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Ato ilícito (1)

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DOS ATOS ILÍCITOS
Ato ilícito é o praticado com infração ao dever legal de não lesar a outrem; também o comete aquele que pratica abuso de direito. Art. 186 e 187 CC
Ato ilícito é, portanto, fonte da obrigação de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado. Art. 927, § único, CC
Existem duas espécies de responsabilidades ou dever de reparação: contratual (art. 389 CC) e aquiliana (ou extracontratual).
O ilícito pode receber punição penal e civil, embora as responsabilidades sejam independentes. Art. 935 CC
Elementos/requisitos
a) Ação ou omissão: é indispensável que o agente delituoso (o infrator) tenha pleno conhecimento da ilicitude do ato que concretiza, caso haja com dolo, isto é, a intenção imanente do infrator de praticar o delito, lesando terceiros. Não obstante a isso, o indivíduo pode agir com culpa, ou seja, mesmo consciente dos prejuízos oriundos de suas condutas, assume o risco de praticá-las.
Culpa in eligendo é a decorrente da escolha do representante ou preposto
Culpa in vigilando é a que decorre da ausência de fiscalização sobre outrem, em que essa fiscalização é necessária ou decorre da lei. Ex: art. 932,III. CC
A culpa in committendo acontece quando o agente prática ato positivo; a culpa omittendo, quando a atitude consiste ato negativo.
A culpa in custodiendo consiste na ausência de devida cautela com relação a alguma pessoa, animal ou coisa. Ex: art. 936 CC
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS PATRIMONIAIS E MORAIS. QUEDA DE PEDESTRE EM BURACO EXISTENTE EM VIA PÚBLICA. FALTA DE SINALIZAÇÃO. OMISSÃO DA MUNICIPALIDADE CARACTERIZADA. DEVER DE INDENIZAR POSITIVADO. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO NO JUÍZO A QUO. VALOR INDENIZATÓRIO MANTIDO. PEDIDO DE ALTERAÇÃO DA SENTENÇA TAMBÉM VEICULADO EM SEDE DE CONTRARRAZÕES. IMPROPRIEDADE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 
I. "Comprovada a falta de manutenção e fiscalização da via pública, bem como de sinalização dos perigos nela existentes, impõe-se a responsabilização do Município pelos danos comprovadamente sofridos por pedestre que caiu em um buraco, vindo a sofrer escoriações e constrangimentos de todas as ordens" (AC n. 2007.055605-8, de Criciúma, rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j. em 31.1.08). 
II. Sopesando-se variáveis tais como culpa do acionado, nível socioeconômico das partes, consequências do ato ilícito e visando a que casos assim sejam cada vez menos ocorrentes, o quantum indenizatório deve louvar-se no binômio razoabilidade/proporcionalidade, estipulando-se valor que, a um só tempo, não sirva de lucro à vítima, nem tampouco desfalque o patrimônio do lesante, mostrando-se apto a compor, na justa medida, o gravame sofrido, com o sentido compensatório e punitivo que dele se exige. 
III. A pretensão deduzida pelo apelado, em sede de contrarrazões, visante à reforma parcial da sentença, para condenar o Município apelado ao ressarcimento das despesas médicas e para ver majorada a verba indenizatória, revela-se de todo imprópria, na medida em que não se insurgiu pela via recursal. (Apelação Cível n. 2009.069842-4, da Capital, rel. Des. João Henrique Blasi)
b) Ocorrência de um dano: é indispensável comprovar a existência de um dano a um bem juridicamente tutelado, quer seja patrimonial quer seja moral. Súmula 37 STJ. Art. 5º, V e X, CRFB/88
DANO MATERIAL E MORAL. HOMEM QUE ENVIA E-MAILS AMEAÇADORES À MULHER DO DONO DA EMPRESA EM QUE TRABALHAVA, A QUAL TAMBÉM ERA SUA COLEGA DE TRABALHO. CONSTRAGIMENTO EFETUADO COM O FIM DE COBRAR VERBAS TRABALHISTAS. [...] DANO MORAL. REQUISITOS PARA SUA CONFIGURAÇÃO PLENAMENTE CARACTERIZADOS. SEGUNDA DEMANDANTE QUE FICA EXTREMAMENTE ABALADA COM OS E-MAILS ENVIADOS PELO DEMANDADO, OS QUAIS CONTINHAM AMEAÇAS AO SEU CASAMENTO. ATO ILÍCITO VERIFICADO. SENTENÇA MANTIDA. Comprovado quantum satis nos autos a autoria de mensagens desairosas destinadas via e-mail à segunda demandante, ressai cristalina a obrigação de indenizar, porque presentes os elementos da responsabilidade civil, a saber, culpa, dano e nexo causal. Quantum indenizatório. Pretensão de diminuição. Demandado que ofende seriamente a moral e imagem da demandante. Alto grau de reprovabilidade. Critérios da razoabilidade e da proporcionalidade. Condenação que não deve servir como fonte de enriquecimento sem causa e, ao mesmo tempo, deve consubstanciar-se em sanção inibitória à reincidência. Sentença mantida, no ponto. O quantum da indenização do dano moral há de ser fixado com moderação, em respeito aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, levando em conta não só as condições sociais e econômicas do ofensor e do ofendido, como também o grau da culpa e a extensão do dano, de modo que possa significar uma reprimenda, para que o agente se abstenha de praticar fatos idênticos, sem ocasionar um enriquecimento injustificado para a vítima. (Apelação Cível n. 2008.055640-8, de Balneário Camboriú, rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira)
 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MATÉRIAS PUBLICAS EM JORNAIS QUE DISPONIBILIZARAM FOTO E NOME COMPLETO DE SUSPEITO PELO CRIME DE INCÊNDIO A ÔNIBUS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. RECURSO DO AUTOR. 1. PRETENDIDO O RECONHECIMENTO DO CARÁTER DE BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA. IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA QUE DEFERE EXPRESSAMENTE A SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DAS CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA, NOS TERMOS DO ART. 98, §3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO. 2. PEDIDO FORMULADO EM SEDE DE CONTRARRAZÕES. TESE DO AUTOR NÃO CONHECIDA. PLEITO PREJUDICADO. 3. ALEGADO INTUITO VEXATÓRIO E OFENSIVO DAS REPORTAGENS. INSUBSISTÊNCIA. NOTÍCIAS DE CUNHO EMINENTEMENTE INFORMATIVO. AUSÊNCIA DE ANIMUS INJURIANDI. INTERESSE COLETIVO CARACTERIZADO. 4. SENTENÇA MANTIDA. 5. HONORÁRIOS RECURSAIS DEVIDOS, NOS TERMOS DO ART. 85, §§1º E 11, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 6. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E, NESTA PORÇÃO, DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0312453-26.2015.8.24.0020, de Criciúma, rel. Des. Raulino Jacó Brüning, Primeira Câmara de Direito Civil, j. 30-01-2020).
c) Nexo de Causalidade entre o Dano e o Comportamento do Agente:
A responsabilidade na órbita civil só tem fundamentos sólidos quando há a relação de causalidade entre a conduta ilícita do agente e o resultado culminado por tal comportamento. Logo se não é verificada tal relação, é inviável falar em responsabilidade civil. Todavia, faz-se mister salientar que há especificas ocasiões em que o nexo de relação desaparece ou mesmo é interrompido quando a conduta da vítima é o motivo exclusivo do evento ocorrer. O assunto está disciplinado na redação art. 945 CC.
APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. ATROPELAMENTO DE PEDESTRE POR ÔNIBUS E MORTE. CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. Impõe-se manter o veredito de improcedência, se a prova indica que a vítima atravessou movimentada avenida da Capital de forma afoita e quando já não podia fazê-lo, dando causa ao acidente. Situação em que a vítima não tinha prioridade de passagem, pois no local havia sinalização semafórica específica, não observada pela pedestre. Desrespeito ao sinal pelo ônibus e velocidade excessiva do veículo inocorrentes. A culpa exclusiva da vítima afasta o nexo causal, pressuposto fundamental da responsabilidade civil, e não gera dever de
indenizar. Apelo improvido. (Apelação Cível Nº 70029599727, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Orlando Heemann Júnior, Julgado em 11/03/2010)
CONSEQUÊNCIA DO ATO ILÍCITO:
O principal desdobramento de um ato ilícito na esfera jurídica é a obrigação de indenizar, isto é, cumprir uma sanção pecuniária pela conduta praticada. No entanto, é primordial ressaltar que nosso ordenamento adota como regra a teoria da responsabilidade subjetiva (art. 186 c/c 927 CC), sendo exceção a teoria da responsabilidade objetiva (ou teoria do risco) (Art. 927, § único CC, art. 14 CDC).
 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CONDENATÓRIA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PARCIAL PROCEDÊNCIA À ORIGEM. RECURSO DOS RÉUS. PRELIMINAR AO MÉRITO.INCAPACIDADE DE TESTEMUNHA. QUESTÃO A SER LEVANTADA IMEDIATAMENTE APÓS A QUALIFICAÇÃO. ART. 457, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ARGUIÇÃO APENAS EM SEDE DE APELAÇÃO. PRECLUSÃO TEMPORAL. ADEMAIS, PATENTE INOVAÇÃO RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO. MÉRITO. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. PALAVRAS OFENSIVAS DIRIGIDAS AO AUTOR. DISCRIMINAÇÃO PELA COR DA PELE E RELIGIÃO. DEVER INDENIZATÓRIO. "A ofensa verbal racista ultrapassa a fronteira do mero dissabor cotidiano, por se tratar de ilícito que atinge diretamente a esfera psíquica do ofendido, motivo pelo qual gera o dever de indenizar" (Apelação Cível n. 0020309-58.2012.8.24.0008, de Blumenau, Rel. Des. Rodolfo Cezar Ribeiro Da Silva Tridapalli, Quarta Câmara de Direito Civil, j. 29-6-2017). QUANTUM INDENIZATÓRIO. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. EXPLÍCITA GRAVIDADE DA CONDUTA LESIVA. ATITUDE DIAMETRALMENTE OPOSTA AOS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. ART. 3º, INCISO III E IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INVIÁVEL MINORAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INTELIGÊNCIA DO ART. 85, § 11º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ARBITRAMENTO. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 1000602-46.2013.8.24.0075, de Tubarão, rel. Des. Ricardo Fontes, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 19-05-2020).
 APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO POR DANOS MORAIS. ROUBO À AGÊNCIA BANCÁRIA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO DO BANCO RÉU. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM E AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. ARGUIÇÕES REJEITADAS. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE POR CASO FORTUITO OU CULPA DE TERCEIRO. INOCORRÊNCIA. EVENTO INERENTE AO RISCO DA ATIVIDADE EXPLORADA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA EM PROMOVER A SEGURANÇA DE SEUS CONSUMIDORES (ART. 14 DO CDC). DEVER DE INDENIZAR INCONTESTE. DANO MORAL. INFANTE QUE VIVENCIOU A AÇÃO VIOLENTA DE ASSALTANTES NO ESTABELECIMENTO BANCÁRIO. ABALO ANÍMICO CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. INSURGÊNCIA COMUM DE AMBAS AS PARTES. REVISÃO DA QUANTIA. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE OBSERVADAS. VALOR MANTIDO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSOS DESPROVIDOS. (TJSC, Apelação Cível n. 0300873-22.2014.8.24.0056, de Santa Cecília, rel. Des. Ricardo Fontes, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 26-05-2020).
Atos Lesivos que não são ilícitos:
Observa-se que algumas situações, dada a sua singularidade, não constituem atos ilícitos, mesmo
causando lesões aos direitos de terceiros. É verificável a tríade que sustenta e constitui o ato ilícito, isto é, o dano, a relação de causalidade entre o agente e o prejuízo causado a direito alheio, entretanto, o motivo está contemplado em lei conferindo-lhes legitimidade e, por consequência, não acarreta o dever de indenizar uma vez que a própria norma jurídica retira os aspectos de ilicitude. São eles: legítima defesa, estado de necessidade e exercício regular de direito.
Legítima Defesa: Tanto na esfera penal quanto na órbita civil, exclui-se a responsabilidade do agente delituoso, já que o indivíduo é obrigado a utilizar de meios necessários para evitar a materialização de uma agressão contra si próprio ou contra outrem e que possivelmente poria um bem juridicamente tutelado em perigo. Por conseguinte, veda-se que aquele prejudicado por tal conduta pleiteie indenização pela conduta, conforme previsão do art. 188, I, CC.
Exercício Regular ou Normal de um Direito Reconhecido: Essa situação se fundamenta na premissa que um direito de alguém exercido não é passível de causar lesão ou ameaça de lesão a um direito de outrem, configurando tão só ato ilícito caso seja praticado de forma abusiva ou ainda irregular (art. 187 CC)
Estado de Necessidade: A situação em si, fundamenta-se na ofensa do direito alheio seja a destruição da coisa pertencente a outrem ou ainda a lesão ao seu direito para extirpar perigo iminente e certo, em face da situação que tornar tal ato de suma necessidade, não excedendo os limites indispensáveis para a remoção do perigo. É necessário frisar o perigo é resultado de um acontecimento fortuito, seja natural seja acidental, criado pelo indivíduo prejudicado contra terceiros. Não havendo qualquer precisão de indenizar o dano se aquele prejudicado for também o próprio ofensor ou ainda o autor do perigo.

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