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FIBROMIALGIA Os critérios fundamentais: dor crônica generalizada há mais de 3 meses (parte superior, inferior e região lombar) com hipersensibilidade aos estímulos, mecânicos e com pelo menos 11 dos 18 pontos dolorosos. Apresentar insônia, fadiga e angústia. Ocorrência de uma resposta anormal do eixo-hipotálamo-hipofisário ao estresse, associado ainda a outros transtornos significativos de humor. E por fim, ainda pode estar relacionada com outras síndromes dolorosas crônicas (síndrome do cólon irritável, síndrome da fadiga crônica, síndrome da guerra do Golfo e lombalgia). Definição: é uma síndrome dolorosa crônica, sendo caracterizada por uma dor generalizada, pontos dolorosos, distúrbios do sono e fadiga extrema. A síndrome fibromiálgica (SFM) é uma condição dolorosa crônica difusa do sistema musculoesquelético, não-articular, caracterizada pela presença de dor à palpação em locais predeterminados denominados pontos dolorosos. É uma dor em musculatura que se relaciona com a sensibilização das vias de transmissão da dor no sistema nervoso central. O mecanismo não está bem definido, mas já sabe que ocorre um aumento das concentrações de neuropeptídeos no SNC e alterações no eixo hipotálamo-hipofisário-supra-renal. Epidemiologia: acomete em geral, as mulheres (9:1). Não apresenta uma única manifestação, mas sim um conjunto de sinais e sintomas. Acomete cerca de 2 a 5% da população geral. Além de acometer mais mulheres, acomete numa faixa que varia de 35 a 50 anos de idade, mas de forma geral, pode afetar qualquer idade. O American College of Rheumatology (ACR) publicou os critérios diagnósticos da SFM: dor generalizada crônica (> 3 meses) e alodinia mecânica em pelo menos 11 dos 18 pontos doloroso. A maioria dos pontos apresentam-se em pontos de inserção dos tendões e apresenta poucas ou nenhuma anormalidade histológica detectada. PATOGENIA Os pacientes apresentam o quadro com uma síndrome de amplificação da dor, onde são extremamente sensíveis aos estímulos dolorosos e não-doloroso, podendo ter a sensibilidade para o toque, calor, frio, estímulos mecânicos. Vale salientar, que os estímulos desses pacientes, podem ocorrer a partir de estímulos luminosos, sonoros e olfatórios. Não se conhece o mecanismo exato para o desencadeamento da sensibilidade exagerada, mas o que se sabe, é que em todos os pacientes que apresentaram o quadro de SFM evidenciou anormalidades no processamento da dor no SNC. De forma que uma sensibilização central, indicou uma redução do limiar nociceptivo no corno dorsal da medula espinhal e no encéfalo. E essa teoria é a mais aceita por conta dos achados experimentais: (1) – elevados níveis de substância P no líquido cerebrospinal; (2) – elevados níveis de dinorfina no líquido cerebroespinal; (3) – elevados níveis de fator de crescimento nervoso no líquido cerebroespinal; (4) – somação temporal elevada da sensação térmica cutânea; (5) – somação temporal elevada da sensação de pressão muscular; (6) – potencial somatossensorial elevado em resposta a estímulo cutâneo; (7) – resposta elevada da injeção de solução salina intramuscular; (8) – redução da dor após infusão de cetamina (antagonista do receptor NMDA); (9) – elevação dos níveis plasmáticos de neuropeptídeos Y; (10) – déficit do sistema de controle inibitório da nocicepção; (11) – atividade elevada das áreas de processamento cerebral da dor com imagem de ressonância magnética funcional; (12) – decréscimo da atividade talâmica com Scans cerebral funcional. Além disso, observou que os pacientes com SFM apresentam uma experiência da dor referida quando os músculos são estimulados com solução salina, e há uma redução do limiar de dor diante dos estímulos mecânicos nos músculos. ❖ Enquanto em indivíduos normais a curva de intensidade da dor, gerada por estímulos mecânicos é logarítimica¸nos doentes com SFM o aumento é linear. Além disso, observa-se que a substância P aumenta três vezes no líquido cerebroespinal, em pacientes com SFM. E sabe que essa substância é capaz de reduzir o limiar da excitabilidade sináptica, resultando em uma ativação de sinapses normalmente silenciosas, sensibilizando os neurônios de segunda ordem. Hiperalgesia: é caracterizada pela sensibilização central, que depende da ativação dos receptores NMDA e da liberação da substância P pelos aferentes nociceptivos primários da medula espinal. Ainda, os níveis de noradrenalina plasmática basal é mais elevada em doentes com SFM, e esses pacientes apresentam uma hiperatividade simpática. Eventos desencadeantes: a maioria das exposições ambientais, são descritas como estressores. E nisso, pode entrar traumatismos físicos, infecções, sofrimento emocional, distúrbios endócrinos e ativação imunológica. Uma das associações da SFM com os traumatismos, são as lesões em região cervical. De forma que no primeiro ano, após uma lesão cervical, o paciente aumenta em 10 vezes as chances de desenvolver a SFM. - Critérios diagnósticos sugeridos pelo CAR: História clínica: dor generalizada localizada no hemicorpo direito e esquerdo, acima e abaixo da cintura, além do eixo axial (região cervical, face anterior do tórax, dorso e região lombar) com duração superior a três meses. Exame físico: dor à palpação digital com 4 kg/cm2 em áreas denominadas pontos dolorosos (tender points) em 11 ou mais dos seguintes pontos (bilateralmente): - Inserção dos músculos suboccipitais na nuca; - Ligamentos dos processos transversos da quinta à sétima vértebra cervical; - Bordo rostral do trapézio Músculo supraespinhal; - Junção do músculo peitoral com a articulação costocondral da segunda costela; - Dois centímetros abaixo do epicôndilo lateral do cotovelo; - Quadrante látero-superior da região glútea, abaixo da espinha ilíaca Inserções musculares no trocanter femoral; - Dois centímetros rostralmente à linha articular do côndilo medial do fêmur; Quando o número de pontos for menor à 11, porém, com concomitância de outros sintomas e sinais, o diagnóstico de fibromialgia também pode ser realizado. Quadro clínico: O sintoma cardinal para a SFM é a dor crônica generalizada (sendo moderada ou intensa). Ainda, o paciente refere dor nos músculos, ligamentos e tendões em várias partes do corpo. E a cefaleia crônica, geralmente diária, intensas e relacionadas à tensão emocional, ocorrem em mais de 40% dos doentes. A dor em pacientes com FM localiza-se acima e abaixo da cintura, em ambos os lados do corpo, acometendo o esqueleto axial (pescoço, costas ou tórax). A dor atribuível a FM é pouco localizada, difícil de ignorar, intensa e associada a uma redução da capacidade funcional. A dor deve estar presente na maior parte do dia, na maioria dos dias, durante pelo menos 3 meses. O quadro de rigidez articular ocorre em cerca de 80% dos casos. De forma que podem se apresentar com horários de preferência, como ser intensas pela manhã e ao anoitecer, podendo se agravar com o excesso de atividades físicas, infecções sistêmicas, lesão de tecidos moles, privação de sono, exposição ao frio, umidade e estresse. A fadiga generalizada que é referida por uma sensação de “falta de energia/exaustão” foi relatada por 85% dos doentes. Parestesias e adormecimento, referidas principalmente nas extremidades, e às vezes até no couro cabeludo (sem padrão dermatológico) e com ausência de anormalidades no exame neurológico, são referidas por 50 a 75% dos pacientes. E ainda, os sintomas como sensação de inchaço, edemas nas mãos e pés, tornozelos também são sintomas frequentes. Dificuldade com o sono, seja para a instalação do sono, despertares frequentes durante a noite, dificuldade na retomada do sono, sono agitado, sono superficial e despertares precoces ocorrem em aproximadamente 65% dos doentes. Estudos de polissonografia revelam padrão anormal de ondas α duranteos estágios 2, 3 e 4 do sono não-REM em doentes com SFM. Entretanto, esse achado não é específico para SFM. Quando esse padrão é induzido em indivíduos saudáveis, sintomas semelhantes aos da fibromialgia são reproduzidos. Ainda não se sabe se essa anormalidade do sono é causadora ou consequência da dor crônica. Sintomas neuropsicológicos: as queixas variam, desde a dificuldade em adormecer, dificuldade em manter o sono e acordar cedo pela manhã. Mas independente das variações, o paciente relata sentir dificuldade em acordar. Além disso, podem ter queixas comportamentais e cognitivas, como dificuldade em manter a concentração, lentidão no processamento, dificuldades de atenção ou concentração, problemas com lembranças de palavras e uma perda de memória a curto prazo. Além disso, sintomas de ansiedade e depressão são comuns, e ainda com uma prevalência de transtornos de humor em aproximadamente 80% dos pacientes. Síndromes de superposição: frequentemente os pacientes com FM apresentam outros sintomas, como cefaleias, dor facial, mandibular, dor miofascial regional, acometendo o pescoço ou as costas e artrite. Bem como, queixas de dor em trato gastrointestinal, bexiga, região pélvica ou perineal. Considerações psicossociais: durante os períodos de altos níveis de estresse real ou percebido, pode influenciar na exacerbação dos sintomas da FM. DIAGNÓSTICO Um estudo realizado pelo Colégio Americano de Reumatologia (CA), chegou à seguinte conclusão: determinou que a combinação de dor difusa, bilateral, acima e abaixo da cintura, nas extremidades e no esqueleto axial e a identificação de, pelo menos, 11 de 18 pontos dolorosos específicos apresentava sensibilidade de 88,4% e especificidade de 81,1% nos doentes com SFM. Exame físico: Na prática clínica, essa sensibilidade é determinada pelo exame de um ponto hipersensível, em que o examinador usa a unha do polegar para exercer uma pressão de aproximadamente 4 kg/m2, ou uma pressão que produz empalidecimento da ponta da unha do polegar, em locais musculotendíneos bem definidos. Exames Laboratoriais ou radiográficos: os exames de rotina, tanto laboratoriais e radiográficos, se apresentam normais. De forma que esses exames complementares, visam descartar o diagnóstico diferencial. MECANISMOS NEUROMORAIS O paciente que apresenta a SFM ele possui anormalidades neuroendócrinas no eixo hipotálamo-pituitário-adrenal. De forma que a dor, fadiga e a falta de sono ocasionados pela fibromialgia, são fatores estressores. E a resposta fisiológica ao estresse, inclui o ACTH, a noradrenalina, o sistema nervoso neurovegetativo, o locus ceruleus, sistema nervoso periférico e o eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal. O hipotálamo é o principal centro regulador do eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal. De forma que a sua ativação promove o aumento de secreção de ACTH, que por sua vez, estimula a secreção de cortisol pelo córtex adrenal. Assim, o cortisol por mecanismo de feedback negativo, inativa o hipotálamo, a hipófise e outros centros do sistema nervoso central, que regulam a função hipotálamo-hipófise- adrenal. E assim, os pacientes com SFM, apresentam uma reação exagerada ao ACTH e ao CRG, e a reação da adrenal ao ACTH. Durante a reação de estresse, o eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal interage com a noradrenalina do locus ceruleus e do SNNVS e outros sistemas encefálicos. O SNNVS produz noradrenalina, enquanto a medula adrenal produz adrenalina e noradrenalina. Essa atividade é regulada pelo feedback entre as projeções dos neurônios do hipotálamo e o núcleo simpático catecolaminérgico graças à ação de vários neurotransmissores e neuropeptídeos. Alguns neurotransmissores, como a serotonina e a acetilcolina, ativam tanto o eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal quanto o SNNVS, enquanto outros neurotransmissores, como o GABA e vários peptídeos opioides, inibem os dois sistemas. A pró-opiomelanocortina e a β-endorfina inibem tanto o eixo hipotálamo-hipofisário- adrenal como o SNNVS. A substância P é um potente inibidor de GH, mas estimula o SNNVS. O eixo hipo-tálamo-hipofisário-adrenal desempenha algum controle no eixo do hormônio de crescimento. Os pacientes com SFM apresentam um nível significativamente menor de somatomedina C e a reação de fator de insulina, de forma que isso influencia no menor nível, e assim, o eixo somatomedina C-GH é importante no processo de homeostase muscular. De forma que se acredita que essa alteração na secreção de GH é um fator que contribui para a menor recuperação frente aos microtraumatismos musculares, e as dores musculares associadas a SFM. Fadiga: se associa com a falta do sono reparador, bem como, a falta de condicionamento físico e as disfunções do eixo HHA. E ainda, a deficiência na produção de serotonina, pode também resultar no comprometimento da duração do sono não-REM. E que por sua vez, o GH é liberado, principalmente, nos estágios três e quatro do sono não-REM. A dor crônica é uma condição estressante que interfere na capacidade de atenção, concentração e memória – cognição e processamento das informações. TRATAMENTO O tratamento inclui o controle da dor e da fadiga, com melhora do padrão de sono, controle de anormalidades do humor, melhora e reintegração psicossocial – interação interdisciplinar. Os antidepressivos tricíclicos são o “padrão ouro” para o tratamento, podendo ser associado a analgésicos, anti-inflamatórios não-hormonais (AINHS), miorrelaxantes, ansiolíticos, sedativos e opioides.
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