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Página | 1 Pediatria I Epilepsia da Infância e Adolescência A epilepsia é uma doença neurológica definida de acordo com alguma das seguintes condições: Duas ou mais crises não provocadas com intervalo > 24h; Uma crise não provocada com probabilidade de recorrência de crises semelhantes (>60%); Diagnóstico de síndrome epiléptica; Convulsões VERSUS Epilepsia: A convulsão é um evento (manifestação clínica da doença chamada Epilepsia); A epilepsia é uma doença associada a crises espontâneas e recorrentes; Não é considerado epilepsia (pelo baixo risco de recorrência na ausência de fator precipitantes): Convulsões febris (na faixa etária de 6 meses a 6 anos) Convulsões por abstinência (álcool); Convulsões por alterações metabólicas (eletrólitos, glicemia, hipóxia); Convulsões por toxicidade (reações a drogas, abstinência, insuficiência renal); Síncope; Convulsão aguda durante concussão cerebral; Convulsão sintomática aguda (< 1 semana após TCE, infecção, AVE); Incidência e prevalência de epilepsia: A incidência é altissima nos primeiras anos, enquanto que no decorrer da idade fica mais estável e já quando envelhece as crises tendem a se tornar alta novamente; Epilepsia e ontogênese: O cérebro da criança não é tão somente uuma versão em miniatura do adulto; Limiar para crises e propagação: Desequilíbrio entre mecanismos inibitórios e excitatórios; Regulação intra e extracelular das concentrações iônicas (cálcio, potássio e sódio) – Canolopatias; Diferenças regionais na expressão desses canais; Papel da maturação do SNC na expressão de epilepsias precoces: Relação idade – dependente entre “funcionalidade” cortical, localização da lesão e tipo de epilepsia; Predomínio de lesões no córtex posterior e S. West (anoxia, esclerose tuberosa); No período neonatal predomínio de crises motoras (única área funcional); Classificação das crises: Página | 2 Pediatria I Causas mais prevalentes na infância e adolescência: Convulsões Neonatais benignas familiares: Descritas por Rette Teubel, em 1964; Herança autossômica dominante, penetrância regular e expressão variável (cromossomo 201 13.3), diagnóstico molecular mutação canais de potássio; Crises iniciam no 3° dia de vida, hx familiar positiva, crise tipo clônica, apneia ou até EMC (estado mal convulsivo); O prognóstico é bom, mas 1/3 das crianças pode desenvolver epilepsia no futuro. Epilepsia do tipo ausência infantil: Poupart 1705, Tisot 1770; Associação com EEG (1935) por Gibbs, Lennox e Davis; Idade de início entre 4 e 10 anos (com incidência entre 6 e 7 anos e outro pico entre 11 e 12 anos); A etiologia é genética e os antecedentes de epilepsia estão presentes em até 44% dos casos; Crises do tipo ausência, breves (4-20s) e frequentes, podendo ocorrer várias vezes ao dia; Frequentemente, na fase inicial, as crianças são chamadas de desatentas ou descuidadas, porque parece que não estão escutando e deixam cair objetos das mãos. Isso decorre do acentuado comprometimentos da consciência com interrupção da atividade. Geralmente são observadas na escola pela queda do rendimento; Exame neurológico e DNPM normais; Fator precipitante: hiperventilação, onde geralmente o médico pode solicitar durante a consulta, pois é uma forma de facilitar a precipitação da crise de ausência; Percentual de remissão variável: 33-70%; Pode estar asssociada a outras síndromes, como ausência – mioclonia; Tratamento: valproato a resposta ao tratamento é eficiente em 80% dos casos, e as crises são bem controladas com ácido valproico; Para suspensão é necessário o EEG estar normal; Epilepsia parcial benigna rolândica: Possível herança autossômica dominante com penetrância variável, vários cromossomos estudados; Tratamento: carmabazepina; Rolândica porque afeta uma área do cérebro chamada de fissura de Rolando, responsável pelo controle motor e sensitivo da face e da faringe; Benigna porque, na maioria dos casos, ela entra em remissão na adolescência; Bom prognóstico com controle das crises independente do uso de DAE; Risco de recorrência: 1%; Alt. cognitivas transitórias; Epilepsia mioclônica juvenil: Também conhecida como Síndrome de Janz, é uma epilepsia generalizada, idioática, de etiologia genética, com vários genes suscetíveis; Idade de início entre 9 e 27 anos, com pico de incidência dos 12 aos 17 anos, com acometimento igual em ambos os sexos; Crises: mioclônica, irregulares, simples ou repetitivas, arrítmicas, predominantemente nos membros superiores, ausência e TCG (tônico clônica generalizada); Sensíveis a privação de sono e fotoestimulação, logo, geralmente ocorrem Página | 3 Pediatria I ao despertar ou após privação do sono, além de exposição a luz estroboscópica, jogos de videograma e uso de álcool; EEG com padrão de poliponta-onda; Exame neurológico e funções cognitivas: normal; Tratamento: regularização sono, controle da ingestão de álcool e FE (foto estimulação). Respondem bem ao valproato, porém ocorre refratariedade quando a droga é retirada; Herança genética (?): área p21.3, cromossomo 6p; Encefalopatias epilépticas do RN: Epilepsia mioclônica precoce, descrita por Aicardie Goutiéres e, 1978 Encefalopatia epiléptica infantil precoce, descrita por Ohtahara em 1976; -Crises refratárias de início precoce; -Associadas a múltiplas etiologias; -Tratamento com DAE ineficaz; -Sempre fazer teste terapêutico com piridoxina; -Prognóstico reservado: alta morbi- mortalidade; -EEG com padrão de surto-supressão; Encefalopatias epilépticas: Síndrome de West Tríade: crises convulsivas do tipo espasmos infantis, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (deterioração mental), EEG com padrão de hipsarritmia (muito específico); Tem início entre 3 e 7 meses de idade, com pico aos 5 meses; incidência varia 1:2000- 3000 nascidos vivos e afetando 60% do sexo masculino; Pode não ter uma causa determinante ou etiologia variável (erros inatos de metabolismo, lesões cerebrais hemorrágicas, insulto hipóxico-isquêmico, distúrbios da migração neuronal, esclerose tuberosa), 20% idiopática (melhor prognóstico); São agrupados (repetitivos), podem ocorrer tanto em sono como na vigília, mas são mais comuns logo ao despertar ou durante a sonolência, duram em média 2 a 3 segundos e podem guardar intervalos variáveis de 5 a 15 segundos. Geralmente são simétricos; quando assimétricos refletem a presença de uma lesão estrutural; Flexor Extensor Mistos Envolvem pescoço, tronco e membros, com adução ou abdução dos braços “jack-knife”, quando os braços são jogados para fora, e como “salaam” quando a flexão é muito marcada com as pernas estiradas para cima. Extensão do pescoço, tronco e membros, que podem permanecer em adução ou extensão. São os mais frequentes e quando surgem em uma criança que vinha se desenvolvendo de modo aparentemente normal, são, as vezes, confundidos com cólica do lactentes. O DNPM atrasa, ocorre hipotonia axial e perda contato visual-sorriso; Déficit motor, cognitivo e alterações comportamentais podem ocorrer e persistir mesmo após controle das crises; As crises ocorrem em salvas e consistem de breve contração axial predominando em MMSS e com desvio ocular, são simétricas; Mais frequentes em vigília; Somente 5% das crianças afetadas evoluem sem retardo mental; A maioria dos pacientes fica livre das crises < 5 anos, entretanto outros tipos de epilepsia podem ocorrer após; Tratamento clínico: ACTH (adrenocorticotrofina) alta x baixa dosagem; Prednisona e outros esteroides; Página | 4 Pediatria I Vigabatrina, Topiramato, Zonisamida; Vitamina B6; Tirotrofina (TRH); Síndrome de Lennox-Gastaut: Identificada por Lennox e Davis (1950) e Gastaut (1966); Tem prevalência no sexo masculino e início entre 3 e 5 anos de idade (Quadro inicia geralmente a partir do segundo ano de vida). É considerada uma encefalopatia epiléptica grave da infância, pois 60% dos pacientes têm como causa etiológica uma lesão cerebral (logo, tem comprometimento neurológico prévio), determinando comprometimento no desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo; As crises são resistentes ao tratamento com as DAE. Manifestam-se 3 tipos: tônicas (envolvem musculatura axial e membros, ocorrendo durante sono e vigília), ausências atípicas (perda de consciência incompleta) e mioclonias maciças (provocam queda abrupta da cabeça ou do corpo “head atack”); Múltiplos tipos de crises incluindo mioclonais maciças com queda súbita ao solo; EEG em vigília com ponta-onda lenta e em sono com surtos de atividade 10 Hz, polipontas; Prognóstico reservado com crises refratárias, distúrbios neuropsiquiátricos e alterações cognitivas; Tratamento: politerapia com DAE, calosotomia o que também contribui para acentuar o quadro de sonolência, dificuldade de aprendizagem e lentidão psicomotora; Distúrbios de migração neuronal e epilepsia de início precoce: Posicionamento anormal da célula neuronal levando a anormalidades de circuitagem (transmissão aberrante neurônio-neurônio e neurônio-glia) e apoptose; Focos de preocupação: A história natural O impacto das crises recorrentes no -Desenvolvimento -Rendimento escolar -No comportamento -Na qualidade de vida futura Cognição X Epilepsia: Cognição é a capacidade do cérebro de programar comportamento adaptativo, resolver problemas, focar atenção e memorizar informações; Alterações cognitivas se desenvolvem como um sintoma secundário a epilepsia; Lentidão mental, déficit de memória e atenção são os sintomas mais frequentes nos pacientes com epilepsia; Causa desconhecida – fatores associados: etiologia, tipo de síndrome e efeitos colaterais das DAEs no SNC; Página | 5 Pediatria I Princípios terapêuticos do DAEs: Indicações de Politerapia: Epilepsia refratária Múltiplos tipos de crises Síndromes Epilépticas Específicas Tratamento cirúrgico: Influência na aprendizagem? Sim: se não existe perspectiva de remissão ou controle medicamentoso a longo prazo; Sim: já que reduz exposição ao efeito das crises, dos fármacos e das privações sobre um cérebro em desenvolvimento; Plasticidade cerebral...é comprometida pelas crises... é uma aliada após a cirurgia. Convulsões Febris: Definição: Convulsão acompanhada de hipertemia (≥38°C), na ausência de infecção do SNC, em crianças entre 6 meses e 6 anos de idade; Geralmente a CF ocorre em associação com infecções virais das vias aéreas superiores, pulmonares, intestinais e do trato urinário, assim como associada a febre decorrente de vacinação; a CF ocorre geralmente nas primeiras 24 horas do episódio febril, no período de ascenção rápida da temperatura. A curta duração da febre antes da CF e a baixa temperatura são associadas a um aumento do risco de recorrência; Afeta 2-5% da população infantil; Classificação: Simples: crise generalizada, com duração inferior a 15 minutos, não recorre em menos de 24h, com exame neurológico pós- ictal normal; Complexa: crise focal, prolongada, duração superior a 15 minutos e/ou apresenta uma ou mais recorrência nas primeiras 24 horas ou apresenta exame neurológico pós-ictal alterado; Investigação: É essencialmente clínico o diagnóstico, com o objetivo de afastar intoxicações exógenas, trauma, focos infecciosos e avaliar as caracteristicas da crise e a história familiar. A febre é, sem dúvida alguma, um dos fatores determinantes da CF, no entanto, a etiopatogenia da crise deve ser bem mais esclarecida, especialmente em nível molecular. Recorrência: Recorrência média 30% em episódios febris subsequentes (sem FR 4%, com 3 ou mais FR 78%); Fatores de risco: Início antes dos 18 meses; Crise com temperatura baixa (próxima a 38°C); Curta latência entre início da febre e crise (< 1 hora); História familiar positiva; Diagnóstico e Tratamento: Página | 6 Pediatria I O exame do líquido cefalorraquidiano, diante de uma primeira convulsão febril, está indicado nas seguintes condições: < 6 meses de vida; sintomatologia de infecção do SNC; recuperação lenta ou alteração neurológica pós-ictal; uso de antibióticos (lembrar que os sintomas de meningite podem ser mascarados); Indicado no manejo agudo das convulsões prolongadas: diazepam retal (0,5 mg/kg) ou bucal (0,4 – 0,5 mg/kg), midazolamintra nasal (0,2 mg/kg); Profilático: não é mais indicado, exceto em caso de crises prolongadas e recorrentes em crianças que moram em localização geográficas de difícil acesso a emergencia;
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