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Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA Artralgias ARTRITE REUMATOIDE INTRODUÇÃ O A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória autoimune sistêmica crônica cujo principal alvo é a sinóvia (ou membrana sinovial), com consequente inflamação e proliferação de sta, além de erosão óssea justa-articular e destruição da cartilagem. Tais alterações são responsáveis pelas deformidades articulares IRREVERSÍVEIS encontradas na doença de longo prazo e, pela sua característica sistêmica, pode afetar outros órgãos. EPIDEMIOL OGIA A artrite reumatoide é a mais comum das artropatias inflamatórias crônicas: afeta cerca de 1% da população mundial, sendo mais predominante em mulheres e na faixa etária dos 30 aos 50 anos. Sua incidência aumenta até a quinta década de vida, a partir da qual se estabiliza. Alguns grupos étnicos e geográficos podem ser mais ou menos afetados pela AR. Foi identificado em estudos de coorte que algumas populações rurais da Nigéria não possuem nenhum caso identificado de AR, enquanto a prevalência em certas tribos norte-americadas chegaram a 5%. O fator hormonal tem sido também associado ao desenvolvimento de AR. Como já mencionamos, a prevalência entre mulheres é de duas a três vezes maior do que em homens. Alguns estudos realizados na América Latina chegaram a identificar uma razão entre a prevalência em mulheres e em homens de 5:1 a 6:1. Além disso, o uso de anticoncepcional parece conferir um fator protetor contra a doença. ETIOL OGIA A AR é caracterizada como uma resposta imune sistêmica contra antígenos ainda não elucidados. Apresenta etiologia multifatorial: a predisposição genética é importante e pode representar 60% do risco de desenvolver a doença, mas o caráter ambiental também possui um papel importante . A associação de certos alelos HLA, em especial o HLA-DR4, com maior risco de AR e de doença mais grave já foi identificada, sendo explicada por uma sequência de aminoácidos em uma região hipervariável da cadeia DRB1. A cadeia HLA-DR fica na superfície das células apresentadoras de antígeno e permitem aos linfócitos T reconhecerem o antígeno apresentado no DR. A sequência de aminoácidos associada à AR se denomina epítopo compartilhado ou alelo de risco. Indivíduos com duas cópias do epítopo compartilhado apresentam doença mais grave e com mais manifestações extra-articulares, especialmente aqueles com HLA-DR4. O epítopo compartilhado se liga de forma mais intensa às proteínas nas quais a arginina foi convertida em citrulina. Outra possível explicação para a associação entre o epítopo compartilhado e a AR é o mimetismo molecular entre o epítopo compartilhado e proteínas microbianas, o aumento do Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA envelhecimento de linfócitos T induzido por moléculas de HLs contendo epítopo compartilhado e uma potencial sinalização pró-inflamatória. Existe ainda o componente hormonal, que confere um risco maior de desenvolvimento da AR em mulheres, tendo associação com as pílulas anticoncepcionais. Dentre outros fatores ambientais, temos o tabagismo e substâncias irritativas para o tecido pulmonar – resultando na alteração da citrulinação de proteínas da mucosa, a exposição a alguns vírus e patógenos: Epstein-barr, parvovírus B-19, M. tuberculosis, E. coli e P. mirabilis. O contato com esses patógenos pode induzir a formação de complexos imunes, que desencadeiam a produção do fator reumatoide – um anticorpo de alta afinidade com a porção Fc da imunoglobulina. Além disso, hoje reconhece-se o papel da microbiota intestinal em induzir auto-imunidade, bem como o papel de eventos estressantes no desenvolvimento da doença: o eixo hipotálamo- hipófise-adrenal possui associação com a produção de citocinas, interferindo diretamente na resposta imune. O SNC parece estar diretamente envolvido na regulação imunológica e na homeostase. FISIOPATOL OGIA O desequilíbrio entre as citocinas pró- -inflamatórias e as anti- inflamatórias desempenham um papel importante na doença: interleucinas e fatores de crescimento promovem a diferenciação de células Th17, suprimindo a diferenciação de células T reguladoras. Isso promove um status pró-inflamatório que contribui para a manutenção da autoimunidade e destruição articular. O alvo-primário da doença é a membrana sinovial, formada por tecido conjuntivo frouxo e camadas de células internas. Esse ataque às células sinoviais as torna mais espessas por proliferação celular de sinoviócitos e pela invasão de células do sistema linfo- hematopoiético. Há ainda hiperplasia e proliferação vascular, neoangiogênese e infiltrado inflamatório intenso. Ainda na região da membrana sinovial, forma-se um tecido granulomatoso com células gigantes, fibroblastos e macrófagos denominado pannus. Esse tecido pode invadir e induzir degradação do tecido conjuntivo, perda de condrócitos e erosões ósseas, por meio da estimualação da sobrevida de osteoclastos sobre a matriz óssea. Há abundância de células TCD4+ nos folículos linfoides sinoviais, enquanto TCD8+ são mais numerosos nos neovasos. Há ainda menos células B nas camadas sinoviais profundas. Essas células, em sua maioria, estão ativadas expressando o MHC II e receptores de TNF-alfa, bem como secretando citocinas pró-inflamatórias. Estas, especialmente o TNF-alfa (que, aliás, inibe as células T regulatórias) e as IL- -1-beta e IL-6, são as principais responsáveis pela inflamação crônica. O líquido sinovial tem aumento de volume e celularidade, com abundância de polimorfonucleares raramente encontradas no tecido sinovial normal, bem como células T, macrófagos, células dendríticas e células B. Células do sistema imune inato também exercem papel na inflamação. Macrófagos, mastócitos e células NK são encontradas na membrana sinovial; enquanto neutrófilos são encontrados principalmente no fluido sinovial. Macrófagos são os efetores principais da sinovite. Eles liberam citocinas, intermediários reativos de oxigênio e nitrogênio, produzem enzimas que degradam a matriz celular, além de fazerem fagocitose e apresentação de antígenos. São ativados por receptores toll-like e citocinas. Já os neutrófilos contribuem para a sinovite por meio da síntese de prostaglandinas, proteases, Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA e reativos intermediários de oxigênio. Mastócitos – ativados pelos receptores de toll-like – que produzem altos níveis de aminas vasoativas, citocinas, quimiocinas e proteases também exercem papel. QUADRO CL ÍNICO Quadro Clínico O quadro clínico costuma ser insidioso e progressivo com manifestações articulares e extra-articulares. Pela característica sistêmica da doença também pode haver sintomas constitucionais como febre, astenia e perda de peso. Com frequência há sinais flogísticos nas articulações : Dor, edema, rubor e alteração da temperatura. Os sintomas são mais intensos pela manhã logo ao acordar e após longos períodos de inatividade As articulações mais frequentemente afetadas são as sinoviais periféricas, como metacarpo e metatarsofalangianas, tornozelos e punhos. No entanto, também pode haver comprometimento de joelhos, ombros, cotovelos e quadris. Articulações como a temporomandibular , as articulações sinoviais da coluna e a laringe são ocasionalmente afetadas. MANIFESTAÇÕES ARTICUL ARES As manifestações articulares da artrite reumatoide podem ser divididas em: manifestações reversíveis: relacionadas à sinovite inflamatória em sua fase inicial; danos estruturais irreversíveis: deformidades causadas pela sinovite persistente, destruição óssea e cartilaginosa, imobilização e alterações musculares, tendíneas e ligamentares. Sinovite A característica básica da manifestação articular da artrite reumatoide é a inflamação da sinóvia (sinovite), podendo acometer qualquer uma das articulações diartrodiais do corpo. A queixa clínica é de dor, edema e limitaçãodos movimentos das articulações acometidas. Ao exame físico, observa-se presença de dor e edema das articulações e, eventualmente, sinais de derrame intra- articular. Articulações profundas, como quadris e ombros, podem não mostrar sinais evidentes de inflamação ao exame. São características da artrite na artrite reumatoide: acometimento poliarticular: geralmente mais de 4 articulações estão envolvidas. No entanto, a doença pode ser oligo ou até monoarticular; artrite em mãos: o acometimento de punhos, metacarpofalângicas (MCF) e interfalângicas proximais (IFP) é frequente, desde o início do quadro. O acometimento das interfalângicas distais (IFD) é raro, o que é útil para diferenciar a AR de outras condições, c omo a osteoartrose e a artrite psoriásica; Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA artrite simétrica: acometimento simétrico das articulações dos dois lados do corpo é a regra, embora nos casos das MCF e metatarsofalângicas (MTF), a simetria não necessite ser completa; artrite cumulativa ou aditiva: a sinovite costuma ter padrão cumulativo (acometer progressivamente novas articulações, sem deixar de inflamar as anteriormente afetadas); rigidez matinal: a rigidez matinal prolongada, caracterizada por enrijecimento e sensação de edema, percebida sobretudo pela manhã, é um aspecto quase universal da inflamação sinovial. Diferente da breve rigidez observada na osteoartrose (5 a 10 minutos), no caso das doenças inflamatórias, a rigidez dura mais de 1 hora. Este fenômeno relaciona-se à imobilização que ocorre durante o sono ou repouso e não à hora do dia. A duração tende a se correlacionar com o grau da inflamação, sendo um parâmetro que deve ser documentado para acompanhar a evolução da doença. Manifestações em Articulações Específicas Mãos :Mãos e punhos são acometidos em quase todos os pacientes com artrite reumatoide . A sinovite habitualmente envolve os punhos, MCF e IFP. As características clínicas desse acometimento são alargamento e edema das articulações afetadas e, posteriormente, atrofia dos músculos interósseos, achados que configuram a chamada “mão reumatoide”. Deformidades podem se estabelecer nas fases mais avançadas, sendo as mais típicas, mas não patognomônicas, o desvio ulnar das MCF e radial dos punhos, o dedo em pescoço de cisne (hiperextensão da IFP e flexão da IFD) e o dedo em boutonniere ou casa de botão (flexão da IFP e hiperextensão da IFD). Outra manifestação decorrente da artrite em mãos são as compressões de nervos periféricos em decorrência da sinovite dos tendões do punho, como a síndrome do túnel do carpo (compressão do nervo mediano) e síndrome do canal de Guyon (compressão do nervo ulnar). Tenossinovites estenosantes ocasionando dedo em gatilho e rupturas tendíneas também podem ser observadas. Ombros:Sinais inflamatórios típicos não são facilmente detectáveis ao exame físico do ombro. Habitualmente, o achado objetivo é a perda de mobilidade pela restrição por dor, podendo evoluir para a síndrome do “ombro congelado” (capsulite adesiva). Cotovelos: Ao contrário dos ombros, os sinais de inflamação e derrame articular são facilmente percebidos ao exame físico do cotovelo. Precocemente, pode have r bloqueios à extensão ou flexão do cotovelo, bem como à prono-supinação, que podem evoluir para limitação permanente. Neuropatias compressivas (ulnar) também são observadas. Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA Coluna cervical : O envolvimento da coluna cervical é comum (15 a 90% dos casos), mas a coluna torácica, lombar e sacroilíacas são geralmente poupadas. A manifestação mais precoce é a cervicalgia, com rigidez ao exame físico. Pode ocorrer instabilidade C1-C2 por tenossinovite do ligamento transverso de C1, levando, em graus extremos, à subluxação atlantoaxial, com mielopatia cervical. Os sintomas dolorosos e o acometimento neurológico não estão necessariamente associados. Quadris: O envolvimento dos quadris na artrite reumatoide é relativamente comum, embora, nas fases iniciais, a única alteração ao exame seja a redução da amplitude de movimento das coxofemorais. Sinais inflamatórios não são habitualmente percebidos, pela profundidade da articulação. As queixas dos pacientes incluem dor e limitação para movimentos como calçar sapatos. Com a evolução da doença e destruição cartilaginosa, pode haver bloqueio completo dos quadris e limitação à deambulação. Joelhos:Os joelhos são frequentemente acometidos e sinais de edema e derrame são facilmente detectáveis. A herniação posterior da cápsula pode ocasionar um cisto poplíteo, ou cisto de Baker, que pode eventualmente romper-se, produzindo um quadro semelhante à trombose venosa profunda. História clínica, exame físico cuidadoso e exames complementares podem ajudar no diagnóstico diferencial. Pés e tornozelos: As manifestações em pés e tornozelos são frequentes e geralmente bastante incapacitantes, uma vez que são estruturas com a função de suportar peso. A artrite uacomete mais as articulações MTF, talonaviculares e tornozelos. Em muitos pacientes, as MTF e interfalângicas dos artelhos parecem ser as primeiras articulações acometidas, ao menos radiologicamente. Além de deformidades dos dedos, desvios e subluxação das cabeças das MTF em direção à região plantar, a inflamação ocasiona modificação no sistema natural de transmissão de força entre as articulações, causando distúrbios da marcha. Outra alteração encontrada é a compressão do nervo tibial posterior, configurando a síndrome do túnel do tarso. MANIFESTAÇÕES EXTRA -ARTICUL ARES Embora as manifestações articulares sejam as mais características, a artrite reumatoide pode ocasionar acometimento específico em outros órgãos e sistemas. As manifestações extra-articulares são mais frequentes em pacientes com doença grave e poliarticular, FR positivo e com nódulos reumatoides. Há também uma possível predisposição genética (HLA-DRB1*0401). Manifestações Cutâneas Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA Nódulos reumatoides: presentes em cerca de 30% dos pacientes com artrite reumatoide (95% são FR positivo), os nódulos reumatoides são nodulações subcutâneas de tamanhos variados (mm a cm). São mais frequentemente observados em zonas de atrito, nas faces extensoras do antebraço, tendão do calcâneo, ísquio, metatarsofalângicas e superfícies flexoras dos dedos. Já foram descritos em vísceras. Guardam relação com a atividade da doença, tendendo a desaparecer com a remissão do quadro articular. Podem, no entanto, persistir mesmo após melhora dos demais sintomas. Outras manifestações cutâneas: púrpura palpável (possivelmente por vasculite leucocitoclástica), úlceras isquêmicas e equimoses (por plaquetopenia pela doença ou associada ao uso de drogas para tratamento) são menos frequentes. Manifestações Oculares: As mais frequentes são ceratoconjuntivite seca (associada à síndrome de Sjögren, uma superposição comum com a artrite reumatoide), episclerite (de curso geralmente benigno) e esclerite (de evolução mais grave, podendo levar à erosão da esclera em direção à coroide, causando escleromalácia perfurante). Manifestações Respiratórias: A mortalidade por doenças respiratórias é 2 vezes maior na população com AR do que na população em geral. Embora estatísticas de necrópsias apontem para um acometimento intersticial pulmonar na maioria dos pacientes, as exteriorizações clínicas são menos frequentes, sugerindo que muitos casos sejam assintomáticos. Os quadros pulmonares podem ser decorrentes da própria artrite reumatoide ou d a terapia utilizada (metotrexato, sais de ouro e penicilamina) que causam doença intersticial semelhante à artrite reumatoide. As manifestações mais características incluem: fibrose intersticial: predomina em bases; nódulos pulmonares: podem ser solitários ou múltiplos.A presença de nodulose pulmonar em pacientes com pneumoconiose (mineradores de carvão) recebeu a denominação de síndrome de Caplan; derrame pleural: o líquido pleural nestes casos tem baixos níveis de glicose e complemento, altos níveis de desidrogenase lática e contagem leucocitária inferior a 5.000/mm3, com predomínio de linfócitos. Em estudos de necrópsias, alterações pleurais podem ser observadas em até 50% dos pacientes. bronquiolite obliterante: manifestação rara. Manifestações Cardíacas:Efusão pericárdica assintomática ocorre em até 50% dos casos, mas pericardite sintomática é rara, estando relacionada a episódios de atividade da doença. Pericardite constritiva é ainda menos frequente. Acometimento da aorta, com aortite envolvendo segmentos da aorta, aneurismas e insuficiência aórtica por dilatação do anel valvar são descritos. Outras manifestações raras incluem lesões similares a nódulos reumatoides no miocárdio e folhetos valvares, disfunção valvular, fenômenos embólicos, defeitos de condução e miocardiopatia. Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA Manifestações Gastrintestinais: As manifestações relacionadas diretamente à artrite reumatoide são xerostomia (associada à síndrome de Sjögren) e complicações vasculares intestinais por vasculite. No entanto, diversos sintomas dispépticos, sobretudo gastrite e úlcera péptica, são eventos frequentes e de alta morbimortalidade, estando associados principalmente à terapia com AINH e esteroides. Manifestações Hematológicas: Anemia hipocrômica e microcítica com ferritina sérica reduzida e saturação da transferrina normal ou baixa é achado frequente (até 70% dos pacientes). Apesar de sua fisiopatogenia ser ainda incerta, é considerada como uma variante da anemia da doença crônica. Trombocitose é observada frequentemente, sendo um indicativo de processo inflamatório crônico. Trombocitopenia em geral decorre de reações adversas à terapia medicamentosa. Linfadenopatia local ou generalizada e esplenomegalia são manifestações vistas em até 10% dos casos. Deve-se estar atento para a ocorrência de linfomas. Manifestações Neurológicas: Manifestações neurológicas são, em geral, subdiagnosticadas na artrite reumatoide. As duas principais situações são a mielopatia cervical decorrente de instabilidade cervical e as neuropatias compressivas periféricas (túnel do carpo, canal de Guyon, túnel do tarso). A síndrome da mononeurite múltipla é caracterizada por início abrupto de uma neuropatia periférica persistente, não modificada por mudança na posição articular ou redução do processo inflamatório sinovial. Frequentemente é concomitante à vasculite reumatoide. DIAGNOSTICO O diagnóstico da AR é feito por meio da associação de dados clínicos, laboratoriais e radiográfico . Exames Laboratoriais As alterações laboratoriais na AR carecem de especificidade sendo necessário um conjunto de achados clínico laboratoriais e radiológicos que determinem o diagnóstico. Por se tratar de uma doença inflamatória crônica, as provas inflamatórias (PCR e VHS) estão habitualmente elevadas e o hemograma pode mostrar anemia de doença crônica e plaquetose. Caso se proceda a artrocentese diagnóstica, o liquido sinovial será inflamatório e com aumento de polimorfonucleares. O fator reumatoide não é específico de AR e pode ser encontrado em indivíduos sadios ou outras doenças como crioglobulinemia e Sjogren, possui sensibilidade de 65 a 73% e espe cificidade de 80%. Já o anti CCP (antipeptídeo cíclico citrulinado) possui sensibilidade semelhante ao do FR, mas com especificidade acima de 90% (muito útil nos casos de dúvida diagnóstica em que FR é negativo). Ambos se correlacionam com doença mais erosiva e de pior prognóstico. Não são úteis para monitoramento da doença. As sorologias virais devem ser solicitadas, pois constituem um importante diagnóstico diferencial, especialmente nos quadros com duração menor que seis semanas. Métodos de Imagem Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA A radiografia convencional de mãos e punhos é o método preferencial de avaliação de dano estrutural na AR, pela sua disponibilidade e baixo custo. Evidencia-se as seguintes alterações: • Osteopenia periarticular: achado mais precoce. • Aumento de partes moles: também é um achado precoce e decorrente de inflamação periarticular. • Diminuição do espaço articular simétrica: destruição progressiva da cartilagem articular, achado em casos mais avançados. • Erosões ósseas: casos mais avançados e são marginais. • Desvio ulnar e subluxações: achados muito tardios. Os critérios do ACR∕EULAR 2010 são classificatórios, ou seja, embora auxilie no diagnóstico na prática clínica, não devem ser utilizados obrigatória e exclusivamente para este fim. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIA IS Osteoartrite Primária Versus Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA A osteoartrite (OA) primária pode ser diferenciada da AR pelos sintomas e padrão de acometimento. Na OA o ritmo de dor é mecânico com rigidez matinal fugaz e caráter assimétrico, nas mãos é comum o acometimento de IFD e poupa as metacarpofalangeanas e punho. Outra articulação muito acometida é a primeira carpo-metacarpiana chamada de rizartrose. Ao exame físico, observam-se nódulos em IFD e IFP (nódulos de Herberden e Bouchard, respectivamente). Os achados a radiologia são: osteófitos, esclerose subcondral e diminuição de espaço assimétrico. Artropatia de Jaccoud Versus AR: A deformidade de Jaccoud é frequentemente encontrada no Lúpus Eritematoso Sistêmico. Trata-se de frouxidão ligamentar sem acometimento ósseo, ou seja, não há erosão! Logo, se não há erosão e destruição da cartilagem, as deformidades são reversíveis ao exame clínico. Tais deformidades são semelhantes a AR como podem ver na figura abaixo e, por esse motivo, configuram um diagnóstico diferencial importante. Artritr Psioriásica Versus AR: O acometimento de IFD deve, automaticamente , questionar o diagnóstico de AR e devemos pensar em osteoartrite ou artrite psoriásica. A psoríase deve ser pesquisa obrigatória ao exame físico, porém pode não estar presente e vir a se desenvolver anos após o quadro articular. Outras dicas que nos auxiliam a fazer o diagnóstico são: história familiar positiva e presença de alterações ungueais sugestivas. No estudo radiológico das mãos o achado pencil in cup é característico. ARTROSE (OSTEOARTRITE) A osteoartrite (OA) é definida como um distúrbio musculoesquelético e das articulações sinoviais do nosso corpo, sendo caracterizada, clinicamente por dor e limitações funcionais, histologicamente por alterações da cartilagem e do osso subcondral e, radiologicamente pela presença de osteófitos e estreitamento dos espaços articulares. Pode também ser chamada de osteoartrose ou artrose . Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA EPIDEMIOL OGIA Em relação a sua epidemiologia, ela está presente em 10% dos indivíduos acima dos 60 anos e é a do ença reumatológica mais comum, sendo a 3ª nas causas de incapacidade laborativa (afastamento do trabalho), perdendo apenas de doenças mentais e cardiovasculares. No Brasil, a OA acomete cerca de 16% da população. As regiões mais afetadas são o quadril, joelhos, mãos e pés. Os fatores de risco são: idade (mais importante), sexo, predisposição genética, obesidade (fator modificável mais importante), sobrecarga mecânica, trauma, doenças ósseas e articulares congênitas, afecção articular inflamatória precedente (ex: artrite reumatoide), patologias endocrinometabólicas. FISOPATOL OGIA As reais causas do desenvolvimento da OA ainda permanecem desconhecidas. No entanto, sabe -se que os três principais tecidos atingidos pelos mecanismos patológicos da OA são o ósseo, o cartilaginoso e o sinovial • Alterações ósseas: Ocorre principalmente no osso subcondral, podendo formar:esclerose óssea, ou seja, aumento da densidade da matriz óssea por conta da ação de osteoblastos resultante da micro lesão óssea; cistos subcondrais por conta da necrose formada quando os ossos absorvem a sobrecarga mecânica da pressão dentro do espaço articular; osteófitos formados pelo processo excessivo de regeneração nas áreas de maior pressão no espaço articular, ou seja, nas extremidades, formando essas projeções ósseas em formato de “bico de papagaio”; • Alterações cartilaginosas: Por conta da ação degenerativa, encontra-se uma irregularidade da superfície cartilaginosa por conta da redução de sua espessura, chamada de fibrilações, que podem evoluir para fendas e erosões. Além disso, a cartilagem regenerada possui matriz mais água e menos proteoglicanos, com ausência de condrócitos nas zonas periféricas e presença de condrócitos regenerados na zona central; • Alterações sinoviais: Ocorre um processo inflamatório crônico no tecido sinovial (sinovite) desencadeado pelos fragmentos de cartilagem e osso degradados no líquido sinovial, podendo, a longo prazo, formar cristais de fosfato e pirofosfato de cálcio. Dessa forma, há formação de enzimas e citocinas que iniciam essa inflamação, além da espessamento da cápsula. ETIOL OGIA A etiologia da OA é multifatorial, envolvendo um conjunto grande de possíveis causas. Na OA primária: sua causa ou é desconhecida (idiopática) ou individuo manifesta essa patologia por conta de uma alteração genética que justifica o quadro, como, por exemplo, a alteração do gene para o Col-2A1 (da cadeia alfa-1 do colágeno tipo 2). Tal mutação provoca um desbalanço no metabolismo do colágeno, manifestando o quadro de OA. OA secundária: ela envolve grupos de etiologias mecânicas e inflamatórias reunidas nas seguintes divisões: OA secundária a desorganização da estrutura cartilaginosa: Pode envolver alterações estruturais do colágeno (condrodisplasia); acúmulo de produtos bioquímicos ou sanguíneos (hemocromatose, doença de Wilson); distúrbios endócrinos (diabetes e acromegalia); ação enzimática pela presença de cristais (gota); invasão por sinovite hiperplásica (artrite reumatoide); ação mecânica aguda ou crônica (trauma agudo com ou sem fratura, trauma postural); Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA OA secundária a desorganização da estrutura óssea ou desalinhamento articular: Como remodelagem acelerada ou aumento da densidade óssea subcondral (doença de Paget, osteoporose) e necrose óssea. MANIFESTAÇÃO CL ÍNICA Principais sintomas da osteoartrite, temos: • Dor articular: É o sintoma responsável por levar o paciente a procurar ajuda médica. Ela costuma se originar de forma espontânea e gradual no local acometido (pode ser mono ou poliarticular). Ela é do tipo “aperto” referida como “profunda”, tendo pequena e média intensidade. ➔ Piora com o início do movimento e melhora com o repouso. Eventualmente é desencadeada pela própria sobrecarga do corpo, podendo repercutir, ao longo do tempo, com dor em repouso e/ou dor noturna, interferindo no sono. A dor articular ocorre de forma multifatorial na osteoartrite, tendo como mecanismos principais: ➔ Estiramento dos ligamentos e da cápsula articular por conta da instabilidade apendicular, que estão próximo de terminações nervosas da articulação ➔ Aumento da pressão intraóssea nos ossos subcondrais acometidos, como já vimos, por conta do aumento da densidade óssea na inflamação ➔ A própria sinovite, liberando mediadores inflamatórios que simulam as dores nas terminações nervosas OU a própria compressão destas por conta do edema. Também pode ser por conta de outros sítios inflamatórios, como na bursite e tenossinovite; ➔ Por fim, mas não menos importante, a dor muscular. • Rigidez articular: Ocorre quando o paciente se encontra em repouso, principalmente durante a manhã, após longo períodos de imobilidade. Ela difere da rigidez das demais inflamações articulares por persistir até 30 minutos; • Instabilidade articular: Marcada principalmente por uma sensação de apreensão e falta de confiança/segurança em suportar o peso sustentado pela articulação. No entanto, ocasionalmente essa instabilidade pode levar a quedas. • Limitação do movimento: Há redução da amplitude dos movimentos, tanto passivos (pode existir dor ao movimento passivo da articulação) como ativos. Ocorre, principalmente, por conta da presença de osteófitos e do espessamento da cápsula articular, embora a sinovite também contribua por conta da hiperplasia sinovial. Principais sinais, encontramos, principalmente durante o exame físico: • Aumento da articulação: Encontrado em áreas onde há inchaço ósseo e/ou cartilaginoso. A consistência desse aumento volumétrico é firme, com pontos dolorosos; • Crepitações audíveis ou palpáveis: Produzidas pelo movimento de estruturas articulares danificadas, como, por exemplo, uma deformidade da cartilagem articular ou dos tendões; • Deformidade articular: É um sinal de lesão articular avançada; Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA • Sinais de sinovite: Consiste no edema, aumento da temperatura e discreto derrame articular na região afetada. • Nódulos de Heberden e de Bouchard: Consiste nas expansões firmes de tecido ósseo e cartilaginoso nas proeminências articulares, respectivamente, interfalangeanas distais e proximais. Essas expansões consistem nos osteófitos palpáveis nos pacientes, sendo um sinal patognomônico da OA CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DAS ARTICUL AÇÕES AFETADAS NA OA MÃOS: Nas mãos, a OA se manifesta através de nódulos de consistência óssea em interfalangeanas, que clinicamente são a tradução radiográfica da presença de osteófitos. Os nódulos recebem o nome de Heberden (distal) e Bouchard (proximal), e podem ser dolorosos e flogísticos ou assintomáticos. Para esse tipo clínico nomeamos OA nodal, a qual possui relação com hereditariedade. Quando a OA nodal possui componente inflamatório significativo, com erosão associada (“sinal da gaivota” na radiografia em interfalangeanas), recebe o nome de OA nodal erosiva. Outra articulação acometida é a primeira carpometacarpiana/trapézio- metacarpiana, a qual recebe o nome de rizartrose, comum em mulheres e associado a atividades manuais repetitivas como tricô e crochê. A região hipotenar ganha um aspecto “quadrado”. JOELHOS: Nos joelhos, a OA, ou gonartrose, é responsável por alterações significativas de biomecânica, associada à distorção do alinhamento (genovalgo e genovaro) e redução de compartimentos de maneira assimétrica (femorotibial lateral, femorotibial medial ou patelofemoral). Clinicamente, pode se manifestar com dor mecânica, estalidos, instabilidade e diminuição da aplitude articular. A obesidade é um fator importante associado à gonartrose. Ao exame físico, podemos encontrar crepitação à flexão-extensão, dor na palpação de interlinha articular (lesão degenerativa meniscal), dor e crepitação na mobilização patelar, “sinal da tecla” positivo (casos de derrame articular), cisto de BAKER, atrofia de quadríceps e, em casos mais avançados, perda de amplitude e funcionalidade do joelho. QUADRIL: A coxartrose manifesta-se com dor e limitação quando da rotação interna do quadril. Pode ser de etiologia idiopática ou decorrente de alterações morfológicas congênitas ou adquiridas, como a síndrome do impacto femoroacetabular. PÉS: Hálux valgo (“joanete”) é a manifestação mais comum osteoartrítica nos pés, por acometimento da primeira metatarsofalangeana. Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA COLUNA: Sítio comum de manifestação da OA, pode acometer o disco vertebral, corpo vertebral ou interapófisárias. A dor não é decorrente diretamente da alteração osteoartrítica, e sim das alterações associadas, como espasmo muscular, distensão ligamentar e capsular. Geralmente é crônica, vinculada ao esforço e vícios posturais,e não costuma ser intensa, a não ser que haja compressão radicular por complexos disco-osteofitários. Pode se associar à estenose de canal lombar, cuja marca principal é a claudicação neurogênica. Na coluna cervical é comum o acometimento deC5-C6, C6-C7 por serem os segmentos mais móveis, assim como L4 e S1 na coluna lombar. DIAGNOSTICO O diagnóstico é feito através da história clínica do paciente, colhida durante a anamnese junto do exame físico osteoarticular e de exame complementares (de imagem e laboratoriais). EXAMES COMPL EMENTARES LABORATORIAIS: Não se encontra alterações laboratoriais decorrentes de osteoartrite, uma vez ser uma doença sem manifestação sistêmica. IMAGEM: A radiografia da articulação afetada é o exame a ser solicitado nos casos de osteoartrite e podemos encontrar as seguintes alterações: • Esclerose subcondra.l • Redução assimétrica do espaço articular: Menor área radiotransparente no espaço articular; • Osteófitos: Protuberância óssea radiopaca na borda da articulação • Cistos ósseos: Formações arredondadas radiotransparente na região subcondral afetada Outros exames: TC e RM podem colaborar para a avaliação da osteoartrite, ajudando a identificar possíveis etiologias que colaborem para sua manifestação, como, por exemplo, rotura de ligamento cruzado, menisco, osteonecrose, etc., ou eliminando outros possíveis diagnósticos diferenciais, No entanto, em relação a RM, esse exame tem fraco poder discriminativo para seu diagnóstico em si. LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, autoimune, de etiologia pouco conhecida, decorrente de um desequilíbrio do sistema imunológico e de produção de autoanticorpos dirigidos contra proteínas do próprio organismo. Isso gera a formação de imunocomplexos que, ao se depositarem em vasos de pequeno calibre, resultam em vasculite e disfunção do local ac ometido. O LES compromete órgãos e tecidos nas mais diversas combinações e em graus variados de gravidade. Clinicamente, a doença apresenta períodos de exacerbação de atividade inflamatória, intercalados com remissão parcial ou completa dos sintomas. Em alguns pacientes, há a manutenção da atividade inflamatória crônica Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA ETIOL OGIA Apesar de ainda não totalmente esclarecida, a etiologia de LES é multifatorial, sendo composta por fatores genéticos, epigenéticos, hormonais, ambientais e imunológicos. À luz da genética, já é bem documentada uma alta prevalência da doença entre gêmeos monozigóticos e nos parentes de primeiro grau. A chance de desenvolvimento de LES é 29 vezes maior para gêmeos monozigóticos e 17 vezes maior para parentes de primeiro grau de pessoas acometidas quando comparados a dados da população geral. Outro fator importante é a deficiência de algumas proteínas do sistema complemento , especialmente C1q e C4. Também já foram identificados polimorfismos genéticos como fator predisponente. Além di sso, é consistente a associação de alguns alelos do MHC (Complexo Principal de Histocompatibilidade) com o LES, principalmente os alelos DR2 e DR3 de classe II. Outras associações importantes estão relacionadas à assinatura do IFN (Interferon). Genes ligados à imunidade intata, como STAT4, IRF5 e TLR7, estão ligados à sinalização e produção de IFN-α, que tem sua expressão aumentada no soro de 60 a 80% dos pacientes lúpicos. Do ponto de vista hormonal: os estrógenos possuem papel estimulador de várias células imunes, como macrófagos, linfócitos T e B. Nesse sentido, favorecem a adesão de mononucleares ao endotélio vascular, estimulam a secreção de algumas citocinas, como IL1, e expressão de moléculas de adesão e MHC. Do mesmo modo, a via IFN do tipo I é regulada positivamente pelo estrógeno e negativamente pelos progestágenos. Os estrógenos também têm ação semelhante às moléculas de BLyS/BAFF (estimulador de linfócitos B/fator de ativação das células B), reduzindo a apoptose das células autorreativas e acelerando sua maturação, especialmente das células B com alta afinidade pelo DNA. Os níveis séricos do BAFF estão frequentemente aumentados nos pacientes, promovendo a formação e a sobrevivência das células B de memória e dos plasmócitos. Esse aumento persiste nte dos autoanticorpos não é controlado adequadamente pelos anticorpos anti-idiotípicos, pelas células T reguladoras CD4+, ou pelas células T supressoras CD8+ FISIOPATOL OGIA A fisiopatologia é marcada por vários defeitos no sistema imune que levam a uma perda de autotolerância. Nesse sentido, há uma produção anormal de autoanticorpos, prévia ao início dos sintomas, por parte dos linfócitos B, que são estimulados e mantém sua sobrevida por ação das moléculas de BLyS/BAFF. Antígenos próprios (DNA/proteína nucleossômais, RNA/ proteína em SM, Ro e La, além de fosfolipídeos) estão disponíveis para o reconhecimento por pare do sistema imune nas vesículas apoptóticas. Assim, antígenos, autoanticorpos e complexos imunes persistem por períodos prolongados, tornando possível a inflamação e a própria doença. Outro fator que contribui para o LES é a produção insuficiente de IL-2 e TGF, pelas células T e natural killer (NK), para a sustentação das células T CD8+ e CD4+ reguladoras, que inviabilizariam a evolução fisiopatológica. O resultado de todo esse processo é a manutenção e produção de autoanticorpos e, subsequente, imunocomplexos, que se depositam em órgãos-alvo. As células-alvo lesadas (glomérulos, células endoteliais, plaquetas e outras) liberam mais antígenos, que perpetuam o processo. Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA Paralelamente aos eventos descritos acima, ainda ocorre a ativação do sistema complemento, levando à liberação de citocinas, quimiocinas, peptídeos vasoativos, oxidantes e enzimas destrutivas. Esse contexto é acompanhado pelo influxo de células T, monócitos, macrófagos e células dendríticas para os tecidos-alvo, bem como pela ativação de macrófagos residentes e células dendríticas. Durante a inflamação crônica, o acúmulo de fatores de crescimento e de produtos da oxidação crônica contribui para o dano tecidual irreversível aos glomérulos, artérias, pulmões e outros tecidos. MANIFETAÇÕES CL INICA S ➔ Sintomas gerais como anorexia e perda de peso podem ser observadas como quadro inicial da doença e preceder o aparecimento de outras manifestações em meses ➔ Diminuição do apetite, febre, poliadenopatias, mialgia e artralgia também podem fazer parte do quadro. ➔ O lúpus é causa de febre de origem indeterminada em menos de 5% dos pacientes, mas pode ser o primeiro sinal da doença. Cerca de 42% dos pacientes podem ter febre como manifestação do lúpus ativo, principalmente observada em crianças e adolescentes. ➔ Linfadenopatia generalizada ou localizada, com predomínio das cadeias cervical e axilar, pode ser observada em mais de um terço dos casos, assim como a presença de hepato e/ou esplenomegalia PEL E E ANEXOS ➔ A principal lesão cutânea aguda é o rash malar ou eritema em “asa de borboleta”, identificada em 30 a 60% dos casos, sendo altamente fotossensível. ➔ Geralmente poupa o sulco nasolabial e seu aparecimento acompanha os períodos de atividade da doença ➔ Pode ainda apresenta-se como erupção maculopapular discreta e descamativa, e cura sem deixar cicatriz. ➔ Sua forma generalizada é conhecida como rash maculopapular ou dermatite lúpica fotossensível e se apresenta como erupção exantematosa ou morbiliforme generalizada ➔ Outros tipos de lesões agudas são máculas, pápulas ou placas eritematosas, algumas com tonalidade violácea, que podem apresentar leve descamação. As lesões não são pruriginosas e primariamente ocorrem em áreas expostas ao sol, como face, tórax, ombros, face extensora dos braços e dorso das mãos, regredindo sem deixar atrofia. O lúpus cutâneo subagudomanifesta-se como placas eritematosas em áreas expostas e com intensa fotossensibilidade, habitualmente associada ao anticorpo anti-Ro. Clinicamente observam-se duas variedades de lesão: a papuloescamosa e anular. Inicialmente, as lesões apresentam- -se como um pápula ou pequena placa eritematosa levemente descamativa. Na variante papuloescamosa, as lesões progridem e confluem formando placas psoriasiformes em arranjo muitas vezes reticulado. Já na variante anular ocorre progressão periférica das lesões, com eritema e fina descamação na borda. Ocasionalmente surgem hipopigmentação e telangectasias no centro das lesões anulares Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA A forma mais comum de lúpus eritematoso cutâneo crônico é o lúpus eritematoso discoide, caracterizado por lesões maculosas ou papulosas, eritematosas, bem definidas, com escamas firmes e aderentes à superfície das lesões. Podem ocorrer na ausência de manifestações sistêmicas. Comumente, em sua evolução, essas lesões tornam-se confluentes, formando placas recobertas por escamas espessas e ceratose, que se estende para o interior do folículo piloso dilatado. Os locais mais acometidos são: couro cabeludo, pavilhão auricular, região torácica anterior e porção superior dos braços. Na face , as sobrancelhas, as pálpebras, o nariz e as regiões mentoniana e malar estão frequentemente envolvidas. As lesões cutâneas são crônicas, persistentes e podem regredir deixando áreas cicatriciais discrômicas, além de telangectasias e alopecia cicatricial. MUSCUL OESQUEL ÉTICA S A presença de artralgia e/ou artrite pode ser identificada no início da doença em 75 a 85% dos casos e na maioria dos pacientes durante a evolução. Embora não possua um padrão específico de acometimento, na maioria das vezes observa-se um poliartrite simétrica aditiva, na qual pode ocorrer rigidez matinal, semelhante à da artrite reumatoide. Outro achado importante é a artropatia de Jaccoud , identificada em 8 a 10% dos casos, que é caracterizada por desvio ulnar dos dedos, subluxação das articulações matacarpofalangianas , deformidades reversíveis do tipo “pescoço de cisne” e polegar em “Z” decorrentes do acometimento inflamatório de tendões e ligamentos. Essas estruturas sofrem frouxidão na vigência do processo inflamatório. Também podem ser encontrados hálux valgo, dedos em martelo e subluxação das articulações matatarsofalangianas nos pés. Essas deformidades articulares também são comuns à artrite reumatoide, porém, no lúpus, não são observadas erosões. MANIFESTAÇÕES RENAIS O envolvimento do sistema renal é um indicador de pior prognóstico, já que 74% dos pacientes serão acometidos em algum momento na evolução da doença. Sua patologia é geralmente decorrente do depósito de imunocomplexos circulantes ou da formação local desses complexos nos glomérulos levando à ativação do complemento e subsequente recrutamento de células inflamatórias. Além disso, também podem ocorrer lesões vasculares, com microangiopatia trombótica e vasculite extraglomerular, bem como acometimento tubulointersticial com atrofia tubular e fibrose intersticial. O depósito subendotelial de imunocomplexos determina um processo inflamatório proliferativo e exsudativo, com presença de hematúria, proteinúria de leve a moderada, e uma redução da taxa de filtração glomerular. MANIFESTAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS O American College of Rheumatology definiu 10 síndromes neuropsiquiátricas que podem estar associadas ao LES. As características clínicas incluem manifestações tanto neurológic as quanto Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA psiquiátricas e as mais comuns que são provavelmente atribuíveis à cerebrite do lúpus englobam: disfunção cognitiva presente em 17% a 66% dos pacientes com LES; psicose ou transtorno do humor; doenças vascular cerebral em 5% a 18%; e convulsões em 6% a 51%. As cefaleias também são muito comuns. MANIFESTAÇÕES CARDIOVASCUL ARES A doença cardiovascular representa a maior causa de morbimortalidade nos pacientes com LES, sendo as mais prevalentes: doença coronariana, doenças do miocárdio e pericárdio, insuficiência cardíaca, valvopatias e distúrbios de condução. Há prevalência de hipertensão arterial sistêmica em dois terços dos pacientes com LES, o que contribui para aterosclerose acelerada e aumento do risco cardiovascular. As placas ateroscleróticas pré -clínicas nas carótidas têm sido descritas em 37% dos pacientes com LES, comparadas com 15% dos controles saudáveis pareados por idade e sexo. A atividade autoimune do LES pode induzir doença no pericárdio, epicárdio ou endocárdio, em que as manifestações podem variar desde pacientes assintomáticos até pacientes com insuficiência ventri cular esquerda aguda com necessidade de suporte hemodinâmico. Embora não seja específico do LES, o fenômeno de Raynaud, que é caracterizado por episódios de vasospasmos e oclusão de artérias digitais frente à exposição ao frio e ao estresse emocional, é uma manifestação encontrada em até 60% dos pacientes com LES, podendo determinar dor e, por vezes, necrose das extremidades distais dos membros. A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAF) é associada com o LES e também com alta morbidade cardiovascular. Síndrome de anticorpos antifosfolipídeos Os anticorpos antifosfolipídeos são detectados em aproximadamente um terço dos pacientes com LES. Esses anticorpos estão associados a tromboses venosas e arteriais. Outras manifestações clínicas incluem a doença microangiopática trombótica glomerular, lesões de valvas cardíacas, livedo reticularis, trombocitopenia, anemia hemolítica e acometimento do SNC. MANIFESTAÇÕES PUL MONARES A pleurite é a manifestação mais frequente do envolvimento pulmonar no LES e ocorre em 3 0% dos pacientes em algum momento da evolução da doença. Se caracteriza por dor à respiração e por derrames exsudativos. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de LES baseia-se na combinação de manifestações clínicas e alterações laboratoriais, desde que outras doenças sejam excluídas. Recentemente, em 2012, o grupo do Systemic Lupus Collaborating Clínics (SLICC) publicou a atual proposta de classificação de pacientes com LES. Para um indivíduo ser classificado com lúpus sistêmico é necessário que estejam presentes no mínimo, quatro critérios, incluindo pelo menos um clínico e um imunológico (do total de seis). Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA EXAMES L ABORATORIAIS Os exames laboratoriais são muito importantes para o diagnóstico e seguimento desses pacientes. São capazes de avaliar as alterações primárias imunológicas e inflamatórias da doença, assim como o acometimento secundário dos órgãos. As provas inflamatórias de fase aguda, como a velocidade de hemossedimentação (VHS) e a proteína C reativa (PCR), são úteis para o diagnóstico. A VHS geralmente está aumentada na atividade da doença, refletindo a fase aguda dos processos inflamatórios, porém pode persistir elevada mesmo após o controle da doença, não se correlacionando com sua atividade inflamatória. Entretanto, a PCR é geralmente baixa no LES e aumenta nos processos infecciosos, auxiliando por vezes no diagnóstico diferencial dessas duas condições. A avaliação imunológica é fundamental para a caracterização da doença auto-imune. Os FANs detectados pela imunofluorescência indireta utilizando a célula HEp-2 é o primeiro teste a ser realizado, pois é positivo em mais de 98% dos casos e um dos critérios diagnósticos . Ressalta-se que a alta sensibilidade desse exame não reflete a sua especificidade, pois o FAN ocorre em um grande número de doenças crônicas (infecciosas, neoplásicas), auto-imunes e mesmo em indivíduos sadios (particularmente idosos). Diante da suspeita de LES e a positividade do FAN, é fundamental tentar caracterizar os auto-anticorpos específicosda doença, particularmente o anti-DNA nativo (anti-dsDNA) e anti-SM, que são marcadores e suas detecções corroboram o diagnóstico. A positividade do anti-dsDNA chega a 40% e a determinação de seus títulos é útil no acompanhamento da atividade inflamatória da doença, partic ularmente na nefrite. Da mesma forma, os anticorpos antiproteína P ribossômica, presentes em apenas 10% dos casos de LES, podem, em alguns casos, ser os únicos marcadores de doença e também auxiliam no acompanhamento de pacientes com quadros graves de distúrbios psiquiátricos associados a essa doença. Os anticorpos anti-SM são identificados em aproximadamente 30% dos casos e auxiliam no diagnóstico por serem marcadores específicos. Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA Outros anticorpos também são detectados e caracterizam o padrão de resposta imune do LES, sendo freqüentes os anticorpos anti-RNP, anti-Ro/SS-A, anti-La/SS-B e os anticorpos antifosfolípide, que estão relacionados com trombose e/ou abortos de repetição, caracterizando a síndrome antifosfolípide (SAF) secundária. Aproximadamente 25% dos casos de LES apresentam positividade do fator reumatóide. GOTA A gota é uma artrite inflamatória de origem metabólica que é causada por cristalização dos cristais de urato monossódico mono-hidratado (UMS) nas articulações. Também considerado na definição de gota está o espectro das condições clínicas resultantes da deposição dos cristais de UMS nos tecidos subcutâneos e rins, manifestando-se como depósitos de tofos, celulite inflamatória, nefropatia do urato e cálculos renais. EPIDEMIOL OGIA É a doença articular inflamatória mais comum nos homens e em mulheres idosas. Sua incidência e prevalência estão aumentando a nível mundial. A gota afeta na sua maioria homens (2-7:1), ocorrendo com maior frequência a partir dos 40 anos. Importante salientar que embora a hiperuricemia seja um pré - requisito necessário para o desenvolvimento de gota, apenas 20% de todos os indivíduos hiperuricêmicos desenvolverão gota. FISIOPATOL OGIA Quanto maior o grau e a duração da hiperuricemia, maior a probabilidade de que a gota se desenvolva. Os níveis de urato podem estar elevados por • Excreção diminuída (mais comum) • Produção aumentada • Aumento do consumo de purina Não se sabe por que somente algumas pessoas com elevado nível de ácido úrico desenvolvem gota. A excreção renal diminuída é, de longe, a causa mais comum de hiperuricemia. Ela pode tanto ser hereditária como ocorrer em pacientes que tomem diuréticos de forma crônica e naqueles com doenças que diminuam a taxa de filtração glomerular. O etanol aumenta o c atabolismo hepático de purina e a formação de ácido láctico, o que bloqueia a secreção de urato pelos túbulos renais; o etanol també m estimula a síntese hepática de ácido úrico. Envenenamento por chumbo e ciclosporina, geralmente nas doses mais altas administradas a pacientes transplantados, danifica os túbulos renais, ocasionando retenção de urato. O aumento da produção de urato pode ser causado pelo aumento da nucleoproteína em condições hematológicas (p. ex., linfomas, leucemia, anemia hemolítica) e em condições com taxas elevadas de proliferação e morte celular (p. ex., psoríase, terapia citotóxica do câncer, terapia de radiação). O aumento da produção do ácido úrico também pode ocorrer como anomalia hereditária primária e na obesidade, uma vez que a produção de urato se correlaciona com a área de superfície corporal. Na maioria dos casos, a causa da produção excessiva de urato é desconhecida, mas em alguns deles é atribuída a anormalidades enzimáticas, sendo a deficiência de hipoxantina-guanina fosforribosiltransferase (a deficiência completa é a síndrome de Lesch-Nyhan) uma possível causa, bem como a hiperatividade da fosforribosilpirofosfato sintetase. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/disfun%C3%A7%C3%B5es-metab%C3%B3licas-heredit%C3%A1rias/dist%C3%BArbios-de-salvamento-de-purina#v25256577_pt Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA O aumento de consumo de alimentos ricos em purina (p. ex., fígado, rins, anchovas, aspargos, consomé, arenque, molhos e caldos de carne, champignon, mexilhão, sardinha, miúdos) pode contribuir para a hiperuricemia. A cerveja é particularmente rica em guanosina, um nucleosídeo da purina. No entanto, uma dieta com restrição de purina reduz o urato plasmático somente em cerca de 1 mg/dL. O urato se precipita como cristais de urato monossódico (MSU) em forma de agulhas, os quais são depositados extracelularmente nos tecidos avasculares (p. ex., cartilagens) ou em tecidos relativamente vascularizados (p. ex., tendões, bainhas tendinosas, ligamentos e paredes de bursas) e na pele ao redor de tecidos e articulações distais mais frias (p. ex., orelhas). Na hiperuricemia grave e de longa evolução, os cristais de MSU podem ser depositados em articulações centrais maiores e no parênquima de órgãos como os rins. No pH ácido da urina, o urato se precipita prontamente como pequenas placas ou cristais de ácido úrico em forma de diamantes que podem se agregar para formar pedras ou cálculos, o que pode causar obstrução da saída da urina. Os tofos são agregados de cristais de MSU que, em geral, se desenvolvem na articulação e no tecido cutâneo. Em geral, estão encarcerados em uma matriz fibrosa, o que impede-os de causar inflamação aguda. A artrite gotosa aguda pode ser desencadeada por trauma, estresse clínico (p. ex., pneumonia ou outra infecção), cirurgia, uso de diuréticos tiazídicos ou fármacos com efeitos hipouricêmicos (p. ex., alopurinol, febuxostate, probenecida, nitroglicerina) ou excessos de alimentos ricos em purina ou álcool. Em geral, as crises são precipitadas por um aumento súbito ou, mais comumente, por uma diminuição súbita nos níveis plasmáticos de urato. Não se sabe por que os ataques agudos acontecem após essas condições precipitadoras. Os tofos dentro e ao redor das articulações podem limitar a movimentação e causar deformidades, produzindo artrite gotosa tofácea crônica. A gota crônica aumenta o risco de osteoartrite secundária. ACHADOS CL ÍNICOS Pode haver diversos tipos de apresentação clínica no paciente com hiperuricemia. Hiperuricemia Assintomática Caracteriza-se por níveis elevados de ácido úrico sérico (> 7 mg/dL), entretanto sem manifestação da doença. O ácido úrico é um produto normal do catabolismo das purinas, excretado basicamente pelo rim. Acima do nível normal, a solubilidade do ácido úrico reduz-se e aumenta progressivamente a possibilidade dele depositar-se nos tecidos sob a forma de cristais. Hiperuricemia ocorre em 10% da população masculina acima dos 40 anos de idade, sendo também observada em mulheres após a menopausa. Indivíduos hiperuricêmicos têm maior chance de desenvolver gota que normouricêmicos, porém a maioria permanece assintomática, não necessitando de nenhuma medida terapêutica. Por outro lado, sugere-se que níveis de ácido úrico extremamente elevados (> 13 mg/dL) devam ser tratados, devido ao risco de complicações (nefrite intersticial). Artrite Gotosa Aguda A descrição clássica da gota é a crise de artrite noturna monoarticular da primeira metatarsofalângica (podagra), extremamente dolorosa e com duração de 5 a 7 dias. Isso ocorre em cerca de 70% dos pacientes como primeira manifestação. Com a evolução da doença, articulações tarsometatársicas, tornozelos, joelhos, punhos, dedos e cotovelos são acometidos, nesta ordem de frequência. O indivíduo pode apresentar febre com calafrios, fazendo diagnóstico diferencial com artrite infecciosa. Alguns fatores podem desencadear a crise aguda, tais como ingestão de álcool e de excesso de purinas, exercícios, desidratação, trauma, cirurgia, radioterapia, diuréticos tiazídicos e flutuações nos níveis de ácido úrico (como as que ocorrem com o início ou a parada de terapia com alopurinol). Período IntercríticoApós a crise aguda, o paciente pode entrar no período intercrítico, que tem duração variável e imprevisível. Caso não receba tratamento adequado, as crises tendem a ser oligoarticulares e, depois, poliarticulares, com https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dos-tecidos-conjuntivo-e-musculoesquel%C3%A9tico/doen%C3%A7as-articulares/osteoartrite-oa#v906128_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dos-tecidos-conjuntivo-e-musculoesquel%C3%A9tico/doen%C3%A7as-articulares/osteoartrite-oa#v906128_pt Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA menores intervalos intercríticos até o momento em que se torna uma condição poliarticular crônica, inclusive com destruição das estruturas articulares. Gota Tofácea Crônica Um achado bastante característico da gota é a presença de nódulos cutâneos denominados tofos, de localização preferencial sobre os joelhos, cotovelos e dedos (Figuras 1 e 2). A localização mais conhecida, porém não a mais comum, é o pavilhão auricular. Gota Renal e Urolitíase Outro órgão que sofre agressão pela deposição dos cristais são os rins, sendo o acometimento extra-articular mais comum nessa doença. Os achados podem variar entre nefrolitíase por urato em 33% dos casos, precipitação intratubular com oclusão do lúmen (nefropatia aguda por urato) e comprometimento do interstício (nefropatia intersticial por urato). Síndrome Metabólica Uma característica bastante conhecida da gota e da hiperuricemia é a sua participação na síndrome metabólica, portanto, existe uma associação de indivíduos gotosos com hipertensão arterial, diabetes, intolerância à glicose, resistência à insulina e dislipidemia. Entretanto, o ácido úrico é apenas um marcador de risco, não sendo considerado um fator de risco para doença cardiovascular. Um estudo recente demonstrou que havia um pequeno, mas independente, risco de infarto agudo do miocárdio em homens com gota, e não apenas hiperuricemia. A apresentação clínica pode variar de hiperuricemia assintomática a casos graves de artrite tofosa e até mesmo insuficiência renal por depósitos de sais de ácido úrico. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de gota é baseado num conjunto de achados: ➔ história sugestiva: monoartrites sucessivas, podagra, sexo masculino, idade acima dos 40 anos, história familiar de gota e urolitíase; ➔ hiperuricemia acima de 7 mg/dL; ➔ cristais de monourato de sódio em tofos, líquido sinovial e sinóvia. É o dado que fecha o diagnóstico; ➔ quadro radiográfico sugestivo, principalmente cistos e erosões em saca-bocado. Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA Exames de imagem Pode-se obter radiografias da articulação atingida para procurar erosão óssea ou tofos, mas provavelmente são desnecessárias se o diagnóstico de gota aguda tiver sido firmado pela análise do líquido sinovial. Na artrite por pirofosfato de cálcio, há depósitos radiopacos na fibrocartilagem, na cartilagem hialina articular (particularmente nos joelhos) ou em ambas. A ultrassonografia é mais sensível (embora dependa da experiência do médico) e específica do que as radiografias simples para o diagnóstico da gota. A deposição de urato sobre a cartilagem articular (sinal do duplo contorno) e os tofos clinicamente inaparentes são as alterações características. Esses achados podem estar evidentes mesmo antes da primeira crise de gota. A tomografia computadorizada com dupla energia também pode revelar depósitos de ácido úrico. SINDROME FIBROMILGIA A fibromialgia (FM) é uma síndrome dolorosa crônica que se manifesta principalmente no sistema músculo-esquelético, comumente observada na prática médica diária e possui etiopatogenia ainda obscura. Frequentemente as dores são acompanhadas por fadiga, distúrbios do sono, sintomas psiquiátricos e múltiplos sintomas somáticos. Apesar da dor musculoesquelética, não há evidências de inflamação nesses tecidos. EPIDEMIOL OGIA A fibromialgia (FM) é uma das condições clínicas dermatológicas mais comuns, sendo uma causa frequente de dor crônica, atrás apenas da osteoartrite, e a causa mais comum de dor musculoesquelética generalizada em mulheres entre 20 e 55 anos. Em estudos feitos nos EUA e na Europa a prevalência encontrada foi de até 5% na população geral e ultrapassou 10% dos atendi mentos em clínicas reumatológicas. No Brasil, estima-se que a prevalência seja de 2,5%, predominante no sexo feminino, principalmente entre os 35 e 44 anos. A FM é mais comum em mulheres do que homens e ocorre em crianças e adultos. É seis vezes mais comum em mulheres em relatórios de clínicas especializadas, embora a predominância do sexo feminino não seja tão marcante na comunidade e quando se usa critérios de pesquisa que não requerem um exame de pontos dolorosos . FISIOPATOL OGIA Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA Existe muitas controvérsias relacionadas a patogênese da FM, pois não há substrato anatômico na sua fisiopatologia e seus sintomas que se confundem com um processo depressivo patológico e com a síndrome da fadiga crônica. • Sensibilização central: Portadores de fibromialgia estão em um estado de centralização da dor, o que significa que eles sentem mais dor do que o esperado para certo estímulo nociceptivo. Algumas alterações do sistema nervoso central interpretam esse estímulo como sensações desagradáveis e os traduzem em dor, além de amplificá-los. ➔ SOMATÓRIO TEMPORAL DOS IMPULSOS NEURAIS As fibras da dor (fibras C desmielinizadas) são estimuladas repetida, rápida e prolongadamente.E essa hiperestimulação causa despolarização dos receptores N-metil-D-aspartado (NMDA), gerando alterações da transcrição que afetam o processamento da dor. ➔ PREJUIZO DA VIA INIBITORIA DA DOR: Além disso, há uma inibição das vias descendentes inibitórias da dor. Essas vias modulam a resposta medular aos estímulos dolorosos e estão prejudicadas em portadores de fibromialgia, o que potencializa a sensibilização central. ➔ ALTERAÇÃO NO PROCESSAMENTO DA DOR: Os níveis de neurotransimissores estão implicados na percepção da dor pelo indivíduo, facilitando ou dificultando a transmissão do estímulo. Esses transmissores também controlam o sono, humor, memória e atenção, e por isso pacientes com fibromialgia muito frequentemente. também apresentam alterações do padrão do sono, humor, da memória e da atenção. ➔ ALTERAÇÕES MUSCULARES: Atrofia muscular de fibras tipo II, bem como fibras reticulares, maior quantidade de lipídeos e de mitocôndrias. Essas alterações são secundárias à redução da microcirculação local, causando hipóxia e reduzindo a energia disponível. • ALTERAÇÕES NEROHORMONAIS E AUTONIMICAS: A cronicidade da dor e alterações nos mecanismos nociceptivos no SNC geram uma hipersecreção do hormônio ACTH. Essa hipersecreção ocasiona uma resposta sustentada ao estresse pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS).Estudos mostram aumento dos níveis de ACTH em nível basal e em estresse, além de níveis elevados de cortisol – particularmente no fim do dia – e de ciclo cicardiano interrompido. Altos níveis de ACTH aumentam os níveis do hormônio somatostatina, que, por sua vez, inibe o GH. ➔ Hiperreatividade persistente do sistema nervoso autônomo (SNA): Alterações na frequência cardíaca de repouso, diminuição da variabilidade desta ao longo do dia e hipotensão ortostática sugerem uma hiperreatividade persistente do sistema nervoso autônomo (SNA) em pacientes com fibromialgia. ➔ Alterações do sono Em pacientes com fibromialgia, há redução da eficiência do sono, com pequenos despertares noturnos frequentes, diminuição da duração de sono de ondas lentas e intrusão de ondas alfa nas fases do sono profundo. Esse padrão é chamado de sono alfadelta e está presente em cerca de 90% dos pacientes QUADRO CL ÍNICO O sintoma presente em todos os pacientes é a dordifusa e crônica, envolvendo o esqueleto axial e periférico. ➔ Normalmente, pelo menos seis locais estão envolvidos em pacientes com FM, que podem incluir a cabeça, cada braço, o tórax, o abdômen, cada perna, a parte superior das costas e coluna vertebral e a parte inferior das costas e coluna (incluindo as nádegas). ➔ Em geral, os pacientes têm dificuldade para localizar a dor e não conseguem especificar se a origem é muscular, óssea ou articular. Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA ➔ Pode ser caracterizada como queimação, pontada, peso, “tipo cansaço” ou como uma contusão. Descrições comuns incluem “Sinto como se estivesse doendo todo” ou “Sinto como se estivesse sempre gripado”. ➔ Além disso, os principais fatores de piora relatados são o frio, tensão emocional ou esforço físico. Às vezes, os pacientes descrevem edema articular, embora sinovite não esteja presente, particularmente nas mãos, antebraços e trapézios. ➔ Os principais sintomas extra musculares incluem distúrbios do sono e fadiga, presentes na grande maioria dos pacientes. Atividades aparentemente menores agravam a dor e a fadiga, embora a inatividade prolongada também aumente os sintomas. Os pacientes ficam rígidos pela manhã e não se sentem revigorados, mesmo que tenham dormido de 8 a 10 horas. A rigidez matinal pode ser difícil de diferenciar das demais doenças reumáticas, como na artrite reumatóide (AR) ou polimialgia reumática. ➔ Os pacientes geralmente descrevem déficits de atenção e dificuldade em realizar tarefas que exigem mudanças rápidas de pensamento. Cerca 30% a 50% dos pacientes possuem depressão e/ou ansiedade. Além disso, alterações do humor e do comportamento, irritabilidade ou outros distúrbios psicológicos acompanham cerca de 1/3 destes pacientes, embora a condição psicopatológica não justifique a presença da fibromialgia. ➔ Cefaleia do tipo tensional é relatada por 50% dos pacientes. Os pacientes também relatam frequentemente parestesias, incluindo dormência, formigamento, queimação ou sensação de rastejar ou rastejar, especialmente nos braços e nas pernas. Em pacientes com FM, o único achado que geralmente está presente no exame físico é sensibilidade, às vezes acentuada, à palpação modesta em vários locais de tecidos moles. No entanto, não é evidenciado outros sinais flogísticos, como vermelhidão, calor, inchaço ou perda da função. DOENÇA MISTA DO TECIDO CONJUNTIVO (DMTC) É uma doença que mistura aspectos das principais doenças reumáticas (LES, AR, esclerodermia e poliomiosite) e que possui como característica altos níveis de anti-RNP U1. As mulheres são as mais acometidas, bem como pessoas entre 20-30 anos. As manifestações iniciais são características de colagenoses, pouco específicas e incluem febre, mal- estar, mialgias e artralgias. Mas as que diferem a DMTC das demais são as seguintes: Fenômeno de Raynaud associado a edema das mãos; ausência de comprometimento grave dos rins e do SNC; artrite mais grave do que a encontrada no LES; início insidioso de hipertensão pulmonar não relacionada a fibrose e anti -RNP U1. É comum anemia de doença crônica, fator reumatoide positivo, hipergamaglobulinemia. O prognóstico tipicamente é melhor na DMTC do que nas outras colagenoses. Módulo 14- P3,INTERMED, KATARINA ALMEIDA
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