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IC INTRODUÇÃO/DEFINIÇÃO ❖ A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa ❖ Coração incapaz de bombear sangue de forma a atender às necessidades metabólicas tissulares - Ou pode fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento ❖ Pode ser causada por alterações estruturais ou funcionais cardíacas ❖ Caracteriza-se por sinais típicos, que resultam da redução no débito cardíaco e/ou das elavadas pressões de enchimento no repouso ou no esforço - Aumento na pressão de enchimento do VE = síndrome congestiva pulmonar - Baixo débito = exaustão, síncope ou mesmo choque cardiogênico ❖ O termo ICC, referente à Insuficiência Cardíaca Congestiva, está sendo abandonado, pois nem todos os pacientes apresentam quadro de congestão ❖ O termo “insuficiência cardíaca crônica” reflete a natureza progressiva e persistente da doença - Enquanto o termo “insuficiência cardíaca aguda” fica reservado para alterações rápidas ou graduais de sinais e sintomas resultando em necessidade de terapia urgente ❖ Em sua história natural a insuficiência cardíaca avançada acarreta sobrevida média comparável a do câncer metastático, podendo, no entanto, ser prolongada por uma abordagem terapêutica adequada ❖ A maioria das doenças que levam à IC caracterizam-se pela presença de baixo débito cardíaco (muitas vezes compensado) no repouso ou no esforço (IC de baixo débito) - Porém, algumas situações clínicas de alto débito também podem levar a IC, como tireotoxicose, anemia, fístulas arteriovenosas e beribéri (IC de alto débito) ❖ Implícito na definição de IC está o conceito de que a ela possa ser causada por anormalidade na função sistólica, produzindo redução do volume sistólico (IC sistólica) ou anormalidade na função diastólica, levando a defeito no enchimento ventricular (IC diastólica), que também determina sintomas típicos de IC ❖ Em muitos pacienete coexistem disfunções sistólica e diastólica - Assim, convencionou-se definir os pacientes com IC de acordo com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) EPIDEMIOLOGIA ❖ A síndrome mantém-se como patologia grave, afetando, no mundo, mais de 23 milhões de pessoas ❖ No Brasil, se estimam cerca de 6,4 milhões de portadores de IC ❖ A sobrevida após 5 anos de diagnóstico pode ser de apenas 35% ❖ Dados recentes distinguem a mortalidade tardia (1 ano) entre portadores de IC crônica, de acordo com a classificação por fração de ejeção - Atingindo maior taxa para portadores da ICFEr (8,8%), seguida da ICFEi (7,6%) e da ICFEp (6,3%) ❖ De acordo com publicações internacionais, o perfil clínico da IC crônica envolve indivíduos idosos portadores de etiologias diversas, sendo a isquêmica a mais prevalente, com alta frequência de comorbidades associadas ❖ Em nosso país, dados do registro BREATHE (Brazilian Registry of Acute Heart Failure) mostraram como principal causa de re-hospitalizações a má aderência à terapêutica básica para IC, além de elevada taxa de mortalidade intra-hospitalar, posicionando o Brasil como uma das mais elevadas taxas no mundo ocidental ❖ Nosso país ainda apresenta controle inadequado de hipertensão arterial e diabetes, e a persistência de doenças negligenciadas está entre causas frequentes da IC ❖ A doença reumática e a doença de chagas (DC), embora menos relevantes do que no passado, continuam presentes, gerando quadros graves - A DC esteve relacionada ao atendimento ambulatorial de até 21% de portadores de IC CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM A FRAÇÃO DE EJEÇÃO ❖ Principal terminologia usada historicamente para definir IC ❖ Baseia-se na FEVE e compreende pacientes com: - FEVE normal (≥ 50%): denominada IC com fração de ejeção preservada (ICFEp) A insuficiência cardíaca, em poucas palavras, é caracterizada por uma inabilidade dos ventrículos se encherem e se esvaziarem de sangue adequadamente (isto é, com pressões intraventriculares normais). ❖ No Brasil, a principal etiologia de IC é a cardiopatia isquêmica crônica, com frequência associada à HAS 2 - FEVE reduzida (< 40%): denominada IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr) - IC de fração de ejeção intermediária (mid-range ou ICFEi): FEVE entre 40 e 49% → Antes era chamada de “zona cinzenta da fração de ejeção” ❖ A diferenciação dos pacientes de acordo com a FEVE tem particular importância, uma vez que eles diferem em relação às suas principais etiologias, às comorbidades associadas e, principalmente, à resposta à terapêutica DE ACORDO COM A GRAVIDADE DOS SINTOMAS ❖ A classificação funcional de acordo com a NYHA continua sendo a classificação usada para descrever e classificar a gravidade dos sintomas ❖ Permite avaliar o paciente clinicamente, auxilia no manejo terapêutico e tem relação com o prognóstico ❖ Pacientes em classe funcional da NYHA III a IV apresentam: - Condições clínicas progressivamente piores - Internações hospitalares mais frequentes - Maior risco de mortalidade ❖ Por outro lado, embora pacientes em NYHA II apresentem sintomas mais estáveis e internações menos frequentes, o processo da doença nem sempre é estável, e estes pacientes podem apresentar morte súbita sem piora dos sintomas DE ACORDO COM A PROGRESSÃO DA DOENÇA ❖ A classificação por estágios da IC proposta pela American College of Cardiology/American Heart Association ACC/AHA enfatiza o desenvolvimento e a progressão da doença ❖ Esta classificação inclui desde o paciente com risco de desenvolver IC, cuja abordagem deve ser feita no sentido de prevenir seu desenvolvimento, quanto o paciente em estágio avançado da doença, que requer terapias específicas, como transplante cardíaco e/ou dispositivos de assistência ventricular ETIOLOGIA ❖ A IC pode ser dividida em sistólica e diastólica - As etiologias desses dois tipos diferem entre si, embora haja pontos importantes de interseção ❖ A insuficiência cardíaca sistólica está geralmente associada a uma cardiopatia dilatada ❖ As causas de cardiopatia dilatada são múltiplas, mas predominam a HAS e a doença isquêmica ❖ Algumas vezes, entretanto, a causa é uma doença intrínseca do miocárdio – uma miocardiopatia primária, devendo ser sempre suspeitada no 3 indivíduo com dilatação ventricular sem histórico de HAS, valvopatia ou coronariopatia - Em tais casos existem três diagnósticos principais: (1) cardiomiopatia dilatada idiopática; (2) cardiomiopatia alcoólica; e (3) cardiomiopatia chagásica. ❖ A doença coronariana e a HAS são as principais causas de IC ❖ As doenças valvares também são causas relativamente comuns de insuficiência cardíaca em nosso meio, já que estamos em um país onde persiste a endemia de febre reumática ❖ As três valvopatias que levam à sobrecarga ventricular esquerda são: - Estenose aórtica - Insuficiência aórtica - Insuficiência mitral ❖ A estenose mitral não sobrecarrega o VE (pelo contrário, costuma poupá-lo); - Contudo, é uma causa muito importante de HAP secundária e que pode evoluir futuramente para Insuficiência Ventricular Direita (IVD) ❖ Outras causas menos comuns de IC sistólica crônica são: - Miocardiopatia periparto, miocardites (virais, HIV, colagenoses, vasculites), taquicardiomiopatia, distúrbios endócrinos, miocardiopatia por cocaína, uso de certos quimioterápicos (doxorrubicina, daunorrubicina) e distúrbios nutricionais (ex.: deficiência de selênio). ❖ Nos casos de IC diastólica, a HAS e a fibrose (sequela de IAM) aparecem como causas importantes - O próprio envelhecimento é considerado uma causa de IC diastólica - Também existe uma miocardiopatia primária que deve ser lembrada: a miocardiopatia hipertrófica - Outras causas incluem: desordens infiltrativas (sarcoidose, amiloidose) e a hemocromatose, que perfazem o grupo das cardiopatias “restritivas”❖ Quando falamos sobre IC aguda, nos referimos a um paciente previamente hígido que abriu um quadro de falência cardíaca de instalação rápida - Neste caso, a causa mais comum é o IAM - Outras causas frequentes: miocardite aguda e endocardite infecciosa complicada por rotura da cordoália mitral. ❖ Separando os pacientes em grupos, podemos avaliar as causas de insuficiência cardíaca direita isolada e de insuficiência cardíaca de alto débito. FISIOPATOLOGIA FUNÇÃO SISTÓLICA E DIASTÓLICA ❖ Denominamos diástole a fase de enchimento ventricular e sístole a fase de ejeção ❖ O bom funcionamento cardíaco exige que tanto a sístole quanto diástole estejam normais - Ou seja, a função cardíaca pode ser separada em dois componentes: função sistólica e função diastólica ❖ Função Sistólica: é a capacidade que o ventrículo possui de ejetar o sangue nas grandes artérias ❖ Um ventrículo normal, contém cerca de 100 ml de sangue no final da diástole - Volume Diastólico Final (VDF) → faixa normal: 80- 150 ml. ❖ Deste total, aproximadamente 60 ml são ejetados a cada batimento – é o Débito Sistólico (DS) → faixa normal: 40-100 ml. 4 ❖ Após ejetar o sangue, o que sobra na cavidade (em torno de 40 ml) é o Volume Sistólico Final (VSF) → faixa normal: 30-60 ml ❖ O fluxo total gerado pelo coração na unidade de tempo é o Débito Cardíaco (DC), determinado pelo produto do débito sistólico com a Frequência Cardíaca (FC) - O valor normal é de 4,5-6,5 L/min ❖ O Índice Cardíaco (IC) é o DC corrigido pela área de superfície corporal - O valor normal do índice cardíaco é de 2,8-4,2 L/min/m2 ❖ Função Diastólica: é a capacidade que o ventrículo possui de se encher com o sangue proveniente das grandes veias, sem aumentar significativamente sua pressão intracavitária ❖ Essa capacidade é determinada pelo grau de relaxamento atingido, de modo que o sangue proveniente do retorno venoso se acomode nos ventrículos - Esse processo não é passivo, e sim dependente de energia, justificando a disfunção diastólica encontrada em situações como a isquemia (onde ocorre depleção do ATP) ❖ Em corações normais, a pressão diastólica final ou pressão de enchimento ventricular (ou PD2) varia na faixa de 8-12 mmHg ❖ Como a medida das pressões de enchimento exige métodos invasivos, na prática ambulatorial podemos aferir a função diastólica de forma indireta pelo ecocardiograma-Doppler, ao medir a velocidade de fluxo através da valva mitral INSUFICIÊNCIA CARDÍACA SISTÓLICA ❖ Constitui 50-60% dos casos ❖ O problema está na perda da capacidade contrátil do miocárdio ❖ Na maioria das vezes, a disfunção sistólica provoca dilatação ventricular (cardiopatia dilatada) - Tem como marco laboratorial uma redução significativa da fração de ejeção (≤ 50%) ❖ Existem duas consequências principais: (1) baixo débito cardíaco; e (2) aumento do volume de enchimento (VDF) e, portanto, da pressão de enchimento ventricular, a qual será transmitida aos átrios e sistema venocapilar (congestão) ❖ O IAM, a isquemia miocárdica, a fase dilatada da cardiopatia hipertensiva e a miocardiopatia dilatada idiopática são exemplos comuns INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIASTÓLICA ❖ Constitui 40-50% dos casos ❖ A contração miocárdica está normal (com FE > 50%) - Mas existe restrição patológica ao enchimento diastólico, causando elevação nas pressões de enchimento e, consequentemente, aumento da pressão venocapilar (congestão) ❖ O mecanismo pode ser uma alteração no relaxamento muscular e/ou uma redução na complacência ventricular (“ventrículo duro” por excesso de tecido conjuntivo) - Na maioria das vezes existe hipertrofia muscular concêntrica, com redução da cavidade ❖ A fase hipertrófica da cardiopatia hipertensiva e a cardiomiopatia hipertrófica são os principais exemplos 5 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA (ICC) ❖ Este termo se refere à principal consequência clínica da insuficiência cardíaca: o fenômeno da congestão venocapilar ❖ Se o coração não bombeia o sangue adequadamente, uma parte fica estagnada na circulação venosa (incluindo a rede capilar) ❖ O consequente aumento na pressão venocapilar provoca extravasamento de líquido para o interstício, determinando seu acúmulo (edema ou “congestão”) ❖ A congestão explica boa parte dos sinais e sintomas da insuficiência cardíaca DE ACORDO COM O LADO DO CORAÇÃO AFETADO INSUFICIÊNCIA CARDÍACA ESQUERDA ❖ Representa a grande maioria dos casos ❖ É decorrente da disfunção do “coração esquerdo”, geralmente por Insuficiência Ventricular Esquerda (IVE) ❖ Cursa com congestão pulmonar (dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna) ❖ São exemplos: - Infarto agudo do miocárdio - Cardiopatia hipertensiva (por “sobrecarga” ventricular) - Miocardiopatia idiopática ❖ Também pode ser causada por doença valvar (ex: estenose mitral com aumento da pressão no átrio esquerdo, sem alterações na pressão do VE) INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIREITA ❖ Decorrente da disfunção do “coração direito”, geralmente por Insuficiência Ventricular Direita (IVD) ❖ Cursa com congestão sistêmica - Turgência jugular patológica - Hepatomegalia - Ascite - Edema de membros inferiores ❖ São exemplos: - Cor pulmonale (relacionado à DPOC, obesidade mórbida, pneumopatias, tromboembolismo pulmonar ou hipertensão arterial pulmonar primária) - Infarto do ventrículo direito - Miocardiopatias INSUFICIÊNCIA CARDÍACA BIVENTRICULAR ❖ Há tanto, disfunção “esquerda” quanto “direita” ❖ Cursa com congestão pulmonar e sistêmica ❖ A maioria das cardiopatias que levam à insuficiência cardíaca inicia-se como IVE e posteriormente evolui com comprometimento do VD ❖ Por isso se diz que a causa mais comum de IVD é a própria IVE DÉBITO CARDÍACO IC DE BAIXO DÉBITO ❖ Constitui a maioria dos casos ❖ A disfunção sistólica do VE reduz o Débito Cardíaco (DC), causando hipoperfusão tecidual - Nas fases iniciais o DC pode se manter normal no estado de repouso, mas durante esforço físico o aumento fisiológico do DC não acontece - Na fase avançada, por sua vez, o DC estará reduzido mesmo em repouso, trazendo constantes limitações ao paciente ❖ Já na IC diastólica também se observa uma limitação do DC, especialmente durante a atividade física - Não há como elevar o DC sem aumentar a pressão de enchimento em demasia ❖ Além disso, a taquicardia sinusal que acompanha o esforço físico encurta o tempo de diástole, comprometendo ainda mais a capacidade de enchimento ventricular ❖ Podemos afirmar que todas as cardiopatias intrínsecas que promovem ICC o fazem gerando um quadro de IC de baixo débito IC DE ALTO DÉBITO ❖ Ocorre nas condições que exigem um maior trabalho cardíaco, seja para atender a demanda metabólica (tireotoxicose, anemia grave) - Ou pelo desvio de sangue do leito arterial para o venoso, através de fístulas arteriovenosas (beribéri, sepse, cirrose, doença de Paget óssea, hemangiomas) ❖ Em todos esses casos, apesar do débito cardíaco estar alto, ele está abaixo do desejado em face da alta requisição da função cardíaca ❖ Por exemplo: imagine que na tireotoxicose o organismo precisa de um DC > 15 L/min, mas o coração só consegue chegar a 7 L/min, tornando- se, portanto, sobrecarregado, o que leva ao aumento da pressão de enchimento e à dilatação ventricular 6 MECANISMOS COMPENSATÓRIOS ❖ Os mecanismos compensatórios da insuficiência cardíaca são mais bem compreendidos na IC sistólica e de baixo débito, responsável pela maioria dos casos LEI DE FRANK-STARLING ❖ Por essa “lei fisiológica”, quanto maior for o Volume Diastólico Final (VDF), maior será o débito sistólico e a fração de ejeção! ❖ Um maior volume diastólico distende mais os sarcômeros (unidades contráteis dos miócitos), permitindoaos filamentos de actina e miosina um maior potencial para interação bioquímica e gasto energético ❖ Por esse motivo, o ventrículo dilata, aumentando o VDF e, com isso, evitando a queda do débito cardíaco ❖ Após um deficit de contratilidade miocárdica, a dilatação ventricular se instala progressivamente ❖ São dois os mecanismos dessa dilatação ventricular na IC sistólica: (1) esvaziamento incompleto do ventrículo; (2) hipervolemia decorrente da retenção de sódio e água pelos rins - Este segundo mecanismo depende da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (ativado pela hipoperfusão renal), que age aumentando a reabsorção hidrossalina dos rins ❖ A lei de Frank-Starling, no entanto, possui uma importante limitação: - Um aumento excessivo do volume diastólico final acabará dificultando a performance ventricular, com desestruturação da mecânica das fibras, levando ao aumento das pressões de enchimento e à redução do débito sistólico ❖ A tendência é a evolução (após anos) para um estado de retenção volêmica exagerada, responsável pelos quadros de síndrome de insuficiência cardíaca congestiva...Observe o gráfico a seguir - Note que, a partir de um certo ponto, nem mesmo os ventrículos com função normal conseguem melhorar seu débito cardíaco com a dilatação ventricular - Além disso, quanto pior a função ventricular, menor será o volume diastólico final em que o ventrículo atingirá seu débito cardíaco máximo CONTRATILIDADE DOS MIÓCITOS REMANESCENTES ❖ A contratilidade (inotropismo) dos cardiomiócitos é modulada pelo sistema adrenérgico através da ação da noradrenalina e da adrenalina sobre receptores beta-1 e alfa-1, especialmente o primeiro ❖ O baixo DC estimula barorreceptores arteriais, ativando o sistema nervoso simpático (adrenérgico) - Ele age sobre os receptores citados - Induz aumento na contratilidade dos miócitos que ainda não foram lesados gravemente ❖ Desse modo, até certo ponto na evolução inicial da doença o débito cardíaco pode ser “compensado” pelo maior trabalho desses miócitos remanescentes “sobrecarregados” HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA (HVE) ❖ A HVE é definida como um aumento da massa de miocárdio ventricular ❖ Representa o principal mecanismo compensatório inicial nos casos de sobrecarga de pressão ou volume ventriculares ❖ Na sobrecarga de pressão (hipertensão arterial, estenose aórtica), ocorre uma hipertrofia concêntrica → Aumento da espessura da parede ventricular, sem aumentar a cavidade ❖ Na sobrecarga de volume (regurgitações valvares), ocorre hipertrofia excêntrica → Aumento da cavidade predominando sobre o aumento da espessura da parede ventricular 7 ❖ A hipertrofia, além de aumentar o número de sarcômeros e, portanto, a capacidade contrátil total, também reduz a tensão ou estresse da parede ventricular, melhorando a performance cardíaca ❖ Se eu tiver perda de miócitos, a hipertrofia compensatória pode ocorrer nos miócitos remanescentes – estes ficam maiores e mais espessos, apresentando maior número de fibrilas ❖ A angiotensina II é um dos principais agentes indutores de hipertrofia ventricular na insuficiência cardíaca ❖ Embora seja um mecanismo compensatório, a HVE traz sérios problemas: - Arritmogênese - Piora da função diastólica, além de ser um fator de risco independente para eventos cardiovasculares AUMENTO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA ❖ O que não pode ser compensado pelo aumento do débito sistólico em si pode ser alcançado pelo aumento da frequência cardíaca, mantendo, assim, o débito cardíaco estável ❖ O sistema adrenérgico se encarrega de aumentar o cronotropismo, agindo sobre os receptores beta- 1 no nódulo sinusal REMODELAMENTO CARDÍACO ❖ Inicialmente, a queda no débito cardíaco é percebida pelos barorreceptores periféricos que estimulam um aumento no tônus adrenérgico ❖ A elevação da noradrenalina, além de seus efeitos cardiotrópicos, estimula diretamente a liberação renal de renina; ❖ Contudo, o principal estímulo à ativação do sistema SRAA é a hipoperfusão renal devido à diminuição do sódio filtrado que alcança a mácula densa e à hipodistensão da arteríola aferente glomerular ❖ A angiotensina e a aldosterona, também possuem o efeito de estimular a produção (ou inibir a recaptação) de noradrenalina Revisão sobre a ação dos mediadores: ❖ Noradrenalina: agindo sobre receptores beta-1 e beta-2 desencadeia a injúria do miócito (efeito “miocardiotóxico” das catecolaminas) - O miócito se torna alongado e hipofuncionante, podendo evoluir com apoptose - Como uma espécie de “defesa”, o número de receptores beta-adrenérgicos é reduzido na insuficiência cardíaca avançada (downregulation) ❖ Angiotensina II: agindo sobre os receptores AT1, promove os seguintes efeitos danosos: - Apoptose do miócito, proliferação de fibroblastos, liberação local de noradrenalina e da própria angiotensina - A ação pelos receptores AT2 ainda é desconhecida ❖ Aldosterona: agindo sobre receptores citoplasmáticos leva à hiperproliferação de fibroblastos ❖ A ação desses três mediadores, acrescida do efeito de algumas citocinas (ex.: TNF-alfa), contribui sobremaneira para a piora progressiva da disfunção ventricular! ❖ A alteração na forma e função do miócito, sua degeneração e a fibrose intersticial resultam no “remodelamento cardíaco” ❖ A parede ventricular será alongada, e sua espessura será reduzida - A forma elipsoide da cavidade é substituída por um formato esférico ❖ Nesse momento, a performance ventricular já se encontra seriamente prejudicada A progressão da doença miocárdica leva ao seguinte paradoxo: os mesmos mediadores neuro-humorais que inicialmente mantêm o paciente compensado (sistema adrenérgico, sistema renina-angiotensina-aldosterona ou SRAA) passam a exercer efeito deletério sobre a própria função miocárdica. Esta é a base para o fenômeno do remodelamento cardíaco. 8 PÓS-CARGA CARDÍACA ❖ Pós-carga é a “dificuldade” imposta ao esvaziamento ventricular ❖ Se expressa na tensão da parede miocárdica durante a sístole ❖ O aumento da pós-carga reduz o débito sistólico, e eleva o consumo miocárdico de oxigênio ❖ Tudo que dificulta a ejeção ventricular faz parte da pós-carga ❖ O principal fator é o tônus arteriolar periférico - A vasoconstrição arteriolar aumenta a pós-carga, enquanto a vasodilatação a reduz ❖ O aumento na impedância aórtica (por calcificação) e a estenose da valva aórtica são outros possíveis mecanismos de aumento da pós- carga ❖ Finalmente, o fator relacionado à própria geometria ventricular tem um papel de extrema importância, através da lei de Laplace ❖ Na fase sintomática da insuficiência cardíaca o ventrículo trabalha com uma pós-carga elevada, devido a três fatores: (1) vasoconstricção arteriolar periférica; (2) retenção hídrica, levando ao aumento do volume diastólico ventricular; (3) remodelamento cardíaco – maior relação R/h. ❖ A redução medicamentosa da pós-carga exerce efeito benéfico sobre a performance cardíaca! MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❖ O paciente com IC, geralmente, permanece assintomático por vários anos - Graças aos mecanismos compensatórios - Pelo menos quando está em repouso ❖ Até que após um período de tempo variável e imprevisível, surgem os primeiros sintomas ❖ Os sintomas podem ser em decorrência do baixo débito e/ou da síndrome congestiva SÍNDROME CONGESTIVA PULMONAR ❖ Na maioria das vezes, a insuficiência cardíaca se inicia por um comprometimento isolado do VE ❖ Como resultado os pulmões se tornam congestos, com acúmulo de líquido intersticial e intra-alveolar ❖ A congestão aumenta o trabalho respiratório e estimula os receptores J pulmonares, provocando a sensação de dispneia ❖ Como as pressões de enchimentoinicialmente se elevam durante o esforço, o sintoma clássico inicial é a dispneia aos esforços ❖ Alguns pacientes com congestão mais acentuada se queixam de dispneia ao decúbito dorsal, denominada ortopneia - O mecanismo envolve redistribuição de líquido, pelo decúbito, da circulação esplâncnica e dos membros inferiores para a circulação central - É comum a queixa de ser preciso mais de um travesseiro para conseguir dormir ❖ Algumas vezes, o paciente é acordado no meio da madrugada por uma crise de franca dispneia, que melhora após alguns minutos em ortostatismo – é a Dispneia Paroxística Noturna (DPN) – geralmente relacionada à congestão pulmonar grave ❖ Outro sintoma congestivo pode ser a tosse seca, pela congestão da mucosa brônquica - Caracteristicamente, é uma tosse noturna, muitas vezes associada à DPN ❖ Congestão brônquica mais acentuada pode levar a um quadro semelhante ao broncoespasmo – a “asma cardíaca” EDEMA AGUDO DE PULMÃO (EAP) ❖ O extremo da congestão pulmonar é o EAP ❖ Neste caso, o paciente apresenta intensa crise de taquidispneia e ortopneia, associada à insuficiência respiratória, às vezes com cianose central (hipoxemia grave) ❖ Por vezes o paciente expectora um líquido róseo, proveniente do edema alveolar abundante ❖ O exame físico revela estertoração pulmonar audível acima da metade inferior dos hemitórax Lei de Laplace: esta lei diz que o “estresse” na parede ventricular (E) é diretamente proporcional ao raio cavitário (R) e à pressão intracavitária (P), sendo inversamente proporcional à espessura da parede (h). Está representada da seguinte forma: E = P x R/h. O termo “estresse da parede ventricular” pode ser entendido como análogo à tensão superficial desta parede. Podemos entendê-la de outra forma: um ventrículo que apresenta diâmetro cavitário muito grande e parede fina precisa fazer um esforço muito maior para ejetar o sangue do que um ventrículo de cavidade menor e maior espessura de parede! Se precisa fazer um esforço maior, é porque sua pós-carga é maior. 9 ❖ Pode haver sibilos difusos (“asma cardíaca”) ❖ Se não tratado, o quadro leva a ÓBITO ❖ O EAP costuma ocorrer quando a pressão capilar pulmonar ultrapassa 25 mmHg (normal = até 12 mmHg) ❖ A radiografia de tórax mostra dilatação vascular nos ápices e infiltrado bilateral em “asa de borboleta” ou “de morcego” SÍNDROME CONGESTIVA SISTÊMICA ❖ Com o avançar da disfunção de VE, há surgimento progressivo de hipertensão arterial pulmonar secundária - Com o tempo, o VD sobrecarregado acaba entrando em falência, instalando-se o quadro da insuficiência biventricular ❖ A própria doença primária também pode acometer diretamente o miocárdio do VD ❖ Neste momento aparece a síndrome de congestão sistêmica - Pode haver melhora da congestão pulmonar, pois chega menos sangue ao pulmão quando o VD está insuficiente ❖ Os sintomas predominantes, nesse caso, serão os incômodos causados pela síndrome edemigênica e de congestão orgânica: - Edema de membros inferiores, bolsa escrotal, - Aumento do volume abdominal (ascite) - Dispneia por derrame pleural - Dor abdominal em hipocôndrio direito devido à hepatomegalia congestiva. ❖ A congestão da mucosa intestinal pode causar: - Saciedade precoce - Dor abdominal difusa - Náuseas - Diarreia - Enteropatia perdedora de proteína (rara) ❖ A IVD reduz ainda mais o débito cardíaco, explicando o fato comum de haver piora dos sintomas de baixo débito na insuficiência cardíaca biventricular SÍNDROME DE BAIXO DÉBITO ❖ É mais comum e mais acentuada na IC sistólica ❖ Aparece inicialmente aos esforços, devido à incapacidade do coração em aumentar o débito durante o esforço ou qualquer situação de estresse ❖ Os sintomas se confundem com os de uma síndrome “geral”: - Fadiga muscular - Indisposição - Mialgia - Cansaço - Lipotímia ❖ A maioria dos sintomas é secundária à inadequada perfusão muscular durante o esforço físico EMAGRECIMENTO E “CAQUEXIA CARDÍACA” ❖ O paciente com IC tende a perder massa muscular, pois há um desbalanço entre o débito cardíaco e a demanda metabólica da musculatura esquelética ❖ Além do mais, pode haver redução na absorção intestinal de nutrientes (congestão mucosa) ❖ Alguns indivíduos só não emagrecem porque acumulam muito líquido (edema) ❖ Outros chegam a emagrecer e até mesmo entrar num estado de “caquexia” 10 - A explicação inclui o efeito catabólico de mediadores como o TNF-alfa, exageradamente aumentado na insuficiência cardíaca avançada CHOQUE CARDIOGÊNICO ❖ É o extremo da insuficiência cardíaca, manifestação comum nas formas agudas graves (ex.: IAM anterior extenso) ou como fenômeno terminal da forma crônica de ICC ❖ É definido clinicamente pelo estado de choque (hipoperfusão orgânica generalizada) - Associado à hipotensão grave (PA sistólica < 80 mmHg) que não responde à reposição volêmica EXAME FÍSICO ❖ É fundamental para o diagnóstico ❖ Sempre pesquisar (são importantes para o prognóstico): - Sinais de aumento da pressão venosa jugular - Presença de B3 na ausculta cardíaca ❖ O sinal mais fidedigno para detectar a presença de retenção de volume é a turgência de jugular PULSO ARTERIAL ❖ No início, é normal ❖ Em fases avançadas pode ser de baixa amplitude - Devido ao baixo débito ❖ Pulso alternans (alternância de um pulso forte e um pulso fraco): é um sinal de débito sistólico extremamente baixo que reflete péssimo prognóstico ❖ Após uma contração eficaz o miocárdio doente demora para se recuperar, logo, o próximo batimento será fraco ❖ Quando este fenômeno é extremo, teremos o pulso total alternans, isto é, só percebemos o pulso mais forte, o que reduz falsamente a frequência cardíaca para a metade, quando contada no pulso arterial PULSO VENOSO E TURGÊNCIA JUGULAR ❖ A turgência jugular patológica a 45º (TJP) é um sinal fidedigno e precoce de IVD ❖ O pulso venoso pode apresentar alterações em seu aspecto: ❖ - Aumento da onda A, devido às elevadas pressões de enchimento no VD ❖ - Presença da onda V gigante, consequente à insuficiência tricúspide secundária à dilatação do VD ❖ Uma manobra muito importante no diagnóstico da congestão sistêmica é a pesquisa do refluxo hepatojugular, muitas vezes presente antes mesmo da TJP ❖ - Nessa manobra faz-se pressão sobre o quadrante superior direito do abdome observando se haverá aumento na altura do pulso jugular > 1 cm - Se houver, diz-se que o refluxo hepatojugular está presente PRECÓRDIO ❖ O exame do precórdio depende do tipo de cardiopatia: - Dilatada - Hipertrófica - Restritiva. 11 ❖ Na cardiopatia dilatada: - O ictus de VE costuma ser difuso (mais de duas polpas digitais) e fraco e, algumas vezes, desviado para a esquerda (lateral à linha hemiclavicular) e para baixo (inferior ao 5º espaço intercostal) - O ictus de VD pode ser palpável e proeminente ❖ A relação entre os ictus de VE e VD depende de qual ventrículo está mais acometido ❖ - Um batimento protodiastólico e/ou um pré- sistólico podem ser palpáveis e até visíveis no ápex (corresponde à B3 e B4, respectivamente, na ausculta) ❖ Na cardiopatia hipertrófica: - O ictus de VE costuma estar localizado em posição normal, porém é “sustentado” (pico sistólico “forte” e duradouro) ❖ Na cardiopatia restritiva - O ictus de VE geralmente não se altera AUSCULTA CARDÍACA ❖ A B1 pode ser hipofonética (hipocontratilidade do VE) ❖ B2 hiperfonética (hipertensão arterial pulmonar) ❖ A bulha acessória da insuficiência cardíaca é a terceira bulha (B3) - Este som é produzido pela desaceleração do fluxo de sangue no final da fase de enchimento rápido da diástole - A B3 pode ser audível nas sobrecargas de volume, mesmo na ausência de insuficiência cardíaca❖ A quarta bulha (B4) é mais comum na doença isquêmica e na cardiopatia hipertensiva ❖ Um sopro sistólico pode ser audível no foco mitral, irradiando-se para a axila, causado por insuficiência mitral secundária à dilatação do VE - A dilatação do VD também pode causar insuficiência tricúspide secundária – o sopro sistólico é mais audível no foco tricúspide e aumenta à inspiração profunda (manobra de Rivero-Carvalho) ❖ O exame cardiovascular está prejudicado em pacientes com o tórax em tonel (DPOC), obesos, musculosos e pacientes com deformidades torácicas EXAME DO APARELHO RESPIRATÓRIO ❖ Na IVE pode haver estertoração pulmonar nos terços inferiores dos hemitórax, predominando geralmente à direita, devido à congestão e edema pulmonar ❖ Os sibilos podem ser encontrados na “asma cardíaca” ❖ A síndrome de derrame pleural é frequente na IVE e na IC biventricular - Pois a drenagem pleural é dependente do sistema venoso pulmonar e sistêmico - Geralmente, o derrame é do lado direito ou bilateral (sendo maior à direita) ❖ Um derrame isolado à esquerda deve suscitar outros diagnósticos, o que indica a toracocentese daquele lado (ex.: embolia pulmonar, pneumonia, neoplasia etc.) ANASARCA ❖ Nas fases avançadas, com IC biventricular, o paciente apresenta edema generalizado, com predomínio nas regiões dependentes de gravidade – membros inferiores, bolsa escrotal ❖ O edema crônico dos membros inferiores leva a alterações de pele e fâneros, como: - Hiperpigmentação - Perda de pelos - Ictiose: pele extremamente seca ❖ Não é comum o edema peripalpebral (como no edema nefrogênico) ❖ Todas as serosas podem estar comprometidas: - Ascite - Derrame pleural - Derrame pericárdico HEPATOPATIA CONGESTIVA ❖ A hepatomegalia congestiva é muito comum, frequentemente dolorosa, pela distensão aguda da cápsula hepática ❖ Casos muito agudos descompensados de IVD, porém, podem levar à congestão hepática grave, manifestando-se como uma hepatite aguda: - Icterícia - Hiperbilirrubinemia - Aumento das transaminases e, eventualmente, insuficiência hepática. ❖ A ocorrência de cirrose hepática cardiogênica é rara, pois a gravidade da cardiopatia costuma levar o paciente a ÓBITO antes de haver cirrose - Nos casos de pericardite constrictiva, entretanto, a cirrose hepática cardiogênica pode ser mais frequente. RESPIRAÇÃO DE CHEYNES-STOKES ❖ Caracterizada por períodos de apneia alternando- se com períodos de hiperpneia, este padrão respiratório ocorre em até 30% dos pacientes com IC sintomática, geralmente durante o sono ❖ O motivo não está esclarecido, porém, postula-se que o tempo de circulação pulmão-centro 12 respiratório esteja lentificado, atrasando o reconhecimento das alterações da capnia (PCO2) DIAGNÓSTICO ❖ Uma história clínica e um exame físico detalhados devem ser feitos em todos os pacientes em busca dos principais sinais e sintomas de IC ❖ No entanto, em pacientes crônicos, a detecção de sinais clínicos de congestão pode estar esmaecida ou ausente, por processos adaptativos e pela grande adaptação do sistema linfático em lidar com congestão ❖ - Assim, os sinais clínicos de congestão podem ser pouco sensíveis e também pouco específicos18 - Sobressaem-se, no entanto, sinais como terceira bulha e sintoma como ortopneia como mais específicos para o diagnóstico de IC ❖ Os critérios de Framingham para diagnóstico de ICC são simples, baratos e acurados ❖ Alguns exames inespecíficos auxiliam (radiografia de tórax, ECG) e, nos CASOS DUVIDOSOS, certos métodos mais específicos são capazes de confirmar ou afastar o diagnóstico (BNP, ecocardiograma-Doppler, cintilografia Gated, cateterismo cardíaco) CONSIDERAÇÕES GERAIS ECOCARDIOGRAMA ❖ O ecocardiograma transtorácico é exame de imagem de escolha para o diagnóstico e o seguimento de pacientes com suspeita de IC ❖ Permite a avaliar: - Função ventricular sistólica esquerda e direita - Função diastólica - Anormalidades anatômicas - Espessuras parietais - Tamanho das cavidades - Função valvar - Estimativa hemodinâmica não invasiva - Doenças do pericárdio - Estimativa das pressões de enchimento do ventrículo esquerdo ❖ Outros exames de imagem, como a ressonância magnética e tomografia computadorizada, podem ser usados quando os não invasivos forem inconclusivos, ou para o diagnóstico de miocardiopatias específicas ❖ O Ecocardiograma Transtorácio Bidimensional com análise dos fluxos pelo método doppler (Eco-2D- Doppler) é o teste diagnóstico por imagem preferencial para avaliação inicial dos pacientes 13 com suspeita de IC, não só por sua ampla disponibilidade, como também por prescindir do uso de radiação ionizante ❖ A avaliação deve incluir análise da FEVE (idealmente pelo método de Simpson) - A avaliação tridimensional apresenta melhor acurácia na quantificação dos volumes ventriculares e FEVE, porém, pela pouca disponibilidade, o método de eleição permanece o Simpson ❖ Não se recomenda a realização de ecocardiograma de forma rotineira nos pacientes com IC - Sugere-se sua repetição naqueles pacientes que exibem mudança significativa de seu estado clínico, com descompensação da IC ou perante progressão de sintomas - Também deve ser considerada a realização de novo ecocardiograma 3 a 6 meses após o tratamento com medicações que modificam o prognóstico, para avaliação do remodelamento reverso e estratificação do prognóstico PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS ❖ Os peptídeos natriuréticos BNP e NT-proBNP, possuem papel no diagnóstico de IC bem estabelecido, - Tanto no cenário da sala de emergência quanto em pacientes com IC crônica ambulatoriais ❖ Algumas limitações ao seu uso na prática clínica devem ser destacadas, pois estes peptídeos podem elevar-se na presença de anemia, insuficiência renal crônica (IRC), e idade avançada, e apresentar níveis mais baixos na presença de obesidade ❖ Os peptídeos natriuréticos têm demonstrado ainda papel prognóstico em pacientes com IC ❖ Não substui os exames de imagem, mas auxiliam no diagnóstico de IC, contribuindo principalmente para excluir o diagnóstico quando este é incerto ❖ Os pontos de corte que excluem o diagnóstico de IC variam de acordo com a forma de apresentação da doença, aguda ou crônica ❖ Valores de BNP < 35 pg/mL ou NT-proBNP < 125 pg/mL praticamente excluem o diagnóstico de IC ❖ Em pacientes com ICFEp, os peptídeos natriuréticos também têm papel importante - Prognóstico: níveis elevados estão associados a pior mortalidade ou hospitalização por IC OUTROS BIOMARCADORES ❖ Não utilizados de rotina, mas podem ser úteis na avaliação de pacientes com IC ❖ Dosagem de marcadores de injúria miocárdica, como: - Troponinas T e I (incluindo as de alta sensibilidade) Quando usar? O ecocardiograma pode estar indisponível no momento, mas a terapêutica tem que ser logo iniciada... Aí entra a dosagem de BNP! Apesar de ter sido descoberto em extratos de cérebro, o BNP é produzido pelo miocárdio dos ventrículos, sempre em resposta ao estiramento miocárdico. Sua liberação está ligada ao aumento das pressões de enchimento ventricular Aumenta na ICC, mas não aumenta na pneumopatia, ajudando no diagnóstico diferencial 14 ❖ Dosagem de marcadores de inflamação e fibrose, como: - Galectina-3 - ST2 (superior à galectina, promissor para monitorar resposta ao tratamento) ❖ Pode adicionar informações prognósticas AVALIAÇÃO ETIOLÓGICA ❖ A etiologia da IC difere de acordo com as diferentes regiões ao redor do mundo, e buscar a causa para o desenvolvimento da IC tem particular importância, uma vez que o prognóstico também difere entre elas, podendo orientar tratamento específico ❖ Diferentes classificações foram propostas ao longodas últimas décadas para classificar as causas de IC, porém todas são complexas para serem aplicadas na prática clínica AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA ❖ Pacientes com o diagnóstico de IC carregam pior prognóstico em relação à população em geral ❖ No que tange aos subtipos de IC, não parece haver grande diferença em relação à mortalidade global quando estratificados por fração de ejeção preservada, intermediária ou reduzida ❖ A classificação da IC em estágios (A, B, C e D) estabelece um contínuo de gravidade - No entanto, o estágio C apresenta ampla gama de apresentações, envolvendo diferentes classes funcionais da NYHA ❖ Esta classificação, apesar de também agregar valor prognóstico, depende de interpretação subjetiva ❖ Dentre os preditores de prognóstico, um aspecto que tem sido bastante valorizado, mais recentemente, é a presença de fragilidade e sarcopenia ❖ Não é incomum que pacientes em classe funcional II (NYHA) se encontrem autolimitados, ou seja, tenham tal classe funcional subestimada, por não se submeterem a esforços no dia a dia ❖ A avaliação do desempenho físico, por meio do Teste da Caminhada de 6 Minutos ou do teste cardiopulmonar, estabelece de forma mais objetiva a real situação funcional nestes cenários ❖ Também visando minimizar a subjetividade da avaliação prognóstica do paciente com IC, inúmeros escores de risco foram desenvolvidos ❖ O Heart Failure Survival Score (HFSS) e o Seattle Heart Failure Model (SHFM) são os mais aplicados na prática clínica, mas parecem subestimar o risco do paciente, especialmente naqueles hospitalizados por IC descompensada 15 EXAMES COMPLEMENTARES AVALIAÇÃO LABORATORIAL ❖ Anemia, hiponatremia e azotemia são importantes preditores prognósticos na ICC ❖ A anemia, em particular, pode ser causa, agravante ou consequência da ICC! - Estudos recentes a têm apontado modificador da sobrevida nesses pacientes; ❖ Alterações da função renal costumam ser multifatoriais: etiologias em comum (diabetes, HAS etc.), débito cardíaco reduzido pela cardiopatia e/ou paraefeito dos diuréticos MÉTODOS DE IMAGEM NÃO INVASIVOS ECG EM REPOUSO ❖ A realização de ECG de 12 derivações é recomendada na avaliação inicial de todos os pacientes com IC - Para avaliar sinais de cardiopatia estrutural como hipertrofia ventricular esquerda, isquemia miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução atrioventricular, bradicardia ou taquiarritmias, que podem demandar cuidados e tratamentos específicos ❖ A detecção de bloqueio de ramo esquerdo (BRE), com alargamento pronunciado da duração do complexo QRS, auxilia na indicação da terapia de ressincronização cardíaca (TRC) RADIOGRAFIA DE TÓRAX ❖ A radiografia simples do tórax, por sua simplicidade, rapidez de obtenção e ampla disponibilidade, é recomendada na avaliação inicial dos pacientes com sinais e sintomas de IC, - Para avaliação de cardiomegalia e congestão pulmonar ❖ Porém, vale ressaltar que a sensibilidade do método é bastante limitada e, ainda, que a disfunção sistólica cardíaca significativa pode ocorrer sem cardiomegalia na radiografia de tórax ❖ O método tem maior valor no contexto da IC aguda, em que as alterações de congestão pulmonar são mais intensas ❖ A radiografia de tórax também é útil por sua capacidade de identificar causas pulmonares de dispneia, como doença pulmonar intersticial, DPOC, neoplasia pulmonar e pneumonia. ECOCARDIOGRAMA TRANSESOFÁGICO ❖ Não é recomendado para avaliação rotineira dos pacientes com IC ❖ Este método pode ser aplicado em contextos específicos, como nas doenças valvares que demandem melhor detalhamento anatômico ou funcional, suspeita de dissecção aórtica, investigação adicional em pacientes com endocardite infecciosa, cardiopatias congênitas complexas e investigação de trombo auricular em pacientes com fibrilação atrial (FA) candidatos à cardioversão elétrica. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA CARDÍACA (RMC) ❖ Considerada atualmente o método padrão-ouro para medidas dos volumes, da massa miocárdica e da FE de ambas as cavidades ventriculares ❖ A RMC pode ser empregada como método alternativo para as avaliações estrutural e funcional, naqueles pacientes em que o ecocardiograma convencional se mostre inadequado pela pobre janela acústica ❖ Pode ser empregada para a caracterização anatômica diagnóstica em pacientes com IC e cardiopatia congênita complexa ❖ Adicionalmente, as imagens de realce tardio de contraste paramagnético na RMC podem fornecer informações sobre perfusão miocárdica, presença e extensão de fibrose miocárdica, e, portanto, extensão de viabilidade miocárdica, que podem contribuir para o diagnóstico da etiologia isquêmica da IC em pacientes com fenótipo de miocardiopatia dilatada - Além disso, com elas, é possível avaliar o prognóstico e guiar os procedimentos de revascularização em pacientes com anatomia coronária adequada. ❖ A RMC apresenta limitações que precisam ser consideradas no momento de sua indicação, como: - Claustrofobia - Presença de próteses - Implantes metálicos ferrimagnéticos - Disfunção renal com clearance de creatinina < 30 mL/min/1,73 m2 , uma vez que existe risco nessa população de desencadeamento de fibrose sistêmica nefrogênica Azotemia (do grego azoto, "nitrogênio" + hemia, "sangue") é uma alteração bioquímica que se refere a uma elevação plasmática/sanguínea dos níveis de compostos de nitrogênio (como ureia, ácido úrico, creatinina, proteínas). Esta deve-se amplamente a uma taxa de filtração glomerular insuficiente. A azotemia surge no contexto de uma grande diversidade de patologia renal, mas também pré-renal (IC) e pós-renal 16 ❖ O custo e o número de aparelhos disponíveis para a população continuam sendo limitantes ao uso mais amplo da técnica SPECT DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA ❖ A cintilografia miocárdica de perfusão, pela técnica tomográfica (tomografia computadorizada por emissão de fóton único − SPECT), deve ser considerada para a avaliação funcional não invasiva da perfusão miocárdica naqueles pacientes já sabidamente portadores de doença arterial coronária (DAC) sem angina ou naqueles suspeitos de DAC - Avaliar a presença de isquemia e viabilidade miocárdicas ❖ Esta investigação deve ser realizada em pacientes em que as informações de isquemia e/ou viabilidade venham produzir impacto na conduta terapêutica PET ❖ As imagens miocárdicas de tomografia por emissão de pósitrons com 18F-FDG (FDG-PET) podem ser empregadas para a avaliação do metabolismo energético miocárdico e indicar a presença de viabilidade miocárdica ❖ As maiores limitações deste método nuclear são a reduzida disponibilidade, o alto custo e o uso de radiação ionizante ANGIOTOMOGRAFIA CORONÁRIA ❖ A angiotomografia pode ser considerada método de imagem para a avaliação não invasiva da presença de DAC nos pacientes com IC que tenham probabilidade baixa a intermediária da presença de DAC, - Ou que apresentem resultados inconclusivos em outros testes de imagem para avaliação de isquemia ❖ Este método deve ser indicado após se considerar seu risco para pacientes específicos, principalmente relacionados à função renal e ao risco de toxicidade, devido ao contraste radiológico - Além da necessidade de bradicardia nesses pacientes para a obtenção de imagens diagnósticas de boa qualidade AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE MIOCÁRDICA ❖ É fator importante para indicar-se a revascularização miocárdica em pacientes com disfunção ventricular e coronariopatia obstrutiva grave, desde que exibam anatomia coronária passível de revascularização ❖ Deve-se investigar a presença de viabilidade miocárdica com métodos de imagem não invasivos em pacientes com IC e DAC conhecidas, elegíveis para revascularização miocárdicaTESTE DE ESFORÇO CARDIOPULMONAR ❖ O teste de esforço cardiopulmonar, ou ergoespirometria, permite a avaliação objetiva e quantitativa da capacidade funcional ❖ Faz a medida do consumo de volume de oxigênio no pico do esforço (VO2 pico) ❖ Além de avaliar outras variáveis prognósticas, como a: - Relação entre ventilação e produção do volume de dióxido de carbono (VE/VCO2 ) e ventilação oscilatória durante o esforço ❖ Esse método de avaliação funcional é recomendado nos pacientes com IC avançada, como critério de avaliação prognóstica na triagem de pacientes candidatos à transplante cardíaco - Adicionalmente, este teste deve ser considerado em pacientes com IC, estáveis, em que a avaliação mais acurada da capacidade funcional é necessária para definição de estratégia terapêutica, ou naqueles em que a dispneia ou a intolerância aos esforços necessita de melhor investigação (relacionados a fatores pulmonares ou da musculatura esquelética) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL QUADRO CRÔNICO (COMPENSADO) ❖ DPOC ❖ IRC ❖ Síndrome nefrótica ❖ Cirrose ❖ Doença pericárdica QUADRO AGUDO (DESCOMPENSADO) ❖ DPOC descompensado ❖ Insuf. Renal Aguda ❖ EAP não-cardiogênico ❖ Tromboembolismo pulmonar ❖ Pneumonia COMPLICAÇÕES FENÔMENOS TROMBOEMBÓLICOS TROMBOEMBOLISMO PULMONAR (TEP) ❖ Devido à formação de trombo nas veias ileofemorais e pélvicas, facilitada pela estase venosa, ou então no átrio e ventrículo direitos 17 TROMBOEMBOLISMO SISTÊMICO ❖ Devido à formação de trombos murais, isto é, no interior dos átrios ou ventrículos esquerdos, aderidos ou não às suas paredes, facilitada pela estase sanguínea, lesão endocárdica e arritmias ❖ Os principais fatores de risco são: - FE < 30% - Fibrilação atrial -Acinesia apical ❖ Um êmbolo pode se soltar indo parar no cérebro, membros, intestino etc., causando eventos isquêmicos agudos e graves (ex.: AVE) ❖ A anticoagulação na insuficiência cardíaca crônica está indicada sempre nos casos de fibrilação atrial, trombo mural e acinesia apical - Nos pacientes com ritmo sinusal e disfunção grave de VE (FE < 30%), o uso de anticoagulante também é preconizado por alguns autores ARRITMIAS CARDÍACA ❖ Taquiarritmias e bradiarritmias podem ocorre ❖ Além das extrassístoles ventriculares destacam-se o flutter e fibrilação atriais, a taquicardia ventricular (não sustentada ou sustentada) e o bloqueio AV - A fibrilação atrial crônica ou intermitente aumenta a chance de fenômenos tromboembólicos - Uma TV sustentada pode se degenerar em fibrilação ventricular, causando MORTE SÚBITA - O bloqueio AV total também pode levar à MORTE SÚBITA ❖ Lembre-se que a intoxicação digitálica pode causar arritmias e, portanto, deve sempre ser lembrada em casos de descompensação da IC por arritmias OUTRAS ❖ Edema Agudo de Pulmão ❖ Choque cardiogênico ❖ Síndrome cardiorrenal - A deteriorização da função cardíaca leva ao comprometimento da função renal e vice-versa TRATAMENTO TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA PROGRAMAS MULTIDISCIPLINARES DE CUIDADOS ❖ Uma equipe multidisciplinar é o padrão-ouro para acompanhamento de pacientes com IC e suas multiplas comorbidades ❖ Os profissionais considerados fundamentais na equipe multidisciplinar são: - Médicos e enfermeiros especialistas em IC - Médico comunitário de Atenção Primária ❖ Outros profissionais, como nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico, educador físico, psicólogo e assistente social, são fortemente recomendados, para serem agregados à equipe multidisciplinar ❖ Em pacientes internados, o planejamento de alta deve começar tão logo o paciente esteja com a volemia estável - Durante a internação, paciente e familiares/ cuidadores devem receber orientações sobre a síndrome e o autocuidado ❖ Recomenda-se que pacientes que tiveram internação por IC descompensada sejam seguidos − especialmente aqueles com alto risco de readmissão - Recomendações de qualidade assistencial sugerem visita clínica precoce após hospitalização, com avaliação médica/multidisciplinar em 7 a 14 dias após alta hospitalar RESTRIÇÃO DE SÓDIO E RESTRIÇÃO HÍDRICA ❖ Há evidências de que o consumo excessivo de sódio e o de fluidos associa-se ao agravamento da hipervolemia, constituindo fator de descompensação e risco de hospitalização em pacientes com IC crônica sintomática ❖ A restrição excessiva de sódio (< 5 g de sal por dia) também não é boa ❖ Recomenda-se dieta com teor normal de sódio (~ 7 g de sal por dia) ❖ A ingestão hídrica, na maioria dos casos, pode ser liberada de acordo com a vontade do paciente ❖ Em sintomáticos com risco de hipervolemia, recomenda-se a restrição hídrica de 1.000 a 1.500 ml/d DIETA E PERDA DE PESO ❖ O aumento do índice de massa corporal (IMC) acima de 25 kg/m2 é acompanhado do aumento do risco de complicações médicas ❖ A obesidade e a sua duração têm correlação com desenvolvimento de remodelamento e queda da função sistólica ventricular esquerda, potencialmente reversíveis com a perda de peso ❖ Na coexistência de IC e obesidade mórbida (IMC > 40 kg/m2 ) é preciso almejar redução de peso 18 ❖ Estudos observacionais sugerem a existência de um fenômeno caracterizado como “paradoxo da obesidade” nos pacientes com IC - IMC entre 30 e 35 kg/m2 associa-se paradoxalmente com menor mortalidade e taxas de hospitalização quando comparado a IMC considerados normais (entre 20 e 25 kg/m2 ) ❖ Os integrantes da diretriz optaram por não recomendar orientações formais de dieta para pacientes com sobrepeso e obesidade leve ÁCIDOS GRAXOS POLI-INSATURADOS N-3 ❖ Um estudo mostrou pequeno benefício do emprego de ácidos graxos poli-insaturados n-3 (1 g ao dia) em pacientes com ICFEr ou ECFEp ❖ Os resultados mostraram discreta, porém significante, redução na mortalidade por qualquer causa e no desfecho combinado de morte ou hospitalização por causa cardiovascular CONTROLE DOS FATORES DESCOMPENSANTES TABAGISMO E ETILISMO ❖ Todos os pacientes com IC devem ser encorajados a parar de fumar, preferencialmente com o auxílio de serviços especializados - Cessação do tabagismo, podendo utilizar terapias de reposição de nicotina e/ou fármacos moduladores ❖ Pacientes com miocardiopatia dilatada de origem alcoólica devem ser aconselhados a se absterem completamentedo uso de bebidas alcoólicas, o que pode se traduzir em melhora substancial da função ventricular ❖ O uso permissivo de bebidas alcoólicas em pequena quantidade (≤ 10 mL de alcool para mulheres e ≤ 20 mL de alcool para homens) em pacientes com IC crônica estável de outras etiologias é controvertido ❖ Os potenciais riscos devem ser explicados ao paciente, e a decisão de uso pode ser compartilhada VACINAÇÃO ❖ Infecções nas vias aéreas são importantes fatores de descompensação no portador de IC ❖ Por este motivo, tais indivíduos devem receber, rotineiramente, vacinação anti- influenza e anti- pneumocócica AINES ❖ Tanto os AINEs clássicos como os inibidores seletivos da COX-2 promovem retenção hidrossalina e elevação da pressão arterial ❖ Os inibidores da COX-2 também possuem efeito pró-trombótico - Tais medicamentos, portanto, devem ser evitados nos pacientes com IC. ❖ Outras drogas potencialmente associadas à descompensação da IC são os hipoglicemiantes orais tiazolidinedionas, que promovem retenção renal de sal e água, podendo causar congestão ORIENTAÇÕES PARA VIAGEM ❖ Recomenda-se profilaxia para TVP em pacientes com IC independentemente da classe funcional ❖ Está indicado o uso de meia elástica de média compressão para viagens prolongadas, devendo- se avaliar o uso de heparina profilática subcutânea quando a viagem durar > 4 h ATIVIDADE SEXUAL E PLANEJAMENTO FAMILIAR ❖ Pacientes com ICfrequentemente relatam problemas sexuais, e aproximadamente 25% referem completa suspensão da vida sexual ❖ Diversos fármacos comumente administrados na IC podem, de fato, estar associados com alterações de função sexual, como os: - Diuréticos tiazídicos, alguns betabloqueadores (BB), a digoxina e os antagonistas dos receptores mineralocorticoides ❖ O nebivolol, BB de terceira geração, parece ter perfil de ação e farmacodinâmica que reduzem substancialmente o risco de disfunção erétil ❖ A AHA publicou posicionamento científico sobre atividade sexual e doença cardiovascular, atestando segurança para pacientes com IC em classes funcionais I a II da NYHA ❖ - Mas sugere que pacientes com IC descompensada ou avançada não devem ter atividade sexual até que sua condição esteja estabilizada ❖ Os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (iF-5) são geralmente seguros e eficazes para o tratamento da disfunção erétil em pacientes com IC compensada ❖ As recomendações de contracepção na IC devem considerar os riscos de gravidez ❖ - Pacientes com fração de ejeção gravemente reduzida e em classes funcionais III e IV devem ser desencorajadas a engravidar O fator descompensador mais comum é a má adesão terapêutica! 19 ATIVIDADE LABORATIVA ❖ O retorno ao trabalho é importante, tanto financeiramente, quanto para o estado emocional e a autoestima, em pacientes com doenças crônicas ❖ Dúvidas quanto às condições de permanecerem trabalhando, ou o retorno ao trabalho devido aos sintomas, aumentam o risco de depressão ❖ O aumento da capacidade funcional após o diagnóstico e a implementação de intervencões terapêuticas têm contribuindo para manter a capacidade de trabalho ❖ Nos trabalhadores com tarefas laborativas de força, a troca de função deve ser avaliada de modo individual somente após otimização do tratamento farmacológico e não farmacológico ❖ Situações específicas (profissões consideradas de alto risco e/ou pacientes com implantes de Cardiodesfibrilador Implantável − CDIs) devem ser avaliadas individualmente REPOUSO ❖ O paciente muito sintomático (classe funcional III ou IV) ou descompensado da IC deve ficar de repouso o máximo possível ❖ O repouso muscular reduz a demanda metabólica, facilitando o trabalho cardíaco, que é manter um débito adequado para todos os tecidos, sem elevar muito as suas pressões de enchimento ❖ Assim, melhora o débito para o cérebro, para o miocárdio, para as vísceras e, principalmente, para os rins - O aumento do fluxo renal aumenta a diurese e reduz a liberação de renina e, consequentemente, angiotensina II e aldosterona, diminuindo a retenção de líquido e a congestão ❖ Por outro lado, pacientes com IC compensada devem procurar realizar atividades normais do dia a dia, de acordo com seu limite individual ❖ Estudos avaliando treinamento físico monitorizado mostraram redução dos sintomas, aumento da capacidade de exercício e melhora na qualidade REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR ❖ Programas de exercício na IC estão protocolados há mais de duas décadas e promovem progressivo aumento da capacidade funcional - Requerendo aumento gradual da carga de trabalho de 40 a 70% do esforço máximo, por 20 a 45 minutos, três a cinco vezes por semana, por 8 a 12 semanas. ❖ Quando se dispõe do teste cardiopulmonar, o limiar anaeróbico é o ponto ideal para o treinamento aeróbico, que deve ser associado a exercícios de resistência por grupos musculares, com benefícios funcionais, na qualidade de vida, no balanço autonômico e no perfil neuro-humoral ❖ No entanto, os efeitos em longo prazo ainda não estão completamente estabelecidos, mas há indícios de ação favorável no remodelamento ventricular esquerdo Estes fatores descompensam o paciente pelos seguintes mecanismos: (1) por aumentar a demanda metabólica (infecções, anemia, estresse, gestação, etc.) exigindo assim maior trabalho cardíaco; (2) por reduzir ainda mais a capacidade contrátil (infarto agudo, isquemia, drogas); (3) por aumentar a pós-carga (hipertensão arterial); (4) por aumentar excessivamente a pré-carga (abuso de sal, drogas retentoras de líquido); (5) por reduzir o tempo diastólico para o enchimento ventricular e levar à perda da sincronia AV (taquiarritmias), ou por reduzir diretamente o débito cardíaco (bradiarritmias) 20 ❖ Para pacientes com sintomas avançados (classe IV da NYHA), ainda não há indicação de programas de exercício ❖ Independente da FEVE, preservada ou reduzida, a reabilitação cardiovascular com exercícios físicos personalizados é recomendada ❖ Também os exercícios respiratórios têm sido encorajados para serem incorporados aos programas com treinamento aeróbico.186 Entretanto, exercícios extenuantes ou puramente isométricos devem ser desencorajados TRATAMENTO FARMACOLÓGICO INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA Inibidores da enzima conversora da angiotensina e bloqueadores dos receptores da angiotensina II ❖ Os IECA constituem um grupo de fármacos com comprovados benefícios na evolução de pacientes com ICFEr, tanto em relação à morbidade, como à mortalidade, além de conferirem melhora na qualidade de vida ❖ Existe benefício no uso desses fármacos nos diferentes estágios evolutivos da IC e de disfunção ventricular sistólica ❖ O uso de IECA está fundamentado para diferentes etiologias de IC, bem como em pacientes com disfunc ̧ão ventricular esquerda pós-infarto do miocárdio ❖ O uso de IECA em pacientes com disfunção de VE assintomática (estágio B) também está bem documentado ❖ Os bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRAs) são alternativa com eficácia comparável aos IECA, e estão indicados em pacientes intolerantes ou com alergia documentada a esta classe de fármacos ❖ O uso concomitante de IECA implica aumento discreto, mas significativo de efeitos adversos - Associou-se à redução adicional de mortalidade cardiovascular e hospitalização por IC - No entanto, a associação do IECA ao BRA deve ser evitada nos pacientes já em uso de antagonista mineralocorticoide pelo risco aumentado de hiperpotassemia e eventos adversos - Não se deve administrar a combinação em pacientes em uso de antagonistas de aldosterona, pelo risco de efeitos colaterais, em especial de hipercalemia ❖ Captopril - Dose inicial: 6,25 mg, 3x/dia - Dose alvo: 50 mg 3x/dia ❖ Enalapril - Dose inicial: 2,5 mg, 2x/dia - Dose alvo: 10-20 mg, 2x/dia ❖ Losartana: - Dose inicial: 25-50 mg, 1x/dia - Dose alvo: 100-150 mg, 1x/dia ❖ Valsartana: - Dose inicial: 40-80 mg, 1x/dia - Dose alvo: 320 mg, 1x/dia Betabloqueadores ❖ Os BB também são considerados fármacos de primeira linha no tratamento da ICFEr ❖ O remodelamento reverso e aumento da FEVE, e a consequente melhora dos sintomas de IC ocorrem apenas algumas semanas ou meses após a introdução do BB ❖ Desta forma, deve-se iniciar o tratamento com doses baixas, com aumento progressivo a cada 2 semanas, mediante monitoração de bradicardia ou piora dos sintomas de IC ❖ Caso haja acentuação dos sintomas, ajuste de diuréticos e vasodilatadores deve ser tentada antes de se considerar a redução da dose ou suspensão do BB (Tabela 7.1) ❖ BB são indicados também em pacientes com disfunção de VE assintomática, além de serem considerados fármacos de escolha para o controle de frequência ventricular em pacientes com ICFEr e FA crônica ❖ No início do tratamento com BB, alguns pacientes podem referir piora funcional discreta, mas devem ser encorajados a manter o uso da medicação ❖ Pacientes com pneumopatia − e mesmo os asmáticos − podem ser tratados com BB, dando-se preferência para aqueles com maior seletividade β1 (como bisoprolol e nebivolol) ❖ Bisoprolol: - Dose inicial: 1,25 mg, 1x/dia - Dose alvo:10mg, 1 vez/dia ❖ Carvedilol: - Dose inicial: 3,125 mg, 2x/dia - Dose alvo: 50 mg, 2x/dia Antagonistas dos receptores mineralocorticoides ❖ Estão indicados em pacientes sintomáticos com disfunção sistólica do VE, em classes funcionais II a IV da NYHA, associados ao tratamento padrão ❖ Não se deve administrar a combinação de antagonista da aldosterona, IECA e BRA, pelo risco de efeitos colaterais, em especial de hipercalemia ❖ O uso de espironolactona em pacientes com insuficiência renal e níveis séricos limítrofes de potássio deve ser feito com cautela, necessitando- se de monitorização frequente e periódica da função renal e de eletrólitos ❖ Deve-se evitar o uso de espironolactona em pacientes com insuficiência renal avançada 21 (creatinina > 2,5 mg/dL) e em pacientes com hipercalemia persistente (em geral potássio > 5,9 mmol/L) ❖ Espironolactona: - Dose inicial: 25 mg, 1x/dia - Dose-alvo: 25-50 mg, 1x/dia Inibidores da neprilisina e dos receptores da angiotensina (sacubitril/valsartana) ❖ O sacubitril/valsartana representa uma nova classe terapêutica, que atua simultaneamente no SRAA e na endopeptidase neutra (inibidor da neprilisina e do receptor da angiotensina − INRA) ❖ O primeiro fármaco da classe é o LCZ696, que é uma molécula que combina a valsartana e o sacubitril (inibidor da neprilisina) em uma única substância - Ao inibir a neprilisina, a degradação de peptídeos natriuréticos, da bradicinina e de outros peptídeos é diminuída Ivabradina ❖ A frequência cardíaca (FC) elevada é um marcador de eventos em IC, podendo ser considerada um alvo terapêutico - A ivabradina inibe seletivamente a corrente If no tecido do nó sinoatrial, reduzindo a FC ❖ A ivabradina não deve ser usada durante gravidez ❖ Ivabradina: - Dose inicial: 5 mg, 2x/dia - Dose-alvo: 7,5 mg, 2x/dia Digitálicos ❖ O efeito de digoxina diante do tratamento contemporâneo da IC, é virtualmente desconhecido ❖ Existe controvérsia considerável sobre a segurança do uso da digoxina em pacientes com FA, embora este fármaco seja eficaz para redução de frequência ventricular Diuréticos de alça e tiazídicos ❖ Os diuréticos são a classe terapêutica mais largamente utilizada em pacientes com IC para alívio de congestão - Isto se justifica pelo óbvio efeito terapêutico ao provocar diurese e alívio da sobrecarga volêmica ❖ Estudos observacionais têm demonstrado potenciais efeitos deletérios do uso crônico e continuado de diuréticos sobre o SRAA - Recomenda-se sempre o uso da menor dose terapêutica necessária com o uso continuado de diuréticos - Atenção constante deve ser dada à possibilidade de azotemia pré-renal e consequente progressão de síndrome cardiorrenal ❖ O uso de tiazídicos em pacientes com pouca resposta a doses crescentes de diurético de alça tem sido recomendado em estudos observacionais ou ensaios de pequeno porte Nitrato e Hidralazina ❖ A associação nitrato-hidralazina melhorou a qualidade de vida e reduziu em 33% a taxa de hospitalizações por IC e em 43% a mortalidade total em pacientes autodeclarados negros em classe funcional III-IV da NYHA ❖ A associação pode ainda ser indicada para pacientes que apresentam piora da função renal e/ou hipercalemia com uso de IECA/BRAs - Para aqueles que não evoluem bem na vigência do tratamento medicamentoso otimizado ou que, em avaliação, documente-se que persistem com sinais de resistência periférica elevada Anticoagulação e antiplaquetários ❖ Pacientes com IC têm um risco aumentado de eventos tromboembólicos devido à estase sanguínea nas câmaras cardíacas dilatadas e em vasos periféricos 22 - Recentemente evidências apontam, também, para um aumento da atividade de fatores procoagulantes ❖ A droga tradicionalmente utilizada é o warfarin (antagonista de vit. K), contudo, os novos anticoagulantes orais (inibidores diretos da trombina ou do fator Xa) também já estão sendo aceitos como alternativa pelas novas diretrizes ❖ O uso rotineiro de antiplaquetários não está indicado na IC ❖ - A aspirina, todavia, é largamente empregada nos casos de doença coronária concomitante. Nestes pacientes, é recomendável utilizar as menores doses possíveis de aspirina (75-100 mg). ❖ O tratamento atual da IC, realça a importância da terapia tripla com IECA/BRA, BB e antagonista mineralocorticoide na abordagem inicial INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO PRESERVADA ❖ A síndrome de ICFEp apresenta dois paradigmas fisiopatológicos, os quais devem ser compreendidos: - A elevada pressão de enchimento do VE, associada ou não ao débito cardíaco deprimido em repouso, ou aos exercícios somados a um contexto de FEVE assumida como preservada (≥ 50% para a maioria dos autores) ❖ Entretanto, a etiologia e a fisiopatologia subjacentes à síndrome, determinam um espectro fenotípico bastante variado, fato que também dificulta uma uniformização dos critérios diagnósticos para a ICFEp ❖ Adicionalmente, temos que assumir também que as comorbidades são altamente prevalentes nesses pacientes e estão relacionadas à disfunção ventricular e vascular, bem como a prognóstico clínico,necessitando, muitas vezes, de tratamento específico ❖ Tais considerações ajudam a explicar porque os ensaios clínicos desenhados para o tratamento da ICFEp falharam em demonstrar os mesmos benefícios em desfechos clínicos alcançados pelos estudos que alocaram a população com FEVE reduzida. ❖ A proposição de fenótipos por apresentação clínica considera as seguintes variações: • Fenótipo I: paciente com elevação da pressão de enchimento do VE induzido prioritariamente ao exercício, remodelamento atrioventricular, dispneia ao exercício e níveis séricos de peptídeo natriurético normal ou levemente elevado • Fenótipo II: paciente que se apresenta congesto, com alterações diastólicas e remodelamento cardíaco marcado e com peptídeo natriurético elevado. Este é o fenótipo mais comuns nos ensaios clínicos • Fenótipo III: paciente com hipertensão pulmonar e possível remodelamento do coração direito e, eventualmente, sintomas de congestão venosa sistêmica 23 ❖ O diagnóstico de Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada (ICFEP) requer a presença simultânea de três condições: (1) sinais ou sintomas de IC congestiva; (2) FE normal ou discretamente reduzida; e (3) evidências objetivas de disfunção diastólica do VE: relaxamento e enchimento anormais, distensibilidade diastólica reduzida ou “rigidez” diastólica ❖ Tais evidências de disfunção diastólica podem ser obtidas a partir de dados hemodinâmicos, níveis de peptídeos natriuréticos, dados ecocardiográficos e, principalmente, pelo Doppler tecidual O que fazer com estes pacientes? ❖ Ainda não dispomos de dados convincentes na literatura que favoreçam o uso de alguma droga em particular ❖ Os sintomas congestivos devem ser controlados com diuréticos - Lembrar! devem ser usados em baixas doses, para prevenir o baixo débito (estes pacientes não retêm tanto líquido quanto aqueles com IC sistólica, e uma pequena redução volêmica causa uma grande queda nas pressões de enchimento ventricular) ❖ Uma medida fundamenta é controlar agressivamente a hipertensão arterial, com drogas que reduzem comprovadamente a hipertrofia ventricular - Inibidores da ECA (principal) - Antagonistas AT1 - Diuréticos - Betabloqueadores - Verapamil, diltiazem ou amlodipina ❖ Outros fatores devem ser corrigidos, se possível, como a isquemia miocárdica e especialmente a fibrilação atrial (a taquicardia e a perda da contração atrial agravam demasiadamente a disfunção diastólica, mais do que a sistólica!) TRATAMENTO CIRÚRGICO ❖ A cirurgia de troca valvar mitral pode ser considerada aos pacientescom: - Insuficiência mitral grave secundária e refratária ao tratamento clínico otimizado ❖ Outro procedimento a se considerar é a reconstrução do ventrículo esquerdo na presença de grande área fibrótica durante cirurgia de revascularização miocárdica ❖ A aneurismectomia do ventrículo esquerdo também está indicada aos sintomáticos com: - Terapia otimizada - Arritmia ventricular refratária - Tromboembolismo ❖ Outra modalidade terapêutica para IC é a implantação de marca-passo com desfibrilador (CDI) e/ou Terapia de Ressincronização Cardíaca (TRC) - Ambas as tecnologias podem ser utilizadas no mesmo paciente, desde que corretamente indicadas. - O risco de morte súbita por arritmia cardíaca é grande na população de IC - O CDI reverte com desfibrilação arritmias malignas e está indicado a todos os pacientes com expectativa de vida acima de 1 ano que sobreviveram a um evento de morte súbita... - ...assim como para prevenção primária nos pacientes com classe funcional II a III e FEVE ≤ 35%, após 3 meses de terapia otimizada e com expectativa de vida acima de 1 ano - Com a progressão da dilatação ventricular e da IC, ocorre contração assíncrona das paredes miocárdicas, piorando o desempenho da bomba Na prática, o diagnóstico da IC diastólica é obtido quando o paciente apresenta sintomas e sinais típicos de IC e fração de ejeção normal. O padrão-ouro para o diagnóstico seria o estudo hemodinâmico, o qual não é possível rotineiramente. O ecocardiograma com Doppler é o método mais utilizado na avaliação do relaxamento ventricular. Resumindo... 1. Betabloqueador: diminui a frequência cardíaca e aumenta o tempo de diástole; 2. IECA: melhora o relaxamento e diminui hipertensão e hipertrofia ventricular; 3. Verapamil: mesma ação do betabloqueador; há possível melhora funcional em pacientes com hipertrofia miocárdica; 4. Diuréticos: podem ser necessários em caso de retenção de fluidos, mas devem ser utilizados com cuidado. É importante ressaltar que o tratamento atual da IC com as drogas antagonistas neuro- hormonais (BB, antagonistas da aldosterona e inibidor da neprilisina) exercem efeitos significativos na redução de morte por progressão da IC e também de morte súbita por arritmia ventricular Os maiores preditores de risco para morte súbita são a morte súbita recuperada, a documentação de um episódio de taquicardia ventricular sustentada (TVS) e a presença de disfunção ventricular com fração de ejeção ≤ 35% 24 - A TRC é recomendada para reduzir morte ou hospitalização nos pacientes sintomáticos com FE ≤ 35%, desde que estejam em ritmo sinusal com BRE e QRS ≥ 150 ms ou QRS entre 130 e 149 ms - Também pode ser considerada nos pacientes sintomáticos com FE ≤ 35% em ritmo sinusal sem BRE, desde que o QRS seja ≥ 150 ms ou pelo menos entre 130 e 149 ms - Se o paciente com FE ≤ 35% em ritmo sinusal tem indicação de receber um CDI, a TRC-D (TRC + CDI) pode ser indicada se o QRS for ≥ 130 ms INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA Avaliação do paciente que chega à Emergência com dispneia e suspeita de IC ❖ A história clínica deve incluir: - Duração dos sintomas - Tipo de dispneia - Grau de limitação funcional - Presença de ortopneia - Dispneia paroxística noturna - Sintomas associados (febre, tosse, expectoração, dor torácica pleurítica ou precordial, hemoptise, dor abdomi-nal, sintomas urinários etc.) - Número de internações prévias - Tempo de duração da doença se já existir diagnóstico prévio de IC - Comorbidades (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC –, asma, HAS, câncer, doença cerebrovascular, insuficiência renal, cirrose, insuficiência coronariana, outras doenças cardíacas etc.) - Medicações em uso - Medidas não farmacológicas - Grau de adesão ao tratamento - Tabagismo - Etilismo - Uso de drogas - Fatores de risco para tromboembolismo pulmonar ❖ O exame físico deve avaliar: - Grau de dispneia - Cianose - Palidez - Perfusão periférica - Pressão arterial e frequência cardíaca - Presença de estase jugular - Avaliação de estridor laríngeo - Ausculta pulmonar cuidadosa (crepitações difusas ou localizadas, sibilos, roncos, derrame pleural, pneumotórax etc.), - Ictus e frêmitos - Ausculta cardíaca (sopros, atritos, abafamento de bulhas, surgimento B3 e B4 etc.) - Avaliação de congestão hepática, edema de membros inferiores ou sacral (no caso de pacientes acamados) - Sinais de trombose venosa profunda ❖ A radiografia de tórax pode mostrar: - Área cardíaca aumentada - Sinais de congestão pulmonar - Derrame pleural - Pneumotórax - Condensações pulmonares localizadas - Hiperinsuflação pulmonar ❖ O eletrocardiograma, por sua vez, pode mostrar: - Sinais de isquemia miocárdica - Sobrecargas ventriculares - Arritmias - Sinais de pericardite ❖ A oximetria de pulso e a gasometria arterial também são úteis. ❖ A avaliação da função renal, de eletrólitos e do hemograma pode identificar fontes de descompensação, como: - Insuficiência renal - Distúrbios hidroeletrolíticos - Anemia e infecção. ❖ Marcadores de lesão miocárdica podem ser úteis se utilizados de acordo com a clínica ❖ O D-dímero também pode ser utilizado para descartar tromboembolismo pulmonar como causa de descompensação - Apesar de poder apresentar resultado falso positivo nas classes avançadas de IC Estase jugular e B3, embora tenham alta especificidade para identificar altas pressões de enchimento ventricular, apresentam sensibilidade baixa para o diagnóstico de IC no serviço de emergência ❖ A adição de um BNP positivo (maior que 100 pg/mL) aumenta a acurácia diagnóstica no pronto-socorro pelo julgamento clínico de 74 para 81,5%. ❖ O BNP aumenta tanto na IC por disfunção sistólica quanto na IC por disfunção diastólica, todavia não há como diferenciar esses 2 tipos com base no valor do BNP ❖ A hospitalização deve ser considerada quando há queda rápida no sódio sérico para < 130 mEq/L, aumento de creatinina, pelo menos 2 vezes o basal, ou > 2,5 mg/dL e sintomas persistentes de congestão em repouso, a despeito de repetidas visitas ambulatoriais ❖ O primeiro passo no manejo é determinar o motivo da descompensação (tabela lá em cima) MANEJO ❖ A abordagem inicial depende do grau e do tipo de descompensação da IC 25 ❖ De forma geral, podem-se classificar os pacientes que chegam ao pronto-socorro em 4 subgrupos distintos, de acordo com o grau de congestão e o de perfusão tecidual: 1. Sem congestão e boa perfusão periférica – “seco e quente”: há o ajuste de medicações pela via oral para objetivos de redução de mortalidade e manutenção de estado volêmico estável; 2. Congestão, mas boa perfusão periférica – “úmido e quente”: necessidade de introdução ou aumento das doses de diuréticos, assumindo que já estejam usando IECA. - Em casos mais complexos, associação de vasodilatadores parenterais (nitroglicerina) e/ou nesiritida - Inotrópicos não são geralmente necessários e podem ser deletérios - Observação curta no pronto-socorro ou internação em casos mais graves 3. Congestão e alteração da perfusão periférica – “úmido e frio”: geralmente, necessidade de suspensão de IECAs e betabloqueadores, particularmente entre aqueles com hipotensão sintomática - Muitas vezes, vasodilatadores parenterais suficientes devido à elevada resistência vascular periférica presente em tais pacientes - Inotrópicos parenterais podem ser necessários por curto período para estabilização, embora se associem a taquiarritmias, hipotensão, isquemia, até aumento da mortalidade em longo prazo 4. Alteração da perfusão periférica, sem congestão – “seco e frio”: este pequeno subgrupo pode apresentar-se com poucos sintomas, e é possível o uso isolado de vasodilatadores ou a associação
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