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1 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. Febre, Inflamação e Infecção. EXPLANAR A FISIOPATOLOGIA, SEMIOTÉCNICA E ETIOLOGIA DA FEBRE. A febre é uma das principais queixas dos pacientes e ela pode ser gerada por fatores diversos como infecção, trauma, inflamação... que vai gerar resposta do organismo, que vai desencadear uma resposta febril. A febre é um aumento da temperatura corporal, junto com um aumento no ponto de ajuste hipotalâmico. É uma resposta multissistêmica, no qual vai gerar uma resposta tanto do sistema imunológico, como também endocrinológico, neurológico, além de comportamental. A termorregulação: é preciso entender que as variações na temperatura corporal vão depender tanto de fatores ambientais como de fatores biológicos (intrínsecos). Essa termorregulação tem um limiar basal fortemente e constantemente regulado, e ele é regulado através de vários centros independentes que vão estar se comunicando com o núcleo pré-óptico no hipotálamo. Esse núcleo pré-óptico é muito importante pois ele tem tanto núcleos sensíveis ao calor, como também ao frio, e aí a depender do ambiente e como esteja o seu limiar térmico basal, esse núcleo vai ditar como o indivíduo vai se comportar. No ambiente frio por exemplo, o corpo desenvolve mecanismos para que haja o armazenamento de calor, para isso, ocorre vasoconstrição periférica, piloereção (arrepios) que evitam a perda de calor, diminuição da sudorese, há um aumento da contração muscular (em que o indivíduo tem calafrios, se treme, e esses abalos musculares aumentam a produção de calor, tentando chegar ao limiar necessário para o indivíduo). Já no ambiente quente o corpo entende que a temperatura está acima do limiar e por isso há a perda de calor que ocorre através de mecanismos como a sudorese, além de mecanismos comportamentais (como procurar a sombra, tirar roupas quentes...) A temperatura normal média é de mais ou menos 36,8ºC +/- 0,4ºC. sendo que as mulheres tem a média um pouquinho maior e pode aumentar durante a ovulação. Cerca de 99% da população varia a temperatura podendo chegar a 37,2ºC as 6:00 da manhã e cerca de 37,7 as 16:00. Desse modo, febre é definido a partir de uma temperatura 37,5ºC (AXILAR), podendo variar um pouco se for aferida por via retal (38ºC) ou oral (variando a partir de 37,3 a 37,8ºC a depender do período do dia). 2 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. A febre é uma elevação da temperatura normal do corpo que pode ocorrer em função de diversos fatores. Trata-se de um mecanismo de defesa do organismo que é ativado quando há algo de anormal em seu funcionamento. O aumento da temperatura busca destruir invasores, geralmente vírus e bactérias. É um aumento controlado da temperatura corporal, acima dos valores normais. A temperatura corporal é regulada por neurônios termossensíveis localizados no hipotálamo anterior, que corresponde a alterações na temperatura sanguínea, assim como as conexões neurais diretas com receptores de frio e calor localizados na pele e músculo. Respostas termorreguladoras incluem respostas metabólicas como o redirecionamento do sangue na direção ou para exterior de leitos vasculares cutâneas, vasoconstricção periférica, sudorese aumentada ou diminuída, regulação do volume de líquido extracelular, aumento do metabolismo basal e respostas comportamentais. FISIOPATOLOGIA DA FEBRE O hipotálamo pode ser anatomicamente dividido em duas áreas: anterior e posterior. ➔ A porção anterior (centro dissipador de calor): age de forma para aumentar o “desperdício” de calor e, consequentemente, a “saída” dele do corpo. Para que isso ocorra, depois de estimulado, suas vias eferentes irão promover a vasodilatação vascular periférica e aumento da sudorese. ➔ A Porção posterior do hipotálamo (centro promotor de calor): quando for ativada promoverá a produção e conservação de calor por meio da vasoconstrição periférica, aumento da atividade metabólica e aumento do tônus muscular. Esse último explica o porquê dos calafrios quando se tem febre. A febre ocorre pela ação de fatores pirogênicos sobre o centro termorregulador do hipotálamo, elevando o limiar térmico e desencadeado respostas metabólicas de produção e conservação de calor (como tremores, vasoconstrição periférica, aumento do metabolismo basal). Existem fatores pirogênicos e criogênicos (ou seja, fatores que vão aumentar a temperatura e fatores que vão diminuir a temperatura) e são esses fatores que vão definir a duração da febre, se caso o fato pirogênico estiver maior, mais prolongada será essa febre. Se houver um aumento dos fatores criogênicos e diminuição dos pirogênicos, a temperatura começa a descer. OBS: Os fatores pirogênicos são lipídeos associados a moléculas transportadoras que podem ser polissacarídeos ou peptídeos. Existem Pirogênios endógenos (citocinas inflamatórias principalmente, como IL-6, IL-1, INF, TNF), geralmente produzidas pelos leucócitos, ou pirogênios exógenos (corpo entranho, microrganismos, produtos bacterianos, fungos) que estimulam a síntese de prostaglandinas PGE2 nas células vasculares e perivasculares do hipotálamo. Essa ação pode se dar por basicamente duas vias humorais da febre: a via humoral 1 e a via humoral 2. 3 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. Via humoral 1: Essa via está relacionada aos fatores pirogênicos exógenos, que vão ativar os receptores TLR-4 na barreira hematoencefálica pelos fatores exógenos (principalmente microrganismos). Estes pirogênios exógenos estimulam os leucócitos a liberar pirogênios endógenos como a IL-1 e o TNF que aumentam as enzimas (ciclo-oxigenases) responsáveis pela conversão de ácido araquidônico em prostaglandina. No hipotálamo, a prostaglandina (principalmente a prostaglandina E2) promove a ativação de receptores do núcleo pré-optico no hipotálamo levando ao aumento do ponto de ajuste hipotalâmico. Via humoral 2: pode ser direta ou indireta. No caso da via indireta, as citocinas irão ativar os receptores TLR-4 na barreira hematoencefálica, desencadeado toda a sequência descrita na via humoral 1. Já na via direta, as citocinas atuam diretamente no núcleo pré-óptico, aumentando o ponto de ajuste hipotalâmico. A via humoral 2 já é a parte mais endógena, de como o organismo está respondendo. Como foi dito acima, há a via indireta e a via direta. Na via indireta, as citocinas pirogênicas até então vão está influenciando a liberação de prostaglandina que vão agir ativando receptores no núcleo pré-óptico e vai elevar o ponto de ajuste hipotalâmico. OBS: Lembrando que na via humoral era os fatores exógenos que ativavam a TRL-4 e liberava prostaglandina. Já nessa via indireta, agora as citocinas vão direto na barreira hematoencefálica, desencadeando liberação de prostaglandina, ativando receptores no núcleo pré-óptico e fazendo ajuste hipotalâmico. Já na via direta, essas citocinas vão diretamente ativar os receptores no núcleo pré-óptico, levando assim ao ajuste termorregulador hipotalâmico. OBS: na indireta as citocinas ativam receptores na barreira hematoencefálica, que vai liberar prostaglandina e essa prostaglandina vai ativar os receptores no núcleo pré-óptico. Já na via direta, essas citocinas já vão ativar diretamente os receptores do núcleo pré-óptico!! COMO QUE SE COMPORTA ESSA RESPOSTA FEBRIL? O que acontece de fato quando se tem febre é que o nível de termorregulação do hipotálamo – geralmente prefixado para 36,5ºC – é elevado, desencadeando a ativação do centro vasomotor que é o centro promotor de calor. Essa ativação vai gerar vasoconstrição periférica (em que vai ser levado o sangue da periferia pra os órgãos internos com a intenção de preservar órgãos internos e de “esquentar” o sangue, e é isso que justifica também o porque de as extremidades ficarem frias, apesar de se estar com febre. Essa elevação do termostato humano é dependente,provavelmente, da prostaglandina E2. Para que haja produção desse agente, o organismo precisa primeiro ser induzido a produzir citocinas (pirógenos endógenos) a partir das células de defesa que estão lutando contra um pirógeno exógeno (microrganismos) 4 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. Essas citocinas irão interagir com elementos sensoriais no órgão vascular da lâmina terminal e outras regiões do cérebro, promovendo a síntese da prostaglandina E2. Ela consegue, então, atravessar a barreira hemato-encefálica e ascender o ponto prefixado, estimulando os mecanismos do centro promotor. a temperatura do sangue está circulando nos órgãos internos e está ocorrendo um aumento dessa temperatura, depois que esse sangue chega no núcleo pré-óptico do hipotálamo e depois de aumentado o calor corporal e aumento da temperatura, o hipotálamo vai entender que foi atingido o ponto de equilíbrio e os sintomas de frio vão ser cessados, com isso, o centro dissipador de calor é ativado para tentar reestabelecer a temperatura normal. Fenômeno denominado de crises, que ocorre por desaparecimento do fator indutor (diminuição do fator pirogênico) ou administração de antipiréticos. Com essa diminuição do fator pirogênico ou com a administração de antipiréticos, a temperatura começa a diminuir no núcleo pré-óptico hipotalâmico, com isso, a temperatura no hipotálamo está diminuindo, porém, o sangue circulante no corpo ainda está com temperatura elevada. E assim ocorre a perda de calor, em que a pessoa começa a ter sudorese, desembrulha da coberta (que até então antes ela estava com frio). OBS: a febre é uma resposta do corpo para tentar enfraquecer os agentes pirogênicos, fazendo com que o sistema imune consiga tranquilamente destruir esse agente causador. Porem, se essa febre for muito elevada e se ela for prologanda pode causar desnaturação de proteínas, o paciente fica mais propenso a convulsões (principalmente em crianças), confusão mental e entre outros sintomas. CLASSIFICAÇÃO E TIPOS DE FEBRE A febre pode ser classificada em: • Aguda (menor que 7 dias) • Subaguda (menor que 14 dias) • Crônica (maior que 14 dias). Ela também pode ser classificada em: • Febre baixa, até 39ºC. • Moderada até 40ºC. • Alta até 41.1 ºC. • Hiperpirexia acima de 41.1ºC. OBS: um paciente com febre alta ou hiperpirexia, já corre o risco de ter danos ao organismo e por isso essa febre deve ser tratada, porque ameaça vida do paciente também. OBS: na criança e bebês essas temperaturas de febre (leve, moderada e grave) podem ser diferentes do que no adulto a depender da idade da criança. 5 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. ❖ Leve: Até 38,5ºC, sem sintomas significativos. Pode acontecer em crianças resfriadas, com faringite, laringite, diarreia e cistite, entre outros. Na maioria dos casos o uso de antibiótico pode não ser necessário, mas somente o pediatra poderá indicar ou não seu uso. ❖ Moderada: Entre 38,5ºC até 39,4°C, a criancinha parece abatida. Pode acontecer em casos como amigdalite com pus, meningite, pneumonia, infecções no ouvido e urinária. São situações em que o médico, a partir do diagnóstico, decidirá se há necessidade do uso de antibiótico. ❖ Grave: 39,5ºC ou temperatura menor do que 36ºC. É acompanhada de gemidos e tremores de frio. Pode acontecer em casos de pneumonia, broncopneumonia, meningite, inflamação da epiglote ou dos rins, por exemplo. Neste caso, normalmente se requer hospitalização da criança. Um ponto importante é que a intensidade da febre nem sempre está relacionada com a gravidade da doença. A febre pode ser classificada também em: • Continua, que é quando há uma flutuação menor que 1ºC em 24 horas consecutivas de febre. • Intermitente, presente somente em algumas horas do dia. • Remitente, que é quela febre que varia mais de 2ºC durante o dia. FATORES ASSOCIADOS À VARIAÇÃO DE TEMPERATURA CORPÓREA Idade: a temperatura das crianças tende a ser maior que a dos adultos; a diminuição para níveis semelhantes aos do adulto começa a acontecer com 1 ano de idade e continua até a puberdade, estabilizando-se entre 13 e 14 anos na menina e entre 17 e 18 anos no menino. A idade influi não apenas na temperatura basal, mas também na resposta febril; E recém-nascidos, especialmente prematuros, apresentam temperaturas menores e podem não desenvolver febre, ou mesmo apresentar hipotermia, na vigência de infecção. O mesmo pode acontecer com idosos. Ritmo circadiano da temperatura: a diferença média entre a mínima temperatura, obtida pela manhã, e a máxima, no final da tarde, tem amplitude de 0,5°C. O ritmo circadiano de temperatura não é observado em recém-nascidos, mas entre as idades de 6 meses e 2 anos já ocorre certa flutuação de até 0,6°C. Entre 2 e 6 anos o diferencial pode ser de 0,9°C; e acima de 6 anos, de até 1,1ºC. Sexo: a temperatura é mais elevada no sexo feminino, alterando-se de acordo com o ciclo menstrual. Outros - a atividade física, a alimentação, as alterações climáticas e ambientais, bem como o local de medida (oral, axilar ou retal), também interferem com a temperatura e, considerando-se todas essas variáveis, fica evidente que não existe uma temperatura normal em todas as situações, mas sim um intervalo de normalidade. 6 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. ETIOLOGIA PRINCIPAIS CAUSAS DE ELEVAÇÃO DA TEMPERATURA NA CRIANÇA Diversas são as causas de hipertermia ou febre propriamente dita na criança. Entre as principais estão: doenças infecciosas sistêmicas ou localizadas, administração de vacinas (pertussis, influenza, sarampo e outras) ou soros, desidratação, lesões teciduais, neoplasias, uso de fármacos (inclusive antitérmicos) ou agentes biológicos, doenças inflamatórias e hematológicas, colagenoses, doenças do sistema nervoso central, doenças granulomatosas, alterações endocrinológicas, imunodeficiências, desordens metabólicas e neutropenia cíclica. Deve-se também citar a hipertermia essencial ou habitual, a febre psicogênica e a "factícia" por manipulação de termômetros que, embora raras, podem ocorrer em crianças. A febre de duração inferior a 7-10 dias, em paciente cujo exame físico não revela anormalidades, é chamada febre sem sinais localizatórios. Essa situação, algumas vezes, requer investigação imediata pois, mais frequentemente, está associada à etiologia infecciosa. Quando a febre tem duração maior que 10 dias, sem que sua etiologia seja definida após investigação inicial, é denominada febre de origem indeterminada, e, embora as etiologias infecciosas sejam ainda as mais frequentes, sua abordagem não é simples e o diagnóstico muitas vezes só poderá ser estabelecido durante a evolução. Quando a febre é de curta duração, a anamnese e o exame físico costumam ser suficientes para se estabelecer sua etiologia e tratamento. A observação atenta da criança, nos braços da mãe, pode fornecer dados importantes sobre sua atividade, interação com o ambiente, resposta a estímulos, características do choro, toxemia. Essa observação é de grande importância no reconhecimento da doença grave na criança febril. É importante lembrar que o grau de elevação da temperatura nem sempre é proporcional à gravidade da doença e que a boa resposta aos antitérmicos não tem relação com a gravidade da doença. Existem diferenças fundamentais entre lactentes e crianças maiores no que diz respeito às causas infecciosas de doença febril. A maioria das crianças que se apresentam com febre tem menos de 3 anos de idade, quando são comuns tanto infecções benignas e autolimitadas como infecções graves como bacteriemia e meningite. Vários autores têm demonstrado que a avaliação clínica pode ser insuficiente para excluir infecções bacterianas graves nessa faixa etária e que os exames laboratoriais podem ser úteis na detecção das crianças de maior risco. Com intuito de evitara bacteriemia oculta, vários protocolos têm sido propostos na literatura para abordagem da criança jovem com febre sem sinais localizatórios. A maioria dos autores considera que a febre sem sinais localizatórios é um sinal de alto risco em crianças com idade inferior a 3 meses e existe um consenso sobre a necessidade de hospitalizar toda criança menor de 28 dias que apresente febre, para coleta de exames laboratoriais e introdução de antibioticoterapia por via intravenosa que cubra os principais agentes bacterianos dessa faixa etária (estreptococo do grupo B e gram negativos). 7 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. Nas crianças que apresentam sinais de risco (alterações neurológicas, petéquias, desconforto respiratório, sinais de choque, alterações cardíacas) deve-se considerar cuidadosamente a possibilidade de internação, especialmente se tiverem febre e petéquias, pois 8 a 20% desses pacientes têm infecção bacteriana grave; e 7 a 10%, sepse meningocócica ou meningite. SINAIS E SINTOMAS DA FEBRE Os sinais e sintomas da febre estão envolvidos com as respostas metabólicas à ação dos pirogênios. Podem ser observados calafrios, piloereção, extremidades frias (em decorrência da vasoconstrição periférica), posição fetal, taquicardia, taquipneia, taquisfigmia (aceleração do pulso), oligúria (produção de urina abaixo do normal), náusea e vômito, convulsões (principalmente em crianças), delírios e confusão mental, astenia (perda ou diminuição da força física), inapetência (ausência de apetite ) e cefaleia, sudorese (após a cessação da febre). SEMIOTÉCNICA DA FEBRE ANAMNESE ➔ INÍCIO: A febre não é um sinal específico e não ocorre em todos os pacientes. Um aspecto a ser verificado obrigatoriamente na anamnese é o início de febre. Também devem ser observados possíveis sinais/sintomas relacionados e a frequência com que eles se manifestam. Os antecedentes de encontros com pessoas com afecções transmissíveis também podem ser relevantes. Pode ser súbito ou gradual. No primeiro caso, percebe-se de um momento para outro a elevação da temperatura. Nesse caso, a febre se acompanha quase sempre dos sinais e sintomas que compõem a síndrome febril. É frequente a sensação de calafrios nos primeiros momentos da hipertermia. A febre pode instalar-se de maneira gradual e o paciente nem perceber seu início. Em algumas ocasiões, predomina um ou outro sintoma da síndrome febril, prevalecendo a cefaleia, a sudorese e a inapetência. Conhecer o modo de início da febre tem utilidade prática. Em algumas afecções, a instalação é súbita, enquanto, em outras, é gradual, levando dias ou semanas para caracterizar-se o quadro febril. O início desse sinal depende da etiologia. O surgimento de febre em decorrência de infecções bacterianas ou virais depende do tempo de incubação de cada agente etiológico. ➔ INTENSIDADE A intensidade da febre depende da causa e da capacidade de reação do organismo. Pacientes em mau estado geral, os indivíduos em choque e as pessoas idosas podem não apresentar febre ou ter apenas uma febrícula quando acometidos de processos infecciosos. ➔ DURAÇÃO 8 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. A duração da febre é uma característica de grande relevância, influindo inclusive na conduta do médico, que é diferente nos casos cuja febre se instalou há poucos dias em relação a outros que vêm apresentando febre por tempo prolongado. Por isso, tem-se procurado estabelecer um conceito de febre prolongada, mas não se chegou ainda a consenso quanto ao tempo mínimo de duração para que se aplique esta designação; ela é usada quando a febre permanece por mais de 1 semana, tenha ou não caráter contínuo. Esse conceito é prático e conveniente, pois é possível fazer-se uma lista relativamente curta das principais doenças que causam febre prolongada, destacando-se: tuberculose, septicemia, malária, endocardite infecciosa, febre tifoide, colagenoses, linfomas, pielonefrite, brucelose e esquistossomose. A queixa de febre por um tempo superior a três dias, bem como a recorrência frequente de episódios febris (em um período maior de seis meses), são situações de alerta. ➔ MODO DE EVOLUÇÃO A rigor, só se poderá saber o modo de evolução da febre por meio da análise de um quadro térmico, mas a simples informação obtida da anamnese pode servir de base para se conhecer essa característica. O registro da temperatura em uma tabela, dividida no mínimo em dias, subdivididos em 4 ou 6 horários, compõe o que se chama gráfico ou quadro térmico, elemento indispensável para se estabelecer o tipo de evolução da febre. Unindo-se por uma linha os valores de temperatura, fica inscrita a curva térmica do paciente. A anotação costuma ser feita 1 ou 2 vezes/dia, mas, em certos casos, registra-se a temperatura de 4 em 4 ou de 6 em 6 h. O mais comum é a mensuração de temperatura pela manhã e à tarde. RELEMBRANDO QUE - Classicamente descrevem-se os seguintes tipos evolutivos de febre: Febre contínua: aquela que permanece sempre acima do normal com variações de até 1 °C e sem grandes oscilações; por exemplo, febre tifoide, endocardite infecciosa e pneumonia Febre irregular ou séptica: registram-se picos muito altos intercalados por temperaturas baixas ou períodos de apirexia. Não há qualquer caráter cíclico nestas variações. Mostram-se totalmente imprevisíveis e são bem evidenciadas quando se faz a tomada da temperatura várias vezes ao dia; um exemplo típico é a septicemia. Aparece também nos abscessos pulmonares, no empiema vesicular, na tuberculose e na fase inicial da malária Febre remitente: há hipertermia diária, com variações de mais de 1°C e sem períodos de apirexia (cessação ou ausência de febre). Ocorre na septicemia, pneumonia, tuberculose. 9 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. Febre intermitente: nesse tipo, a hipertermia é ciclicamente interrompida por um período de temperatura normal; isto é, registra-se febre pela manhã, mas esta não aparece à tarde; ou então, em 1 dia ocorre febre, no outro, não. Por vezes, o período de apirexia dura 2 dias. Febre recorrente ou ondulante: caracteriza-se por período de temperatura normal que dura dias ou semanas até que sejam interrompidos por períodos de temperatura elevada. Durante a fase de febre não há grandes oscilações; por exemplo: brucelose, doença de Hodgkin e outros linfomas ➔ TÉRMINO Esse termino da febre pode ocorrer de forma que seja: → Crise: quando a febre desaparece subitamente. Neste caso costumam ocorrer sudorese profusa e prostração. → Lise: significa que a hipertermia vai desaparecendo gradualmente, com a temperatura diminuindo dia a dia, até alcançar níveis normais. Observado em inúmeras doenças, é mais bem reconhecido pela análise da curva térmica. ➔ CARACTERÍSTICAS E GRAVIDADE DA FEBRE. A febre aguda, a mais comum, geralmente é causada por infecções autolimitadas que desaparecem em alguns dias ou até em uma semana e, por isso, não necessita de intervenção médica. Casos em que há maior duração desse sinal, ou recorrência depois de um intervalo de apirexia, sugerem infecções mais graves ou outras doenças, e devem ser avaliados pelo médico. EXAME FÍSICO O exame físico começa com a confirmação da febre. Além disso, é preciso: Procurar sinais localizatórios. Um exame físico detalhado pode ser a chave para se chegar a um diagnóstico. Obviamente ele deve ser direcionado em casos com queixas específicas. Mas em casos complexos, não deve deixar de pesquisar todos os segmentos do corpo. É preciso examinar a pele em busca de icterícia, lesões localizadas, ou algum rash característico, percutir seios da face, pesquisar sinais de irritação meníngea, sinais neurológicos focais, alteração do nível de consciência, realizar oroscopia e otoscopia, fundo de olho, palpar tiróide, pesquisar adenopatias em todas as cadeias, auscultapulmonar buscando crepitação e derrame pleural. Ausculta cardíaca buscando sopros, atrito pericárdico. Exame abdominal em busca de hepatoesplenomegalia, ascite, massas, sinais de peritonismo (descompressão brusca), lesões 10 Prob.1/Mód.14 | Larissa Gomes de Oliveira. genitais, corrimento, abscesso perianal, avaliar articulações, verificar sinais de flebite ou trombose venosa. Na prática, uma boa história clínica é o maior orientador da extensão e do foco da propedêutica. Procurar Rash cutâneo característico. O rash pode ser o único sinal característico da doença por trás do quadro de febre, por isso é importante reconhecer as lesões e seus padrões. É importante saber se houve pródromo, como o rash progrediu e se mudou de padrão. Lesões purpúricas podem ocorrer na meningococcemia e na púrpura trombocitopênica trombótica. Vesículas e bolhas ocorrem em doenças por vírus da família herpes. Lesões descamativas podem ocorrer em síndrome do choque tóxico e em exantemas por drogas (mais detalhes na seção de diagnóstico diferencial). É também importante determinar as lesões no paciente HIV. Há estudos que mostram acometimento dermatológico em 80% a 90% dos casos, daí a importância de se fazer o diferencial. FEBRE X HIPERTEMIA É muito importante que a febre seja diferenciada da hipertermia, que tem diferentes etiologias e tratamentos. Na febre, a elevação da temperatura resulta de alterações do sistema nervoso central com modificação do ponto de regulação da temperatura para um limiar mais elevado. Na hipertermia, não há influência do centro termorregulador e a temperatura interna permanece em 37°C, embora o organismo não consiga aumentar a dissipação de calor. A hipertermia é observada nas seguintes situações: calor excessivo (excesso de roupas, ambiente superaquecido, fototerapia), desidratação, hipernatremia, hipertireoidismo, intoxicações medicamentosas (salicilatos, atropínicos, fenotiazídicos), hipertermia maligna e displasia ectodérmica. Clinicamente, a febre pode ser diferenciada da hipertermia da seguinte forma: na febre observa-se vasoconstrição periférica, diminuição da sudorese, sensação de frio, calafrios e tremores, enquanto na hipertermia observa-se vasodilatação cutânea, sudorese abundante e sensação de calor. Isso se deve ao fato de que, na febre, o "set point" hipotalâmico está regulado para um patamar acima de 37°C, sendo desencadeados, automaticamente, os mecanismos para diminuir as perdas de calor, enquanto a hipertemia, como não há mudanca do set point hipotalâmico, a elevação da temperatura faz com que sejam desencadeados os mecanismos responsáveis pela perda de calor. OBS: a hipertermia é o aumento descontrolado da temperatura e nela não há o aumento do limiar basal no núcleo pré-óptico hipotalâmico. O que acontece na hipertermia é que o corpo esquenta muito e com isso há um aumento de temperatura. Ele excede a capacidade de dissipar calor, então mesmo suando, tirando as roupas quentes, a temperatura continua elevada.
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