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1 Carolina Gondim – 2019.2 SINDROME NEFRÍTICA E NEFRÓTICA INTRODUÇÃO • Correspondem a doenças que comprometem o GLOMERULO RENAL o Unidade básica da FILTRAÇÃO RENAL –20 a 25% débito cardíaco (cerca de 120 a 180 l/dia de plasma) chega ao rim e ocorre um processo de ultrafiltração originando a urina o A maioria das proteínas (como a albumina) são excluidas deste processo, pois não passam pela barreira de membrana, devido a carga elétrica negativa e tamanho dos poros de membrana ESTRUTURA GLOMERULAR • Glomérulo é um tufo de capilares no interior de uma cápsula denominada – CÁPSULA DE BOWMAN • Polo vascular: Glomérulo é um tufo de capilares no interior de uma cápsula denominada – CÁPSULA DE BOWMAN • Polo urinário: espaço de Bowman, para onde o filtrado vai que será levado para os túbulos renais. • Sustentação glomerular: Células mesangiais – produzem matriz mesangial • Membrana Basal Glomerular – localizada entre as células endoteliais dos capilares e os podócitos o BARREIRA FÍSICA PARA FILTRAÇÃO GLOMERULAR (peneira) o BARREIRA ELETROQUÍMICA – Presença de glicoproteínas aniônicas que repelem proteínas de cargas negativas • A maioria das proteínas (como a albumina) são excluídas deste processo, pois não passam pela barreira de membrana, devido a carga elétrica negativa e tamanho dos poros de membrana FISIOLOGIA – FILTRAÇÃO GLOMERULAR 1. Água eletrólitos e substâncias saem do sangue capilar 2. Atravessam as células endoteliais e a membrana basal glomerular 3. Caem no espaço de BOWMAN (espaço urinário) seguem para os túbulos renais 4. Liquido filtrado que é processado em urina 2 Carolina Gondim – 2019.2 MECANISMOS DE LESÕES GLOMERULARES MECANISMOS IMUNOPATOLÓGICOS • Citoxidade por anticorpos • Lesão mediada por imunocomplexos • Lesão mediada por células – hipersensibilidade tardia • Lesão mediada por ativação do complemento e por mediadores inflamatórios OUTROS MECANISMOS • Lesão por toxinas • Lesão por depósito de substâncias • Lesão por alterações metabólicas SÍNDROME NEFRÓTICA DEFINIÇÃO • A síndrome nefrótica deve ser entendida como o conjunto de sinais, sintomas e achados laboratoriais que se desenvolvem quando, por alguma razão, ocorre aumento patologicamente exagerado da permeabilidade dos glomérulos às proteínas, levando à proteinúria maciça. Na verdade, define-se a proteinúria na “faixa nefrótica” como aquela superior a 3,5 g/1,73 m²/24h, o que equivale a > 3-3,5 g/24h no adulto e > 40-50 mg/kg/24h na criança • A proteinúria maciça é o estigma da síndrome, e resulta nos demais achados clinicolaboratoriais que a definem: (a) hipoalbuminemia; (b) edema; (c) hiperlipidemia; e (d) lipidúria • Lesão glomerular de natureza primária (idiopática) ou secundária (várias doenças) alterando a permeabilidade da MEMBRANA BASAL GLOMERULAR o O mais importante aqui não é a invasão glomerular por células inflamatórias (glomerulite), mas sim uma grave alteração na permeabilidade dos glomérulos, que passam a não ser mais capazes de reter as macromoléculas, especialmente as proteínas • Alterações na barreira da membrana: o Barreira de carga elétrica – ALBUMINURIA - Seletiva o Barreira Mecânica (poros) – PROTEINURIA - Não seletiva • A síndrome nefrótica em muitos casos é bastante insidiosa. o A maioria dos pacientes nefróticos que evoluem para disfunção renal, evoluem para uma disfunção crônica. Já no nefrítico, caso ocorra uma disfunção renal, provavelmente será aguda FISIOPATOLOGIA • Alteração na membrana basal glomerular o PROTEINÚRIA MACIÇA (>3 a 3,5 g/24hrs ou >50 mg/kg/24hrs) ▪ Tradicionalmente, a quantificação da proteinúria é feita pela coleta de urina durante 24h, sendo este o “padrão ouro”. Entretanto, nos dias de hoje, um método muito mais prático tem sido empregado: coleta de uma amostra urinária, com estimativa da proteinúria diária ▪ Pode ser do tipo seletiva ou não seletiva: 3 Carolina Gondim – 2019.2 • Seletiva: quando o processo lesivo renal acarreta perda predominante na “barreira de carga” (como no nefropata por lesão mínima) • Não seletiva: quando a lesão glomerular determina perda da “barreira de tamanho” o HIPOALBUMINEMIA < 2,5g ▪ A albumina é a grande responsável pela pressão oncótica ▪ Apesar da queda dos níveis de albumina estimular a síntese hepática desta proteína, esta não é suficiente para evitar que se desenvolva uma hipoalbumineia acentuada, característica marcante da síndrome nefrótica ▪ É pedido proteína total e fração para identificar o valor da albumina o EDEMA GENERALIZADO ▪ Diminuição da pressão oncótica (Critério de diferenciação da síndrome nefrítica. Nesta ocorre aumento da pressão hidrostática) ▪ Etiologia do edema: 2 teorias • Hipoalbuminemia → reduz pressão oncótica vascular → perde liquido para o 3º espaço → ativa SRAA → retenção de sódio e água pelo rim → aumenta o edema. • Retenção e sódio no rim → sódio retêm água → aumenta pressão hidrostática num sistema que tem pressão oncótica baixa → extravasa pro terceiro espaço → ativa SRAA → edema o HIPERLIPIDEMIA/ LIPIDÚRIA ▪ Aumento da síntese hepática de lipoproteínas, estimulada pela queda da pressão oncótica induzida pela hipoalbuminemia CLASSIFICAÇÃO PRIMÁRIA/ IDIOPÁTICA • Não sabemos uma causa determinante. • A primária costumar ter uma evolução muito melhor que a secundária; • Tipo histológico (vejo através da biópsia) de lesão mínima: 80% em crianças; 20% adultos. • Fusão (e apagamento) dos processos podocitários, alterando a estrutura normal das fendas de filtração. o Quando chegam pacientes infantis com idade e clínica condizente com síndrome nefrótica, não os submetemos a biópsia. Só realizamos esse procedimento se o paciente não obtiver uma evolução boa o Lesão mínima não é comum no agudo, então se uma pessoa adulta chega com características da síndrome nefrótica, eu vou pesquisar laboratorialmente, mas para ter certeza, ele vai para biópsia. o Em crianças, só casos graves vão encaminhar para lesão renal. • Outros tipos histológicos o Glomeruloesclerose; o Nefropatia membranosa; o Membranoproliferativa; SECUNDÁRIA • Diabetes Mellitus; • LES; • Amiloidose. • Vasculite; • Infecções virais: hepatite B, HIV; • Linfoma; • Tumores sólidos; • Esquistossomose o Bahia é uma zona endêmica QUADRO CLÍNICO • Edema periorbital (bilateral, simétrico e bipalpebral - pálpebra de cima e de baixo). 4 Carolina Gondim – 2019.2 o Geralmente é simétrico. Esse edema acontece tipicamente pela manhã. Pôr que na pálpebra? Ela tem um tecido conjuntivo muito frouxo. o Obs: Como diferenciar o edema do paciente nefrótico do cardiopata? O nefrótico é mais na face e pela manhã, o cardiopata é mais nos membros inferiores e a noite. • Edema de face; • Anasarca. o Atenção: anasarca não apenas é edema generalizado! Para ser anasarca é necessário ter derrame cavitário (pleural, pericárdico, ascite) associado ao edema generalizado. • Derrame pleural / ascite / dispneia. o Devido a diminuição da pressão oncótica. • Urina espumosa. o Por que? Tem muita quantidade de proteína. • HAS o Mais raro, muito mais comum nos pacientes nefríticos, devido ao aumento da pressão hidrostática. Caso o paciente nefrótico esteja desenvolvendo hipertensão, é necessário desconfiar de disfunção renal • Diminuição do volume urinário – menos comum. Se sim, preciso pensar se é pré-renal o problema COMPLICAÇÕES DE UM PACIENTE COM SÍNDROME NEFRÓTICA • Doenças arterioscleróticas: LDL colesterol alto. o Aumento do estímulo para produção hepática de albumina e LDL. • Propensão a trombose – trombose de veia renal ou TVP. o Perda renal de fatores importantes para anticoagulação – antitrombina III. • Propensão a infecções. o Perda renal de imunoglobulinas. EXAMES COMPLEMENTARES • O que é necessário pedir? Proteínas totais e frações (albumina)+ sumário de urina • Albumina Serica < 2,5 • Proteinuria < 3,0 a 3,5 g / 24hs o Apenas esse quesito não fornece diagnóstico • LDL - Colesterol alto • Função Renal (Uréia e Creatinina): Geralmente normal ou padrão pré-renal • S. Urina – Proteínas +++ • Cilindros Inespecíficos – Hialinos e granulosos o Mas afinal, o que são cilindros? ▪ Diariamente, células epiteliais que compõem a parede da alça de Henle secretam uma proteína conhecida como “glicoproteína de Tamm-Horsfall”. Esta proteína segue o fluxo urinário e acaba se depositando nos túbulos coletores, originando uma superfície “pegajosa” em seu interior. Como consequência, diversas substâncias, partículas ou mesmo células podem se aderir a estas proteínas, moldando um corpo cilíndrico-tubular potencialmente “descamável”. ▪ Os cilindros são classificados em função de sua composição, mas podem ser dividos basicamente em dois tipos: os celulares (epiteliais, hemáticos e leucocitários), sempre patológicos, e os acelulares (como os hialinos), que podem ser encontrados em indivíduos normais o Cilindros hemáticos são comuns em pacientes com síndrome nefrítica • Biópsia Renal (avaliar necessidade) NEFROPATIA DIABÉTICA • É um modelo da síndrome nefrótica. • Complicação crônica de diabetes – Microangiopatia. o A DM atinge microvasos, e o glomérulo são microvasos. • Principal causa de insuficiência renal crônica e de diálise no ocidente. 5 Carolina Gondim – 2019.2 • Aumenta o risco de DCV em 2 e 3x. • Prevenível – Resulta da hiperglicemia crônica o A doença pode ser prevenida caso o paciente adotar as condutas adequadas para o tratamento de sua doença CONDUTA ESTÁGIOS • Observações: o Estágio 1 = ainda não há doença instalada, mas há sinais de progressão. o Quando é percebido pelos exames que a situação está crítica? Estágio 3 – pela microalbuminúria. o A urina de 24 horas é sempre algo quantitativo; sumário é qualitativo – é pequeno o A proteína no paciente nefrótico está: ▪ ALTA → na urina ▪ BAIXA → no sangue o Existem condições que há alteração transitória de albuminúria = exercício intenso. Então eu preciso ter certeza que o paciente tem uma microalbuminúria isolada (repetindo o exame despois de um tempo – 2/3 meses ou mais) o Condições não diabéticas que podem levar à elevação de albumina: ITU, IC, febre, descompensação glicêmica grave isolada, HAS descompensada, atividade física rigorosa o Não é possível o paciente sair do estágio 4 para ir para o 5. Então, qual a conduta? Tentar manter o paciente no estágio 4, sem a evolução para o 5 SÍNDROME NEFRÍTICA DEFINIÇÃO • Sinais e sintomas resultantes do início abrupto de edema, hipertensão arterial sistêmica, oligúria, redução de função renal e alteração no sedimento urinário 6 Carolina Gondim – 2019.2 • DIMINUIÇÃO da taxa de filtração glomerular • A síndrome nefrítica pode ser entendida como sendo o conjunto de sinais e sintomas que surgem quando um indivíduo tem os seus glomérulos renais envolvidos por um processo inflamatório agudo. o Essa inflamação dos glomérulos pode ocorrer de forma idiopática, como doenças primárias dos rins, ou ser secundária a alguma doença sistêmica, como infecções e colagenoses • Atenção: Na nefrótica são identificados problemas na permeabilidade da membrana; na nefrítica, no processo inflamatório • O quadro básico é caracterizado por hematúria (estigma da síndrome), proteinúria subnefrótica (menor que 3,5 g em 24h), oligúria, edema e hipertensão arterial. O debito urinário provoca retenção volêmica, justificando o edema generalizado e a hipertensão arterial. Por vezes, surge também azotemia (retenção de ureia e creatinina), quandp há queda significativa na taxa de filtração glomerular • A hematúria tem origem nos glomérulos comprometidos, sendo o sinal mais característico e mais comum da síndrome nefrítica, devendo ser esperada na imensa maioria das vezes, na forma macro ou microcoscópica o A hematúria é detectada pelo do sedimento urinário. Este exame é conhecido por nomes diversos em diferentes regiões do Brasil, sendo também chamado de EAS, urina tipo I, urinálise, EQU e sumário de urina • RESUMINDO: o O paciente que desenvolve síndrome nefrítica é aquele que se queixa de urina “presa” e “vermelho- acastanhada”, correspondentes a oligúria e à hematúria, e desenvolve hipertensão arterial e edema por congestão hídrica, o sedimento urinário mostra dismorfismo eritrocitátio, piúria e cilindros celulares (hemáticos e leucocitários), e a urina de 24h revela proteinúria em níveis de 150mg a 3,5g (subnefróticos) PATOLOGIA • Agentes, infeciosos, anticorpos citotóxicos e depósito de imunocomplexos causam um processo INFLAMATÓRIO GLOMERULAR → GLOMERULONEFRITE o Infiltração de células inflamatórias – leucócitos e macrófagos o Proliferação de células glomerulares • Esses mecanismos, por sua vez, promovem a liberação de mediadores inflamatórios → Lesão glomerular • Quando ocorre a glomerulonefrite, temos: o Redução da superfície de filtração glomerular o Redução da taxa de filtração glomerular o Redução de excreção de líquidos, solutos e eletrólitos GLOMERULONEFRITES CAUSADORAS DE S. NEFRÍTICA • NEFROPATIA por IgA - Mais comum • PÚRPURA DE HENOCH - SCHONLEIN - Vasculite • GLOMERULONEFRITE - Pós – estreptocócica o Associada a endocardite e abcessos viscerais • GLOMERULONEFRITE - Rapidamente progressiva • DOENÇA POR ANTICORPOS ANTI MBG (membrana basal glomerular) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Edema periorbitário e facial. • ANASARCA o O paciente que apresenta síndrome nefrítica é mais fácil de fazer essa manifestação do que o nefrótico, pois na nefrítica há aumento da pressão hidrostática • Oligúria o Devido a diminuição da TFG • Alteração da coloração da urina (escura, turva ou cor de coca-cola); • Hipertensão arterial sistêmica (sobrecarga de volume – não é excretado para fora pela baixa TFG); • Pode ocorrer congestão pulmonar e dispneia 7 Carolina Gondim – 2019.2 EXAMES COMPLEMENTARES • Alteração da Função Renal - Ureia e Creatinina (IRA) • Hiponatremia, Hipercalemia e Acidose metabólica (IRA) • Alteração no sedimento Urinário o Hematúria +++ o Cilindros Hemáticos +++ o Dismorfismo Eritrocitário +++ ▪ Hemácias encontradas no sedimento urinária são de origem glomerular, elas estão quase sempre deformadas, fragmentadas e hipocrômicas, num fenômeno conhecido como dismorfismo eritrocitário o Proteinúria + ▪ Tipicamente do tipo não seletiva ▪ Não costuma atingir níveis acima de 3,5 g/dia o Piúria / Leucocitúria ++ o Outros Cilindros (leucocitários) ++ • Biópsia Renal (avaliar necessidade) GLOMERULONEFRITE PÓS-ESTRPTOCÓCICA DEFINIÇÃO • Caracteriza-se por uma sequela renal tardia de uma infecção por cepas especificas do estreptococo beta-hemolítico do grupo A (ou Sterptococcus pyogenes) QUADRO CLÍNICO • 7 a 14 dias após faringite ou 6 semanas após infecção cutânea (impetigo) o . Obs: pode ser qualquer lesão de pele, basta ser do S. streptococcus beta-hemolítico grupo A. • Diminuição do volume urinário, urina escura, edemas → HAS (Sobrecarga Volumétrica) EPIDEMIOLOGIA • Ocorre em qualquer faixa etária: pico- 6-10 anos • Mais grave no adulto • Mais comum América do Sul, América Latina, Asia • Obs: Qualquer doença que fuja do meu padrão epidemiológico costuma ser mais grave PATOGENIA • Lesão glomerular por uma reação antígeno anticorpo → FORMAÇÃO DE IMUNOCOMPLEXOS COM DEPOSIÇÃO RENAL → processo inflamatório no local → diminui TFG → acumulo liquido. MANIFESTAÇÕS CLÍNICAS • É na maioria dos casos assintomáticas e boa parte dos pacientes desenvolve apenas alterações laboratoriais subclínicas • Hematúria 25 - 40% • Edema 85% • HAS 60 - 80% • ICC 20% • Alteração SNC = 10% • ASLO + = 85 - 95% BIÓPSIA RENAL • - Identificação daetiología • - Avaliar o grau de lesão 8 Carolina Gondim – 2019.2 • - Definição de prognóstico e tratamento. TRATAMENTO DAS GLOMERULOPATIAS • Controle da ingestão de sal • Controle rigoroso da PA • Manejo da IRA (se houver) • Tratamento da doença de base (se secundária) • Corticoides ou imunossupressores POR FIM...
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