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CRIATIVIDADE CRIATIVIDADE Alessandra Jungblut Renata Mateus © Copyright 2017 da Dtcom. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada pela Dtcom. Bibliotecária – Andrea Aguiar Rita CRB) J95c Jungblut, Alessandra. Criatividade / Alessandra Jungblut. – Curitiba: Dtcom, 2017. 152 p. ISBN: 978-859-368-533-0 1. Criatividade nos negócios 2. Inovação. 3. Pensamento criativo. CDD 658.012 Reitor Prof. Celso Niskier Pro-Reitor Acadêmico Maximiliano Pinto Damas Pro-Reitor Administrativo e de Operações Antonio Alberto Bittencourt Coordenação do Núcleo de Educação a Distância Viviana Gondim de Carvalho Redação Dtcom Análise educacional Dtcom Autoria da Disciplina Alessandra Jungblut, Renata Mateus Validação da Disciplina Maura Xerfan Designer instrucional Milena Rettondini Noboa Banco de Imagens Shutterstock.com Produção do Material Didático-Pedagógico Dtcom Sumário 01 Introdução à Criatividade ........................................................................................................7 02 Processos criativos ................................................................................................................14 03 A criatividade e o ser humano ..............................................................................................21 04 Criatividade individual e cultural ..........................................................................................28 05 Enfoque holístico e visão sistêmica da criatividade ........................................................36 06 A criatividade e o ensino-aprendizagem como forma de socialização .......................43 07 A criatividade convertida em resolução de dilemas existenciais .................................50 08 Relação entre criatividade, tempo e neutralidade no processo criativo ......................57 09 Processo, técnicas e ferramentas do processo criativo .................................................64 10 A Criatividade e o Mercado de Trabalho ............................................................................71 11 Autoestima como fator de criatividade ..............................................................................78 12 Emoções que curam e a criatividade .................................................................................85 13 Motivação e Criatividade .......................................................................................................92 14 Criatividade: Ideal Humano...................................................................................................99 15 A Criatividade nas Organizações ...................................................................................... 106 16 A criatividade e os sistemas de comunicação .............................................................. 114 17 A criatividade orienta o pensar e o expressar de forma relacional: ideal organizacional ............................................................................................................. 121 18 Sobre o trabalho criador que inova .................................................................................. 128 19 Capacidade de trabalhar criativamente e a liderança .................................................. 135 20 A Cultura da Criatividade no Ambiente das Organizações .......................................... 142 Introdução à Criatividade Alessandra Jungblut Introdução A criatividade possibilitou a humanidade desenvolver cidades, inovar tecnologicamente e cientificamente e descobrir a si mesmo e ao mundo. Nesta aula, aprenderemos o conceito de criatividade e suas principais características. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar as concepções, conceituações e contextos referentes à criatividade; • conhecer as abordagens comportamentais inerentes à criatividade e aplicadas à teoria dos hemisférios cerebrais. 1 Conceitos de criatividade e suas abordagens teóricas O ser humano, devido à complexidade das redes neurais, é o único ser apto a criar em níveis artístico e científico e sempre utilizou a criatividade para sobreviver, valendo-se de pedras e outros recursos disponíveis para os mais diversos fins (MASI, 2003). Figura 1 – Homem, um ser criativo Fonte: Nicolas Primola/Shutterstock.com – 7 – TEMA 1 A criatividade já teve inúmeros significados. Na Grécia Antiga, ela era uma inspiração vinda dos deuses. A partir do século XVIII, surgiu a noção de genialidade – indivíduos dotados de habili- dades excepcionais determinadas por fatores genéticos – e a relação entre loucura e criatividade (Lubart, 2007). Para Virgolim, Fleith e Neves-Pereira (2008), há um conceito sobre o que é criar. Na literatura científica, a criatividade depende do objeto de estudo: alguns conceitos são baseados no processo criativo, outros, no produto da criação, e outros consideram as características de personalidade do indivíduo. Podemos definir, então, criatividade como “a emergência de um produto novo, relevante pelo menos para a pessoa que cria a solução, constituindo-se numa atitude que implica conhe- cimento, imaginação e avaliação” (Noller, 1977 apud Virgolim, Fleith e Neves-Pereira 2008, p. 18). Para Alencar (2009), uma atividade criativa tem as seguintes características: • a resposta deve ser original ou incomum; • deve solucionar algum problema ou atingir uma meta, adaptando-se à realidade; • há um insight original, que deve ser avaliado, elaborado e desenvolvido; • o produto criativo é fruto de trabalho, esforço e conhecimento. Maslow (1968, apud Alencar, 2009) afirma que a criatividade é mais que inspiração ou ilumi- nação, é fruto de trabalho, treino, perfeccionismo e atitude criativa. FIQUE ATENTO! A criatividade existe em todos os seres humanos. As diferenças entre indivíduos considerados muito criativos e os demais é a intensidade com que a criatividade é manifestada. Segundo Predebon (2010), reagimos a estímulos provocados por experiências anteriores e somos capazes de ir além, construir hipóteses e conjecturas. A espécie humana tem um potencial inato e exclusivo de raciocinar construtivamente. Todos nós nascemos criativos, mas esse poten- cial pode encontrar barreiras durante o processo de socialização (fatores ambientais) quando a expressão criativa é desencorajada. Existem algumas ideias sobre criatividade consideradas equivocadas (Alencar, 2009): • criatividade se manifesta apenas em produções artísticas; • é um fenômeno exclusivamente cognitivo, que não leva em conta a motivação e fatores afetivos; • o processo criativo é individual e não considera a contribuição da sociedade, nem fato- res ambientais; • criar é uma inspiração divina; • a genialidade criativa está relacionada com a loucura e a instabilidade emocional; • há pessoas que não nascem criativas. CRIATIVIDADE – 8 – Para tentar esclarecer esses equívocos, estudos foram realizados sob diferentes ângulos e abordagens no âmbito da Psicologia. Acompanhe! • Psicanálise: criatividade como semelhante à fase de fantasia da criança, ou seja, há o abandono do pensamento lógico em um primeiro momento (pensamento pré-cons- ciente). Em seguida, esse pensamento é analisado rigorosamente pelo pensamento consciente. • Gestalt: das experiências passadas, aproveitamos o que deu certo, criamos algo novo ou percebemos de maneira nova velhas ideias. A abordagem admite a criação por insights ou “iluminações” repentinas, que ocorrem quando o indivíduo está distraído. • Humanismo:o ser humano tem potencial criativo, que necessita de condições para evoluir: estar aberto às experiências; avaliar-se; ser hábil para lidar com elementos e conceitos; ter segurança e liberdade psicológica (liberdade de expressão e percepções espontâneas). • Comportamental: a criação é uma combinação de elementos que pode ser mantida ou descartada, dependendo do resultado. Skinner (1974, apud Alencar, 2009) faz uma ana- logia entre o processo criativo da teoria comportamental e o trabalho do compositor: ele combina escalas e ritmos até chegar a um resultado satisfatório – o que incentiva novos comportamentos semelhantes. A criatividade seria uma forma de aprendiza- gem, e o ambiente é essencial para que se desenvolva. SAIBA MAIS! A editora Zahar publicou um booktrailer com base no livro de Steven Johnson, inti- tulado “De onde vêm as boas ideias?”. Acesse: <https://www.youtube.com/watch?- v=g6tgH2dWx5c>. 2 Comportamento e as formas de criatividade Para que o indivíduo possa criar, Lubart (2007) afirma que a soma de fatores cognitivos, cona- tivos, emocionais e ambientais são essenciais. Cada pessoa tem um perfil que pode ser mais com- patível com as exigências de determinada tarefa, por exemplo: um arquiteto famoso por seus traba- lhos é tão criativo quanto uma dona de casa que precisa criar pratos a partir de sobras de alimentos. CRIATIVIDADE – 9 – Figura 2 – Representação da abordagem múltipla da criatividade Fatores cognitivos - inteligência - conhecimento - estilo - personalidade - motivação Fatores conativos Fatores emocionais Fatores ambientais Potencial criativo Arte Literatura Ciência Comércio Outras áreas Produções criativas Fonte: LUBART, 2007, p. 19. O conhecimento, a motivação, o nível intelectual, a personalidade, as atitudes e o ambiente influenciam fortemente os resultados (criações) (ALENCAR, 2009). Além disso, alguns traços de personalidade são comumente encontrados em pessoas muito criativas, como independência de julgamento/pensamento, alto grau de energia, espontaneidade, abertura aos impulsos e fantasias, maior tolerância à ambiguidade, abertura a novas experiências, autoconceito positivo, persistên- cia, entre outros. 3 Hemisférios cerebrais, voltando-se para o criativo (PNL) Segundo Oliveira (2005), o cérebro humano pode ser dividido em três regiões, conforme a evolução: o cérebro reptiliano (primitivo e responsável pelo comportamento sexual, alimentar, de sono-vigília, agressivo e de pertencimento a um grupo social; o cérebro límbico (centro das emo- ções primitivas, responsável pela adaptação social, estruturação familiar, preocupação com seme- lhantes e respeito à hierarquia); e o neocórtex (cérebro propriamente dito), responsável por fun- ções como fala, escrita, capacidade de fazer cálculos, composição artística, motricidade e poder criativo, e onde encontramos a divisão em hemisférios direito e esquerdo. CRIATIVIDADE – 10 – Figura 3 – Hemisférios cerebrais HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO Dominante Forte consciência focal Intelectual, formal Propositivo Objetivo Pensamento realista Dirigido Judicial, avaliativo Matemático, científico Raciocínio convergente Racional Processamento consciente Literal Explícito Controle Percepção direta Não dominante Consciência difusa Sensual, experimental Imaginativo Subjetivo Idiossincrático Livre, associativo, ambíguo Acrílico Artístico Raciocínio divergente Não racional Processamento pré-consciente Metafórico Implícito Emoção Percepção holística Fonte: adaptado de OLIVEIRA (2005). Souza (2012) afirma que pessoas criativas apresentam dois padrões de pensamento: um para reestruturar conceitos, e o outro para avaliá-los. O primeiro padrão está relacionado ao hemisfério direito (ênfase na percepção, síntese, rearranjo de ideias, uso de metáforas, intuição e comporta- mento criativo) e o segundo, relacionado ao esquerdo (processos verbais, lógicos e analíticos). FIQUE ATENTO! Não podemos afirmar que a criatividade ocorre somente no hemisfério direito, con- siderando que a avaliação das ideias e sua adequação aos objetivos da criação é especialidade do hemisfério esquerdo. Segundo D’Addario (2016), o hemisfério esquerdo é predominante, mas algumas pessoas têm uma atividade maior no hemisfério direito e são consideradas mais criativas. São concei- tos atribuídos à Programação Neurolinguística (PNL), que estuda o funcionamento do cérebro e padrões comportamentais, com uma série de técnicas para estimular o indivíduo a utilizar os dois hemisférios de forma simultânea, aperfeiçoar a capacidade de comunicação, abandonar limita- ções e abrir espaço para o desenvolvimento criativo.] SAIBA MAIS! A Neurociência é uma disciplina que esclarece aspectos relacionados à criatividade, explicando como acontece no cérebro humano e quais fatores a influenciam. Saiba mais em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/7285/2/ULFBA_tes%20373.pdf>. CRIATIVIDADE – 11 – 4 A evolução cocriativa Quando pensamos em descobertas da humanidade, queremos saber como surgiram e quem foi o inventor. Antes da Renascença, como afirma Ashton (2016), não era hábito dar cré- dito às criações – muitas descobertas importantes são fruto de inovações herdadas de pessoas desconhecidas. Figura 4 – Evolução e cooperação Fonte: mmatee/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! Somos criativos e agimos em colaboração com os demais para garantir a evolução de nossas tecnologias e arte, ou mesmo para solucionar problemas cotidianos. Após a globalização, a colaboração tornou-se fácil e ágil, abrindo espaço para o avanço tec- nológico e das nações. A comunicação e a informação ficaram mais rápidas e amplas, estimu- lando e promovendo novas descobertas. Segundo Masi (2003), isso ocorre, principalmente, no campo científico. O predomínio de gênios como Newton ou Galileu (big science) deu lugar aos “cérebros coletivos” (small science): pesquisadores unidos em organizações que visam produzir novas teorias e práticas. EXEMPLO Para que uma lata de refrigerante seja produzida, são utilizados produtos e tecnolo- gias originários de vários lugares do mundo, inventados por dezenas de milhares de pessoas. É impossível produzir sozinho e em apenas um único país. Assim, um dos re- frigerantes mais famosos do mundo, que é considerado americano, na verdade não é tão americano quanto imaginamos, uma vez que é fruto da nossa evolução cocriativa. CRIATIVIDADE – 12 – Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer o conceito de criatividade e suas abordagens teóricas; • entender o comportamento e as formas de criatividade; • inteirar-se sobre os hemisférios cerebrais; • compreender a evolução cocriativa. Referências ALENCAR, Eunice. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3. ed. Brasília: UNB, 2009. ASHTON, Kevin. A História Secreta da Criatividade. Rio de Janeiro: Sextante, 2016. D’ADDARIO, Miguel. Coaching Pessoal. 3. ed. Teaneck: Babelcube Inc., 2016. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=b8nSDAAAQBAJ&pg=PT8&dq=coach+hemisf%C3%A- 9rios+cerebrais&hl=pt-BR&sa=X&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 26 jan. 2017. LUBART, Todd. Psicologia da Criatividade. Porto Alegre: Artmed, 2007. MASI, Domenico de. Criatividade e Grupos Criativos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. OLIVEIRA, Maria Aparecida Domingues. Neurofisiologia do Comportamento. 3. ed. Canoas: ULBRA, 2005. PREDEBON, José. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. SOUZA, Bruno Carvalho Castro. Criatividade: a engenharia cognitiva da inovação. Brasília: Edição do Autor, 2012. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/21143567/criatividade---a- -engenharia-cognitiva-da-inovacao>. Acesso em: 26 jan. 2017. VIRGOLIM, Ângela M. R.,FLEITH, Denise de S. e NEVES-PEREIRA, Mônica S. Toc, toc... plim, plim: lidando com as emoções, brincando com o pensamento através da criatividade. 9. ed. Campinas: Papirus, 2008. CRIATIVIDADE – 13 – Processos criativos Alessandra Jungblut Introdução O processo criativo passa por etapas fundamentais para atingir os objetivos. Atualmente, nossa sociedade incentiva as novas ideias e está abrindo espaço para a valorização do profissio- nal criativo. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • interpretar os significados processuais criativos e aplicabilidades em áreas da vida pes- soal e profissional; • reconhecer áreas de abrangência e dificuldades para conservar a criatividade no âmbito do trabalho. 1 Senso crítico, neutralidade e objetividade na utilização da criatividade Os seres humanos são dotados da capacidade de interpretar o mundo por meio de suas experiências. Um aspecto de nossa vida intelectual é o senso crítico, “(...) um esforço para superar as primeiras impressões, o óbvio, o imediato, o visivelmente aparente, indo às raízes da realidade” (LIBANIO, 2006). É uma forma de liberdade e autonomia, terreno perfeito para que a criatividade se desenvolva. Ao entrarmos em contato com a realidade, temos a capacidade de interpretá-la, refletir sobre ela e fornecer respostas originais e importantes para nossa evolução. Sem o senso crítico, o homem seria simples expectador do mundo, sem questionar ou compartilhar pontos de vista e descober- tas e incapaz de julgar as próprias ideias. – 14 – TEMA 2 Figura 1 – “O Pensador”, de Rodin Fonte: NeydtStock/Shutterstock.com O processo criativo acontece em etapas interdependentes. Inicialmente, surgem os devaneios, o pensamento é ilimitado e as ideias fluem livremente, sem interferência – embora sejam influencia- das por experiências individuais, contexto cultural, conhecimento prévio e uma série de fatores. Na fase intermediária podemos fazer associações com conceitos existentes. Finalmente, as ideias são testadas e organizadas objetivamente visando um resultado satisfatório (DI NIZO, 2009). A fase inicial do processo criativo, momento em que surgem as ideias, é considerada a mais espontânea. Para Ostrower (2011), a espontaneidade não é independente de influências, mas implica em coerência consigo mesmo. A independência de influências tem relação com o termo neutralidade, característica defendida pelo método científico como essencial, apesar de sua apli- cação ser questionável (OLIVEIRA, 2008). Manter a neutralidade implica em desfazer-se de valores e julgamentos, o que não ocorre no processo criativo, mesmo em sua fase espontânea. FIQUE ATENTO! Criar implica em conhecimento, estudo, informação e pensamento independente (senso crítico). Mas envolve também a capacidade de deixar as ideias fluírem es- pontaneamente. A análise e o julgamento são as etapas finais. 2 A utilização da criatividade na sociedade (condicionamento mental) Segundo Lubart (2007), um dos primeiros modelos que descrevem o processo criativo foi desenvolvido por Wallas no início do século XX e compreende quatro etapas: CRIATIVIDADE – 15 – Figura 2 – Etapas do processo criativo 1. Preparação 4.Verificação 3.Iluminação 2.Incubação Coleta de informação Análise inicial Trabalho consciente Descanso Jogo associativo inconsciente Esquecimento dos detalhes Experiência “Eureka” Emergência de ideias Exame crítico da ideia Conclusão dos detalhes Fonte: adaptado de LUBART, 2007. • Preparação – o indivíduo define o problema e busca o máximo de informações. É um trabalho consciente de aquisição de conhecimento; • Incubação – o indivíduo não pensa no problema e pode se concentrar em outras atividades ou simplesmente relaxar. Ocorre em nível inconsciente, no qual, o cérebro, faz associações de ideias; • Iluminação – quando surge uma ideia interessante, ela se torna consciente por meio de um insight; • Verificação – avaliação e desenvolvimento da ideia. Comunicar os resultados também é importante, segundo Alencar (2009). Uma ideia pode resolver um problema individual, porém torna-se socialmente relevante quando é compartilhada. Mesmo assim, nem sempre a sociedade é receptiva a novas descobertas, e por vezes, demora-se algum tempo até uma obra ser reconhecida. EXEMPLO Van Gogh produziu milhares de obras de arte em vida, porém jamais vendeu um único quadro. O reconhecimento de sua genialidade artística viria somente após sua morte (hoje um quadro de Van Gogh é valioso). Assim, a criatividade depende não apenas do indivíduo, mas, principalmente, de condições sociais e culturais: acesso livre a experiências culturais variadas, espaço para expressão e padrões menos rígidos para encorajar a criação. CRIATIVIDADE – 16 – SAIBA MAIS! O filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” mostra a história de um professor com métodos pouco ortodoxos e seus alunos. Ostrower (2011. p.102) aponta a questão do estilo como importante para caracterizar uma sociedade. “O estilo não se refere só a uma determinada terminologia. Abrange a maneira de pensar, de imaginar, de sonhar, de sentir, de se comover, abrange a maneira de agir e reagir (...). O estilo é forma de cultura”. Isso explica o porquê de determinadas ideias serem aceitas ou não em certo período ou local. Porém, o homem também age na sociedade e suas criações influenciam da mesma forma que são influenciadas. Na perspectiva comportamental, as respostas do ambiente a um determinado comporta- mento podem reforçá-lo ou suprimi-lo. Sobre o condicionamento operante, teoria desenvolvida por Skinner, Goodwin (2010) explica que o comportamento é modelado por suas consequências: se forem positivas, há maior chance de o comportamento ser repetido; se forem negativas, é provável que não se repita. Assim, comportamentos criativos em ambientes favoráveis são reforçados e motivam a sua continuidade. 3 Áreas de atuação ocupadas pelo profissional criativo (bloqueios emocionais) Hoje, a criatividade é uma característica extremamente valorizada. Em relação aos espaços ocupados pelo profissional criativo, Reis (2012) apresenta o conceito de cidades criativas. É na cidade que se desenvolvem as relações sociais, a cultura local, hábitos, atitudes e outras peculiari- dades. Pessoas criativas que estão interligadas formam cidades criativas. De acordo com o autor, quanto mais criativo for o ambiente da cidade, mais o talento de cada habitante e profissional será estimulado. E o aproveitamento do talento humano é essencial para o fomento da economia. Florida (2002 apud Reis, 2012) afirma que existe nas cidades uma classe de trabalhadores criativos que atuam com base no conhecimento. São cientistas, músicos, engenheiros, designers, advogados, profissionais de saúde, entre outros. A diferença está no objetivo do trabalho: há profis- sionais pagos para realizar tarefas predeterminadas e outros, cujo objetivo é criar. A criatividade pode ser utilizada em todos os setores, mas há circunstâncias, nas quais ela passa a ser um requisito. Essa exigência pode gerar o que chamamos de “bloqueios de criatividade”. Dell’Isola (2012) apresenta alguns padrões de pensamento que podem bloquear a expressão criativa: acreditar que há sempre uma resposta certa ao invés de gerar o máximo possível de ideias; usar regras no pro- CRIATIVIDADE – 17 – cesso de geração de ideias; rejeitar ideias ambíguas (o indivíduo evita o pensamento divergente e pode bloquear sua criatividade); o medo de errar ou parecer tolo; e a crença de que não é capaz. Outro obstáculo é citado por Nicolau (2014): o julgamento. As críticas são importantes no processo de criação, para diferenciarmos se, o que produzimos, é bom ou ruim, porém, seu excesso pode ser prejudicial.A maioria das invenções é fruto de tentativas e erros, protótipos e ideias excêntricas. Figura 3 – O giroscópio, de Da Vinci Fonte: Mar.k/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! Um ambiente pode oferecer condições adequadas para estimular a criatividade, mas cabe ao indivíduo confiar em seu potencial, manter-se motivado e não ter medo de errar. 4 A criatividade e o mercado de trabalho Com o crescimento das tecnologias, a criatividade surge como fator competitivo e diferencia- dor. A economia tem seu fomento em grande parte por empresas que valorizam a criatividade para gerar riqueza. E as pessoas são os atores principais desse mercado, ou seja, o capital intelectual e criativo responsável por produzir bens e serviços, que vão diferenciar essas empresas no mercado e gerar um retorno financeiro positivo. CRIATIVIDADE – 18 – SAIBA MAIS! O relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) sobre a Economia Criativa analisa as políticas e aponta direções possíveis para o desenvolvimento criativo mundial. Acesse em: <http://unctad.org/ pt/docs/ditctab20103_pt.pdf>. Segundo Reis (2012), a abertura de mercados facilitou a circulação de bens e serviços cria- tivos no mundo. Porém, há a tendência de serem oferecidos produtos ou serviços semelhan- tes. Então, surge a valorização da criatividade como forma de diferenciação e competitividade. Além disso, há a necessidade de produzir, fazer parte de um contexto global e manter a cultura local, oferecendo algo único e atrativo. EXEMPLO O artesanato desenvolvido por uma pequena comunidade no interior do Brasil pode ser exportado, gerar riqueza e garantir o desenvolvimento daquela região. Figura 4 – Indústrias criativas Indústrias criativas Artes cênicas Música ao vivo, teatro, dança, ópera, circo, fantoches, etc. Audiovisuais Filme, televisão, rádio, demais radiodifusões. Novas mídias Software, videogames, conteúdo digital criativo.Serviços criativos Arquitetura publicidade, P&D criativo, cultural recreativo. Design Interiores, gráfico, moda joalheria, brinquedos. Editoras e mídia impressa Livros, imprensa e outras publicações. Artes visuais Pinturas, esculturas, fotografia e antiguidades. Locais culturais Sítios arqueológicos, museus, bibliotecas, exposições, etc. Expressões culturais tradicionais Artesanato, festivais e comemorações. Patrimônio Cultural Arte Mídia Criações Funcionais Fonte: adaptado de NAÇÕES UNIDAS, 2010. CRIATIVIDADE – 19 – Segundo Peixoto e Ferreira (2011), temos a necessidade de ter mais profissionais criativos, que estejam adequados às novas tendências. As organizações ainda possuem pessoas que exe- cutam muito e criam pouco. A nova geração tem grande potencial criativo, faz atividades simultâ- neas, mas precisa ser estimulada a ter foco para adaptar-se ao crescente mercado. FIQUE ATENTO! O desenvolvimento da criatividade hoje é essencial, o ambiente é propício e a ne- cessidade de manter o foco na produção de novas ideias/produtos/serviços é im- portante para obter sucesso. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • identificar o senso crítico, a neutralidade e a objetividade na utilização da criatividade; • conhecer as etapas do processo criativo; • compreender a relação entre a criatividade e o mercado de trabalho; • aprender o conceito de cidades criativas. Referências NAÇÕES UNIDAS. Conferência das Nações Unidas sobre comércio e desenvolvimento - (UNCTAD). Relatório de economia criativa 2010: economia criativa uma, opção de desenvolvimento. 2010. Disponível em: <http://unctad.org/pt/docs/ditctab20103_pt.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2017. DELL’ ISOLA, Alberto. Mentes brilhantes. São Paulo: Universo dos Livros, 2012. DI NIZO, Renata. Foco e criatividade: fazer mais com menos. São Paulo: Summus, 2009. GOODWIN, C. James. História da psicologia moderna. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 2010. LIBANIO, João Batista. Introdução à vida intelectual. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006. NICOLAU, Marcos. Introdução à criatividade. 2. ed. João Pessoa: Ideia, 2014. OLIVEIRA, Marcos Barbosa de. Neutralidade da ciência, desencantamento do mundo e controle da natureza. Sci. stud., [online], v. 6, n. 1, p. 97-116, 2008. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 28. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. PEIXOTO, Clea Jatahy; FERREIRA, Larissa Torres. Criatividade e mercado de trabalho. FTDR: Revista Científica da Faculdade de Tecnologia Darcy Ribeiro, p. 47-8, nº 1, jul/dez 2011. REIS, Ana Carla Fonseca. Cidades criativas: da teoria à prática. São Paulo: Sesi Editora, 2012. CRIATIVIDADE – 20 – A criatividade e o ser humano Alessandra Jungblut Introdução O estímulo ao ato de criar envolve uma série elementos, desde os traços de personalidade até a influência da cultura e do meio social. Aspectos individuais incluem a curiosidade, a flexibilidade, a motivação e a persistência. Essas características, aliadas a um ambiente adequado, podem con- tribuir para a expressão criativa. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar tipologias de perfis do ser humano que desenvolvem a personalidade criativa; • conhecer os papéis sociais que compõem a formação do indivíduo criativo. 1 A criatividade e a personalidade (ajustamento e papéis sociais) A criatividade está presente em nós, manifestada em diferentes intensidades. De acordo com Alencar e Fleith (2009), a produção criativa de um indivíduo é influenciada por habilidades cogniti- vas, condições ambientais, motivação, atitudes e traços de personalidade. O ambiente e a educação são essenciais no desenvolvimento criativo, ao estimular essa ativi- dade, sem obstaculizar à expressão. Segundo Predebon (2010), existem características favorecem a criatividade e compõem a chamada “personalidade criativa”: • Independência, ousadia • Curiosidade • Flexibilidade • Sensibilidade • Leveza, otimismo • Fluência verbal e de raciocínio • Interesse variado • Valorização do diferente • Intuição, impulsividade – 21 – TEMA 3 Figura 1 – Personalidades criativas Fonte: Visual3Dfocus/Shutterstock.com Essas características não estão presentes em todos os criativos, mas é possível desenvolver alguns desses aspectos para expressar melhor seu potencial. A criatividade faz parte da interação do homem com o meio social: ele a utiliza para manter o equilíbrio entre suas necessidades e a adaptação ao ambiente. Isso é chamado de ajustamento cria- tivo que, segundo Pacheco (2010), é uma maneira saudável de interagir ativamente, adaptando-se e equilibrando as demandas externas e internas, sem anular ou supervalorizar nenhuma delas. EXEMPLO Uma pessoa preocupada em manter uma alimentação livre de agrotóxicos mora em um apartamento e não encontra esses produtos em um supermercado próxi- mo. Então, constrói uma horta vertical em sua sacada. Na interação social, o homem assume funções denominadas de papéis sociais (ROJAS-BER- MUDEZ, 2016). São padrões de comportamento exercidos em sociedade, de acordo com o que é esperado em várias esferas (família, trabalho, relacionamentos, grupos sociais). Desempenhar papéis faz parte de nossa identidade e cultura, porém, padrões muito rígidos podem impedir a espontanei- dade e iniciativa necessárias às mudanças sociais e ao ajustamento criativo. “O destino de uma cultura depende da criatividade de seus membros” (Moreno,1984 apud Neves, 2008, p. 32). FIQUE ATENTO! Deve haver o equilíbrio entre o impulso criativo de nossa personalidade e as circuns- tâncias do ambiente. CRIATIVIDADE – 22 – 2 A criatividade e a socialização (formação de valores, dogmas e preconceito) Na infância, iniciamos o processo de socialização,definido como a aquisição de valores, padrões comportamentais, crenças e atitudes, que se torna mais complexo com o passar do tempo (Mussen, 1988 apud Neves, 2008). A criatividade, de acordo com Chagas, Apes e Fleith (2008), não é consequência exclusiva de processos internos, mas resulta da interação do indivíduo com o meio e se desenvolve constantemente por meio das experiências acumuladas durante a vida. Ainda na infância, utilizamos a imaginação e a fantasia; conforme crescemos, desenvolve- mos a linguagem e o conhecimento, adquirimos experiências mais complexas e conseguimos transformar os sonhos em realidade. É o momento em que a criatividade atinge sua maturidade. Figura 2 – Socialização e cultura domínio campo indivíduo SOCIEDADE EXPERIÊNCIA PESSOAL PRODUÇÃO DE NOVIDADE CULTURA seleção de novidade transmissão de informação estimula a novidade Fonte: adaptado de CSIKSZENTMIHALYI (2004) apud MOREIRA (2008). Csikszentmihalyi (1999 apud Chagas, Apes e Fleith, 2008) propõe um modelo sistêmico para o estudo da criatividade, considerando-a como a soma de aspectos individuais (genética e experi- ências pessoais), culturais e sociais. Os aspectos individuais envolvem curiosidade, motivação, persistência, entusiasmo, flexibi- lidade de pensamento, entre outros. Os aspectos culturais são os hábitos, regras, preconceitos e conhecimentos compartilhados. Já os aspectos sociais envolvem as relações entre grupos. Na interação com a cultura, o indivíduo criativo poderá fazer questionamentos e propor mudanças criativas, desde que encontre um ambiente social adequado que ofereça oportunidade de escolha, tarefas estimulantes e a aceitação das diferenças. FIQUE ATENTO! Questionar a realidade e propor mudanças socioculturais positivas é uma função importante e própria de pessoas criativas. CRIATIVIDADE – 23 – SAIBA MAIS! Para entender mais sobre o processo de socialização e a relação entre indivíduo, so- ciedade e cultura, acesse: <http://wright.ava.ufsc.br/~alice/conahpa/anais/2009/ cd_conahpa2009/papers/final157.pdf>. 3 A criatividade no contato humano (introversão x extroversão) Um dos preconceitos que conhecemos refere-se à questão do que é próprio de indivíduos introvertidos e extrovertidos. Por exemplo, os extrovertidos são líderes mais competentes e os introvertidos são tristes. Algumas das ideias preconcebidas sobre isso, segundo Cain (2012), são a crença de que o mundo é de maioria extrovertida, e também, a simplificação dos termos, já que temos tipos diferentes de introvertidos e extrovertidos. Jung (2011) aborda a questão introversão x extroversão como parte de sua teoria da perso- nalidade (tipos psicológicos). De acordo com autor, definir-se como um ou outro é difícil, tendo em vista a tendência humana a compensar o aspecto unilateral de seu tipo, ou seja, podemos ser essencialmente introvertidos e apresentar comportamentos extrovertidos para que nossa psique possa manter o equilíbrio. A extroversão caracteriza-se por interesses predominantemente objetivos (mundo externo, atividades em grupo) e a introversão, por interesses predominantemente subjetivos (mundo interno, atividades individuais). Na realidade, todos apresentamos os dois tipos de atitude, porém, um é preponderante. O ideal é o equilíbrio, para nos sentirmos confortáveis, tanto com o mundo externo, quanto com o interno. Figura 3 – Yin e Yang Extroversão Introversão Fonte: FEIST; FEIST & ROBERTS, 2015, p.79. CRIATIVIDADE – 24 – Segundo Cain (2012), a supervalorização dos extrovertidos pode fazer com que os introver- tidos sintam dificuldade em aceitar-se. Os introvertidos tendem a ser mais criativos porque pos- suem uma experiência interna mais rica, são mais focados e persistentes, enquanto os extroverti- dos têm a necessidade de obter atenção do grupo. SAIBA MAIS! A revista Superinteressante traz um artigo a respeito das pessoas consideradas intro- vertidas. Acesse: <www.super.abril.com.br/comportamento/timidos-sem-vergonha/>. 4 O Ser criativo A autoaceitação é uma das características que auxiliam a expressão criativa, assim como a leveza. De acordo com Castilho e Sanmartin (2013), a ação criadora vai além da resolução de pro- blemas e atende necessidades intrínsecas de realização. O jogo, as brincadeiras e a diversão são importantes aliados no desenvolvimento de pessoas criativas. No adulto, redescobrir a esponta- neidade e a alegria e divertir-se no processo criativo é importante para pessoas que querem vencer as repressões e enfrentar o medo do julgamento alheio. O foco é o processo de criação em si, ao invés da simples espera por recompensa ou punição. O ato de dedicar-se à produção criativa com prazer e satisfação está relacionado aos aspec- tos motivacionais. Amabile (1996 apud Alencar e Fleith, 2009) afirma que a motivação intrínseca é o que leva o indivíduo a buscar mais informações, arriscar-se e sair do comum, buscando novas estratégias criativas. De acordo com Ostrower (2011), a criatividade é uma habilidade caracterís- tica do ser humano e o ato de criar é uma necessidade. Dessa forma, o homem como ser criativo por natureza encontra satisfação na realização desse potencial. EXEMPLO Podemos observar essa motivação em personalidades que se destacaram. Leonardo da Vinci foi um criativo obcecado pela observação do mundo. Carregava consigo um caderno para anotar pensamentos e inventos e desenhar o que via nas ruas. Tinha interesses variados, como pintura, geometria, anatomia, entre outros (Herbert, 2002). CRIATIVIDADE – 25 – Figura 4 – Leonardo Da Vinci Fonte: Georgios Kollidas/Shutterstock.com Virgolim, Fleith e Neves-Pereira (2008) trazem uma perspectiva humanista, a questão da autorrealização. É por meio da criatividade que o ser humano se realiza. Para isso, é necessário segurança e liberdade psicológica, ou seja, segurança de ser aceito como é e liberdade psicológica para expressar-se livremente, sem impedimentos. FIQUE ATENTO! Exercer a criatividade é uma necessidade humana e é por meio dela que o ser hu- mano se realiza. Para isso, é preciso motivação e um ambiente adequado à livre expressão. Fechamento Ao final desta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer algumas características atribuídas à personalidade criativa; • aprender o conceito de ajustamento criativo; • compreender a influência da personalidade, da cultura e da sociedade no desenvolvi- mento da criatividade; • observar as diferenças entre introversão e extroversão no processo criativo. CRIATIVIDADE – 26 – Referências ALENCAR, Eunice e FLEITH, Denise. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3. ed. Brasília: UNB, 2009. CAIN, Susan. O Poder dos Quietos: como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar. Rio de Janeiro: Agir, 2012. CASTILHO, Marta Andrade e SANMARTIN, Stela Maris. Criatividade no Processo de Coaching. São Paulo: Trevisan Editora, 2013. CASTRO, Carol. Tímidos sem vergonha. Superinteressante, 2014. Disponível em: <http://super. abril.com.br/comportamento/timidos-sem-vergonha/>. Acesso em: 21 fev. 2017. CHAGAS, Jane F., APES, Cristiana C. e FLEITH, Denise S. A relação entre criatividade e desen- volvimento: uma visão sistêmica. pp. 210-230. In: DESSEN, Maria A. e COSTA JR, Áderson Luiz. A Ciência do Desenvolvimento Humano: tendências atuais e perspectivas futuras. Porto Alegre: Artmed, 2008. FEIST, Jess; FEIST, Gregory J. e ROBERTS, Tommi-Ann. Teorias da personalidade. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. HERBERT, Janis. Da Vinci para crianças. São Paulo: Zahar, 2002. JUNG, Carl G. Tipos Psicológicos. 4. ed. Coleção Obra Completa – v. 6. Petrópolis: Vozes, 2011. MOREIRA, Mafalta Vaz Pinto. Criatividade organizacional, uma abordagem sistémica e pragmá- tica. 2008. 185 f. Dissertação (Mestradoem Inovação e Empreendedorismo Tecnológico) – FEUP. Porto, Portugal. 2008. NEVES, Sissi Malta. Os papéis sociais e a cidadania. In ZANELLA, Andrea V., et al. Psicologia e práticas sociais. [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. pp. 28-48. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/886qz/pdf/zanella-9788599662878-05.pdf>. Acesso em: 21 fev. 2017. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 28. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. PACHECO, Cristina V. Razão x Emoção: um atendimento clínico sob a luz da Gestalt- Terapia. [online] Monografia. Florianópolis: Comunidade Gestáltica, 2010. Disponível em: <https://view. officeapps.live.com/op/view.aspx?src=http://www.comunidadegestaltica.com.br/sites/default/ files/CRISTINA%20VIEIRA%20PACHECO.docx>. Acesso em: 21 fev. 2017. PEREIRA, Kariston et al. A Criatividade na sociedade do conhecimento: um ensaio sobre a impor- tância dos fatores culturais e nãocognitivos. 4º CONHAPA – Congresso Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem, Florianópolis, 2009. PREDEBON, José. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ROJAS-BERMÚDEZ, Jaime G. Introdução ao Psicodrama. São Paulo: Ágora, 2016. VIRGOLIM, Ângela M. R., FLEITH, Denise S. e NEVES-PEREIRA, Mônica S. Toc, toc... plim, plim: lidando com as emoções, brincando com o pensamento através da criatividade. 9. ed. Campinas: Papirus, 2008. CRIATIVIDADE – 27 – Criatividade individual e cultural Alessandra Jungblut Introdução O ato de criar depende de aspectos individuais, culturais e do meio social para se desenvolver plenamente. A criatividade adquire uma importância cada vez maior em nosso dia a dia e é indis- pensável para garantir nossa sobrevivência e o gerenciamento do conhecimento, além de ser uma ferramenta importante para a autorrealização e o sucesso profissional. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar particularidades individuais e culturais para o desenvolvimento da criatividade; • entender sobre a necessária sabedoria em ser criativo para a conquista de êxito. 1 Como desenvolver a criatividade O ser humano possui potencial para produzir coisas novas, criar, ter ideias e desenvolvê-las. Segundo Lubart (2007), o meio familiar pode facilitar o desenvolvimento criativo ao valorizar a criança, aceitar sua individualidade, opinião e autonomia. O ambiente escolar, o contexto cultural e os instrumentos tecnológicos também têm impacto sobre a expressão criativa. Na escola tradi- cional, a tendência é valorizar o pensamento convergente (as “respostas certas”), a memorização e a obediência, mas esse meio pode também favorecer a resposta criativa, quando incentiva a expressão e a construção de relações entre diferentes matérias. Sobre a cultura, Lubart (2007) afirma que existem tradições restritivas em alguns locais, nos quais não é possível criar novas formas de pintar os ícones da cultura religiosa ou mesmo de compor canções de estilo musical diferente. É preciso adaptar-se e utilizar os meios disponíveis. E a tecnologia, como a internet e a televisão, agem como importantes meios de disseminar informa- ções e conhecimento, além de ser um importante campo de pesquisa e criação. Segundo Di Nizo (2009), para criar não basta apenas ter uma grande ideia. É preciso ter foco e concentração em um objetivo para colocá-la em prática. “Ter ideias não é o mesmo que ser cria- tivo. Criação é execução, e não inspiração. Muitos têm ideias; poucos dão os passos necessários para concretizar aquilo que imaginam” (ASHTON, 2016, p.63). FIQUE ATENTO! Criar não é algo mágico. Buscar novos conhecimentos e exercitar a produção de ideias é um passo importante para se tornar uma pessoa ainda mais criativa. – 28 – TEMA 4 Figura 1 – Criatividade requer prática Fonte: Alphaspirit/Shutterstock.com Além da influência de aspectos socioculturais, existem várias técnicas e métodos para desenvolver seu potencial criativo. Para Predebon (2010), cada pessoa escolhe a abordagem mais aprazível, desde que abandone o paradigma de ser incapaz de criar e lembre-se de que a simplicidade é desejável e que não há descoberta sem experiência. Alencar e Fleith (2009) citam algumas técnicas: a tempestade cerebral (ou brainstorming), a sinética, as combinações força- das, a listagem de atributos e os exercícios sensoriais de imaginação. São sugestões de exercí- cios que favorecem o hábito de pensar criativamente. EXEMPLO A técnica de combinações forçadas sugere fazer associações entre duas coisas que parecem distantes, buscando uma ligação entre eles – carro e peixe; gato e geladeira; livro e lâmpada, etc. 2 Por que é necessário ser criativo? Uma ideia criativa pode solucionar um problema individual ou tornar-se socialmente relevante ao ser compartilhada e aceita pela sociedade. Nas artes, a ação criativa expressa a interação entre indivíduo e cultura, e a criatividade, após ser estudada nos últimos anos, é apontada atualmente como essencial à sobrevivência humana. Nosso momento histórico destaca-se por profundas e rápidas mudanças, com problemas que demandam soluções criativas. As informações tornam-se obsoletas em pouco tempo e fica CRIATIVIDADE – 29 – difícil para o ser humano prever o tipo de conhecimento necessário para os próximos anos – é preciso ampliar nossa capacidade de pensar e criar (ALENCAR & FLEITH, 2009). Figura 2 – Criar para evoluir Fonte: mmatee/Shutterstok.com Ashton (2016) demonstra a importância da criatividade retomando um período histórico, no qual havia preocupação com o crescimento populacional. Thomas Malthus publicou em 1798 um ensaio, no qual relatou o perigo da falta de alimentos causado pelo constante aumento da população. O crescimento atingiu níveis mais elevados do que o previsto, no entanto, a fome no planeta diminuiu. Isso só foi possível pelo aumento da capacidade criativa, ou seja, o crescimento populacional aumentou também o número de pessoas criativas, interconectadas, desenvolvendo soluções e produzindo. Além disso, é por meio da criatividade que o ser humano descobre manei- ras sustentáveis de utilizar os recursos naturais. EXEMPLO O desgaste do solo e o uso abusivo de agrotóxicos estimulou o desenvolvimento da agricultura orgânica. 3 Criatividade e inteligência A inteligência humana está associada à capacidade de raciocínio, aprendizagem, resolução de problemas e adaptação ao meio. Até a metade do século XX, pesquisas sobre inteligência eram suficientes para explicar o funcionamento mental. Segundo Bee e Boyd (2011), para compreender e medir diferenças individuais de inteligência surgiram a abordagem psicométrica e o teste de QI. CRIATIVIDADE – 30 – Atualmente, temos abordagens amplas como a teoria de Robert Sternberg e os três tipos dife- rentes de inteligência: a analítica/componencial (planejamento, organização, memória); a criativa/ experiencial (respostas não convencionais, exame crítico de ideias, associações); e a prática/con- textual (manejo de questões práticas, percepção social). Outra teoria emergente foi a de Howard Gardner (Inteligências Múltiplas), que admite oito tipos de inteligência: linguística, lógico-matemá- tica, espacial, corporal/cinestésica, interpessoal, intrapessoal e naturalista (BEE e BOYD, 2011). De acordo com Freitas-Magalhães (2003), a criatividade já foi associada à inteligência, pois acreditava-se que era uma característica apenas de indivíduos inteligentes. Porém, estudos reali- zados por Wallach e Kogan mostraram que existem pessoas inteligentes com pouca expressão criativa, e pessoas com baixo nível intelectual, com bom desempenho criativo. Isso ocorre porque os inteligentes considerados pouco criativos apresentaram um sentimento de insegurança em situações de ambiguidadee preferem padrões já conhecidos de desempenho. Já os indivíduos criativos com baixo nível intelectual sentem-se mais seguros quando não há ava- liação de desempenho. FIQUE ATENTO! O autoconceito positivo faz parte de uma personalidade criativa. Figura 3 – Inteligência versus Criatividade Fonte: Sakonboon Sansri/Shutterstock.com A relação entre criatividade e inteligência foi muito debatida entre psicólogos. De acordo com Del Isola (2012), são coisas distintas e independentes. Essa diferença existe, segundo Gardner (1996 apud DEL ISOLA, 2012), devido à relação entre pensamento divergente e pensamento convergente. Pessoas inteligentes são convergentes, emitem respostas corretas convencionais aos problemas. CRIATIVIDADE – 31 – Já as pessoas com desempenho criativo elevado apresentam pensamento divergente: diante de um problema, fazem associações diferentes e interpretações e emitem respostas originais. SAIBA MAIS! Confira o vídeo publicado no canal do Projeto Fronteiras do Pensamento explicando a diferença entre inteligência e criatividade. Acesse: <https://www.youtube.com/ watch?v=yLC707jeDKs>. 4 Criatividade e êxito Para Maslow (apud FEIST, FEIST & ROBERTS, 2015), criatividade e autorrealização são sinô- nimos. Pessoas autorrealizadas são criativas na medida em que percebem a verdade, a beleza e a realidade de maneira única, e não precisam ser grandes artistas ou poetas. São pessoas que conseguiram sair do comum e desenvolver seu potencial, tanto na vida pessoal como no trabalho. Além disso, a prática criativa permite o exercício natural da inovação, ou seja, uma forma de fugir da linha evolutiva normal e dar um salto em direção ao novo. É a ação individual sendo um diferencial na vida de outras pessoas, permitindo a realização pessoal e nos tornando pessoas mais felizes (PREDEBON, 2010). Figura 4 – Criatividade e êxito Fonte: Lightspring/Shutterstock.com De acordo com Linkner (2014), a criatividade é importante não apenas para artistas e pes- soas do meio publicitário, mas para o sucesso em outras áreas. Pessoas que ocupam cargos gerenciais consideram a presença de pessoas criativas como vitais para o crescimento de suas CRIATIVIDADE – 32 – empresas. Porém, Bes e Kotler (2011) alertam para se distinguir criatividade de inovação nas orga- nizações de trabalho. A criatividade é uma ferramenta para o alcance da inovação. SAIBA MAIS! Sobre criatividade e inovação, Barlach publicou uma tese intitulada “A humana sob a ótica do empreendedorismo inovador”. Acesse: <http://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/47/47134/tde-01122009-084339/pt-br.php>. Ideias e soluções novas e interessantes devem ser gerenciadas para atingir os objetivos, ou seja, devem ser materializadas no mercado para que as pessoas possam sentir-se efetivamente participativas. “As pessoas propõem ideias e, devido à falta de regras claras acerca do que fazer com elas, estas definham antes de chegarem a algum lugar. Desse modo, as pessoas ficam des- motivadas e param de propor novas ideias” (BES & KOTLER, 2011, p. 22-23). FIQUE ATENTO! O meio social é importante para o desenvolvimento da criatividade. Portanto, é im- portante incentivar a participação das pessoas, ouvir ideias e contribuir para um clima de aceitação e motivação. 5 Os valores culturais facilitadores da criatividade Além de aspectos relacionados à personalidade e ao ambiente social, o desenvolvimento da criatividade recebe a influência de valores culturais. Segundo Leal e Rocha (2008), o ser humano transforma a realidade a partir da consciência de seus próprios valores. Um objeto é avaliado a partir de critérios de valor, sejam eles subjetivos ou objetivos, que refletem a cultura e podem mudar de acordo com as tendências históricas. Os valores são parte da construção cultural, são crenças que orientam um modo de conduta, transmitidas pelos pais, professores ou outras figuras significativas para o indivíduo, são o reflexo do que o indivíduo considera desejável ou indesejável, do que ele seleciona como importante. Segundo Chagas, Aspesi e Fleith (2008), a organização social e cultural estabelece critérios para avaliar o que é produzido levando em conta os conhecimentos próprios de seus integrantes. Cada área de conhecimento (matemática, física, música etc.) possui um conjunto de regras e procedimentos que permitem considerar se o produto criativo é considerado bom ou não. Para um bom desempenho criativo, o indivíduo precisa conhecer a área em que pretende desenvolver sua criação e, ao dominar o conhecimento, promover mudanças e atualizar procedimentos. Fato- res sociais e históricos como guerras, crises econômicas e desastres naturais também podem influenciar a qualidade e a quantidade de produções criativas. Além disso, características culturais de determinado local ou tempo podem facilitar ou dificultar a aceitação de ideias ou produtos cria- tivos (por exemplo: um renomado pianista clássico pode não ter o mesmo prestígio se estiver em uma tribo indígena isolada do mundo). CRIATIVIDADE – 33 – Existem, assim, demandas sociais que favorecem a criatividade, como o fato de vivermos em um tempo em que organizações criativas representam vantagem competitiva e acabam incenti- vando cada vez mais a expressão. Como afirma Csikszentmihalyi (1996, apud CHAGAS; ASPESI & FLEITH, 2008, p. 227), “é mais fácil desenvolver a criatividade das pessoas mudando as condições do ambiente, do que tentando fazê-las pensar de forma criativa”. O ambiente de trabalho deve ser considerado como um importante espaço para o desenvol- vimento da criatividade. Segundo Muzzio (2017), a cultura que emerge do contexto organizacional pode motivar a criatividade dos indivíduos mantendo valores, regras e práticas convergentes com a ação criativa. Uma cultura organizacional em que há interação entre as características individu- ais e as características e objetivos da própria organização podem ser determinantes da expres- são criativa no momento em que estimulam as relações interpessoais, a comunicação, as novas ideias, a confiança e o comprometimento com o trabalho. Fechamento Ao final desta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer as condições que facilitam a expressão da criatividade; • compreender a importância da criatividade para o desenvolvimento social e para o crescimento pessoal; • aprender algumas abordagens relacionadas à inteligência e sua relação com a criatividade. Referências ALENCAR, Eunice e FLEITH, Denise. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3. ed. Brasília: UNB, 2009. ASHTON, Kevin. A História Secreta da Criatividade. Rio de Janeiro: Sextante, 2016. BARLACH, Lisete. A criatividade humana sob a ótica do empreendedorismo inovador. Instituto de Psicologia. São Paulo: USP, 2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponi- veis/47/47134/tde-01122009-084339/pt-br.php>. Acesso em: 21 fev. 2017. BEE, Helen e BOYD, Denise. A Criança em Desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. BES, Fernando T. e KOTLER, Philip. A Bíblia da Inovação. São Paulo: Leya, 2011. CHAGAS, Jane F., ASPESI, Cristiana C. e FLEITH, Denise S. A relação entre criatividade e desenvolvi- mento: uma visão sistêmica. pp. 210-230. In: DESSEN, Maria A. e COSTA JR, Áderson L. A Ciência do Desenvolvimento Humano: tendências atuais e perspectivas futuras. Porto Alegre: Artmed, 2008. DELL’ISOLA, Alberto. Mentes Brilhantes. São Paulo: Universo dos Livros, 2012. DI NIZO, Renata. Foco e Criatividade: fazer mais com menos. São Paulo: Summus, 2009. CRIATIVIDADE – 34 – FEIST, Jess; FEIST, Gregory e ROBERTS, Tommi-Ann. Teorias da Personalidade. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. FREITAS-MAGALHÃES, Prof. Dr. Psicologia da Criatividade: estudo sobre o desenvolvimento da expressão criadora da criança. 7. ed. Ramada, Portugal:ISCE, 2003. LEAL, Raimundo S. e ROCHA, Nivea M. F. Estética, valores e cultura: ampliando a subjetividade na análise organizacional. V ENEO/ANPAD, Belo Horizonte, 2008, pp. 01-16. Disponível em: <www. anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnEO/eneo_2008/2008_ENEO547.pdf.> Acesso em: 16 mar. 2017. LINKNER, Josh. Criativo e Produtivo: os 5 passos da inovação empresarial que geram resultados imediatos. Ribeirão Preto: Novo Conceito Editora, 2014. LUBART, Todd. Psicologia da Criatividade. Porto Alegre: Artmed, 2007. MUZZIO, Henrique. Indivíduo, liderança e cultura: evidências de uma gestão da criatividade. Revista RAC, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, art. 6, pp. 107-124, Jan./Fev. 2017. Disponível em: <http://dx.doi. org/10.1590/1982-7849rac2017160039>. Acesso em: 16 mar. 2017. PREDEBON, José. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. CRIATIVIDADE – 35 – Enfoque holístico e visão sistêmica da criatividade Alessandra Jungblut Introdução A atitude criativa é o que move o ser humano a criar. Para isso, é preciso curiosidade, capaci- dade de questionar e se abrir para o novo. A realização pessoal ocorre por meio da satisfação de criar algo que se considera bom, é brincar com as ideias, é testar hipóteses diferentes. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • conhecer os âmbitos comportamentais da criatividade por intermédio dos modos de pensar e expressar-se; • entender as inter-relações entre criatividade e espontaneidade. 1 A atitude criativa Ações criativas iniciam a partir de questionamentos sobre situações. O ser humano observa as situações e investiga novos modos de olhar e novas soluções possíveis. Atitude, segundo Rodri- gues (1981, apud GOULART, 2006), é uma predisposição a favor ou contra um objeto social. Ela surge da percepção e do sentimento que temos sobre algo e pode influenciar nosso comporta- mento em determinadas ocasiões. A atitude criativa deriva da curiosidade, do hábito de questionar, da vontade de desenvolver algo. São as atitudes mentais e emocionais que desenvolvemos ao investigar uma realidade. Pro- mover a atitude criativa é motivar o indivíduo a desenvolver suas criações, fazendo com que ele perceba que existem opções disponíveis. O indivíduo com atitude criativa vê o mundo com a inge- nuidade de uma criança e o conhecimento de um adulto – possui grande capacidade de atenção e de observação e, para ele, o mundo é cheio de surpresas (FERREIRA et al, 2011). Todas as pessoas criativas são uma síntese de muitas atitudes aparentemente contraditórias. Trata-se do direito de ser ao mesmo tempo lógico e ilógico ou in- trovertido e extrovertido. Todos esses “eus” coabitam e são utilizados sabiamente. Em interação constante e ativa com seu meio ambiente, a criatividade se abre para receber as mensagens. Ao fazê-lo, corre o risco de receber informações in- quietantes e dissonantes. Admite-se que ser curioso é ser um explorador, o que investiga vários territórios. O ser curioso procura verificar o que foi dito e tenta descobrir aquilo que ainda não tenha sido dito (FERREIRA et al, 2011, p. 162). – 36 – TEMA 5 Predebon (2010) afirma que, entre os métodos disponíveis para desenvolver a criatividade, estão as abordagens atitudinais, cujo objetivo é justamente ampliar a atitude criativa por meio de um trabalho psicológico, com técnicas de reflexão e assimilação de novos valores. Ele se refere a uma teoria das aberturas, na qual uma pessoa se torna mais criativa quando está mais aberta. Pessoas tornam-se mais abertas ao aprimorar algumas características como flexibilidade, articu- lação, comunicabilidade, inquietude e leveza. O desenvolvimento dessas características objetiva ampliar a atitude criativa. Figura 1 – F.A.C.I.L.: aberturas à criatividade Leveza Caracteriza o sujeito que não leva o mundo muito a sério, sem que isso se traduza em superficialidade. Pessoas que mantêm o bom humor com mais facilidade, naturalmente. Inquietude Característica de pessoas questinadoras e prospectivas, as que duvidam de muita coisa e sempre querem conferir se normas e consensos são realmente “respeitáveis”. Comunicabilidade Qualidade dos extrovertidos. Pessoas que conseguem estabelecer fáceis pontes de comunicação com o mundo. Articulação Encontrada em pessoas com alto grau de conciliação e participação no ambiente. Gostam de se manter informadas e vivenciam muito uma posição gregária Flexibilidade Característica de pessoas que não adotam posições definitivas, podendo rever suas convicções e valores, sem maiores traumas. Fonte: adaptado de PREDEBON, 2010, p. 51. SAIBA MAIS! Assista ao vídeo “Mude, mas comece...”, sobre mudanças de atitude e a abertura ao novo. <https://www.youtube.com/watch?v=A2hk9jtL7WA>. Indivíduos com atitude criativa, segundo Ferreira (2011), são persistentes mesmo diante de grupos opostos às suas ideias e confrontam o ceticismo e até a hostilidade. A atitude inovadora resiste e persiste ao buscar constantemente o estado de harmonia. FIQUE ATENTO! A atitude criativa tem origem na interação do homem com o mundo e é própria de pessoas abertas ao novo, curiosas e dispostas a lidar com o pensamento divergente. CRIATIVIDADE – 37 – 2 Conduta encaminhada à autorrealização O ser humano é motivado a satisfazer necessidades. Maslow (1970, apud FELDMAN, 2015) desenvolveu um modelo chamado Hierarquia das Necessidades Humanas e as dividiu em neces- sidades fisiológicas, de segurança, de amor e pertencimento, de estima e de autorrealização. Esta última “é um estado de satisfação em que as pessoas realizam seu mais alto potencial da maneira que lhes é peculiar” (FELDMAN, 2015, p. 293). Para atingir esse nível, o ser humano deve suprir primeiro as necessidades fisiológicas mais básicas, depois a necessidade de segu- rança, e assim por diante. Figura 2 – Pirâmide das Necessidades Humanas de Maslow Necessidades fisiológicas Necessidades de segurança Amor e pertencimento Estima Autorrealização Impulsos primários: necessidades de água, alimento e sexo Necessidade de um ambiente seguro e protegido Necessidade de receber e dar afeição Necessidade de desenvolver um sentimento de autovalorização Estado de satisfação Fonte: FELDMAN, 2015, p. 293. Segundo Rogers (2009), a criatividade está presente em todos, esperando as condições adequadas para se manifestar e existe em função da tendência do ser humano em realizar suas potencialidades. A autorrealização é, portanto, o objetivo maior da criação. Para o autor, a maior parte das descobertas consideradas de grande valor social foi motivada por objetivos pessoais dos criadores, ou seja, o ser humano cria porque isso o satisfaz. FIQUE ATENTO! A autorrealização é o estado máximo de satisfação humana. Ela é conquistada no momento em que o indivíduo está motivado a desenvolver seu potencial criativo. CRIATIVIDADE – 38 – Para que o produto criativo seja construtivo e positivo, Rogers (2009) enfatiza a importância do autoconhecimento, de estar aberto às experiências. Ao ficar na defensiva e não aceitar a si mesmo, o indivíduo não permite a livre circulação dos estímulos e não consegue criar algo bom – torna-se rígido. Outra condição interna para a criatividade é o sentimento positivo em relação à sua própria criação. Não é o julgamento do outro que vai satisfazer o indivíduo, mas sim, a consciência de que fez um bom trabalho e realizou suas potencialidades emergentes. Além disso, a autorrealização passa pela capacidade de brincar com as ideias, criar hipóte- ses improváveis, unir elementos impossíveis. Esse exercício amplia a visão criativa da vida e pode efetivamente resultar em descobertas valorosas. 3 A criatividade e a urgência em transformar estilos de pensar eexpressar Para Maslow, segundo Feist, Feist e Roberts (2015), pessoas autorrealizadas são criativas, conseguem sentir prazer mesmo em atividades triviais e são resistentes à aculturação. Isso não significa que ignoram as normas ou agem de maneira antissocial, mas apresentam autonomia, padrões próprios e não seguem o senso comum. Figura 3 – Abertura ao desconhecido Fonte: Image Flow/Shutterstock.com Para ter criatividade e autonomia é preciso estar aberto às emoções e aprender a dominar os condicionamentos. Segundo Predebon (2010), é necessário fugir das limitações impostas. A aprendizagem de conceitos, valores e regras é importante para a formação da personalidade e o bom convívio em sociedade, mas a extrema rigidez é um obstáculo ao processo criativo, quando insistimos em obter verdades definitivas, sem conciliar o que já existe com o novo. CRIATIVIDADE – 39 – EXEMPLO Uma pessoa é recebida no novo emprego. Em um primeiro momento, é possível que alguns não simpatizem com ela, pois representa o novo, o desconhecido. Com o tem- po, mudam sua opinião sobre ela e ficam amigos. É essa abertura ao novo que pos- sibilitou isso. A abertura ao pensamento criativo funciona de maneira semelhante. Christiansen (2016) afirma que a codependência pode interferir negativamente na expressão de ideias. A necessidade de sempre agradar ao outro, a baixa autoestima, o sentimento de não ser importante, a dificuldade de comunicação, o medo da crítica e da rejeição, o perfeccionismo e a negação de suas próprias necessidades e sentimentos são alguns aspectos que indicam depen- dência do outro e dificultam a expressão autônoma. Além de tomar consciência e buscar a autovalorização, o ser humano também pode contri- buir para o estímulo à expressão, criando ambientes cooperativos que incentivam as novas ideias. SAIBA MAIS! Leia o artigo “A Criatividade e a Aventura do Novo”, de José Predebon. Acesse: <http://www.predebon.com.br/textos/IM00001.html>. 4 A arte da criatividade e o estado de espontaneidade A visão sistêmica compreende o ser humano como criativo por natureza, e o mundo, como algo em constante transformação e evolução. O próprio mundo é para o indivíduo a fonte de novas ideias – influencia ao mesmo tempo em que é influenciado, como um ciclo de reciprocidade (Moreira, 2008). Segundo Moreno (1974, apud FATOR, 2010), a ação espontânea tem um caráter transforma- dor e permite ao indivíduo manter sua condição criativa. Pois, no momento em que o indivíduo se preocupa mais com o resultado do que com o processo criativo, acaba se tornando conservador e menos receptivo a mudanças e tende a repetir os resultados. Desta forma, a espontaneidade não é algo que está armazenado no indivíduo – simplesmente surge de maneira livre e não depende da vontade, mas sim, das situações que se apresentam em determinado momento. EXEMPLO Conta-se que Newton descobriu a Lei da Gravidade quando uma maçã caiu em sua cabeça. Nessa história, a espontaneidade ocorre no momento em que ele tem a ideia repentina de que, se a maçã caiu, é porque há uma força que a atraiu. A espon- taneidade é resposta a um acontecimento (Guimarães, 2011). CRIATIVIDADE – 40 – Figura 4 – A descoberta de Newton Fonte: corbac40/Shutterstock.com Segundo Ostrower (2011), a espontaneidade existe mesmo com a influência do meio social sobre a criatividade humana. O ser humano atinge sua maturidade e seleciona o que considera mais relevante na sua interação com o mundo. Ser espontâneo é estar aberto a essa interação, sem rigidez ou preconceitos. A espontaneidade é o que nos torna flexíveis e garante nossa adap- tação ao meio social e a tudo que é novo. FIQUE ATENTO! A espontaneidade não é uma energia que permanece no indivíduo. Ela surge de repente, motivada por uma situação. É o ponto de partida da criatividade e, para ser espontâneo, é preciso estar receptivo. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • aprender sobre a atitude criativa e as aberturas à criatividade; • conhecer a teoria de Maslow sobre as necessidades humanas; • identificar modos de pensar que facilitam o desenvolvimento da criatividade; • compreender o conceito de espontaneidade. CRIATIVIDADE – 41 – Referências CHRISTIANSEN, James. Codependência: quebre o ciclo e liberte-se. [E-book].Teaneck: Babelcube Inc., 2016. FATOR, Tânia. A teoria psicodramática e o desenvolvimento do papel profissional. São Cae- tano do Sul: USCS, 2010. Disponível em: <http://repositorio.uscs.edu.br/handle/123456789/131>. Acesso em 17 fev. 2017. FEIST, Jess; FEIST, Gregory e ROBERTS, Tommi-Ann. Teorias da Personalidade. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. FELDMAN, Robert S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. FERREIRA, Cristiano Vasconcellos, et. al. Projeto do Produto. Rio de janeiro: Elsevier: ABEPRO, 2011. GOULART, Iris B. Temas de Psicologia e Administração. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. GUIMARAES, Gustavo Queiroz. Uma nova resposta ao conceito de espontaneidade. Rev. bras. psicodrama [online]. 2011, v.19, n.1, p. 135-142. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0104-53932011000100011>. Acesso em: 15 mar. 2017. PREDEBON, José. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. MOREIRA, Mafalda Vaz Pinto. Criatividade organizacional: uma abordagem sistêmica e pragmá- tica. Portugal: Repositário Aberto da Universidade do Porto, 2008. Disponível em: <http://hdl.han- dle.net/10216/12180>. Acesso em: 15 mar. 2017. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 28. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. TV CULTURA DIGITAL. Mude, mas comece. Provocações, 2004. Disponível em: < https://www. youtube.com/watch?v=A2hk9jtL7WA>. Acesso em 17 mar. 2017. CRIATIVIDADE – 42 – A criatividade e o ensino-aprendizagem como forma de socialização Renata Mateus Introdução A criatividade é inerente do ser humano, mas com o passar do tempo, ela pode ser explorada ou “bloqueada”. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender os vínculos entre satisfação de aprender sobre criatividade e ensinar para a criação de algo com sentido; • conhecer os ingredientes fundamentais da criatividade. 1 O prazer de aprender e a educação criativa O ensino mecânico, presente ainda nas salas de aula, ocasiona o pouco interesse por parte dos alunos e a desmotivação dos professores, quando o processo deveria ser prazeroso. É nesse sentido que a criatividade pode atuar, quebrando paradigmas tradicionais, mudando a mentali- dade, buscando a motivação para aprendizagem. O desafio é fazer com que, em qualquer nível de aprendizado, seja ele escolar, universitário, pós ou até mesmo no próprio trabalho ou vida pessoal, o indivíduo aprenda, estude, envolva-se em uma atividade intelectual, de forma prazerosa, despertando o desejo de aprender. FIQUE ATENTO! Um conteúdo “interessante”, é aquele que proporciona um sentimento de bem-es- tar, ou seja, satisfaz a pessoa, provoca prazer ao aprender. Charlot (2009), em uma entrevista, revela que a fórmula para ensinar é simples: aprender é igual a atividade adicionada de sentido e prazer, porém resolvê-la é o problema. Segundo o autor não há o prazer de aprender, pois quando o aluno não estuda, o professor simplesmente afirma que caso o aluno persista dessa forma, não irá passar de ano. Isso só faz com que a escola se afirme como um lugar no qual apenas se estuda sobre assuntos “chatos” para poder passar de ano. – 43 – TEMA 6 Assim, ao trabalharmos com criatividade no processo de aprendizagem, estamos possibi- litando aos alunos o prazer de criar. Uma vez que a criatividade não faz parte doprocesso de ensino, passamos a ter uma conformidade e passividade com as coisas, ao invés de pensadores livremente criativos e originais. Figura 1 – Prazer em aprender Fonte: Lucky Business/Shutterstock.com EXEMPLO Os pais podem incentivar o uso de objetos recicláveis na construção de brinquedos, estimulando a imaginação e criatividade da criança. Famílias também podem e devem participar ativamente na contrução de uma personalidade criativa, incentivando a curiosidade, propondo desafios inovadores e interessantes, reforçando a auto-estima positiva, permitindo o erro, promovendo um ambiente de conforto emocional e de tolerância com o fracasso ou frustrações. Para Renzulli (apud OLIVEIRA, 2010), é necessário que haja uma integração das estruturas educacionais, para que assim consiga-se proporcionar um ambiente de criatividade na escola, que pode ser aprendida e estimulada, e para isso é necessário que haja: • um professor com propriedade de seu conteúdo e gostando do que faz e que conheça e explore com seus alunos técnicas que estimulem o desenvolvimento da criatividade; • o aluno, com capacidades e aptidões, interesses e estilos reconhecidos; • o currículo, contendo uma estrutura, conteúdo e metodologia e o apelo ao imaginário. CRIATIVIDADE – 44 – Para Oliveira (2010, p. 86) um docente criativo deve ser [...] aberto a novas experiências e mudanças, ser ousado e curioso, ter confiança em si próprio, trabalhar com idealismo e paixão, proporcionar clima criativo nas aulas, permitir ao aluno pensar, desenvolver ideias e pontos de vista e fazer escolhas, valorizar o trabalho criativo, não rechaçar os erros, mas torná-los pontos do processo de aprendizagem, consi- derar os interesses e habilidades dos alunos. Figura 2 – Educação criativa Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com Atualmente, se faz necessário uma escola aberta e um profissional que possibilite respostas criativas, que incentive a criatividade, buscando desenvolver o potencial criativo de cada um. SAIBA MAIS! Ken Robinson é uma referência na área de criatividade voltado ao processo ensino- aprendizagem. Confira um TED feito por ele sobre criatividade nas escolas. Acesse em: <https://www.youtube.com/watch?v=M2pRR_w-5Uk>. A criatividade precisa ser vista pelas escolas como uma forma de atrair novamente os alunos, proporcionando aulas prazerosas, que estimulem e desenvolvam o potencial criativo de cada um. É preciso excluir barreiras que possibilitam a manifestação criativa, fazendo com que a escola forme cidadãos criativos para um mundo complexo em mudanças. 2 Ingredientes fundamentais da criatividade: imaginação, humor, liberdade Temos que estar sempre atentos a ingredientes que somados nos ajudam a manter nossa criatividade. Conhecimento em uma determinada área, que lhe garanta um domínio, capacidade de pensamento criativo, que permite encontrar novas possibilidades e um novo olhar de mundo, e a paixão que impulsionará a fazer algo por prazer. CRIATIVIDADE – 45 – FIQUE ATENTO! Com conhecimento e imaginação, as ideias podem ser combinadas, alteradas e recombinadas. Assim, para se ver problemas conhecidos de um novo ângulo, é ne- cessária imaginação criativa. Além disso, para se ter boas ideias é necessário estar de bem, com bom humor, que nesse caso é estar em um estado de espírito que, independentemente de qualquer aflição, o indivíduo permanece bem, possibilitando continuar criando e tendo novas ideias, sem que os problemas atrapalhem o processo criativo. Para Virgolim, Fleith e Pereira (2008), precisamos trilhar caminhos que nos levem à felicidade, entre eles o prazer, a alegria e a diversão que a criatividade pode conter. Para atingir o objetivo da criatividade é necessário valorizarmos o humor, como disposição para aprender, e exercícios de liberdade e autoconfiança. O respeito à liberdade e à criatividade em concordância com o instintivo deve ser o principal recurso educativo. Esse são os ingredientes básicos de uma vida criativa. O prazer fornecerá motivação e ener- gia ao processo criativo que, para acontecer, precisa de um ambiente favorável, com liberdade, onde o prazer é a força motriz. 3 Aprender criando e criar aprendendo: a formação de valores, dogmas e preconceito Na aprendizagem, a criatividade faz com que o processo tenha significado e sucesso, pois é ele que permite que o aprendiz não veja o fracasso como algo vergonhoso. Mirshawka (2003 apud DI NIZO, 2009, p.85), afirma que “a ignorância é uma bênção, porque é o estado ideal para aprender. Se você admitir que não sabe, é mais provável que faça as perguntas que o farão aprender [...]. Quanto mais você sabe, mais percebe que não sabe. A chave é aceitar essa incerteza, mas não se deixar paralisar por ela”. Figura 3 – Aprender criando Fonte: Syda Productions/Shutterstock.com CRIATIVIDADE – 46 – Hoje, as práticas educacionais aplicadas estão seguindo o princípio de que primeiro apren- de-se para depois fazer. Assim, precisamos dar liberdade ao processo de ensino-aprendizagem, possibilitando ao aluno aprender criando e criar aprendendo. Algumas escolas já estão criando salas ambientes, nas quais os alunos desenvolvem um determinado projeto e a partir dele são aplicadas as disciplinas necessárias. EXEMPLO O aluno é convidado a participar de um projeto de desenvolvimento de um carrinho ou de aproveitamento da água da chuva. A partir desse projeto são aplicados os conceitos de Matemática (o que é necessário de cálculo), ou Português (nome do produto, desenvolvimento de um manual), arte (criação do produto), entre várias outras formas de aplicação. Conforme crescemos, vamos assumindo um poder de julgamento e de juízo, que faz com que nossa imaginação diminua e a de conhecimento aumente. Assim, até os seis anos de idade, podemos dizer que somos extremamente criativos e, quando iniciamos o processo de alfabetiza- ção e temos contato com o meio social, os reguladores passam a fazer parte do nosso dia a dia: “não pode”; “não deve”; “isso não existe”. Periscinoto (2002) retratou o comportamento humano relacionado com a imaginação e o conhecimento, em que perdemos nossa espontaneidade, que é uma das características das pes- soas criativas, passando a ter medo de determinadas ações, de ousar, pensando sempre o que outros acharão de nossas atitudes, deixando de criar. Então, a escola desempenha um papel fundamental na mudança de mentalidades, na supe- ração dos preconceitos e no combate a atitudes discriminatórias, envolvendo valores de reconhe- cimento e respeito ao outro. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), a escola permite que as crianças con- vivam com diferentes origens, níveis socioeconômicos, costumes, dogmas religiosos, que são dife- rentes do que cada criança conhece. É onde ensina-se as regras da sociedade e espaço público, que permite o conviver democrático com as diferenças, que apresentam conhecimentos sistema- tizados sobre o mundo e a pluralidade de povos, e fornece subsídios para debates e discussões. 4 A necessidade psicossocial de pessoas criativas Para Oliveira (2010), a criatividade pode ser entendida como um fenômeno sociocultural, que integra uma complexa rede de variáveis das pessoas com as da sociedade. O psicossocial está ligado a essa cultura e às relações interpessoais que o indivíduo tem, e envolve tanto aspectos psicológicos quanto os sociais. CRIATIVIDADE – 47 – FIQUE ATENTO! Para o desenvolvimento psicossocial do indivíduo é necessário trabalhar o padrão de mudança nas emoções, personalidade e relações sociais. É nesse sentido que a criatividade pode atuar, pois seres criativos precisam conexões sociais significativas, e a motivação e a autoconfiança são fatores importantes para o sucesso do indiví- duo, enquanto emoções negativas como a
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