCPMJDJPOJTUB�FN�OPTTP� 1BÓT �FN�RVF �BUSBWÏT�EF�VNB�DSPOPMPHJB�RVF�TF�SFQPSUB�B����� �DPN�B� SFQSFTFOUBÎÍP�GFJUB�QPS�+PTÏ�#POJGÈDJP �P�1BUSJBSDB�EB�*OEFQFOEÐODJB � à Assembleia Geral Constituinte Legislativa, tratando da escravidão, BUÏ�B�USBNJUBÎÍP �EJTDVTTÍP�F�WPUBÎÍP�EP�QSPKFUP�RVF�TF�USBOTGPSNPV� na Lei no������ �EF���������� �DIBNBEB�EF�-FJ�«VSFB �RVF� MJCFSUPV� do jugo escravo parte da população negra, ao tempo do período co� MPOJBM �TFNQSF�NBJPS�RVF�B�QPQVMBÎÍP�CSBODB �NBT�RVF�ËT�WÏTQFSBT� da Abolição continha apenas um remanescente de cerca de 720.000 FTDSBWPT �EFWJEP�ËT�EJWFSTBT�MFJT�RVF �QSPHSFTTJWBNFOUF �GPSBN�FTUB� belecendo critérios de liberação. A luta pela abolição da escravatura no Brasil remonta aos tem� QPT� EPT� RVJMPNCPT � DPN� B� USBHÏEJB� ÏQJDB� EP� ;VNCJ� EB� 3FQÞCMJDB� dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, no século XVII, e USBOTQPSUB�TF �PCKFUJWBNFOUF �QBSB�P�SFDJOUP�EP�1BSMBNFOUP�FN����� � MFWBOEP�BÓ����BOPT�QBSB�RVF�PT�BCPMJDJPOJTUBT�USJVOGBTTFN�TPCSF�PT� escravocratas. 0�USÈmDP�EF�FTDSBWPT�FSB� UÍP� MVDSBUJWP�RVBOUP�EFTVNBOP��.PS� riam 25% no transporte, sendo, mesmo assim, o lucro de mais de 500%. Com a perseguição aos traficantes, motivada pelo sistema eco� OÙNJDP�RVF�TF�JNQV�OIB�DPN�B�3FWPMVÎÍP�*OEVTUSJBM �JOUFSFTTBEB�FN� mão de obra livre e livre mercado, bem como amenizar a concor� SÐODJB�CSBTJMFJSB�OPT�TFVT�QSPKFUPT�DBOBWJFJSPT�OBT�"OUJMIBT �NVJUBT� WF[FT�PT�OBWJPT�OFHSFJSPT �RVBOEP�TFHVJEPT�QPS�BMHVN�WBTP�CSJUÉOJDP � iBGVOEBWBN�B�DBSHBw�F�DPN�FMB�BT�QSPWBT�EP�USÈmDP�RVF �NFTNP�BT� sim, perdurou por muitas décadas. "� JNQPSUÉODJB�EFTUB�PCSB � RVF� TF�QVCMJDB� DPN�VNB� JOUSPEVÎÍP� do eminente jurista e escritor Afonso Arinos, é de mostrar, passo a passo, toda a evolução do ideário favorável e contrário à escravi� EÍP �SFWFMBS�B�MVUB �P�EFCBUF �B�BSHV�NFOUBÎÍP�RVF�NBOUJOIB�P�iTUBUVT� RVPw�F�BT�OPWBT�JEÏJBT�RVF�RVFSJBN�USBOT�GPSNÈ�MP �FYQPS�B�QSPHSFTTJ� WB�DPOTPMJEBÎÍP�EB�DPOTDJÐODJB�OBDJPOBM�FN�GBWPS�EB�MJCFSUBÎÍP�EPT� FTDSBWPT�DPN�BT�BEFTÜFT�RVF�GPSBN�TVSHJOEP�OPT�EJWFSTPT�TFUPSFT�EBT� lideranças sociais. Esta obra destaca, entreoutras, fases importantes do processo; a Lei do Governo Feijó, em 1831; o Bil Aberdeen, em 1845; a Lei de Eu� TÏCJP�EF�2VFJSP[ �FN�������B�-FJ�EP�7FOUSF�-JWSF �FN�������B�-FJ�EP� 4FYBHFOÈSJP �FN������F �mOBMNFOUF �B�-FJ�«VSFB��3FTTBMUB�B�EJOÉNJDB� EFTUF�NPWJNFOUP�BUSBWÏT�EF�SFGFSÐODJBT �UFYUPT�EPT�EFCBUFT�F�QSJODJ� pais pronunciamentos dos mais destacados personagens da época: parlamentares, jornalistas, inte lectuais, poetas etc., entre eles: José #POJGÈDJP �7JTDPOEF�EF�+FRVJUJOIPOIB �1FSEJHÍP�.BMIFJSP �1JNFOUB� Bueno, Silveira da Mota, Luiz Gama, Castro Alves, André Rebouças, 'FSSFJSB�EF�"SBÞKP �+PBRVJN�4FSSB �+PÍP�$MBQQ �'FSSFJSB�EF�.FOF[FT � José do Patrocínio, Souza Dantas, Eusébio de Queiroz, Visconde do Rio Branco, Andrade Figueira, Barão de Cotegipe, Rui Barbosa e Jo� BRVJN�/BCVDP�� Da leitura, vista de documentos e ilustrações deste livro mergu� MIB�TF�FN�OPTTB�IJTUØSJB�QBSB�NFMIPS�TF�DPOIFDFS�BT�OPTTBT�SBÓ[FT�F� a evolução de nossa nacionalidade, a índole do nosso povo, e, princi� QBMNFOUF �B�OPTTB�UFOEÐODJB�F�WPDBÎÍP�QBSB�P�EJÈMPHP �OB�TPMVÎÍP�EPT� HSBOEFT�F�DSVDJBJT�QSPCMF�NBT �QPJT �FORVBOUP�OP�OPSUF�EB�"NÏSJDB� a escravidão foi varrida pelas armas e lavada pelo sangue de irmãos, BRVJ�TF�QSPDFTTPV �TBMWP�BMHVOT�JODJEFOUFT �QFMB�GPSÎB�EB�QBMBWSB�F�EBT� JEFJBT �QFMB�OFHPDJBÎÍP �mDBOEP�EFTUB�FYQFSJÐODJB�NJMFOBS�EB�IVNB� nidade – o escravismo – suas cores, cânticos, rituais, crenças, tem� peros e outros traços na miscigenação de nossa raça, na forma ção de nosso folclore, na consolidação de nossa cultura e de nossa feição nacional. A Lei Áurea foi aprovada na Câmara dos Deputados com apenas nove votos contrários e no Senado com seis, e após a assinatura desta MFJ �QFMB�1SJODFTB�*TBCFM �+PBRVJN�/BCVDP �VN�EPT�HSBOEFT�CBMVBSUFT� EFTUF�NPWJNFOUP �QSPDMB�NPV�QBSB�B�NVMUJEÍP�SFVOJEB�B����������� FN� GSFOUF�Ë� TBDBEB�EP�1BMÈDJP� *NQFSJBM�� i/ÍP�IÈ�NBJT� FTDSBWPT�OP� Brasil”. &�BTTJN �B�FTUF�QSJNFJSP�FDP�EP�#SBTJM�MJWSF�EF�FTDSBWPT �TVDFEF�TF � em 19 de junho do mesmo ano, o último suspiro da escravidão, um projeto de autoria do Barão de Cotegipe autorizando o Governo a indenizar os proprietários dos escravos libertos. /FTUF�BOP�EF����� �FN�RVF�USBOTDPSSF�P�QSJNFJSP�DFOUFOÈSJP�EB� "CPMJÎÍP �RVBOEP�B�DVSJPTJEBEF�JOUFMFDUVBM�F�B�JOUFMJHÐODJB�CSBTJMFJSB� DFSUBNFOUF�SFnF�UJSÍP�TPCSF�P�#SBTJM�FTDSBWP �FTUB�PCSB�TPCSF�TVB�MJ� CFSUBÎÍP�OÍP�QPEFSÈ�EFJYBS�EF�TFS�DPNQVMTBEB��� Senador Humberto Lucena Presidente Centenário da Abolição ï÷öö %JTDVSTP�EP�4FOBEPS�"GPOTP�"SJOPT�OB�TFTTÍP�TPMFOF�DPNFNP� rativa do Centenário da Abolição à Escravatura. O Centenário da Abolição deve ser comemorado na sede do Con� gresso Nacional, não só como data festiva, mas como oportunidade QBSB�SFnFYÜFT�EF�DBSÈUFS�TØDJP�IJTUØSJDP �EFTQJEBT�EF�QSPQØTJUPT�JEF� PMØHJDPT�QPMÓUJDP�QBS�UJEÈSJPT �PV�EF�SFTTFOUJNFOUPT�SBDJBJT��3FnFYÜFT� RVF�DPOEV[BN�B�VNB�WJTÍP�FRVJMJCSBEB�F�KVTUB�EP�OPTTP�DPOUFYUP�TP� DJBM �QBTTBEP �QSFTFOUF�F�GVUVSP �OP�UPDBOUF�Ë�JOnVÐODJB�EB�FTDSBWJEÍP� F�EB�NJTDJHFOBÎÍP�OP�DPOUFYUP�TPDJBM�CSBTJMFJSP��&TDSBWJEÍP�F�NJTDJ� HFOBÎÍP�JOUJNBNFOUF�MJHBEBT�BPT�RVBTF�DJODP�TÏDVMPT�EF�GPSNBÎÍP�F� desenvolvimento do nosso povo. "�HSBOEF�&ODJDMPQÏEJB�EF�$JÐODJBT�4PDJBJT�EB�&EJUPSB�.D��.JMMBO � provavel mente a melhor síntese científica sobre o assunto da escra� vidão em geral, estuda o problema no mundo, desde os primórdios, na Antiguidade, até a Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, sem FTRVFDFS� B� QBSUF� EFEJDBEB� BP�#SBTJM��"� BCPMJÎÍP � OPT� &TUBEPT�6OJ� dos, ocorrida 15 anos apenas antes da nossa, com ela contrasta, de forma impressionante, pelo seu imenso custo histórico. Lá, a feroci� dade devastadora da luta entre o Sul e o Norte encobre, pela som� bra da tragédia, a formidável ação do Presidente Lincoln e do seu vitorioso governo. No Brasil houve luta também (basta recordar a NBJPS�F�B�NBJT�EVSBEPVSB�EF�UPEBT �RVF�GPJ�B�EF�1BMNBSFT �OP�TÏDVMP� 97** �NBT�B�TPMVÎÍP�EP�QSPCMFNB�TØ�GPJ�QPTTÓWFM�OP�TÏDVMP�9*9 �BP� termo de uma grande campanha sem guerra. Longa campanha de persuasão nacio nal pela oratória parlamentar, pela ação da imprensa, QFMB�DPORVJTUB�EP�BQPJP�EF�UPEB�B�TPDJFEBEF��0�QSJNFJSP�CSBTJMFJSP� NBSDBOUF�B�TF�NBOJGFTUBS�TPCSF�P�BTTVOUP�GPJ�OJOHVÏN�NFOPT�EP�RVF� +PTÏ�#POJGÈDJP �P�1BUSJBSDB�EB�*OEFQFO�EÐODJB��&N������FMF�QSFQBSPV� MPOHB�FYQPTJÎÍP�Ë�OPTTB�QSJNFJSB�"TTFNCMFJB�$POTUJUVJOUF �OB�RVBM� combatia, em linguagem candente, o tráfico de africanos para o Bra� TJM��%FOVODJBWB�PT�IPSSPSFT�EBRVFMF�DPNÏSDJP�F�PT�DSJNFT�FYJHJEPT� pela sua prática, bem como criticava com vigor os donos de escravos, SFGFSJOEP�TF�FTQFDJBMNFOUF�BPT�QSPQSJFUÈSJPT�EF�UFSSBT �BPT�QBESFT�F� aos magis trados, visando assim, diretamente, às altas camadas so� ciais da época. &N������P�.JOJTUSP�EB� +VTUJÎB �%JPHP�"OUÙOJP�'FJKØ �FYQFEJV�P� primeiro ato proibitivo do tráfico, mas tal medida não produziu re� sultado. O passo inaugural dado efetivamente nesse assunto foi o decreto do ilustre Euzébio de Queiroz, Ministro da Justiça, a 14 de PVUVCSP�EF����� �RVF�WFJP�EBS�WFSEBEFJSB�FmDÈDJB�BP�BUP�QSPJCJUJWP�EF� Diogo Feijó. A Abolição continuou abrindo caminho pelas leis. Em 1871 veio B�-FJ�EP�7JTDPOEF�EP�3JP�#SBODP �PV�EP�7FOUSF�-JWSF �RVF�EBWB�MJCFS� dade aos nascituros de escravos, ao completarem 20 anos. Em segui� EB�GPJ�B�-FJ�EPT�4FYBHFOÈSJPT �EP�(BCJOFUF�4PVTB�%BOUBT �FN����� � BQPJBEB�OP�FYUSBPSEJOÈSJP�QBSFDFS�EF�VN�KPWFN�EFQVUBEP �DIBNBEP� Rui Barbosa. O Império Brasileiro continuava, através de leis, a resolver o pro� CMFNB� RVF� UBOUP� TBOHVF� m[FSB� EFSSBNBS� Ë� 3FQÞCMJDB� "NFSJDBOB�� Mas, no Brasil, o caminho do Legislativo, aberto por José Bonifá� cio, foi acompanhado e estimulado pelos estudos dos historiadores, DPNP�1FSEJHÍP�.BMIFJSP�� QFMB� FMPRVÐODJB� EPT� PSBEPSFT� QBSMBNFO� UBSFT �DPNP�+PBRVJN�/BCVDP��QFMP�EFTUF�NPS�EPT� KPSOBMJTUBT �DPNP� José do Patrocínio; pelos versos de poetas, como Castro Alves; pela BEFTÍP�DSFTDFOUF�EF�NVJUPT�TFOIPSFT�RVF�BMGPSSJBWBN�TFVT�FTDSBWPT� F �mOBMNFOUF �QFMP�BQPJP�DSFTDFOUF�EP�*NQFSBEPS �FYQSFTTP�BmOBM�OB� participação direta de sua filha, a Princesa Regente Isabel. Imitando (JMCFSUP�'SFZSF �TFSJB�QPTTÓWFM�FTDSFWFS�TF�VNB�IJTUØSJB�EB�"CPMJÎÍP� FN�MJWSP�RVF�UJWFTTF�QPS�UÓUVMP�i5SPOP�F�4FO[BMBw�� "�"CPMJÎÍP�GF[�BMHVOT�HSBOEFT�IPNFOT�EP�*NQÏSJP �UBOUP�RVBOUP� FTUFT�m[FSBN�B�"CPMJÎÍP��&N�NFJP�B�VNB�EBT�TVBT�DPOGFSÐODJBT�GB� mosas no Teatro Santa Isabel, do Recife, a propósito da escravidão e SFGFSJOEP�TF�BP�7JTDPOEF�EF�3JP�#SBODP �FYDMBNPV�+PBRVJN�/BCV� DP��i/ÍP�GPJ�P�OPNF�EF�1BSBOIPT�RVF�GF[�HSBOEF�B�FNBODJQBÎÍP�EPT� FTDSBWPT �GPJ�B�FNBODJQBÎÍP�EPT�FTDSBWPT�RVF�GF[�HSBOEF�P�OPNF�EF� Paranhos!” Realmente: só pelas grandes causas se fazem os grandes nomes. A escravidão dos negros na Europa começou bem antes das via� gens de Colombo ou de Cabral. Desde meio século antes do desco� brimento do Brasil, já os navegadores portugueses levavam negros da «GSJDB�QBSB�-JTCPB �DJEBEF�RVF�DIFHPV�B�BCSJHBS�EF[FOBT�EF�NJMIBSFT� EFMFT��0T�DIBNBEPT�iQPN�CFJSPTw�BGSJDBOPT �ËT�WF[FT�NVMBUPT �FSBN� intermediários na captura de ne gros, de várias nações africanas, aprisionados nas lutas entre tribos e vendidos aos traficantes por� UVHVFTFT�FN�"OHPMB �$PTUB�EB�.JOB �(VJOÏ �.PÎBNCJRVF�PV�PVUSPT� pontos apropriados. Na frota de Cabral, talvez já viessem escravos OFHSPT�EF�TFSWJÎP��1FMBT�i%FOVODJBÎÜFT�F�$POmTTÜFT�EP�4BOUP�0G Ó� DJPw �OP�TÏDVMP�97* �PCTFSWB�TF�B�DPOTUBOUF�QSFTFOÎB�EPT�FTDSBWPT�F� das escravas entre os padres, os governadores e outras autoridades, em suma, entre os poderosos e ricos senhores, desde o primeiro sé� culo. A literatura menciona sempre escravos, desde o romantismo da i&TDSBWB�*TBVSBw �EF�#FSOBSEP�(VJNBSÍFT �BUÏ�PT�FTDSBWPT�EPNÏTUJDPT� ligados às famílias dos personagens, na primeira parte inicial da obra deMachado de Assis. No Brasil, como nos Estados Unidos, a escravidão, por doloro� TP�RVF�TF�P�EJHB �GPJ�VNB�DPOEJÎÍP�EP�EFTFOWPMWJNFOUP�FDPOÙNJDP � SFTVMUBOUF�EB�FYQMPSBÎÍP�FYUFOTJWB�EB� UFSSB�OB�DVMUVSB�EB�DBOB�EF� �BÎÞDBS �EP� UBCBDP �EP�BMHPEÍP�F�EP�DBGÏ � TVDFTTJWBNFOUF��&SB�VNB� GPSNB�QSJNJUJWB�EF�PSHBOJ[BÎÍP�EP�USBCBMIP �TFN�RVBMRVFS�BMUFSOBUJ� va, como havia acontecido, no Egito, na Grécia, em Roma, muitos sé� culos antes do tráfico de escravos negros para as Antilhas, os Estados Unidos e o Brasil. A importação americana começou para as Anti� lhas, antes de chegar ao Brasil, e os ingleses participavam larga mente EFTTF� USÈmDP� QBSB� P�)BJUJ � BT� *MIBT�7JSHFOT � 4ÍP�%PNJHPT� F� PVUSBT� DPMÙOJBT��4Ø�NBJT� UBSEF � KÈ�OP�TÏDVMP�9*9 �DPN�P�EFTFOWPMWJNFOUP� JOEVTUSJBM�EFWJEP�BP�DBSWÍP �ËT�FTUSBEBT�EF�GFSSP �Ë�NBRVJOBSJB�F�BP� DSÏEJUP�CBODÈSJP� PT�3PUTDIJME�TÍP�EFTTB�ÏQPDB �PT�JOHMFTFT �IBWFO� do abolido a escravidão nas suas terras da América, começaram a DBNQBOIB�DPOUSB�P�USÈmDP�OP�#SBTJM �QPSRVF�P�USBCBMIP�FTDSBWP�CBSB� UFBWB�BRVJ�QSPEVUPT�RVF�FMFT�UBNCÏN�FYQMPSBWBN��0�OPUÈWFM�FTUVEP� EP�NFV�TBVEPTP�BNJHP�F�NFTUSF�"GPOTP�EF�5BVOBZ�TPCSF�B�i)JTUØSJB� do Tráfico Africano no Brasil Colonial” reproduz a estrofe do poeta (BSDJB�EF�3F[FOEF �OBTDJEP�FN�mOT�EP�TÏDVMP�97 �RVF�EJ[�� i7FN�HSÍ�TPNB�B�1PSUVHBM��$BEB�BOP� UBNCÏN�ËT� *MIBT �²�DPJTB� RVF�TFNQSF�WBJ�&�USFTEPCSB�P�DBQJUBM�&N�$BTUFMB�F�OBT�"OUJMIBT�w� Assim, a dura luta travada contra nós pela Inglaterra, no século XIX, após a lei Aberdeen, com a apreensão de navios negreiros até FN�QPSUPT�OBDJPOBJT �FSB�UBMWF[�NBJT�BQPJBEB�FN�JOUFSFTTFT�FDPOÙ� NJDPT�EP�RVF�FN�SB[ÜFT�NPSBJT�� Por outro lado, o decreto de Euzébio de Queiroz, de outubro de 1850, realmente proibitivo do tráfico, de fato o estimulou a princípio, QPSRVF�BVNFO�UPV�P�QSFÎP�EB�DBSHB�IVNBOB�F �QPSUBOUP �PT�MVDSPT�EPT� USBmDBOUFT�QPSUVHVF�TFT�F�CSBTJMFJSPT�RVF�WJWJBN�SJDBNFOUF�OB�$PSUF � TFN�RVF�TF�*IFT�QVEFTTF �OB�WFSEBEF �EVSBOUF�BOPT �DPJCJS�P�DSJNF�� .BT� B� "CPMJÎÍP � ÞOJDP� SFNÏEJP � TF� BQSPYJNBWB�� "� DBNQBOIB� OBDJPOBM�DPORVJTUBWB�UFSSFOP��"T�GSPOUFJSBT�FOUSF�PT�QBSUJEPT�TF�FT� batiam, no Parla mento, diante da causa comum. As contradições dos partidos Liberal e Con servador determinavam O crescimento do Partido Republicano, fundado a 3 de dezembro de 1870, com o fecundo manifesto de Saldanha Marinho e Quintino Bocaiúva, no RVBM �EJHB�TF�EF�QBTTBHFN �OÍP�TF�BMVEF�BP�TJTUFNB�QSFTJEFODJBM �NBT � BP�DPOUSÈSJP �UPNBWB�TF�QPS�NPEFMP�P�1BSMBNFOUBSJTNP�3FQVCMJDBOP� GSBODÐT �RVF�OBTDJB�UBNCÏN �FOUÍP �DPN�B�EFSSPUB�EF�/BQPMFÍP�***�OB� guerra contra a Prússia de Bismark. /BCVDP �OP�TFV�MJWSP�i0�"CPMJDJPOJTNPw �QVCMJDBEP�FN����� �EJ[�� i4PC�B�CBOEFJSB�EB�"CPMJÎÍP�DPNCBUFN �IPKF �MJCFSBJT �DPOTFSWB� dores e republicanos, sem outro compromisso.” "�"CPMJÎÍP�TF�BQSPYJNBWB �BTTJN �EF�GPSNB�JSSFTJTUÓWFM��/P�BOP�EF� ���� �B����EF�BCSJM �JOTUBMBWBN�TF�BT�TFTTÜFT�QSFQBSBUØSJBT�EB�$ÉNBSB� dos Deputa dos, mas a sessão legislativa só foi aberta, oficialmente, como era de regra, a 3 de maio, no glorioso Palácio da Cadeia Velha, RVF�BJOEB�DIFHVFJ�B�DPOIFDFS �OB�NJOIB�JOGÉODJB �MFWBEP�QPS�NFV�QBJ�� A Fala do Trono foi lida pela Regente do Império, Princesa Isabel, na BVTÐODJB�EP�QBJ �P�*NQFSBEPS �RVF�TF�FODPO�USBWB�OB�&VSPQB��"�"CP� lição aparece no seguinte tópico do documento: i"�FYUJOÎÍP�EP�FMFNFOUP�TFSWJM �QFMP� JOnVYP�EP�TFOUJNFOUP�OB� DJPOBM�F�EBT�MJCFSBMJEBEFT�QBSUJDVMBSFT �FN�IPOSB�EP�#SBTJM �BEJBO� UPV�TF�QBDJmDBNFOUF�EF�UBM�NPEP�RVF�Ï �IPKF �BTQJSBÎÍP�BDMBNBEB� QPS�UPEBT�BT�DMBTTFT �DPN�BENJSÈWFJT�FYFNQMPT�EF�BCOFHBÎÍP�QPS� parte dos proprietários. Quando o próprio interesse privado vem FTQPOUBOFBNFOUF�DPMBCPSBS�QBSB�RVF�P�#SBTJM�TF�EFTGBÎB�EB�JOGFMJ[� IFSBOÎB �RVF�BT�OFDFTTJEBEFT�EB�MBWPVSB�IBWJBN�NBOUJEP �DPOmP� FN�RVF�OÍP�IFTJUBSFJT�FN�BQBHBS�EP�EJSFJUP�QÈUSJP�B�ÞOJDB�FYDFÎÍP� RVF�OFMF�mHVSB�FN�BOUBHPOJTNP�DPN�P�FTQÓSJUP�DSJTUÍP�F�MJCFSBM� das nossas instituições.” A resposta a esta Fala do Trono só foi lida na Câmara dos Depu� tados a 21 de maio, portanto, já depois da Lei Áurea. Mas a Câmara OÍP�EFJYPV�EF�DPOTJHOBS�P�GBUP�OBT�TFHVJOUFT�F�NFNPSÈWFJT�QBMBWSBT�� i4FOIPSB�o�"�GPSUVOB�QFSNJUJV�RVF�Ë�1SJODFTB�*NQFSJBM�3FHFOUF � em nome do Imperador, fosse reservada a glória de presidir aos dois atos mais importantes da nossa vida política, depois da reforma da Constituição do Império. O último, de data recen� UÓTTJNB �F�QFMP�RVBM�IÈ�EF�DBCFS�B�7PTTB�"MUF[B�*NQFSJBM�P�NBJT� JOWFKÈWFM� UÓUVMP � DPMPDB� P� #SBTJM� FN� DJSDVOTUÉODJBT� RVF � ÈSEVBT� FNCPSB �BmHVSBN�TF�Ë�$ÉNBSB�EPT�%FQVUBEPT�DPNP�P�QPOUP�EF� QBSUJEB�NBJT�mSNF�EB�TVB�QSPHSFTTJWB�FWPMVÎÍP�FDPOÙNJDB�w� /P�mN�EP�BOP �OP�NÐT�EF�OPWFNCSP �P�*NQFSBEPS �BP�SFHSFTTBS� da Europa, onde estivera em tratamento de saúde, encerra a sessão EP�1BSMB�NFOUP�DPN�B�'BMB�EP�5SPOP �EB�RVBM�DPOTUB�P�TFHVJOUF�USFDIP�� i1PEFNPT�EFTWBOFDFS�OPT�EP�NPEP�QBDÓmDP�QPS�RVF�TF�PQFSB�B� transformação do trabalho, em virtude da lei de 13 de maio, cuja decretação tanto me consolou das saudades da pátria, minorando os meus sofrimentos f ísicos.” Voltemos, porém, à origem imediata da Lei Áurea. No dia 7 de NBSÎP �SFUJSBWB�TF�P�HBCJOFUF�QSFTJEJEP�QFMP�#BSÍP�EF�$PUFHJQF�F �OP� dia 10, subia ao poder o novo Ministério chefiado pelo Conselheiro João Alfredo. Com o início da sessão legislativa de 3 de maio, o Mi� OJTUÏSJP�BQSFTFOUPV�TF�Ë�$ÉNBSB �OP�EJB����/P�EJTDVSTP�EF�BQSFTFO� tação, afirmou o Presidente do Conselho: i%JSFJ�TPNFOUF�RVF�P�.JOJTUÏSJP �TF�UJWFS�P�BQPJP�EP�1BSMBNFOUP � IÈ�EF�FTGPSÎBS�TF�RVBOUP�GPS�QPTTÓWFM�QBSB�RVF�FTTF�QSPHSBNB�TF� DPOWFSUB�FN�SFBMJEBEF �F �TPCSFUVEP �QBSB�RVF�TF�FGFUVF �RVBOUP� BOUFT �B�SFGPSNB�EP�FMFNFOUP�TFSWJM �RVF�Ï�B�BTQJSBÎÍP�OBDJPOBM � F�RVF�P�HBCJOFUF�UFN�P�FNQFOIP�FN�GB[FS�UÍP�QFSGFJUB�RVBOUP�B� PQJOJÍP�QÞCMJDB�B�JOEJDB�F�RVFS��"NBOIÍ�TFSÈ�BQSFTFOUBEB�B�QSP� QPTUB�EP�1PEFS�&YFDVUJWP�QBSB�RVF�TF�DPOWFSUB�FN�*FJ�B�FYUJOÎÍP� imediata e incondicional da escravidão no Brasil.” (Aplausos no SFDJO�UP�F�OBT�HBMFSJBT� � -PHP�OP�EJB�TFHVJOUF �� �WFJP �iQPS�PSEFN�EB�1SJODFTB�*NQFSJBM� Regente e em nome de S. M. o Imperador”, o projeto de lei. A redação era a mais simples e enérgica: i"SU����²�EFDMBSBEB�FYUJOUB�B�FTDSBWJEÍP�OP�#SBTJM�� "SU����3FWPHBN�TF�BT�EJTQPTJÎÜFT�FN�DPOUSÈSJP�w� Quem apresentou o projeto à Câmara, em nome do governo, foi P�.JOJTUSP�EB�"HSJDVMUVSB �3PESJHP�4JMWB �RVF �BUÏ�SFDFOUFNFOUF �OÍP� aceitava a Abolição imediata. Votaram a favor, no dia 13 de maio, 83 Deputados e, contrariamente, apenas nove. Neste momento, peço licença para declinar perante os Consti� tuintes brasileiros, com sincera emoção, os nomes de dois Deputados RVF �IÈ�VN�TÏDVMP �OP�EJB�EF�IPKF �WPUBSBN�QFMB�"CPMJÎÍP�EB�FTDSB� WJEÍP�OP�#SBTJM��NFV�BWÙ �$FTÈSJP�"MWJN �%FQVUBEP�QFMB�1SPWÓODJB�EF� .JOBT�(FSBJT �F�P�BWÙ�EF�NJOIB�FTQPTB �3PESJHVFT�"MWFT �%FQVUBEP� pela Província de São Paulo. No mesmo dia 13 de maio passou o projeto da Câmara ao Se� nado, onde falaram a favor os Senadores Souza Dantas, autor da Lei EPT�4FYBHF�OÈSJPT�EF����� �F�P�1SFTJEFOUF�EP�$POTFMIP �+PÍP�"MGSFEP�� $POUSB� B� BQSPWBÎÍP� GBMPV�P�4FOBEPS�nVNJOFOTF �$POTFMIFJSP�1BV� lino de Souza, filho do ilustre Visconde do Uruguai, de conhecida tradição conservadora. Como o Senador Paulino prolongasse seu EJTDVSTP �GPJ�BEWFSUJEP�EFMJDBEBNFOUF�EF�RVF�B�1SJODFTB�*TBCFM�BHVBS� EBWB�P�UFYUP�OP�1BÎP �QBSB�TBODJPOÈ�MP �BWJTP�RVF�QSPWP�DPV�B�BNÈWFM� réplica do orador: i7PV�UFSNJOBS��/ÍP�TF�GB[�FTQFSBS�EBNB�EF�UÍP�BMUB�IJFSBSRVJB�w� Com esta frase respeitosa e galante estava fechado o ciclo glo� rioso da Abolição no Brasil. Fechado, como devia ser, pelo Parla� mento, represen tante de todo o povo. i4FOIPS Presidente, senhores Constituintes: Como membro mais idoso desta Assembléia NacionalConsti� UVJOUF �QFÎP�B�%FVT�RVF�B�JOTQJSF�OFTUFT�FYFNQMPT�JNPSSFEPVSPT� EB� OPTTB� IJTUØSJB� F� OÍP� TF� JOnVFODJF� QFMPT� RVF� UFNFN� P� QSP� gresso, em todas as suas formas. /ÍP�EFWFNPT� SFDFBS�NVEBOÎBT� RVF�OPT� MFWFN�B�VNB�OPWB� "CPMJÎÍP �B�EB�FYUSFNB�QPCSF[B �B�EP�BOBMGBCFUJTNP �B�EB�DBSÐODJB� EF� IBCJUBÎÜFT � EF� IJHJFOF � EF� TBÞEF � EF� UBOUBT� DBSÐODJBT� RVF� tornam incompleta a liberdade e transformam a vida de muitos milhões de brasileiros, neste fim de século, em um cativeiro de homens livres. Marchemos para a Abolição da escravidão social.” Afonso Arinos Representação de José Bonifácio à Assembleia Geral Constituinte Legislativa do Império do Brasil. 31 Projeto de Lei do Deputado Clemente Pereira extinguindo o comércio de escravos (31-12-1840). 51 Decreto dispondo sobre sentença de morte (11-9-1826). 51 Acordo Anglo- Brasileiro (extinção do tráfico), de 23-11-1826. 53 Projeto dispondo sobre pena de morte para os escravos (11-4-1829). 59 Projeto do Deputado Antônio F. França, acabando com a escravidão em 1880 (15-5-1830). 63 Projeto dos Deputados B. P. de Vasconcelos, Mendes Viana, Duarte Silva e M. F. R. de Andrada, sobre venda em hasta pública de escravos do Arsenal de Marinha (17-7-1830). 63 Projeto dos deputados sobre: extinção da escravidão no Brasil, compra de alforria e liberdade para os africanos contrabandeados (16-6-1831) 67 Lei do Governo Feijó (Lei de 7-11-1831). 69 Decreto de 12-4-1832 sobre exames de embarcações suspeitas de importação e reexportação de escravos. 75 Proposta do Ministro Aureliano de Souza sobre pena de morte para escravos que matassem ou ferissem seu senhor (10-6-1833). 81 Dois projetos do Senador J. A. Rodrigues de Carvalho sobre matrículas de escravos e apreensão de embarcações que tragam escravos (25-4-1834). 85 Sumário Cronológico ïöðñ�ʹ�ïööñ Lei no 4, de 10-6-1835 (Pena de morte). 93 Projeto do Senador João V. de Carvalho, Conde de Lages, sobre a proibição de escravos no serviço dos estabelecimentos nacionais, exceto em agricultura ou criação (22-9-1835). 95 Decreto sobre direito de Petição de Graça ao Poder Moderador na pena de morte. (9-3-1837). 99 Projeto do Senado no 133, do Marquês de Barbacena, proibindo a importação de escravos para o Brasil (30-3-1837). 100 Nota do Ministro Paulino J. S. de Souza sobre violação do Acordo Anglo- Brasileiro de 1826 (11-1-1844). 107 Protesto da Legação Imperial do Brasil em Londres contra o “Bill” (25-7 -1845). 121 O “Bill Aberdeen” (8-8-1845). 125 Protesto do Governo Imperial contra o “Bill Aberdeen” (22-10-1845). 129 Projeto do Deputado Silva Guimarães a favor da liberdade para os nascidos de ventre escravo (22-3-1850). 143 Projetos dos Senadores Holanda Cavalcanti e Cândido B. de Oliveira sobre tráfico de escravos (maio de 1850). 143 Pedido de discussão do art, 13 do PL no 133/1837 do Marquês de Barbacena (Filisberto Caldeira Brant) sobre tráfico de escravos (12-7-1850). 156 Emendas ao PLS - 133/1837. 157 Lei no 581, de 4-9- 1850 (Lei Eusébio de Queiroz) sobre tráfico de africanos. 159 Decreto no 708, de 14- 10-1850, regulando a Lei no 581. 162 Projeto do Deputado Silva Guimarães considerando livres os que nascessem de ventre escravo, (4-6-1852). 179 Projeto contra tráfico de africanos (apud Perdigão Malheiro). 180 Resolução sobre a competência dos Auditores da Marinha para processar e julgar réus envolvidos em tráfico (23-9-1853). 185 Decreto nº 1.303 emancipando, depois de quatorze anos, os africanos livres que foram arrematados por particulares. 187 Decreto nº 1.310, de 2-1-1854 manda executar a Lei de 10- 6-1835 sem recurso, salvo o do Poder Moderador, em caso de pena de morte para os escravos. 191 Lei nº 731, de 5-6- 1854 – punição para capitão ou mestre, Piloto ou contramestre de embarcação que fizesse tráfico de escravos. 192 Projetos nº 117 e s/nº do Barão de Cotegipe (J,M,Wanderlei) sobre comércio interprovincial de escravos e sobre alforria (11-8-1854). 193 Projeto do Senador Silveira da Mota proibindo a venda de escravos em leilões, pregões e exposições públicas (18-6-1860). 197 Projeto nº 39, de 1862 do Senador Silveira da Mota proibindo venda de escravos em pregão e em exposição pública (9-5-1862). 205 Projeto do Senador Silveira da Mota relacionando os que não podem possuir escravos (26-1-1864). 211 Decreto nº 3,310, de 24-9-1864, concedendo emancipação a todos os africanos livres no Império. 212 Lei nº 1,237, de 24-9- 1864 considerando os escravos pertencentes às propriedades agrícolas como objeto de hipoteca e de penhor. 214 Projeto do Senador Visconde de Jequitinhonha sobre alforria para os “achados de vento”. 234 Projeto do Senador Visconde de Jequitinhonha sobre alforria aos escravos que estivessem sentando praça nos corpos de linha como voluntários. 236 Projeto do Senador Silveira da Motta proibindo estrangeiros residentes no Império de adquirirem ou possuírem escravos. 236 Projeto de resolução do Senador Visconde de Jequitinhonha considerando livre o ventre da escrava que tivesse sido legada ou doada para serviço, por determinado tempo, sem a transmissão de domínio e sem a cláusula expressa de voltar ao antigo cativeiro. 237 Exposição de Motivo do Marquês de São Vicente (Pimenta Bueno) ao Imperador apresentando projetos de sua autoria. 241 Projeto do Marquês de São Vicente, nº 1 – liberdade para os filhos de mulher escrava. 246 Projeto do Marquês de São Vicente, nº 2 – criação de junta central protetora da emancipação em cada província. 248 Projeto do Marquês de São Vicente, nº 3 – matrícula de escravos (isentos de taxa) na coletoria das respectivas paróquias ou municípios. 253 Projeto do Marquês de São Vicente, nº 4 – libertando todos os escravos em cinco anos. 255 Projeto do Marquês de São Vicente, nº 5 – emancipação dos escravos de ordens religiosas. 256 Trecho de Joaquim Nabuco sobre os projetos do Marquês de São Vicente. 258 Decreto da Assembléia Geral Legislativa estabelecendo o conceito de livre ventre (reprodução do original). 262 Projeto do Deputado Tavares Bastos mandando dar “cartas de alforria a todos os escravos e escravas da Nação” (aditivo à Lei do Orçamento) 26-6-1866. 264 Fala de Trono de 22.5.1867 (cf, elemento servil). 267 Discurso de José Bonifácio, sobre as questões financeira e servil (sob enfoque econômico), em 17.7.1867. 270 Projeto de José Thomaz Nabuco de Araújo sobre emancipação de escravos (fusão dos cinco projetos do Marquês de São Vicente, de 1866). de 20-8-1867. 322 Redação final do Projeto de Nabuco de Araújo, assinado pela Comissão que o estudou. 327 Projeto no 3, de 15.8.1870, do Deputado Teodoro M. F. Pereira da Silva (sobre penas para escravos). 341 Projeto no 18, 23-5-1 870, do Deputado Araújo Lima (libertando os filhos de mulheres escravas). 342 Projeto no 19, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigão Malheiro (contra pena de açoites para escravos). 343 Projeto no 20, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigão Malheiro (sobre alforria). 344 Projeto no 21, de 23-5-1.870, do Deputado Perdigão Malheiro (dando ao filho da mulher escrava a obrigação de servir gratuitamente ao senhor até 18 anos). 346 Projeto no 22, de 23-5-1 870, do Deputado Perdigão Malheiro (sobre alforria). 348 Projeto no 69, de 3-6-1 870, de Theodoro M, p, da Silva (registro de escravos). 348Projeto no 121, de 7-7-1 870, do Deputado José de Alencar (isenção de taxa dos escravos comprados para serem libertados). 350 Relatório da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, encarregada de dar Parecer sobre o elemento servil. 351 Projeto no 200, de 1.870, apresentado pela Comissão encarregada de dar Parecer sobre o elemento servil. 394 Voto em separado de Rodrigo da Silva (membro da Comissão encarregada de dar Parecer sobre o elemento servil). 400 Anexos do Parecer da Comissão. 427 Parecer da Comissão Especial nomeada para estudar o Projeto (contendo a proposta e as emendas). 465 Redação final do Projeto na Câmara. 520 Redação Final do Projeto no Senado. 525 Lei no 2.040 – de 28 de setembro de 1871. 525 Reprodução do original do texto final, do Projeto no Senado. 531 Decreto no 4.815, de 11-11-1871 , regulamentando o art. 6o do § 1o da Lei 2.040. 538 Decreto no 4.835, de 1o-12-1871, aprova o regulamento para a matrícula especial dos escravos e dos filhos livres de mulher escrava. 541 Decreto no 4.960, de 8-5-1.872, alterando o regulamento aprovado pelo Decreto no 4.835, na parte relativa à matrícula dos filhos livres de mulher escrava. 563 Decreto no 5.135, de 13-11-1.872, regulamentando a Lei no 2.040, de 28-9- 1871 (Lei do Ventre Livre). 564 Projeto no 30, de 1869, do Deputado Manoel Francisco Correa, concedendo loterias para libertação de escravos. 335 Projeto no 31, de 1869, do Deputado Manoel Francisco Correa, mandando proceder a nova matrícula de escravos e considerando livres os que fossem dela excluídos. 336 Projeto s/no 1869, proibindo venda de escravos em leilão e em hasta pública, (ACD, 1869, T II, p, 53). 337 Decreto no 1.695, de 15-9-1869, proibindo venda de escravos em pregão e em exposição pública. 337 Projeto “G”, de 3-5-1.877, sobre o tráfico interprovincial (reprodução do original). 611 Projeto de Lei de 8-10-1.877 (aditivo ao Projeto de Lei do Orçamento para 1.877 -1.878) reprodução do original. 613 Manifesto da Sociedade Brasileira contra a escravidão. 619 Discurso do Senador Silveira da Mota, em 26-6-1883, sobre a sentença dada por Juiz de Direito de Pouso Alto a respeito da liberdade de africano introduzido como escravo no Brasil depois da Lei Feijó. 635 Discurso do Senador Lafayette, em 27-6-1883 sobre requerimento do Senador Silveira da Mota. 641 Discurso do Senador Christiano Ottoni, em 30-6-1883, na discussão do requerimento de Silveira da Mota e sobre matrícula de escravos. 645 Manifesto da Confederação Abolicionista do Rio de Janeiro. 671 Manifesto da Sociedade Abolicionista Baiana ressaltando o papel do legislador na luta pela Abolição e propondo medidas de libertação de escravos com 50 anos (para homens) e 45 (para mulheres) e fixação do valor para o escravo e para seu trabalho (cf. auto-resgate pelo seu próprio serviço). 593 1823 A Representação de José Bonifácio de Andra- da e Silva estava para ser apresentada à As- sembleia Geral Constituinte Legislativa do Império do Brasil, quando ela foi dissolvida (--). José Bonifácio, junto com outros deputados, foi preso e deportado. Existia, to- davia, uma cópia do documento com alguém de sua confiança, o que permitiu dela se tomasse conheci mento. Essa Representação foi publi- cada em Paris no ano de . nela, José Boni- fácio mostra a necessidade de abolir o tráfico da escravatura, de melhorar a forma de vida dos cativos e de “promover a sua progressiva emancipação”. Chama a atenção para o fato de sermos a “úni- ca Nação de sangue europeu que ainda comer- cia clara e publicamente escravos africanos”. A Representação é uma verdadeira diatribe contra Portugal, a Igreja e o Clero da época, assim como contra a ganância dos brasileiros explorando os escravos na lavoura. Conclui com a apresentação de um projeto em que solicita o término do comércio de escrava- tura africana em quatro ou cinco anos, exor- tando os legisladores a colabo rarem nesse trabalho. Ano t Representação de José Bonifácio Representação de José Bonifácio à Assembleia Geral Constituinte Legislativa do Império do Brasil. Chegada a época feliz da regeneração política da Nação brasileira, e devendo todo o cidadão honrado e instruído concorrer para tão grande obra, também eu me lisonjeio que poderei levar ante a As- sembleia Geral Consti tuinte e Legislativa algumas ideias, que o estu- do e a experiência têm em mim excitado e desenvolvido. Como cidadão livre e deputado da Nação, dois objetos me pare- cem ser, fora a Constituição, de maior interesse para a prosperidade futura deste Império. O primeiro é um novo regulamento para pro- mover a civilização geral dos índios no Brasil, que farão com o andar do tempo inúteis os escravos - cujo esboço já comuniquei a esta As- sembleia. E o segundo, uma nova lei sobre o comércio da escravatura e tratamento dos miseráveis cativos. Este assunto faz o objeto da atu- al representação. Nela me proponho mostrar a necessidade de abolir o tráfico da escravatura, de melhorar a sorte dos atuais cativos, e de promover a sua progressiva emancipação. Quando verdadeiros cristãos e filantropos levantaram a voz pela primeira vez na Inglaterra contra o tráfico de escravos africanos, hou- ve muita gente interesseira ou preocupada que gritou ser impossível ou não política a abolição porque as colônias britânicas não podiam escusar um tal comércio sem uma total destruição: todavia, passou o bill e não e arruinaram as colônias. Hoje em dia que Wilberforces e Buxtons trovejam de novo no Parlamento a favor da emancipação progressiva dos escravos, agitam-se outra vez os inimigos da huma- nidade como outrora: mas espero da Justiça e generosidade do povo inglês, que se conseguirá a emancipação, como já se conseguiu a abo- lição de tão infame tráfico. E porque os brasileiros somente continu- aram a ser surdos aos gritos da razão e da religião cristã, e direi mais, da honra e brio nacional? Pois somos a única Nação de sangue euro- peu que ainda comercia clara e publicamente os escravos africanos. Eu também sou cristão, filantropo e Deus me anima para ousar le- vantar a minha fraca voz no meio desta augusta assembleia a favor da causa da justiça, e ainda da sua política, causa a mais nobre e santa, animar corações generosos e humanos. Legisladores, não temais os A Abolição no Parlamento: anos de luta t Volume I urros do sórdido interesse; cumpre progredir sem pavor na carreira da justiça e da regeneração política; mas todavia cumpre que sejamos precavidos e prudentes. Se o antigo despotismo foi insensível a tudo, assim lhe convinha ser por utilidade própria: queria que fôssemos um povo mesclado e hetero gêneo, sem nacionalidade, e sem irman- dade, para melhor nos escravizar. Graças aos céus, e a nossa posição geográfica, já somos um povo livre e independente. Mas como poderá haver uma Constituição liberal e duradoura em um país continuamente habitado por uma multidão imensa de escra- vos brutais e inimigos? Comecemos, pois, esta grande obra pela ex- piação de nossos crimes e pecados velhos. Sim, não se trata somente de sermos justos, devemos também ser penitentes: devemos mostrar à face de Deus e dos outros homens que nos arrependemos, e tudo o que nesta parte temos obrado há séculos contra a justiça e contra a religião, que nos bradam acordes que não façamos aos outros o que queremos que não façam a nós. É preciso, pois, que cessem de uma vez os roubos, incêndios, e guerras que fomentamos entre os selvagens da África. É preciso que não venham mais a nossos por- tos milhares e milhares de negros, que morriam abafados no porão de nossos navios, mais apinhados que fardos de fazenda: épreciso que cessem de uma vez todas essas mortes e martírios sem conta, com que flagelávamos e flagelamos ainda esses desgraçados em nos- so próprio território. É tempo, pois, e mais que tempo, que acabemos com um tráfico tão bárbaro e carniceiro; é tempo também que vamos acabando gradualmente até os últimos vestígios da escravidão entre nós, para que venhamos a formar em poucas gerações uma Nação homogênea, sem o que nunca sere mos verdadeiramente livres, res- peitáveis e felizes. É da maior necessidade ir acabando tanta hete- rogeneidade f ísica e civil; cuidemos pois em combinar desde já, em combinar sabiamente tantos elementos discordes e contrários, e em amalgamar tantos metais diversos, para que saia um todo homogê- neo e compacto, que não se esfarele ao pequeno toque de qualquer nova convul são política. Mas que ciência química e que desteridade não são precisas aos operadores de tão grande e dif ícil manipulação? Sejamos sábios e prudentes, porém, constantes sempre. Com efeito, senhores, nação nenhuma talvez pecou mais contra a huma nidade do que a portuguesa de que fazíamos outrora parte. Andou sempre devastando não só as terras da África e da Ásia, como Ano t disse Camões, mas igualmente as do nosso País. Foram os portugue- ses os primeiros que, desde o tempo do infante D. Henrique, fizeram um ramo de comércio legal de prear homens livres e vendê-los como escravos nos mercados europeus e americanos. Ainda hoje, perto de 40 mil criaturas humanas são anual mente arrancadas da África, pri- vadas de seus lares, de seus pais, filhos e irmãos, transportadas às nossas regiões, sem a menor esperança de respirarem outra vez os pátrios ares, e destinadas a trabalhar toda a vida debaixo do açoite cruel de seus senhores, elas, seus filhos, e os filhos de seus filhos para todo e sempre! Se os negros são homens como nós e não formam uma espécie de brutos animais; se sentem e pensam como nós, que quadro de dor e de miséria não apresentam eles à imaginação de qualquer homem sensível e cristão? Se os gemidos de um bruto nos condoem, é im- possível que deixemos de sentir também certa dor simpática com as desgraças e misérias dos escravos; mas tal é o efeito do costume e a voz da cobiça que veem homens correr lágrimas de outros homens, sem que estas lhes premam dos olhos uma só gota de compaixão e de ternura. Mas a cobiça não sente nem discorre como a razão e a humanidade. Para lavar-se pois das acusações que merecia lançou sempre mão e ainda agora lança de mil motivos capciosos, com que pretende fazer a sua apologia; diz que é um ato de caridade trazer escravos da África, porque assim, escapam esses desgraçados de se- rem vítimas de despóticos reis; diz igualmente que, se não viessem esses escravos, ficariam privados da luz do evangelho, que todo cris- tão deve promo ver e espalhar; diz que esses infelizes mudam de um clima e país ardente e horrível para outro doce, fértil e ameno; diz, por fim, que devendo os criminosos e prisioneiros de guerra serem mortos imediatamente pelos seus bárbaros costumes é um favor que se lhes faz, conservar a vida, ainda que seja em cativeiro. Homens perversos e insensatos! Todas essas razões apontadas va- leriam alguma coisa se vós fosseis buscar negros à África para lhes dar liberdade no Brasil e estabelecê-los como colonos; mas perpetuar a escravidão, fazer esses desgraçados mais infelizes do que seriam, se alguns fossem mortos pela espada da injustiça, e até dar azos certos para que se perpetuem tais horrores é de certo um atentado manifes- to contra as leis eternas da justiça e da religião. E por que continua- ram e continuam a ser escravos os filhos desses africanos? Comete- A Abolição no Parlamento: anos de luta t Volume I ram eles crimes? Foram apanhados em guerra? Mudaram de clima ruim para outro melhor? Saíram das trevas do paganismo para a luz do Evangelho? Não, todavia, seus filhos e filhos desses filhos devem, segundo vós, ser desgraçados para todo o sempre. Fala pois contra vós a justiça e a religião, e só vós podeis escorar no bárbaro direito público das antigas nações, e principalmente na farragem das chama- das leis romanas: com efeito, os apologistas da escravidão escudam- -se com os gregos e romanos, sem advertirem que entre os gregos e romanos não estavam ainda bem desenvolvidos e demonstrados os princípios eternos do direito natural e os da religião; e todavia, como os escravos de então eram da mesma cor e origem dos senhores, e igualmente tinham a mesma, ou quase igual, civilização que a de seus amos, sua indústria, bom comportamento e talentos os habilitavam facilmente a merecer o amor de seus senhores, e a consideração dos outros homens; o que de nenhum modo pode acontecer em regra aos selvagens africanos. Se ao menos os senhores de negros no Brasil tratassem esses miserá veis com mais humanidade, eu certamente não escusaria, mas ao menos me condoeria da sua cegueira e injustiça. Porém, o habi- tante livre no Brasil, e mormente o europeu, é não só, pela maior par- te, surdo às vozes da justiça e aos sentimentos do evangelho, mas até é cego a seus próprios interesses pecuniários e à felicidade doméstica da família. Com efeito, imensos cabedais saem anualmente deste Império para a África; e imensos cabedais se amortizam dentro deste vasto país, pela compra de escravos, que morrem, adoecem, e se inutili- zam, e demais pouco trabalham. Que luxo inútil de escravatura tam- bém não apresentam nossas vilas e cidades, que sem eles poderiam limitar-se a poucos e necessários criados? Que educação podem ter as famílias, que se servem destes entes infelizes, sem honra nem re- ligião? De escravas que se prostituem ao primeiro que as procura? Tudo porém se compensa nesta vida; nós tiranizamos os escra vos, e os reduzimos a brutos animais, e eles nos inoculam toda a sua imo- ralidade, e todos os seus vícios. E, na verdade, senhores, se a moralidade e a justiça social de qual- quer povo se fundem, parte nas suas instituições religiosas e políticas e parte na filosofia, para dizer assim, doméstica de cada família, que quadro pode apresentar o Brasil, quando o consideramos debaixo Ano t destes dois pontos de vista? Qual é a religião que temos, apesar da be- leza e santidade do Evangelho, que dizemos seguir? A nossa religião é pela maior parte um sistema de superstições e de abusos antissociais; o nosso clero, em muita parte ignorante e corrompido, é o primeiro que se serve de escravos, e os acumula para enriquecer pelo comér- cio, e pela agricultura, e para formar, muitas vezes, das desgraçadas escravas um harém turco. As famílias não têm educa ção, nem a po- dem ter com o tráfico de escravos, nada as pode habituar a conhecer e amar a virtude e a religião. Riquezas e mais riquezas gritam os nos- sos pseudoestadistas, os nossos compradores e vendedores de carne humana; os nossos sabujos eclesiásticos; os nossos magistrados, se é que se pode dar um tão honroso título a almas, pela maior parte, venais, que só empunham a vara da Justiça para oprimir desgraça- dos, que não podem satisfazer à cobiça, ou melhorar a sua sorte. E então, senhores, como pode grelar a justiça e a virtude e florescerem os bons costumes entre nós? Senhores, quando me emprego nestas tristes considerações, quase que perco de todo as esperanças de ver o nosso Brasil um dia regenerado e feliz, pois que se me antolha que a ordem das vicissitudes humanas está de todo invertida no Brasil. O luxo e a corrupção nasceram entre nós antes da civilização e da in- dústria; e qual será a causa principal de um fenô meno tão espantoso? A escravidão, senhores, a escravidão, porque o homem, que conta com os jornais de seus escravos, vive na indolência, e a indolência traz todos os vícios após si. Diz porém a cobiça cega que os escravos são precisos no Bra- sil,porque a gente dele é frouxa e preguiçosa. Mentem por certo. A Província de São Paulo, antes da criação dos engenhos de açúcar, tinha poucos escravos, e todavia crescia anualmente em povoação e agricultura, e sustentavam de milho, feijão, farinha, arroz, toucinhos, carnes de porco etc., a muitas outras províncias marítimas e interio- res. Mas conceda-se (caso negado) que com efeito a gente livre do Brasil não pode com tantos trabalhos aturados da lavoura, como na Europa, pergunto, se produzindo o milho, por exemplo em Portugal, nas melhores terras quarenta por um, e no Brasil acima de duzentos, e as mais sementeiras à proporção; e estando as horas do trabalho necessário da lavoura na razão inversa do produto da mesma; para que se precisa de maior robustez e trabalhos mais aturados? Os la- vradores da Índia são, porventura, mais robustos do que um branco, A Abolição no Parlamento: anos de luta t Volume I um mulato, um cabra do Brasil? Não por certo, e todavia não morre aquele povo de fome. E por que eles não têm escravos africanos, dei- xam as suas terras de ser agricul tadas, e o seu país um dos mais ricos da Terra, apesar de sua péssima religião e governo, e da impolítica infernal da divisão em castas? Hoje em dia, a cultura dos canaviais e fabricação do açúcar têm crescido prodigiosamente, cujo produto já rivaliza nos mercados pú- blicos da Europa com o do Brasil e ilhas do Golfo do México. Na Conchinchina não há escravos, e todavia a produção e expor- tação do açúcar já montava em 1750, segundo nos diz o sábio Poivre, a 40 mil pipas de duas mil libras cada uma, e o seu preço era baratís- simo no mercado; ora, advirta-se que todo este açúcar vinha de um pequeno país sem haver necessidade de estragar matas e esterilizar terrenos, como desgra çadamente entre nós está sucedendo. Demais, uma vez que acabe o péssimo método da lavoura de des- truir matas e esterilizar terrenos em rápida progressão, e se forem in- troduzindo os melhoramentos da cultura na Europa, de certo poucos braços, a favor dos arados e outros instrumentos rústicos, a agricul- tura ganhará pés diaria mente, as fazendas serão estáveis, e o terreno, quanto mais trabalhado, mais fértil ficará. A natureza próvida e sábia em toda e qualquer parte do globo dá os meios precisos aos fins da sociedade civil, e nenhum país necessita de braços estranhos e força- dos para ser rico e cultivado. Além disto, a introdução de novos africanos no Brasil não aumen- ta a nossa população, e só serve de obstar a nossa indústria. Para provar a primeira tese bastará ver com atenção o censo de cinco ou seis anos passa dos, e ver-se-á que apesar de entrarem no Brasil, como já disse, perto de 40 mil escravos anualmente, o aumento desta classe é ou nulo, ou de muito pouca monta: quase tudo morre ou de misé- ria, ou de desesperação, e todavia custaram imensos cabedais, que se perderam para sempre, e que nem sequer pagaram o juro do dinheiro empregado. Para provar a segunda tese, que a escravatura deve obstar a nossa indústria, basta lembrar que os senhores que possuem escravos vi- vem, em grandíssima parte na inércia, pois não se vêem precisados pela fome ou pobreza a aperfeiçoar sua indústria, ou melhorar sua lavoura. Demais continuando a escravatura a ser empregada exclu- sivamente na agricultura e nas artes, ainda quando os estrangeiros Ano t pobres venham estabelecer-se no país, em pouco tempo, deixam de trabalhar na terra com seus próprios braços e logo que podem ter dois ou três escravos entregam-se à vadiação e desleixo, pelos caprichos de um falso pundonor. As artes não se melhoraram: as máquinas que poupam braços, pela abundância extrema de escravos nas povoações grandes são desprezadas. Causa raiva ou riso ver vinte escravos ocu- pados em transportar vinte sacos de açúcar, que podiam conduzir uma ou duas carretas bem construídas com dois bois ou duas bestas muares. A lavoura do Brasil, feita por escravos boçais e preguiçosos, não dá os lucros com que homens, ignorantes e fanáticos se iludem. Se calculamos o custo da aquisição do terreno, os capitais emprega- dos nos escravos que devem cultivar, o valor dos instrumentos rurais com que devem trabalhar cada escravo, sustento e vestuário, molés- tias reais e afetadas e seu curativo, as mortes numerosas, filhas de mau tratamento e da desesperação, as repetidas fugidas aos matos e quilombos, claro fica que o lucro da lavoura deve ser muito pequeno no Brasil, ainda apesar da prodigiosa, fertilidade de suas terras, como mostra a experiência. No Brasil, a renda dos prédios rústicos não depende da exten- são e valor do terreno, nem dos braços que o cultivam, mas sim da mera indústria e inteligência do lavrador. Um senhor de terra é de fato pobríssimo, se pela sua ignorância ou desmazelo não sabe tirar proveito da fertilidade de sua terra, e dos braços que nela emprega. Eu desejava, para bem seu, que os possuidores de grande escravatu- ra conhecessem que a proibição do tráfico de carne humana os fará mais ricos; porque seus escravos atuais virão a ter então maior valor, e serão por interesse seu mais bem tratados. Os senhores promove- rão os casamentos e estes à população. Os forros aumentando, para ganharem a vida, aforarão pequenas porções de terras descobertas ou taperas, que hoje nada valem. Os bens rurais serão estáveis, e a renda da terra não se confundirá com a do trabalho e indústria individual. Não são só estes males particulares que traz consigo a grande escravatura no Brasil, o Estado é ainda mais prejudicado. Se os se- nhores de terras não tivessem uma multidão demasiada de escravos, eles mesmos aproveitariam terras já abertas e livres de matos, que hoje jazem abandonadas como maninhas. Nossas matas preciosas em madeiras de construção civil e náutica não seriam destruídas A Abolição no Parlamento: anos de luta t Volume I pelo machado assassino do negro, e pelas chamas devastadoras da ignorância. Os cumes de nossas serras, fonte perene de umidade e fertilidade para as terras baixas, e de circulação elétrica, não esta- riam escalvados e tostados pelos ardentes estios do nosso clima. É pois evidente que, se a agricultura se fizer com os braços livres dos pequenos proprietários, ou por jornaleiros, por necessidade e inte- resse serão aprovei tadas essas terras, mormente nas vizinhanças das grandes povoações, onde se acha sempre um mercado certo, pronto e proveitoso, e deste modo se conservarão, como herança sagrada para nossa posteridade, as antigas matas virgens, que pela sua vastidão e frondosidade caracterizam o nosso belo país. É de espantar pois que um tráfico tão contrário às leis da moral humana, e às santas máximas do evangelho, e até contra as leis de uma sã política, dure há tantos séculos entre homens que se dizem civilizados e cristãos! Mentem, nunca o foram. A sociedade civil tem por base primeira a justiça, e por fim prin- cipal a felicidade dos homens; mas que justiça tem um homem para roubar a liberdade de outro homem, e o que é pior, dos filhos deste homem, e dos filhos destes filhos? Mas dirão que se favorecerdes a liberdade dos escravos será atacar a propriedade. Não vos iludais, senhores, a propriedade foi sancionada para bem de todos, e qual é o bem que tira o escravo de perder todos os seus direitos naturais, e se tornar de pessoa a coisa, na frase dos jurisconsultos? Não é pois o direito de propriedade que querem defender, é o direito da força, pois que o homem, não podendo ser coisa, não pode ser objeto de propriedade. Se a lei deve defender a propriedade, muito mais deve defender a liberdade pessoal dos homens, que não pode ser proprie- dade de ninguém, sem atacar os direitos da providência, que fez os homens livres, e não escravos; sem atacar a ordem moral das socie- dades, que é a execução estrita de todosos deveres prescritos pela natureza, pela religião e pela sã política: ora, a execução de todas estas obrigações é o que constitui a virtude; e toda legislação e todo governo (qualquer que seja a sua forma) que a não tiver por base, é como a estátua de Nabucodonosor, que uma pedra desprendida da monta nha a derribou pelos pés; é um edif ício fundado em areia solta, que a mais pequena borrasca abate e desmorona. Gritam os traficantes de carne humana contra os piratas barba- rescos, que cativam por ano mil, ou dois mil brancos, quando muito, Ano t e não gritam contra dezenas de milhares de homens desgraçados, que arrancamos de seus lares, eternizando em dura escravidão toda a sua geração. Não basta responder que os compramos com o nos- so dinheiro; como se dinheiro pudesse comprar homens! Como se a escravidão perpétua não fosse um crime contra o direito natural, e contra as leis do Evangelho, como disse. As leis civis, que consen tem estes crimes, são não só culpadas de todas as misérias que sofre esta porção da nossa espécie, e de todas as mortes e delitos que come- tem os escravos, mas igualmente o são de todos os horrores, que em poucos anos deve produzir uma multidão imensa de homens deses- perados, que já vão sentindo o peso insuportável da injustiça, que os condena a uma vileza e miséria sem fim. Este comércio de carne humana é pois um cancro que rói as en- tranhas do Brasil, comércio, porém, que hoje em dia já não é preciso para aumento da sua agricultura e povoação, uma vez que, por sábios regulamentos, não se consinta a vadiação dos brancos, e outros ci- dadãos mesclados, e a dos forros; uma vez que os muitos escravos que já temos, possam, às abas de um governo justo, propagar livre e naturalmente com as outras classes, uma vez que possam bem criar e sustentar seus filhos, tratando-se esta desgraçada raça africana com maior cristandade, até por interesse próprio; uma vez que se cuide enfim na emancipação gradual da escravatura, e se convertam brutos imorais em cidadãos úteis, ativos e morigerados. Acabe-se pois de uma vez o infame tráfico da escravatura africa- na; mas com isto não está tudo feito; é também preciso cuidar seria- mente em melhorar a sorte dos escravos existentes, e tais cuidados são já um passo dado para a sua futura emancipação. As leis devem prescrever estes meios, se é que elas reconhecem que os escravos são homens feitos à imagem de Deus. E se as leis os consideram como objetos de legislação penal, por que o não serão também da proteção civil? Torno a dizer porém que eu não desejo ver abolida de repente a escra vidão; tal acontecimento traria consigo grandes males. Para emancipar escra vos sem prejuízo da sociedade, cumpre fazê-los pri- meiramente dignos da liberdade: cumpre que sejamos forçados pela razão e pela lei a convertê-los gradualmente de vis escravos em ho- mens livres e ativos. Então os moradores deste Império, de cruéis que são em grande parte neste ponto, se tornarão cristãos e justos, A Abolição no Parlamento: anos de luta t Volume I e ganharão muito pelo andar do tempo, pondo em livre circulação cabedais mortos, que absorve o uso da escravatura: livrando as suas famílias de exemplos domésticos de corrupção e tirania; de inimigos seus e do estado; que hoje não têm pátria, e que podem vir a ser nos- sos irmãos, e nossos compatriotas. O mal está feito, senhores, mas não o aumentemos cada vez mais; ainda é tempo de emendar a mão. Acabado o infame comércio de escravatura, já que somos forçados pela razão política a tolerar a existência dos atuais escravos, cumpre em primeiro lugar favorecer a sua gradual emancipação, e antes que consigamos ver o nosso país livre de todo deste cancro, o que levará tempo, desde já abrandemos os sofrimentos dos escravos, favore çamos e aumentemos todos os seus gozos domésticos e civis; instruamo-los no fundo da verdadeira religião de Jesus Cristo, e não em momices e supers tições: por todos estes meios nós lhes daremos toda a civilização de que são capazes no seu desgraçado estado, despojando-os o menos que puder mos da dignidade de homens e cidadãos. Este é não só o nosso dever, mas o nosso maior interesse, porque só então conservando eles a esperança de virem a ser um dia nossos iguais em direitos, e começando a gozar desde já da liberdade e nobreza da alma, que só o vício é capaz de roubar-nos, eles nos servirão com fidelidade e amor; de inimigos se tornarão amigos e clientes. Sejamos pois justos e benéficos, senhores, e sentiremos dentro da alma que não há situação mais deliciosa que a de um senhor carinhoso e humano, que vive sem medo e contente no meio de seus escravos, como no meio da sua própria família, que admira e goza do fervor com que esses desgraçados adivinham seus desejos, e obedecem a seus mandos, observa com júbilo celestial e como maridos e mulheres, filhos e netos, sãos e robustos, satisfeitos e risonhos, não só cultivam suas terras para enriquecê-lo, mas vêm voluntariamente oferecer-lhe até as premissas dos frutos de suas ter- rinhas, de sua caça e pesca, como a um Deus tutelar. É tempo pois, que esses senhores bárbaros, que por desgraça nossa ainda pululam no Brasil, ouçam os brados de consciência e da humanidade ou pelo menos o seu próprio interesse, senão mais cedo do que pensa, serão punidos das suas injustiças, e da sua incorrigível barbaridade. Eu vou, finalmente, senhores, apresentar-vos os artigos, que po- dem ser objeto da nova lei que requeiro: discuti-os, emendai-os, am- pliai-os segun do a vossa sabedoria e justiça. Para eles me aproveitei Ano t da legislação dos dinamarqueses e espanhóis, e principalmente da legislação de Moisés, que foi o único, entre os antigos, que se con- doeu da sorte miserável dos escravos, não só por humanidade, que tanto reluz nas suas instituições, mas também pela sábia política de não ter inimigos caseiros, mas antes amigos, que pudessem defender o novo Estado dos hebreus, tomando as armas, quando preciso fosse, a favor de seus senhores, como já tinham feito os servos do patriarca Habrahão antes dele. Artigo º Dentro de quatro a cinco anos cessará inteiramente o comércio da escravatura africana; e durante este prazo, de todo escravo varão que for importado se pagará o dobro dos direitos existentes; das escravas porém só a metade; para se favorecer os casamentos. Artigo º Todo escravo, que for vendido depois da publicação desta Lei, quer seja vindo da África, quer dos já existentes no Brasil, será registrado em um livro público de notas, no qual se declarará o preço por que foi vendido. Para que este artigo se execute à risca fica autorizado qualquer cidadão a acusar a sua infração, e provado o fato, receberá metade do valor do escravo dos contratantes que o subnegaram ao registro. Artigo º Nas alforrias dos escravos, cujo preço de venda não constar do re- gistro, se procederá a uma avaliação legal por jurados, um dos quais será nomeado pelo senhor, e outro pela autoridade pública a quem competir. Artigo º Nestas avaliações se atenderá aos anos de cativeiro e serviço do es- cravo, ao estado de saúde, à idade do mesmo: por exemplo, as crian- ças até um ano só pagarão o 12° do valor do homem feito; as de um até cinco só o sexto; as de cinco até 15 dois terços; as de 15 até 20 três quartos; de 20 até 40 o preço total; e daí para cima irá diminuindo o valor à proporção. Artigo º Todo escravo, ou alguém por ele, que oferecer ao senhor o valor por que foi vendido, ou porque for avaliado, será imediatamente forro. A Abolição no Parlamento: anos de luta t Volume I Artigo º Mas se o escravo, ou alguém por ele, não puder pagar todo preço por inteiro, logo que apresentar a sexta parte dele, será o senhor obrigado a recebê-la, e lhe dará um dia livre na semana, e assim
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