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1 
 
Theologica LatinoAmericana – Enciclopédia Digital da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Belo 
Horizonte, 2 set. 2015, verbete em Teologia Bíblica. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=169 
Bíblia como Palavra de Deus (verbete) 
 
Leonardo Agostini Fernandes1 
 
Este verbete envolve o percurso e a dinâmica dos temas que caracterizam o ser e 
o agir de Deus, que se manifesta e vem ao encontro do ser humano, e denotam a 
percepção, a acolhida e a reflexão do ser humano como resposta a essa iniciativa divina. 
Nesse percurso e dinâmica, os temas da Revelação e da Inspiração aportam 
diretamente nos temas da Inerrância e da Veracidade dos textos bíblicos, que foram 
escritos em hebraico, aramaico e grego. Essas são as línguas originais da Bíblia, que foi-
se cristalizando durante um longo processo histórico, denominado Formação do Cânon 
do Antigo Testamento e do Novo Testamento. 
Todavia, este conjunto de livros difere, na sua extensão e no seu número, de 
acordo com a aceitação das Antigas Versões existentes que deram origem às inúmeras 
Versões Modernas da Bíblia. Com o surgimento e a difusão da Crítica Literária, teve 
início uma série de Objeções à Bíblia que, no fundo, acabaram por permitir o 
desenvolvimento de interpelações e debates oriundos das Ciências Humanas, que, ao 
invés de descredenciarem a autoridade da Palavra de Deus, acabaram por incentivar novas 
pesquisas e descobrir novas formas de abordagem e de metodologias. 
1 Revelação 
Por revelação entende-se o ato pelo qual o próprio Deus, em sua bondade infinita, 
dignou-se a se fazer presente e atuante na história, palco dos acontecimentos, para dar-se 
a conhecer ao ser humano, elegendo-o seu interlocutor, através de fatos e palavras 
conexos entre si. Deus, adotando e fazendo uso dessa metodologia, permitiu que o ser 
humano pudesse encontrá-lo e experimentar a sua presença e ação de forma perceptível, 
pelos sentidos, e inteligível, pela razão. Se a experiência dos fatos fundamenta as palavras, 
as palavras preservam e explicam os fatos. 
Essa dinâmica demonstra que a Revelação possui, em si, um duplo nível: a) um 
nível que diz respeito ao conteúdo revelado (ex parte Dei); b) um nível que diz respeito à 
inteligência do homem em relação a esse conteúdo revelado (ex parte hominis). Os dois 
níveis não somente envolvem as partes, mas comprometem os seus respectivos papéis na 
história da revelação. 
A Dei Verbum n.2, sobre isso, afirma: “Em virtude desta Revelação, Deus 
invisível (cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), no seu imenso amor, fala aos homens como a amigos 
 
1 Possui graduação em Teologia pela PUC-Rio (1999), mestrado em Teologia Bíblica também pela PUC-
Rio (2002) e doutorado em Teologia Bíblica pela PUG-Roma (2008). Atualmente, está Diretor e Professor 
do Departamento de Teologia da PUC-Rio, no qual ensina Sagradas Escrituras; também é professor de 
Sagradas Escrituras do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro. É membro da 
Associação Bíblica Brasileira (ABIB), da Associação Bíblica Italiana (ABI), da Sociedade de Teologia e 
Ciências da Religião (SOTER), da Society of Biblical Literature (SBL). 
2 
 
Theologica LatinoAmericana – Enciclopédia Digital da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Belo 
Horizonte, 2 set. 2015, verbete em Teologia Bíblica. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=169 
(cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e se entretém com eles (cf. Br 3,38), para os convidar e admitir 
a participarem da sua comunhão.” 
Deus, ao se revelar, assumiu a condição tanto de “sujeito da revelação”, como de 
“objeto da revelação”. No primeiro caso, Deus foi quem tomou a iniciativa de se revelar 
e de se manifestar de forma acessível e ao alcance das capacidades com as quais dotou o 
ser humano. No segundo caso, Deus tornou-se o conteúdo a ser experimentado, buscado 
e compreendido pelo ser humano, capaz de perceber e de adentrar no seu mistério, para 
reconhecê-lo como seu Criador. Apesar disso, a revelação não esgota o mistério de Deus. 
O que Deus revelou ao ser humano é o necessário para que ele realize a sua vontade e 
descubra o sentido da sua vida, da sua existência e do seu fim último: ser partícipe da sua 
íntima comunhão de amor (cf. 2Pd 1,4). 
Se a essência da revelação é o próprio Deus, que se dá a conhecer ao ser humano, 
então a natureza da revelação consiste no modo pelo qual Deus se faz conhecido e se 
permite encontrar. A revelação histórica de Deus é o fundamento da História da Salvação. 
Dando-se a conhecer ao ser humano, Deus inaugurou, igualmente, a via de acesso pela 
qual ele pode encontrar respostas para os seus questionamentos e anseios mais profundos. 
Ao descobrir quem é Deus, o ser humano passa a ter a possibilidade de se autodescobrir 
e saber não somente a sua identidade, mas, também, perceber a sua missão e qual é o seu 
fim último (Teleologia). 
Se a revelação é autocomunicação de Deus, deve ser compreendida como evento 
salvífico. Esse evento teve início com a Criação, desenvolveu-se na história religiosa do 
antigo Israel e alcançou a sua plenitude no mistério da encarnação, vida, ministério 
público, morte e ressurreição de Jesus Cristo, para culminar com o envio do Espírito 
Santo. Por meio dessa trajetória histórica, Deus se deu a conhecer como comunhão: Deus 
é Uno e Trino. 
Portanto, a revelação é um apelo de Deus, em forma de encontro e diálogo familiar 
com o ser humano que acredita na experiência que faz, e é, também, uma moção, enquanto 
abertura para a verdade, que reflete sobre a sua existência à luz da fé. 
2 Inspiração 
A concepção e a compreensão que se tem da inspiração bíblica estão na ordem da 
fenomenologia religiosa. Por meio dessa, acredita-se que uma especial ação de Deus 
possa ter acontecido em determinadas pessoas que, investidas pelo Espírito de Deus, 
receberam um carisma, isto é, uma graça particular para poder falar, agir e escrever as 
palavras que o próprio Deus quis comunicar aos seres humanos para revelar os seus 
desígnios salvíficos. 
No âmbito religioso, essa concepção é universal e, portanto, não é uma 
característica específica e exclusiva da fé judaico-cristã. Os povos antigos (egípcios, 
assírios, babilônios, persas, gregos, romanos), porque eram religiosos, partilharam deste 
mesmo parecer. A razão disso é que a “comunicação inspirada” pela divindade é um 
elemento factual e potencialmente vivo na religiosidade dos povos anteriores e 
contemporâneos ao povo do Deus da revelação. 
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Theologica LatinoAmericana – Enciclopédia Digital da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Belo 
Horizonte, 2 set. 2015, verbete em Teologia Bíblica. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=169 
Na base dessa religiosidade, está a aceitação que as divindades existiam e podiam 
ser invocadas por mediadores, aos quais manifestavam, para um indivíduo ou uma 
comunidade, a sua vontade. Por meio do estabelecimento dessa comunicação quer-se 
saber quais sãos os desígnios divinos, principalmente para se obter sucesso nos projetos 
e neutralizar as possíveis desgraças. 
Todavia, a nota específica que distingue a concepção judaico-cristã dos demais 
povos reside, exatamente, no fato dessa considerar como inspirados alguns escritos, que 
se tornaram normativos para a vida de cada indivíduo e da inteira comunidade. Esta 
acolhida foi o que determinou essa comunidade religiosa como povo da revelação. 
Por inspiração divina da Sagrada Escritura entende-se, então, o influxo particular 
e especial de Deus, exercido na vida e nas capacidades de todos os que, de forma direta 
ou indireta, estiveram envolvidos no processo da elaboração dos livros sagrados. Ao lado 
disso, admite-se que a inspiração foi o que definiu Deus e os seres humanos envolvidos 
nesse processo como verdadeiros “autores” dos textos bíblicos. 
Assim, a SagradaEscritura, enquanto Palavra de Deus revelada e inspirada, foi 
escrita sob a ação do Espírito Santo, como afirma a Dei Verbum n.11: 
As verdades reveladas por Deus, que se encontram contidas e expressas na 
Sagrada Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. Com efeito, a santa 
Mãe Igreja, por fé apostólica, considera como sagrados e canônicos os livros inteiros tanto 
do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, tendo sido 
escritos por inspiração do Espírito Santo (cf. Jo 20,31; 2Tm 3,16; 2Pd 1,19-21; 3,15-16), 
têm Deus por autor e como tais foram confiados à própria Igreja. 
Essa afirmação, apesar de ser um ato de fé solene do Magistério da Igreja, não 
resolveu as numerosas questões que surgiram nos últimos tempos, e que têm exigido de 
biblistas e teólogos, a partir dos resultados obtidos pelos métodos exegéticos, uma 
reflexão cada vez maior, a fim de proporcionar uma melhor compreensão quanto ao tema 
da inspiração da Sagrada Escritura. 
O termo inspiração não existe no Antigo Testamento, mas a sua compreensão 
pode ser depreendida das fórmulas de introdução dos oráculos proféticos: “Assim fala o 
Senhor” ou “Oráculo do Senhor”, que indicam a concepção da origem divina da palavra 
transmitida através dos Profetas. Jr 36,2.32 é um exemplo da fixação escrita da palavra 
profética. Ao lado disso, está a firme convicção de que a Torá (lei – instrução) contém a 
palavra de Deus normativa para o antigo Israel e que foi posta por escrito por ordem do 
próprio Deus (Ex 34,27-28). 
Já em 2Tm 3,16 encontra-se a palavra theópneustos, que pode ser traduzida por 
um valor predicativo (“Toda Escritura é inspirada por Deus”) ou por um valor atributivo 
(“Toda Escritura inspirada por Deus”). Jerônimo traduziu por divinitus inspirata. Além 
dessa citação explícita, 2Pd 1,19-21 afirma que nenhuma profecia foi fruto de mera moção 
humana, mas resulta da ação do Espírito Santo, pelo qual homens falaram em nome de 
Deus. Esta certeza, com relação às palavras contidas nos escritos proféticos, foi estendida 
aos escritos de Paulo, dando a entender que houve dificuldades de interpretação da 
Escritura (2Pd 3,15-16). 
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Theologica LatinoAmericana – Enciclopédia Digital da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Belo 
Horizonte, 2 set. 2015, verbete em Teologia Bíblica. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=169 
Dessa base bíblica resulta a afirmação que Deus, ao transmitir a sua palavra, não 
dispensou os seres humanos envolvidos, mas quis revelar-se e expressar a sua vontade 
através da cooperação humana, valendo-se da sua cultura, da sua língua e das suas formas 
literárias, sem que nada do conteúdo ficasse comprometido. Se Deus não tivesse falado 
de forma humana, a comunicação não seria estabelecida e o seu ser e o seu agir não 
poderiam ser percebidos e compreendidos pelo ser humano. É o que está expresso na Dei 
Verbum n.11, assumindo a posição já contida na Providentissimus Deus e na Divino 
afflante Spiritu. 
Todavia, para escrever os Livros Sagrados, Deus escolheu homens, que utilizou 
na posse das faculdades e capacidades que tinham, para que, agindo Deus neles e por 
meio deles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que 
ele quisesse. 
Portanto, a posição do Magistério, quanto à doutrina da Revelação e da 
Inspiração, possui a sua base na centralidade que Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, ocupa 
na Sagrada Escritura, pois ele é a sua chave interpretativa. Com isso, o profetismo, como 
sinal da inspiração divina no Antigo Testamento, e a realização das promessas, da lei e 
das profecias, no Novo Testamento, fundamentam a interpretação cristológica que se faz 
de toda Sagrada Escritura. 
3 Inerrância e Veracidade 
Dos temas da revelação e da inspiração derivam os temas da inerrância e da 
veracidade da Sagrada Escritura. Por inerrância entende-se a certeza de que o conteúdo 
dos livros da Sagrada Escritura não contém erros quanto à fé na existência de Deus, 
enquanto fonte de conhecimento capaz de orientar o comportamento humano. 
A perspectiva sobre a inerrância, que se encontra na Dei Verbum n.11, revela que 
houve a intenção de se optar por uma compreensão de tipo positivo, no sentido de que o 
texto, claramente, abandona o modelo apologético. Embora se afirme que a Bíblia não 
contém erros, percebe-se que a ênfase recaiu muito mais sobre o fato de que os Livros da 
Escritura ensinam com certeza… a verdade relativa à nossa salvação. Assim, a 
inerrância da Bíblia deixa de ser o ponto central da questão sobre a veracidade da Sagrada 
Escritura, para que a verdade salvífica apareça como corolário. 
A inerrância, então, comporta a admissão de que a Sagrada Escritura ensina a 
verdade, não obstante possam ser encontrados vários tipos de erros que ocorreram na 
transmissão escrita dos textos. Disto se ocupa a Crítica Textual, como passo 
metodológico fundamental para se reconstruir um texto danificado ou para se determinar 
que texto seria o mais próximo do que saiu das mãos do hagiógrafo. Nota-se, mais uma 
vez, que a natureza da possibilidade do erro não contradiz a doutrina afirmada, porque 
admitir um erro de transmissão escrita não significa negar a posição da Igreja no que diz 
respeito à inerrância bíblica, vinculada à comunicação da verdade que se refere, 
exclusivamente, à salvação do gênero humano e não a verdades de cunho histórico ou 
científico, no sentido moderno desses termos. 
Assim, a constatação de erros de grafia, ao longo da transmissão escrita do texto, 
não compromete o sentido literal da Sagrada Escritura, que se alcança no acolhimento de 
cada texto na sua identidade literária e na sua estrutura contextual. O princípio 
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Theologica LatinoAmericana – Enciclopédia Digital da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Belo 
Horizonte, 2 set. 2015, verbete em Teologia Bíblica. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=169 
fundamental que rege e orienta a fé na aceitação e na compreensão da inerrância bíblica 
é a fé de que os textos ensinam, com certeza, a verdade salvífica. Essa verdade é obtida 
na compreensão do conjunto da mensagem contida nos textos. 
Uma vez que a finalidade da Sagrada Escritura é comunicar quem é Deus e qual 
é a sua vontade para o ser humano, é imprescindível lembrar que os autores sagrados 
foram pessoas totalmente integradas no contexto vital do seu tempo, imersos na sua 
própria cultura com tudo o que de limitado e inexato ela comportava em cada época ou 
estágio do processo de formação dos livros bíblicos. A ciência dos hagiógrafos era 
empírica e pertencia ao momento histórico, geográfico e cultural de cada um. Isso não foi 
um obstáculo, mas uma condição e o meio eficaz para que Deus se revelasse, manifestasse 
a sua vontade e essa fosse transmitida com fidelidade. 
O conflito, gerado por correntes racionalistas e iluministas, foi querer ler e 
interpretar a Sagrada Escritura com a atenção direcionada apenas para dois pontos: a 
busca pela veracidade histórica das narrativas bíblicas e a visão do seu conteúdo teológico 
reduzido a uma mera produção humana, sem que houvesse fundamentos científicos para 
as verdades afirmadas. O resultado foi a criação de um abismo entre a verdade salvífica, 
transmitida na Sagrada Escritura, e a verdade acadêmica, comprovada pela ciência. Isso 
será tratado mais adiante no tópico “Objeções à Bíblia e Ciências Naturais”. 
4 Línguas bíblicas 
Os livros do Antigo Testamento foram escritos em hebraico, aramaico e, em certos 
casos, em grego. Já o Novo Testamento foi escrito em grego popular, denominado koiné. 
Alguns livros do Antigo Testamento, presentes no cânon católico, foram preservados 
somente em grego pela Septuaginta ou, simplesmente, LXX, como é conhecida. São os 
livros de: Tobias, Judite, 1-2Macabeus, Eclesiástico, Sabedoria e Baruc. 
O hebraico é uma forma dialetal, que estava em circulaçãona Palestina, 
juntamente com o aramaico, o cananeu meridional (cartas de Amarna), o fenício-púnico, 
o moabítico e o ugarítico. Esse, em particular, ajuda a compreender a pré-história do 
hebraico, desde a sua forma mais antiga, denominada de páleo-hebreu, até assumir a 
forma quadrada com a utilização do alfabeto aramaico. No Antigo Testamento, para se 
indicar o páleo-hebreu, usava-se “língua de Canaã” (cf. Is 19,18) ou “língua judaica”, 
para se distinguir do aramaico falado pelos neobabilônios (cf. 2Rs 18,26.28; Ne 13,24). 
Assim, o hebraico bíblico é uma denominação tardia, que aparece citada no 
prólogo do livro do Eclesiástico, como sendo a língua em que foram escritos os livros 
contidos na Torá, nos Profetas e nos outros Escritos (TaNaK). O desenvolvimento do 
hebraico bíblico, de certa forma, se confunde com o processo de formação dos livros do 
Antigo Testamento e a sua utilização foi sendo identificada, cada vez mais, com a forma 
linguística usada no judaísmo jerusalimita. 
A partir do século VI aC, o hebraico foi sendo suplantado pelo uso do aramaico 
como língua falada e também escrita. Alguns textos do Antigo Testamento foram escritos 
em aramaico imperial ou diplomático: Esd 4,8–6,18; 7,12-26; Dn 2,4b–7,28 (esses textos 
não aparecem nas edições protestantes da Bíblia); Jr 10,11 e duas palavras em Gn 31,47. 
Após as conquistas de Alexandre Magno e a difusão do helenismo, o grego foi imposto 
como língua falada, mas o aramaico conservou-se em diferentes formas dialetais. 
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Theologica LatinoAmericana – Enciclopédia Digital da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Belo 
Horizonte, 2 set. 2015, verbete em Teologia Bíblica. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=169 
A partir do IV século aC, o grego koiné tornou-se o principal veículo linguístico, 
falado e escrito, para propagar o helenismo em um vasto império, como cultura 
dominante, mas principalmente como forma de governo. Este caminho aberto serviu para 
que diferentes crenças religiosas se difundissem rapidamente em todo o mundo, 
favorecendo o intercâmbio religioso, principalmente das chamadas religiões de mistério. 
Foi por causa disto que a palavra sincretismo ganhou também uma forte conotação 
religiosa. 
A Bíblia grega, denominada Septuaginta, e os primeiros documentos produzidos 
pelo cristianismo, que deram origem aos textos do Novo Testamento, foram escritos no 
grego koiné falado e não na sua forma culta e literária, o grego clássico. Os cristãos, ao 
assumirem a LXX como texto oficial das escrituras dos judeus, porque continham as 
antigas promessas messiânicas, aproveitaram esse elemento linguístico como força 
comunicativa e conseguiram levar, para o mundo greco-romano, a fé e os ensinamentos 
de Jesus Cristo, que cumpriu todas as Sagradas Escrituras. 
5 Formação do Cânon 
O vocábulo grego kanôn deriva de uma palavra semita que, em acádico, é qin; em 
ugarítico é qn; em assírio é qanû; e em hebraico é qâneh. Essa terminologia passou para 
as línguas neolatinas através do latim canna, que no português significa “cana ou 
bastãozinho”. No Antigo Oriente Próximo, o cânon era uma vara reta ou barra, próxima 
do que se chama de régua, que servia de critério, isto é, representava uma unidade de 
medida utilizada por pedreiros ou carpinteiros (cf. Ez 40,5.6.7.8). O termo, em sentido 
metafórico-figurado, também já denotava uma regra, uma norma, um grau de excelência 
ou um critério-parâmetro com o qual uma pessoa podia julgar se uma doutrina, um 
raciocínio ou um juízo estava correto, isto é, de acordo com a realidade. O termo cânon 
será utilizado, também, com o sentido de série ou elenco, passando a ser aplicado à lista 
dos livros sagrados dos judeus e dos cristãos. 
Do ponto de vista bíblico, então, o cânon indica um conjunto de escritos que 
judeus e cristãos consideram como normativos para a vida de fé individual e comunitária. 
Ao se determinar o cânon das suas escrituras sagradas, tanto o judaísmo como o 
cristianismo estavam definindo a sua própria identidade de fé. O critério fundamental para 
um livro ser considerado canônico é o reconhecimento de que ele foi inspirado por Deus 
e, logo, contém a revelação da verdade que Deus quis transmitir. 
O processo de formação do cânon do Antigo Testamento não foi o mesmo que o 
do Novo Testamento. Os livros, que compõem o Pentateuco, os Livros Históricos, os 
Livros Proféticos e os Livros Sapienciais, passaram por um longo processo redacional até 
chegarem à sua forma final. Esse processo durou, aproximadamente, 1000 anos para o 
Antigo Testamento. Já para o Novo Testamento, o processo foi mais breve e levou cerca 
de 150 anos. 
A elaboração e aceitação de novos livros pelos cristãos foi o que levou os judeus 
a estabelecerem os quatro critérios básicos para que um livro fosse aceito como canônico, 
no final do século I dC, provavelmente durante o sínodo dos antigos rabinos realizado em 
Jâmnia, que fixou o cânon judaico dos 39 livros que formam a Bíblia Hebraica. O 
primeiro critério dizia respeito à língua, tinha que ter sido escrito em hebraico, tida como 
língua sagrada. O segundo critério dizia respeito ao local, tinha que ter sido escrito na 
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Horizonte, 2 set. 2015, verbete em Teologia Bíblica. Disponível em: http://theologicalatinoamericana.com/?p=169 
região da Palestina. O terceiro critério dizia respeito à época, tinha que ter sido escrito 
antes das reformas empreendidas por Esdras e Neemias, que deram origem ao judaísmo. 
O quarto critério dizia respeito à conformidade com a Torá de Moisés. Esse era o principal 
critério, pois com relação ao cristianismo nascente, servia de base para se refutar muitas 
das afirmações contidas nos escritos que formariam o Novo Testamento. 
O cânon dos livros é diferente na Bíblia Hebraica e na Bíblia Cristã. A primeira 
está subdividida em três blocos: Torá, Nebi’îm e Ketubîm. A segunda necessita, ainda, de 
uma distinção. A Bíblia Protestante segue o mesmo cânon da Bíblia Hebraica e, por isso, 
não possui sete livros: Tobias, Judite, 1-2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. 
Esses livros e alguns suplementos próprios da versão grega, presentes nos livros de Ester 
e Daniel, foram reconhecidos como canônicos pela Igreja Católica e, a partir de 1566, 
passaram a ser denominados deuterocanônicos. 
O termo deuterocanônico, aplicado a esses sete livros e suplementos, não é muito 
adequado, pois, necessariamente, não significa que eles foram inseridos no cânon da 
Igreja Católica num segundo momento. Designa, porém, aqueles livros sobre os quais o 
caráter inspirado e canônico tinha sido posto em dúvida por alguns autores cristãos da 
antiguidade, entre os quais esteve São Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latim, 
denominada Vulgata. 
A primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses foi o escrito ocasional que 
inaugurou o conjunto dos escritos que formariam o Novo Testamento. O evangelho 
segundo Marcos foi, provavelmente, o primeiro do gênero, seguido depois por Lucas, 
Mateus e, no final do século I dC, por João. Estas atribuições, porém, são posteriores aos 
próprios escritos e remontam aos Padres da Igreja que foram, por certo, os responsáveis 
por determinar quais livros fariam parte do cânon cristão. 
A canonicidade de um escrito do Novo Testamento pode ser admitida, em linhas 
gerais, quando o seu conteúdo pode ser identificado com a fé da Igreja primitiva. Ao lado 
disso, o testemunho, como expressão do tempo que se liga ao evento Jesus Cristo, foi 
igualmente determinante. Em geral, critérios externos e internos foram formulados para 
definir quais livros fariam parte do Novo Testamento. 
Quanto aos critérios externos, em primeiro lugar, evoca-se a “autoridade dos 
autores”, muito mais pautada na Tradição do que em evidências históricas. Em segundo 
lugar, “o tempo privilegiadodas origens”, isto é, o período apostólico. Em terceiro lugar, 
a “ortodoxia da doutrina contida nos escritos”, derivada quer do ensinamento de Jesus 
Cristo, quer da autoridade transmitida aos apóstolos. Em quarto lugar, “a utilização 
litúrgica”, pela qual os escritos eram proclamados publicamente numa reunião oficial da 
Igreja. 
Quanto aos critérios internos, evoca-se o reconhecimento da experiência e ação 
do Espírito Santo na vivência da comunidade que acolhe e elabora, dando forma ao 
conteúdo oral ou escrito que recebe. O mais importante, é o reconhecimento da Igreja 
dentro de um processo vivo e aberto, chamado Tradição, que acolhe e toma posse do que 
foi transmitido através dos autores reconhecidamente inspirados. 
O cânon das Escrituras é, para a Igreja de todos os tempos, a verdadeira e própria 
norma non normata, acontecida e revelada, implicitamente, no período apostólico e 
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elaborado, explicitamente, nas decisões que a Igreja tomou ao longo dos séculos, 
principalmente através das disposições e afirmações frutos dos Concílios Ecumênicos. 
6 Antigas versões 
Pelo termo versões se designam as diversas formas em que a Sagrada Escritura 
foi divulgada ao longo dos séculos, tanto em línguas originais como nas diversas 
traduções que foram feitas. É possível, então, que várias versões tenham tido origem em 
uma mesma tradução e que diversas traduções tenham sido realizadas a partir de uma 
versão. Disso resultam as famílias textuais da Sagrada Escritura. 
6.1 A versão aramaica 
Os livros sagrados foram escritos em hebraico e assim eram lidos nas assembleias 
litúrgicas, mas o povo, após o exílio na Babilônia, adotara o aramaico como língua falada 
e escrita, por ser a língua internacional usada pelos dominadores persas. Desse fato 
resultou a necessidade dos “tradutores” interpretarem para o aramaico o que fora lido em 
hebraico. Quando se tratava de um texto da Torá, a tradução era feita a cada versículo. 
Quando se tratava de um texto profético, a tradução era feita a cada três versículos. É 
possível dizer que esse procedimento sinagogal foi um real trabalho de tradução 
simultânea já na antiguidade. 
De início, essa tradução foi somente oral, mas a partir do século I a.C. começou a 
ser feita também por escrito, originando a versão targúmica da Sagrada Escritura. Existem 
livros em aramaico de quase toda a TaNak, salvo dos livros de Esdras, Neemias e de 
Daniel. Quando os targumim são comparados com o Texto Massorético, reproduzido no 
Códice de Leningrado, notam-se algumas diferenças. Essas são explicadas, na maioria 
das vezes, levando-se em consideração que na base dos targumim estaria um texto 
hebraico consonantal anterior ao que se tornou normativo a partir de Jâmnia, e porque a 
tradução em aramaico era livre e de cunho explicativo. 
6.2 A versão grega 
A partir do século III aC, os judeus da diáspora que passaram a viver em 
Alexandria, no Egito, preocupados com a transmissão da fé e dos costumes judaicos aos 
filhos que nasciam em terras dominadas pelo helenismo e incentivados pelo rei Ptolomeu 
II, começaram um trabalho de tradução, da Torá para o grego, de um texto hebraico 
consonantal denominado pelos estudiosos de Protomassorético. Uma antiga lenda conta 
que setenta anciãos judeus de Alexandria foram escolhidos e designados para realizar essa 
tradução. Disso resultará a denominação Septuaginta para a versão grega da Bíblia 
Hebraica. Após a tradução da Torá, o trabalho continuou e no final do século I aC todos 
os livros estavam traduzidos. Outros também surgiram em língua grega, mais tarde, e não 
foram aceitos pelos judeus de Jâmnia, mas alguns foram adotados pelos cristãos. Dentre 
esses estão os deuterocanônicos. 
A LXX foi fundamental para a expansão do cristianismo fora da Palestina, visto 
que o hebraico e o aramaico circunscreviam as Sagradas Escrituras somente aos judeus. 
Graças ao grego, adotado como língua cultural no vasto Império Romano, a campanha 
missionária cristã, muito favorecida pelo apóstolo Paulo, pode, em primeiro lugar, tornar 
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as Sagradas Escrituras dos judeus conhecidas e, em segundo lugar, favorecer o 
surgimento dos escritos que comporiam o futuro cânon do Novo Testamento. 
6.3 As versões latinas 
Não obstante o grego fosse uma língua muito apreciada, o latim também tinha 
uma força muito grande, principalmente por sua valorização por poetas e escritores como 
Virgílio, Cícero, Horácio e Ovídio. Com a simpatia do Imperador Constantino pelo 
cristianismo, pois a sua real conversão, ao que tudo indica, aconteceu pouco antes da sua 
morte, e a proclamação da religião cristã como oficial de todo o Império Romano pelo 
imperador Teodósio, houve uma intensa popularização do cristianismo, que ocasionou a 
tradução da Bíblia para o latim. Várias versões surgiram, mas a mais importante foi a 
Vetus Latina, que esteve muito em voga no Norte da África, visto que o latim era a língua 
mais popular. A Vetus Latina foi, provavelmente, a Bíblia de Santo Agostinho. 
No século IV dC, São Jerônimo recebeu e acolheu a solicitação do Papa Dâmaso 
I para que revisse a tradução da Bíblia para o latim, pois havia uma grande circulação de 
versões discordantes. A obra empreendida por São Jerônimo ficou conhecida como 
Vulgata, cuja sigla é Vg. Esta tradução, inicialmente, não teve o mesmo impacto da Vetus 
Latina e somente foi adotada como versão oficial da Igreja Católica Ocidental (Romana) 
durante o Concílio de Trento (1545-1563). A sua impressão foi patrocinada pelo Papas 
Sisto V e Clemente VI, razão pela qual passou a ser conhecida como Vulgata sisto-
clementina. Duas revisões foram feitas após o Concílio Vaticano II (1963-1965), uma 
promovida pelo Papa Paulo VI e outra por são João Paulo II, ambas encomendadas aos 
monges da Abadia de São Jerônimo em Roma, e a nova publicação, levando em conta as 
pesquisas bíblicas recentes e uma maior aproximação do hebraico, aramaico e grego, 
passou a se chamar Nova Vulgata. 
6.4 Outras versões antigas 
Além das traduções gregas e latinas, outras versões, totais ou parciais, surgiram 
nos primeiros séculos do cristianismo em língua siríaca (peshita), egípcia (copta), armena 
etc., que ainda estão em uso na liturgia desses ramos do cristianismo ortodoxo. 
7 Versões modernas 
As versões parciais ou totais da Bíblia multiplicaram-se, nos últimos cinco 
séculos, em um incontável número de novas “vulgatas”, em línguas germânica e anglo-
saxônicas: alemão e inglês; e em línguas neolatinas: italiano, francês, espanhol, português 
etc. As versões elaboradas por protestantes saíram na frente e somente com o Papa Bento 
XIV (1757) é que as versões católicas, tendo a Vulgata por texto oficial, começaram a 
aparecer com mais frequência e sempre sob aprovação da Santa Sé ou, fora da Urbe, sob 
a constante vigilância dos Bispos. Tanto o antigo Código de Direito Canônico de 1917 
(cân.1391), como o novo Código de 1983 (cân.825) regulamentaram as traduções que, 
sem dúvida alguma, ganharam grandes estímulos no Concílio Vaticano II, na Dei Verbum 
n.22. 
Neste ponto, serão citadas, apenas, as de maior relevância e que tiveram maior 
impacto. Em alemão, a mais famosa é a versão de Lutero, que foi a primeira a ser 
traduzida levando em conta as línguas originais. Na verdade, essa versão acabou por se 
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tornar o parâmetro de unificação para a futura língua alemã oficial, visto que eram muitos 
os dialetos. Lutero não descuidou na sua tradução, buscando sempre a palavra mais 
adequada, e teve presente tanto a Vulgata como os comentários patrísticos de sua época. 
Ele usou para o Antigo Testamento a versão latina do texto hebraico feito por Sante 
Pagnini, que o dividiu em versículos, serviu-se inclusive da ajuda de judeus, e da edição 
de Erasmo da Septuaginta para o Novo Testamento. 
Da parte católica, dentre as várias traduções, duas foram muito apreciadas: a 
editada por Weitenauer (Augsburg, 1783-1789) e a de Loch – Reischl (1851-1866), a 
partir da Vulgata, mas munida de um aparato crítico, levando em conta as variantes do 
hebraico e do grego. Em 1972, para o Novo Testamento, e em 1974, para o Antigo 
Testamento, surgiu uma edição conjunta da Bíblia, envolvendo os bispos da Alemanha, 
Áustria, Suíça, Luxemburgo e Lüttich. Em 1980, essa edição sofreu uma revisão. 
Em anglo-saxônico, as versões mais conhecidas e difundidas são a King James’ 
Bible (1604), encomendada pelo rei anglicano James; a Authorized Version (1607-1611); 
a Standard Version (1881, para o NT, e 1884, parra o AT); a American Standard Version 
(1900-1901); a Revised Standard Version (1946-1957); a New English Bible (1961-
1970), fruto desejado de uma reunião da principais Igrejas protestantes; e a Good News 
Bible, que foi publicada em 1976, tanto em Londres como em Nova York. 
Em italiano, antes do Concílio de Trento, surgiram a Bibbia di Nicolò Malermi e 
a tradução de Antonio Brucioli, feita a partir das línguas originais. A versão italiana da 
Vulgata foi obra de Antonio Martini, em 23 volumes. Entre 1923-1958, surgiu uma 
tradução em italiano, editada por Alberto Vaccari e colaboradores do Pontifício Instituto 
Bíblico, a partir das línguas originais, com notas de crítica textual e comentário. A partir 
de 1943, ano da publicação da Encíclica Divino afflante Spiritu, de Pio XIII, surgiram a 
La Sacra Bibbia, obra organizada por Garofalo e Rinaldi, e um grande número de novas 
versões com comentários científicos, dentre as quais destaca-se a Nuovissima versione 
della Bibbia em 46 volumes, que, em 1983, foi reunida em um único volume. Muitas 
outras poderiam ser citadas, um destaque, porém, vai para a Bibbia di Gerusalemme 
(1974; 1993), que traz o texto oficial da Conferência Episcopal Italiana, Bibbia CEI 
(1974), com as notas da Bible de Jérusalem. 
Em francês, a primeira versão completa foi a Bible de Sainte Louis IX, do século 
XIII, traduzida do latim. Em 1535, um primo de Calvino, Olivetano publicou uma 
tradução a partir dos originais e que serviu de base para futuras versões protestantes até o 
século XIX. A três versões completas mais importantes foram a Bible de Jérusalem que, 
inicialmente, surgiu em 43 volumes (1948-1952) e, depois, em um único volume (1956); 
a Bible de La Pléiade, organizada por Dhorme (1956-1959); e a Sainte Bible, dirigida por 
Pirot e Clamer (1935-1959). Enfim, a Traduction Oecuménique de la Bible (TOB), fruto 
da colaboração de católicos e protestantes que apareceu em 1975 e foi revista em 1988. 
Em espanhol, houve versões parciais anteriores ao Concílio de Trento, mas por 
causa da Inquisição espanhola as publicações católicas e a leitura da Bíblia foram 
proibidas em língua vulgar. Essa situação durou até 1780. Em contrapartida, entre os 
judeus e os protestantes a história foi diferente e surgiram a Biblia de los Hebreus ou del 
Ferrara e a Biblia del Oso, que foi a primeira versão completa em espanhol (1567-1569) 
e foi traduzida diretamente da versão hebraica de Sainte Pagnini e, linguisticamente, 
supera a Biblia del Ferrara. No século XX, surgem a edição organizada por Nacar–
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Colunga em Madrid (1944 e revista em 1968); a edição de Bover–Cantera, também em 
Madrid (1947 e revista em 1962); e a Sagrada Biblia de Cantera–Iglesias, que é uma 
versão crítica feita a partir das línguas originais (1975). De grande valor literário é a Biblia 
del Peregrino, em 3 volumes, dirigida por Alonso Schökel (1996). 
Na América Latina, a versão católica mais difundida é a La Biblia 
Latinoamericana conhecida também por La Biblia de Nuestro Pueblo ou La Nueva Biblia 
– Edición Pastoral para Latinoamérica, que foi feita no Chile a partir das línguas 
originais. Foi obra de Bernardo Hurault, publicada na Espanha em 1972, por motivos 
econômicos, pela Editorial Verbo Divino. Em 2004, uma nova edição revisada foi 
publicada em conjunto pela San Pablo e Editorial Verbo Divino. Desde a segunda metade 
do século passado, houve também grande circulação da Bíblia de Jerusalém em espanhol. 
A entrada da Bíblia na América Latina de língua espanhola deve-se, porém, à Sociedade 
Bíblica Britânica e Estrangeira que fez chegar os primeiros exemplares na Argentina e no 
Uruguai em 1806. 
Em português, houve, desde antes do Concílio de Trento, várias iniciativas de 
tradução da Bíblia, mas nunca chegaram a uma edição completa em Portugal. João 
Ferreira de Almeida foi o primeiro a traduzir a Bíblia para a língua portuguesa, e o fez a 
partir das línguas originais, começando pelo Novo Testamento e usando o Textus 
Receptus. Almeida não conseguiu traduzir todo o Antigo Testamento. Em 1691, ano de 
sua morte, tinha conseguido chegar até Ez 48,12. A tradução foi completada por Jacobus 
van den Akker em 1694. Em tom comparativo, pode-se dizer: o que a tradução de Lutero 
foi para o alemão, a tradução de João Ferreira representou para o português. Nos últimos 
trinta anos, a tradução do Almeida, como é mais conhecida, recebeu várias revisões, 
dando origem a novas edições: Almeida Corrigida Fiel; Almeida Revista e Atualizada; 
Almeida Revista e Corrigida. 
Além da tradução do Almeida, a tradução do padre Antônio Pereira de Figueiredo 
também obteve grande aceitação. Entre 1778-1781 publicou, em 6 volumes, o Novo 
Testamento. Entre 1782-1790, em 17 volumes, publicou o Antigo Testamento. Em 1819, 
foi publicada uma versão em 7 volumes, e em um único volume em 1821. 
No Brasil, a primeira tradução completa da Bíblia, erudita nas suas características 
e bem literal a partir das línguas originais, surgiu em 1917; contou não somente com a 
participação de teólogos, mas com a revisão linguística e literária de Ruy Barbosa. Entre 
1950 e 1990, a Editora Paulinas publicou a versão do padre português Mattos Soares que 
traduziu diretamente da Vulgata, na década de 1930. Em 1976, surgiu, baseada na versão 
francesa, a edição da Bíblia de Jerusalém pela Editora Paulinas, que contou com a 
participação de muitos especialistas. Em 2002, já pela Paulus, surgiu a nova edição da 
Bíblia de Jerusalém, revista e ampliada. A Bíblia Sagrada editada pelas Vozes, e sob a 
coordenação geral de Ludovico Garmus, contou com vários biblistas e foi publicada, a 
partir das línguas originais, em 1982. Neste mesmo ano, também foi publicada uma Bíblia 
Sagrada pela Editora Santuário e, no ano seguinte, a Bíblia Mensagem de Deus, publicada 
pela Loyola. Em 1990, sob a coordenação de Ivo Storniolo, foi publicada a Bíblia Sagrada 
Edição Pastoral, visando mais aos leigos e que acaba de ser reeditada (2014): Nova Bíblia 
Pastoral. Enfim, para comemorar o jubileu de ouro da CNBB, em 2001 foi publicada a 
Bíblia CNBB; está em andamento a sua revisão. 
 
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8 Objeções à Bíblia e Ciências Humanas 
A Bíblia recebe o maior número de objeções dos meios científicos ligadosà 
História, à Arqueologia e às Ciências Naturais. A juventude, por ter maior acesso aos 
estudos, é a mais influenciada e disposta a erguer bandeiras, quando se depara com 
docentes capazes de apresentar critérios e argumentos que, à primeira vista, parecem 
irrefutáveis. 
Não raro, escutam-se questionamentos, posicionamentos e comentários oriundos 
tanto dos meios acadêmicos, quanto também dos populares, do tipo: “A Bíblia não é uma 
fonte confiável de história e para a história”, inúmeros estudos derivados da Arqueologia 
e da História comparada das religiões comprovam isso; ou “A Bíblia não diz a verdade, 
porque as Ciências Naturais contradizem as suas afirmações, principalmente quanto à 
origem e à evolução do universo e das formas de vida, em particular a humana, sobre o 
planeta terra”. A discussão, então, passa a oscilar entre mito e verdade. 
Na base das afirmações estão, sem dúvida, certezas de ordem científica, mas 
também estão preconceitos ou falta de informação sobre a natureza da Bíblia. Some-se a 
isso a dicotomia que permeia muitos espaços humanos colocando em conflito a fé e a 
razão. Por um lado, se encontram os defensores fideístas e fundamentalistas das verdades 
bíblicas, que ignoram os postulados da Ciência. Por outro lado, se encontram os 
defensores das posições racionalistas, iluministas e positivistas, que ignoram os vários 
sentidos contidos nos textos bíblicos. Para esses, a única verdade que existe e deve ser 
aceita é a verificada, que deriva da comprovação científica com base na repetição das 
experiências. Em muitos casos, os dois grupos se “excomungam” reciprocamente. 
Diante desse impasse, então, é importante que se faça uma distinção quanto à 
natureza dos textos bíblicos e os objetos de estudo das ciências. Assim, é possível 
conceder, em parte, a razão para ambos os lados, desde que haja o mútuo interesse em se 
buscar uma posição equilibrada e capaz de gerar diálogos profícuos, nos quais são 
respeitadas as competências. Para que isso aconteça de maneira oportuna e eficaz, faz-se 
igualmente necessário que as verdades bíblicas e as verdades científicas não sejam 
colocadas no mesmo nível e sobre os mesmos patamares. 
Se o horizonte da Ciência é o desconhecido e o ainda não solucionado – por 
exemplo, quanto à formação da matéria e a compreensão da antimatéria do universo, por 
certo, em expansão – o horizonte da Bíblia é o ser humano direcionado para a harmonia 
do seu ser e da busca da felicidade. Quando os dois horizontes se alinham e não se 
ofuscam, como em um eclipse, são superadas as incertezas e iluminadas obscuridades da 
história do saber humano, e projeta-se luz sobre as realidades inacessíveis à razão. 
A fim de facilitar esse diálogo, já desde o século XIX os estudiosos da Bíblia 
viram a necessidade de se aplicar aos textos metodologias e abordagens científicas, para 
alcançar resultados mais convincentes quanto à teologia e à mensagem neles contidas. O 
principal foi o Método Histórico-Crítico, de índole diacrônica, que foi assumido dos 
círculos filosóficos preocupados em estabelecer os textos originais dos filósofos da 
antiguidade. Esse método reúne uma série de procedimentos literários, com a pretensão 
de alcançar a gênese e os processos históricos existentes por detrás dos textos. 
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Nos últimos anos, apesar de muitos frutos obtidos, essa metodologia recebeu 
fortes críticas, porque sozinha não consegue dar conta de toda a problemática e riqueza 
encerradas nos textos bíblicos. Ao lado dessa constatação, os resultados obtidos são, em 
muitos casos, até contraditórios, colocando as verdades encontradas como alvo de 
relevantes questionamentos. Isso fez surgir, no mundo exegético-teológico, novas 
abordagens e metodologias, não menos rigorosas e de índole mais sincrônica, bem mais 
preocupadas e focadas na Bíblia como literatura, mostrando que seus autores e suas 
reflexões estavam plenamente inseridos no contexto do Antigo Oriente Próximo. 
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