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MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – AISCA I – PROF. LARISSA GOUVEIA 1 A alimentação do lactente deve ser exclusivamente com leite humano até o sexto mês de vida e, a partir de então, complementada com outras fontes nutricionais até 2 ou mais anos de idade. A partir dos 6 meses, o leite materno continua sendo importante para o desenvolvimento cognitivo, aprendizagem, nível de inteligência, imunidade, prevenção de alergias, mas fica com déficit calórico → por isso há complementação a partir dos 6 meses. TIPOS DE AMAMENTAÇÃO Amamentação exclusiva: leite materno (incluindo leite ordenado). Permite que a criança receba soro oral, vitaminas, medicamentos. Amamentação predominante: leite materno (incluindo leite ordenhado) como fonte predominante de nutrição. Permite que a criança receba certos líquidos (água, chá, suco de fruta, soro oral, vitaminas, minerais e medicamentos). Amamentação mista: é quando a criança bebe leite materno e outro tipo de leite. Alimentação complementar: leite materno (incluindo leite ordenhado) e alimentos semissólidos e sólidos. Permite que a criança receba qualquer outro líquido ou alimento, incluindo outros leites e fórmulas infantis. COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO O leite materno já foi definido várias vezes como o melhor e mais completo dos alimentos. Chamado popularmente de “ouro branco”. É rico em: água, ferro, proteína, sais minerais, enzimas, gordura, vitaminas, carboidratos, anticorpos. Os anticorpos fazem parte da bagagem imunológica da mãe. OBS: mãe com COVID não deve suspender a amamentação, porque o risco de adoecer é compensado pelo benefício do aleitamento. Além disso, a criança pode receber anticorpos já formados pela mãe contra esse vírus. Leite anterior: é ligeiramente mais fluido. Possui grande quantidade de água (>87%), a função dele é hidratar o bebê. Leite posterior: é mais rico em gordura, tem a função de saciar o bebê e auxiliar no ganho ponderal. O colostro é mais rico em proteínas, tem elevada concentração de fatores imunológicos (anticorpos), extremamente rico em vitaminas e minerais. FATORES IMUNOLÓGICOS ENCONTRADOS NO LEITE MATERNO • Imunoglobulinas: IgA, IgM, IgG, IgD e IgE • Lisozima: bactericida para bactérias gram- negativas, interagindo com a lactoferrina e IgA • Lactoferrina: função de quelar íons Fe+3 que são essenciais para a multiplicação de microrganismos patogênicos • Fator anti estafilocócico: fator enzimático que age contra os estafilococos, que são bactérias patogênicas, potenciais causadores de sepse. • Frações do complemento C3 e C4 • Lactoperoxidase • Fator bífido: também tem efeito bactericida A IgA é chamada de imunoglobulina de mucosa, ela vai agir na proteção da mucosa do aparelho digestivo/ permeabilidade gastrointestinal. A lactoferrina transforma o ferro férrico (Fe3+) em ferro ferroso (Fe2+). Sem o ferro férrico as bactérias não conseguem se multiplicar bem. Além disso, a conversão ajuda na absorção do ferro, que é absorvido em ferro ferroso. O leite materno é ideal para crianças de até 6 meses. O leite de vaca não deve ser introduzido na alimentação de nenhuma criança antes de 1 ano de idade. Quando uma mulher não consegue amamentar, o substituto são as fórmulas lácteas. LEITE MATERNO X LEITE DE VACA O leite de vaca possui maior quantidade de caseína (80%), enquanto no leite humano tem 35%. Só o leite humano tem as proteínas anti infecciosas. A proteína caseína é extremamente alergênica. O uso precoce do leite de vaca, por ser rico em caseína, aumenta o risco de alergia alimentar a proteína do leite de vaca. → pode desenvolver inflamações no intestino com colite, sangue, muco nas fezes. A quantidade extensa de proteína caseína no leite de vaca leva a uma sobrecarga do sistema de filtração glomerular do bebê. Pode aumentar o risco de doença renal crônica na criança. Recomendar a mãe a trocar de mama apenas quando esvaziar a mama, para que a criança pegue o leite posterior. MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – AISCA I – PROF. LARISSA GOUVEIA 2 OBS: o sistema urinário continua sendo amadurecido até os 2 anos de idade. Para mulheres sem condições que não conseguem realizar o aleitamento materno, para ser menos danoso, recomenda-se a diluição do leite de vaca (para cada 100ml de água, 1 colher de sopa do leite de vaca) ou orientar uma fórmula láctea mais acessível (milupa e nestogeno). Só o leite humano tem os ácidos graxos saturados de cadeia longa (LC-PUFAS), os principais representantes são o DHA e o ARA. A função mais importante desses ácidos graxos é a correta mielinização dos axônios neuronais. Período dos mil dias: fala sobre a importância da nutrição da criança da sua concepção até os dois anos de vida. Tem forte influência a dieta materna (que fez durante toda a gestação), o hábito do aleitamento exclusivo e uma correta alimentação da criança. O próprio leite humano tem lipase (digere as gorduras), então as gorduras do leite materno são mais facilmente digeridas do que o leite de vaca, que não possui essa enzima. O leite materno e o leite de vaca possuem a mesma concentração de ferro. Mas, o ferro presente no leite humano é mais biodisponível (é mais absorvido). Isso acontece porque o leite materno contém lactoferrina, a conversão do ferro faz com que tenha maior absorção. A concentração de todos os grupos de vitamina é maior no leite materno. Riscos com a alimentação inadequada (leite de outro animal): • Para o bebê: mais diarreia e infecção respiratória, aumenta a chance de diarreia persistente, desnutrição e deficiência de vitamina A, maior risco de morte, mais alergia e intolerância ao leite, maior risco de obesidade, maior risco de doenças crônicas da vida adulta, menor desempenho em testes de QI. • Para a mãe: pode ficar grávida precocemente (porque a amamentação funciona como um método contraceptivo – a prolactina atua como um fator inibidor do ciclo da ovulação), maior risco de anemia (aumenta o risco de sangramento porque não está produzindo ocitocina para contrair o útero), maior risco de câncer de mama e ovário. OBS: a fórmula é uma alimentação artificial, mas não é inadequada. É adequada, mas não é o padrão ouro. A prolactina age nas células responsáveis pela produção e secreção do leite. No final dos ductos mamários tem os ácinos que serão compostos por dois tipos de células: células musculares (tem receptor para ocitocina – contração e ejeção do leite) e células secretoras de leite (tem receptores para a prolactina – produzem o leite materno). FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO Tudo começa com a sucção, o contato do bebê com a aréola, estimulando positivamente os mecanorreceptores que existem no mamilo. Os mecanorreceptores enviam mensagem até o hipotálamo, enviando por via nervosa, um estímulo para a hipófise posterior. Na hipófise posterior está armazenada a ocitocina que vai agir na ejeção do leite. Quando ocorre a ejeção do leite, é enviada uma mensagem para o hipotálamo que faz a diminuição do hormônio inibidor de prolactina ou aumentar o hormônio liberador de prolactina, ainda não se sabe ao certo o que ele faz, mas sabe que ele acaba estimulando a hipófise anterior, liberando a prolactina, sendo responsável pela secreção do leite. A prolactina continua a ser secretada após a mamada, para que o peito encha de novo e tenha leite para a próxima mamada. Estimulam a ocitocina: • Pensar no bebê com carinho • Olhar o bebê • Ouvir os sons do bebê • Confiança Inibem o reflexo da ocitocina: • Preocupação • Estresse • Dúvidas • Dor TÉCNICA E POSIÇÃO ADEQUADAS NA AMAMENTAÇÃO Sinais de boa pega: • A cabeça e o corpo do bebê alinhados • Boca de frente para a região mamilo- alveolar Leite de cabra: inadequado igual o leite de vaca. Tem quantidadede ferro baixa, vitamina B12 baixa e aumenta o risco de anemia megaloblástica. MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – AISCA I – PROF. LARISSA GOUVEIA 3 • Corpo do bebê próximo e voltado para a mãe • Nádega do bebê apoiada • O bebê deve estar livre • A gengiva do bebê deve estar ao nível da aréola • A boca do bebê está bem aberta • O queixo do bebê encosta no peito da mãe • O lábio inferior do bebê está virado para fora • A aréola é mais visível acima da boca da criança do que abaixo ESTAÇÕES DA SECREÇÃO LÁCTEA REFLEXOS QUE FACILITAM A AMAMENTAÇÃO Reflexo de busca ou procura: é a abertura da boca para pegar o seio Reflexo de extrusão: colocação da língua sobre a gengiva inferior para pegar o mamilo e a aréola Reflexo de sucção: o movimento peristáltico da língua comprime o tecido mamário contra o palato duro, em combinação com o fechamento dos lábios e gengivas e o leite é ordenhado dos seios lactíferos. Reflexo de deglutição: quando o leite vai passando pela orofaringe, fecha a glote com a epiglote, e passa pelo esôfago, prevenindo obstrução e engasgos. FATORES QUE FACILITAM A AMAMENTAÇÃO • Alimentação da nutriz • Evitar chupetas • Evitar mamadeiras • Estado psicológico da mãe. Evitar chupetas e mamadeiras é importante para evitar a confusão de bicos. VANTAGENS E BENEFÍCIOS DO AM PARA O BEBÊ • Proteção contra infecções • Proteção contra alergias • Menor risco de morte súbita no berço • Menor risco de diabetes, câncer e otite na infância • Melhor resposta a vacinação e melhor capacidade de combater doenças • Menor risco de problemas ortodônticos • Melhor desenvolvimento psicomotor, emocional e social • Melhor coeficiente de inteligência • Estímulo psicoafetivo VANTAGENS PARA A SAÚDE DA MÃE • Menor risco de câncer mamário e ovariano • Menor sangramento pós parto • Bom método anticoncepcional • Menor risco de depressão pós parto • Melhor relação entre mãe-filho, resultando em menos abuso e negligência de crianças COMO OFERECER LEITE EM OUTRAS SITUAÇÕES Se a mãe não conseguir dar o leite materno diretamente no peito por qualquer motivo, o recomendado é que seja dado no copinho (encosta o copo perto da gengiva inferior do bebê e ele vai, através do reflexo de protrusão da língua, tomando o leite) ou translactação (para mulheres que tem baixa produção de leite materno – se coloca um pouco de fórmula em uma sonda, uma ponta da sonda fica no copo e a outra na boca do bebê). CONGELAMENTO E ARMAZENAMENTO DO LEITE MATERNO O leite do banco de leite passa por um processo de pasteurização. Armazenamento do leite materno: • Congelado a menos 3°C por até 15 dias • Refrigerado, a menos de 5°C por até 12 horas • Descongelar em banho maria, aqueça a água, sem ferver, deixe o frasco de leite na água aquecida até descongelar completamente. Quando for realizar a ordenha, é importante usar máscara (para proteger de gotículas de saliva) e usar touca. MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – AISCA I – PROF. LARISSA GOUVEIA 4 CONTRAINDICAÇÕES ABSOLUTAS AO AM • Mães infectadas com HIV • Mães infectadas pelo HTLV1 e HTLV2 • Antineoplásicos e os radiofármacos • Crianças com galactosemia: deficiência congênita da produção de galactase INTERRUPÇÃO TEMPORÁRIA DO AM • Infecção herpética → se a lesão de herpes só for em uma mama, pode amamentar na que não foi acometida. • Varicela – 5 dias antes até 2 dias depois do parto → suspende até todas as lesões estarem na fase de crosta • Doença de Chagas na fase aguda • Abscesso mamário → se a outra mama não tem abscesso, amamenta na outra. PSEUDO CONTRAINDICAÇÕES DO AM • Tuberculose, pode desde a primeira dose de esquema de tratamento • Hanseníase • Hepatite B • Hepatite C • Dengue • Consumo de cigarros • Consumo de álcool Benefícios do aleitamento > que substâncias inadequadas (como cigarros e drogas). DIFICULDADES DA AMAMENTAÇÃO • Ingurgitamento mamário: descida do leite. Por volta do 5º dia de vida a mulher deixa de produzir apenas colostro e passa a produzir leite em grande quantidade. As mamas enchem de uma vez só. → conduta: colocar o bebê para mamar e esvaziar as mamas ou, fazer massagem nas mamas para não virar ingurgitamento patológico • Ingurgitamento patológico: ingurgitamento mamário + sinais flogísticos (calor, rubor..) → conduta: anti-inflamatório e, em alguns casos, antibióticos. • Mamilos doloridos e/ou trauma mamilar → refletem pega incorreta • Fenômeno de Raynaud: vasoconstricção da mama, seguida de uma vasodilatação súbita, causando na mulher sensações de fisgadas, dor, agulhadas → tratamento feito geralmente com nifedipino (beta bloqueador – inibir a vasodilatação). Fazer o diagnóstico diferencial com a cândida (na cândida tem monilíase no bico do peito). • Mamilos planos e mamilos invertidos • Infecções mamilares por cândidas na mãe e bebê → comum em mulheres que usam absorventes de mama. Sempre que diagnosticar cândida em um dos dois, tratar os dois. • Bloqueio de ductos lactíferos (pega em tesoura - bloqueia a saída de leite) • Mastite – usar antibióticos • Abscesso mamário – antibioticoterapia, algumas vezes com necessidade de internação e drenagem cirúrgica
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