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- -1 PEDAGOGIA NAS INSTITUIÇÕES NÃO ESCOLARES DIFERENTES FORMAS DE GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES E SUAS DIFERENTES FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1. Distinguir os modelos de gestão das organizações que predominaram no fordismo e na produção flexível: “o paradigma tradicional de gestão” e o “novo paradigma de gestão”; 2. analisar criticamente o “paradigma tradicional de gestão” e a concepção de formação profissional a ele relacionada; 3. relacionar as teorias de gestão historicamente construídas aos paradigmas de gestão e às necessidades do fordismo e da produção flexível. 1 Introdução Você aprendeu nas aulas anteriores como o contexto econômico e político condicionou a existência de várias e importantes mudanças no mundo do trabalho e, consequentemente, na vida dos trabalhadores e das organizações. Aprendeu também a função social das organizações e o papel que elas cumprem na sociedade capitalista. Agora vamos ver como, ao longo da história do século XX, se transformaram as formas de compreender e praticar a gestão das organizações e, com elas, as formas de entender e promover a formação profissional dos seus trabalhadores. Como pedagogo que atua no interior das organizações, entender como elas foram e são administradas é de fundamental importância. Os diferentes modos de compreender a gestão das organizações condicionam a atuação dos trabalhadores. Condicionam o modo como são pensadas, praticadas e avaliadas as ações educativas a que esses trabalhadores estão submetidos no interior das organizações. A formação profissional sempre foi um elemento chave na gestão das organizações, uma vez que a eficácia empresarial sempre dependeu da competência dos trabalhadores. Um breve resumo histórico das estratégias utilizadas pelas empresas para formar seus trabalhadores mostra que, já desde o fim do século XIX, a atualização dos trabalhadores em suas habilidades na realização das tarefas foi sendo percebida como uma condição necessária para o crescimento das organizações. Em 1886, cidades industriais norte-americanas, como Cleveland e Chicago, já possuíam escolas dedicadas à formação profissional. A partir de 1930, com o fordismo, o treinamento profissional ganha um importante status na atividade das organizações, tornando-se parte integral da estratégia empresarial e, em meados dos anos 70, com as mudanças - -3 estruturais do capitalismo e o crescimento tecnológico, a eficiência dos negócios passou a depender mais da contínua atualização e da aprendizagem dos trabalhadores, determinando um novo salto qualitativo para o processo de formação profissional no interior das organizações. A formação profissional foi então historicamente se diferenciando de um elemento técnico para um elemento estratégico nas organizações. (MALVEZZI, 1999) Assim, a formação profissional sempre foi um tema central para a gestão das empresas. A prática administrativa e a psicologia estiveram juntas e se tornaram parceiras nesse processo, sendo responsáveis por uma tradição na história da formação de profissionais das organizações. Essa história foi marcada pela a existência de dois momentos distintos. Nesta aula serão apresentados esses dois momentos, os dois diferentes modos que historicamente caracterizaram a análise conceitual e a prática da formação profissional realizada no interior das organizações: o paradigma tradicional de gestão (fordista) e novo paradigma de gestão (flexível). 1 Gestão Organizacional e Formação Profissional do Trabalhador no Paradigma Fordista As transformações que marcam a passagem do paradigma fordista para o flexível impactaram as organizações, determinando uma mudança profunda no modo de compreender e praticar a gestão das empresas. É possível mesmo afirmar que a gestão empresarial viveu também uma mudança de paradigma, ocorrendo, na perspectiva da formação profissional, a passagem do paradigma tradicional para um novo modelo de gestão. 2 O paradigma tradicional de gestão e a formação para o know how O paradigma tradicional de gestão, desenvolvido ao longo da constituição e consolidação do paradigma fordista, se caracteriza por conceber o processo de produção sob a abordagem da engenharia. Isso significa que a administração foi entendida como um ato regulatório, que visava modelar o processo de produção para o alcance de metas de custo e tempo. Administrar consistia, assim, em controlar o processo de produção em si, acreditando-se que o controle e o monitoramento de todos os eventos desse processo iria garantir a eficiência do resultado. Compreendia-se que a eficácia desse monitoramento do processo produtivo seria assegurada por três elementos: - -4 A formação dos indivíduos era vista, no interior deste paradigma, como um elemento fundamental da cadeia de eventos do processo de produção, devendo ser alvo dos atos regulatórios da administração. Cabia, portanto, monitorar essa formação para que os trabalhadores atuassem da forma prevista, desenvolvendo uma performance que garantisse as metas de produção. (MALVEZZI, 1999) Dessa forma, cabia à gestão atuar no sentido de preparar os profissionais para o perfeito exercício da tarefa: para a posse do . Para o desempenho da função, o trabalhador tinha sua competência profissional reguladaknow how por meio de atividades de ensino voltadas para a aprendizagem dos procedimentos considerados corretos, o que significava que ele era adestrado nas habilidades previstas para o exercício das tarefas. Saiba mais O é a capacidade de realizar a tarefa de acordo com o padrão de resultado e tempoknow-how previstos pelo planejamento. As atividades e tarefas são definidas pelos setores de planejamento, de modo que o que se espera do funcionário é que ele "saiba fazer" aquilo que está prescrito. "Espera-se que o trabalhador aprenda a realizar a tarefa em todas as suas variações possíveis, como acontece com um piloto de avião, que realiza os procedimentos que estão previstos num manual." (MALVEZZI, 1999, P.22). - -5 3 A Administração Científica O paradigma tradicional de gestão é denominado por muitos de paradigma da Administração Científica, pois tem sua base teórica originada nas teorias da Administração Científica e Administração Clássica. A teoria da Administração Científica, formulada por Taylor e desenvolvida por Ford, surgiu com a intenção de Taylor de desenvolver técnicas de racionalização do trabalho operário no fim do século XIX. Sua característica mais marcante é a busca de uma organização científica do trabalho, enfatizando tempos e métodos que garantam o aumento da produtividade industrial. Taylor defendia a divisão do trabalho, a separação entre concepção e execução do processo de trabalho, a seleção científica dos trabalhadores (adequando as aptidões pessoais às necessárias para a realização das tarefas nos postos de trabalho), o controle da produtividade, a remuneração proporcional à produção dos trabalhadores, a conciliação dos interesses entre trabalhadores e administração da empresa (pois, segundo Taylor, ambos tirariam vantagens da elevação da produtividade, recebendo respectivamente maiores salários e lucros), e a ênfase na eficiência na execução das tarefas. (FERREIRA; REIS e PEREIRA, 1997) - -6 4 A Administração Científica Fayol, francês contemporâneo de Taylor, elaborou a Teoria Clássica da Administração e defendeu ideias semelhantes às dele, baseando-se na sua experiência na alta administração. É considerado o pai da Administração. Elaborou quatorze princípios básicos da administração. Entre eles, é possível destacar: É possível afirmar que estes princípios complementam o pensamento de Taylor, não mais na perspectiva do chão de fábrica, mas na ótica da gerência. Ao lado dos 14 princípios, Fayol enunciou as funções da gerência administrativa. O conjunto das funções administrativas forma o processo administrativo. As funções são: planejar, comandar, organizar, controlar e coordenar.O quadro abaixo sintetiza as principais diferenças e semelhanças entre as duas teorias: - -7 Fonte: FERREIRA; REIS e PEREIRA, 1997, p. 25. A formação profissional do trabalhador na administração científica era compatível com atividades de adestramento do trabalhador para a execução das tarefas previstas para o posto de trabalho. Formar era desenvolver os traços previstos nos perfis profissiográficos. Os traços identificados nos perfis profissiográficos eram inicialmente limitados às habilidades motoras. Formava-se para execução física da tarefa. Com o passar do tempo e o aprofundamento dos perfis, os traços passaram a incorporar características cognitivas e de personalidade. As habilidades motoras predominavam no chão de fábrica e as habilidades cognitivas nas gerências e nos escritórios. 5 A Teoria das Relações Humanas Na década de 30, com o advento da teoria das Relações Humanas, a formação profissional ganhou uma dimensão mais psicológica. A teoria das Relações Humanas teve sua origem nas pesquisas realizadas por Mayo na indústria Hawthorne sobre os fatores que intervinham na produtividade operária. Mayo chegou à conclusão de que os fatores físicos (como iluminação, pausas, jornada de trabalho) influenciavam menos a produtividade operária do que os emocionais. De acordo com Mayo, mostrar interesse pelos operários motivava-os mais para o trabalho do que a melhoria das condições físicas proporcionadas (FERREIRA; REIS; PEREIRA, 1997). Essa teoria chamou atenção para o fato de que o trabalhador é um membro de um grupo social e que seu desempenho não é produto de suas capacidades físicas, mas está relacionado à sua capacidade social. Essa teoria trouxe como contribuição o reconhecimento de que o trabalhador não reage como indivíduo, mas como membro de um grupo e que seu desempenho no trabalho não dependia apenas de suas habilidades motoras e cognitivas, mas era uma decorrência do indivíduo como um todo. Ela mostrou que os sentimentos faziam parte do sucesso profissional do trabalhador e que o grupo ao qual ele pertencia dava recompensas e punições para suas ações, o que pautava a direção do seu desempenho profissional. Nessa perspectiva, essa teoria inclui a distribuição de incentivos não monetários para melhor desempenho dos funcionários (MALVEZZI, 1999). - -8 A teoria das Relações Humanas incluiu nos conteúdos dos perfis profissiográficos outros traços e aspectos, como os sentimentos e a influência do grupo social. O reconhecimento da importância desses traços apenas complexificou os processos de formação profissional, mas não alterou a concepção da formação do trabalhador, que continuou subordinada à engenharia. Agora, apesar dos perfis profissiográficos ficarem mais sofisticados, incluindo fatores como expectativas, motivação e valores dos trabalhadores, continuava-se a pensar a formação como o procedimento necessário para a conquista do know how, como buscando o desempenho desejado para o alcance das metas da produção. (MALVEZZI, 1999) É certo que a teoria das relações humanas trouxe uma compreensão mais realista dos determinantes do desempenho profissional. Como consequência, a formação profissional realizada nas organizações nos anos 50 e 60 passou a enfatizar mais os processos cognitivos, incluindo com bastante frequência as dinâmicas de grupo e as dramatizações. 6 A Teoria dos Sistemas Nos anos 70, o advento da Teoria dos Sistemas fez com que a formação e o treinamento passassem a não ser mais entendidos como eventos isolados, mas como eventos sistêmicos. A Teoria dos Sistemas, partindo da crença na existência de um paralelismo entre os organismos vivos e as organizações, entendeu as organizações como um sistema, isto é, como um todo organizado, complexo e unitário, que se diferencia dos demais sistemas sociais pelo seu alto nível de planejamento. Como os seres vivos, toda a organização se insere num meio ambiente, onde tem origem os recursos que ela utiliza para o desenvolvimento de sua atividade (produção ou prestação de serviços) e para o qual se destinam os resultados do seu trabalho. É possível esquematizar a compreensão da relação da organização com o ambiente da seguinte forma: as entradas (ou inputs) do sistema organizacional são os recursos que a empresa extrai do ambiente e compreendem o capital, a matéria-prima, os equipamentos, a mão de obra etc. O processamento, que ocorre no interior da organização, se refere aos procedimentos físicos, materiais, humanos e tecnológicos que a empresa disponibiliza para transformar os inputs em bens e serviços. Por fim, as saídas (ou outputs), são os resultados do processamento e compreendem os produtos e serviços destinados ao ambiente, mais especificamente aos clientes ou usuários da organização. (FERREIRA; REIS e PEREIRA, 1997) - -9 As ideias centrais desta teoria podem ser descritas como: a crença na ideia de que, nas organizações, os homens se relacionam através de um conjunto de papéis e que as pessoas não agem em função do que são, mas dos papéis que representam; a empresa deve encontrar um equilíbrio entre incentivos monetários e não monetários para obter o melhor desempenho de seus funcionários; todos os subsistemas da empresa estão integrados e, portanto, qualquer ação sobre um deles afeta toda a empresa. Entender a formação profissional como um evento sistêmico contribuiu para a diferenciação da preparação profissional em dois processos distintos: o treinamento e o desenvolvimento. Treinar continua sendo visto como um processo voltado para o aperfeiçoamento do desempenho, para o desenvolvimento de habilidades necessárias para a execução das tarefas inerentes ao posto. Já o desenvolvimento foi identificado como a ampliação das potencialidades do indivíduo, tendo em vista sua ascensão na hierarquia de poder da empresa, para a ocupação de cargos que envolvem mais responsabilidade e poder. Apesar da inclusão de projetos relacionados à escalada de poder na empresa, a Teoria dos Sistemas não fez com que a capacitação profissional passasse a incluir projetos voltados à pessoa do trabalhador. Os trabalhadores continuam não tendo influência na definição de suas próprias tarefas. É claro, apesar dos avanços teóricos, na organização fordista não havia espaço para autonomia nem para as decisões dos trabalhadores. - -10 7 Gestão Organizacional e Formação Profissional do Trabalhador no Paradigma Flexível As transformações ocorridas no mundo do trabalho a partir dos anos 70 colocam em questão o paradigma tradicional de gestão das organizações, com sua concepção científica de administração (mesmo que enriquecida com as contribuições das teorias dos Sistemas e das Relações Humanas) e sua visão da formação profissional. De fato, a abordagem pautada na engenharia mostrou-se muito rígida e inadequada para suportar a rapidez das mudanças e as novas necessidades do processo de acumulação capitalista, que agora exige das empresas maior competitividade, supondo não só a incorporação das inovações tecnológicas, bem como novos modos de organizar a produção. (MALVEZZI, 1999) No paradigma flexível, então, o modelo de gestão foi assumindo uma nova feição, reorientando-se por uma estratégia de modernização que incorporava quatro novos elementos: inovação, flexibilidade, descentralização e integração. 8 O Novo Paradigma de Gestão e a Formação para o Know Why As novas formas de organizar os processos produtivos, pautadas no modelo flexível, romperam com os contornos rígidos da separação entre execução e concepção do processo de trabalho, diluindo as bases que sustentaram a fábrica fordista. Torna-se inútil, com a organização da produção em ilhas ou células de produção, planejar e controlar as tarefas dos trabalhadores com rigor. - -11 A tendência da administração, na gestão desses grupos semiautônomos de trabalhadores, é atribuir ao grupo o como fazer. É o grupo que planeja, realiza e avalia seu próprio trabalho. Isso significa que a nova forma de administrarsó pode se materializar se o trabalhador for mais habilitado, mais cooperativo e mais responsável. A tendência da administração, na gestão desses grupos semiautônomos de trabalhadores, é atribuir ao grupo o como fazer. É o grupo que planeja, realiza e avalia seu próprio trabalho. Isso significa que a nova forma de administrar só pode se materializar se o trabalhador for mais habilitado, mais cooperativo e mais responsável. Assim, o novo modelo de eficiência rompe com os controles externos sobre as tarefas dos trabalhadores, agora mais autônomos e com maior capacidade de decisão sobre os processos de trabalho. Os alicerces da capacitação profissional, tal como entendida no paradigma tradicional de gestão, portanto, também ruíram. Conheça mais sobre o novo paradigma de gestão e a formação para o .know why 9 O novo paradigma de gestão e as Teorias de Administração De acordo com Kwasnicka (1995), a Abordagem Contingencial foi elaborada nos anos 60, tomando como base a Teoria dos Sistemas. A abordagem sistêmica já apresentava a organização como um sistema interdependente, resultado de uma interação entre a organização e o meio ambiente. Isso significa dizer que o modo como a organização vai se estruturar depende de seu ambiente interno e externo. Aprofundando essa noção, a Abordagem Contingencial vai mostrar que não existe um jeito correto de estruturar uma organização. Que essa - -12 estruturação será sempre temporária, dependendo da capacidade de a organização se adaptar às novas necessidades e problemas. Assim, a organização passa a ser vista como produto de uma série de variáveis: tecnologia, processos, ambiente, pessoas etc., e a interação entre essas variáveis vai determinar o modelo de organização adotado. A estrutura da organização e seu funcionamento passam a ser vistos como dependentes da sua interface com o ambiente externo. Diferentes ambientes requerem diferentes desenhos organizacionais (CHIAVENATO, 2004) A Teoria da Contingência surge a partir de resultados de várias pesquisas (realizadas, sobretudo, na Inglaterra) que procuraram verificar os modelos de estruturas organizacionais mais eficazes em determinados tipos de empresas. Entre essas pesquisas, é possível destacar as de Burns e Stalker (já apresentadas na aula 4), de Woodward e as elaboradas pelo grupo de Aston, que investigou a burocracia. (CHIAVENATO, 2004). Segundo Motta (2000), Woodward e seus colaboradores observaram que existiam relações entre tecnologia e estrutura organizacional. Suas pesquisas deixaram claro que mudanças na tecnologia tendem a forçar mudanças organizacionais. O conjunto dessas pesquisas permitiu mostrar que as contingências externas oferecem oportunidade, necessidades, restrições e ameaças que influenciam a estrutura organizacional e os processos internos das empresas. Trouxeram a noção de que não há uma forma ideal de organização, - -13 [...] porém, em determinadas circunstâncias, poderá haver um modelo ótimo que leve em consideração um número de contingências do momento, como tecnologia, estrutura, autoridade, relacionamento, mercado, economia, sociedade, cultura, entre outros. (KWASNICKA, 1995, p. 143) Para Chiavenato (2004), a Teoria da Contingência desloca a visão de dentro para fora da organização. Enfatiza as demandas ambientais sobre a dinâmica organizacional. É no ambiente que estão as explicações causais das características das organizações. Assim, para a Abordagem Contingencial, diferentemente das abordagens teóricas do paradigma tradicional de gestão, não há uma única melhor maneira de se organizar. Tudo depende das características ambientais com as quais as organizações se defrontam. 10 A Administração Estratégica e a Administração Japonesa A Abordagem Contingencial pode ser vista como um enfoque de transição para o novo paradigma de gestão. De fato, novas teorias surgem após os anos 70 para sustentar teoricamente as novas condutas administrativas, tais como a administração japonesa e a estratégica, consolidando o novo paradigma de gestão das empresas. A Teoria da Administração Estratégica tem sua origem no enfoque do planejamento estratégico, que, apesar de ter surgido nos anos 60, ganhou amplitude e profundidade nos anos 80, quando os administradores passaram a perceber que a definição da missão e da estratégia empresarial favorecia o alcance dos objetivos institucionais. A administração estratégica tem como objetivo o desenvolvimento: dos valores da empresa, de sua capacitação gerencial e do processo de tomada de decisão estratégica em todos os níveis hierárquicos. Assim, a administração estratégica visa capacitar todos os funcionários para pensar estrategicamente. Partindo da compreensão da missão da empresa (daquilo que a diferencia das demais), a administração estratégica tem como propósito realizar o planejamento estratégico para enfrentar os desafios que a empresa encontra no ambiente para realizar sua missão. O planejamento estratégico leva em consideração: a conjuntura atual, os objetivos que se quer alcançar, os recursos disponíveis, o ambiente, as estratégias que serão adotadas etc. (FERREIRA; REIS; PEREIRA, 1997) A Administração Japonesa nasceu no chão da fábrica Toyota com a filosofia básica de evitar o desperdício e de promover a melhoria constante da qualidade. Além dessa filosofia, são aspectos centrais do modelo japonês: o just-in-time (sincronização do fluxo de produção) e o kan-ban (sistema de informação visual que aciona e controla a produção). De modo geral, a administração japonesa apresenta as seguintes características: a) administração participativa, o que supõe a participação dos funcionários na negociação das metas de produção, a realização de trabalhos em grupo e a participação nos resultados; b) o planejamento estratégico; c) o desenvolvimento de uma visão sistêmica; d) a supremacia do coletivo (o coletivo prevalece sobre o individual, o - -14 que significa que os funcionários devem assumir os objetivos da empresa como fazendo parte dos requisitos necessários para sua satisfação profissional); e)a qualidade total, que envolve não só a qualidade, mas também a redução de custos e o desenvolvimento de novos produtos, e é geralmente posta em prática através dos Círculos de Controle da Qualidade - CCQs - grupos pequenos que assumem voluntariamente a responsabilidade pelo controle da qualidade; f) o aumento da produtividade, considerado o objetivo maior da empresa (FERREIRA; REIS; PEREIRA, 1997). É necessário, por fim, compreender a importância do estudo dos distintos paradigmas de gestão e das Teorias de Administração a eles relacionadas para a atuação do pedagogo nas organizações. É preciso inicialmente compreender que, no paradigma fordista, os trabalhadores são formados para agir em consonância com as exigências do posto de trabalho. Importa adequá-los e formá-los (e isso é muitas vezes tarefa do pedagogo) para o desempenho eficiente das tarefas prescritas. Nenhuma reflexão, nenhuma abrangência na formação. Adestra- se o trabalhador, de forma pontual, para realizar fazeres específicos. É importante que você reflita a respeito da dimensão política dessa formação. • Uma formação deste tipo interessa aos trabalhadores? Contribui para os processos de emancipação destes sujeitos? • Até que ponto este novo modelo de formação interessa aos trabalhadores? Certamente trata-se de uma formação menos pontual, menos fragmentada, mas será que contribui para a autonomia, ampliação da cidadania e para o desenvolvimento das competências políticas necessárias aos trabalhadores? • Por outro lado, no paradigma flexível, o trabalhador é formado no interior das organizações para pensar, tomar decisões, saber os porquês das suas ações. Não é mais treinado para desenvolver habilidades simples, mas para desenvolver competências mais complexas. Para que você possa refletir sobre essas questões com mais pertinência, convém pensar que as organizações, tanto as modernas quanto as hipermodernas, sãoadministradas com foco no aumento de produtividade, buscando evitar conflitos e assegurar a adesão dos trabalhadores ao processo de acumulação capitalista. Qualquer que seja a proposta de gestão adotada, qualquer que seja a teoria em que essa gestão esteja fundamentada... A diferença agora é que novas dimensões do trabalhador são postas a serviço do capital. Não mais a destreza nem a força física do trabalhador como no fordismo, mas a capacidade de tomar decisões, inovar e compreender os significados de suas ações. O trabalhador passa a ter que pensar com a cabeça da empresa, colocando sua subjetividade a serviço do processo de acumulação capitalista. Para que essas questões fiquem mais claras para você, pense em como as organizações são administradas. Reflita sobre as diferentes Teorias de Administração apresentadas no quadro a seguir. Pense que o conhecimento que elas apresentam foi construído a partir de uma visão positivista de ciência, expressando os interesses de manutenção das relações de dominação presentes na sociedade capitalista. • Ao fim desta aula, o que você observou após a leitura atenta do Quadro das Teorias da Administração? • Você percebeu a visão de homem (trabalhador) e de organização que estão implícitas nas diferentes teorias? • Pôde ver como nas teorias relacionadas ao paradigma fordista o trabalhador é visto de modo mais • • • • • • - -15 • Pôde ver como nas teorias relacionadas ao paradigma fordista o trabalhador é visto de modo mais passivo, como sujeito adestrável e manipulável? • Como nas teorias relacionadas ao paradigma flexível o trabalhador é supostamente mais valorizado e apresentado como um colaborador e parceiro da organização? • Percebeu como, apesar dessas diferenças, o trabalhador é visto como indivíduo submetido à organização? • Como um sujeito cujos interesses se fundem com os da organização, ocultando os reais conflitos existentes nesta relação trabalhador/organização? Se você conseguiu perceber essas questões, certamente alcançou os objetivos propostos para esta aula e está pronto para prosseguir seus estudos. O que vem na próxima aula Na próxima aula, você vai estudar: • Da mesma forma que as organizações viveram modelos distintos de gestão durante os paradigmas fordista e flexível, foram implementados também, nesses dois momentos, dois modelos de gestão dos funcionários: o "paradigma tradicional de gestão de funcionários" e o "novo paradigma de gestão de funcionários", isto é, duas formas diferentes para tratar da administração de recursos humanos. • Na próxima aula, você estudará o "paradigma tradicional de gestão de funcionários", isto é, o modelo de gestão de funcionários que foi desenvolvido para dar suporte ao modelo tradicional de gestão, desenhado nas organizações modernas ao longo do fordismo. • Você terá a oportunidade de identificar como as organizações administraram seus funcionários no fordismo, estudando as características, conceitos e funções da gestão de funcionários enquanto sistema de RH, tanto em uma perspectiva positivista, quanto em uma perspectiva crítica. Em uma perspectiva positivista, a gestão de funcionários no paradigma fordista será apresentada como um conjunto de práticas que configuram um modelo centralizado, reativo e burocrático, desenvolvido pela área de RH para garantir o "empenho" dos trabalhadores. Já em uma perspectiva crítica, a atuação da área de RH no fordismo será apresentada como um processo voltado para garantir a alienação dos trabalhadores nas organizações modernas, por meio do controle e da coerção, exercidos, basicamente, pela figura do chefe em uma organização do tipo paternal. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Estudou as diferenças entre o processo de formação profissional dos trabalhadores no interior das organizações nos paradigmas fordista e flexível. • Você viu como, no paradigma fordista, cabia à gestão monitorar a capacitação dos trabalhadores para que eles agissem da forma prevista, de modo a garantir as metas de produção. Cabia, portanto, à gestão atuar no sentido de preparar os profissionais para o perfeito exercício da tarefa: para a posse do know how, isto é para que o trabalhador fosse capacitado para desempenhar as tarefas de acordo com o padrão de resultado e tempo previsto pelo planejamento. O trabalhador era adestrado nas habilidades previstas para o exercício das tarefas. Para cada posto de trabalho, eram previstos perfis profissiográficos, isto é, os requisitos exigidos de um indivíduo para realizar com precisão as tarefas e operações prescritas para cada posto. Com base nesse perfil é que os trabalhadores eram treinados. Como cada posto tinha seu perfil definido, e cada trabalhador apresentava um conjunto de habilidades, o treinamento recaía nas • • • • • • • • • - -16 cada posto. Com base nesse perfil é que os trabalhadores eram treinados. Como cada posto tinha seu perfil definido, e cada trabalhador apresentava um conjunto de habilidades, o treinamento recaía nas habilidades exigidas no perfil, mas que os trabalhadores não possuíam. A defasagem entre o perfil definido e as habilidades que o indivíduo apresentava indicava a necessidade de treinamento. O treinamento era então um instrumento para o sucesso na realização das tarefas e tinha como objetivo aproximar o desempenho do trabalhador do padrão esperado e definido previamente pelo planejamento. Era o treinamento que dava condições ao trabalhador desempenhar as tarefas de sua função com a precisão, o ritmo e a sequência previstos no planejamento. • Você viu também como no novo paradigma de gestão a formação profissional está voltada para que o trabalhador saiba o porquê de suas ações, para o know why, já que na produção flexível exige-se que o operário antecipe os resultados, conceba o processo de trabalho e crie soluções para os imprevistos. Nesse paradigma, a formação profissional passa a ser vista como algo que vai além da aquisição de informações, atitudes e habilidades, para incluir a preparação mais ampla dos trabalhadores: eles agora passam a ser incentivados a desenvolver competências que os tornem capazes de construir novos significados e referenciais para sua atuação. Assim, o processo de formação profissional tem como meta capacitar os sujeitos para pensar e para analisar os significados de suas ações, a fim de que sejam capazes de encontrar novos caminhos e alternativas para os desafios que enfrentam no cotidiano de trabalho. O indivíduo precisa saber os porquês dos modos de fazer que adota no exercício de suas tarefas e funções. Os programas de educação profissional e treinamento da atualidade abandonam os perfis profissiográficos e passam a ser realizados em serviço, pois espera-se que os trabalhadores desempenhem com criatividade suas tarefas. Tendem a considerar o sujeito como uma totalidade e a enfatizar a interação entre os indivíduos, pois espera-se que os trabalhadores saibam atuar em equipe. • Olá! 1 Introdução 1 Gestão Organizacional e Formação Profissional do Trabalhador no Paradigma Fordista 2 O paradigma tradicional de gestão e a formação para o know how 3 A Administração Científica 4 A Administração Científica 5 A Teoria das Relações Humanas 6 A Teoria dos Sistemas 7 Gestão Organizacional e Formação Profissional do Trabalhador no Paradigma Flexível 8 O Novo Paradigma de Gestão e a Formação para o Know Why 9 O novo paradigma de gestão e as Teorias de Administração 10 A Administração Estratégica e a Administração Japonesa O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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