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IBM - Alemanha - Nazismo - ESTÁCIO DE SÁ

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A mãozinha da IBM 
Livro revela que a empresa americana pôs sua tecnologia de classificação de dados 
a serviço do Holocausto 
Uma máquina antiga, com as dimensões de um forno de micro-ondas, não costuma 
causar muito impacto nos visitantes do U.S. Holocaust Memorial, em Washington. 
Afinal, as galerias do local trazem itens muito mais contundentes que documentam a 
história do Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial. Mas, para o jornalista Edwin 
Black a presença do velho instrumento retangular com mecanismos expostos, em meio 
a relíquias do aparato nazista de destruição, causou um choque inspirador. O aparelho 
de aparência inócua era um tabulador Hollerith – espécie de bisavô dos computadores 
modernos –, capaz de catalogar e ajudar na análise de dados codificados em cartões 
perfurados. A peça havia prestado serviços inestimáveis aos gerenciadores de campos 
de extermínio. “Quando Hitler e seus comandados precisavam identificar judeus por 
meio de nome, residência ou ascendência, aquela maquininha fazia o serviço com a 
exatidão tão a gosto dos alemães”, disse Black a ISTOÉ. E essa constatação resultou 
no livro IBM and the Holocaust, que teve lançamento mundial simultâneo na segunda-
feira 12. A obra documenta com precisão, digamos, de uma engenhoca Hollerith, as 
relações espúrias entre seu fabricante americano e o esforço totalitário nazista. A 
empresa produtora desta tecnologia era a IBM e suas operações foram tão importantes 
para os desígnios do III Reich que, em 1936, o presidente da companhia foi agraciado 
com uma medalha por Adolf Hitler. 
Thomas Watson, o lendário comandante que transformou a IBM numa das maiores 
corporações do mundo, devolveu a medalha contendo a águia e a suástica em 1941, 
quando sua empresa perdeu o controle da Dehomag, a filial alemã da IBM. Mas, até 
então, as relações entre a companhia e o governo nazista tinham a firmeza de uma 
parceria antiga. “Nos censos de 1936 e 1939, feitos na Alemanha, as máquinas 
Hollerith ajudaram a catalogar quem era judeu ou quem tinha algum tipo de 
ascendência judaica. Também documentaram propriedades, locais de residência e 
outras informações que serviriam ao esforço de extermínio e desapropriação dos bens 
 
 
 
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de judeus pelos nazistas. Em 1939, a IBM estava fornecendo cerca de um bilhão de 
cartões perfurados ao governo alemão. Isso a despeito de memorandos internos darem 
conta de que a Wehrmacht (Exército alemão) estava usando o material ‘para todos os 
propósitos imagináveis’”, diz Black. 
E nem mesmo a utilização desta tecnologia para os fins da chamada “solução final do 
problema judeu” era secreta. Já em 1933, quando Hitler chegou ao poder, Willy 
Heindeger, o chefe da Dehomag e membro de carteirinha do Partido Nazista, 
escreveria a Watson dizendo que as máquinas da empresa iriam ajudar o führer a 
fortalecer a saúde e a pureza do corpo social alemão. “Até 1940 Watson gerenciou 
com zelo pessoal as operações alemãs na Europa ocupada pelos nazistas”, revela 
Black. “Não se pode dizer que Watson aprovasse especificamente o emprego de sua 
tecnologia em campos de concentração. Mas documentos que encontrei mostram 
claramente que as máquinas Hollerith foram usadas em pelo menos 12 destes campos, 
incluindo Buchenwald, Auschwitz e Dachau”, diz Black. 
 
Ação indenizatória – As parcerias entre empresas internacionais e o governo nazista 
não representam novidade. Bancos suíços foram processados por terem embolsado 
bens expropriados das vítimas do Holocausto. A Ford americana, por meio de sua 
subsidiária alemã, ajudou no esforço de dominação nazista. E a vez de a IBM entrar na 
fila dos devedores chegou agora juntamente com a obra de Black. No sábado 10, cinco 
sobreviventes de campos de concentração entraram com uma ação indenizatória na 
corte federal do Brooklyn, em Nova York. “No campo de Dachau existiam 24 
tabuladores, selecionadores e impressoras IBM”, diz a advogada Suzette Malveaux, da 
firma Cohen, Milstein, Hausfeld & Toll, que representa os queixosos. “Os técnicos da 
IBM sentaram com seus clientes nazistas e desenvolveram o sistema. Treinaram os 
burocratas dos campos a usar as máquinas e a fazer os cartões. O pessoal da empresa 
visitava os campos de extermínio com regularidade para fazer a manutenção do 
equipamento”, acusa Suzette. 
 
 
 
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Em meio a este dilúvio de péssima publicidade, a IBM parece agir com a cautela dos 
acuados. “Nós não podemos comentar este livro, pois não tivemos acesso prévio aos 
manuscritos. Mas, se as alegações da obra forem verdadeiras, a IBM condenará 
qualquer ação que tenha ajudado os nazistas”, disse a porta-voz Carol Makovich. 
Edwin Black, filho de sobreviventes de um campo de extermínio e autor do livro The 
transfer agreement, em que relata as relações entre a Alemanha nazista e a liderança 
sionista na Palestina, reconhece que o Holocausto teria acontecido mesmo sem a IBM. 
“Mas a tecnologia da empresa deu uma dimensão muito maior ao pesadelo”, diz. 
Fonte:<http://istoe.com.br/39998_A+MAOZINHA+DA+IBM/>. Acesso em: 12 set. 2017.

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