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O que é cultura do cancelamento O que significa nos mundos real e digital docx

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Os antigos costumes do mundo vêm se desconstruindo em longos e 
dolorosos passos. O racismo passa a ser a cada vez menos tolerado, piadas 
sobre os hábitos antigos dados às mulheres já não têm mais graça e o 
bullying online vem sendo combatido por diversas redes sociais. Porém, o 
mundo, principalmente na internet, agora está em busca da perfeição. 
Há quem faça comentários desnecessários na internet propositalmente, 
seja para chamar a atenção ou por querer manifestar seus pensamentos, e 
também há quem seja contra a ideia de desconstrução social e tem dentro 
de si ideais enjaulados que parecem nunca ter acesso à modernização. Em 
ambos os casos, a internet se tornou uma grande justiceira e uma nova 
forma de justiça social surgiu: a cultura do cancelamento. 
Cancelar uma pessoa virou uma prática usada por muitos nas redes sociais 
nos últimos anos, e "cultura do cancelamento" foi eleito como o termo do 
ano em 2019 pelo Dicionário Macquarie, que todos os anos seleciona as 
palavras e expressões que mais caracterizam o comportamento de um ser 
humano. 
• A “cultura de cancelamento” foi eleita como termo do ano em 2019 
Mas como funciona isso na prática? Hoje, em redes sociais como o Twitter, 
vemos diversos famosos ou influenciadores digitais serem "cancelados", ou 
seja, sendo excluídos da sociedade para determinada pessoa ou grupo, 
deixando de existir na vida delas e não permitindo que elas sigam suas 
vidas sem a devida punição. Algumas vezes é temporário, outras vezes a 
pessoa cancelada precisa mudar, pelo menos exteriormente, para ser 
aceita novamente. 
 
https://canaltech.com.br/redes-sociais/a-cultura-de-cancelamento-foi-eleita-como-termo-do-ano-em-2019-156809/
https://canaltech.com.br/empresa/twitter/
Uma pessoa ser cancelada significa que ela fez ou disse algo errado, que 
não é tolerado no mundo de hoje, em que muitas pessoas passaram por 
essa desconstrução social. Algumas pessoas, no entanto, possuem 
vivências diferentes e não conseguiam enxergar seus erros antes de terem 
sido rechaçadas na internet, sendo então essa punição uma maneira de 
educar. Esta forma de cancelamento pode gerar debates sobre racismo, 
preconceitos com determinadas classes sociais, xenofobia, homofobia, 
entre outras intolerâncias. Mas o ato de cancelar também pode acontecer 
com coisas banais, como falar mal de uma cantora pop muito famosa ou 
dizer que não gosta de algo muito popular. 
Existem casos e casos, e a grande parte deles acontece por conflitos de 
opiniões e pensamentos. Pode haver um "certo ou errado", ou não: longe 
disso. No ano passado, o cancelamento ocorreu com a influenciadora 
digital Gabriela Pugliesi que, de fato, teve uma atitude irresponsável por 
fazer uma festa e receber pessoas em sua casa, mesmo após ter sido 
infectada pelo novo coronavírus (e curada) e o mundo estar em isolamento 
social devido a uma grave pandemia. 
Essa, no entanto, não foi a única vez em que Pugliesi foi cancelada, já que a 
influencer andou se envolvendo em outros casos polêmicos anteriormente, 
mas nada tão grave. Sua festa no momento errado resultou em inúmeras 
críticas nas redes sociais, inclusive de colegas famosos, e no fim do contrato 
de parcerias com marcas, que decidiram não ter mais suas imagens 
vinculadas a Pugliesi. 
Outro caso que aconteceu em 2020 foi de uma jovem estrangeira que mora 
aqui no Brasil, que fez um vídeo zombando de algumas tradições, como 
comer arroz e feijão todos os dias, ou ainda escovar os dentes após as 
refeições. Esses comentários inofensivos se tornaram uma dor de cabeça 
para a jovem, que foi xingada com palavras baixas e ameaças. Em muitos 
casos parecidos, as pessoas acabam recebendo ameaças de morte, entre 
outras coisas prejudiciais à saúde mental. 
Recentemente, o tema voltou à tona com a 21ª edição do reality show Big 
Brother Brasil, o mais famoso do país, quando os famosos convidados 
para participar do programa chegaram na casa com medo de serem 
cancelados. O medo, no entanto, parece ter sido deixado de lado 
rapidamente com alguns participantes praticando o ato do cancelamento 
uns com os outros, provocando discussões nas redes sociais. Devido às 
indignações dos espectadores, a produção precisou intervir de forma 
velada com uma brincadeira em que eles precisavam dizer quem tinha o 
perfil de cancelador dentro da casa. 
As pessoas precisam, de fato, entender que diversos comportamentos não 
são mais aceitos na sociedade. O movimento Me Too, por exemplo, levou à 
mídia inúmeros casos de abuso sexual e estupro dentro de Hollywood, 
revelando as verdadeiras faces de grandes artistas, que antes eram 
intocáveis. Mas para entender o motivo de estar acontecendo tantos 
cancelamentos, inclusive os mais banalizados, é preciso não só levar em 
questão a punição por questões sociais, mas a liberdade que plataformas 
digitais nos trazem, facilitando as manifestações de ideais sobre o que 
merece ser debatido. 
• Time's Up | Entenda o movimento que mudou Hollywood e marcou o fim 
da década 
Imagem: Reprodução 
O que é a cultura do cancelamento na 
sociedade? 
Para entender melhor esse movimento que vem acontecendo com 
frequência na internet, o Canaltech conversou com Diogo Soares, bacharel 
em ciências sociais pela USP e gerente de projetos na área digital e redes 
sociais há mais de 10 anos. Para Diogo, o termo "cultura do cancelamento" 
é bastante vago, visto que pode ser aplicado de formas diferentes em 
localidades e culturas distintas, mesmo que as redes sociais tragam uma 
aproximação entre as pessoas. 
https://canaltech.com.br/cinema/times-up-hollywood-o-que-foi-157763/
https://canaltech.com.br/cinema/times-up-hollywood-o-que-foi-157763/
"O que é passível de uma punição em uma sociedade não é na outra", 
conta. Isso, conforme políticas públicas que definem o que é crime ou não, 
que depende da criação de uma lei, a necessidade de ser votada para ser 
aprovada, muitas vezes alterando a constituição. Fora disso, o profissional 
afirma que existe uma série de mobilizações que anseiam por coisas 
diferentes, buscam por leis diferentes e proteções que estão dentro de um 
espaço público, que estão abertas e em discussão. 
"A cultura do cancelamento se difere dessas outras manifestações políticas 
porque ela se dá em um ambiente privado, na conversa com uma rede 
social que é privada e que, apesar de ter um caráter público no sentido de 
que as pessoas estão em um espaço público, o cancelamento das pessoas 
como um banimento se dá no sentido de uma conta, um serviço, de uma 
funcionalidade — muito mais no ambiente privado de quem está se 
mobilizando", conta. 
Portanto, Diogo diz que as pessoas, dentro desse espaço e como 
indivíduos, são as que definem o que é certo e o que é errado, sem que 
uma lei ou instituição esteja organizando isso. "Eu te cancelo e eu tenho o 
poder de fazer isso e eu vou chamar outras pessoas para fazerem a mesma 
coisa. Então, o que era passível de ter uma discussão pública acaba 
construindo outras formas privadas de uma cultura que pode dar muito 
errado, muito rápido", completa o bacharel, dizendo ainda que isso gera 
outras culturas mais severas, como a do apedrejamento e do linchamento, 
de que existe um poder nas mãos que será usado livremente. 
Todos os passos dessa forma mais agressiva de cultura, para o 
entrevistado, vão contra uma estruturação de nossa sociedade que preza 
pela educação das pessoas, pelas suas mudanças e pelas formas de 
construção mais sensíveis e menos autoritárias. "É um mundo muito mais 
complexo que vem sendo nivelado por baixo, em uma espécie de 
movimentação que não passa por questões de valores, mas sim 
perseguições e outros tipos de sentimento que são muito individualistas", 
completa. 
A tendência não é só dos mais jovens 
Cultura do cancelamento é um tema que já chegou a ser debatido até 
mesmo pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "O mundo 
está uma bagunça,existem ambiguidades", disse. "Pessoas que realmente 
fazem coisas boas têm falhas. Pessoas com quem você está lutando podem 
https://canaltech.com.br/celebridade/barack-obama/
amar seus filhos e compartilhar algumas coisas com você", apontou Obama 
em entrevista realizada no ano passado, se referindo aos mais jovens. 
Os adolescentes dominam a internet e não há como negar. 
Consequentemente, eles são os que mais estão envolvidos na cultura do 
cancelamento, fazendo críticas constantes sobre o que eles julgam como 
certo ou errado, seja mostrando o rosto ou atrás de perfis falsos. Porém, 
para Diogo, essa tendência não pertence somente a eles. 
"O que estamos vendo é uma coisa muito mais propagada, que pode ser 
que tenha mais foco nos jovens, mas acontece em níveis menores e com 
menos repercussão entre os mais velhos em meio a um ambiente político-
partidário, ambientes de setores e tudo mais. Existe um certo tipo de 
mobilização social que age de maneira privada, que acontece de uma 
maneira que não se mobiliza socialmente no espaço público, e acha essas 
trincheiras de uma maneira precária, mas com muita força. Não visa uma 
reconstrução, mas sim uma chamada para a paralisação, no caso o 
cancelamento", explica Diogo. 
O profissional conta que esse descontentamento acontece porque a pessoa 
que está cancelando pensa que não pode mudar o cancelado, e em vez 
disso consegue o excluir de sua vida — e excluir a própria vida do 
cancelado —, fazendo com que ele perca seus patrocinadores, não vá a 
determinados eventos, entre outras coisas. 
Imagem: Reprodução 
Afinal, a cultura do cancelamento é boa ou 
ruim? Por que ela existe? 
A existência dessa cultura na sociedade — de forma geral e deixando de 
lado o fato de que cada país, região ou continente possui sua cultura — é 
uma regulação ainda pouco construída, segundo o bacharel em sociologia, 
e que possui muito poder concentrado. Ele conta que, por enquanto, o 
debate é se essa organização privada está dando conta de se sustentar. 
"Me parece que o sistema legal e institucional, das respostas que essas 
grandes empresas dão, é insuficiente. Deveria haver um controle mais 
público e mais transparente sobre o que é um crime e quem está sendo 
punido, e isso deveria passar por especialistas e universidades para 
organizar melhor o motivo pelo qual algumas mobilizações sociais sobre o 
que é bom ou ruim acontecem", conta Diogo. O profissional aponta que, 
como resultado disso, é possível ver censura, perseguição, pessoas sendo 
caladas por opiniões em defesa de uma causa. 
Diogo ainda dá um exemplo de um caso no qual uma música que falava 
sobre estupro recebeu vários pedidos de retirada das plataformas digitais, 
mas sem perceber que apresentar um dossiê para uma empresa privada, 
como o Facebook, é muito diferente de apresentar para uma grande 
estrutura, como o poder judiciário brasileiro. Caso isso acontecesse, 
segundo o especialista, haveria uma ampliação de todos os casos e 
discussões que mudariam o direito das pessoas, de liberdade criativa e de 
falar sobre coisas delicadas. 
Para Diogo, é preciso também diferenciar sobre o que são lutas a favor de 
causas importantes, que valem a pena e fazem as pessoas mudarem seus 
comportamentos, do que é um abuso de censura e perseguição. "Isso 
precisa ser rapidamente debatido na sociedade, quais são os limites de 
cada intervenção. Os efeitos podem ser uma melhoria no sistema social 
aberto, fortalecimento de boas condutas, educação, formas de 
comportamento mais inclusivos, mas também pode acontecer movimentos 
de desentendimentos, segregação, censura, entre outras coisas", diz. 
https://canaltech.com.br/empresa/facebook/
 
Conscientização e educação 
Diogo diz que o ambiente em que acontece esse linchamento virtual — 
como Twitter, Facebook e Instagram —, que leva ao cancelamento, não 
possui ainda regras claras sobre o que é possível fazer por lá ou não. No 
entanto, isso pode ser uma oportunidade de constituir novas mobilizações, 
entendendo limites, formas de até melhorar as redes sociais e de criar 
fóruns públicos, além de permitir a atuação de educadores, políticos, 
pessoas do sistema judiciário, sendo mais possível criar um debate geral 
sobre condutas puníveis e educativas e como lidar com punições 
recorrentes, por exemplo. 
"Ainda estamos engatinhando nisso. Eu vejo que o mesmo já aconteceu em 
ambientes grandes, como rádio e televisão, foi um momento inicial muito 
grande com problemas de abusos e impactos muito diferentes, com a 
sociedade se estabilizando em torno delas", relata Diogo. "É duro viver isso 
dessa maneira, mas é somente com mobilizações para haver a melhoria da 
proteção das pessoas, melhor enquadramento sobre as responsabilidades 
das empresas perante o público, até para a formação de comitês públicos, 
entendimentos mais amplos e, o mais importante, inclusivos", completa. 
Ainda há muito a ser feito em relação a esta nova cultura do cancelamento, 
criando regras de forma coletiva. O bacharel diz que é exatamente isso que 
essa nova tendência cria: a sensação de que não existe uma regra para 
todo mundo, e que quem falar mais alto sai ganhando, dificultando a 
convivência social. De certa forma, a cultura do cancelamento, por estar em 
um ambiente público, traz a oportunidade de pessoas entenderem as 
questões graves relacionadas ao racismo, entre outros preconceitos, nunca 
antes debatidas no offline. 
https://canaltech.com.br/empresa/instagram/

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