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ESTRUTURA DA CONTABILIDADE BRASILEIRA AULA 6 Prof.ª Edenise Aparecida dos Anjos 2 CONVERSA INICIAL Olá, aluno(a). Bem-vindo(a)! Nesta aula, vamos tratar da mensuração do valor justo para fins de divulgação das informações contábeis. Para isso, vamos estudar os seguintes assuntos: • Definição de valor justo e aspectos gerais da norma. • Aplicação de valor justo para ativos, passivos e instrumentos patrimoniais. • Técnicas de avaliação de valor justo. • Informações para aplicação de técnicas de avaliação do valor justo. • Divulgação das informações relacionadas ao valor justo. CONTEXTUALIZANDO Desde os primeiros conteúdos, foram apresentados aspectos conceituais de forma evolutiva, justificando a aplicação da contabilidade para os negócios. Mantendo esse raciocínio, podemos observar que a contabilidade vem se ajustando ao longo do tempo para atender às necessidades informacionais dos negócios contemporâneos. A Mensuração do Valor justo foi introduzida na contabilidade brasileira por meio da convergência às normas internacionais e formalizada por meio do CPC 46 – Mensuração do Valor Justo. Esta aula tem como objetivos esclarecer as seguintes questões: O que é valor justo? Como mensurar o valor justo? Justo para quem e quais transações? Bons estudos! TEMA 1 – DEFINIÇÃO DE VALOR JUSTO E ASPECTOS GERAIS DA NORMA Vamos começar tratando dos aspectos normativos do valor justo, abordando especificamente o CPC 46 – Mensuração do Valor Justo. Mas antes de entramos no assunto principal, será apresentado um resgate histórico da mensuração do valor justo, inserido na contabilidade brasileira para fins de divulgação das demonstração contábeis e avaliação. A Mensuração do Valor Justo no Brasil, para fins de divulgação das demonstrações financeiras, possui como marco histórico a promulgação da Lei n. 11.638/2007, que altera, revoga e insere novos dispositivos na Lei n. 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações), no mercado de capitais e nas 3 práticas contábeis brasileiras convergentes com as internacionais, especificamente as IFRS (International Financial Reporting Standards) (CATTY, 2013). Nesse período, para ajustar as normas internacionais emitidas pelo IASB (International Accounting Standards Board) à realidade brasileira, o Conselho de Federal de Contabilidade (CFC), em conjunto com demais órgãos normativos (Abrasca; Apimec Nacional; Bovespa; Fipecafi; Ibracon), criou o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Somente após cinco anos da convergência, o CPC emitiu a norma que trata especificamente da mensuração do valor justo, o CPC 46, elaborado de acordo com a IFRS 13 – Fair Value Measurement do Iasb com o objetivo de unificar a definição de valor justo, sua estrutura de mensuração e as respectivas divulgações necessárias (CATTY, 2013). Juntamente com outros órgãos – como CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Bacen (Banco Central) e Susep (Superintendência de Seguros Privados), entre outros – o CPC elaborou e aprovou uma norma específica para orientações, o CPC 46 – Mensuração do Valor Justo, com o objetivo de unificar a definição de valor justo, sua estrutura de mensuração e as respectivas divulgações necessárias. 1.1 Aspectos gerais da norma O valor justo é definido como “o montante pelo qual um determinado item poderia ser transacionado entre participantes dispostos e conhecedores do assunto, numa transação sem favorecimento” (Iudícibus; Martins, 2007, p.11). Para ser justo, as partes envolvidas (comprador e vendedor) devem estar em comum acordo quanto ao preço da transação. • Exemplo: Um comprador está disposto a pagar R$ 100,00 por uma cadeira de escritório e o vendedor estima vende-la por R$ 200,00. Após a negociação, ambos (comprador e vendedor) chegam ao consenso de que o valor de R$ 150,00 é adequado para ambos, considerando-o como valor justo. O CPC 46, define valor justo como o montante pelo qual um ativo pode ser negociado ou um passivo liquidado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a ausência de fatores que pressionem 4 para a liquidação da transação ou que caracterizem transação compulsória (ADRIANO, 2018, p. 371). Ou seja, valor justo é o valor pelo qual um ativo ou passivo pode ser comprado ou vendido em uma transação corrente. O valor justo não é um critério de reconhecimento contábil, mas de mensuração de preços ou valor de ativos e passivos em transações de negócios, isto é, o valor justo é utilizado para atribuir valor monetário para uma transação (compra, venda, pagamento, entre outras) realizada pela empresa (CPC 46, 2012). O processo de mensuração do valor justo tem como enfoque a divulgação das informações contábeis. Essas definições parecem claras para você? Para entender, pense no que já estudou sobre a contabilidade, por exemplo, seu objeto de estudo: patrimônio e suas variações; a finalidade ou objetivo: gerar informações por meios dos demonstrativos contábeis. Qual é o papel da contabilidade da organização? Simplificando, podemos dizer que tem como objetivo gerar informações úteis para a tomada de decisão. A contabilidade reconhece todos os eventos e as transações que ocorrem em uma entidade, desde que sejam passíveis de serem mensurados em valor monetário (não esqueça os critérios de reconhecimento e bases de mensuração), e elabora as demonstrações contábeis no fim do período ou exercício social. Veja que os termos fins de um período ou exercício denotam que a contabilidade divulga informações já ocorridas, por isso tem-se a mensuração inicial e final, estudados anteriormente. É muito importante esse entendimento, pois os contadores lidam com atividades que ocorreram no passado; os gestores, com a realidade do presente para tomada de decisão; e tem-se ainda os avaliadores, que precisam das informações contábeis para evidenciar as expectativas do futuro. Figura 1 – Informação contábil Nesse sentido, aplica-se a importância da mensuração do valor justo, que deve refletir o reconhecimento e a precificação das transações (compra e venda) de uma organização, considerando o período em que ocorreram até a data do fechamento do balanço patrimonial. As demonstrações contábeis devem refletir com confiabilidade as informações financeiras e econômicas de uma entidade, Contadores •Passado Gestores •presente Avaliadores •Futuro 5 para que avaliadores, auditores, sócios e acionistas possam tomar decisões e fazer inferências. Considerando que as entidades realizam negócios de compra e venda de seus produtos em mercado conhecido de forma espontânea, logo, são participantes de um mercado. A norma define valor justo como uma mensuração baseada no mercado e uso de premissas igualmente relevantes entre os participantes do mercado. • Exemplo: Eduardo comprou um veículo de passeio usado por R$ 20.000,00 (preço de entrada). Apaixonado por carros, colocou ar- condicionado, rodas de liga leve e fez mais algumas melhorias. Passado um tempo, resolveu vendê-lo. Anunciou o carro por R$ 21.000,00 (preço de venda ou de saída). O preço de venda dos veículos é definido pelo valor de mercado, por meio da Tabela Fipe que determina que o mesmo modelo estava precificado por R$ 19.000,00. Bruno (possível comprador) se interessou pelo veículo do Eduardo. Conferiu as melhorias e concordou em pagar pelo veículo o preço de R$ 21.000,00, mesmo o preço sendo R$ 2.000,00 acima do valor da Tabela Fipe (valor de mercado). Observe que o valor de R$ 21.000,00 é o preço que Eduardo quer receber pela venda do seu veículo e Bruno está disposto a pagar esse valor. Essa é considerada uma transação justa, pois ambos os participantes do mercado conhecem o valor de mercado e ainda assim acordaram que o valor do veículo é justo e vantajoso. Esse exemplo é simples,mas permite observar que nas organizações ou entidades a aplicação do valor justo segue as mesmas premissas, considerando o preço pelo qual um ativo é vendido e o valor que o comprador está disposto a pagar, envolvendo os participantes desse mercado (vendedor e comprador), pois são eles que julgam se o valor é justo ou não. Ok, professora! Mas ainda não entendi o que é valor justo! 6 Atenção aos termos destacados em itálico no exemplo, de acordo com o CPC 46 (2012). Eles são importantes para melhorar o entendimento sobre valor justo. Tabela 1 – Terminologias TERMOS DEFINIÇÕES Preço de entrada Preço pago para adquirir um ativo ou recebido para assumir um passivo em uma transação de troca. Preço de saída Preço que seria recebido para vender um ativo ou pago para transferir um passivo. Participantes do mercado Compradores e vendedores do mercado principal (ou mais vantajoso) para o ativo ou passivo. Fonte: Adaptado do CPC 46 (2012). Desse modo, o valor justo reflete a perspectiva dos participantes do mercado no qual a entidade tem acesso. O ativo ou passivo é mensurado utilizando as mesmas premissas que os participantes do mercado utilizariam ao precificar o ativo ou passivo se esses participantes do mercado agirem em seu melhor interesse econômico. O CPC 46 (2012) determina as premissas utilizadas pelos participantes do mercado para precificar um ativo ou um passivo, considerando os riscos relacionados a técnica de avaliação utilizada para mensurar o valor justo e as informações referentes, resultantes da técnica de avaliação. Nesse sentido, o que torna um valor como sendo valor justo ou não, é a conformidade da mensuração com as diretrizes e orientações da norma acerca do ativo (ou passivo) objeto da mensuração, da transação, do preço e dos participantes do mercado (Gelbcke et.al. 2018). É importante frisar que esta aula não tem intenção de explorar a complexidade e aplicação de cada elemento patrimonial, mas tão somente de fornecer embasamento teórico afim de preparar os alunos para conteúdos mais específicos que surgirão no decorrer do curso e no mercado de trabalho. TEMA 2 – APLICAÇÃO DE VALOR JUSTO PARA ATIVOS, PASSIVOS E INSTRUMENTOS PATRIMONIAIS Retomando as normas, o CPC 00 (R2, 2019) define como valor justo o preço que seria recebido pela venda de ativo ou que seria pago pela 7 transferência de passivo em transação ordenada entre participantes do mercado na data de mensuração. O CPC 46 (2016) determina que o objeto de mensuração do valor justo de ativos e passivos e/ou negócios tem como premissas identificar: • o melhor uso possível do ativo, quando tratar-se de ativos não financeiros (imobilizados e intangíveis), e ainda se a mensuração será feita considerando que o ativo é usado em combinação com outros ativos ou em bases isoladas; • o mercado no qual se baseia a transação hipotética (precisa ser um mercado conhecido); • a técnica de avaliação adequada para mensuração, buscando maximizar o uso de entradas observáveis. Veja que a aplicação se estende a transações de negócios, mas o que seriam esses negócios? O termo negócios é definido no CPC 15 (2011) como o conjunto de atividades e ativos designados para produzir retorno direto a seus proprietários e investidores. Entende-se assim que as empresas podem adquirir parte de outra empresa, ativos ou passivos, ou controle dos benefícios econômicos. Em alguns casos, o valor justo pode ser determinado diretamente, observando os preços em mercado ativo. Exemplos de produtos com mercado ativo são o combustível e os produtos agrícolas. Em outros casos, o valor justo é determinado indiretamente utilizando técnicas de mensuração baseadas em fluxo de caixa, refletindo todos os seguintes fatores: • Estimativas de fluxos de caixa futuros. • Possíveis variações no valor estimado ou época dos fluxos de caixa futuros do ativo ou passivo que estiver sendo mensurado. • Valor do dinheiro no tempo. • Preço para suportar a incerteza inerente aos fluxos de caixa (prêmio de risco ou desconto de risco). • Outros fatores, por exemplo, liquidez, se os participantes do mercado levariam esses fatores em consideração nas circunstâncias. 8 2.1 Reconhecimento de ativos e passivos Em relação à mensuração do valor justo, classifica-se os ativos em não financeiros e financeiros. Os ativos não financeiros levam em consideração a capacidade do participante do mercado de gerar benefícios econômicos utilizando o ativo em seu melhor uso possível ou vendendo-o a outro participante do mercado que utilizaria o ativo em seu melhor uso (CPC 46, 2012). A mensuração do valor justo dos ativos não financeiros é aplicada a ativos como: imobilizado, intangível ou negócios participações e outras empresas). • Exemplo: Uma empresa adquire um imóvel, mas por motivos diversos não o utiliza. Independentemente dessa decisão, esse imóvel deverá ser mensurado pelo valor que poderia ser vendido, considerando seu mais eficiente uso. O valor em uso se refere a expectativa presente da capacidade de um ativo gerar fluxo de caixa ou outros benefícios. Pode-se tomar como exemplo, máquina ou equipamento que a empresa adquire para usar no setor produtivo. Para reconhecer como ativo imobilizado é necessário estimar o tempo de vida útil (5, 10, 15 anos) que a máquina ou o equipamento será registrado na contabilidade como imobilizado gerando benefícios econômicos em forma de fluxo de caixa. A precificação com base no valor em uso, considera ainda os custos necessários para colocar um ativo em uso. • Exemplo: Um imobilizado em andamento (em construção) ou seja, que ainda não está em condições de entrar em operação ou uso. Nesse caso, todos os gastos necessários para colocar em operação devem ser incorporados no ativo para que na sua finalização esteja registrado contabilmente pelo seu valor de uso e respectivo valor justo. A aquisição de imobilizado importado também pode ser utilizada aqui como exemplo, pois o processo de importação normalmente é longo (demorado) e normalmente as entidades fazem pagamentos antecipados. Vale ressaltar que para receber esse bem, as entidades incorrem ainda em gastos com os desembaraços aduaneiros, como impostos, taxa, transporte até a fábrica, montagens, instalação, entre outros. Observe que nesses casos, a mensuração 9 do valor justo, considera o custo inicial do bem mais os gastos necessários para colocá-lo em operação. Além do uso, a mensuração do valor justo considera as características do ativo ou passivo, por exemplo, a condição e a localização do ativo e as restrições, se houver, sobre sua venda ou uso, caso os participantes do mercado levassem em consideração essas características quando da determinação do preço do ativo ou passivo na data de mensuração. Já os ativos financeiros são reconhecidos inicialmente pelo valor justo determinado por meio de instrumentos contratuais com objetivos de ser mantido até o vencimento, dependendo da intenção negocial da entidade. • Exemplo: Um contrato de derivativo, no qual o comprador já comprou a produção de cana de açúcar da próxima colheita por um valor predefinido em contrato. O CPC 48 (2016) trata especificamente de ativos e passivos financeiros, baseando-se na avaliação de dois pontos factuais, sendo: o modelo de negócio da entidade que está por adquirir o ativo financeiro; e as características contratuais dos fluxos de caixa dos ativos financeiros adquiridos. Os ativos financeiros destinados à venda ou recompra podem ser classificados em: • ações (participações societárias de outras empresas de capital aberto, ou seja, que têm ações negociadas na bolsa de valores); • quotas (participações societárias de outras empresas com capital fechado); • instrumentos financeiros (aplicações financeiras, poupança etc.), bônus de subscrição; umdireito contratual de receber caixa, títulos entre outros. São mensurados a valor justo, considerando o preço de aquisição e ajustado de acordo com os resultados, considerando o valor justo corrente na data do fechamento das demonstrações financeiras. Quanto aos passivos, estes podem ser classificados em financeiros e não financeiros. O CPC 48 (2016) define passivo financeiro como um instrumento que estabelece uma obrigação contratual de entregar caixa ou outro ativo financeiro a uma outra entidade; trocar ativos ou passivos financeiros em condições que estão potencialmente desfavoráveis; ou um contrato que pode ser liquidado em instrumentos patrimoniais da própria empresa, como contratos de empréstimos, financiamentos, arrendamentos mercantis, entre outros. 10 Para avaliação de valor justo de um passivo, considera-se o valor que seria pago pela transferência de um passivo. A norma presume que a: • transferência não implica a liquidação (ou extinção) da obrigação ou ainda o cancelamento (ou extinção) do instrumento patrimonial; • entidade deve maximizar o uso de dados observáveis relevantes e minimizar o uso de dados não observáveis para atingir o objetivo da Mensuração do Valor Justo. Tabela 2 – Dados ou informações observáveis e não observáveis Dados ou informações observáveis Dados ou informações não observáveis Disponíveis aos participantes do mercado, incluindo aquelas que possam ser obtidas por meio de esforços usuais e habituais com a devida diligência. Dados como preços e valores disponíveis no mercado que possam ser comparados pelos participantes. São dados construídos pela entidade, sendo esses últimos utilizados somente quando dados observáveis não estiverem disponíveis. Dados não observáveis refletem as premissas da própria entidade (ou participante), utilizadas para precificar o ativo ou o passivo), como risco, margem de lucro, projeções, desempenho etc. Um passivo não financeiro é definido como a obrigação de entregar bens ou serviços. A mensuração de um passivo não financeiro não contém uma taxa de retorno contratual e não há nenhum rendimento de mercado observável para esse passivo. Em síntese, a avaliação de valor justo de ativos, passivos ou negócios requer a identificação inicial ou o custo de aquisição e avaliações subsequentes quando da data do fechamento do exercício. No entanto, mesmo que os dados sejam observáveis, é necessário aplicar técnicas de avaliação (abordagens de mercado, custo e receitas). Adicionalmente, Gelbcke et al. (2018) pontuam aspectos que devem ser considerados na avaliação, tais como: histórico de desempenho; expectativas futuras; projeções de desempenho; identificação de ativos tangíveis e intangíveis; risco percebido; sinergias; especificidades do setor; comparabilidade entre negócios; taxas de mercado (juros, câmbio etc.), entre outros. TEMA 3 – TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO DO VALOR JUSTO A mensuração do valor justo pode ser observada ou não observada para a aplicação das técnicas de avaliação. 11 3.1 Técnicas de avaliação O uso das técnicas de avaliação tem como objetivo estimar o preço de uma transação não forçada, ou seja, quando ocorre em condições normais. Assim, a venda do ativo ou a transferência do passivo ocorreria entre participantes do mercado na data de mensuração nas condições atuais de mercado (CPC 46, 2012). As técnicas de avaliação são apresentadas na Figura 2. Figura 2 – Técnicas de avaliação do valor justo 3.1.1 Abordagem de mercado O método do mercado é aplicado quando existem mercados ativos e apropriados para cada tipo de ativos, a exemplo de: (i) commodities (café, soja, petróleo, boi, suco de laranja, ouro etc.); (ii) equipamentos, imóveis; (iii) valores mobiliários (ações e derivativos disponíveis negociados em bolsas de valores). Para o CPC 46 (2012, item b5), a abordagem de mercado “utiliza preços e outras informações relevantes geradas por transações de mercado envolvendo ativos, passivos ou grupo de ativos e passivos”. Entende-se assim, que é necessário que as entidades possuam mercados comparáveis do item a ser mensurado para a avaliação do valor justo. Em termos gerais, a abordagem de mercado é um método da comparação de vendas que afirma que se um ativo possuir uma duplicata exata (reprodução), independentemente do tempo de uso, condição e utilidade, está disponível no mercado aberto. Então o preço de reposição representa o custo de aquisição e o valor justo do objeto (Catty, 2012. p. 55). Abordagem de Mercado Múltiplos de mercados Precificação por matriz Abordagem de Custo Para ativos não financeiros: custo de reposição e sua obsolescência Abordagem de Receitas Técnicas de valor presente Modelo de precificações de opções Método de ganhos excedentes em múltiplos períodos 12 Nesse sentido, Catty (2012, p. 72) pontua que os seguintes critérios devem ser observados na aplicação da mensuração do valor justo: • Analisar sua aplicabilidade. • Apresentar os motivos para selecionar determinadas transações ou bancos de dados (é necessário ter dados históricos das transações para poder comparar). • Resumir os negócios escolhidos e fornecer detalhes suficientes sobre as empresas comparáveis de capital aberto para que o leitor entenda sua comparabilidade com o objeto em questão. • Apresentar os dados relevantes de uma forma fácil de acompanhar. • Explicar como os valores foram desenvolvidos. Para aplicar a abordagem de mercado, são utilizadas duas técnicas: • Múltiplos de mercado: Obtidos de um conjunto de elementos de comparação. Como exemplo, temos compradores e vendedores que se encontram, mas ambos cuidando dos seus próprios interesses no processo de negociação, considerando a possibilidade de efetivação (Catty, 2012). • Precificação por matriz: É uma técnica matemática utilizada principalmente para avaliar alguns tipos de instrumentos financeiros, tais como títulos de dívida, sem basear-se exclusivamente em preços cotados para os títulos específicos, mas, sim, baseando-se na relação dos títulos com outros títulos cotados de referência, ou seja, comparando os ativos (CPC 46, 2012). • Exemplo: A empresa A utilizou preços de mercado para equipamentos similares, para comparar equipamentos customizadas da empresa B em um mercado ativo. A mensuração do valor justo, refletindo o preço que seria recebido pela venda do equipamento usado em sua condição e localização atual, resultou na faixa de valores válidos de $ 400.000 a $ 480.000. Qualquer valor dentro das premissas estabelecidas é considerado valor justo (adaptado de Gelbcke et al., 2018). A mensuração do valor justo pelo método de mercado tem como vantagem permitir que todos os ativos da empresa estejam avaliados pelo seu valor de mercado na data do fechamento do balanço patrimonial. Permite ainda que a entidade avalie seus ativos de forma contínua e apresente informações relevantes e fidedignas. É indicado para avaliação de negócios. 13 3.1.2 Abordagem de custo O CPC 46 (2012) discorre que essa abordagem reflete o valor que seria necessário atualmente para substituir a capacidade de serviço de ativo (normalmente referido como custo de substituição/reposição atual). Esse método é aplicado mais comumente para avaliar ativos como softwares, máquinas, equipamentos, instalações e imóveis, com base no custo de aquisição, considerando gastos necessários para instalação e manutenção. Não é um método indicado para avaliação de empresas ou negócios. • Exemplo: A empresa A estimou o valor corrente que seria necessário para construir um equipamento substituto de utilidade comparável, também customizado para as operações da empresa B. A estimativa levou em conta a condição atual e o ambiente no qual o equipamento é operado, incluindo o desgaste físico natural (ou seja, deterioração física),melhorias na tecnologia (ou seja, obsolescência funcional), bem como condições econômicas atuais (declínio na demanda do mercado por equipamentos similares, ou seja, obsolescência econômica) e, também, os custos de instalação. O valor justo indicado por essa abordagem varia de $ 400.000 a $ 520.000 (adaptado de Gelbecke et al., 2018). 3.1.3 Abordagem de receitas Técnicas de avaliação que convertem valores futuros (como fluxos de caixa ou receitas e despesas) em um valor único atual, ou seja, descontado. A mensuração do valor justo é determinada com base no valor indicado pelas expectativas de mercado atuais em relação a esses valores futuros. • Exemplo: Considere uma máquina de costura em uma indústria têxtil que produz camisetas. Ao ser adquirida e classificada como ativo imobilizado, ela não vai gerar dinheiro no caixa de forma imediata, mas possui capacidade de contribuir na produção de muitas unidades de camisetas, que ao serem acabadas, serão transferidas para os estoques da entidade e serão comercializadas. Vale lembrar que uma máquina no setor produtivo pode apresentar capacidade produtiva por muitos períodos (dez anos ou enquanto gerar benefícios econômicos). Assim, o investimento em uma máquina para o setor 14 produtivo deve considerar o tempo de uso e sua capacidade de gerar benefícios econômicos futuros para a entidade. Nesse contexto, a técnica aplicada para converter o valor dos benefícios econômico futuros a valor presente (considerando que o dinheiro perde valor ao longo do tempo), utiliza como parâmetro a taxa de desconto ou capitalização de lucros incluem os exemplos que podem ser vistos na Figura 3. Figura 3 – Técnicas de avaliação Fonte: CPC 46, 2012. É importante frisar que esta aula não possui como enfoque a aplicação das técnicas, pois não é o objetivo dessa disciplina. O intuito é tão somente apresentar aos alunos conceitos e definições que serão estudados ao longo do curso. Havendo mudança da técnica utilizada, esta deve ser oportunamente reportada. O CPC 46 (2012) cita os eventos que podem implicar em reporte de mudanças: • Surgimentos de novos mercados. • Disponibilização de novas informações. • Indisponibilidade de informações utilizadas anteriormente. • Melhora nas técnicas de avaliação. • Mudanças nas condições de mercado. Em síntese, não existe uma abordagem melhor que a outra, mas é importante que possam ser comparadas entre si. TEMA 4 – INFORMAÇÕES PARA APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO DO VALOR JUSTO As classificações das informações aplicadas na mensuração levam em consideração a precificação e a hierarquia do valor justo. As Informações baseadas em precificação (preços de compra e de venda) visam a analisar se Técnicas de valor presente Atualização do valor presente líquido dos benefícios econômicos futuros (considere o valor do dinheiró no tempo). Modelos de precificação de opções ▪Uso de modelos estatísticos que que incorporem técnicas de valor presente e reflitam tanto o valor temporal quanto o valor intrínseco da opção. Método de ganhos excedentes em múltiplos períodos ▪Utilizado para mensurar o valor justo de alguns ativos intangíveis. 15 um ativo ou passivo a ser mensurado possui preço de compra e preço de venda nos mercados existentes. Essa informação é classificada hierarquicamente em três níveis de valor justo, conforme mostra a Figura 4. Figura 4 – Níveis de informação Fonte: CPC 46, 2012. Em regra, a mensuração do valor justo é determinada nos termos do CPC 46, em como foi obtido ou construído na perspectiva dos participantes do mercado. Assim, no intuito de aumentar a consistência e confiabilidade da mensuração do valor justo, as informações são classificadas em três níveis, (Figura 4), denominados Níveis Hierárquicos do Valor Justo. Assim, a hierarquia de valor justo dá a mais alta prioridade a preços cotados (não ajustados) em mercados ativos para ativos ou passivos idênticos (informações de Nível 1) e a mais baixa prioridade a dados não observáveis (informações de Nível 3). Tabela 3 – Níveis de informação Informação Definição Informações Nível 1 Preços cotados (não ajustados) em mercados ativos para ativos ou passivos idênticos aos que a entidade possa ter acesso na data de mensuração. Nível 2 Informações observáveis para o ativo ou passivo, seja direta ou indiretamente, exceto preços cotados incluídos no Nível 1. Informações observáveis: Disponíveis aos participantes do mercado, incluindo as que possam ser obtidas por esforços usuais e habituais com a devida diligência; dados como preços e valores disponíveis no mercado que possam ser comparados pelos participantes. Nível 3 Dados não observáveis para o ativo ou passivo. Informações não observáveis: São dados construídos pela entidade, sendo esses últimos utilizados somente quando dados observáveis não estiverem disponíveis e desde que reflitam premissas que os participantes do mercado utilizariam Nível 1: Preços cotados Nível 2: Informações ou dados observáveis Nível 3: Informações ou dados não observáveis 16 ao precificar o ativo (ou o passivo), incluindo premissas sobre risco. Fonte: (CPC 46, 2012). As técnicas de avaliação utilizadas para mensurar o valor justo serão aplicadas de forma consistente. Contudo, uma mudança em uma técnica de avaliação ou em sua aplicação (por exemplo, uma mudança em sua ponderação quando múltiplas técnicas de avaliação forem utilizadas ou uma mudança em um ajuste aplicado a uma técnica de avaliação) é apropriada se a mudança resultar em uma mensuração que seja igualmente ou mais representativa do valor justo nas circunstâncias. As informações de nível 1 se referem aos preços cotados (não ajustados) em mercados ativos, para ativos e passivos idênticos aos que a entidade possa ter acesso à informação na data da mensuração (CPC 46, 2012). Já as informações de nível 2 são observáveis para o ativo ou passivo, seja direta ou indiretamente, exceto preços cotados incluídos no Nível 1, como: (i) preços cotados para ativos ou passivos similares em mercados ativos; (ii) preços cotados para ativos ou passivos idênticos ou similares em mercados que não sejam ativos; (iii) informações, exceto preços cotados, que sejam observáveis para o ativo ou passivo, a exemplo de taxas de juros e curvas de rendimento observáveis em intervalos comumente cotados, volatilidades implícitas e spreads de crédito (CPC 46, 2012). Como exemplos de informações do nível 2, temos: • Estoque de produtos de venda de varejo: Preço para os clientes em um mercado varejista ou preço para varejistas em mercado atacadista, ajustado para refletir diferenças entre a condição e a localização do item de estoque e dos itens de estoque comparáveis (ou seja, similares). • Edificações mantidas e usadas: O preço por metro quadrado para a edificação (múltiplo de avaliação) obtido de dados de mercado observáveis, por exemplo, múltiplos obtidos com base em preços em transações observadas envolvendo edificações comparáveis (ou seja, similares) em locais similares. Em relação às informações (entrada) de nível 3, podemos dizer que são dados não observáveis para o ativo ou passivo, baseados em premissas próprias da entidade sobre o mercado, ajustados para refletir as expectativas dos 17 participantes do mercado. A mensuração nesse nível tem como base as estimativas da própria entidade. TEMA 5 – DIVULGAÇÃO DAS INFORMAÇÕES RELACIONADAS AO VALOR JUSTO Para compreender os efeitos da mensuração do valor justo nos resultados e na situação patrimonial das empresas, é importante que as entidades tomem o cuidado de divulgar as técnicas e o nível da hierarquia informacional aplicada. Portanto, é fundamental a divulgação completa e transparente dessa base de mensuração nas notas explicativas. De acordo com o CPC 46 (item91), a empresa deve divulgar informações que auxiliem os usuários de suas demonstrações contábeis a analisar as técnicas de avaliação e informações utilizadas nas mensurações de valor justo, recorrentes ou não, para ativos e passivos apresentados no balanço patrimonial após o reconhecimento inicial, bem como o efeito das mensurações recorrentes de valor justo classificadas no nível 3 sobre o resultado do período ou outros resultados abrangentes do período. Assim, para que os objetivos de divulgação sejam atingidos, as informações devem considerar as exigências mínimas no CPC 46 para cada classe de ativos e passivos mensurados ao valor justo no balanço patrimonial após o reconhecimento inicial (Gelbcke et al. 2018). Dessa forma, devem ser divulgados: • Hierarquia do valor justo (1, 2 e 3). • Valor das transferências entre os níveis (1 para 2, 2 para 3 etc.). • Para mensurações classificadas nos níveis 2 e 3, nível, descrição das técnicas de avaliação e informações (inputs) utilizadas na mensuração do valor justo. • Para as mensurações dos níveis 3, conciliação dos saldos iniciais com os saldos finais, descrição narrativa da sensibilidade. • Se o melhor uso do ativo não é aquele realizado pela entidade. • Outras divulgações. Veja na Figura 5 um exemplo das notas explicativas da BRF (Brasil Foods) publicadas nos demonstrativos financeiros de 2019 18 Figura 5 – Recorte da nota explicativa Fonte: <http://www.valor.com.br/sites/default/files/upload_element/24.02.2017_balanco_brf.pdf>. Observe que além do conjunto de relatórios financeiros (demonstrações contábeis) as empresas divulgam em notas explicativas como cada elemento patrimonial foi mensurado a valor justo na data do fechamento do exercício. No recorte, são apresentados os ativos financeiros, mas ao acessar o link que consta da fonte, você poderá verificar todos os ativos e passivos mensurados. TROCANDO IDEIAS Entre as bases de mensuração e avaliação de empresa, tem-se o valor de mercado que corresponde à avaliação do patrimônio líquido atual da empresa a valores de mercado e ao valor justo, que corresponde à avaliação dos preços de compra e venda de ativos e passivos transacionados entre participantes 19 dispostos a pagar ou receber o mesmo montante por esses itens, em um mercado ativo e sem favorecimento. No entanto, a mensuração do valor justo é comumente confundida com valor de mercado. Desse modo, sugere-se que você converse com profissionais contadores ou auditores ou que pesquise em que momento o valor justo pode ser equivalente ao valor de mercado. Discuta com seus colegas sobre esse assunto no fórum da disciplina. NA PRÁTICA O CPC 46 define valor justo como o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data da mensuração. Com base no conteúdo abordado, atribua V para verdadeiro e F para falso nas sentenças a seguir: ( ) Um prédio que uma empresa adquire mas não utiliza pode ser mensurado a valor justo na data do fechamento do balanço, evidenciado como ativo não financeiro. ( ) Para fins de divulgação financeira, somente os níveis hierárquicos 1 e 2 de informações observáveis podem ser evidenciados. ( ) O passivo financeiro pode ser definido como instrumento que estabelece uma obrigação contratual de entregar caixa ou outro ativo financeiro a uma outra entidade. ( ) A abordagem do mercado é aplicada quando não existem mercados ativos e apropriados para cada tipo de ativos. Assinale a alternativa correta: a) V; V; V; V b) V; F; V; F c) F; V; F; V d) V; F; F; F • Gabarito: A alternativa correta é a letra b) V; F; V; F). A primeira sentença é verdadeira, pois os ativos não financeiros como imobilizados, mesmo que a empresa não utilize devem estar mensurados pelo seu valor justo de venda; a segunda sentença é falsa, pois todos as informações observáveis e não observáveis mensuradas devem ser evidenciadas em 20 notas explicativas considerando todos os 3 níveis; a terceira sentença é verdadeira, pois os passivos financeiros decorrem de eventos contratuais firmados pela empresa; e a última sentença é incorreta, pois a abordagem de mercado deve ser aplicada quando da existência de mercados ativos. FINALIZANDO Nesta aula, estudamos sobre a mensuração do valor justo, critérios de avaliação de ativos, passivos e negócios sob a abordagem do CPC 46, aspectos normativos, técnicas utilizadas (abordagem de mercado, custo e receitas) e informações que devem ser divulgadas. Ademais, a avaliação do valor justo de uma empresa é importante na medida que permite avaliar histórico de desempenho, expectativas futuras, projeções de desempenho, identificação de ativos tangíveis e intangíveis, risco percebido, sinergias, especificidades do setor, comparabilidade entre negócios, taxas de mercado (de juros, de câmbio etc.), entre outros fatores. Para finalizar, ao longo do curso, você poderá estudar como cada elemento patrimonial pode ser avaliado, aplicando as técnicas contábeis necessárias para reconhecimento contábil de acordo com normas específicas, aplicáveis individualmente. 21 REFERÊNCIAS ADRIANO, S. Manual dos Pronúncias Contábeis Comentados. São Paulo: GEN, 2018. CATTY, J. P. IFRS: Guia da Aplicação do Valor Justo. São Paulo. Grupo A, 2013. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885826005 80/>. Acesso em: 19 jun. 2020. COMITÊ, D. P. C. (2011). Pronunciamento Técnico CPC 15 – Combinação de negócios. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos>. Acesso em: 19 jun. 2020. COMITÊ D. P. C. (2012). Pronunciamento Técnico CPC 46 – Mensuração do Valor Justo. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos>. Acesso em: 19 jun. 2020. COMITÊ, D. P. C. (2016). Pronunciamento Técnico CPC 48 – Instrumentos financeiros. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos>. Acesso em: 19 jun. 2020. GELBCKE, E. R.; MARTINS, E.; SANTOS, A. dos. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2018.
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