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A TEORIA DE FREUD: PRINCIPAIS CONCEITOS Sigmund Freud é considerado o fundador da Psicanálise. Nascido em 1856 em Freiberg, República Tcheca, viveu grande parte da sua vida em Viena, na Áustria. Cursou medicina e a partir daí interessou-se por estudar a mente humana, partindo da psiquiatria. Seus estudos iniciais debruçaram-se sobre a histeria, “transtorno com sintomas físicos, mas sem que se constate uma causa física” (PILETTI, 2014, p. 45). Seus estudos aprofundaram-se e abrangeram explicações mais complexas que as dadas até então, sobre o funcionamento da mente humana. Assim, a psicanálise deriva de um processo de investigação e pesquisa. Segundo Nogueira e Leal: [...] a psicanálise tornou-se, a partir do desenvolvimento da um método de investigação. A metodologia psicanalítica caracteriza-se pela investigação e interpretação do que está oculto, ou seja, daquilo que é manifesto por meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como sonhos, os delírios, as associações livres ou os atos falhos (NOGUEIRA, LEAL, práxis freudiana, 2015, p. 102). De acordo com o Dicionário de Psicanálise, este termo – psicanálise – é compreendido por Freud a partir de cinco pilares: “[...] o inconsciente, o complexo de Édipo, a resistência, o recalque e a sexualidade: Quem não os aceita não deve incluir-se entre os psicanalistas” (ROUDINESCO, 1998, p. 604). Acrescente-se a estes termos, os conceitos de pré-consciente, consciente, transferência, id, ego e superego. O conjunto destes conceitos formam a base de toda a teoria psicanalítica proposta por Freud. As análises de Freud têm como objetivo compreender o comportamento humano a partir de uma nova vertente: da compreensão do homem a partir de sua psique. Nesse sentido, Freud acreditava que todo comportamento humano é: [...] sobredeterminado, ou seja, nossos atos (mesmo os que aparecem ocorrer ao acaso) estão relacionados a uma série de causas, das quais frequente mente não temos Psicanálise e Aprendizagem consciência. Tais causas, em geral, estão relacionadas a impulsos sexuais latentes, os quais se constituem desde a primeira infância (NOGUEIRA, LEAL, 2015, p. 103) Piletti (2014) aponta para esta mesma direção ao afirmar que: Freud destacou-se em seus estudos por dedicar-se ao inconsciente, ainda novidade em pesquisas e discussões da sua época. Construiu a sua teoria da personalidade defendendo que o comportamento é motivado por processos mentais (internos) – dos quais frequentemente os indivíduos não estão conscientes – que refletem a vida atual e as suas experiências passadas, influindo nas suas condutas, portanto, na sua personalidade, numa espécie de psiquismo psíquico. Freud constata que a motivação humana tem uma base biológica, que ele definiu como pulsões inatas, pulsões sexuais. Concentra-se, pois, em processos que não podem ser diretamente observados (a dinâmica da mente), inferindo o não observável naquilo que podia ser visto (PILETTI, 2014, p. 46). O comportamento humano deriva então de processos que não são conscientes e assim Freud pode explicar a histeria e outras demais patologias do comportamento humano, por meio de sua análise. Em nosso estudo abordaremos os principais aspectos de sua teoria psicanalítica: os conceitos de pré-consciente, consciente, inconsciente, id, ego e superego, além do complexo de Édipo. PRÉ-CONSCIENTE, CONSCIENTE E INCONSCIENTE: primeira teoria do aparelho psíquico De acordo com Piletti (2014, p. 46) o pré-consciente “[...] refere-se a grande parte do conteúdo da mente que está abaixo do nível da consciência; não está na consciência naquele momento exato, mas pode ser acessado a qualquer momento, sempre que necessário”. Dessa forma, podemos compreender o pré-consciente como algo que não está imediatamente em nossa mente, no momento atual, mas que podemos acessá-lo sempre que possível. Por exemplo: boi. Ao ler esta palavra, imediatamente pensamos em um boi. Claro que este pensamento não estava em nossa mente, mas ao ter algum tipo de estímulo, resgatamos o mesmo em nossa mente. Para Piletti (2014, p. 46) o consciente refere-se às informações que obtemos e mantemos em nossa lembrança, ou seja, os sentimentos e pensamentos dos quais temos consciência, o conhecimento imediato, e que fazem parte de nosso cotidiano. Essa parte, superficial da personalidade total, é acessível apenas o “necessário” para lidar com a vida diária. Para Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 74) “o consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Na consciência destaca-se o fenômeno da percepção, principalmente a percepção do mundo exterior, a atenção, a racionalidade”. Nesse sentido, o consciente é o momento que vivemos agora, o momento pelo qual percebemos e vivenciamos todas as coisas que ocorrem atualmente. Piletti (2014, p. 46-47) afirma que o inconsciente: [...] é preenchido por ideias, sentimentos, experiências que não podem ser acessados diretamente para a consciência, pois foram bloqueados (reprimi dos), mas podem influenciar nossos comportamentos; o inconsciente não segue uma lógica linear, mas atemporal. Ainda que o conteúdo inconsciente não possa adentrar a consciência, por sua intolerância, ele poderá emergir, por exemplo, por meio dos sonhos, de uma forma menos ameaçadora, simbólica, manifestando fantasias que não seriam possíveis ou aceitáveis na vida real, evitando assim acarretar angústia ao indivíduo. Gomes, ao analisar o inconsciente, afirma: Em seu discurso, o sujeito fala daquilo de que tem consciência. Mas, ao mesmo tempo, o inconsciente também se exprime através de seu discurso, na escolha de algumas palavras, na insistência de alguns significantes, nos lapsos de linguagem eventualmente cometidos, nas associações, etc. É por tanto sobre um fundo de consciência que o inconsciente se revela, é entre as malhas conscientes que ele tece sua trama. O próprio conteúdo consciente do discurso está sempre relacionado ao inconsciente, seja por aproximações, seja por afastamentos ou evitações (GOMES, 2003, p. 118). Desse modo, pré-consciente, consciente e inconsciente são três elementos básicos na teoria de Freud sobre o desenvolvimento da mente humana. ID, EGO E SUPEREGO: segunda teoria do aparelho psíquico De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 77): O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as “ordens” do superego. Procura “dar conta” dos interesses da pessoa. É regido pelo princípio da realidade que, com o princípio do prazer, rege o funcionamento psíquico. É um regulador, na medida em que altera o princípio do prazer para buscar a satisfação considerando as condições objetivas da realidade. Neste sentido, a busca do prazer pode ser substituída pelo evitamento do desprazer. As funções básicas do ego são: percepção, memória, sentimentos e pensamento. O ego, de acordo com Cória-Sabini (1997, p. 29) é: [...] parte modificada do id pela influência do mundo exterior. Representa a parte racional do indivíduo. O ego é considerado o executivo da personalidade e serve de mediador entre as exigências do id e a realidade. Não há disparidade entre as metas do id e do ego. O ego existe para satisfazer o id e não para frustrá-lo, embora possa inibir algumas formas de expressão das energias instintivas. Já o id, por sua vez, “constitui o reservatório da energia psíquica, é onde se localizam as pulsões de vida de morte. As características atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, são nesta teoria, atribuídas ao id. É regido pelo princípio do prazer” (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2002, p. 77). Para Cória-Sabini (1997, p. 28): O id é um substrato biológico, inato da personalidade, e é a fonte de toda energia psíquica. Pode ser conceituadocomo uma espécie de reservatório de impulsos instintivos. Esses impulsos derivam de suas fintes distintas: instinto de autoconservação (ou instinto de vida) e instinto de destruição (ou instinto de morte). Entre os impulsos derivados do instinto de vida estão os impulsos sexuais, cuja energia foi denominada libido. O objetivo do id é a satisfação imediata da energia derivada dos instintos. Uma vez ativado, o id exige a descarga de energia, reduzindo assim, a excitação e retornando ao estado de calma. O superego, de acordo com Cória-Sabini (1997, p. 29) refere-se: [...] a consciência moral, nem sempre reflete fielmente as normas da sociedade. Como ele forma na infância, as restrições e proibições à expressão das energias instintivas são internalizadas de uma forma mais rígida e severa do que as repressões reais. De acordo com Coelho (2014, p. 98) “o superego é regido por algo que, segundo os continuadores da teoria de Freud, poderíamos chamar de Princípio da Moralidade, que seria um produto refinado da socialização e a força para pressionar e controlar o id”. ✓ Quadro 1 - As três partes do aparelho psíquico FASE ORAL (0 A 18 MESES) Na fase oral, que abrange desde o nascimento até por volta de um ano e meio de vida da criança, a atenção da criança volta-se para a boca, língua e lábios. A ideia proposta por Freud é que em cada uma das fases desenvolvidas por ele, a criança satisfaça seu prazer em uma determinada zona erógena. Assim, a boca aparece para o bebê como fonte de prazer, já que é por ele que ele recebe o leite e o alimento. Depois, descobre seu polegar e seus dedos e leva-os à boca chupando-os. Nesta fase, se observarmos às crianças, perceberemos que de fato, tudo elas parecem levar à boca, como se a mesma fosse os “olhos da criança”. É pela boca que ela descobre o mundo. Para Freud todas as fases podem conter fixações e estas podem ser negativas na formação da criança. Por exemplo, a criança que fixa sua atenção na fase oral, pode ser um adulto propenso a fumar, beijar ou comer (NOGUEIRA, LEAL, 2015). Barros (2008, p. 82) afirma: Se as necessidades forem satisfeitas, a pessoa crescerá de maneira psicologicamente saudável; se não o forem, seu ego será imperfeito. Por exemplo, se as necessidades orais forem frustradas durante esse período, por desmame prematuro, por afastamento rigoroso de todos os objetos para sugar (incluindo o polegar), o ego poderá ser incapaz de superar os desejos orais frustrados. Alguns psicanalistas atribuem o alcoolismo, por exemplo, a frustrações na fase oral. De acordo com as indicações de Piletti (2014), no nascimento a criança tem apenas a presença do id, ou seja, das satisfações imediatas. É no decorrer de seu desenvolvimento que as outras instâncias do aparelho psíquico emergem na vida da criança. Ainda segundo este autor, nesta fase existem alguns elementos que são fundamentais para a organização do psiquismo da criança: [...] o olhar – por ter a função de humanizar o corpo do bebê; a voz – que como um referencial simbólico, dá a criança um lugar e inicia uma narrativa que mais tarde a criança vai resgatar e modificar. O bebê, então, ao ser amamentado se alimenta com o leite, com a voz, com o olhar, com o amor da mãe; o bebê se nutre da mãe. A amamentação é algo bastante íntimo, proporciona ao bebê o contato com o cheiro, com a pele, com os batimentos cardíacos da mãe e, ao perder essa possibilidade de satisfação, com o desmame vivencia uma perda bastante significativa, que afeta tanto o imediatismo da obtenção da gratificação quanto a consciência da criança do seu self versus mundo externo (PILETTI, 2014, p. 124). Nesse sentido, percebe-se que a fase oral é de fundamental importância para a criança. Em todo caso, se mal vivenciado, segundo Freud as fixações ocorridas nessa fase trazem muitos danos à pessoa. Na fase oral, que abrange desde o nascimento até por volta de um ano e meio de vida da criança, a atenção da criança volta-se para a boca, língua e lábios. A ideia proposta por Freud é que em cada uma das fases desenvolvidas por ele, a criança satisfaça seu prazer em uma determinada zona erógena. Assim, a boca aparece para o bebê como fonte de prazer, já que é por ele que ele recebe o leite e o alimento. Depois, descobre seu polegar e seus dedos e leva-os à boca chupando-os. Nesta fase, se observarmos às crianças, perceberemos que de fato, tudo elas parecem levar à boca, como se a mesma fosse os “olhos da criança”. É pela boca que ela descobre o mundo. Para Freud todas as fases podem conter fixações e estas podem ser negativas na formação da criança. Por exemplo, a criança que fixa sua atenção na fase oral, pode ser um adulto propenso a fumar, beijar ou comer (NOGUEIRA, LEAL, 2015). Barros (2008, p. 82) afirma: Se as necessidades forem satisfeitas, a pessoa crescerá de maneira psicologicamente saudável; se não o forem, seu ego será imperfeito. Por exemplo, se as necessidades orais forem frustradas durante esse período, por desmame prematuro, por afastamento rigoroso de todos os objetos para sugar (incluindo o polegar), o ego poderá ser incapaz de superar os desejos orais frustrados. Alguns psicanalistas atribuem o alcoolismo, por exemplo, a frustrações na fase oral. De acordo com as indicações de Piletti (2014), no nascimento a criança tem apenas a presença do id, ou seja, das satisfações imediatas. É no decorrer de seu desenvolvimento que as outras instâncias do aparelho psíquico emergem na vida da criança. Ainda segundo este autor, nesta fase existem alguns elementos que são fundamentais para a organização do psiquismo da criança: [...] o olhar – por ter a função de humanizar o corpo do bebê; a voz – que como um referencial simbólico, dá a criança um lugar e inicia uma narrativa que mais tarde a criança vai resgatar e modificar. O bebê, então, ao ser amamentado se alimenta com o leite, com a voz, com o olhar, com o amor da mãe; o bebê se nutre da mãe. A amamentação é algo bastante íntimo, proporciona ao bebê o contato com o cheiro, com a pele, com os batimentos cardíacos da mãe e, ao perder essa possibilidade de satisfação, com o desmame vivencia uma perda bastante significativa, que afeta tanto o imediatismo da obtenção da gratificação quanto a consciência da criança do seu self versus mundo externo (PILETTI, 2014, p. 124). Nesse sentido, percebe-se que a fase oral é de fundamental importância para a criança. Em todo caso, se mal vivenciado, segundo Freud as fixações ocorridas nessa fase trazem muitos danos à pessoa. Fase anal (de 18 meses a 3 anos) De acordo com Piletti (2014) ao longo da vida da criança o interesse pelo oral permanece, mas outras áreas constituem um interesse maior para a criança, pelas próprias necessidades que elas vão assumindo, ao longo de seu desenvolvimento. A fase anal, marca assim, o controle dos esfíncteres e da urina, como parte do desenvolvimento infantil. Tanto é que em torno dessa idade é que ocorre o desfralde, ou seja, a consecução pela criança do controle de seus esfíncteres e de sua micção. De acordo com Piletti e Rossato (2012) nesta fase a criança tem prazer no processo de eliminação e retenção das fezes e da urina. Para criança, os movimentos intestinais são muito prazerosos. Com as exigências do treino de toalete, a criança fica à mercê do conflito entre o id (satisfação do prazer) e os pais, professores, e a resolução desse conflito dependerá das cobranças e das ações que as acompanham (PILETTI; ROSSATO, 2012, p. 58). Por isso, o treino para o desfralde deve ser ponderado e mediado de forma a não criar situações traumáticas para a criança. Nesta fase, ela tem prazer em sua produção (fezes/ urina) e muitas vezes quer tocar as mesmas ou ainda retê-las com medo de que elas se vão para sempre. O “tchau, cocô” tão falado nessa época pelos pais aosfilhos é um modo de a criança de desligar de sua produção, deixando-a partir. Para Barros (2008, p. 82): Psicanalistas atribuem a avareza, a exagerada preocupação com a limpeza [...] se durante este segundo estágio, sobrevierem muitas frustrações, devidas a um treino excessivo severo de controle dos esfíncteres, o ego poderá ser prejudicado em seu desenvolvimento. e a meticulosidade (no adulto) a frustrações ocorridas na fase anal. Esses traços constituem a chamada personalidade anal. A avareza ou sovinice, isto é, prazer no acúmulo e guarda de bens, poderia ter-se originado do prazer que a criança experimentou em reter as fezes. A exagerada preocupação com a limpeza e a ordem (tanto no plano material quanto no mental) tem sido relacionada com exigências excessivas de limpeza que os pais fazem às crianças nessa idade. De acordo com Freud, a fixação em cada uma das fases propostas por ele, podem causar danos ao sujeito. Na realidade, cada uma das fases faz menção ao modo como o sujeito se relaciona com seu próprio corpo e com seu mundo interno, lidando com a noção de prazer e desprazer. Fase Fálica (de 3 a 7 anos) Por volta dos três anos de idade, quando a criança já adquiriu os processos de controle dos esfíncteres e da micção, sua área de prazer volta-se para suas partes sexuais. Falo, que significa pênis, é a menção de que nesta fase a criança descobre seus órgãos sexuais. Ela descobre a diferença dos órgãos entre homem e mulher e entre seus pares: os meninos descobrem que as meninas não tem pênis e ficam curiosos para saber como urinam. Da mesma forma, as meninas possuem curiosidade pelo órgão genital masculino, mas também em ambos os sexos, pelas diferenças entre seus próprios órgãos. Por isso, nessa fase, o exibicionismo e a curiosidade se aguçam sobre estes órgãos. De acordo com Barros (2008, p. 82): Durante este período, a criança se interessa também pelo papel que o pai desempenha na procriação, pelas atividades sexuais dos pais, pela origem dos bebês – temas frequentes de suas fantasias. Nesse sentido, admoestações excessivas e punitivas sobre os interesses e atividades sexuais teriam efeito negativo na posterior identificação sexual. De acordo com a concepção freudiana, impotência sexual, frigidez, exibicionismo e homossexualidade são considerados deficiências do ego do período fálico. Nessa fase as crianças vivenciam ainda o chamado Complexo de Édipo e de castração. De acordo com Piletti e Rossato (2012, p. 60) o Complexo de Édipo é essencial tanto para os meninos, quanto para as meninas, pois se refere ao desenvolvimento do superego, “[...] na constituição da base para a identidade sexual e para a formação de relacionamentos futuros”. Nessa época, com a descoberta do órgão sexual, ocorre também o início da masturbação. Este ato, para Freud é importante na descoberta da sexualidade e do próprio corpo. Porém, se essa descoberta for realizada de maneira inapropriada, pode causar danos à formação do sujeito, com relação ao seu comportamento sexual. A criança se masturba sem ter noção desse conceito. Ela masturba-se, pois a sensação de prazer é agradável, assim como na fase oral, chupar os dedos o é. Porém, quando se trata da sexualidade voltada aos órgãos sexuais, nossa sociedade ainda esconde diversos tabus e preconceitos. Não se trata de reprimirmos esse ato. Nem mesmo de ser extremamente permissivo. Mas de auxiliar a criança no equilíbrio de suas ações. Para Freud é o equilíbrio, em todas as fases que cumpre a formação saudável da mente humana. Quando falamos em fixação, trata-se do desequilíbrio em uma dessas fases, o que, para esse psicólogo acarreta em psicoses e doenças mentais. O COMPLEXO DE ÉDIPO Para compreendermos o Complexo de Édipo à luz da psicanálise é preciso que inicialmente conheçamos o mito de Édipo. Há diversas versões para este mito, mas sua essência permanece imutável: o fato de que Édipo casa-se com sua mãe e tem filhos com a mesma. Em seguida, reproduzimos no quadro 1 o mito para que possamos compreendê-la na perspectiva apresentada por Freud. • Quadro 1 - Édipo na mitologia grega Fonte: Costa (2010, p. 17-19). O mito retrata a vida de Édipo que mesmo fugindo de seu destino, tem ele cumprido em sua vida. Para Freud, este mito é significativo e vivenciado pelas crianças em sua fase fálica. Para Freud, os meninos, entre os 3 e 7 anos aproximadamente, apaixonam-se por suas mães e as meninas por seus pais. De acordo com Nogueira e Leal (2015), na fase de vivência deste complexo, reconhece- se duas ligações afetivas: a do menino, que deseja sua mãe e inconscientemente deseja casar-se com ela e um apego ao pai, como modelo de homem a ser imitado. Nesta fase é comum os meninos dizerem que são namorados da mamãe e por saberem que o pai é que ocupa o lugar do namorado, ele deseja ser como o pai, na esperança – inconsciente – de que ela se case com ele. Enquanto o vínculo com a mãe (objeto sexual) se nutre do ímpeto de um desejo, o vínculo com o pai (objeto ideal) repousa num sentimento de amor produzido pela identificação com um ideal. Esses dois sentimentos, então, aproximam-se um do outro e acabam por se encontrar o que resulta no com plexo de Édipo (NOGUEIRA; LEAL, 2015, p. 110). Em ambos os casos, tanto nas meninas quanto nos meninos, a figura oposta é sempre o rival. No caso do menino, o pai aparece como rival e ele teme que o mesmo possa castrá-lo por seu desejo. No caso da menina, que já aparece castrada, a mãe aparece como rival e pode haver certa hostilidade de ambas as crianças com seus opostos. De acordo com Glassman e Hadad (2006, p. 246) esse complexo é essencial para o “[...] desenvolvimento do superego e também no estabelecimento da base para a identidade sexual e para a formação de relacionamentos amorosos”. Os autores abordados até aqui, como Barros (2008), Piletti (2014), Nogueira e Leal (2015), concordam que sofremos de uma certa amnésia infantil e que nos esquecemos destas vivências, a partir do mecanismo de repressão. O pai ou a mãe, nesta fase precisam realizar o que os psicanalistas chamam de “corte”, mostrando a criança qual o lugar ela ocupa no seio da família. As meninas, apaixonadas pelos pais, passam batom, se vestem como as roupas das mães e querem realizar ações semelhantes às mães no intuito de serem amadas por seus pais, de forma semelhante ao amor que eles possuem por suas esposas. O corte aqui, indica que o pai deve propiciar à menina o conforto e amor necessários, estabelecendo o limite necessário nesta relação: o beijo na boca, por exemplo, deve acontecer somente entre o casal e assim, o pai vai, de modo amoroso e firme “cortando” as ações da filha que possam se assemelhar às ações de sua esposa. Do mesmo modo, a mãe precisa realizar o corte enfatizando a importância de ser amável e carinhoso como o pai, mas que como filho ocupa lugar diferente na organização familiar. Os psicanalistas acreditam que na fase fálica, fase onde se realiza o complexo de Édipo é a fase onde se originam a identidade sexual da criança. Por isso, enfatizam a importância do corte bem realizado, sem traumas ou excessos, para que a criança sinta amada, mas saiba qual é o lugar que ocupa na família. O corte mal elaborado, como por exemplo, a mãe que se deixa ser beijada na boca pelo filho e permite que o mesmo a chame de “namorada” e haja assim, pode tornar o menino em um adulto super dependente da mãe e da figura materna. O fato é que em suas relações futuras, tanto o menino, quanto a menina buscam em seus parceiros, ainda que de forma inconsciente, características de seus progenitores. Fase de latência (de 7 a 12 anos) O termo latência pode ser entendido, de acordo com Piletti (2014) como “[...] algo que não se vê, está oculto, está recalcado”. Nesse sentido esta é uma faseem que o prazer sexual, diferente da fase oral, anal ou fálica, nas quais o prazer dirigia-se para uma área específica do corpo, na fase de latência não existe uma zona específica de erotização. Nessa fase a criança experimenta, segundo as afirmações de Piletti (2014, p. 150-151) “[...] um aumento gradual no tempo de espera pela satisfação dos seus desejos, com a aprendizagem (por conta das frustrações) de que nem sempre será satisfeita imediatamente.” Devido a isso, as relações sociais melhoram já que a criança deixa de concentrar-se apenas em si mesma. Encontram, nesse sentido, prazer em diversas atividades, como o esporte, o lazer, o brincar com os amigos, os jogos, as leituras, entre outros. Nas crianças que vivenciaram e forma saudável as fases anteriores, esta fase apresenta- se como a possibilidade de fortalecimento do ego e do controle dos impulsos. Consequentemente, nas crianças que tiveram alguma fixação ou traumas nas fases anteriores, a fase de latência aparece como uma fase em que a criança vivencia momentos de irritação, agressividade e relutância à escola. Há ainda nesta fase a separação entre as meninas e os meninos em grupos distintos. Isso deriva, em grande parte porque esta fase é marcada pela “[...] aquisição das habilidades e valores e papéis culturalmente aceitos” (BARROS, 2008, p. 85). Assim, as meninas brincam entre elas, assumindo os papéis e valores sociais convencionados pela sociedade, do mesmo modo que o menino experiência, por meio das brincadeiras e atividades, os papeis e valores sociais.
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