Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE GEOGRAFIA URBANA SANTA CRUZ DO SUL – RS SUMÁRIO 1 NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO ...................................... 4 1.1 A Cidade e o Urbano no ensino da Geografia: Considerações a partir dos PCNs. ............................................................................................................................... 6 2 O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DAS CIDADES ...................................................... 8 3 CIDADES: TIPOS E FUNÇÕES .................................................................................. 11 3.1 Cidades Político-Administrativas .............................................................................. 11 3.2 Cidades Religiosas ................................................................................................... 12 3.3 Cidades Turísticas .................................................................................................... 13 3.4 Cidades Portuárias ................................................................................................... 14 3.5 Cidades Industriais ................................................................................................... 15 4 CAPITALISMO E O PROCESSO URBANO INDUSTRIAL ......................................... 16 4.1 Capitalismo Industrial ............................................................................................... 16 4.1.1 Características do Capitalismo Industrial .............................................................. 17 4.1.2 Revolução Industrial .............................................................................................. 17 4.1.3 Compreendendo melhor o assunto ....................................................................... 18 4.2 Urbanização ............................................................................................................. 20 4.2.1 As origens da Cidade Industrial ............................................................................. 23 4.2.2 A formação das grandes metrópoles contemporâneas ......................................... 25 5 OS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO URBANO ............................................ 26 6 IDENTIFICAÇÃO DE PROCESSOS E FORMAS ESPECIAIS DO AGRUPAMENTO URBANO ........................................................................................................................ 31 6.1 Hierarquia Urbana .................................................................................................... 31 6.1.1 Hierarquia Urbana Brasileira ................................................................................. 32 6.2 Alguns Conceitos Importantes .................................................................................. 33 7 PROCESSO DE ESTRUTURAÇÃO DA REDE URBANA ........................................... 34 8 O SOLO URBANO E SEUS MÚLTIPLOS USOS ........................................................ 36 9 RELAÇÃO CAMPO E CIDADE ................................................................................... 37 9.1 Questão Social no Brasil .......................................................................................... 38 10 O PLANEJAMENTO URBANO: PRÁTICAS E INSTRUMENTOS DE GESTÃO URBANA ........................................................................................................................ 39 10.1 As Origens do Planejamento Urbano no século XIX .............................................. 39 10.2 Os Conceitos de Planejamento Urbano, Gestão Urbana e Governança ................ 41 10.3 Instrumentos de Gestão Urbana............................................................................. 49 10.3.1 Zoneamento Ecológico – Econômico – ZEE ....................................................... 50 10.3.2 Plano Diretor Municipal ....................................................................................... 53 10.3.3 Plano de Bacias Hidrográficas ............................................................................ 55 10.3.4 Agenda 21 Local.................................................................................................. 66 10.3.5 Plano de Gestão Integrada da Orla ..................................................................... 71 10.4 Iniciativas envolvendo Instrumentos de Planejamento Ambiental Urbano 72 11 CIDADE E MEIO AMBIENTE .................................................................................... 74 11.1 Degradação Socioambiental e Cidadania .............................................................. 74 11.2 Meio Ambiente: Garantias e Proteção .................................................................... 74 11.3 As Mudanças Climáticas ........................................................................................ 76 11.4 O Meio Ambiente e a Água .................................................................................... 77 12 OS PRINCIPAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS ....................................... 79 12.1 Soluções para alguns Problemas Ambientais ........................................................ 80 13 O COTIDIANO URBANO E AS PRÁTICAS CULTURAIS ......................................... 83 13.1 Culturas Urbanas emergentes e/ou alternativas: músicas, sonoridades e estéticas ......................................................................................................................... 89 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 92 4 1 NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE A CIDADE E O URBANO A cidade é uma construção humana, forma materializada a partir do conteúdo urbano produzido por relações sociais específicas. Em outras palavras, pode-se dizer, concordando com Lencioni (2008, p. 114) que a cidade é objeto e o urbano fenômeno. Corrêa (2000, p. 9) apresenta esse espaço urbano como algo “fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas”. Este, contudo, é um dos entendimentos a respeito da cidade e do urbano. Souza (2009, p. 2) destaca que nos trabalhos de análise sobre estes conceitos “notam-se, na atualidade, a utilização de diversas orientações teóricas e metodológicas”, tendo forte influência as teorias vinculadas ao pensamento de Henri Lefebvre, sobretudo às suas obras mais dedicadas diretamente à cidade e ao urbano, O Direito à Cidade e A Revolução urbana (LEFEBVRE, 1999, 2001). Fonte de: www.fr.123rf.com Com base nos referenciais lefebvreanos, Carlos (1994, p. 50) apresenta a cidade como sendo, “antes de mais nada, trabalho objetivado, materializado, que aparece através da relação entre o construído (casas, ruas, avenidas, estradas, edificações, http://www.fr.123rf.com/ 5 praças) e o não construído (o natural)”. Mark Gottdiener (2010, p. 127), apresentando a perspectiva da produção do espaço de Lefebvre, expõe que o espaço [...] é uma localização física, uma peça de bem imóvel, e ao mesmo tempo uma liberdade existencial e uma expressão mental. O espaço é ao mesmo tempo o local geográfico da ação e a possibilidade social de engajar-se na ação. Isto é, num plano individual, por exemplo, ele não só representa o local onde ocorrem os eventos (a função de receptáculo), mas também significa a permissão social de engajar-se nestes eventos (a função da ordem social). Neste sentido, à medida que o espaço aparece em Lefebvre como algo que ultrapassa a condição de receptáculo, de palco onde as coisas acontecem, a compreensão do espaço urbano a partir dessa orientação teórica seguirá esta perspectiva, aparecendo não apenas como espaço de distribuição de materialidades específicas, mas como lócus das possibilidades do encontro, das relações sociais,da transformação. É nesse sentido que Sorbazo (2010, p. 58), amparado nas ideias de Lefebvre, afirma que “O urbano corresponde à morfologia social, uma realidade social composta de relações presentes e relações a serem concebidas construídas ou reconstruídas pelo pensamento”. Os dois conceitos – Cidade e Urbano – precisam estar articulados, requerem uma compreensão na qual sua condição de inseparabilidade seja a base para a análise de processos e dinâmicas que produzem esse espaço, possibilitando entender a sociedade urbana em suas múltiplas facetas e relações complexas. É nessa perspectiva que Cavalcanti (2008, p.66) ressalta que “Não se pode fazer uma separação absoluta entre espaço urbano e cidade, assim como, numa análise dialética, não se pode fazer uma separação absoluta entre forma e conteúdo”. Concordamos com Lencioni (2008, p. 110- 111) quando a autora afirma que “a construção de conceitos é um exercício do pensamento sobre o real”, sendo os conceitos “uma forma de reflexo dos objetos”, possuindo conteúdos tanto objetivos quanto subjetivos, havendo sempre uma “distância” entre o conceito e o real que ele tenta dar conta de explicar. Para Souza (2009, p. 6) 6 A Geografia trabalhada nas escolas na atualidade necessita promover avanços em relação aos conteúdos ensinados, em relação às concepções em torno da ciência geográfica e de seus conceitos, em relação às metodologias de ensino da disciplina e em relação aos processos de aprendizagem e aquisição de conhecimento por parte dos alunos. Essa necessidade de mudança é recorrente em autores que tratam da Geografia e de seu ensino na educação básica. Estudar a cidade, enquanto espaço onde se expressam profundas contradições sociais, lócus da sociabilização de maior parte da população do planeta e onde se evidenciam a maioria dos problemas sociais e ambientais contemporâneos, se mostra cada vez mais necessário no sentido de formar sujeitos ativos na transformação do mundo e na construção de soluções futuras para tais problemáticas. Para tanto, como sugere Souza (2009, p. 9) é preciso formar Um aluno autônomo sujeito de sua aprendizagem e que seja capaz de construir um pensamento espacial, tendo como referência a cidade e o urbano, espacialidade referência para a maioria das práticas espaciais das pessoas no mundo atual. O Ensino de Geografia pode ter papel ativo nesse processo, apresentando o mundo como realidade historicamente produzida, em constante transformação e, portanto, passível de transformação. 1.1 A Cidade e o Urbano no ensino da Geografia: Considerações a partir dos PCNs A cidade e o urbano aparecem nos PCNs de Geografia como foco para o ensino no segundo e no quarto ciclo do ensino fundamental. Suas abordagens, concepções conceituais e temas relacionados apresentam diferenças em cada ciclo, embora carreguem pontos essenciais em comum. As diferentes relações entre cidade e campo (em suas dimensões sociais, culturais e ambientais), devem ser, conforme indicado nos PCNs, o propósito dos estudos da Geografia no segundo ciclo do Ensino Fundamental. Para isso, sugere o documento, deve-se considerar “o papel do trabalho, das tecnologias, da informação, da comunicação e do transporte” (BRASIL, 1997, p. 93). 7 Nessa perspectiva, a abordagem da cidade e do urbano é pensada a partir da categoria paisagem, evidenciando o papel da “paisagem local” enquanto elemento fundamental para a observação dos alunos. É a partir de uma escala local que é apresentada a possibilidade de se “perceber como as paisagens urbanas e rurais foram se configurando e estão profundamente interligadas”, embora se afirme que “outras escalas podem ser abordadas e analisadas”. A percepção aparece, assim, como o processo cognitivo de destaque para o ensino de Geografia (BRASIL, 1997, p. 93). Fonte de: www.3.bp.blogspot.com Diante disso, ressalta-se que o urbano e o rural devem ser compreendidos “para além de seus aspectos econômicos ou da descrição compartimentada dos fenômenos sociais e naturais que os caracterizam”, requerendo uma abordagem que contemple múltiplas dinâmicas estabelecidas entre as cidades e o campo, suas semelhanças e diferenças, as formas de trabalho e a “produção e percepção do espaço e da paisagem” (BRASIL, 1997, p. 93). É nessa perspectiva que figuram entre os objetivos do ensino de Geografia para o segundo ciclo do Ensino Fundamental http://www.3.bp.blogspot.com/ 8 reconhecer e comparar o papel da sociedade e da natureza na construção de diferentes paisagens urbanas e rurais brasileiras; reconhecer semelhanças e diferenças entre os modos de vida das cidades e do campo, relativas ao trabalho, às construções e moradias, aos hábitos cotidianos, às expressões de lazer e de cultura; reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes entre o mundo urbano e o mundo rural, bem como as relações que sua coletividade estabelece com coletividades de outros lugares e regiões, focando tanto o presente e como o passado; conhecer e compreender algumas das consequências das transformações da natureza causadas pelas ações humanas, presentes na paisagem local e em paisagens urbanas e rurais; reconhecer o papel das tecnologias, da informação, da comunicação e dos transportes na configuração de paisagens urbanas e rurais e na estruturação da vida em sociedade; [...] (BRASIL, 1997, p. 95-96) Esta abordagem feita nos PCNs torna-se, de certa maneira, restrita, uma vez que não apresenta tais conceitos de uma forma ampla, enquanto frutos de um processo histórico, restringindo-se a uma proposta que assegure ao aluno uma percepção do próprio espaço que vive (apenas). Assim, os conceitos de cidade e urbano são trabalhados na escola em determinados momentos de forma isolada, fazendo com que o aluno compreenda a relação que ele mantém com seu dia a dia e seu lugar, ficando restritas as articulações do lugar com o mundo1. 2 O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DAS CIDADES Os mais antigos registros arqueológicos encontrados de ruínas de cidades remontam à Revolução Neolítica, por volta de 4.000 a 3.000 a.C. A constituição das cidades na Antiguidade tinha por objetivo ser centro de comércio e ou também como fortificações de guerra contra inimigos. Percebe-se nas cidades desse período, o início da divisão do trabalho e a utilização de meios de troca, como conchas e pedras semipreciosas, no comércio. As cidades surgiram inicialmente como pequenas aldeias às margens de rios, e com o crescimento populacional e das atividades passaram a constituir cidades mais complexas. Os principais locais de surgimento das cidades foram ao longo dos vales dos 1 Texto extraído de: www.eng2016.agb.org.br http://www.eng2016.agb.org.br/ 9 rios Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia; do Nilo, no Egito; do rio Indo, na Índia; do Yang- Tsé- Kiang e Hoang-HO na China; e do San Juan, na Meso-América. De maior complexidade de atividades, foi necessário criar Estados para a defesa militar e a construção de grandes obras (de irrigação, templos, canais etc.), em um processo de formação das civilizações - termo relacionado aos povos que vivem em cidades. Fonte de: www.encrypted-tbn0.gstatic.com No território europeu, a primeira civilização de destaque foi a grega, cujos registros das cidades-Estados remontam aos séculos VIII a VI a.C. As cidades gregas eram centros comerciais, religiosos, políticos e artísticos, com autonomia organizacional em relação às demais. As cidades gregas mais conhecidas foram Atenas e Esparta, que durante séculos dominaram o comércio no Mar Egeu e em parte do Mediterrâneo, deixando também como importante legado aspectos filosóficos, políticos (democracia), jurídicos, militares e artísticos que até hoje são perceptíveis. Entretanto, o caso de maior notoriedade deuma cidade da Antiguidade é Roma. Do mito do surgimento da cidade, a partir dos irmãos gêmeos alimentados por uma loba, formou-se o maior império do período, cuja capital era Roma. A partir da República, os http://www.encrypted-tbn0.gstatic.com/ https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-origem-mitica-roma.htm 10 romanos expandiram-se por toda a Europa e grande parte da Ásia, dominando econômica, militar e culturalmente por séculos essas regiões. Curiosamente, é a partir do declínio do Império Romano que se vê a perda de importância das cidades no ocidente europeu. Com as invasões dos povos bárbaros e a destruição que inicialmente acarretaram, os habitantes destes locais se viram forçados a irem para o campo atrás de refúgio e segurança em terras de latifundiários. Da criação de comunidades nestes latifúndios verificou-se a formação dos feudos, que deram o caráter rural ao período medieval. A ruralização da região teve como consequência a descentralização política e a diminuição drástica do comércio existente. Porém, em outras regiões, algumas cidades mantiveram um papel de relevo. Constantinopla (Bizâncio) era a capital do Império Romano do Oriente e substituiu Roma em importância e desenvolvimento, tornando-se centro comercial e urbano da Europa, convergindo para ela caravanas de diversas regiões. Na América pré-colombiana, podemos destacar as cidades de Cuzco e Machu Picchu, no Peru e a antiga cidade de Tenochititlan, onde hoje se localiza a cidade do México. No final da Idade Média, com o renascimento comercial e urbano no interior do continente europeu, as cidades voltaram a se desenvolver – agora a partir dos burgos –, como centros comerciais e culturais, além de verem desenvolver o capitalismo industrial. O caso mais clássico é o inglês, cujas cidades cresceram principalmente após os cercamentos que expulsaram os camponeses de suas terras, obrigando-os a se proletarizar nas nascentes indústrias urbanas. O advento da Revolução Industrial, somado à centralização da administração do Estado, deu impulso à urbanização de vastos espaços territoriais, levando à necessidade de criar políticas de planejamento e urbanização, visando sanar problemas habitacionais, sanitários e de deslocamento, e também como forma do Estado evitar e combater distúrbios sociais decorrentes da vida urbana contemporânea. O desenvolvimento verificado durante o capitalismo criou metrópoles e megalópoles, sendo as primeiras grandes cidades de importância nacional e regional, e as segundas, espaços de união de metrópoles. No ano 2000 metade da população 11 mundial vivia em cidades, e a ONU projeta para o ano de 2050 a existência de dois terços de população urbana2. 3 CIDADES: TIPOS E FUNÇÕES Como mencionado anteriormente, desde a Antiguidade, registra-se a formação de centros urbanos e que as primeiras cidades surgiram na região da Mesopotâmia e também do Egito, há cerca de três mil anos a.C. No entanto, durante a era do Capitalismo, sobretudo em sua fase industrial, esse processo de formação e crescimento urbanos atingiu o seu auge, o que propiciou a difusão da urbanização por todo o planeta. Em um dos vários aspectos referentes à urbanização, podemos destacar a forma com que algumas cidades tendem a se especializar economicamente. Essa especialização pode ocorrer no sentido de dinamizar uma economia local ou regional, podendo transformar um espaço previamente existente, ou conceber e planejar a criação de cidades para atender as funções específicas. Dentre essas atividades setoriais especificamente realizadas por formações urbanas, podemos destacar alguns tipos de cidades, como as político-administrativas, turísticas, portuárias, industriais e outras que podem apresentar vários desses aspectos concomitantemente. 3.1 Cidades Político-Administrativas São cidades onde se localizam importantes sedes administrativas de governos e parlamentos. Costumam ter como característica a elevada oferta de empregos no setor público e estratégica função política. Geralmente, são cidades especificadamente planejadas e construídas para esse fim, embora, em alguns casos, elas passem a acumular outras funções. Podemos citar, como exemplo de cidades político-administrativas: 2 Texto extraído de: www.brasilescola.uol.com.br http://www.brasilescola.uol.com.br/ 12 Brasília (Brasil) Pretória (África do Sul) Washington (EUA) Ottawa (Canadá) Entre outras Fonte de: www.estudopratico.com.br 3.2 Cidades Religiosas São formações urbanas que possuem suas dinâmicas econômicas majoritariamente centradas em algum tipo de atividade religiosa, que ocorre todo o ano ou durante alguns poucos dias, mas que atrai um grande número de fiéis e movimenta um significativo ornamento financeiro. Exemplos de cidades desse tipo são: Jerusalém (Israel) Meca (Arábia Saudita) Aparecida do Norte (Brasil) Santiago de Compostela (Espanha) Trindade (Brasil) http://www.estudopratico.com.br/ 13 Entre outras. Fonte de: www.s5.static.brasilescola.uol.com.br 3.3 Cidades Turísticas São cidades que possuem algum significativo atrativo turístico e de lazer, seja pelos seus recursos naturais, seja pelas possibilidades oferecidas pelo seu espaço geográfico. Dentre esse tipo de cidade, podemos citar: Las Vegas (EUA) Porto Seguro (Brasil) Cancun (México) http://www.s5.static.brasilescola.uol.com.br/ 14 Fonte de: viagemeturismo.abril.com.br 3.4 Cidades Portuárias São cidades que exercem uma importante função na economia do país ao qual pertencem, pois são a partir delas que a maior parte das exportações e importações acontecem, graças à estrutura de seu porto, utilizado para carga e descarga de mercadorias. Alguns exemplos de cidades desse tipo são: Santos (Brasil) Roterdã (Holanda) Hamburgo (Alemanha). 15 Fonte de: www.encrypted-tbn0.gstatic.com 3.5 Cidades Industriais Apesar de a maioria das cidades se formar direta ou indiretamente em função do crescimento da produção industrial em uma dada região, somente algumas delas podem ser classificadas como cidades industriais. Essas se caracterizam por centrarem a maioria de suas atividades quase que exclusivamente no setor industrial, apresentando vastos e modernos parques empresariais produtivos. Citam-se como exemplo as cidades de: Camaçari (Brasil) Córdoba (Argentina) Manchester (Inglaterra) Dusseldorf (Alemanha) E muitas outras. É importante ressaltar que apesar dessa classificação, existem aquelas cidades que conseguem apresentar duas ou mais dessas tipificações acima mencionadas. Dotadas de um grande dinamismo, essas formações urbanas caracterizam-se, em geral, http://www.encrypted-tbn0.gstatic.com/ 16 pelo elevado peso econômico tanto em âmbito regional quanto em escala internacional, além de um significativo contingente populacional. Citam-se como exemplos: São Paulo Paris Nova Iorque Rio de Janeiro Entre outras3. Fonte de: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br 4 CAPITALISMO E O PROCESSO URBANO INDUSTRIAL 4.1 Capitalismo Industrial O Capitalismo Industrial ou Industrialismo corresponde a segunda fase do capitalismo. Ele surge com a Revolução Industrial no século XVIII e se consolida com a Segunda Revolução Industrial em meados do século XIX e início do século XX. 3 Texto extraído e adaptado de: www.brasilescola.uol.com.br http://www.mundoeducacao.bol.uol.com.br/ http://www.brasilescola.uol.com.br/ 17 Desde o surgimento do sistema econômico capitalista no século XV, ele sofreu algumas transformações que acompanharam o desenvolvimento da sociedade, o qual está dividido em três fases: Capitalismo Comercial ou Mercantil (Pré-capitalismo) – do século XV ao XVIII Capitalismo Industrial ou Industrialismo – séculos XVIII e XIX Capitalismo Financeiro ou Monopolista – a partir do século XX 4.1.1 Características do Capitalismo Industrial As principais características do Capitalismo Industrial são: Industrialização e desenvolvimento dos transportes Nova forma de divisão social do trabalho Trabalho assalariado Liberalismo e livre-concorrência Intensificação das relações comerciais internacionais Surgimento da classe operária (proletariado) e dos sindicatos Supremacia da burguesia industrial Crescimento urbano e o desenvolvimento tecnológico Transformação das manufaturas em produtos industrializados Produção em larga escala Aumento da produção de mercadorias e diminuição dos preços Imperialismo e Globalização Aumento da desigualdade social 4.1.2 Revolução Industrial A Revolução Industrial teve início na Inglaterra no século XVIII com o surgimento da mecanização e a expansão das indústrias. Embora tenha iniciado na Inglaterra, esse processo de grandes transformações econômicas, políticas e sociais se espalhou pelo mundo até o início do século XX. https://www.todamateria.com.br/capitalismo-comercial/ https://www.todamateria.com.br/capitalismo-financeiro/ https://www.todamateria.com.br/divisao-social-do-trabalho/ https://www.todamateria.com.br/liberalismo/ https://www.todamateria.com.br/imperialismo/ https://www.todamateria.com.br/desigualdade-social/ https://www.todamateria.com.br/revolucao-industrial/ 18 Ela está dividida em três fases, uma vez que acompanhou o desenvolvimento da sociedade industrial: Primeira Revolução Industrial (século XVIII ao XIX): máquina de fiar, tear mecânico e máquina a vapor. Fonte de: www.historiadetudo.com Segunda revolução Industrial (século XIX e início do XX): desenvolvimento da energia elétrica, invenção dos automóveis e aviões, invenção dos meios de comunicação (telégrafo, telefone, televisão e cinema), surgimento das vacinas e antibióticos e descoberta de novas substancias químicas. Terceira Revolução Industrial (a partir do século XX): avanço da metalurgia, da tecnologia e da ciência, conquista espacial, progresso da eletrônica, uso de energia atômica, desenvolvimento da engenharia genética e biotecnologia. 4.1.3 Compreendendo melhor o assunto O capitalismo industrial surge com o novo panorama determinado pelo processo de Industrialização. Assim, as máquinas começam a substituir o trabalho manual, e de https://www.todamateria.com.br/primeira-revolucao-industrial/ http://www.historiadetudo.com/ https://www.todamateria.com.br/segunda-revolucao-industrial/ https://www.todamateria.com.br/terceira-revolucao-industrial/ https://www.todamateria.com.br/industrializacao/ 19 um pré-capitalismo, esse sistema econômico atinge outra configuração a partir de novas técnicas de produção de mercadorias. Nesse momento, os produtos manufaturados da primeira fase capitalista (capitalismo comercial ou mercantil) tornam-se produtos industrializados por meio da mecanização que despontava na Inglaterra. Isso aumentou cada vez mais a produtividade, ao mesmo tempo que ampliava o mercado consumidor pelo mundo. Uma das maiores invenções desse período foi a máquina a vapor gerada por meio da combustão do carvão. Ela foi essencial para aumentar a produção de mercadorias e consequentemente, o lucro dos produtores. Observe que o Capitalismo surgiu no século XV, denominado de Capitalismo Mercantil. Este, esteve fundamentado no sistema mercantilista (monopólio, balança comercial favorável e metalismo) e pautado nos interesses de uma nova classe que surgia: a burguesia. Nesse período, as grandes navegações, a exploração de novas terras e o comércio de especiarias movimentavam a economia. A maior característica dessa primeira fase do capitalismo para atingir o lucro foi o comércio de manufaturas. Enquanto no industrialismo, o comércio era realizado através da produção de mercadorias industrializadas em larga escala. Já no capitalismo industrial, a classe burguesa, detentora dos meios de produção (donos das indústrias), enriquecem cada vez mais. Isso acontecia através da mão de obra assalariada que trabalhava e eram explorados nas fábricas. No entanto, esses operários ou proletariados não estavam satisfeitos com as precárias condições de trabalho, visto a quantidade de horas de trabalho e os baixos salários que recebiam. O resultado foi o acúmulo de capital nas mãos dos burgueses e uma classe social trabalhadora descontente, o proletariado. Durante esse período, as desigualdades sociais crescem exponencialmente, uma vez que a maior parte do dinheiro estava concentrado nas mãos dos burgueses. Enquanto isso, a classe trabalhadora era explorada e recebia salários insuficientes para terem uma vida digna. O êxodo rural foi um fator determinante para o desenvolvimento do capitalismo industrial. As pessoas saiam do campo em busca de melhores condições de vida nas https://www.todamateria.com.br/capitalismo/ https://www.todamateria.com.br/exodo-rural/ 20 cidades, o que resultou numa explosão demográfica e o surgimento de uma nova divisão de trabalho nas fábricas. Com o enriquecimento da classe burguesa e o investimento em novas descobertas, levou cada vez mais a expansão e o desenvolvimento do capitalismo pelo mundo. Além disso, a expansão de mercados consumidores, as relações internacionais e o desenvolvimento da globalização foram essenciais para consolidar uma nova fase do sistema capitalista: o capitalismo financeiro ou monopolista4. Fonte de: www.sociologiapolitica.com.br 4.2 Urbanização A urbanização corresponde ao processo de transformação dos espaços rurais em espaços urbanos, com o crescimento das cidades e das práticas inerentes a elas, como as atividades industriais e comerciais. O urbano não se restringe à cidade, mas é 4 Texto extraído de: www.todamateria.com.br https://www.todamateria.com.br/globalizacao/ http://www.sociologiapolitica.com.br/ https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/as-cidades.htm http://www.todamateria.com.br/ 21 principalmente nela que ele se materializa, fato que associa o processo de urbanização ao crescimento das cidades em relação ao campo. As primeiras cidades surgiram milhares de anos antes da Era Cristã, com destaque para Jericó, Ur, Damasco e, na América do Sul, Tiahuanaco (atualmente território da Bolívia). No entanto, podemos dizer que o processo de urbanização das sociedades propriamente dito ocorreu a partir do início do Capitalismo Comercial, intensificando-se com o passar dos tempos, sobretudo após as revoluções industriais. Por esse motivo, é possível dizer que a urbanização é a representação da modernidade, pois ela proporciona uma transição social fundamentada no setor primário para os setores industrial, comercial e de serviços. A divisão social e territorial do trabalho tende a intensificar-se à medida que as relações econômicas se tornam mais complexas. O espaço urbano é, pois, a expressão mais dinâmica do espaço geográfico, pois representa um aglomerado de práticas culturais, sociais, econômicas e outras em espaços justapostos entre si. Existem dois principais tipos de fatores que se associam ao processo de urbanização: os fatores atrativos e os fatores repulsivos. Fatores atrativos: ocorrem pela urbanização causada pela atração da população do campo para as cidades em busca da maior oferta de emprego gerada pela industrialização, além da existência de melhores condições de renda e de vida. O rápido e fácil acesso a produtos, bens de consumo e serviços, como escolas e hospitais, além de uma maior interação cultural, também pode ser listado como um fator atrativo da urbanização. Fatores repulsivos: ocorrem quando a urbanização acontece pela “expulsão” ou afastamento da população do campopara as cidades, com uma migração em massa que chamamos de êxodo rural ou “migração campo-cidade”. Dentre os fatores repulsivos da urbanização, podemos citar a concentração fundiária (muita terra nas mãos de poucos), os baixos salários do campo, a mecanização das atividades agrícolas com a substituição da mão de obra, entre outros. Os países desenvolvidos foram os primeiros a urbanizar-se, com a maior presença de fatores atrativos. Com a Revolução Industrial, ao longo do século XVIII, cidades como https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/as-etapas-capitalismo.htm 22 Londres e Paris transformaram-se em grandes centros urbanos, porém com uma grande carga de problemas sociais e miséria acentuada, questão que só veio a ser atenuada pelas reformas urbanas no século seguinte. Fonte de: www.geralforum.com Já os países subdesenvolvidos e emergentes só conheceram uma urbanização mais intensificada a partir de meados do século XX, e muitos territórios ainda estão em fase inicial desse processo. Os principais fatores são os repulsivos, como a mecanização do campo e concentração de terras, além de alguns fatores atrativos, como a industrialização realizada, predominantemente, pela instalação de empresas multinacionais estrangeiras. Em muitos casos, conheceu-se a formação de grandes centros urbanos chamados de metrópoles, com uma área urbana que abrange o espaço de várias cidades. As principais cidades do mundo, atualmente, são as chamadas cidades globais, com destaque para Nova Iorque, Tóquio, Londres, Berlim e, nos países emergentes, Cidade http://www.geralforum.com/ https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/metropole.htm https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/cidades-mundiais.htm 23 do México, São Paulo, Rio de Janeiro, Bombaim e Buenos Aires, além de muitos outros exemplos5. 4.2.1 As origens da Cidade Industrial Os processos que desencadearam a Primeira Revolução Industrial na Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII são complexos, ou seja, a origem desse evento não é simples. Em primeiro lugar, o acontecimento não foi resultado de uma mera aceleração do crescimento econômico, mas uma aceleração do crescimento urbano em virtude da transformação econômica e social. Em segundo lugar, não começou do zero e não podemos deixar de apontar outras fases anteriores de rápido desenvolvimento industrial e tecnológico. Todos esses elementos a serem destacados contribuíram para que a Inglaterra ingressasse preparada na industrialização (HOBSBAWM, 2003). As cidades industriais são um imbricado histórico, sua lógica espacial constitui uma totalidade de relações (culturais, políticas, econômicas e sociais), constituída através de uma longa duração, na qual a parte dominante dessas relações pode influir na determinação de suas características estruturais, ou seja, esta representa expressão material do modo de vida e de produção da sociedade através do trabalho social acumulado. Neste sentido, as relações espacializadas ou espaciais articulam-se como atributos e com atributos de outros lugares, e seus espaços de produção passam a ser limites ou momentos do processo produtivo, onde interagem relações específicas e modos de produção que estruturam e definem sua forma. As relações sociais que se desenvolvem nas cidades industriais tenderam a reproduzir o conteúdo da centralidade impingida pelo trabalho geral da sociedade, pois a cidade é os lócus histórico do processo produtivo. Seu sítio contém a materialidade do trabalho acumulado por gerações anônimas de indivíduos e sua centralidade é a expressão da inerência grandiosa da obra do trabalho coletivo da sociedade. As cidades industriais são também, em aparência, o espaço da socialização da produção social e, na essência a base contraditória do fenômeno urbano; no primeiro 5 Texto extraído e adaptado de: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br http://www.mundoeducacao.bol.uol.com.br/ 24 sentido, condição geral e base material de realização da produção social; no segundo, o "laboratório" conflituoso do processo de acumulação do excedente social. Como o trabalho social é apropriado de maneira privada, sua convertibilidade social torna-se complexa, assim o Estado ajuíza e "regula" os interesses dos membros da sociedade, impondo deveres indistintamente a todos os cidadãos (pobres ou ricos) que permitam a realização das condições gerais de produção, o processo de acumulação e expropriação do trabalho social no espaço. Fonte de: www.adeconconsultoria.com.br As contradições sociais resultam do processo de apropriação privada da cidade, enquanto meio de produção e força produtiva do trabalho social, e da sua subordinação aos interesses privados de alguns membros da sociedade. A ruptura entre as relações campo e cidade, no início do século XIX, foi impulsionada com o aumento do emprego de tecnologias manufatureiras, na cidade, e pelo alargamento do mercado de sua produção de mercadorias e crescimento da produtividade do trabalho nas indústrias. http://www.adeconconsultoria.com.br/ 25 A cidade industrial se transformou no "laboratório" do processo de produção capitalista. A inevitabilidade do urbano passou a ser a inevitabilidade lógica da ascensão do modo de produção capitalista. O domínio e o aperfeiçoamento da produção na unidade fabril precipitaram a produção da esfera local para outras "escalas espaciais" de mercado. A progressão da produção ampliou-se da disputa intraterritorial para a interterritorial. 4.2.2 A formação das grandes metrópoles contemporâneas Com o aumento da produção fabril, a cidade industrial conseguiu ampliar o conteúdo de sua centralidade, constituindo as metrópoles, expressão contraditória da influência de sua produção (econômica, cultural e política) em relação a outras cidades e ao campo. Nos séculos XIX e XX, a força motriz da centralidade da cidade industrial foi à produção fabril ou manufatureira, que transformou o trabalho artesanal de sujeito e suporte do processo produtivo em mero apêndice ou acessório vivo. A estrutura territorial de acumulação da cidade industrial se caracterizou pela espacialização e especialização do processo produtivo assentado na divisão territorial do trabalho. O pressuposto da produção foi, além da obtenção do lucro e de mais-valia, a expansão da produtividade, diminuição dos preços dos produtos e salários, redução do emprego (trabalho vivo) e da participação dos trabalhadores na concepção do sistema produtivo, seu crescimento em massa e aumento da competitividade. Dentro dos padrões de acumulação que fizeram surgir à cidade industrial, "o estágio mais avançado da sociedade industrial é o estágio do consumo de massa". A verticalização, a densificação e a segmentação do consumo nas cidades industriais, produzidas pelas redes oligopolizadas de produção, distribuição e comercialização, criaram as megametrópoles, que representam a expressão mais contundente alcançada pelo poder de concentração e centralização exercido pela cidade industrial. As mudanças tecnológicas alteraram as relações espaciais entre os lugares, entre as cidades e seus espaços produtivos. A utilização da informática, das telecomunicações e do sensoriamento remoto (com imagens espectrais dos satélites), favoreceu a metropolização, mundialização e a globalização das relações econômicas e sociais, 26 produzidas pela cidade industrial, o que ampliou as possibilidades de trocas, os fluxos de informações e conhecimento (saber-fazer). Mas, as iniciativas de "regulação" pelo Estado através do planejamento, nos problemas advindos da formação das "economias de aglomerações" (as cidades), tendem a gerar novas formas de realização da acumulação e de reprodução do capital. O planejamento burguês tende a manter as condições gerais de acumulação, em detrimentodas condições gerais de reprodução social. Esta é a contradição básica das ações estatais implementadas através do planejamento. Fonte de: www.edisciplinas.usp.br 5 OS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO URBANO Segundo Harvey (1980), os incorporadores imobiliários também podem ser proprietários fundiários, agentes imobiliários, industriais da construção civil, instituições financeiras e instituições governamentais. Sendo que cada um deles está determinado por regras de valorização de cada capital em particular. Os proprietários fundiários procuram extrair a maior renda possível http://www.edisciplinas.usp.br/ 27 de seus terrenos (especulação), os produtores obter o maior lucro possível de suas construções, a burguesia extrai a maior quantia de juros possível, o Estado tenta organizar o mercado, para reduzir os conflitos sociais entre as diversas classes presentes no espaço urbano. Mas identificar esses agentes no espaço urbano é uma tarefa das mais complexas, pois, em nível de Brasil e, sobretudo, em nível da realidade de cidades de porte médio, eles se dividem em alguns grupos: os incorporadores, os construtores, os proprietários e os vendedores. Partindo então deste princípio, observa-se que estes tipos podem variar de acordo com o empreendimento – podendo agregar-se ou desagregar, em um ou em outro tipo – podendo assim assumir através do tempo diversos papéis e figuras na expansão do espaço urbano. Segundo Ribeiro (1982), as funções exercidas pelo incorporador são: escolha e compra do terreno; análise de mercado; concepção e desenvolvimento do projeto, compreendendo aspectos técnicos, legais, fiscais, financeiros e operacionais; mobilização do capital necessário à operação, compreendendo financiamento para a construção e para o consumidor final. Entretanto, esse agente assume duplo papel quando adquire um terreno, após a compra do lote este também assume o papel de proprietário fundiário. O autor acima citado pensa que seria melhor analisar este agente a partir da concepção de capitalista comercial, quando investe em atividades promocionais, e proprietário fundiário quando exerce o controle, o acesso e a transformação do uso do solo. Mas o que é incorporação imobiliária? Incorporação imobiliária é a operação-chave da promoção imobiliária; o incorporador realiza a gestão do capital-dinheiro na fase de sua transformação em mercadorias (imóveis). A localização, o tamanho das unidades e a qualidade da construção são definidos na incorporação, assim como a decisão de quem vai construí-lo, a propaganda, o financiamento (a partir de recursos monetários 28 provenientes de pessoas físicas ou jurídicas) e o investimento visando à compra do terreno e a construção do imóvel (CORRÊA, 1999). Fonte de: www.leandroimoveis.com.br Assim sendo, existem três agentes nesse processo de produção e consumo: o comprador, que é agente indispensável para que haja, no mínimo, o mercado; o produtor, que é o construtor, que é identificado através de concorrência; o incorporador, que é quem incorpora quem, na realidade, promove o empreendimento, quem cria o espaço horizontal e vertical. Em nível social, ocorre a concentração dos meios de produção em uma classe social. Em nível espacial, ocorre a concentração dos meios de produção e da população, em alguns pontos do espaço, onde se realizam as transações que dão a rápida circulação que o capital precisa para se multiplicar. Quanto mais concentrado espacialmente o capital estiver, tanto mais rápido se multiplicará. O Estado é um importante agente na produção das cidades, pois tem a presença marcante na produção, distribuição e gestão dos equipamentos de consumo coletivos necessários à vida urbana. http://www.leandroimoveis.com.br/ 29 A cidade ao mesmo tempo gera e rejeita o território popular precário, a indústria tem “fome” de força de trabalho a baixo custo e a cidade grande é enorme mercado de reserva de mão de obra. Mas a heterogeneidade e segregação da cidade fazem do território popular uma região explosiva: a história das grandes cidades é marcada pela violência e, esta é a expressão viva do caráter contraditório da cidade. É nesta condição que os grupos sociais excluídos, fruto da segregação residencial, tornam-se agentes produtores e modeladores do espaço urbano. É mais um caso de sobrevivência do que especulação do solo urbano. Embora ocorra, a origem dessas pessoas está ligada ao movimento de modernização agrícola implantado no Brasil e no Mato Grosso na segunda metade deste século, e também, de outras áreas da cidade que se submeteram a uma remodelação urbana. Os salários reduzidos que não podem mais pagar aluguel e tributos, ou ainda, ao crescente número de desempregados urbanos. É através da consolidação do capitalismo que o grande capital usa o Estado como instrumento de sua política de dominação das classes menos favorecidas. O Estado se faz presente através de empresas públicas como de habitação, empreiteiras, financiadoras de casa própria, bancos públicos, entre outros. Alguns destes transformados em grandes empresas. Abertura de estradas, asfaltamento, calçamento, cobrança de impostos, leis de uso do solo, são alguns exemplos de como o Estado aliado ao capital interfere no espaço. Em nível municipal, o poder público atua fortemente no provimento de condições necessárias para a estruturação dos bairros de moradia da classe dominante, enquanto bairros mais periféricos carentes economicamente ficam à mercê da própria sorte, reivindicando melhorias. O Estado, com isso acaba sendo um produtor imobiliário que usa principalmente os impostos para delimitar o uso do espaço urbano, desocupando áreas e/ou loteando outras quando preciso desde que isso o favoreça ou a terceiros. Percebemos então, como o Estado age ligado a interesses bem particularizados, acarretando uma segregação socioespacial gradativa e impedindo a população de mais baixa renda ao acesso de mínimas condições de subsistência social. 30 Observando o processo de segregação socioespacial nas cidades (principalmente médias e grandes), entende-se que este fenômeno é resultante de vários modelos de capital (fundiário, incorporador, imobiliário e financeiro). O grande capital, portanto, possui estratégias diferentes na organização do espaço, dependendo de estudos de viabilidade técnica, locacional, lucro, entre outros. Outro aspecto que deve ser analisado neste contexto é a questão fundiária do espaço urbano. Fonte de: www.g1.globo.com No processo de produção e comercialização do solo urbano estão presentes os incorporadores, os construtores e os agentes imobiliários, que através de estratégias pré- estabelecidas fazem do solo urbano moeda corrente transformando a cidade capitalista num grande negócio. O solo urbano é um instrumento de produção e reprodução do capital, base de uma edificação que uma vez erguida, se incorpora ao solo e passam os dois, a reproduzir a moradia. Tanto solo edificável como a edificação têm um valor de mercado, e na maioria das vezes dependem das melhorias que são instaladas no local e dos efeitos da lei de zoneamento urbano. http://www.g1.globo.com/ 31 A classe de menor renda é a que sofre essas oscilações nos preços dos terrenos, acabando assim, tendo que habitar setores de péssima qualificação urbana, porque seus preços baixos na maioria dos casos são os únicos acessíveis para esta classe6. 6 IDENTIFICAÇÃO DE PROCESSOS E FORMAS ESPECIAIS DO AGRUPAMENTO URBANO 6.1 Hierarquia Urbana Hierarquia urbana consiste numa forma de organização entre as cidades, onde os grandes centros urbanos apresentam influência sobre as médias e pequenas cidades. Fonte de: www.escolakids.uol.com.br Esta hierarquização é formada principalmente com base na diversificaçãoeconômica dos centros urbanos, fazendo com que aqueles com menor desenvolvimento estejam dependentes e subordinados às metrópoles mais desenvolvidas. 6 Texto extraído e adaptado de: www.atribunamt.com.br http://www.escolakids.uol.com.br/ http://www.atribunamt.com.br/ 32 Também é através da hierarquia urbana que é organizado o espaço nacional, em termos de influência de certos centros urbanos sobre outros. Funciona como um indicador da importância de uma cidade, sendo esta nem sempre dependente do seu tamanho, mas de outros fatores influenciadores, como a dinâmica de mercadorias, pessoas, serviços e informações que possui, por exemplo. A hierarquia urbana pode apresentar uma escala regional, nacional ou mundial. A hierarquia urbana está relacionada com o ranking de cidades, desde a menor até a que tem maior população. Dentro da hierarquia urbana as cidades podem mudar de posição, uma vez que existem transferências de população entre as cidades, fazendo com que variem de posição. 6.1.1 Hierarquia Urbana Brasileira No Brasil, a hierarquia urbana segue o modelo proposto pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): Metrópoles, Capitais Regionais, Capitais Sub- Regionais, Centros de Zona e Centros Locais. Em outros países do mundo, no entanto, os padrões de classificação da hierarquia urbana podem variar, principalmente de acordo com a estruturação dessas nações. A hierarquia urbana é formada por metrópoles nacionais, que são as grandes cidades; as metrópoles regionais, que são cidades que exercem uma polarização em uma extensa região; capitais regionais, que são cidades que polarizam uma área menor ou menos importante em termos de população; centros regionais, que são cidades polarizadas pelas capitais regionais e que polarizam uma grande quantidade de cidades locais, e as cidades locais, que são pequenas cidades que exercem influência numa área reduzida, onde predominam padrões rurais ou semiurbanos de moradia, como vilas, por exemplo7. 7 Texto extraído de: www.significados.com.br http://www.significados.com.br/ 33 6.2 Alguns Conceitos Importantes Região Polarizada: Organização de região planejada ao redor das metrópoles. O regionalismo origina diversas cidades que podem compreender milhões de habitantes, e adquirirem em caráter metropolitano internacional e, como polos, constituírem regiões ao seu redor, na qual a população consegue pouco apouco adquirir consciência regional. Malha Urbana: Refere-se à intensa concentração de cidades numa certa área do país. A região Sudeste apresenta Malha Urbana em algumas áreas. Rede Urbana: O processo de urbanização compõe a chamada Rede Urbana, um conjunto integrado ou articulado de cidades em que se observam a influência e a liderança das maiores metrópoles sobre as menores (centros locais). Área Metropolitana: É o agrupamento de municípios próximos uns dos outros que possuem uma integração aos serviços públicos de infraestrutura comuns. As metrópoles são as maiores e mais bem equipadas cidades de um país. Conurbação: É a aproximação de duas ou mais cidades de crescimento assíduo, constituindo um aglomerado urbano. Temos como exemplo a região do ABC, em São Paulo, que se formou a partir da junção das áreas dos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e a cidade de São Paulo, entre outros. Megalópole: Refere-se à conurbação de inúmeras metrópoles ou regiões metropolitanas. Atualmente são as maiores e mais importantes aglomerações urbanas. Como exemplo podemos citar a região que vai de Boston até Washington, na qual Nova York é o centro. 34 Regiões Funcionais Urbanas: É a divisão baseada na influência das cidades sobre o espaço ou sua polarização. Macrocefalismo: Refere-se ao crescimento rápido e desordenado de uma cidade. Subemprego: É a atividade originada pelo aumento acentuado do setor terciário8. Fonte de: www.4.bp.blogspot.com 7 PROCESSO DE ESTRUTURAÇÃO DA REDE URBANA Como mencionado nos conceitos importantes, a Rede Urbana é o conjunto articulado de cidades e grandes centros urbanos, que se integram em escalas mundial, regional e local por meio de fluxos de serviços, mercadorias, capitais, informações e recursos humanos. Essa rede estrutura-se por meio de uma hierarquia, em que as cidades menores costumam ser relativamente dependentes das cidades maiores e economicamente mais desenvolvidas. 8 Texto extraído de: www.colegioweb.com.br http://www.4.bp.blogspot.com/ http://www.colegioweb.com.br/ 35 O grau de integração de uma dada rede urbana de um país é um indicativo de seu nível de desenvolvimento. Em regiões economicamente mais dinâmicas, a tendência é uma maior interligação entre as suas diferentes cidades, geralmente mais adensadas e com uma melhor infraestrutura. Por outro lado, países considerados subdesenvolvidos apresentam uma integração limitada entre as suas cidades, apresentando uma organização territorial dispersa e pouco coesa. A rede urbana expressa, dessa forma, a espacialização da divisão territorial do trabalho, em que cada cidade ou centro urbano exerce uma função complementar para o todo dessa rede. Diante disso, um sistema de transporte articulado e um sistema de informações avançado permitem um melhor funcionamento operacional. A formação de redes urbanas pelo mundo não é uma novidade. Um exemplo foi a rede de cidades greco-romanas que perdurou até a Idade Média. Por outro lado, foi com o advento da Globalização e da Terceira Revolução Industrial que esse fenômeno alcançou uma escala mundial através da formação das chamadas cidades globais ou megalópoles. Na economia financeira atual, a formação de cidades globais é algo crucial para o desenvolvimento de um dado país, pois são nessas cidades que se instalam os principais centros econômicos e onde a comunicação com os demais polos de desenvolvimento acontece. Forma-se, então, uma verdadeira rede de cidades globais, capazes de concentrar boa parte da população mundial e de garantir o funcionamento da economia globalizada. No mapa abaixo, podemos observar a distribuição dos principais polos econômicos do mundo na atualidade. 36 Os principais centros urbanos que estruturam a rede de cidades em nível global Fonte de: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br Diante disso, podemos compreender que à medida que a globalização se expande, ampliam-se as centralidades em nível mundial, com o surgimento de cada vez mais cidades globais. Isso poderá proporcionar uma maior integração mundial das finanças internacionais, além de dinamizar ainda mais os parâmetros da globalização9. 8 O SOLO URBANO E SEUS MÚLTIPLOS USOS Quando falamos em uso do solo, estamos nos referindo à forma de utilização do solo, ou seja, como esta terra está sendo aproveitada. São exemplos de uso do solo: área urbana, pastagens, florestas e locais de mineração. Até 1970, a tecnologia permitia que fossem feitas apenas interpretações sobre a cobertura do solo. Somente em 1971, quando a Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CNAE) foi transformada em Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é que foram obtidas as condições necessárias para que avançasse o conhecimento sobre a real condição do país (em termos de uso e ocupação do solo). Cada vez mais a demanda por estudos nessa área tem aumentado, resultando em informações a respeito das mudanças no uso do solo que nos permitem verificar a 9 Texto extraído e adaptado de: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br http://www.mundoeducacao.bol.uol.com.br/ http://www.mundoeducacao.bol.uol.com.br/ 37 interferência da atividade humana sobre diversos ambientes naturais. Em 1979, foi aprovada em âmbito federal a Lei nº 6.766, que dispõe sobre o parcelamento do solourbano e dá outras providências. A lei federal determina que cada estado e municípios podem estabelecer sua própria lei de uso e ocupação do solo, de acordo com as peculiaridades regionais e locais. No geral, a ciência das mudanças no uso do solo tem como objetivo compreender a evolução das interações entre os sistemas humanos, ecossistemas, a atmosfera e outros sistemas da Terra através da análise do uso que os humanos fazem da terra. O estudo e mapeamento do uso do solo é importante principalmente para o planejamento territorial, pois determina a capacidade de utilização do espaço. Estes mapas são elaborados geralmente por meio de análise e interpretação de imagens captadas por satélites, que são trabalhadas em diferentes softwares, com a ajuda de uma ferramenta chamada geoprocessamento. O padrão de uso do solo é constantemente modificado pelas ações humanas, e esses mapas nos permitem visualizar o quadro geral dessas mudanças com o passar dos anos. O monitoramento do uso do solo e suas mudanças é importante também para que possamos quantificar melhor, prever, mediar, e nos adaptar a mudanças globais do clima, a perda de biodiversidade, e a outras consequências globais e locais provocadas pelas alterações no uso e na cobertura da terra10. 9 RELAÇÃO CAMPO E CIDADE Como mencionamos anteriormente, os conceitos de urbano e cidade são diferentes, porém necessitam estar articulados. O mesmo ocorre com os conceitos de rural e campo, eles também possuem diferenças em suas conceituações. Enquanto cidade e campo são formas concretas, materialização de um modo de vida, urbano e rural são representações sociais. Historicamente a relação entre cidade e campo é vista por meio da divisão do trabalho em: intelectual e manual, de modo que na cidade é beneficiado o produto oriundo do campo. Como cidade no Brasil entendem-se 10 Texto extraído de: www.ecycle.com.br http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas_tematicos/uso_da_terra/unidades_federacao/se_uso.pdf https://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/1294-aquecimento-global-o-perigo-se-tornou-real.html http://www.ecycle.com.br/ 38 os perímetros urbanos das sedes municipais, territórios e populações considerados urbanizados. A cidade é o centro da organização social e econômica, portanto, nela estão concentrados os principais serviços e produtos que são consumidos tanto pela população da própria cidade, quanto pela população do campo, a qual não consegue produzir tudo aquilo de que necessita. Desta forma, a cidade pressupõe sedentarismo e uma hierarquia socioespacial. Conforme Paul Singer (1993), “a cidade é o modo de organização (sócio)espacial que permite à classe dominante maximizar a extração regular de um mais-produto do campo e transformá-lo em garantia alimentar para sua sustentação e de um exército que garanta a regularidade dessa dominação e extração” (MONTE-MÓR, 2006, p. 07). A cidade não apenas controla e comercializa a produção do campo, mas também passa a transformá-la e agregar valor à esta, expandindo sua esfera de dominação. O campo, que até então era praticamente autossuficiente, se vê dependente da cidade, em alguns casos, até para compra de produtos básicos de vida, como alimentos. Assim, tem-se a subordinação do campo em relação à cidade. 9.1 A Urbanização Brasileira e a Questão Social Durante as décadas, a crescente industrialização, fez com que muitas pessoas deixassem o campo e migrassem para as cidades. Este fenômeno é conhecido como Êxodo Rural (termo que já mencionamos), e produz profundas consequências na organização urbana. No Brasil, este teve maior relevância entre os anos de 1960-1980, quando muitas pessoas deixaram o campo, deslocando-se para às cidades em busca de empregos nas fábricas. Com o avanço no meio técnico, a mão-de-obra no campo foi substituída pelos maquinários, expulsando as pessoas da terra, causando um inchaço urbano. Na cidade, o produto do campo é transformado nas fábricas e, posteriormente revendido aos consumidores. 39 “A indústria impõe à cidade sua lógica centrada na produção e o espaço da cidade organizado como lócus privilegiado do excedente econômico, do poder político e da festa cultural, legitimado como obra e regido pelo valor de uso coletivo, passa a ser privatizado e subordinado ao valor de troca” (MONTE-MÓR, 2006, p. 09). Assim, os produtos deixam de possuir seu valor original, de uso, e passam a ser valorizados pelo custo de troca. Neste processo, o “homem do campo” se torna mais uma vez subordinado à fábrica, pois vê sua produção ser transformada e acrescida de valor11. Fonte de: www.economia-a.blogspot.com 10 O PLANEJAMENTO URBANO: PRÁTICAS E INSTRUMENTOS DE GESTÃO URBANA 10.1 As Origens do Planejamento Urbano no século XIX Foi durante o século XIX que se constatou as primeiras iniciativas deliberadas de Planejamento. O movimento do planejamento mais conhecido foi o "The Garden City 11 Texto extraído e adaptado de: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br http://www.economia-a.blogspot.com/ http://en.wikipedia.org/wiki/Garden_city_movement http://www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/ 40 Movement", fundada em 1898 por Ebenezer Howard, no Reino Unido. Este movimento se caracterizou por criar importantes "Cidades Jardins", que tinham como por objetivo oferecer áreas residenciais rodeadas por cinturões verdes, separadas de forma equilibradas das áreas industriais e agrícolas. Howard, inspirado por ideais utópicos organizou a "The Garden City Association", em 1899, com o objetivo de criar duas cidades na Inglaterra: Letchworth Garden City, em 1903, e Welwyn Garden City, em 1920. Estes dois projetos são o testemunho do sucesso empreendido pelo movimento de criação das "Cidades Jardins". Segundo Rosemary Mellor, a Grã-Bretanha reunia as condições ideais para o surgimento do movimento pela criação das Cidades Jardins: O movimento do planejamento da cidade pode ser datado dos últimos anos do século dezenove. The Garden City Association, mais tarde the Town and Country Planning Association foi fundada em 1899. Havia um senso de que a velha ordem chamava por mudança, que o avanço técnico e o sucesso comercial não tinham trazido prosperidade e felicidade para todos e que intencionais iniciativas tinham de ser tomadas pela opinião informada para efetuar uma reconstrução organizada da sociedade. O movimento do planejamento da cidade era um pequeno grupo de pressão tirando apoio das profissões (principalmente arquitetos, agrimensores e engenheiros, os três elementos que apoiaram a fundação do Town Planning Institute em 1913), com pequena massa de apoio. As suas mais estreitas ligações eram com outros grupos, tais como os Fabians, a Sociological Society e o National Housing Reform Council (fundado em 1900). Todos estes procuravam fornecer ideias a "homens de influência" e permaneciam afastados da violenta e súbita mudança social do período anterior e posterior à Primeira Guerra Mundial. A Grã-Bretanha, então, era a sociedade mais bem organizada do mundo: apenas 10 por cento da força do trabalho permanecia no campo e completamente 80 por cento da população residia em áreas definidas como cidades. E mesmo em comparação com outras sociedades, poderes de controle sobre o desenvolvimento urbano permaneceram mínimos. (MELLOR, 1984, p.211) O planejamento na Grã-Bretanha representou uma reação ao crescimento desordenado das cidades industriais enquanto grandes economias de aglomeração. As ideias do "The Garden City Movement" foram rapidamente assimiladas nas Américas do Norte e do Sul. http://en.wikipedia.org/wiki/Garden_city_movement 41 10.2 Os Conceitos de Planejamento Urbano, Gestão Urbana e Governança Em razão do grande uso efetuado desses termos, torna-se crucial elucidar e estabelecera diferença existente entre os conceitos de planejamento, gestão, governo, gerência e governança. A palavra planejamento é comumente empregada como sinônimo de planificação, em Portugal o correlato do termo é planeamento. A expressão planejamento nas línguas anglo-saxônicas aparece como "planning". Planejar significa antever processos futuros, prognosticar a evolução de tendências, elaborar um plano ou um programa com o objetivo de coordenar ações preventivas ou necessárias contra os efeitos do crescimento territorial desordenado da acumulação capitalista e da urbanização, ou seja, o planejamento pode ser implementado nas escalas territorial, regional e urbano. Segundo Marcelo Souza (2002, p.45), a partir da segunda metade dos anos 80, a expressão gestão passou a ser utilizada em diferentes campos do saber como "sucedâneo" do termo planejamento. Ao explicar a diferença entre planejamento e gestão, Marcelo Souza argumenta: Fonte de: www.acomsistemas.com.br http://www.acomsistemas.com.br/ 42 Planejamento e gestão não são termos intercambiáveis, por possuírem referenciais temporais distintos e, por tabela, por se referirem a diferentes tipos de atividades. Até mesmo intuitivamente, planejar sempre remete ao futuro: planejar significa tentar prever a evolução de um fenômeno ou, para dizê-lo de modo menos comprometido com o pensamento convencional, tentar simular os desdobramentos de um processo, com o objetivo de melhor precaver-se contraprováveis problemas ou, inversamente, com o fito de melhor tirar partido de prováveis benefícios. De sua parte, gestão remete ao presente: gerir significa administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos presentemente disponíveis e tendo em vista as necessidades imediatas. O planejamento é a preparação para a gestão futura, buscando-se evitar ou minimizar problemas e ampliar margens de manobra; e a gestão é a efetivação, ao menos em parte (pois o imprevisível e o indeterminado estão sempre presentes, o que torna a capacidade de improvisação e a flexibilidade sempre imprescindíveis), das condições que o planejamento feito no passado ajudou a construir. Longe de serem concorrentes ou intercambiáveis, planejamento e gestão são distintos e complementares ...Um desafio que se coloca de imediato, ao se debruçar sobre a tarefa de planejar, é o de realizar um esforço de imaginação do futuro. Não deve haver sombra de dúvida quanto ao fato de que o planejamento necessita ser referenciado por uma reflexão prévia sobre os desdobramentos do quadro atual - ou seja, por um esforço de prognóstico. Não há ação, muito menos ação coletiva coordenada, que possa prescindir disso. Descurar indiferenciadamente a importância do planejamento, alegando, dentre outras coisas, que não se pode predizer o futuro, trai uma irresponsabilidade típica da atitude livresca e diletante, em que o comprometimento com a ação transformadora é, quando muito, puramente retórico. (SOUZA, 2002, 45-46) A gestão urbana é aqui conceituada como um processo de concepção, decisão, intervenção, regulação, mediação, que se desenvolve no espaço em função do embate ou conflito entre os diferentes atores sociais. Portanto, dentro dessa conceituação, a gestão urbana se constitui num processo que configura ou condensa, material e historicamente, as relações de forças dos grupos sociais representados politicamente no Estado e estabelecidos economicamente no espaço. Logo, a gestão urbana não é uma função ou incumbência de um grupo restrito de políticos ou de administradores, não é uma estrutura estanque configurada por algumas agências ou instituições governamentais. Também não é um sistema, dado às múltiplas relações dialéticas que o define enquanto processo nos variados contextos históricos; nem um processo cuja ocorrência se restrinja apenas á dimensão meramente superestrutura! da formação social, ou se constitui num conjunto de práticas definidas apenas para reproduzir e consubstanciar a infraestrutura ou a base econômica e material da sociedade capitalista (PIRES, 1988, p.02-06). 43 Nesse sentido os enunciados teóricos da expressão gestão urbana, acima desenvolvidos, se aproximam do conceito estabelecido por Marques et alii (1986, p.18) que a evidencia enquanto "política-administrativa de condução das intervenções e mediações relativas aos diferentes interesses dos agentes sociais presentes contexto das contradições metropolitanas...". Entretanto, segundo a acepção acima, a gestão não deve ser concebida apenas como: "... um conjunto de atividades prioritárias, definição de metas, alocação de recursos, etc, para o planejamento e funções operacionais..."(WELLAR, 1976:9) Esta diferença é aqui estabelecida em função dos pressupostos definidos a investigação dos processos reais existentes numa dada formação social, não negligenciando a importância das contradições presentes entre os atores sociais em questão, nem os aspectos políticos que definem as formas de gestão no espaço. Para Wilheim (1982, p.137) é preciso estabelecer a diferença entre os significados dos termos "governar" e "administrar" para se poder definir o conceito de gestão com mais propriedade, segundo o autor: ...Convém inicialmente diferençar e precisar os termos "governar" e "administrar", ambas atividades necessárias à gestão urbana, pois enquanto se governa uma cidade o que se administra é apenas a máquina burocrática de sua Prefeitura. Assim "governar" é mais do que administrar; significa conter, interpretar anseios da população, e abrange a proposição de metas socialmente desejáveis, ecologicamente prudentes e economicamente viáveis; governar significa estabelecer vetores e estratégias políticas apontando para essas metas e, finalmente, articular e negociar com diversos agentes sociais cujos interesses são conflitantes, a fim de conduzir transformações urbanas ao longo dos vetores acima. Já "administrar" significa articular os recursos humanos, financeiro e informativos de que dispõe a Prefeitura, a fim de maximizar a sua eficiência e de produzir a eficácia necessária para instrumentar a. estratégia estabelecida em sua ação de governar. O conceito de gestão urbana aqui desenvolvido abrange os atos de administrar e governar, envolve de maneira combinada os dois significados enquanto processos complementares e interatuantes no espaço. A maioria das tentativas de conceituação do termo gestão têm em comum, entre os autores, a dificuldade conceitual de estabelecer a distinção entre este conceito e o significado do termo gerência. A diferença principal existente entre os dois termos pode 44 ser evidenciada a partir do campo de atuação e abrangência de ambos os conceitos. A gestão é um processo cujo nível de atuação se desenvolve no âmbito dos conflitos e contradições que abrangem a reprodução da base material da sociedade civil como um todo entendendo-se sociedade civil enquanto palco do embate da luta política e expressão da ideologia e de seus opostos também, como cenário da legitimação dos diferentes atores sociais, ou de sua transgressão no modo de produção capitalista (NASCIMENTO, 1984:3). A gestão urbana abarca aspectos sociais e relações políticas e econômicas, cujos conteúdos e elementos influenciadores se constituem e se configuram historicamente no território e fora dele. A contribuição de inúmeras gestões urbana para a execução das diretrizes básicas da geopolítica no território, foi a de vincular politicamente o espaço, enquanto dimensão de reprodução da sociedade e suas relações contraditórias, ao poder do Estado autoritário e suas instituições; exorcizando ideologicamente os anseios das lideranças organizadas da população dos processos decisórios de gestão. Fonte de: www.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br http://www.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/ 45 Sem embargo, o termo gerência possui um sentidomais circunscrito ao nível de atuação institucional ou organizacional, cujo universo de abrangência não consegue ultrapassar os limites territoriais corporificados pela organização e seu mercado; É a capacidade de produção e concorrência monopólica ou oligopólica que influencia os procedimentos de gerência e planejamento organizacional (GALBRAITH, 1983, p.32). Embora os dois termos possuam conceituação distinta, se relacionam na dinâmica global do processo histórico das formações sociais, pois as mudanças organizacionais produzidas pelas novas formas de gerência condicionam as formas de gestão, que tendem a refletir as exigências de infraestrutura e de condições básicas, para efetiva reprodução do processo de acumulação capitalista. Logo, a diferença entre esses conceitos não pressupõe dissociabilidade, mas complementaridade e singularidade (DELEUZE, 1974, p.06). O termo gestão significa regular ou administrar o contraditório, ou seja, mediar as relações sociais e as condições gerais de produção e de reprodução, a partir de condições específicas às vezes limitadas de recursos e possibilidades. Enquanto o termo gestão implica em regulação, o termo gerência implica em controle. Quando tratamos de gerência de estoques não estamos lidando apenas com a regulação do mesmo, a gerência implica no controle de entrada e saída. Gerir uma usina nuclear representa manter controles rígidos de processos de segurança e prevenção, não deve haver falhas. Portanto, os termos gestão e gerência são também distintos e complementares. Manuel Castells (1984, p.209-210) considera que o surgimento do planejamento urbano está, de um certo modo, atrelado às sociedades industriais avançadas e ao agravamento dos "problemas urbanos, isto é, processos sociais de consumo coletivo". Mas, tal como os críticos do Planejamento, considera-o como uma ideologia, voltada para atuar de maneira deliberada e consciente, através de planos, programas e declarações políticas para promover a ação POLÍTICA e privada, que tem objetivos preestabelecidos em relação às áreas que são objetos de interesses do sistema de atores urbanos. Jean Lojkine crítica a pressuposição de Castells de que o planejamento urbano não pode ser reduzido à política urbana. Segundo Lojkine: 46 Não negamos em absoluto o efeito ideológico e jurídico sobre os agentes sociais (que concorrem para a urbanização) que têm os documentos de urbanismo e, mais amplamente, o conjunto das opções espaciais - regulamentos de ocupação do solo - reagrupados sob o nome de "planificação urbana". Mas, como aliás é notado por F. Godard e M. Castells no último livro citado, é a partir das intervenções públicas reais sobre as contradições urbanas... que se pode "perceber o sentido dos diferentes documentos de urbanismo". Fonte de: www.portoimagem.files.wordpress.com Mas, para nós, o "produto" que é a política urbana - produto de contradições urbanas, de relações entre diversas forças sociais opostas quanto ao modo de ocupação ou de produção do espaço urbano - não pode ser reduzido à "planificação urbana". Ele se compõe de três dimensões: Uma dimensão "planificadora". Uma dimensão "operacional", que é o conjunto das práticas reais pelas quais o Estado central e os aparelhos estatais locais intervêm financeira e juridicamente na organização do espaço urbano. Uma dimensão propriamente urbanística que condensa, materializa e mede, por isso mesmo, os efeitos sociais - no espaço - da par planificação urbana/operações de urbanismo. http://www.portoimagem.files.wordpress.com/ 47 A hipótese que formulamos de uma política urbana coerente não remete, portanto nem à suposta existência de uma "vontade" (que seria o poder de Estado ou um indivíduo particular) ou de uma decisão, nem à de um "projeto" - materializado por um plano e realizado por um conjunto de práticas estatais coercitivas. (LOJKINE, 1981, p. 180-181) Em sua crítica a Manuel Castells, Lojkine considera três dimensões da política urbana atuando de maneira combinada na elaboração do planejamento, e não acredita que o planejamento urbano seja produto da política, de pessoas ou o resultado de uma vontade do Estado. Diferentemente de planejamento, gestão e gerência, o termo Governança, introduzido no final dos anos 80, passou a ser usado com sucedâneo do termo planejamento integrado. A intenção era substituir os instrumentos de ordenamento e de mediação dos governos exercidos pelas antigas fundações de desenvolvimento das regiões metropolitanas (espaços "mesourbanos"), criadas durante o regime autoritário, período este em que estas fundações desempenhavam o papel de garantir a governabilidade em espaços supramunicipais. Ribeiro & Pinto (2007, p. 197-199) nos fornecem uma explicação profundamente esclarecedora que amplia a nossa concepção sobre o conceito de Governança Urbana: ...Usando o conceito adotado por (Christian) Lefèbvre, governança é a capacidade das áreas metropolitanas para estabelecerem ferramentas, mecanismos, instrumentos e ordenamentos para que sejam governáveis. Para o autor, governabilidade é o estado de um território onde é possível executar políticas públicas e ações coletivas capazes de resolver problemas e contribuir para seu desenvolvimento. A caracterização dos diversos modelos de governança metropolitana varia entre autores, conforme os atributos destacados. (Jeroen) Klink parte dos critérios usuais na teoria econômica para avaliar marcos institucionais - eficiência e equidade -, e agrega o atributo de voz (voice) para comparar experiências. A partir desses três critérios, distingue dois grandes tipos de estrutura de governança metropolitana: as que caracterizam pela fragmentação e as consolidadas. As estruturas consolidadas seriam preferíveis onde se valorizassem mais os quesitos de eficiência e equidade: permitiriam captar economias de escala e minimizar externalidades, além de melhor distribuírem ônus e benefícios da 48 provisão de serviços públicos por toda a área metropolitana. As estruturas fragmentadas, por outro lado, propiciariam voz aos cidadãos, pela maior transparência e prestação de contas. A construção de uma boa governabilidade metropolitana não se resume a mudanças rápidas, que visem a implantar sistemas de planejamento e gestão metropolitanas com eficiência e equidade. As mudanças têm forte conteúdo político e requerem o envolvimento das partes interessadas desde o início do processo (KLINK, 2003:5-7) Fonte de: www.select.art.br Lefèbvre distingue duas grandes categorias de governança: a que se produz a partir da construção institucional e a governança por meio de arranjos que, embora não se constituam como unidades de governo local, formalizam-se por meio de procedimentos precisos e instrumentos específicos de cooperação. Os modelos de governança por construção institucional podem compreender arranjos supramunicipais, normalmente com definição de um novo escalão de governo independente das unidades locais. http://www.select.art.br/ 49 Os modos de governança não-institucional podem ser divididos em duas categorias. A primeira lida com estruturas existentes em áreas metropolitanas em que não há instituição metropolitana, sendo as políticas públicas desenvolvidas por órgãos mono ou plurissetoriais, mas infra metropolitanos. A cooperação visa a superar essas limitações...O segundo modo diz respeito a instrumentos específicos desenvolvidos por diferentes países para a coordenação de políticas e cooperação entre atores públicos. São acordos formalizados com restrições setoriais e alcance espacial limitado. As estruturas de governança porventura existentes em regiões metropolitanas estão em descompasso com a complexidade crescente das funções a desempenhar, não apenas no Brasil e em países latino americanos em geral, mas mesmo em países
Compartilhar