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Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 1 DOR DIAGNÓSTICOS SINDRÔMICOS E ETIOLÓGICOS DA DOR CERVICAL E DOR LOMBAR Dores cervical e lombar são as razões mais comuns das visitas ao médico. Essa discussão abrange a dor cervical na face posterior do pescoço (não a dor limitada à face anterior), e não abrange a maioria das lesões traumáticas importantes (p. ex., fraturas, deslocamentos e subluxações). A tensão muscular é a primeira e mais comum causa de dor na região da coluna cervical que normalmente é provocada por atividades ou comportamentos do dia a dia como ter má postura, trabalhar sentado por muito tempo, dormir na posição errada ou fazer contração dos músculos do pescoço durante o exercício físico. A dor cervical causa diminuição da amplitude de movimento de rotação, lateralização e flexo- extensão da coluna cervical. Dor que começa na nuca e se irradia para região supraescapular, interescapular e couro cabeludo. Sensação de peso nos ombros e parte alta das costas. Às vezes, acompanhada de ardência. A cervicalgia pode ser decorrente de desordem mecânica, fatores posturais e ergonômicos ou excesso de sobrecarga dos membros superiores. A dor cervical resulta em perda na produtividade importante em certas ocupações e a maior predisposição de lesão se associa a certos tipos de atividades e a idade. A cervicalgia e a lombalgia são os quadros dolorosos mais comuns da coluna vertebral. Constituem a 2ª queixa de dor no homem adulto, perdendo apenas para os quadros de cefaleia. A cervicalgia é a dor no seguimento cervical da coluna. Afeta cerca de 50% dos indivíduos em algum momento da vida e apresenta predileção pelo sexo feminino. A lombalgia, por sua vez, é a dor no seguimento lombar da coluna. Afeta de 65 a 85% da população mundial ao longo dos anos. Corresponde a 3ª causa mais comuns de afastamento do trabalho, a 5ª de internação hospitalar e a 3ª de procedimentos cirúrgicos. ETIOLOGIA As dores cervicais e lombares apresentam múltiplas causas já bem definidas. Porém, a real causa da dor não é diagnosticada em um grande número de pacientes, mesmo após vasta investigação clínica/laboratorial e por imagens. Por exemplo, nas lombalgias, apenas 25 a 30% dos pacientes recebe um diagnóstico anatomopatológico provável. A grande maioria constitui, ainda, as chamadas cervicalgias/lombalgias comuns, idiopáticas ou inespecíficas. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/les%C3%B5es-intoxica%C3%A7%C3%A3o/fraturas/vis%C3%A3o-geral-das-fraturas https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/les%C3%B5es-intoxica%C3%A7%C3%A3o/deslocamentos/vis%C3%A3o-geral-dos-delocamentos https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-dos-tecidos-conjuntivo-e-musculoesquel%C3%A9tico/dor-cervical-e-lombar/subluxa%C3%A7%C3%A3o-atlantoaxial Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 2 Para fins didáticos, podemos classificar as causas de dor em primárias e secundárias. Primárias se fatores locais envolvendo a estrutura da coluna levam à dor, e secundárias se fatores à distância ou não próprios da coluna são os responsáveis pela dor. Podemos ainda dividir as causas em: mecânico-degenerativas (primárias), não mecânicas, psicogênicas, psicossomáticas ou referidas (secundárias). CERVICALGIAS A coluna cervical é dada como uma das regiões que compõem a estrutura da coluna vertebral, ocupando a região inteira do pescoço. Sua área é formada por 7 vértebras, e sua principal função é a sustentação da cabeça. O pescoço apresenta grande mobilidade e suporta o peso da cabeça. Estando menos protegido do que o resto da coluna, o pescoço é vulnerável a diversos tipos de lesões que causam dor e limitação de movimentos. Na maioria dos casos, as dores cervicais são temporárias. Contudo, em alguns casos impõe-se um tratamento médico. SINAIS E SINTOMAS O paciente com cervicalgia costuma adquirir uma atitude de defesa e rigidez dos movimentos, ocorre também uma alteração na mobilidade do pescoço e a dor durante a palpação da musculatura do pescoço podendo também abranger a região do ombro e nos casos mais graves ou prolongados irradiando para todo o membro superior. Em relação à dor, o paciente pode se queixar desde uma dor leve local e uma sensação de cansaço, até uma dor mais forte e limitante. O braço, além de doer, pode apresentar alterações de sensibilidade e força muscular, são as chamadas “alterações neurológicas”. Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 3 O paciente refere adormecimento de alguma área ou de todo o membro, podendo ser contínua ou desencadeada por algum fator. A fraqueza muscular acontece em casos mais graves ou prolongados, sendo geralmente progressiva. Podem existir também alterações nos reflexos encontrados em algumas inserções musculares no punho, cotovelo e ombro nos casos mais graves. Principais sintomas identificados: -Espasmos musculares nas regiões cervical e supraescapulares. -Diminuição da amplitude de movimento de rotação, lateralização e flexo-extensão da coluna cervical. -Dor que começa na nuca e se irradia para região supraescapular, interescapular e couro cabeludo. -Sensação de peso nos ombros e parte alta das costas. Às vezes, acompanhada de ardência. -Formigamento para ombros e braços. -Cefaleia. -Ao realizar rotação, o paciente relata que sente como se existisse areia entre as vértebras (crepitação). -Fraqueza no ombro e braço, relatando dificuldade de segurar um copo com água ou livro. Para descartar a possibilidade de outras lesões, como tendinopatias e bursite no ombro ou síndrome do túnel do carpo, é importante uma boa avaliação e diagnóstico diferencial. DOENÇAS QUE CAUSAM DOR NA COLUNA CERVICAL As doenças que, comumente, causam dor na coluna cervical, são: torcicolo (dor que se limita aos músculos ao redor do pescoço), estenose cervical (formação de osteófitos, mais conhecidos como “bicos de papagaio”, que ocupam espaço e acabam comprimindo áreas onde estão presentes estruturas nervosas, causando dor, formigamentos, dormência e fraqueza), hérnia de disco cervical (ruptura na parte externa do disco intervertebral, o ânulo fibroso, com consequente deslocamento do material interno, o núcleo pulposo, que acaba comprimindo alguma raiz cervical), traumatismos, neoplasias, artrose, etc. A cervicalgia pode ser decorrente de desordem mecânica, fatores posturais e ergonômicos ou do excesso de sobrecarga dos membros superiores. A dor cervical resulta em perda na produtividade importante em certas ocupações e a maior predisposição de lesão associa-se a certos tipos de atividades e à idade. A cervicobraquialgia, por sua vez, caracteriza-se por dor cervical com irradiação para membro superior, normalmente devido à compressão da raiz nervosa proveniente da região cervical sub- axial. Trabalhos que envolvam movimentos repetitivos de membros superiores e flexão da Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 4 coluna cervical estão relacionados à dor cervical. Outros fatores também podem contribuir para o surgimento ou agravamento da dor na coluna cervical. SINDROME DOLOROSA MIOFASCIAL A causa mais com um de cervicalgia crônica é a síndrome dolorosa miofascial (SDM). A SDM da região cervical pode apresentarse de vários modos e ter causas variadas. Suas causas mais comuns são traumatismos, anormalidades degenerativas e/ou inflamatórias da coluna cervical em decorrência das ocupações, das posturas anormais, de ansiedade e de depressão. O diagnóstico é realizado pela pesquisa dos pontos-gatilho (PGs) nos músculos da região cervical. Os músculos mais comumente afetados são o trapézio, os escalenos, o esternocleidomastóideo e o elevador da escápula. Outros músculoslocalizados em outras regiões do corpo podem também estar acometidos em conjunto com os da região cervical. A SDM muitas vezes envolve mais de um músculo, e vários são os fatores ativadores dos PGs. A fibra muscular, quando sofre lesão, sobrecarga ou estresses de repetição, desenvolve PGs que resultam em contração muscular exagerada durante período de tempo prolongado. Associadamente, ocorre fadiga muscular. Isquemia focalizada e anormalidades subseqüentes do ambiente extracelular das miofibrilas, além de liberação de substâncias algiogênicas, geram ciclo vicioso caracterizado por elevação da atividade motora e do sistema nervoso neurovegetativo, aumentando a sensibilidade à dor. Os eventos dolorosos podem ser auto-sustentados por fenômeno de sensibilização centrais e periféricos. DISFUNÇÕES INTERVERTEBRAIS Decorrem da degeneração do disco intervertebral, fenômeno decorrente do avanço da idade ou de traumatismos. Resulta em redução da capacidade amortecedora discal e causa sobrecarga do corpo vertebral, dos unicos vertebrais e das facetas articulares. Como consequência, instalam-se osteófitos reacionais ou hérnias discais. Essas anormalidades podem resultar em compressão da medula espinal ou das raízes nervosas. A hérnia de disco consiste na protrusão do núcleo pulposo através de falhas decorrentes da rotura ou anormalidades do anel fibroso; localiza-se especialmente entre os segmentos C6-C7 e C5- C6. Raramente as protrusões discais causam sintomas. Além da degeneração, as hérnias discais cervicais podem decorrer de traumatismos. A espondilose cervical acomete predominantemente os segmentos C4 a T I e pode causar os discos moles ou a forma calcificada e osteófitos (hérnias duras). Em ambas as condições, após o quadro inicial agudo pode haver resolução completa dos sintomas. Os sintomas decorrentes da discoartrose dependem da localização da anormalidade, das dimensões do compartimento que sofre com pressão e da elasticidade do tecido deformado. Ocorre geralmente em indivíduos com mais de 40 anos de idade e é quase universal no idoso. Dependendo das anormalidades estruturais ou funcionais, não há repercussões ou ocorre cervicalgia, limitação da movimentação, mielopatia e/ou radiculopatia cervical. E muitas vezes responsabilizada pela cervicalgia, mas com o é evidenciada com elevada frequência nos indivíduos assintomáticos, na ausência de com pressão radicular não deve ser considerada causa Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 5 de cervicalgia. A compressão de raízes nervosas pode cursar com radiculopatia, e a da medula espinal, com mielopatia. TUMORES Diversas neoplasias que acometem a região cervical podem cursar com cervicalgia, incluindo as ósseas (tumor de células gigantes, condrossarcoma, osteossarcoma, sarcoma de Ewing, cistos ósseos, osteoblastoma, mieloma múltiplo), as metástases (tumor de tireóide, rim, mama, pulmão) e tumores extradurais (metástases), intradurais extramedulares (neurinomas, meningiomas) ou intramedulares (ependimomas, gliomas). A evolução geralmente é insidiosa e comum ente associada a anormalidades neurológicas (mielopatia, radiculopatia). As lesões ósseas podem cursar com fraturas patológicas. A história, o exame físico e os exames complementares (radiografria simples, RM , TC, mielografia, mapeamento ósseo) permitem o diagnóstico. São mais comumente metástases nos corpos vertebrais de carcinomas de pulmão, mama, próstata, rins, tireoide e cólon. O mieloma e a leucemia também podem envolver as vértebras, e todos normalmente levam a sintomas por compressão neurológica ou por fraturas patológicas. Os tumores primários benignos mais comuns da coluna são hemangiomas, cistos ósseos aneurismáticos, osteoma osteoide, osteoblastoma e osteocondroma. Os malignos são osteossarcoma, condrossarcoma, sarcoma de Ewing, linfoma, plasmicitoma e cordoma. DOENÇAS INFECCIOSAS A osteomielite causada por agentes não específicos ou específicos (tuberculose), podem causar dor cervical e/ou occipital discreta ou intensa irradiada para os ombros e membros superiores frequentemente associada a disfagia, à limitação da mobilidade e aos espasmos musculares cervicais. Além de envolver estruturas musculoesqueléticas cervicais e causar dores, pode causar também, características variáveis como déficits neurológicos e/ou dor quando há febre e perda de peso associados ou não a inapetência. As espondiloartropatias são caracteristicamente um tipo de doença autoimune inflamatória que afeta o esqueleto axial nas ênteses (pontos de inserção de ligamentos e tendões ao esqueleto) e que também podem afetar as articulações sacroilíacas, assim como as grandes articulações dos membros inferiores. A artrite reumatoide, que também é uma doença autoimune sistêmica, pode acometer a coluna cervical no segmento C1-C2, em 34 a 42% dos casos, determinando subluxação atlantoaxial. 2. Processos infecciosos Normalmente tem origem no disco intervertebral e são chamados de espondilodiscites, porém podem se estender para as vértebras e tecidos adjacentes com gravidade. Os microrganismos podem atingir a coluna vertebral por via hematogênica, linfática ou por contiguidade (inoculação direta). CAUSAS PSICOGÊNICAS OU PSICOSSOMÁTICAS E DORES REFERIDAS 1. Causas psicogênicas e psicossomáticas Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 6 A dor é percebida no córtex cerebral, sem estar associada à alteração anatômica local ou sistêmica, geralmente de caráter difuso, descrição imprecisa ou punitiva e forte associação com desencadeantes emocionais. P. ex.: fibromialgia, depressão, histeria etc. A anamnese é a principal arma diagnóstica e os exames complementares e físicos são normais. 2. Dores referidas A lesão está em outros sítios que não a coluna. Por exemplo, pode ser uma dor referida neurogênica de um infarto do miocárdio, dor viscerogênica como em uma vasculite de carótidas, espasmo esofágico ou pode ser somática, como em um herpes zoster. FIBRIMIALGIA A fibromialgia (FM) é uma condição que se caracteriza por dor muscular generalizada, crônica (dura mais que três meses), mas que não apresenta evidência de inflamação nos locais de dor. Ela é acompanhada de sintomas típicos, como sono não reparador (sono que não restaura a pessoa) e cansaço. Pode haver também distúrbios do humor como ansiedade e depressão, e muitos pacientes queixam-se de alterações da concentração e de memória. Ainda não totalmente esclarecida, mas a principal hipótese é que pacientes com FM apresentam uma alteração da percepção da sensação de dor. Isso é apoiado por estudos em que visualizam o cérebro destes pacientes em funcionamento, e também porque pacientes com FM apresentam outras evidências de sensibilidade do corpo, como no intestino ou na bexiga. Alguns pacientes com FM desenvolvem a condição após um gatilho, como uma dor localizada mal tratada, um trauma físico ou uma doença grave. O sono alterado, os problemas de humor e concentração parecem ser causados pela dor crônica, e não ao contrário. A FM é bastante comum, afetando 2,5% da população mundial, sem diferenças entre nacionalidades ou condições socioeconômicas. Geralmente afeta mais mulheres do que homens e aparece entre 30 a 50 anos de idade, embora existam pacientes mais jovens e mais velhos com FM. ASPECTO PSICOLÓGICO É possível que o estresse desempenhe papel relevante na mediação e perpetuação dos sintomas da SFM. Muitos doentes referem que os primeiros sintomas da síndrome surgiram após um período de estresse crônico ou após traumatismos. Outros relatam que há agravamento dos sintomas após estresses físicos e emocionais de curta duração. Como a fibromialgia acarreta modificações da funcionalidade sem alterações orgânicas específicas, alguns autoresatribuíram a fatores psicológicos a sua origem. QUADRO CLÍNICO A dor crônica generalizada é o sintoma cardinal da SFM. Pode ser moderada ou intensa. É referida nos músculos, ligamentos e tendões de várias regiões do corpo. Cefaleias crônicas, geralmente diárias, muitas vezes intensas e frequentemente relacionadas à tensão emocional ocorrem em mais de 40% dos doentes. Rigidez articular ocorre em 80% dos casos. A rigidez articular e a artralgia simulam condições artríticas e apresentam magnitude variada; costumam Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 7 ser mais intensas pela manhã e ao anoitecer, e podem ser agravadas pelo excesso de atividade física, infecções sistêmicas, lesão de tecidos moles, privação do sono, exposição ao frio, umidade e estresses psicológicos. Podem comprometer a realização das atividades de vida diária, serviços domésticos e laborais, alterar o humor, o sono e a qualidade de vida Fadiga generalizada traduzida por sensação de falta de energia, exaustão, fatigabilidade durante a execução de exercícios físicos triviais, esforço mental e mediante estressores psicológicos ( pode melhorar pela manhã e ficar cada vez mais extenuante com o passar das horas do dia). Parestesias e adormecimento, principalmente nas extremidades e, às vezes, no couro cabeludo, sem padrão dermatomérico e na ausência de anormalidades ao exame neurológico. Sensação de inchaço e edema nas mãos, pés e tornozelos também são sintomas frequentes. Dificuldade para a instalação do sono, despertares frequentes durante a noite, dificuldade para retomada do sono, sono agitado e superficial e despertar precoce. A síndrome do cólon irritável caracterizada por dor e distensão abdominal, e alteração do hábito intestinal (obstipação, diarréia ou alternância) que melhoram com a evacuação também é observado em pacientes com SFM. Inquietação dos membros e intolerância ao frio podem aparecer. Disfunção cognitiva é comum em doentes com SFM e afeta adversamente a capacidade competitiva no trabalho. Doentes com SFM queixam-se de dificuldades para recordar eventos, processar informações e realizar tarefas. Tontura é queixa comum nos doentes com SFM DIAGNÓSTICO O diagnóstico de FM é eminentemente clínico, com a história, exame físico e exames laboratoriais auxiliando a afastar outras condições que podem causar sintomas semelhantes. Não há alteração dos exames que indicam inflamação, como a velocidade de hemossedimentação (VHS) e a proteína C reativa. Exames de imagem devem ser interpretados com muito cuidado, pois nem sempre os achados da radiologia são a causa da dor do paciente. A FM pode aparecer em pacientes que apresentam outras doenças reumáticas, como artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico, e muitas vezes dificulta uma completa melhora destes pacientes. TRATAMENTO A meta no tratamento da FM é aliviar os sintomas com melhora na qualidade de vida. A FM não traz deformidades ou sequelas nas articulações e músculos, mas os pacientes apresentam uma má qualidade de vida. O principal tratamento da FM é não-medicamentoso, ou seja, os cuidados do paciente consigo mesmo são mais importantes do que as medicações, embora estas também tenham seu papel. O principal tratamento da fibromialgia é o exercício aeróbico, aquele que mexe o corpo todo e acelera os batimentos cardíacos. Esta parece ser a melhor a maneira de reverter a sensibilidade aumentada à dor na FM. Além disso, é importante entender sobre a doença (educação) e alguns casos terapia psicológica pode ser útil, principalmente para aprender a lidar com a dor crônica no dia a dia. Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 8 As medicações são úteis para diminuir a dor, melhorar o sono e a disposição do paciente com fibromialgia, para permitir a prática de exercícios físicos. Algumas medicações, como a pregabalina e a duloxetina, agem na maior sensibilidade à dor. Outros remédios como relaxantes musculares, antidepressivos e analgésicos podem ser usados para alívio de sintomas diversos. DOENÇAS ENDÓCRINAS E METABÓLICAS Hiperparatireoidismo, raquitismo e insuficiência renal podem causar lesões ósseas, fraturas patológicas e cervicalgia. A acondroplasia e a hiperostose esquelética idiopática podem também cursar com cervicalgia. O diagnóstico se baseia na história, no exame clínico e nos exames laboratoriais e de imagem. O tratamento consiste no uso de AINES, opioides, psicotrópicos, medidas fisiátricas e cirurgias descompressivas do tecido nervoso. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS As doenças inflamatórias da região cervical geralmente são sistêmicas. O quadro clínico e os exames laboratoriais e de imagem permitem o diagnóstico. A artrite reumatóide (é uma doença autoimune caracterizada pelo ataque do próprio corpo às articulações, o que provoca inchaço, rigidez e dores nas juntas, capazes inclusive de limitar a movimentação no dia a dia) pode acometer as articulações atlantoccipital e atlantoaxial e causar anormalidades neurológicas; há cervicalgia em mais de 80% dos pacientes com artrite reumatóide. A dor se localiza na região cervical posterior, e é comum a ocorrência de rigidez e limitação dos movimentos, principalmente de flexo-extensão, e a instabilidade e a compressão da medula espinal e das raízes nervosas. A espondilite anquilosante (é um tipo de artrite, autoimune inflamatória crônica, que afeta os tecidos conjuntivos, especialmente as articulações da coluna, causando rigidez e dor nas costas) predomina no esqueleto axial e causa inicialmente dor e rigidez da articulação sacroilíaca e rigidez, limitação progressiva da movimentação cervical e dor localizada na região cervical rostral irradiada para a escama do occipital e a região mastóide, cinco ou mais anos após a instalação dos sintomas sacroilíacos. Polimiosite e dermatomiosite são doenças inflamatórias musculares esqueléticas que se caracterizam como fraqueza proximal dos músculos das cinturas pélvica e escapular, dos membros superiores e inferiores e das regiões rostrais do segmento cervical. A hiperostose idiopática e difusa ou doença de Forestier é uma condição não-inflamatória que se manifesta especialmente em indivíduos do sexo masculino e com mais de 50 anos de idade. Acomete 12% dos indivíduos após os 75 anos de idade e se caracteriza como entesopatia não- erosiva, neoformação óssea e calcificação do ligamento longitudinal anterior de, pelo menos, quatro corpos vertebrais contíguos. Em 50% dos pacientes, há acometimento da coluna cervical. A ossificação das estruturas espinais pode gerar compressão da laringe e disfagia em decorrência da osteofitose anterior. Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 9 OBS: O “bico de papagaio” ou osteofitose se manifesta quando os ligamentos e as cartilagens que envolvem as vértebras se calcificam, como forma de estabilizar a estrutura desgastada. O problema tem maior incidência na região lombar, mas pode atingir outras partes da coluna. A artrite reumatóide juvenil, a espondiloartropatia soronegativa, a polimialgia reumática, a arterite de células gigantes, a ossificação do ligamento longinal posterior, a gota e as artropatias microcristalinas, entre outras, podem também ocorrer na região cervical e resultar em dor. NEURALGIAS A neuralgia dos nervos glossofaríngeo, trigêmeo ou occipital cursam com dor em queimor ou choque na área de distribuição da estrutura nervosa acometida. A neuralgia do glossofaríngeo acomete a região lateral e rostral do pescoço, da faringe, da orelha, da epiglote e da base da língua. A neuralgia da divisão mandibular do nervo trigêmeo pode cursar com dor na região lateral superior do pescoço. A neuralgia occipital manifesta-se como dor na região occipitale, às vezes, rostral do pescoço. O tratamento das neuralgias consiste no uso de anticonvulsivantes (carbamazepina, oxcarbazepina, difenilidantoína, valproato ou divalproato de sódio, gabapentina, topiramato) ou miorrelaxantes (baclofeno); pode haver necessidade de procedimentos cirúrgicos. A dor facial atípica caracteriza-se como dor em queimor, peso ou latejamento na face e, às vezes, na região cervical. É mais comum em mulheres de meia-idade com alterações psicológicas. O tratamento consiste no uso de antidepressivos, neurolépticos e procedimentos de medicina física. LOMBALGIA A lombalgia é definida como dor e desconforto localizados entre a margem costal e a prega glútea inferior, com ou sem dor na perna. CAUSAS GERAIS DE DORES LOMBARES ➔ A dor lombar é inespecífica em 85-90% das vezes, ou seja, não se consegue identificar a sua causa com exatidão, e específica ou sintomática em 10-15% dos casos, quando um fator causal (trauma, infecção, inflamação, artrite reumatóide, tumor, hérnia discal, vasculopatia ou outra) pode ser identificado. ➔ A dor lombar inespecífica tem uma evolução favorável em 85% das vezes, com os sintomas regredindo em até seis semanas. Entretanto, pelo menos 30% das pessoas que sofrem um episódio de lombalgia aguda experimentarão outro episódio em um período de um ano. Quando a lombalgia se prolonga além de três meses é classificada como crônica. A lombalgia se cronifica em cerca de 5-8% dos pacientes. ➔ A dor pode se irradiar para a face posterior das coxas de um ou dos dois lados. Quando a dor ultrapassa o joelho recebe o nome de lombociatalgia ou ciática e é um indício do envolvimento de uma raiz nervosa, quase sempre L5 ou S1. Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 10 As disfunções posturais são as causas mais frequentes para dor lombar, pois a má postura adquirida pela maioria da população nas atividades de vida diária aumenta a pressão intradiscal e consequentemente produz uma degeneração do disco intervertebral. As dores lombares decorrentes de forças excessivas sejam externas ou internas. São consideradas forças excessivas as atividades repetidas como extensão, flexão e/ou rotação excessiva de um segmento lombar vertebral, e chamadas de “perturbadoras” as forças internas que enfraquecem a função neuro-musculo esquelética, portanto, consideradas excessivas ou inadequadas, entre elas a fadiga, o ódio, a depressão, a falta de atenção, a ansiedade, falta de treinamento e a distração; que podem ser decorrentes de fatores psicogênicos e psicosociais, como stress e falta de motivação, são circunstâncias que contribuem para o desencadeamento e cronificação das síndromes dolorosas lombares (algumas sem uma nítida comprovação de relação causal) tais como: psicossociais, insatisfação laboral, obesidade, hábito de fumar, grau de escolaridade, realização de trabalhos pesados, sedentarismo, síndromes depressivas, litígios trabalhistas, fatores genéticos e antropológicos, hábitos posturais, alterações climáticas, modificações de pressão atmosférica e temperatura. Condições emocionais podem levar à dor lombar ou agravar as queixas resultantes de outras causas orgânicas preexistentes O médico tem papel fundamental no diagnóstico e necessita sobretudo de uma história detalhada da dor, fatores associados e um exame físico meticuloso para um correto diagnóstico. O diagnóstico das lombalgias é, via de regra, clínico. Exames de imagem em geral não são solicitados em lombalgias agudas, apenas nos casos em que são observados alguns sinais de alerta como febre, perda de peso, déficit neurológico, idade acima de 50 anos e trauma. Quando há persistência da dor por mais 4-6 semanas os exames devem ser solicitados. QUAIS EXAMES PODEM SER SOLICITADOS? O raio x simples geralmente é o primeiro exame. Outros exames incluem a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a mielografia, todos com indicação criteriosa e embasada em hipótese diagnóstica. Achados anormais em um exame de imagem não necessariamente explicam a causa da dor, ou seja, pessoas sem qualquer sintoma podem apresentar em exames alterações estruturais na coluna que talvez nunca causarão dor ou outros sintomas assim como pessoas com sintomas de dor podem apresentar exames absolutamente normais. Portanto os exames de imagem sempre devem ser analisados caso a caso e correlacionados com as manifestações de cada pessoa individualmente. O objetivo inicial do tratamento é o alívio da dor. Podem ser usadas várias medicações incluindo analgésicos, antiinflamatórios, miorrelaxantes, corticóides e opióides, sempre após avaliação do risco-benefício de cada uma delas. O repouso, embora recomendado na fase aguda, deve limitar-se a um curto período uma vez que seu prolongamento retarda a recuperação e favorece a cronificação do processo sobretudo por facilitar a perda de força muscular. Na lombalgia crônica nenhuma terapia isolada é eficiente. Os mesmos medicamentos da fase aguda podem ser usados e em alguns casos há benefícios importantes com o uso de algunmas classes de antidepressivos em baixas doses para controle da dor. Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 11 A reabilitação com exercícios de alongamento e fortalecimento muscular além da reeducação postural são fundamentais para reduzir os sintomas e prevenir o retorno das dores. Outras intervenções incluem TENS, acupuntura, terapia cognitivo-comportamental e infiltração. LOMBOCIATALGIA É quando há dor irradiada para o membro inferior (60% dos casos), que pode ser: • De origem radicular (exemplo: compressão por hérnia de disco) • Referida (exemplo: dor miofascial) A dor neuropática (DN) está presente em 37 a 55% dos pacientes com dor irradiada para o membro inferior. Segundo a International Association for the Study of Pain (IASP), é definida como a que surge como consequência direta de uma lesão ou doença que afeta o sistema somatossensorial. A característica neuropática está correlacionada com dor mais intensa, comorbidades mais graves e piora da qualidade de vida (QV). O diagnóstico preciso do padrão de dor é essencial para se obter bom resultado terapêutico, visto que o fármaco deve ser específico para cada tipo de dor: nociceptiva, neuropática ou mista. A identificação do componente neuropático depende de anamnese e exame físico minuciosos, além dos exames complementares. A DN é espontânea e pode ter algumas características clínicas específicas, como: • Hiperalgesia: dor exagerada (desproporcional) a um estímulo habitualmente doloroso; • Hiperpatia: reação exagerada aos estímulos álgicos intensos ou repetitivos aplicados em regiões hipoestésicas; • Alodínea: dor devido a um estímulo que normalmente não provoca dor. Diagnóstico Sindrômicos e Etiológicos da Dor Cervical e Dor Lombar | Larissa Gomes de Oliveira. 12 REFERÊNCIAS ALVES NETO, Onofre et al.. Dor: princípios e prática. Porto Alegre: Editora Artmed, 2009. ALMEIDA, Darlan Castro; KRAYCHETE, Durval Campos. Dor lombar - uma abordagem diagnóstica. Rev. dor, São Paulo, v. 18, n. 2, pág. 173-177, abril de 2017. Sociedade Brasileira de Reumatologia. Diagnóstico e Tratamento das Lombalgias e Lombociatalgias.237:2613-4. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482- 50042004000600005
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