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Diagnóstico das hepatites virais agudas Acadêmica: Juliana Rabelo da Silva Sousa Hemograma Leucopenia por neutropenia e linfopenia, logo evoluindo para linfocitose. Aumento do percentual de linfócitos atípicos pode ocorrer, assemelhando-se a mononucleose infecciosa. Leucocitose neutrofílica é rara e geralmente ocorre nos casos de hepatite fulminante. VHS normal. Hepatograma Síndrome hepatocelular: injúria generalizada aos hepatócitos, suficiente para fazer com que liberem para o plasma as aminotransferases, a ALT (TGP) e a AST (TGO). Espera-se um grande aumento das aminotransferases, habitualmente acima de 10x o limite superior da norma- lidade. A ALT fica mais alta que a AST. A magnitude na elevação das aminotransferases não guarda relação direta com o prognóstico, ainda que um aumento exuberante indique maior extensão do dano hepático (mais necrose hepatocitária), não necessaria- mente significa que o pct tem maior chance de evoluir para falência hepática aguda. Da mesma forma, indiví- duos que evoluem rara falência hepática aguda não necessariamente apresentaram aumentos muito intensos das aminotransferases no início do quadro. É uma das causas de hiperbilirrubinemia e icterícia. A bilirrubina total pode chegar a níveis >20 mg/dl. Existe aumento das duas frações, mas o predomínio costuma ser da bilirrubina direta. Bilirrubinas na lesão hepatocelular A injúria da célula hepática (hepatócito) compromete mais a etapa da excreção de bilirrubina para os canalícu- los biliares do que a captação e conjugação. Isso vem do fato de a excreção de bilirrubina ser um processo de- pendente de ATP. Por isso, nas hepatites é comum o aumento predominante da bilirrubina direta. Alguns pcts evoluem com componente colestático, com elevações moderadas da fosfatase alcalina e gama-GT. Ressalta-se que todos os pcts com hepatite viral aguda que estejam evoluindo com obnubilação ou torpor, faz- se necessária a avaliação da síntese hepática através da dosagem da albuminemia e do tempo e atividade de protrombina, para confirmar precocemente um eventual diagnóstico de insuficiência hepática fulminante. A encefalopatia hepática, a hipoalbuminemia e o alargamento do TAP são os principais parâmetros de mau prognóstico, pois significam insuficiência hepática aguda. Provas de função hepática São exames que medem a função do hepatócito: síntese de proteínas e fatores da coagulação, excreção de bilirrubi- na e detoxificação de substâncias como a amônia. As enzimas hepáticas (produzidas no parênquima hepático propriamente dito, como as aminotransferases, mas que também engloba as enzimas canaliculares, expressas na superfície interna dos canalículos biliares, como fosfatase alcalina e gama-GT) não são consideradas provas de função hepática, apesar de pertencerem ao hepatograma. As verdadeiras provas de função hepática são: Albuminemia Tempo e atividade de protrombina (TAP), com INR Bilirrubinas Amonemia (dosagem da amônia sérica) Diagnóstico de hepatite B Antígenos virais 1. HBsAg: antígeno de superfície, expresso pelo envoltório lipoproteico. É produzido em grande quantidade, sendo facilmente detectado por exames sorológicos mesmo quando não se encontra em estado replicativo. Cir- cula na forma de pequenas partículas livres, esféricas ou tubulares, cujas concentrações plasmáticas são cerca de 1.000x > que as do vírus completo. Por este motivo, é um marcador da presença do HBV no corpo, esteja o vírus ativo ou não. Em alguns indivíduos determina a formação de um anticorpo específico, o anti-HBs. O surgimento do anti-HBs é seguido pelo desaparecimento do HBsAg no sangue, indicando a cura da hepatite B (e aquisição de imunidade duradoura), haja vista seu caráter neutralizante. No entanto, existe rara exceção. 2. HBcAg: antígeno do núcleo central denso, não é secretado para o plasma, o que justifica sua ausência no san- gue circulante. Está escondido pelo envoltório viral lipídico. Entretanto, mesmo assim possui atividade antigê- nica e determina a formação de um anticorpo, o anti-HBc. O anti-HBc é o principal marcador da infecção pelo vírus B (ativa ou curada). Este anticorpo não é neutralizante, e a sua presença não indica a cura da infecção. 3. HBeAg: antígeno e, é secretado na corrente sanguínea pelos hepatócitos infectados somente na vigência de elevadas taxas de replicação viral. Está localizado no core viral, próximo ao HBcAg, mas, ao contrário deste, é fartamente secretado durante a fase de replicação viral, sendo solúvel e facilmente detectável nesse momento da infecção. Quando o HBeAg está positivo, significa que há um grande número de vírions completos circu- lando (alta viremia), portanto, a infectividade da doença é grande. Sua presença no sangue pode determinar a formação de um anticorpo, o anti-HBe. Quando este último aparece, o HBeAg se torna negativo, e a infectivi- dade diminui. 4. HBxAg: antigenox, molécula que estimula a transcrição de genes virais e celulares, que inclusive pode estimu- lar a transcrição de genes de outros vírus, como o HIV, quando há coinfecção. Resposta imune Anticorpos específicos contra o HBV, juntamente com a pesquisa por antígenos e ácidos nucleicos virais, são im- portantes indicadores para estágios específicos da doença. A IgM anti-HBc é um marcador do início da infecção, enquanto que anticorpos específicos para o HBeAg e para o HBsAg indicam uma resolução favorável para a infec- ção. Estudos recentes mostram que a avaliação da carga viral do paciente é o marcador mais informativo sobre a evolução da doença hepática causada pelo HBV. Os anticorpos anti-HBs são neutralizantes e capazes de mediar imunidade preventiva, sendo induzidos pela vacinação. Os anticorpos anti-HBc e anti-HBs persistem por longos períodos no indivíduo, sendo que o anticorpo anti-HBs confere proteção contra o vírus. Diagnóstico: Ao analisar os marcadores sorológicos para hepatite B, deve-se verificar primeiro o mais precoce e importante antígeno, o HBsAg. A seguir, observa-se o anti-HBc, mantendo especial atenção para as frações IgG e IgM. O diagnóstico da hepatite B aguda depende apenas do HBsAg e do anti-HBc IgM. O anti-HBs, o HBeAg e anti-HBe, só costumam ter importância em situações especiais. HBsAg positivo: A positividade para este antígeno indica a presença do HBV no organismo, sendo compatível com as seguintes situações clínicas: 1. Hepatite B aguda 2. Hepatite B crônica 3. Estado de portador assintomático do vírus HBsAg negativo: A negatividade do HBsAg torna bastante improvável, mas não exclui a possibilidade de hepatite B. Isso porque existe um momento no curso da infecção aguda, geralmente no final da fase ictérica, em que o HBsAg pode começar a circular em níveis indetectáveis ou estar realmente ausente. Tal situação é conhecida como janela imunológica e justifica a presença de um resultado falso negativo. Outra explicação é a presença de níveis muito baixos, aquém da sensibilidade do exame sorológico, ou ainda, infecção por um “mutante de escape”. Esta condição vem sendo chamada de “hepatite B oculta”. HBsAg positivo ou negativo/Anti-HBc (IgM) positi- vo: Se o HBsAg estiver positivo, então o próximo passo deve ser a observação do anti-HBc. Se houver positivi- dade de IgM para o anti-HBc, está fechado o diagnósti- co de hepatite B aguda. Se o paciente for negativo para HBsAg e positivo para IgM anti-HBc, deve ser conside- rado na janela imunológica para o antígeno de superfí- cie, e o diagnóstico de hepatite B aguda recente também deve ser firmado. Resumindo, o encontro de IgM anti- HBc fecha o diagnóstico de hepatite B aguda, quaisquer que sejam os resultados dos outros marcadores. HBsAg positivo / Anti-HBc (IgM) negativo - (IgG) positivo: O anti-HBc positivo apenas para IgG só deixa a possibilidade de hepatiteB crônica. A presença de HBsAg positivo por um período > 6 meses define o estado de portador crônico do HBV. Entretanto, muitas vezes, não se tem este dado cronológico, o que torna necessário a avaliação de outros parâmetros. HBsAg negativo / Anti-HBc (IgM) negativo - (IgG) positivo: Quando há somente o anti-HBc IgG positivo, surge a seguinte dúvida: será que o pct é possuidor de hepatite B crônica e o HBsAg está falsamente negativo (porque circula em níveis muito baixos), ou será que o HBsAg está realmente ausente, e a presença da IgG representa apenas uma infecção por vírus B antiga, já completamente curada, numa espécie de cicatriz imuno- lógica? O anti-HBs é que determina a evolução para a cura. Se este anticorpo estiver presente (IgG anti-HBc + / anti-HBs +), é sinal que o paciente teve sim um episódio de hepa- tite no passado, mas curou-se completamente e adquiri imunidade (cicatriz imunológica). Por outro lado, se este anticorpo estiver ausente (IgG anti-HBc + / anti-HBs –), nos restam duas possibilidades: o paciente tem hepatite B crônica ou o paciente teve hepatite B curada há muito tempo, quando eventualmente o anti-HBs desaparece e o anti-HBc IgG se mantém. Somente a pesquisa do DNA viral poderá esclarecer essa dúvida. HBsAg negativo / Anti-HBc (IgM) negativo - (IgG) negativo / Anti-HBs positivo: A negatividade para todos os antígenos e anticorpos para hepatite B, exceto para o anti-HBs, só pode ser conseguida por meio de imunização vacinal. Ou seja, o pct nunca teve a infecção ou mesmo contato com o vírus ativo, apenas foi vacinado (a vacina contém somente o antígeno s recombinante), e produziu anticorpos anti-HBs que conferem imunidade. Diagnóstico hepatite D A infecção pelo HDV é dependente de uma infecção pelo HBV associada. A evolução da doença está associa- da ao contato inicial com os vírus. Caso a infecção com os vírus seja simultânea, é denominada coinfecção. Caso uma pessoa, cronicamente in- fectada com o HBV, seja, posteriormente, infectada com o HDV, ocorre o fenômeno da superinfecção. A resposta imune na hepatite D ainda não foi totalmente compreendida. A patogenia é mediada pelo sistema imune, o qual é responsável pelos efeitos citotóxicos no fígado do infectado. O HDV-Ag é capaz de estimular uma resposta humoral IgM e IgG. Estudos demonstram que a infecção resolvida pelo HDV é capaz de conferir proteção contra uma reinfecção precoce. O escape imunológico do vírus se dá em virtude de sua grande variabilidade genética. O diagnóstico da hepatite D pode ser realizado tanto pela detecção de anticorpos anti-HDV quanto pela pes- quisa de marcadores diretos, como o antígeno do HDV, e pela detecção do genoma viral circulante. A hepatite D deve ser investigada em indivíduos que apresentem resultados reagentes em imunoensaios para o HBsAg e que residem ou estiveram em áreas endêmicas para esse agravo.
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