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1 Inflamação Crônica | Larissa Gomes de Oliveira. Febre, Inflamação e Infecção. INFLAMAÇÃO CRÔNICA A inflamação crônica é a inflamação de duração prolongada (semanas ou meses) em que a inflamação, a lesão tecidual e as tentativas de reparo coexistem em variadas combinações. Ela sucede a inflamação aguda ou pode se iniciar insidiosamente, como uma resposta de baixo grau e latente, sem nenhuma manifestação prévia de uma reação aguda. Observa-se a inflamação ativa, a destruição do tecido e a tentativa de reparar os danos, simultaneamente. Além disso, se observa morfologicamente infiltrado de células mononucleares, destruição tecidual e tentativas de cicatrização pela substituição do tecido danificado por tecido conjuntivo. CAUSAS DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA As causas da inflamação crônica são, principalmente: infecções persistentes; exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos, endógenos ou exógenos; auto-imunidade. ➔ Infecções persistentes por microrganismos: que são difíceis de eliminar tais como micobactérias e certos vírus, fungos e parasitas. Esses organismos frequentemente estimulam uma reação imunológica chamada de hipersensibilidade do tipo tardia. Algumas vezes, a resposta inflamatória tem um padrão específico chamado de reação granulomatosa. Em outros casos, uma inflamação aguda não resolvida pode progredir para uma inflamação crônica, como ocorre na infecção bacteriana aguda pulmonar, que evolui para um abscesso crônico. ➔ Doenças de hipersensibilidade: a inflamação crônica desempenha papel relevante no grupo de doenças que são causadas pela ativação excessiva ou inapropriada do sistema imunológico. Sob certas circunstâncias, as reações imunológicas se desenvolvem contra os tecidos do próprio indivíduo, levando às doenças autoimunes. Nessas doenças, os autoantígenos estimulam uma reação imunológica autoperpetuante que resulta em dano tecidual crônico e inflamação. Um exemplo é a artrite reumatoide e esclerose múltipla. Em outros casos, a inflamação crônica é o resultado de respostas imunológicas não reguladas contra microrganismos, como na doença intestinal inflamatória. As respostas imunológicas contra substâncias ambientais comuns são a causa das doenças alérgicas, tais como asma brônquica. Devido ao fato de as reações autoimunes e alérgicas serem inapropriadamente deflagradas contra os antígenos que 2 Inflamação Crônica | Larissa Gomes de Oliveira. normalmente são inofensivos, estas não atendem a propósitos úteis e causam somente doença. Tais doenças podem mostrar padrões morfológicos de inflamação aguda e crônica misturados porque são caracterizadas por episódios repetidos de inflamação. A fibrose pode dominar os estádios tardios. ➔ Exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos, tanto exógenos quanto endógenos. Nesse caso engloba agentes exógenos, como: partícula de sílica, um material inanimado não degradável que, quando inalado por períodos prolongados, resulta em uma doença inflamatória pulmonar chamada silicose. A aterosclerose é um processo inflamatório crônico da parede arterial induzido, pelo menos em parte, pela excessiva produção e deposição tecidual de colesterol endógeno e outros lipídios. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DA INFLAMAÇÃO Ao contrário da inflamação aguda, que é marcada por alterações vasculares, edema e infiltração predominantemente neutrofílica, a inflamação crônica é caracterizada por: ▪ Infiltração com células mononucleares, que incluem macrófagos, linfócitos e plasmócitos. ▪ Destruição tecidual, induzida pelo agente agressor persistente ou pelas células inflamatórias. ▪ Tentativas de reparo pela substituição do tecido danificado por tecido conjuntivo, realizadas pela proliferação de pequenos vasos sanguíneos (angiogênese) e, em particular, fibrose. CÉLULAS E MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO CRÔNICA A combinação de infiltração leucocitária, dano tecidual e fibrose, que caracteriza a inflamação crônica, resulta da ativação local de vários tipos celulares e da produção de mediadores. RESPOSTA MACROFÁGICA Os macrófagos são células teciduais derivadas de células-tronco hematopoiéticas na medula óssea, bem como de células progenitoras no saco vitelino embrionário e no fígado do feto durante o desenvolvimento inicial. As células circulantes dessa linhagem são conhecidas como monócitos. Os macrófagos estão normalmente espalhados de maneira difusa na maioria dos tecidos conjuntivos. Além disso, são encontrados em locais específicos, em órgãos como fígado (onde são chamados de células de Kupffer), baço e linfonodos (chamados de histiócitos sinusais), sistema nervoso central (micróglias) e pulmões (macrófagos alveolares). Juntas, essas células compõem o sistema fagocitário mononuclear, também conhecido pelo nome mais antigo (e incorreto) de sistema reticuloendotelial. Os monócitos circulantes são recrutados para a área de inflamação, aderem ao endotélio vascular e emigram para o tecido, transformando-se em macrófagos teciduais, que serão ativados. Tal ativação pode ocorrer por via não-imunológica, através da endotoxina, fibronectina e mediadores químicos ou através da via imunológica, com a presença de células T ativadas, que produzem citocinas, sendo a principal delas o Interferon gama (IFN-γ). A ativação macrocitária vai causar lesão tecidual, devido à produção de metabólitos tóxicos de oxigênio, proteases, 3 Inflamação Crônica | Larissa Gomes de Oliveira. fatores quimiotáticos dos neutrófilos, fatores de coagulação, metabólitos do ácido araquidônico e óxido nítrico. A fibrose ocorrerá porque os macrófagos produzem ainda fatores de crescimento (PDGF, TGF, TGF-β), citocinas fibrinogênicas, fatores de angiogênese (FGF) e colagenases de remodelamento. A presença de macrófagos do tecido cronicamente inflamado é garantida pelo recrutamento de monócitos no sangue, proliferação local de macrófagos e imobilização local dos macrófagos, sendo o primeiro mecanismo o mais importante. As células dominantes na maioria das reações inflamatórias crônicas são os macrófagos, que contribuem com a reação ao secretar citocinas e fatores de crescimento que agem em várias células, destruindo invasores estranhos e tecidos, bem como ativando outras células, em especial os linfócitos T. Nas reações inflamatórias, os monócitos começam a migrar para dentro dos tecidos extravasculares de forma bem rápida e, no intervalo de 48 horas, podem constituir o tipo celular predominante. O extravasamento dos monócitos é regido pelos mesmos fatores envolvidos na emigração dos neutrófilos; ou seja, as moléculas de adesão e os mediadores químicos com propriedades quimiotáticas e de ativação. Há duas vias principais de ativação dos macrófagos, chamadas de clássica e alternativa. Os estímulos que ativam os macrófagos por essas vias e as funções das células ativadas são bem diferentes. → Ativação clássica: caracterizada por alta capacidade de apresentar antígeno, alta produção de interleucinas (IL 12 E 23) e consequentemente ativação polarizada da resposta do tipo I, alta produção de intermediários tóxicos como óxido nítrico (ON) e espécies reativas de oxigênio (ERO). Há referências que chamam essa ativação clássica, como macrófagos chamados de M1. Sugere-se que essa via estimule a macrófagos efetores potentes que eliminam microrganismos e células tumorais ou doentes e produzem grandes quantidades de citocinas pró-inflamatórias. → Ativação da via alternativa: essa via é caracterizada pela ativação/modulação dos macrófagos por meio das IL-4 e IL-13. Os macrófagos ativados alternativamente são chamados de macrófagos M2, orientados a remodelamento e reparo tissular, resistência a parasitas, regulação de imunidade e promoção tumoral. Estes perdem, portanto, seu potencial pró-inflamatório. As células M2 tem reduzidos níveis de citocinas inflamatórias e secretam grandes quantidades de moléculas anti-inflamatóriascomo IL-10 e TGF-beta. A principal função dos macrófagos (M2) ativados de maneira alternativa consiste em atuar no reparo tecidual. Eles secretam fatores de crescimento que promovem a angiogênese, ativam os fibroblastos e estimulam a síntese de colágeno. Parece plausível que, em resposta à maioria dos estímulos lesivos, a primeira via de ativação seja a clássica, projetada para destruir os agentes agressores, seguindo-se, então, a ativação alternativa, que dá início ao reparo tecidual. No entanto, essa sequência tão precisa não é bem documentada na maioria das reações inflamatórias. 4 Inflamação Crônica | Larissa Gomes de Oliveira. Os produtos dos macrófagos ativados eliminam os agentes lesivos da mesma forma que fazem os microrganismos e o início do processo de reparo, mas também são responsáveis por grande parte da lesão tecidual na inflamação crônica. Várias funções dos macrófagos são vitais para o desenvolvimento e a persistência da inflamação crônica e da lesão tecidual que a acompanha. ▪ Os macrófagos, como o outro tipo de fagócito, os neutrófilos, ingerem e eliminam os microrganismos e os tecidos mortos. ▪ Os macrófagos iniciam o processo de reparo tecidual e estão envolvidos na formação de cicatrizes e fibrose. ▪ Os macrófagos secretam mediadores da inflamação, tais como as citocinas (TNF, IL-1, quimiocinas e outras, e eicosanoides). Dessa forma, os macrófagos são essenciais para a iniciação e a propagação das reações inflamatórias. Os macrófagos apresentam antígenos para os linfócitos T e respondem a sinais das células T, configurando, dessa forma, uma cadeia de retroalimentação que é essencial para a defesa contra muitos microrganismos por respostas imunológicas mediadas por células. FUNÇÃO DOS LINFÓCITOS Os linfócitos, que são células formadas na medula óssea, de núcleo volumoso e escasso citoplasma, estão presentes principalmente na inflamação crônica e também são responsáveis por produção de citocinas. Os linfócitos do tipo B, quando estimulados, se proliferam e se diferenciam em plasmócitos, células responsáveis pela produção de anticorpos. Já os linfócitos do tipo T, quando ativados, produzem citocinas como o interferon gama (IFN-γ), que ativam macrófagos, que por sua vez produzem mais citocinas, resultando em uma interação de modo bidirecional entre linfócitos e macrófagos, abastecendo e mantendo a inflamação crônica. A inflamação crônica é mediada por citocinas produzidas pelos linfócitos, principalmente linfócitos do tipo T, além disso, promovem mais apresentação do antígeno e mais secreção de citocinas. O resultado é um ciclo de reações celulares que abastece e tende a manter, ampliar e prolongar a inflamação crônica. Os linfócitos T e B (efetor e memória) estimulados pelos antígenos usam vários pares de moléculas de adesão (selectinas, integrinas e seus ligantes) e quimiocinas para migrar para os locais de inflamação. As citocinas dos macrófagos ativados, principalmente TNF, IL-1 e Disponível: <http://ortomolecular.comunidades.net/estudo-dirigido-1-imunologia-ufg> 5 Inflamação Crônica | Larissa Gomes de Oliveira. quimiocinas, promovem o recrutamento de leucócitos, preparando o campo para a persistência da resposta inflamatória. Em virtude de sua habilidade de secretar citocinas, os linfócitos T CD4+ promovem inflamação e influenciam a natureza da reação inflamatória. Essas células T aumentam de modo acentuado a reação inflamatória inicial que é induzida pelo reconhecimento de microrganismos e células mortas como parte da imunidade inata. Há três subtipos de células T CD4+ que secretam espécies diferentes de citocinas e produzem tipos de inflamação distintos. → TH1: produzem a citocina IFN-γ, que ativa os macrófagos através da via clássica. → TH2: secretam a IL-4, a IL-5 e a IL-13, que recrutam e ativam os eosinófilos e são responsáveis pela via alternativa da ativação dos macrófagos. → TH17: secretam a IL-17 e outras citocinas, que induzem a secreção de quimiocinas responsáveis pelo recrutamento de neutrófilos (e monócitos) para reação. Tanto as células TH1 quanto as TH17 são envolvidas na defesa contra muitos tipos de bactérias e vírus, bem como nas doenças autoimunes. As células TH2 são importantes na defesa contra parasitas helmínticos e nas reações alérgicas. O que acontece é: Os linfócitos e macrófagos interagem de forma bidirecional, e essas interações desempenham importante papel na propagação da inflamação crônica. Os macrófagos apresentam antígenos a células T, expressam moléculas de membrana (chamadas coestimuladores) e produzem citocinas (IL-12 e outras) que estimulam as respostas de células T. Os linfócitos T ativados, por sua vez, produzem citocinas as quais recrutam e ativam macrófagos, promovendo mais apresentação antigênica e seleção de citocinas. O resultado é um ciclo de reações celulares que abastecem e sustentam a inflamação crônica. OUTRAS CÉLULAS NA INFLAMAÇÃO CRÔNICA Outros tipos celulares podem ser proeminentes na inflamação crônica induzida por estímulos específicos. Algumas delas são: → Eosinófilos: são abundantes nas reações imunológicas mediadas por IgE e em infecções parasitárias. Seu recrutamento é acionado pelas moléculas de adesão, de modo similar àquele usado pelos neutrófilos e por quimiocinas específicas (p. ex., eotaxina) leucocitárias e células epiteliais. Os eosinófilos têm grânulos contendo a proteína básica principal, uma proteína altamente catiônica que é tóxica para parasitas, mas também causa lise das células epiteliais dos mamíferos. Por isso os eosinófilos são benéficos ao controle das infecções parasitárias, mas também contribuem para o dano tecidual nas reações imunológicas, como, por exemplo, alergias. → Mastócitos: são amplamente distribuídos nos tecidos conjuntivos e participam de ambas as reações inflamatórias, aguda e crônica. Os mastócitos expressam em sua superfície o receptor (Fc RI) que liga a porção Fc do anticorpo IgE. Nas reações de hipersensibilidade imediata, os anticorpos IgE ligados aos receptores Fc das células reconhecem especificamente o antígeno, desencadeando, assim, a desgranulação e a liberação de mediadores como histamina e prostaglandinas. Esse tipo de resposta ocorre durante as 6 Inflamação Crônica | Larissa Gomes de Oliveira. reações alérgicas aos alimentos, veneno de insetos ou fármacos, algumas vezes com resultados catastróficos (p. ex., choque anafilático). Os mastócitos também estão presentes nas reações inflamatórias crônicas e, pelo fato de secretarem um grande número de citocinas, podem promover reações inflamatórias em diferentes situações. → Neutrófilos: embora sejam característicos da inflamação aguda, muitas formas de inflamação crônica que duram por meses continuam a mostrar grandes números de neutrófilos, induzidos tanto por microrganismos persistentes quanto por mediadores produzidos pelos macrófagos ativados e linfócitos T. Na infecção bacteriana crônica do osso (osteomielite), um exsudato neutrofílico pode persistir por muitos meses. Os neutrófilos também são importantes no caso da lesão crônica induzida nos pulmões por tabagismo e outros estímulos irritantes. Esse padrão de inflamação é chamado de agudo e crônico. INFLAMAÇÃO GRANULOMATOSA A inflamação granulomatosa é uma forma de inflamação crônica caracterizada por coleções de macrófagos ativos, frequentemente com linfócitos T, e, algumas vezes, associada à necrose central. A formação de granulomas é uma tentativa celular de conter um agente agressor difícil de eliminar. Nessa tentativa, comumente existe intensa ativação dos linfócitos T levando à ativação dos macrófagos, que pode causar lesão aos tecidos normais. Os macrófagos ativos podem desenvolver um citoplasma abundante e começar a se parecer com células epiteliais, sendo chamados de células epitelioides. Alguns macrófagos ativos podem fundir-se, formandocélulas gigantes multinucleares. Existem dois tipos de granuloma, que diferem em suas patogêneses: → Granulomas de corpos estranhos: que são formados por corpos estranhos relativamente inertes, na ausência de respostas imunológicas mediadas por células T. Tipicamente, os granulomas de corpos estranhos se formam em torno de materiais como talco (associado ao abuso de droga intravenosa), suturas ou outras fibras que sejam grandes o suficiente para impedir a fagocitose por um único macrófago e não estimular nenhuma resposta inflamatória ou imunológica. As células epitelioides e as células gigantes são depositadas na superfície do corpo estranho. → Granulomas imunes: são causados por uma variedade de agentes capazes de induzir a resposta imunológica mediada por célula T. Em geral, esse tipo de resposta imunológica produz granulomas quando é difícil eliminar o agente iniciador, como é o caso de um microrganismo persistente ou autoantígeno. Em tais respostas, os macrófagos ativam as células T para produzir citocinas, como a IL-2, a qual ativa outras células T, perpetuando a resposta, e a IFN-γ, que ativa os macrófagos. 7 Inflamação Crônica | Larissa Gomes de Oliveira. REFERÊNCIAS ANDRADE, Bruno Augusto Benevenuto. Inflamação e reparação. Patologia Oral. Disponível em: < https://statics-submarino.b2w.io/sherlock/books/firstChapter/125586931.pdf> LEAL, Sarah. Inflamação Crônica. 13/11/2012. Disponível em: <http://petdocs.ufc.br/index_artigo_id_110_desc_Patologia_pagina__subtopico_49_busca_#: ~:text=A%20inflama%C3%A7%C3%A3o%20cr%C3%B4nica%20acontece%20dentro,reparar%20 os%20danos%20(cicatriza%C3%A7%C3%A3o)> Robbins & Cotran - Patologia - Bases Patológicas das Doenças 8ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2010. BRASILEIRO-FILHO, G. https://statics-submarino.b2w.io/sherlock/books/firstChapter/125586931.pdf
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