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Dislipidemia e aterosclerose

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Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
1 
 Aterosclerose e dislipidemia 
A aterosclerose (atero = gordura e esclerose = fibrose) é uma doença 
inflamatória crônica de origem multifatorial que ocorre em resposta à 
agressão endotelial, acometendo principalmente a camada íntima de 
artérias de médio e grande calibre. Em geral, as lesões iniciais são 
denominadas estrias gordurosas, essas que se formam ainda na infância e 
caracterizam-se por acúmulos de colesterol em macrófagos. Todavia, a 
manifestação de complicações por causa dessas lesões depende do 
estado inflamatório do paciente e dos fatores de risco presentes. 
É a causa primária de doenças coronarianas e AVE, sendo responsável por 50% das mortes nos países 
ocidentais. De modo geral, a arteriosclerose é o termo genérico para descrever o espessamento e 
endurecimento da parede arterial, sendo que a aterosclerose é um tipo de arteriosclerose, em que ocorre a 
formação de placas de ateroma – compostas por centro lipídico e camada externa fibrosa. 
Os principais sítios afetados pela aterosclerose são os sistemas cerebrais, a aorta e as coronárias, sendo 
que acontece em alguns pontos específicos, em predominância nos locais com bifurcação no vaso, nos 
óstios de saída, onde há fluxo sanguíneo turbulento e é mais fácil de haver lesão endotelial, que deixa mais 
susceptível a uma placa aterosclerótica. As artérias são compostas morfologicamente por: 
 Túnica adventícia: tecido conjuntivo fibroelástico, vasa vasorum e inervação. 
 Túnica média: células musculares lisas e lâmina elástica externa. 
 Túnica íntima: com células endoteliais, camada subendotelial e lâmina elástica interna. 
O endotélio é considerado o maior órgão do corpo, esse que está posicionado estrategicamente entre as 
paredes dos vasos sanguíneos – e é um dos principais locais de comprometimento num quadro 
aterosclerótico. Ele promove a produção de vasodilatadores como óxido nítrico, prostaciclinas, fatores 
hiperpolarizantes e peptídeo natriurético do tipo C, além de vasoconstritores como endotelina-1, 
angiotensina II, tromboxano e radicais livres de oxigênio. Quando ocorre uma disfunção endotelial tem-se 
redução dos vasodilatadores e aumento dos vasoconstritores, em que esse desbalanço auxilia na 
intensificação da disfunção, vasoconstrição e aumento da pós carga. Além disso, o endotélio mantém a 
integridade da parede vascular, permite difusão ou transporte ativo de substâncias, regula a permeabilidade 
vascular e auxilia com uma superfície não trombogênica e não aderente de plaquetas e leucócitos – 
mecanismo comprometido na aterosclerose. 
Fatores de risco: tem-se fatores irreversíveis ou constitucionais, como idade, sexo e genética, além dos 
reversíveis ou controláveis, como hipertensão que promove agressão endotelial, tabagismo por elevar níveis 
de LDL e diminuir HDL, diabetes mellitus, sedentarismo, obesidade pelo componente inflamatório e 
componentes inflamatórios – altos níveis de PCR, hiperhomocisteinemia, níveis elevados de substâncias 
pró-coagulantes, doenças autoimunes, entre outros. 
Fisiopatologia: a formação da placa aterosclerótica inicia-se com a agressão ao endotélio vascular, em que 
a associação dos fatores de risco contribuem para a modificação da funcionalidade do endotélio e 
predomínio de funções pró-inflamatórias e pró-trombóticas – principalmente por produção de radicais livres, 
distúrbios hemodinâmicos e hipercolesterolemia. 
Assim, caracterizando uma lesão inicial (tipo I), a disfunção endotelial gera um aumento da permeabilidade 
da íntima a inúmeras células e moléculas, permitindo a retenção das lipoproteínas plasmática na camada 
subendotelial. O LDL retido sofre oxidação e associação com proteoglicanos, causando a exposição de 
diversos neoepítopos e tornando-o imunogênico, fato que causa indução de inflamação com aumento de 
moléculas de adesão leucocitárias e ativação de células como monócitos e macrófagos, além de facilitar a 
Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
2 
adesão de plaquetas. Desse modo, nota-se que o depósito de lipoproteínas na parede arterial é o processo 
inicial da aterogênese, ocorrendo de maneira proporcional à concentração de lipoproteínas plasmáticas. 
Posteriormente, os monócitos migram 
para o espaço subendotelial onde 
diferenciam em macrófagos que captam 
as LDL oxidadas com o auxílio de 
receptores scavenger e passam a ser 
chamados de células espumosas, esses 
que são ativados e serão responsáveis 
pela progressão da placa mediante a 
secreção de citocinas que amplificam a 
inflamação, além de secretarem enzimas 
proteolíticas capazes de degradar 
colágeno e componentes teciduais locais, 
permitindo a formação de mais 
aterosclerose. Os linfócitos T são menos 
numerosos no interior do ateroma, mas 
são importantes por estimularem a 
produção de citocinas que modulam o 
processo inflamatório local. 
As células espumosas se agregarão e 
darão origem às estrias lipídicas (tipo II), 
ao passo em que os mediadores 
inflamatórios estimulam a migração e 
proliferação das células musculares lisas 
da camada média arterial em direção à 
camada íntima. Sabe-se que as estrias 
gordurosas podem surgir em crianças 
menores de um ano de idade, 
independente da presença ou não de 
fatores de risco. Na fase de lesão intermediária (tipo III) tem-se a formação de uma placa pré-ateromatosa 
em que o lipídio está no espaço extracelular, mas não invade o lúmen, além de não ter formação de núcleo 
lipídico. 
Na perpetuação da presença de lipídios extracelulares, o organismo entende que a fagocitose está 
deficiente, fato que intensifica o recrutamento de linfócitos e aumenta a secreção de citocinas para que os 
macrófagos fagocitem os lipídios em maior quantidade. Assim, tem-se morte celular com formação de placa 
ateromatosa (tipo IV) com centro lipídico, além do fato de que as células musculares lisas passarão a 
produzir matriz extracelular para formar a capa fibrosa da placa fibroateromatosa (tipo V) – fato que promove 
invasão do lúmen e aumento da resistência vascular periférica. 
As placas estáveis caracterizam-se por predomínio de colágeno, organizando uma capa fibrosa espessa, 
escassas células inflamatórias e o núcleo lipídico e necrótico em proporções menores. Podem gerar quadros 
de angina e claudicação intermitente, já que obstruem parcialmente o vaso acometido. Enquanto isso, as 
placas instáveis apresentam atividade inflamatória intensa, com grande atividade proteolítica, núcleo 
lipídico-necrótico volumoso, hemorragia intraplaca e tênue capa fibrosa. 
Conforme a placa vai crescendo ao longo dos anos, a luz do vaso começa a ser estreitada, dificultando a 
passagem do sangue e, consequentemente, a nutrição do tecido que esse vaso irrigaria. Quando essa 
obstrução é muito grande e o vaso está muito fragilizado, ele pode se romper, tendo exposição de material 
lipídico altamente trombogênico que predispõe à formação de trombos (adesão das plaquetas e formação 
Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
3 
da rede de fibrina), impedindo a passagem de sangue e provocando uma lesão isquêmica. Este processo 
também pode ser denominado aterotrombose, e é um dos principais determinantes das manifestações 
clínicas da aterosclerose – infarto, AVE e trombose de membros. 
 
Para avaliar presença de aterosclerose e inflamação, pode-se pedir PCR ultrassensível (biomarcador 
clínico), em que altos níveis indicam risco cardiovascular aumentado independente do LDL, HDL, HAS ou 
outros fatores clínicos.. Assim, já se inicia com o paciente dieta, exercício, parada do tabagismo e redução 
do LDL, podendo pensar também em outras medidas de intervenção, como estatinas. Se tiver PCR > 2mg/dL 
mesmo com a diminuição dos lípides, os pacientes se beneficiam com uso de estatinas. 
Também deve-se analisar o risco residual do colesterol, em que o paciente mesmo tratadocom estatina e 
controlo dos fatores de risco ainda mantém aumento dos níveis lipídicos, enquanto que o risco residual 
inflamatório corresponde à manutenção dos níveis PCR-us aumentado mesmo tratado com estatina e LDL 
< 70 mg/dL para pacientes com eventos cardiovasculares prévios. 
Como consequências da aterosclerose pode-se ter obstrução mecânica do fluxo e comprometimento da 
perfusão tecidual, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), arritmias, insuficiência cardíaca, 
doença vascular periférica, hemorragia intraplaca, calcificação e rompimento da placa, aneurismas por 
enfraquecimento da parede, ruptura da capa fibrosa, entre outros. Como fatores protetores tem-se as 
vitaminas E, C e A que funcionam como antioxidantes e reduzem a oxidação do LDL. 
Os lipídios plasmáticos são transportados com o auxílio de lipoproteínas, essas que podem ser classificadas 
em: 1) quilomícrons: maiores e menos densas, ricas em triglicérides e de origem intestinal, 2) VLDL: 
densidade muito baixa e origem hepática, 3) LDL: densidade baixa e ricas em colesterol, 4) HDL: densidade 
alta, mais pobre em colesterol, 5) IDL: lipoproteína de densidade intermediária. 
Pode ocorrer ruptura da placa, agregação de plaquetas e trombose
Formação da capa fibrosa que envolve o conteúdo lipídico 
Multiplicação e migração de células musculares lisas para a camada íntima 
Macrófagos liberam fatores de crescimento plaquetário 
Se os estímulos forem mantidos tem-se potencialização das respotas inflamatórias e 
perpetuação da aterosclerose
Formação de estrias gordurosas no lúmen do vaso 
Passagem dos monócitos por diapedese e LDL oxidadas pelos macrófagos para formar as 
células espumosas
Adesão de moléculas na superfície endotelial e produção de citocinas inflamatórias 
Oxidação do LDL e aumento da concentração subendotelial
Lesão do endotélio e aumento da permeabilidade ao LDL, com passagem para o espaço 
subendotelial
Estresse mecânico e/ou associação com fatores de risco 
Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
4 
Parte do colesterol dos hepatócitos será usada 
para formação de ácidos biliares, esses que se 
unirão com o colesterol e com triglicerídeos na 
forma de uma micela, que dissolverá a gordura a 
fim de facilitar a absorção de gordura do colesterol 
e dos triglicerídeos dietéticos. O colesterol então 
sairá do lúmen intestinal em direção ao enterócito 
pelo transportador NPC1L1, de modo a permitir a 
formação do quilomícron. Esse ‘conjunto’ de 
lipídios será transportado para locais como o 
tecido adiposo e o músculo esquelético, sofrendo 
a ação da lipoproteína lipase e formando 
remanescentes de quilomícrons, esses que serão 
recaptados pelo receptor de LDL, sendo 
totalmente depurado do plasma. O quilomícron 
remanescente internalizado pelo fígado será uma 
fonte de colesterol. 
Uma vez que a célula estiver cheia de colesterol, junto com o triglicerídeo irá ser montado uma outra 
lipoproteína denominada VLDL, que sofrerá ação da lipoproteína lipase (LPL), se transformando em IDL, 
que sofrerá ação da lipase hepática e lipoproteína lipase e formará LDL (rica em colesterol, tendo menores 
níveis de triglicerídeos), que será 
captada pelo receptor de LDL. 
Desse modo, a maneira que o 
fígado tem de retirar as 
lipoproteínas da circulação, é 
extremamente ligada ao 
receptor de LDL. O HDL diminui 
a expressão de moléculas de 
adesão e inibe a oxidação da 
LDL, além de promover o efluxo 
de colesterol das células 
espumosas. 
A hiperlipidemia corresponde à 
níveis aumentados de 
lipoproteínas, enquanto que a 
hipolipidemia é caracterizada 
por níveis plasmáticos baixos. 
As dislipidemias apresentam um 
papel crucial na aterosclerose, 
podendo ser primárias de origem 
genética ou secundárias 
decorrentes do estilho de vida 
inadequado, de condições 
mórbidas ou medicamentos – de 
modo que o paciente deve ter 
seu perfil lipídico avaliado antes 
da utilização de determinados 
medicamentos. 
 
 Colesterol 
total 
HDL-c Triglicérides 
Doenças associadas à dislipidemia 
Insuficiência renal crônica ↑ - ↑ 
Hepatopatia crônica ↑ a ↑↑↑↑ ↑↑ ou ↓ Normal ou 
leve ↑ 
Diabetes mellitus tipo II - ↓ ↑ 
Síndrome de Cushing ↑ - ↑↑ 
Hipotireoidismo ↑↑ ↑ ou ↓ ↑ 
Obesidade ↑ ↓ ↑↑ 
Bulimia ↑ - ↑ 
Anorexia ↑ - - 
Tabagismo - ↓ - 
Etilismo - ↑ ↑ 
Alta ingesta de gorduras trans ↑ ↓ ↑ 
Sedentarismo ↑ ↓ ↑ 
Medicamentos associados à dislipidemia 
Diuréticos - ↑ ↓ 
Betabloqueadores - ↑ ↓ 
Anticoncepcionais ↑ ↑ - 
Corticoesteroides ↑ ↑ - 
Anabolizantes ↑ - ↓ 
Inibidores de protease ↑ ↑↑↑ - 
Isotretinoína ↑ ↑ ↑ 
Ciclosporina ↑ ↑↑ ↑ 
Estrógenos - ↑ ↓ 
Progestágenos - ↑ ↓ 
Tibolona - - ↓↓ 
Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
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A classificação ambulatorial categoriza as dislipidemias em: 
> Hipercolesterolemia isolada: aumento isolado do LDL-c > ou igual 
a 160 mg/dL. 
> Hipertrigliceridemia isolada: aumento isolado dos triglicérides > ou igual 150 ou > 175 mg/dL se a 
amostra for obtida sem jejum. 
> Hiperlipidemia mista: aumento do LDL-c > ou igual a 160 mg/dL e dos triglicérides > ou igual a 150 ou > 
175 mg/dL se a amostra for obtida sem jejum. Se TG > ou igual a 400mg/dL, o cálculo do LDL-c pela fórmula 
de Friedewald é inadequado, devendo considerar a hiperlipidemia mista quando o não HDL-c for > ou igual 
a 190mg/dL. 
> HDL-c baixo: redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em associação 
ao aumento de LDL-c ou de triglicérides. 
 
Sabe-se que o evento coronário agudo é a primeira manifestação da doença aterosclerótica em pelo menos 
metade dos indivíduos que apresentam essa complicação. Desse modo, a identificação dos indivíduos 
assintomáticos que estão mais predispostos é crucial para a prevenção efetiva, com a correta definição das 
metas terapêuticas individuais. Para isso, realiza-se a estratificação de risco cardiovascular para decisão 
terapêutica e análise prognóstica, sendo mais agressivo em indivíduos com maior predisposição. 
Na prática clínica, a estratificação do risco no paciente hipertenso pode ser baseada em duas estratégias 
diferentes. Na primeira, o objetivo da avaliação é determinar o risco global diretamente relacionado à 
hipertensão. Nesse caso, a classificação do risco depende dos níveis da pressão arterial, dos fatores de 
risco associados, das lesões de órgão alvo e da presença de doença cardiovascular ou doença renal. Na 
segunda estratégia, o objetivo é determinar o risco de um indivíduo desenvolver doenças cardiovasculares 
em geral nos próximos 10 anos, podendo ser realizada em qualquer indivíduo entre 30 e 74 anos. 
Fórmula de Friedewald 
LDL = (colesterol total – HDL) – 
(triglicérides/5) 
Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
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Em indivíduos com manifestações clínicas de doença aterosclerótica ou seus equivalentes, homens e 
mulheres, possuem risco superior a 20% em 10 anos de apresentar novos eventos cardiovasculares ou de 
um primeiro evento cardiovascular. Dentre essas manifestações incluem-se doença aterosclerótica 
clinicamente evidente (coronariana, cerebrovascular ou obstrutiva periférica), aterosclerose subclínica 
significativa documentada por método diagnóstico, procedimentos de revascularização arterial, diabetes 
mellitus tipo 1 e 2, doença renal crônica e hipercolesterolemia familiar. 
 
A estratificação de risco cardiovascular é baseada em três etapas para prevenção de doenças 
cardiovasculares, podendo também ser utilizado em hipertensos. Na etapa 1 identifica-se presença de 
doença aterosclerótica clinicamente evidente ou na forma subclínica, ou de seus equivalentes como diabetes 
mellitus, hipercolesterolemia familiar e doença renal crônica. Se positiva, o paciente é classificado como de 
alto risco, tendo 20% de chance de apresentar um evento cardiovascular em 10 anos. 
A etapa 2 deve ser realizada quando o indivíduo não se enquadraem nenhuma das condições da etapa 1, 
realizando um algoritmo que estima o Escore de Risco Global (ERG), que se diferencia para homens e 
mulheres. Quando o ERG fica abaixo de 5% o paciente é classificado como baixo risco, exceto aqueles com 
história familiar de doença cardiovascular prematura, que é reclassificado para risco intermediário. Os 
homens com ERG entre 5 e 20% e mulheres entre 5 e 10% são risco intermediário, enquanto que homens 
com ERG > 20% e mulheres > 10% são alto risco. 
 
Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
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Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
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Na etapa 3, os pacientes de risco intermediário que apresentam qualquer fator agravante devem ser 
reclassificados para alto risco. Com base nisso tem-se estabelecimento de metas de LDL e de colesterol 
não HDL para pacientes com ou sem uso de estatinas. 
 
Com base na avaliação do risco do paciente pode-se utilizar diferentes métodos terapêuticos para prevenir 
a manifestação de eventos cardiovasculares. Como tratamento não medicamentoso estabelece-se a 
implementação de exercícios físicos, cessação do tabagismo e uso de terapia nutricional com dietas 
específicas para a condição do paciente. A dieta para hipercolesterolemia objetiva restringir consumo de 
vísceras, leite integral e seus derivados, biscoitos, sorvetes, embutidos, frios, pele de aves, frutos do mar, 
gemas de ovo, entre outros. Enquanto isso, a dieta para hipertrigliceridemia busca redução de carboidratos, 
compensação do diabetes e restrição total do álcool. 
O exercício físico deve ser empregado com sessões de em média 40 
minutos de atividade física aeróbica de 3 a 6 vezes na semana, 
realizando aquecimento, alongamento e desaquecimento, incluindo 
também componentes que aprimorem força e flexibilidade. Para 
redução do tabagismo recomenda-se abordagem cognitivo 
comportamental, sendo que a farmacoterapia pode ser um apoio – 
bupropiona e nortriptilina. De modo geral, também se objetiva 
redução do peso e diminuição da ingestão de álcool. 
O tratamento medicamentoso depende do risco do paciente, sendo geralmente empregadas em risco alto e 
no risco intermediário e baixo apenas se falha da realização única de mudanças no estilo de vida. Como 
medicamentos que podem ser utilizados tem-se: 
Inibidores da HG-CoA redutase: classe representada pelas estatinas que inibem a HMG CoA redutase, 
responsável pela biossíntese de colesterol no fígado, fato que aumenta a expressão do gene de receptores 
de LDL, levando à diminuição da concentração sérica de LDL-c. Como exemplos tem-se rosuvastatina e 
atorvastatina, em que ocorre redução de 6% nos níveis de LDL-c a cada duplicação da dose. Também 
oferecem efeitos pleiotrópicos com ação anti-inflamatória, redução da trombose e estabilização das placas 
ateroscleróticas. É o medicamento de escolha para redução do LDL-c em adultos, devendo usar apenas a 
dose necessária ao alcance da meta terapêutica, alterando se ocorrência de efeitos indesejáveis – como 
miopatia, mialgia, rabdomiólise e hepatotoxicidade. A maioria das estatinas, como a sinvastatina, deve ter 
sua tomada noturna, já que age no pico do cortisol. 
Risco alto: MEV + fármacos 
Risco intermediário: MEV + 
reavaliação em 3 meses, se 
falhar associa tratamento 
farmacológico 
Risco baixo: MEV + reavaliação 
em 6 meses 
0 
Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
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Ezetimiba: inibe a absorção de colesterol na borda em escova do intestino delgado, atuando seletivamente 
nos receptores NPC1-L1 e inibindo o transporte intestinal de colesterol. Assim, a inibição da absorção de 
colesterol leva a redução dos níveis de colesterol hepático e ao estímulo à síntese de receptores de LDL, 
reduzindo os níveis séricos dessa molécula em cerca de 10 a 25%. Pode ser usada isoladamente em 
pacientes com intolerância às estatinas, mas também pode ser associada com estatinas em pacientes com 
efeitos adversos a doses elevadas de estatinas. É empregada em dose única de 10 mg ao dia que pode ser 
administrada a qualquer hora do dia, com ou sem alimentação, não interferindo na absorção de gorduras e 
vitaminas lipossolúveis. 
Fibratos: aumentam a atividade da lipase lipoproteica, diminuindo os níveis de triglicérides e VLDL, ao 
aumentar sua eliminação. São indicados no tratamento da hipertrigliceridemia endógena quando houver 
falha das mudanças de estilo de vida ou se os níveis de triglicérides estiverem muito elevados (> 500mg/dL). 
Deve-se ter cuidado ao associar estatinas com fibratos, principalmente a associação com genfibrozila pelo 
risco de rabdomiólise. 
 
Resinas de troca iônica: são polímeros de grande tamanho e de carga positiva, em contraposição aos 
ácidos biliares, que possuem carga negativa. Essas resinas irão se ligar aos ácidos biliares no intestino, 
formando complexos grandes que não podem ser absorvidos, de modo que reduz a concentração de ácidos 
biliares hepáticos. Assim, mais colesterol será utilizado para sintetizar mais ácidos biliares, de modo que 
reduz o conteúdo hepático de colesterol. Consequentemente a recaptação de LDL-colesterol deve ser 
aumentada, de modo que os receptores LDL vão aumentar sua expressão, diminuindo os níveis dessa 
molécula no sangue. 
Todavia, existe um aumento compensatório na biossíntese do colesterol, de modo que aumenta os níveis 
da HMG CoA-redutase, de modo que esses fármacos podem ser utilizados em associação com uma 
estatina, para reduzir esse efeito adverso. Como efeito adverso, tem diminuição da absorção de 
triglicerídeos, sendo compensada por uma produção maior de triglicerídeos, devendo ser usado com cautela 
em pacientes com hipertrigliceridemia. É representada principalmente pela colestiramina, devendo ser 
administradas antes do desjejum e antes do jantar. Também deve ter cuidado com a administração 
juntamente com outros fármacos, já que as resinas irão interferir na absorção intestinal. São muito utilizados 
na impossibilidade de uso de estatinas, como gestantes e crianças < 10 anos de idade. 
Ácido nicotínico: o tecido adiposo contem gotículas ricas em triglicerídeos. Quando essas moléculas 
precisam ser liberadas na circulação, a enzima lipase hormônio sensível irá degradar os triglicerídeos, 
deligando os ácidos graxos do glicerol e liberando os ácidos graxos, esses que irão para o fígado, onde será 
formado mais triglicerídeo, perpetuando o ciclo. A niacina se liga a um receptor na membrana do adipócito 
e inibe a lipase hormônio sensível. Assim, os ácidos graxos livres não serão liberados, não formando 
triglicerídeos no fígado, reduzindo os níveis de VLDL produzidos, e, consequentemente, reduzindo os níveis 
de LDL-c. 
Também reduzem a síntese e o acoplamento dos triglicérides nas apo-B100 Além disso, esse fármaco causa 
o aumento da concentração de Apo-A1, que indiretamente promove o aumento dos níveis de HDL. Como 
Dislipidemia e aterosclerose – Dr. Ulisses Calandrin 
10 
efeitos adversos podem apresentar rubor, prurido, exantemas cutâneos, acantose nigricans, resistência à 
insulina, dispepsia, hepatotoxicidade, aumento de ácido úrico, entre outros. Apresenta interação com anti-
hipertensivos potencializando a hipotensão ortostática, além de diminuir a efetividade dos hipoglicemiantes. 
A niacina também pode causar miopatia, de modo que a associação com as estatinas deve ser feita com 
cautela. A dose é de 2 a 6g/dia conforme o efeito ou tolerância. É uma alternativa aos fibratos e estatinas 
ou em associação com esses fármacos em portadores de hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia ou 
dislipidemia mista. 
Ômega-3: diminui a produção de VLDL no fígado, podendo ser usados como adjuvante aos fibratos nas 
hipertrigliceridemias ou como alternativa em pacientes intolerantes. Apresenta atividade antitrombótica e, 
por isso, interage com anticoagulantes aumentando o risco de hemorragias. A dose mínima diária é de cerca 
de 4g.Orlistat: é um inibidor das lipases intestinais, de modo que ata se ligando covalentemente aos sítios 
catalíticos das lipases gástrica e pancreática, reduzindo a absorção de triglicerídeos ingeridos em 30%. A 
dose recomendada é de 360mg/dia, não tendo papel reconhecido na prevenção de aterosclerose. 
Inibidores de PCDK-9: irá inibir a enzima PCSK9, essa que é responsável pelo aumento da degradação do 
receptor de LDL, de modo que mantém a expressão desses receptores por mais tempo. Assim, esse fármaco 
reduz de forma intensa as concentrações de LDL-c, em média de 60%. Como exemplo tem-se o 
Evolucumabe.

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