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Clássicos da Literatura Brasileira Helena Machado de Assis Ilustrações: Eduardo Schloesser Joaquim Maria Machado de Assis, foi um escritor brasileiro que vi- veu entre os anos de 1839 e 1908. Filho de escravos alforriados, nunca estudou em uma universi- dade e, para conseguir destaque, apostava no desenvolvimento de suas habilidades intelectuais e culturais. Escrevia para diversas revistas e jornais, sendo autor de vários contos, romances, poesias e peças de teatro. Helena teve sua primeira edição em 1876. De característica romântica, a história gira em torno de um amor proibido entre dois jovens, tendo como pano de fundo a so- ciedade carioca do século XIX. H el en a Referência da Editora - 41907 Helena_CC.indd 1 10/02/20 11:35 Clássicos da Literatura Brasileira Helena.indd 1 10/02/20 11:35 Helena.indd 2 10/02/20 11:35 Machado de Assis Helena Clássicos da Literatura Brasileira Helena.indd 3 10/02/20 11:35 S235h Santiago, Rodolfo Helena / Machado de Assis ; adaptação, leitura e comentários ; Rodolfo Santiago ilustrações: Eduardo Schloesser, Iran Elson. – Recife : Prazer de Ler, 2014. 208p. : il. – (Clássicos da literatura brasileira). 1. FICÇÃO BRASILEIRA – I. Assis, Machado de, 1839-1908. II. Schloesser, Eduardo, 1962-. III. Elson, Iran. IV Título. V. Série: Clássicos da literatura brasileira. CDU 869.0(81)-3 PeR – BPE 14-430 CDD B869.3 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Helena Machado de Assis Coordenação Editorial Direitos reservados à Editora Prazer de Ler Ltda. Rua Neto Campelo Júnior, 37 CEP: 50760-330 - Mustardinha - Recife / PE Fone: (81) 3447.1178 - Fax: (81) 3422.3638 CNPJ: 14.605.341/0001-03 Edição 2014 Ilustrações Eduardo Schloesser Iran Elson Editor Malthus de Queiroz Leitura, Adaptação e Comentários Rodolfo Santiago Direção de arte Elto Koltz Diagramação Roseane R. Nascimento ISBN: 978-85-8168-295-2 Impresso no Brasil As palavras destacadas de amarelo ao longo do livro sofreram modificações com o novo Acordo Ortográfico. Helena.indd 4 10/02/20 11:35 Helena Helena.indd 5 10/02/20 11:35 Clássicos da Literatura Brasileira Helena 6 Helena.indd 6 10/02/20 11:35 Helena.indd 7 10/02/20 11:35 Clássicos da Literatura Brasileira Helena 8 Capítulo I O conselheiro Vale morreu às 7 horas da noite de 25 de abril de 1859. Morreu de hemorragia cerebral fulminante, pouco depois de cochilar no início da tarde, — segundo costumava dizer, — e quando se preparava para jogar a partida de cartas na casa de um desembargador, seu amigo. O Dr. Camargo, cha- mado de pressa, nem chegou a tempo de empregar os recursos da ciência; o Padre Melchior não pôde lhe dar as consolações da religião: a morte havia sido instantânea. No dia seguinte foi o enterro, e foi um dos mais concorri- dos que os moradores do Andaraí já viram. Cerca de duzentas pessoas acompanharam o finado até à última morada, estando representadas entre elas as primeiras classes da sociedade. O conselheiro, posto não fosse de nenhum grande cargo do Estado, ocupava elevado lugar na sociedade, pelas relações adquiridas, costumes, educação e tradições de família. Seu pai havia sido juiz no tempo colonial, e figura de certa influência na sociedade do último vice-rei. Pelo lado materno, vinha de uma das mais distintas famílias paulistas. Ele próprio teve dois empregos, se saindo com habilidade e decência, o que lhe garantiu a carta de conselho e a admiração dos homens públicos. Sem dificuldades por conta da política da época, não estava ligado a nenhum dos dois partidos, conservando em ambos preciosas amizades, que ali se acharam na ocasião de o levar à sepultura. Tinha, en- tretanto, tais ou quais ideias políticas, colhidas nas fronteiras conservadoras e liberais, justamente no ponto em que os dois domínios podem se confundir. Se nenhuma saudade partidária lhe deu a última pá de terra, mulher houve, e não só uma, que viu ir se enterrar com ele a melhor página da sua mocidade. A família do conselheiro era formada de duas pessoas: um filho, o Dr. Estácio, e uma irmã, D. Úrsula. Esta cinquenta e poucos anos; era solteira; viveu sempre com o irmão, cuja casa organizava desde o falecimento da cunhada. Estácio tinha vinte e sete anos, e era formado em matemática. O conselheiro havia tentado encarreirá-lo na política, depois na diplomacia; mas nenhum desses projetos teve início. Helena.indd 8 10/02/20 11:35 Clássicos da Literatura Brasileira Machado de Assis 9 O Dr. Camargo, médico e velho amigo da casa, logo que regressou do enterro, foi se encontrar com Estácio, que estava no gabinete particular do finado, em companhia de D. Úrsula. Também a dor tem suas vaidades; tia e sobrinho queriam nutri- -la com a presença dos objetos pessoais do morto, no lugar de suas atividades cotidianas. Duas tristes luzes iluminavam aquela pequena sala. Alguns momentos correram de profundo silêncio entre os três. O primeiro que o rompeu, foi o médico. — Seu pai deixou testamento? — Não sei, respondeu Estácio. Camargo mordeu a ponta do bigode, duas ou três vezes, ato que era comum quando fazia alguma reflexão. — É preciso procurá-lo, continuou ele. Quer que o ajude? Estácio apertou sua mão afetuosamente. — A morte de meu pai, disse o moço, não alterou nada as nossas relações. Fica a confiança anterior, do mesmo modo que a amizade, já confirmada e antiga. A gaveta estava fechada; Estácio deu a chave ao médico; este abriu o móvel sem nenhuma comoção exterior. Interiormente estava abalado. O que se lhe podia notar nos olhos era uma viva curiosidade, expressão em que, aliás, nenhum dos outros repa- rou. Logo que começou a revolver os papéis, a mão do médico tornou-se mais febril. Quando achou o testamento, houve em seus olhos um breve lampejo, a que sucedeu a serenidade habitual. — É isso? Perguntou Estácio. Camargo não respondeu logo; olhou para o papel, como se quisesse adivinhar o conteúdo. O silêncio foi muito demora- do para não causar impressão no moço, que aliás nada disse, porque acreditava que era efeito da comoção natural do amigo em tão dolorosa situação. — Sabem o que estará aqui dentro? Disse enfim Camargo. Talvez uma falta ou um grande excesso. Nem Estácio, nem D. Úrsula, pediram ao médico a expli- cação sobre as palavras. A curiosidade, porém, era natural, e o médico pôde lê-la nos olhos de ambos. Não lhes disse nada; entregou o testamento a Estácio, ergueu-se e deu alguns passos na sala, mergulhado em suas próprias reflexões, ora arranjando Helena.indd 9 10/02/20 11:35 Clássicos da Literatura Brasileira Helena 10 maquinalmente um livro da estante, ora metendo a ponta do bigode entre os dentes, com a vista baixa, alheio completamente ao lugar e às pessoas. Estácio rompeu o silêncio: — Mas que falta ou que excesso é esse? Perguntou ao médico. Camargo parou diante do moço. — Não posso dizer nada, respondeu ele. Seria inconvenien- te, antes de saber os últimos desejos de seu pai. D. Úrsula foi menos discreta que o sobrinho; após longa pausa, pediu ao médico a explicação de suas palavras. — Seu irmão, disse este, era boa alma; tive tempo de o conhecer de perto e de apreciar suas qualidades, que eram excelentes. Era seu amigo; sei que o era meu. Nada alterou a longa amizade que nos unia, nem a confiança que depositáva- mos um no outro. Não quis, pois, que o último ato de sua vida fosse um erro. — Um erro! Exclamou D. Úrsula. — Talvez um erro! suspirou Camargo. — Mas, doutor, insistiu D. Úrsula, por que motivo não acalma nosso espírito? Estou certa de que não se trata de um ato que manche a imagem de meu irmão; naturalmente a algum erro no modo de entender, alguma coisa, que eu ignoro o que seja. Por que não fala claramente? O médico viu que D. Úrsula tinha razão; e que, a não dizer mais nada, melhor seria ficar calado. Tentou desfazer a impres- são de estranheza