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TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL PROF. ALINE ANTONIA ZIOLI PINTO 1º SEMESTRE/2021 Sejam bem vindos, alunos! AS MELHORES JORNADAS DA VIDA SÃO AQUELAS QUE NOS ENRIQUECEM POR DENTRO. AUTOR DESCONHECIDO 2 3 Conteúdo Programático SEÇÃO 1: Direito Penal: função ético-profissional, objeto e Estado Democrático de Direito (Teórico) CONTEÚDO: Direito Penal: função ético- profissional, objeto e Estado Democrático de Direito. Direito Penal: princípios penais limitadores. Limites de controle material de tipo incriminador. Interpretação da norma penal: imediata, mediatas. 4 Referência Bibliográficas Passos para acessar biblioteca virtual: 1º Entrar no site: https://biblioteca-virtual.com/uk; 2º Efetuar o login; Acessar o ícone: minha biblioteca e acessar o portal; Clicar no ícone pesquisar; Digitar: Teoria Jurídica do Direito Penal https://biblioteca-virtual.com/uk 5 Conceito de Direito Penal O direito penal é o segmento do Direito Público que regula o poder punitivo do Estado. Ele detém a competência de selecionar as condutas humanas que são consideradas indesejadas, possuidoras de certa gravidade e reprovação social capazes de colocar em risco a convivência em sociedade. Cabe a essa disciplina a importante tarefa de controlar a sociedade, estabelecendo as penas que serão cominadas aos agentes infratores, respeitando sempre os princípios constitucionais. 6 Bens Jurídicos Fundamentais protegidos pelo Direito Penal O Direito Penal, uma vez inserido em um Estado Democrático de Direito, destina-se a promover meios para a existência de uma convivência social pacífica e equilibrada. E o faz por meio da proteção dos bens jurídicos fundamentais ao seio social. 7 Bens Jurídicos São circunstâncias reais dadas ou finalidades necessárias para uma vida segura e livre que garanta todos os direitos humanos e civis de cada um na sociedade ou para o funcionamento de um sistema estatal que se baseia nestes objetivos. A concepção de bem jurídico remonta, primeiramente à idéia de bem existencial indispensável ao desenvolvimento social. 8 Bens Jurídicos e suas Mutações Conquanto se encontra intimamente ligado aos valores indispensáveis ao pleno desenvolvimento social, os bens jurídicos sofrem constantes mutações e tendem a acompanhar a alteração do pensamento social acerca dos valores socialmente aceitos, passando, constantemente, por uma análise de adequação social. Logo, "[...] os bens jurídicos não têm uma validade natural e infinita; preferentemente, estão submetidos às mudanças dos fundamentos jurídico- constitucionais e das relações sociais. 9 Bem Jurídico Penal e a Constituição Entende a doutrina, quer a nacional, quer a estrangeira, que o critério de dignidade penal é conferido pela Constituição. É esta que vai fixar os bens jurídicos fundamentais e determinar, explícita ou implicitamente, que sejam eles tutelados pelo Direito Penal. Assim, os valores constitucionais fundamentais vão merecer esta forma extrema de proteção 10 Critério de seleção dos bens jurídicos de acordo com cada sociedade A seleção de bens jurídicos varia de sociedade para sociedade. O critério de seleção será valorativo-cultural, de acordo com a necessidade de cada época, de cada sociedade. Existe uma zona de consenso, comum a toda e qualquer sociedade, no sentido de proteção de determinados bens, com a criação de certas figuras típicas, como é o caso do delito de homicídio, roubo etc. Contudo, existem zonas de conflito, nas quais condutas que são incriminadas em determinada sociedade já não o são em outras, a exemplo do que ocorre com a punição pelo aborto e pelo homossexualismo https://jus.com.br/tudo/roubo https://jus.com.br/tudo/aborto 11 Destarte, nas palavras de Cruz (2008, p 55) [...] considerando que o critério de dignidade penal vai inquestionavelmente ligar-se às condições histórico-sociais de uma dada coletividade, o legislador poderá, com fundamento nesse critério, eleger como dignos de tutela penal bens jurídicos que não apresentam relevância constitucional, ou que somente a apresentam por via reflexa, como é o caso dos crimes contra o patrimônio e contra os costumes. [...] a ordem dos bens tuteláveis não é idêntica à ordem dos valores constitucionais, sendo que a legitimidade da intervenção penal vai depender da circunstância de o reclamo social ser suficientemente intenso. https://jus.com.br/tudo/crimes-contra-o-patrimonio 12 E segundo entendimento de Prado (1997, p. 78-79) E segundo entendimento de Prado (1997, p. 78-79), A dignidade de proteção de um bem se contempla segundo o valor conferido ao mesmo pela cultura; a necessidade de proteção se assenta em sua suscetibilidade de ataque e a capacidade de proteção se constata em relação à própria natureza do bem respectivo. Os bens dignos ou merecedores de tutela penal são, em princípio, os de indicação constitucional específica e aqueles que se encontrem em harmonia com a noção de Estado de Direito democrático, ressalvada a liberdade seletiva do legislador quanto à necessidade. 13 O Estudo do Bem Jurídico como Fundamento do Direito Penal Uma vez inserido o bem jurídico-penal como fundamento de todo o Direito Penal democrático, é inegável a importância que o estudo teórico a seu respeito possui para a Ciência Penal, pois é nesse contexto que surge um outro princípio limitador do ius puniendi, qual seja, o princípio da exclusiva proteção dos bens jurídicos. A melhor forma de adequar o Direito Penal aos valores consagrados pelo Estado Democrático de Direito é limitar a sua incidência somente às hipóteses em que haja drástica ofensa a um bem jurídico penalmente tutelado, que deve ser reflexo dos valores mais importantes para a convivência social. https://jus.com.br/tudo/direito-penal 14 E consoante preleciona Cruz (2008, p. 45) O bem jurídico, além de definir a função do Direito Penal, marca os limites da legitimidade de sua intervenção, uma vez que, em um Estado Democrático de Direito, o Direito Penal somente pode interferir na liberdade de seus cidadãos para proteger os bens jurídicos. 15 Sistema Jurídico Penal O sistema jurídico penal é composto pelas disciplinas de: Direito Penal, de Direito Processual Penal e também pela Execução Penal, consubstanciada na Lei n. 7.210/84 (conhecida como LEP). 16 Distribuição no ordenamento jurídico Essas disciplinas são formadas por normas previstas na Constituição Federal, no Código Penal, no Código de Processo Penal, na Lei de Execução Penal e por Leis Especiais de natureza penal ou processual penal (legislação extravagante). 17 Exemplos de Leis Especiais Exemplos de Leis Especiais A Lei de Drogas (Lei n. 11.343/06), o Estatuto do Desarmamento (Lei n. 10.826/03), a Lei Maria da Penha (Lei n.11.340/06), a Lei das Organizações Criminosas (Lei n. 12.850/13), a Lei dos Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90), etc. 18 Conceito de Criminologia A criminologia, hoje reconhecida como ciência, pode ser resumida como a disciplina que se ocupa do estudo do crime, do criminoso, da vítima e das formas de controle do delito, ou seja, sua preocupação é prévia ao procedimento criminal desenvolvido pela justiça, visando entender os motivos que levam alguém a praticar um delito, as principais áreas de delinquência em determinada cidade, a reação e a influência da vítima no comportamento criminoso, e os instrumentos de que dispõe a sociedade para coibir o crime. 19 Conceito de Política Criminal A política criminal, por sua vez, embora não tenha status de ciência, é responsável pela efetivação das descobertas realizadas pela criminologia, ou seja, cabe à política criminal colocar em prática, por meio de políticas públicas, os mecanismos para controle da criminalidade de acordo com o perfil da cidade ou de regiões da cidade. 20 Direito Penal Objetivo É o próprio ordenamento jurídico penal, ou seja, o conjunto de leis aplicáveis. Ex: Código Penal. 21 Direito PenalSubjetivo Direito Penal subjetivo: É o direito que o Estado possui de exercer a tutela penal em defesa da sociedade. É o direito de punir do Estado. 22 Fontes do Direito Penal As fontes do direito são as formas por meio das quais se originam a norma jurídica. No âmbito do direito penal, tem-se que as fontes podem ser formais ou materiais. 23 Formais São responsáveis por exteriorizar o direito penal e lhe dar forma, e se dividem em Imediatas ou Diretas e Mediatas ou Indiretas. 24 Imediatas ou diretas É a lei, a qual será responsável pela criação do crime e a cominação da sanção correspondente. 25 Mediatas ou indiretas Referem-se aos costumes, doutrina e jurisprudência. Ressalte-se que há doutrinadores que afirmam que os costumes são fontes de interpretação e não do Direito. Não é possível condenar alguém, por exemplo, em razão de uma regra de costume. Mas é possível interpretar uma norma proibitiva e já existente no ordenamento com base no costume. 26 Materiais Em regra, somente a União pode produzir normas penais. Porém, não pode a União legislar arbitrariamente. O fundamento da lei deve estar em consonância com a moral vigente, com as mudanças sociais ocorridas e os anseios sociais. No entanto, excepcionalmente, lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas de Direito Penal. 27 Normas Constitucionais As normas constitucionais são importantes fontes formais. As coordenadas constitucionais representam valores, liberdades, interesses e garantias do modelo de Estado Democrático de Direito adotado pela República Federativa do Brasil que devem ser refletidos na elaboração das normas penais. A Constituição Federal que estabelece a competência privativa da União para legislar sobre o Direito Penal e que institui princípios e regras de segurança individual e coletiva. 28 Normas Infraconstitucionais As demais normas que constituem o Direito Penal são as normas infraconstitucionais e podem ser leis ordinárias (que compreendem os decretos-leis e os decretos) ou leis complementares. Sendo o Brasil um Estado Democrático de Direito por opção constitucional, as normas infraconstitucionais devem estar em consonância com as previsões da Carta Magna. 29 Estado Democrático de Direito O ordenamento jurídico encontra seu maior fundamento na Constituição Federal de 1988, que é responsável pela previsão de extenso rol de direitos e garantias fundamentais essenciais ao Estado Democrático de Direito. https://dicionariodireito.com.br/constituicao-federal https://dicionariodireito.com.br/estado-democratico-de-direito 30 Normas constitucionais de eficácia limitada O ordenamento jurídico pátrio é constituído de diversas leis esparsas, códigos processuais de matéria cível, trabalhista ou penal, medidas provisórias, decretos legislativos, etc, pois, algumas normas constitucionais não são dotadas de aplicabilidade imediata, ou seja, necessitam de lei infraconstitucional que a regulem para, só então, começarem a gerar efeitos perante a sociedade. A essas normas, dá-se o nome de normas constitucionais de eficácia limitada. https://dicionariodireito.com.br/ordenamento-juridico 31 Exemplo ao Artigo 18 da Constituição Federal A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. (grifo nosso) Dessa forma, será competente para o seu tratamento a lei complementar, ou seja, lei infraconstitucional https://dicionariodireito.com.br/lei-complementar 32 Lei Penal x Norma Penal LEI PENAL X NORMA PENAL A lei é a regra jurídica escrita, instituída pelo legislador, no cumprimento de um mandato outorgado pela comunidade de cidadãos. Enquanto a norma jurídica seria “um dispositivo que associa à verificação de determinados fatos certas consequências, no âmbito do Direito”. Evidencie-se que as normas penais são classificadas em: Preceptivas, proibitivas ou permissivas: de acordo com a indicação de conduta, proibição ou autorização. Primárias: contêm um imperativo de comando (fazer) ou de proibição (não fazer). Secundárias: preveem uma sanção para o caso de descumprimento do comando. 33 Norma completa e incompleta Ainda, a norma penal pode ser completa (fechada) ou incompleta (aberta). Vejamos tais distinções: Completa: A descrição da conduta é completa, sem que seja necessário recorrer a outras normas para interpretação. Exemplo: art. 121, CP. Incompleta: A descrição da conduta é incompleta, necessitando de complementação valorativa ou normativa. 34 Tipo Penal Aberto O complemento é valorativo, isto é, feito pelo Juiz ao analisar o caso concreto. Ex: ‘sem justa causa’, ‘documento’, ‘culposo’, etc. 35 Norma Penal em Branco O preceito normativo é genérico e depende de complementação por outra norma já existente ou futura (lei, decreto, regulamento, circular, etc.). A norma penal em branco divide-se em: Norma penal em branco própria/em sentido estrito/heterogênea: O complemento vem de fonte legislativa diversa. Exemplo: Lei de Drogas. 36 Norma penal em branco imprópria/em sentido amplo/ homogênea O complemento decorre da mesma fonte legislativa (União). Exemplo: art. 237, CP. Homovitelina: O complemento está no mesmo documento (ou no mesmo ramo). Exemplo: lei penal complementa lei penal - O Código Penal dispõe sobre quem é funcionário público (art. 312 e 327 do CP). Heterovitelina: O complemento está em documento diverso (ou em ramo diverso). Exemplo: lei civil complementa lei penal – O Código Civil enumera as hipóteses de impedimento de casamento (art. 236 do CP e art. 1.521 do CC). Norma penal em branco ao revés/às avessas/invertido/revertido: O complemento não se refere ao preceito primário, mas sim à sanção. 37 Vamos praticar! Questão 1: É possível dizer que um costume revoga uma lei? 38 Resposta: Não. Enquanto tal disposição legal não for revogada por outra lei aquela continua vigente, é a corrente majoritária 39 Questão 2 A Constituição da República de 1988 (art. 5o , XLVII) veda expressamente a existência de pena de morte (salvo em caso de guerra declarada), além de vedar as penas A )de caráter perpétuo; de trabalhos forçados; infamantes e cruéis; B )de caráter perpétuo; de trabalhos forçados; de banimento e cruéis; C )de banimento e cruéis; D)de caráter perpétuo; de trabalhos forçados; de banimento; infamantes e cruéis; E) de trabalhos forçados; infamantes e cruéis. 40 Resposta: b) CORRETA. Alíneas "b", "c", "d" e "e" (a alínea "a" está no enunciado). 41 Questão 3: Esse princípio é o núcleo do sistema penal e garante que ninguém será processado ou punido por crime que não esteja previamente definido em lei: Escolha uma: a. Princípio da intervenção mínima. b. Princípio da humanidade. c. Princípio da reserva legal. Correto d. Princípio da individualização da pena. 42 Resposta: CORRERA LETRA C Princípio da reserva legal também denominado "Estrita legalidade", sendo inadmissível sua violação. 43 Questão 4: O direito penal só deve se ocupar com ofensas realmente graves aos bens jurídicos protegidos. O princípio que melhor representa esta concepção do Direito Penal é o princípio da: A) dignidade da pessoa humana; B) fragmentariedade; C) proporcionalidade; D) irretroatividade; E)legalidade. 44 Resposta: Letra B De modo mais simplificado: O princípio da intervenção mínima diz que o Direito Penal somente deve ser utilizado em "último caso", ou seja, quando for estritamente necessário para a proteção de bens jurídicos relevantes. Sendo assim, esse princípio decorre do caráter fragmentário e subsidiário do Direito Penal. Dessa forma, por forçadesse princípio, a criminalização de condutas só deve ocorrer quando se caracterizar como meio absolutamente necessário à proteção de bens jurídicos relevantes (fragmentariedade), e desde que isso não seja possível pelos outros ramos do Direito (subsidiariedade). 45 Dúvidas? Esse é o seu momento. Vamos interagir? 46 Interpretação e Integração das Leis Penais Existem diversas modalidades de interpretação em matéria penal, quais sejam: quanto às fontes (autêntica, jurisprudencial e doutrinária), quanto aos meios (gramatical, histórica, teleológica, sistemática e progressiva) e quanto aos resultados (declarativa, extensiva e restritiva). Ainda, tem-se a forma integrativa do ordenamento jurídico, denominada analogia. 47 Modalidades de interpretação da lei penal a) Quanto às fontes: Autêntica: A interpretação é feita pelo próprio Poder Legislativo, o qual emanou a lei. Exemplo: Art. 327 do CP. Jurisprudencial: É a interpretação feita pelos Tribunais a partir da reiteração das decisões judiciais relativas a determinada norma. Doutrinária: É a interpretação feita por doutrinadores a partir do estudo técnico de determinada norma. 48 Quanto aos meios: Gramatical: É a interpretação feita de acordo com o sentido literal da norma, isto é, baseada no significado das palavras que a compõem. Histórica: A interpretação é feita tendo como base a origem da lei. Tal modalidade é importante para se compreender os fundamentos e a razão da norma e dos institutos nela consagrados. Teleológica: Interpreta-se a norma baseando-se na finalidade por ela proposta. Sistemática: Interpreta-se a lei levando-se em consideração o ordenamento jurídico como um todo. Progressiva: Interpreta-se a norma levando-se em consideração todos os avanços sociais, tecnológicos, medicinais, etc. 49 Quanto aos resultados Declarativa: Essa modalidade expressa o sentido literal da norma, isto é, o texto contém exatamente aquilo que o legislador quis dizer. Extensiva: Ocorre quando a lei diz menos do que o legislador pretendeu, razão pela qual é necessário ampliar o alcance do texto legal. 50 Os princípios no Direito Penal Os princípios são importantes ferramentas de interpretação da lei e também exercem papel de destaque na elaboração das normas, pois representam as conquistas políticas, históricas e sociais do Estado brasileiro. Estão previstos em sua maioria na própria Constituição e, muitas vezes, decorrem de Convenções e Tratados Internacionais de Direitos Humanos 51 Princípios basilares do Direito Penal Princípios basilares do Direito Penal: 1) Princípio da reserva legal ou da legalidade: esse princípio é o núcleo de qualquer sistema penal que tenha como fim a racionalidade e a justiça, ou seja, que aspire à segurança jurídica. Encontra-se previsto no art. 1°, do CP, e no art 5°, inciso XXXIX, da CF, que assim prevê: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. No latim “nullum crimen nulla poena sine lege”. 2) Princípio da anterioridade da lei penal: não há crime nem pena sem lei prévia (art. 2° do CP). os crimes e as penas devem estar previstos em lei, ou seja, formalizados por escrito. O costume por si só não pode ensejar punição, pois não cria crimes. 3) Princípio da taxatividade: o crime deve ser definido de forma clara e precisa, pois a norma penal deve ser estrita e certa. A incriminação não pode ser genérica, vaga, imprecisa ou indeterminada, sob pena de afronta ao princípio da reserva legal. 52 Princípio da Intervenção Mínima O Direito Penal, enquanto sistema formal de controle social do delito, deve ser reservado para os casos de grave ofensa ou ataque aos bens jurídicos considerados mais relevantes. Ou seja, o Direito Penal deve ser a última medida adotada pelo Estado para coibir a prática de atos delituosos e proteger os bens jurídicos (ultima ratio). Apenas na impossibilidade de os demais ramos do Direito protegerem o bem é que o Direito Penal deverá ser acionado. Por sua vez, as perturbações leves da ordem jurídica devem ser objeto de outros ramos do direito, pois a pena é o meio mais extremo de intervenção na liberdade do indivíduo. Portanto, decorre deste princípio a subsidiariedade e fragmentariedade do Direito Penal. 53 Princípio da lesividade ou ofensividade Segundo esse princípio, só poderá ser objeto de punição o comportamento que no mínimo coloque em perigo bem jurídico relevante tutelado. Condutas internas ou individuais, embora sejam pecaminosas, imorais, escandalosas ou diferentes do senso comum, estão destituídas de lesividade e, portanto, não estão aptas a legitimar a intervenção penal. 54 Princípio da humanidade Decorre do mesmo processo histórico que originou os princípios da legalidade e da intervenção mínima, e tem como fim a racionalidade e a proporcionalidade da pena aplicada, devendo ser observado tanto na fase de cominação e aplicação da pena quanto na fase de execução. Dispõe a Constituição Federal, em seu art. 5°, inciso XLVII, que não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, inciso XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis. Como se vê, o princípio da humanidade assegura aos presos o respeito à dignidade, 55 Princípio da Culpabilidade De modo simples, pode-se dizer que o princípio da culpabilidade impõe uma análise subjetiva da responsabilidade penal, isto é, se o resultado advém de dolo ou culpa. Tal princípio consiste numa vedação à responsabilidade penal objetiva. 56 Princípio da Intranscendência A pena não pode passar da pessoa do acusado. A responsabilidade penal é sempre pessoal. (art. 5º, inciso XLV, CF). 57 Princípio da individualização da Pena: É a individualização judicial, a obrigatoriedade de que a pena aplicada considere a pessoa individualmente e concretamente, levando em consideração o comportamento, as experiências sociais e as oportunidades do acusado ou condenado, quando em fase de cumprimento da pena. Portanto, a imposição da pena deve levar em consideração critérios subjetivos, visto que os indivíduos praticam crimes imbuídos de sentimentos, condições e características diversas, que devem ser ponderadas na dosimetria da pena. 58 Conceito de Crime Os crimes ou delitos possuem um conceito formal, material e analítico. A concepção formal define como crime toda ação ou omissão proibida por lei, sob ameaça de pena. Já a concepção material conceitua o crime como toda ação ou omissão que afronta os valores ou interesses do corpo social, exigindo sua proibição com ameaça de pena. Ainda, é possível dizer, pelo conceito analítico, que o crime é o fato típico, ilícito e culpável. Por sua vez, a contravenção, também chamada de crime-anão ou delito liliputiano, pode ser conceituada como uma violação de menor gravidade à norma penal, definida a critério do legislador. 59 Principais diferenças entre os crimes e as contravenções: CRIMES OU DELITOS – Estão previstos no Código Penal ou em leis esparsas: – Maior gravidade da conduta praticada. – Admitem pena de reclusão e detenção. – Admitem todos os tipos de ação penal. – Admitem a tentativa. – Limite de cumprimento de pena: 30 anos. – Regimes de cumprimento de pena: fechado, semiaberto e aberto. – O período de prova no sursis varia de 2 a 4 anos. – A competência para processo e julgamento será da Justiça Estadual ou da Justiça Federal. 60 CONTRAVENÇÕES PENAIS Estão previstas na Lei de Contravenções Penais (Decreto-lei nº 3.688/1941) – Baixa Gravidade da conduta praticada – Admitem apenas a prisão simples, que em termos mais claros significa ausência de rigor penitenciário – Admitem apenas a Ação Penal Pública Incondicionada – Embora admitam a tentativa, não será punível – Limite de cumprimento de pena: 5 anos – Regimes de cumprimento de pena: semiaberto e aberto – O período de prova no sursis varia de 1a 3 anos. – A competência para processo e julgamento será da Justiça Estadual. 61 Lei Excepcional e Lei Temporária A lei excepcional é feita para vigorar em períodos anormais, como época de guerra, calamidade pública, epidemia etc. Sua duração se dará enquanto persistirem as condições que ensejaram sua criação. A lei temporária, por sua vez, é feita para vigorar durante um período de tempo prefixado pelo legislador. Na própria lei, está prevista a data de sua cessação, ou seja, desde sua entrada em vigor já se sabe a data de sua revogação. São exemplos de leis temporárias a Lei Seca do período eleitoral e recentemente a Lei Geral da Copa (Lei 12.663/2012 – art. 36). Assim, tratando-se de lei excepcional ou temporária, não há se falar em retroatividade da lei penal, ainda que benéfica. Caso fosse possível, restaria inviabilizada as razões pelas quais editadas tais leis. 62 Infração Penal A infração penal formal é aquilo que está rotulado em lei, a qual devemos cumprir para não sofrer a pena. A infração penal material é a atitude do ser humano provocador de notável e insuportável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pela lei, como a vida, o veículo, o aparelho celular, a locomoção, a honra, etc. A infração penal é regida pelo sistema binário ou dualista. Evidencie-se que infração penal, no Brasil, está dividida em crime/delito e contravenção penal, dependendo do valor do bem jurídico protegido. Exemplificando, se a pessoa desobedece a lei e ceifa uma vida humana, é um crime; se burla a Lei do Silêncio, é contravenção penal. Os crimes de menor potencial ofensivo são julgados pelos juizados especiais criminais. 63 Sujeito ativo do crime Entende-se por sujeito ativo o autor da infração penal. Com efeito, pode ser sujeito ativo pessoa física e capaz (com idade igual ou superior a 18 anos). 64 Sujeito Passivo Trata-se da pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal. Podem ser sujeito passivo: pessoa física, pessoa jurídica e entes sem personalidade jurídica (ex.: família, coletividade – nestes casos, tem-se o chamado crime vago). Sujeito passivo formal/ constante: Estado Sujeito passivo material/eventual: É o titular do bem jurídico atingido. Sujeito passivo próprio: O tipo penal exige uma qualidade essencial do sujeito passivo. Ex: 123 do CP. Crime bipróprio: Exige uma qualidade essencial tanto da vítima como do autor. Ex: 123 do CP. Dupla subjetividade passiva: São crimes em que obrigatoriamente há mais de um sujeito passivo 65 Vigência e Revogação da lei Penal No que se relaciona com a distinção entre vigência e validade da lei cabe sublinhar o seguinte: toda lei penal vigora formalmente até que seja revogada por outra ou até que alcance o fim do seu prazo de vigência, quando se trata de lei excepcional ou temporária (CP, art. 3º). Em outras palavras, a lei penal vigora enquanto não for revogada (formalmente). Revogação da lei significa, portanto, cessação (finalização) da sua vigência formal. A revogação acontece por meio de outra lei e compreende tanto a ab-rogação (revogação total) como a derrogação (revogação parcial). O costume não revoga nem derroga a lei. O desuso tampouco. 66 Importante! Não se pode, entretanto, confundir a vigência (formal) de uma lei com sua validade (esta última consiste na sua compatibilidade com a Constituição e com o Direito internacional). Uma lei para entrar em vigor (para ter vigência) basta ser aprovada pelo Parlamento, sancionada e publicada no Diário Oficial. Uma vez publicada e passado o período de vacância, caso exista, inicia sua vigência. Não havendo nenhuma vacância (vacatio) a ser observada, a lei começa a ter vigência de forma imediata (assim que publicada). Somente pode ser válida a lei (vigente) que conta com compatibilidade vertical com a Constituição (ou seja: a lei que atende às exigências formais e materiais decorrentes da Magna Carta) bem como com o Direito internacional (que goza de status supra-legal – cf. 67 Escolas Penais Elas tentaram criar um conjunto de premissas que formam, cada uma, peculiaridades próprias, concepções sobre o fenômeno do crime, fundamentos e finalidades do sistema penal. *Escola Clássica; *Escola Positivista; * Terceira Via do Direito Penal; * Escola Técnico- Jurídica; 68 Vamos praticar! Questão 1: Assinale a alternativa correta a respeito dos princípios do direito penal, conforme previsto na Constituição Federal de 1988. A )A prática do racismo constitui crime afiançável. B )Admite-se no direito brasileiro, excepcionalmente, juízo ou tribunal de exceção. C)A lei penal jamais retroagirá, nem mesmo para beneficiar o réu. D)Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. E )São cabíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. 69 Resposta: d) Certa - Art. 5º, LVII. - Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória 70 Questão 2: A respeito dos princípios e fontes do direito penal, julgue o item subseqüente. Em matéria penal, o costume contra legem não possui eficácia jurídica, mesmo que haja descompasso entre a lei penal e a realidade histórico-cultural. Certo ( ) Errado ( ) 71 Resposta: Costume não revoga lei. Uma lei só pode ser revogada por outra lei. LINDB, Art. 2 Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. Contrariamente à lei; costume que está em desacordo com a lei ou se opõe a esta ... 72 Questão 3: Analise o conceito abaixo e, depois, assinale a alternativa que corresponde ao Princípio correspondente: “Devem ser tidas como atípicas as ações ou omissões que afetam muito infimamente a um bem jurídico penal. A irrelevante lesão do bem jurídico protegido não justifica a imposição de uma pena, devendo-se excluir a tipicidade em caso de danos de pouca importância.” A )Princípio da Culpabilidade. B )Princípio da Ofensividade. C )Princípio da Intervenção Mínima. D )Princípio da Insignificância. 73 Resposta: Letra D –Princípio da Insignificância O Direito Penal não deve se preocupar com condutas incapazes de lesar o bem jurídico. Entende-se que uma conduta que produza uma mínima ofensa ao bem jurídico tutelado não pode ser considerada como crime. Ademais, por não lesionar de maneira eficaz o sentimento de paz social, gera a atipicidade material do ato. 74 O que aprendemos nessa aula? Conceito de Direito Penal: Segmento do Direito Público que regula o poder punitivo do Estado. Bens jurídicos: No direito penal, refere-se a valores específicos os quais a sociedade elegeu como de fundamental importância. Devido a essa importância, os bens jurídicos servem de base material para a tipificação de tipos penais. Exemplos: direito à vida, à liberdade, à honra, à propriedade, etc. 75 Recapitulando: Sistema jurídico ou legal é o conjunto de normas jurídicas interdependentes, reunidas segundo um princípio unificador. Engloba o Direito Penal, Direito Processual Penal e Execução Penal. Conceito de Criminologia: É uma “ciência empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da vítima e o controle social das condutas criminosas” 76 Recapitulando: Política criminal é o conjunto sistemático de princípios e regras através dos quais o Estado promove a luta de prevenção e repressão das infrações penais. Fontes do Direito Penal: As fontes do Direito Penal são compostas por dois grandes gêneros, quais sejam, fonte material e fonte formal. De modo resumido, enquanto a primeira caracteriza de onde vem o Direito Penal, a segunda demonstra como se exterioriza o mesmo; Fonte material: É a fonte de produção da norma, o órgão encarregado de criar o Direito Penal. No Brasil, a Constituição Federal incumbiu essa função a União, quede acordo com o artigo 22 da Carta Magna ; Fonte Formal: fonte formal é o instrumento de exteriorização do direito penal, é o modo como as regras são reveladas ; http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639039/artigo-22-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 77 Recapitulando: Fontes formais imediatas: leis Fontes formais mediatas: doutrina, costumes, jurisprudências; Classificação das normas: Normas penais permissivas são as que afastam a ilicitude ou antijuridicidade da conduta do agente (arts. 23, 24 e 25, CP) ou eliminam a culpabilidade, isentando o agente de pena (arts. 26, caput, e 28, § 10, CP). Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, ... Normas penais proibitivas definem as infrações penais proibindo a prática de condutas (crimes comissivos) ou impondo a prática de condutas (crimes omissivos), sob a ameaça expressa e específica de uma pena. 78 Recapitulando: Norma completa: conduta perpetuada pelo indivíduo se encontra prevista/descrita junto a norma penal. Exemplo: Artigo 121 do Código Penal. Norma incompleta: mesmo havendo descrição da conduta proibida, deve- se ter, necessariamente, algum complemento vindo de outra norma, para que, assim, possa-se entender, efetivamente, o limite da proibição. Artigo 28 da Lei 11.343/2006 – Lei de Drogas (Usuário) ( em branco heterogenea) A definição do que consiste a droga referenciada pelo artigo supracitado, é regulamentado pela Portaria n. 344/98, expedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), vinculada ao Ministério da Saúde. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10625629/artigo-121-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868007/artigo-28-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06 http://www.anvisa.gov.br/hotsite/talidomida/legis/Portaria_344_98.pdf 79 Recapitulando: Princípios do Direito Penal: Da reserva legal, da anterioridade da lei penal, da taxatividade, da intervenção mínima, da lesividade, humanidade, da culpabilidade, da intranscendência, da individualização da pena. Crimes e Contravenções; Lei excepcional e Lei temporária; Sujeitos do crime: ativo e passivo; Vigência e Revogação da lei. Escolas Penais.
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