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Antidepressivos Transtornos de Humor Episódios de humor: O transtorno bipolar caracteriza-se, em geral, por quatro tipos de episódios de doença: maníaco, depressivo maior, hipomaníaco e misto. Um paciente pode ter qualquer combinação desses episódios durante o curso da doença. Ocorrem também episódios maníacos ou depressivos subsindrômicos durante a evolução da doença. Nesses casos, não há sintomas suficientes ou estes não são suficientemente graves para preencher os critérios diagnósticos de um desses episódios. Assim, a apresentação dos transtornos do humor pode variar bastante. TRANSTORNOS DE HUMOR Depressão: • Cognitivos: o Humor deprimido: desânimo persistente, tristeza, baixa autoestima, sentimentos de inutilidade, vazio, culpa ou/e irritabilidade; o Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis; o Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar, memorizar ou de tomar decisões; o Ideação suicida. • Fisiológicos : o Fadiga ou sensação de perda de energia; o Alterações do sono (mais frequentemente insônia, podendo ocorrer também sonolência excessiva ou sono interrompido); o Alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também aumento do apetite); o Redução do interesse e prazer sexual; o Agitação motora, inquietude; o Alterações dos rimos circadianos (dormir fora de hora). • Evidências comportamentais: o Retraimento social (isolamento social); o Chorar mais e com mais frequência; o Comportamentos suicidas; o Retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação psicomotora; o Tentativa de suicídio; o Comportamento autodestrutivo (automutilação). Neurotransmissores e Circuitos nos Transtornos do Humor ➢ Três neurotransmissores principais são implicados, há muito tempo, tanto na fisiopatologia quanto no tratamento dos transtornos do humor. ➢ Esses neurotransmissores são a noradrenalina, a dopamina e a serotonina e constituem o denominado sistema de neurotransmissores monoamínicos. Essas três monoaminas costumam atuar em conjunto. ➢ Existe a hipótese de que muitos dos sintomas dos transtornos do humor envolvem a disfunção de várias combinações desses três sistemas. ➢ Praticamente todos os tratamentos conhecidos para os transtornos do humor atuam sobre um ou mais desses três sistemas. Término da ação da noradrenalina. Interrompe-se a ação da noradrenalina por múltiplos mecanismos. A noradrenalina pode ser transportada para fora da fenda sináptica e de volta ao neurônio pré-sináptico pelo transportador de noradrenalina (NAT), onde pode ser reacondicionada para uso futuro. Além disso, a noradrenalina pode ser degradada extracelularmente pela enzima catecol-O-metiltransferase (COMT). Outras enzimas que decompõem a noradrenalina são a monoamina oxidase A (MAO-A) e a monoamina oxidase B (MAO-B), que estão nas mitocôndrias dentro do neurônio pré-sináptico e em outras células, como neurônios e neuróglia. Receptores de noradrenalina. São mostrados aqui os receptores de noradrenalina que regulam sua neurotransmissão. O transportador de noradrenalina (NAT) está presente pré- sinapticamente e é responsável pela eliminação do excesso de noradrenalina para fora da sinapse. O transportador vesicular de monoaminas (VMAT2) transporta noradrenalina para dentro das vesículas sinápticas, armazenando-a para neurotransmissão futura. Existe, também, um autorreceptor α2 présináptico, que regula a liberação de noradrenalina pelo neurônio présináptico. Além disso, existem vários receptores pós-sinápticos, como os receptores α1, α2A, α2B, α2C, β1, β2 e β3. Hipótese monoaminérgica clássica da depressão, parte 1. De acordo com a hipótese monoaminérgica clássica da depressão, quando há uma quantidade “normal” de atividade neurotransmissora das monoaminas, não ocorre depressão. Hipótese monoaminérgica clássica da depressão, parte 2. A hipótese monoaminérgica da depressão postula que, se, por alguma razão, houver redução, depleção ou disfunção da quantidade “normal” de atividade neurotransmissora das monoaminas pode ocorrer desenvolvimento de depressão. Hipótese dos receptores monoaminérgicos para a depressão. A hipótese dos receptores monoaminérgicos para a depressão amplia a hipótese monoaminérgica clássica da depressão, a qual postula que a atividade deficiente dos neurotransmissores monoamínicos provoque suprarregulação dos receptores pós-sinápticos de neurotransmissores monoamínicos, levando à depressão. → CLASSES: • Inibidores seletivos da recaptação de serotonina • Inibidores da recaptação de serotonina-noradrenalina • Inibidores da recaptação de noradrenalina e de dopamina | Bupropiona • Inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina • Ações antagonistas de alfa-2 da mirtazapina • Antagonistas/inibidores da recaptação de serotonina • Antidepressivos clássicos | Inibidores da MAO • Antidepressivos clássicos | Antidepressivos tricíclicos RECEPTORES MONOAMÍNICOS E SEUS EFEITOS QUANDO ESTIMULADOS ➢ Inibidores seletivos da recaptação de serotonina ➢ Fluoxetina Paroxetina Sertralina Citalopram Fluvoxamina ➢ Inibidores seletivos da recaptação de serotonina Ação dos ISRS. Nesta figura, a parte inibidora da recaptação de serotonina (IRS) da molécula do ISRS é mostrada inserida na bomba de recaptação de serotonina (o transportador de serotonina), bloqueando-o e causando o efeito antidepressivo. Efeito colateral: ansiedade, insônia e disfunção sexual. Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina Mecanismo de ação dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), parte 1. A figura ilustra um neurônio serotoninérgico (5HT) em um paciente deprimido. Na depressão, o conceito é de que o neurônio de 5HT apresenta deficiência relativa do neurotransmissor 5HT. Além disso, o número de receptores de 5HT está suprarregulado, inclusive os autorreceptores 5HT1A présinápticos e os receptores de 5HT pós-sinápticos. Mecanismo de ação dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), parte 2. Quando se administra um ISRS, ele bloqueia imediatamente a bomba de recaptação de serotonina (ver representação de cápsula de ISRS bloqueando a bomba de recaptação ou o transportador de serotonina [SERT]). Todavia, isso provoca elevação inicial da serotonina apenas na área somatodendrítica do neurônio serotoninérgico (à esquerda), porém nem tanto nos terminais axônicos (à direita). Mecanismo de ação dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), parte 3. A consequência do aumento da serotonina na área somatodendrítica do neurônio serotoninérgico (5HT), conforme ilustrado na Figura anterior, consiste na dessensibilização ou na infrarregulação dos autorreceptores 5HT1A somatodendríticos (círculo vermelho). Mecanismo de ação dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), parte 4. Uma vez infrarregulados os receptores somatodendríticos, conforme ilustrado na Figura 7.15, não há mais inibição do fluxo de impulsos no neurônio serotoninérgico (5HT). Desse modo, o fluxo de impulsos dos neurônios é ativado. A consequência disso consiste na liberação de 5HT no terminal axônico (círculo vermelho). No entanto, esse aumento é tardio, em comparação com a elevação da 5HT nas áreas somatodendríticas do neurônio 5HT, conforme mostra a Figura 7.14. Esse retardo resulta do tempo necessário para que a 5HT somatodendrítica infrarregule os receptores 5HT1A e ative o fluxo de impulsos neuronais no neurônio 5HT. Essa demora pode explicar por que os antidepressivos não aliviam imediatamente a depressão. Constitui também o motivo pelo qual o mecanismo de ação dos antidepressivos talvez esteja ligado ao aumento do fluxo de impulsos neuronais nos neurônios 5HT, com elevação dos níveis de 5HT nos terminais axônicosantes que o ISRS possa exercer seus efeitos antidepressivos. Inibidores da Recaptação de Serotonina-Noradrenalina Ações dos IRSN. Nesta figura, são mostradas as ações duplas dos inibidores da recaptação de serotonina e de noradrenalina (IRSN). Tanto a parte inibidora da recaptação de serotonina (IRS) da molécula do IRSN (painel da esquerda) quanto a parte inibidora de recaptação de noradrenalina (IRN) da molécula do IRSN (painel da direita) estão inseridas em suas respectivas bombas de recaptação. Consequentemente, ambas as bombas são bloqueadas e o fármaco medeia o efeito antidepressivo. Efeitos colaterais: ansiedade, insônia, disfunção sexual, hipertensão e taquicardia. Bloqueio do transportador de noradrenalina e dopamina no córtex préfrontal. A. Embora haja quantidades abundantes de transportadores de serotonina (SERT) e de transportadores de noradrenalina (NAT) no córtex pré-frontal (CPF), existem poucos transportadores de dopamina (DAT). Isso significa que a dopamina pode se difundir para fora da sinapse e, portanto, exercer suas ações dentro de um raio maior. As ações da dopamina cessam nos terminais axônicos noradrenérgicos, visto que ela é captada pelo NAT. B. O bloqueio do NAT no córtex pré-frontal leva ao aumento da noradrenalina sináptica, estendendo, assim, seu raio de difusão. C. Como o NAT capta tanto dopamina quanto noradrenalina, seu bloqueio também leva ao aumento da dopamina sináptica, estendendo ainda mais seu raio de difusão. Dessa maneira, os agentes que bloqueiam → Inibidores da recaptação de noradrenalina e de dopamina | Bupropiona Ações do IRND. Nesta figura, a parte inibidora da recaptação de noradrenalina (IRN) da molécula do IRND (painel da esquerda) e a parte inibidora da recaptação de dopamina (IRD) da molécula do IRND (painel da direita) estão inseridas em suas respectivas bombas de recaptação. Em consequência, ambas as bombas são bloqueadas, e o fármaco medeia o efeito antidepressivo. Efeitos colaterais: hipertensão, taquicardia, sintomas semelhantes ao Parkinson. Ações dos IRND no córtex pré-frontal e no estriado. Os inibidores da recaptação de noradrenalina e de dopamina (IRND) bloqueiam os transportadores de noradrenalina (NAT) e de dopamina (DAT). A. O bloqueio do NAT no córtex pré-frontal leva a um aumento da noradrenalina sináptica, estendendo, assim, o raio de difusão desta. B. Como o córtex pré-frontal carece de DAT, e os NAT transportam tanto a dopamina quanto a noradrenalina, o bloqueio do NAT também leva a um aumento da dopamina sináptica, bem como da NA no córtex pré-frontal, estendendo ainda mais o raio de difusão da DA. Dessa maneira, apesar da ausência de DAT no córtex pré-frontal, os IRND ainda aumentam a dopamina no córtex préfrontal. C. O DAT está presente no estriado, e, assim, sua inibição aumenta a difusão de dopamina nessa região. Inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina Riboxetina, Viloxazina Ações antagonistas de alfa-2 da mirtazapina O antagonismo de alfa-2 aumenta a liberação de serotonina e de noradrenalina no córtex. Esta figura amostra como tanto a neurotransmissão noradrenérgica quanto a serotoninérgica são aumentadas por antagonistas α2. O neurônio noradrenérgico é desinibido no córtex, visto que o antagonista α2 bloqueia seus autorreceptores α2 présinápticos. Isso tem o efeito de “cortar os cabos do freio” para a liberação de noradrenalina (NA). Além disso, os antagonistas α2 “cortam o cabo do freio da 5HT” quando os heterorreceptores α2 pré-sinápticos são bloqueados no terminal axônico 5HT, ocasionando, assim, o aumento na liberação de serotonina. • Antagonistas/inibidores da recaptação de serotonina • Trazodona Nefazodona • Antagonistas/inibidores da recaptação de serotonina ISRS versus AIRS. A. A inibição do transportador de serotonina (SERT) por um inibidor seletivo da recaptação de serotonina (ISRS) no neurônio pré-sináptico aumenta a serotonina em todos os receptores, com ações antidepressivas mediadas por 5HT1A, bem como disfunção sexual, insônia e ansiedade mediadas por 5HT2A e 5HT2C. B. A inibição do SERT por um antagonista de serotonina 2A (5HT2A)/inibidor da recaptação de serotonina (AIRS) no neurônio pré-sináptico aumenta a serotonina nos receptores 5HT1A, o que resulta em ações antidepressivas. Todavia, a ação dos AIRS também bloqueia as ações da serotonina nos receptores 5HT2A e 5HT2C, com consequente ausência de disfunção sexual, insônia ou ansiedade. Com efeito, essas ações bloqueadoras nos receptores 5HT2A e 5HT2C podem melhorar a insônia e a ansiedade e exercer ações antidepressivas próprias. Antidepressivos clássicos | Inibidores da MAO Inibição da monoamina oxidase A (MAO-A). A enzima MAO-A metaboliza a serotonina (5HT) e a noradrenalina (NA), bem como a dopamina (DA) (painéis da esquerda). A monoamina oxidase B (MAO-B) também metaboliza a DA, porém só metaboliza a 5HT e a NA em altas concentrações (painéis da esquerda). Isso significa que a inibição da MAO-A aumenta a 5HT, a NA e a DA(painéis da direita), mas que o aumento da DAnão é tão grande quanto o da 5HT e da NA, pois a MAO-B pode continuar destruindo a DA (painel direito inferior). A inibição da MAO-A constitui uma estratégia antidepressiva eficaz. Efeitos colaterais: ansiedade, insônia, disfunção sexual, hipertensão, taquicardia e sintomas relacionados ao Parkinson. Inibição da monoamina oxidase B (MAOB). Os inibidores seletivos da MAO-B não têm eficácia antidepressiva. Isso se deve ao fato de que a MAO-B metaboliza a serotonina (5HT) e a noradrenalina (NA) apenas em concentrações elevadas (dois painéis superiores da esquerda). Como o papel da MAO-B na destruição da 5HT e NA é pequeno, sua inibição provavelmente não é relevante para as concentrações desses neurotransmissores (dois painéis superiores da direita). A inibição seletiva da MAO-B também tem efeitos um tanto limitados sobre as concentrações de dopamina (DA), visto que a MAO-A continua destruindo a DA. Todavia, a inibição da MAO-B aumenta, em certo grau, a DA, o que pode ser terapêutico em outros estados mórbidos, como a doença de Parkinson. Inibição combinada da monoamina oxidase A (MAO-A) e da monoamina oxidase B (MAO-B). A inibição combinada da MAO-A e da MAO-B pode ter ações antidepressivas consistentes, devido a aumentos não apenas da serotonina (5HT) e da noradrenalina (NA), mas também da dopamina (DA). A inibição da MAO-A, que metaboliza a 5HT, a NA e a DA, e da MAO-B, que metaboliza, principalmente, a DA (painéis da esquerda), leva a aumentos mais pronunciados em cada um desses neurotransmissores do que a inibição de uma dessas duas enzimas isoladamente. Antidepressivos clássicos | Antidepressivos Tricíclicos Clomipramina, Imiopramina, Amitriptilina, Nortriptilina, Amoxapina, Trimipramina. Ações terapêuticas dos antidepressivos tricíclicos (ATC), parte 1. Nesta figura, o ATC é mostrado com sua parte inibidora da recaptação de serotonina (IRS) inserida no transportador de serotonina (SERT), bloqueando-o e produzindo o efeito antidepressivo. Ações terapêuticas dos antidepressivos tricíclicos (ATC), parte 2. Nesta figura, o ATC é mostrado com sua parte inibidora da recaptação de noradrenalina (IRN) inserida no transportador de noradrenalina (NAT), bloqueando-o e produzindo o efeito antidepressivo. Assim, tanto a parte de recaptação de serotonina quanto a parte de recaptação de noradrenalina do ATC atuam farmacologicamente para produzir o efeito antidepressivo. Ações terapêuticas dos antidepressivos tricíclicos (ATC), parte 3. Nesta figura, o ATC é mostrado com sua parte 5HT2A inserida no receptor 5HT2A, bloqueando-o e produzindo o efeito antidepressivo, bem como melhorando potencialmente o sono. Efeitos colaterais dos antidepressivos tricíclicos (ATC), parte 1. Nesta figura, o ATC é mostrado com sua parte anti-histamínica (H1)inserida nos receptores de histamina, o que causa os efeitos colaterais ganho de peso esonolência. Efeitos colaterais dos antidepressivos tricíclicos (ATC), parte 2. Nesta figura, o ATC é mostrado com sua parte anticolinérgica/muscarínica (M1) inserida nos receptores de acetilcolina, o que causa os efeitos colaterais constipação intestinal, visão turva, boca seca e sonolência. Efeitos colaterais dos antidepressivos tricíclicos (ATC), parte 3. Nesta figura, o ATC é mostrado com sua parte antagonista alfa-adrenérgica inserida nos receptores α1-adrenérgicos, o que causa os efeitos colaterais tontura, sonolência e redução da pressão arterial.
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