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Microbiologia Médica – Jawetz e Lange: Capítulo 23 Maria Luíza Lacerda – 30/03/21 • Bactérias aeróbias em forma de bastonete que não formam esporos • BAAR (bacilos álcool-acidorresistentes) = resistem à descoloração por ácido ou álcool • Mais de 200 espécies, em que muitas são saprófitas • Espécies sempre patogênicas = Mycobacterium tuberculosis, Mycobacterium leprae e Mycobacterium bovis (humanos e bovinos) Morfologia e identificação • Microrganismos típicos o Nos tecidos = bastonetes retos e finos o Em meios artificiais = formas cocoides e filamentosas de morfologia variável o Não podem ser classificados como gram-positivos ou gram-negativos o Álcool-acidorresistência = álcool etílico contendo ácido clorídrico descora todas as bactérias, menos as micobactérias o Técnica de Ziehl-Neelsen para identificação das micobactérias o Fluorescência amarelo alaranjada após coloração com corantes de fluorocromo (esfregaços de escarro) • Cultura o Meios seletivo (contém antibióticos para evitar proliferação excessiva) e não seletivo o Meios de ágar semissintéticos = contêm albumina, que neutraliza efeitos tóxicos dos ácidos graxos; menos sensíveis para isolamento primário; meios seletivos para observar a morfologia das colônias e testes de sensibilidade o Meios espessados com ovo = contêm substâncias orgânicas complexas; inclusão do verde de malaquita para inibir outras bactérias o Meios de cultura em caldo = propiciam a proliferação de pequenos inóculos • Características de crescimento o Aeróbias obrigatórias = obtêm energia pela oxidação de compostos de carbono o ↑CO2 ↑crescimento o Velocidade de crescimento lenta o Formas saprofíticas crescem mais rápido, proliferam bem a 22-33°C, produzem mais pigmento e são menos acidorresistentes • Reação a agentes físicos e químicos o Mais resistentes a agentes químicos = superfície celular hidrofóbica o Resistentes ao ressecamento e sobrevivem por longos períodos em escarro seco • Variação o Aspecto das colônias, pigmentação, virulência, temperatura de crescimento e outras características • Patogenicidade das micobactérias o Seres humanos são altamente suscetíveis à infecção por M. tuberculosis o A via de infecção determina o padrão das lesões Componentes dos bacilos da tuberculose • Encontrados na parede celular • Paredes celulares capazes de induzir hipersensibilidade tardia (em cobaias previamente sensibilizados) e alguma resistência a infecções • Lipídios o Ricas em ácidos micólicos (graxos de cadeia longa) o Lipídeos ligados a proteínas e polissacarídeos o Dipeptídeo muramil → granuloma o Fosfolipídios → necrose caseosa o Responsáveis pela álcool- acidorresistência = removida com ácido quente ou perdida com a sonicação das células o Cepas da tuberculose formam “cordões serpentiformes” na cromatografia → virulência = “fator corda” inibe a migração de leucócitos e induz a formação de granulomas crônicos • Proteínas o Induzem a reação tuberculínica o Induzem a formação de uma variedade de anticorpos • Polissacarídeos o Induzem a hipersensibilidade imediata o Atuam como antígenos em reações com soro de indivíduos infectados Patogênese • Transmissão por gotículas na tosse, espirro ou fala de pessoas infectadas • Inalação e depósito nos alvéolos • Sistema imunológico libera citocinas e linfocinas para estímulo de monócitos e macrófagos • Se multiplicam no interior de macrófagos, que podem matar o microrganismo ou ser mortos por ele • 1-2 meses = lesões nos pulmões Patologia • Lesões são determinadas pelo: o Número de micobactérias e sua multiplicação o Tipo de hospedeiro • Duas lesões principais o Tipo exsudativo = inflamação aguda com líquido de edema, leucócitos polimorfonucleares e monócitos ao redor dos bacilos da tuberculose; observada no tecido pulmonar; semelhante à pneumonia bacteriana; pode cicatrizar (exsudato absorvido → necrose) ou evoluir; teste tuberculínico positivo o Tipo produtivo = granuloma crônico com 3 zonas: uma central com os bacilos, uma média com células epitelioides pálidas e uma periférica de fibroblastos, linfócitos e monócitos → formação de tecido fibroso periférico e necrose caseosa da zona central = tubérculo (pode romper e esvaziar seu conteúdo numa cavidade, que pode cicatrizar por fibrose ou calcificação) • Disseminação dos microrganismos no hospedeiro o Bacilos se propagam por canais linfáticos, corrente sanguínea (distribuição miliar), brônquios e trato gastrointestinal o Na infecção primária, se propagam pelos vasos linfáticos para os linfonodos regionais o Pode ocorrer erosão de uma veia por um tubérculo caseoso, liberando seu conteúdo na corrente sanguínea • Local de crescimento intracelular o Residem no interior dos monócitos, das células reticuloendoteliais e das células gigantes → dificulta a quimioterapia e favorece a persistência dos microrganismos Infecção primária e reativação dos tipos de tuberculose • Primeiro contato: o Lesão exsudativa aguda que se propaga rapidamente para os vasos linfáticos e linfonodos regionais o Caseificação e calcificação do linfonodo → Lesão de Ghon o Teste tuberculínico positivo o Frequente na infância e em adultos que não desenvolveram a infecção o Pode comprometer qualquer parte do pulmão (mais comum na base) • Reativação = bacilos que sobreviveram na lesão primária o Lesões teciduais crônicas, formação de tubérculos, caseificação e fibrose o Linfonodos regionais levemente afetados e sem caseificação o Começa geralmente no ápice do pulmão (↑PO2) Imunidade e hipersensibilidade • Desenvolvimento da imunidade celular → aumento da capacidade de localizar os bacilos, retardar sua multiplicação e limitar sua propagação • Hospedeiro adquire hipersensibilidade aos bacilos da tuberculose Teste tuberculínico • Material o Tuberculina envelhecida = filtrado de caldo onde houve crescimento dos bacilos por 6 semanas o DPP (derivado proteico purificado) obtido pelo fracionamento da tuberculina envelhecida → padronizado em UT (unidades de tuberculina) = 1ª potência (1 UT), potência intermediária (5 UT) e 2ª potência (250 UT) • Dose de tuberculina o Altas doses em hospedeiros hipersensíveis podem causar reações graves e agravo da inflamação o Testes = 5 UT em 100μl de solução • Reações à tuberculina o Análise da presença de endurecimento do local após o teste = 5mm para indivíduos susceptíveis, 10mm para indivíduos com probabilidade de infecção recente e 15mm para indivíduos de baixo risco o Sensibilidade, especificidade do teste e prevalência da tuberculose o Positivo 4-6 semanas após infecção o Pode ser falso negativo na quando o indivíduo desenvolve anergia o Positivo pode se tornar negativo após tratamento com isoniazida num indivíduo com conversão recente o Teste positivo indica que o indivíduo foi infectado no passado, o que não implica a presença da doença ativa • Ensaios de liberação de interferon-γ para detecção da tuberculose o Ensaios para aumentar a precisão diagnóstica devido à ambiguidade dos testes tuberculínicos o Baseados nas respostas imunológicas do hospedeiro o Detectam interferon-γ liberado por células T CD4 Manifestações clínicas • Fadiga, fraqueza, perda de peso, febre e tremores noturnos • Lesões avançadas = comprometimento pulmonar → tosse crônica e hemoptise • Meningite ou comprometimento do trato urinário (na ausência de outros sinais) • Na corrente sanguínea → tuberculose miliar = lesões em vários órgãos Exames diagnósticoslaboratoriais • Amostras o Escarro fresco, lavado gástrico, urina, líquido pleural, líquido cerebrospinal, líquido articular, material de biópsia e sangue • Descontaminação e concentração das amostras o Amostras de locais não estéreis devem ser liquefeitas com N-acetil-L- cisteína, descontaminadas com NaOH, neutralizadas com tampão e concentradas por centrifugação o Amostras de locais estéreis podem ser diretamente centrifugadas • Esfregaços o Não é recomendada a coloração da urina e de lavados gástricos o Melhores técnicas = microscopia de fluorescência e coloração álcool- acidorresistente (Ziehl-Neelsen) • Cultura, identificação e teste de sensibilidade o Incubação a 35-37°C em 5-10% de CO2 por até 8 semanas o Culturas negativas = deve-se diminuir a temperatura por 12 semanas o As micobactérias isoladas devem ser identificadas até o nível de espécie, observando velocidade de crescimento, morfologia, pigmentação e perfis bioquímicos o Micobactérias de crescimento rápido = 7 ou menos dias Fotocromógenos = produzem pigmentos apenas na presença de luz Escotocromógenos = produzem pigmentos apenas no escuro Pigmentação Não cromógenos = não são pigmentados o Sondas moleculares de DNA para complexo M. tuberculosis, MAC, M. kansasii e M. gordonae o Cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) • Detecção do DNA o Reação em cadeia da polimerase (PCR) = detecção rápida e direta o Espoligotipagem (baseada em PCR) o Análise MI-RU-VNTR Tratamento • Tratamento primário = quimioterapia específica • Fármacos usados isoladamente → emergência de bacilos resistentes • Principais fármacos = INH e RMP; PZA, EMB e estreptomicina (1ª linha) • Fármacos de 2º linha podem ser tóxicos e menos eficazes • Fatores de risco = emigração recente da América Latina e Ásia, pessoas com HIV ou com risco de infecção etc. • Fatores que contribuem para a epidemia global = tratamento inefetivo, falta de testes/testes incorretos, fracas práticas de controle da infecção Epidemiologia • Fonte mais frequente de infecção = ser humano (vias respiratórias) • Contato próximo e exposição maciça • Desenvolvimento da doença clínica após a infecção pode ter um componente genético • Risco influenciado pela idade, desnutrição, estado imunológico, doenças coexistentes e fatores de resistência do hospedeiro Prevenção e controle • Tratamento imediato e acompanhamento (testes e radiografias) • Tratamento farmacológico de positivos assintomáticos e positivos que recebem imunossupressores = redução da reativação da infecção • Inanição, gastrectomia e supressão da imunidade células por fármacos ou infecção = reduzem a resistência do hospedeiro • Aumento de resistência por um período limitado após vacinação com BCG • Erradicação da tuberculose bovina + pasteurização do leite = queda das infecções por M. bovis • Agrupadas de acordo com a velocidade de crescimento a diferentes temperaturas e com a produção de pigmentos • Identificadas por sondas ou sequenciamento de DNA Complexo Mycobacterium avium (MAC/MAI) • Colônias delicadas e não pigmentadas • Onipresentes no meio ambiente • Raramente provocam doença em seres humanos imunocompetentes • Alto risco de infecção por pacientes com Aids, fibrose cística e proteinose alveolar pulmonar • Fatores de risco = infecção anterior por Pneumocystis jiroveci, anemia grave e interrupção da terapia antirretroviral • Exposição ambiental = colonização das vias aéreas ou do trato gastrointestinal • Qualquer órgão pode ser acometido • Presença de nódulos nos pulmões, lesões endobrônquicas, pericardite, abscessos dos tecidos moles, lesões cutâneas, comprometimento dos linfonodos, infecção óssea e lesões do SNC • Febre, sudorese noturna, dor abdominal, diarreia e perda de peso Mycobacterium kansasii • Fotocromógeno • Meios de cultura complexos a 37°C • Pode causar doença pulmonar e sistêmica • Fonte de infecção incerta • Contágio baixo ou inexistente Mycobacterium scrofulaceum • Escotocromógeno • Saprófita na água e patogênico em adultos (doença pulmonar crônica) • Em crianças = linfadenite cervical crônica → excisão cirúrgica dos linfonodos cervicais acometidos • Resistência aos fármacos Mycobacterium marinum e Mycobacterium ulcerans • Encontrados na água • Crescimento a 31°C • Infectam peixes e provocam lesões cutâneas nos seres humanos • Excisão cirúrgica + fármacos Complexo Mycobacterium fortuitum • Saprófitas encontrados no solo e na água • Crescimento rápido (3-6 dias) • Não formam pigmento • Raramente causam doenças em seres humanos Mycobacterium chelonae- abscessus • Crescimento rápido • Terapia mais fácil • Causam infecções na pele, tecidos moles e ossos após traumatismo ou cirurgias • Indivíduos mais infectados = mulheres idosas, brancas e não fumantes; fibrose cística • Resistentes aos fármacos • Nunca cultivado em meios artificiais • Agente etiológico da Hanseníase • Bacilos encontrados em raspados de pele ou de mucosas de pacientes com hanseníase lepromatosa → interior de células endoteliais dos vasos sanguíneos ou células mononucleares Manifestações clínicas • Início insidioso • Lesões nos tecidos mais frios do corpo (pele, nervos superficiais, nariz, faringe, laringe, olhos e testículos) • Lesões em forma de máculas pálidas e anestésicas • Nódulos infiltrados eritematosos, difusos ou distintos • Distúrbios neurológicos = infiltração e espessamento dos nervos • Anestesia, neurite, parestesia, úlceras tróficas, reabsorção óssea e encurtamento dos dedos • Dois tipos principais: o Lepromatosa = evolução progressiva e maligna, lesões nodulares, acometimento dos nervos, muitos bacilos nas lesões, teste cutâneo negativo com lepromina, imunidade celular deficiente e pele com células T supressoras o Tuberculoide = benigna e não progressiva, lesões cutâneas maculares, poucos bacilos nas lesões, teste cutâneo positivo com lepromina, imunidade celular intacta e pele com células T auxiliares • Podem ocorrer = anemia, linfadenopatia, comprometimento ocular e amiloidose Diagnóstico • Raspados de pele/mucosa nasal com bisturi ou amostra de biópsia da pele do lobo da orelha • Coloração por Ziehl-Neelsen • Não existem testes sorológicos de valor Tratamento • 1ª linha = sulfonas (dapsona) • RMP ou clofazimina incluídas • Minociclina, claritromicina e algumas fluoroquinolonas Epidemiologia • Exposição de crianças pequenas por períodos prolongados • Secreções nasais • Período de incubação = 2 a 10 anos Prevenção e controle • Exame aprofundado dos contatos domésticos e parentes próximos, com exame completo da pele e do SNP (EUA) • Rastreamento terapêutico
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