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Principais alterações que podem ocorrer em cada período anestésico nas diversas espécies EQUINOS Os principais eventos indesejáveis que podem ocorrer durante a fase de indução da anestesia são: 1. Administração perivascular de agentes anestésicos Alguns fármacos anestésicos possuem pH diferente ao do espaço extravascular e sua administração acidental fora do espaço vascular pode levar, além de anestesia inadequada, a um processo inflamatório. Dependendo do volume de anestésico injetado e também da diferença de pH entre o anestésico e o tecido, pode ocorrer também necrose tecidual extensa (Hubbell, 1991). Os anestésicos de maior uso na prática clínica e que têm maior potencial de produzir necrose tecidual por possuírem pH mais alcalino, são o tiopental e o éter gliceril-guaiacol (EGG). Para a prevenção dessa complicação, recomenda-se o uso de cateteres intravenosos para a administração de medicamentos no período préanestésico. O uso de agulhas não é aconselhável, mas, se necessário, deve-se usar aquelas de maior comprimento (40x12mm, 40x15mm) que permitem maior confiabilidade de localização intravenosa. A realização do barbotage (aspiração de sangue e posterior injeção) é um artifício para se verificar se a agulha permanece na veia. É importante lembrar-se da colocação asséptica do cateter, assim como a limpeza da área onde será realizada a administração dos anestésicos (Massone, 2003). 2. Sedação inadequada Animais que não receberam quantidades adequadas de tranqüilizantes podem tornar-se estressados durante a indução, o que vai levar a uma maior liberação de catecolaminas, estimulação indevida da animal e maior dificuldade de contenção do mesmo. Sedação inadequada invariavelmente resulta em doses adicionais ou excessivas de anestésicos que produzam decúbito e anestesia e predispõe, desnecessariamente, o animal à depressão cardiopulmonar (Muir, 1991a). 3. Embolismo gasoso Esta reação tem correlação com problemas que ocorrem durante a cateterização, sendo facilmente produzida quando o cateter não é devidamente vedado. A pressão negativa criada dentro da cavidade torácica durante a inspiração normal produz pressões subatmosféricas na veia jugular do animal, o que leva à sucção de ar pelo cateter aberto ou pela agulha (Muir, 1991a). Embolismo gasoso severo impede a circulação correta de sangue no átrio direito e na artéria pulmonar, podendo resultar em dispnéia, taquicardia e excitação. 4. Traumatismos ao animal Esses eventos podem ser decorrentes da contenção inadequada do animal, em conseqüência, por exemplo, de excitação durante a indução anestésica. Nessa fase, um dos principais pontos de contenção é a cabeça do animal, que deve estar adequadamente sustentada para se evitar traumas. Essa contenção pode ser feita por meio do cabresto, e também se apoiando o animal no tórax e quarto posterior para favorecer uma queda mais suave. No caso de cirurgias ortopédicas, recomenda-se a imobilização do membro acometido para se evitar maiores avarias ao animal (Teixeira Neto, 1999). Para animais indóceis, é recomendável a administração intravenosa da medicação pré-anestésica na sala de indução, imediatamente antes do agente indutor, prevenindo a ataxia acentuada, decúbito precoce e o trauma autoinflingido. 5. Apnéia transitória e hipoventilação A maioria dos fármacos ou combinação de fármacos utilizados na indução anestésica é capaz de provocar apnéia transitória ou hipoventilação. Barbitúricos e agonistas alfa-2 são os agentes de ação central que mais reconhecidamente tem esse efeito. 6. Depressão cardiorrespiratória e choque As paradas cardiorrespiratórias são uma das principais causas de óbito na anestesia de eqüinos (Johnston et al., 2002; Bidwell et al., 2007). Os fatores associados à anestesia que predispõem ou são capazes de produzir uma emergência cardiopulmonar incluem administração de medicação préanestésica, injeções intra-arteriais, anestésicos per si, posição do animal, obstrução de vias aéreas, uso indevido de aparelhos de ventilação, técnicas de monitoração insuficientes, falha de aparelhos e erro humano. Quaisquer desses fatores podem provocar sozinhos ou em conjunto, a falência cardiovascular que pode levar à morte. COMPLICAÇÕES TRANS-ANESTÉSICAS 1. Posicionamento do animal na mesa cirúrgica O decúbito é um dos fatores complicadores de maior significado na anestesia em eqüinos, podendo ocasionar diminuições nos valores de pressão arterial e da capacidade residual funcional (CRF) pulmonar, resultando em hipoxemia. 2. Hipotensão A hipotensão é resultado direto da anestesia, de procedimentos cirúrgicos e posicionamento, mas eventualmente outros fatores como desidratação, hemorragia, choque, hipovolemia, vasodilatação periférica, desequilíbrios ácido-básicos e hidro- eletrolíticos e o desenvolvimento de arritmias cardíacas com diminuição da contratilidade miocárdica podem agravar a situação (Muir, 1991a; Hubbell, 1991). 3. Bradicardia O intervalo desejável para se manter a freqüência cardíaca (FC) durante a anestesia é de 30 a 50 bpm. Bradicardia pode ser provocada por tônus vagal excessivo, distúrbios de condução atrioventriculares, hipercalemia, hipotermia e hipóxia severas, estágio final de falência de órgãos e fármacos como opióides, xilazina e colinérgicos (Muir, 1991a). Valores de FC inferiores a 25 bpm podem reduzir significativamente o débito cardíaco, levando à isquemia e hipóxia tecidual, não importando se a PAM está no intervalo desejável. COMPLICAÇÕES PÓS-ANESTÉSICAS 1. Traumatismos e recuperação violenta As fraturas durante o pós-operatório são uma das principais causas de óbito na fase de recuperação. Tal complicação pode ser favorecida pelo temperamento do animal, pela idade e pelo tipo de cirurgia (Bidwell et al., 2007). Ocorrem principalmente devido à excitação ou à dor no pós-operatório imediato. O animal apresenta-se agitado e pode tentar ficar em posição quadrupedal sem estar completamente consciente, apresentando incoordenação e predisposição à injúria 2. Miosite pós-anestésica A miosite é caracterizada por claudicação de um ou mais membros no pós-cirúrgico, normalmente acometendo os membros pélvicos e a musculatura extensora dos mesmos. Está atualmente ligada à hipotensão trans-operatória e ao prolongamento do tempo cirúrgico. (Hubbell, 1984; Young e Taylor, 1993; Hubbell, 2004) Os grupos musculares mais atingidos são o tríceps, peitoral, deltóide e masséter quando em decúbito lateral, e glúteo e longíssimo dorsal quando em decúbito dorsal. Eventualmente, o tríceps braquial pode ser acometido bilateralmente, independente do decúbito (Muir, 1991a). Na miosite pós-anestésica o animal pode apresentar mioglobinúria, sudorese, edema e enrijecimento dos grupos musculares acometidos, além de aumento significativo das enzimas musculares (principalmente CK) nas primeiras 4 a 6 horas após a lesão muscular. 3. Paralisia nervosa A paralisia nervosa é decorrente principalmente do decúbito e os fatores que vão influenciar no surgimento da claudicação pós-cirúrgica (resultado tanto de miopatia quanto de neuropatia) são o tempo cirúrgico, peso e estado nutricional do animal, anestésico utilizado, posicionamento na mesa cirúrgica e acolchoamento da mesma (Muir, 1991a). Animais que desenvolvem neuropatia normalmente não apresentam dor, não têm seus músculos dos membros com temperatura aumentada, enrijecidos ou edemaciados, e freqüentemente demonstram a claudicação no membro que estava comprimido durante a cirurgia BOVINOS CÃES E GATOS As complicações mais frequentes em anestesia de pequenos animais são causadas por planos anestésicos profundos, insuficiência respiratória, falha circulatória e hipotermia. Planos anestésicos profundos levam a depressão respiratória e/ou apneia, especialmente quando se utilizam anestésicos voláteis halogenadosde indução rápida (halotano, isoflurano). A insuficiência respiratória (hipoventilação) pode ocorrer por falha central em responder às alterações das PaO2 e PaCO2 (sobredosagem anestésica, aumento da pressão intracraniana, hipotermia grave), por obstrução parcial do tubo endotraqueal (secreções), por agravamento de afecções respiratórias preexistentes (pneumonia, asma, neoplasia, efusão pleural) e por excessivo espaço morto mecânico no circuito anestésico. Perdas de sangue intra-operatórias podem reduzir a pressão arterial e induzir choque hemorrágico ou hipovolémico. Pode também ocorrer uma diminuição da resistência vascular sistémica e inadequado gasto cardíaco, que levam a hipotensão. A falha cardíaca ocorre devido à elevada frequência cardíaca (predispõe a arritmias graves) ou volume circulatório inadequado (resultante de uma fraca contractilidade do miocárdio ou hipovolemia). A bradicardia pode ocorrer em planos anestésicos muito profundos, uma vez que todo o metabolismo diminui (sendo conveniente superficializar a anestesia) e quando existe um aumento do tónus vagal por manipulação cirúrgica. A hipotermia leva a uma redução da ventilação alveolar, da frequência cardíaca e da contractilidade do miocárdio, aumenta a fragilidade eritrocitária e a viscosidade sanguínea e prolonga o tempo de recuperação anestésica. Recuperações prolongadas reduzem a eliminação dos agentes anestésicos voláteis e retardam a redistribuição e metabolização dos agentes injectáveis. Para além disso, os tremores musculares devido à diminuição da temperatura elevam o consumo de O2 e a concentração plasmática de catecolaminas
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