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AT1 - Análise do poema Se me quiseres conhecer, de Noémia de Sousa

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-BRASILEIRA
IEAD – Instituto de Educação a Distância
CURSO: ESPECIALIZAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
DISCIPLINA: LITERATURA E GÊNERO NOS PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
ALUNO: GILBERTO MACIEL PAIVA JÚNIOR
SE ME QUISERES CONHECER
Para principiar a análise do poema “Se me quiseres conhecer”, de Noémia de Sousa, devemos nos voltar para a partícula condicional “Se” que é usada para iniciar o poema, bem como em outras partes do texto poético. Sendo usada para fazer esse convite “Se me quiseres conhecer”, Noémia mostra que é condição essencial para o conhecimento abster-se de qualquer preconceito ou prejulgamento, pois quem de fato quer conhecer, deve olhar “com bons olhos”. Esse olhar podemos associar à produção dela enquanto autora mulher, muitas vezes marginalizadas no cânone de obras, onde há prevalência de autores homens. No entanto, não podemos singularizar somente a ela, mas ampliamos a intepretação no sentido de abranger todas as demais mulheres que produzem literatura na África. 
Ao metaforizar-se como “pedaço de pau preto” que foi talhado por um “irmão maconde”, Noémia faz uma clara referência aos povos macondes, que eram exímios escultores em madeira da cor preta. Nisso, Noémia mostra os talentos que habitam o continente africano. Além de referenciar um povo, também apresenta o corpo da mulher preta africana, como um corpo bonito e forte, afinal se assemelha a uma escultura de madeira. 
Na segunda estrofe, nos são apresentadas uma série de características de alguém que sofreu e ainda sofre, podendo constatar isso através dos trechos “desespero de possuir a vida”, “boca rasgada em ferida de angústia” e “corpo tatuado de feridas visíveis e invisíveis”. Esse sofrimento pode ser referido não só ao de Noémia, enquanto moçambicana, mas deve ser ampliado aos demais africanos que sofreram as agruras dos processos de colonização e escravização. Em seguida, duas sequências de adjetivos são usadas quando diz que é “Torturada e magnífica” e “Altiva e mística”. Na primeira sequência, a palavra “Torturada” aparece grafada com letra maiúscula, como uma forma de mostrar que as marcas desse processo foram profundas. No entanto, permanece “magnífica, altiva e mística”, ou seja, mesmo com tantos sofrimentos continua a resistir e mostrar a força e beleza femininas diante das adversidades, além do misticismo típicos das culturas africanas. Podemos compreender aqui que essa descrição apresentada é, na realidade, a descrição de um “corpo-África”.
Na terceira estrofe, novamente faz o convite através da condicional “Se”, que para compreendê-la, é necessário não só ver, mas debruçar-se, aprofundar-se na “alma de África”. Nesse sentido, Noémia relaciona-se diretamente ao continente africano, do qual é uma orgulhosa filha, mostrando a África como “Mátria”. Em seguida cita os gemidos dos negros que foram escravizados, os batuques dos muchopes e a rebeldia dos povos machanganas, tudo isso como forma de reafirmação do “ser africano”. 
Na última estrofe, ao escrever “E nada mais me perguntes”, Noémia reforça com certa dureza que para conhecer o continente não basta só saber, tem que conhecer. Novamente utiliza a condicional “se”, dando a entender que provavelmente não queira conhecer, tendo em vista o apagamento que a África sofreu e, por vezes, ainda sofre. Finalmente, ela se apresenta como um “búzio de carne” em que a África “congelou seu grito inchado de esperança”. Fica claro nestes versos a percepção de lugar marginal que ocupa, onde o seu grito de mulher ainda não é ouvido e, por vezes, é silenciado. Deve-se, porém, destacar que esse grito congelado é de esperança, em que no mais íntimo ainda há a crença em dias melhores. 
REFERÊNCIAS
PADILHA, LAURA C. “Bordejando a margem (escrita feminina, cânone africano e encenação de diferenças)”. Revista SCRIPTA.  v. 8, n. 15, p. 253-266, 2004. SOUSA, Noémia. “Se me quiseres conhecer”. In:______. Sangue Negro. São Paulo: Kapulana, 2016, p. 40-41.
Instituto de Educação a Distância - IEAD - UNILAB - Campus dos Palmares, Bloco II, 1º Andar, Sala 112, Rodovia CE-060, Km 51, S/n.– Acarape, Ceará CEP: 62.785-000, CNPJ: 12.397. 930/0001-00.

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