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Ética II

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ÉTICA GERAL 
E JURÍDICA
Willian Gustavo 
Rodrigues
 
Ética e Direito
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Explicar a aproximação entre ética, Direito e justiça.
  Identificar como a ética e a moral se relacionam com o Direito.
  Reconhecer a importância da ética no campo do Direito.
Introdução
A relação estabelecida entre a ética e o Direito é instrumento de debate 
desde a Antiguidade e continua atual até hoje. Tal relação é de extrema 
importância para que você possa compreender como a relação do Direito 
com a ética é o caminho norteador para que possamos alcançar a justiça 
na sociedade. Para que isso ocorra, você deve usar da investigação do 
pensamento e entender que um agir ético é a base do Direito, enquanto 
personificação de justiça e da intersubjetividade dos indivíduos.
Neste capítulo, você vai ler sobre os conceitos de ética, Direito e justiça 
e como eles se relacionam entre si, dentro de uma abordagem crítica do 
pensamento. Vai, ainda, compreender a diferença entre ética e justiça, e 
a sua relação com o Direito.
Aproximação entre ética, Direito e justiça
A tarefa de se estabelecer uma relação entre ética, Direito e justiça é árdua, 
devido à pluralidade de pontos de vista acerca da temática. Entretanto, é 
extremamente necessário tal exercício para contribuir com uma melhor com-
preensão da temática.
A palavra ética, etimologicamente, relaciona-se com duas palavras gregas: 
éthos e areté. Éthos, segundo a sua origem grega, pode ser entendida como 
“costume”, “uso” e “hábito”, mas também pode ser compreendida como ca-
ráter, temperamento, índole e maneira de uma pessoa ser. Já areté significa 
mérito ou qualidade que algum indivíduo tem de mais excelente ou as suas 
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virtudes: corpo, alma e inteligência. Areté foi traduzida para o latim como 
virtus (virtude). Ela ainda encontra relação com a palavra em latim morale 
(moral), com aplicação similar à conduta ou referente aos costumes.
Segundo Marilena Chauí (1995), a ética constitui uma forma de disciplina 
que auxilia na formação do caráter de determinado indivíduo, conforme a 
sua aspiração social. Ainda segundo a autora, não se pode pensar a ética, 
filosoficamente, sem relacioná-la diretamente ao agente ético. Nesse sentido, 
seria reponsabilidade da ética definir o agente ético e as suas atitudes. Nesse 
paradigma, o agente ético corresponde, então, ao sujeito consciente, que tem 
capacidade de discernimento para escolher, de forma livre, as suas ações e 
seja responsável pela consequência dos seus atos.
O sujeito dotado de consciência, ou seja, em seu perfeito estado de juízo, possui 
discernimento para identificar o certo do errado no decorrer das suas ações. Por isso, 
deve ser responsabilizado por seus atos quando estes provocam algum dano para o 
regular andamento da sociedade.
Direito tem origem no latim directum, derivada do verbo dirigere, que 
significa “ordenar”. Etimologicamente falando, podemos concluir que a palavra 
Direito significa “aquilo que é reto, que está em harmonia com a justiça”. 
Com a análise etimológica do vocábulo, podemos concluir que o Direito é a 
disciplina que estabelece normas a serem observadas por todos os indivíduos 
inseridos em determinadas sociedades. Essas normas estabelecem direitos e 
deveres que ninguém pode se abster de fazê-las, senão em virtudes indicativas 
das próprias normas que estabelecem os deveres e direitos.
O Direito, enquanto conjunto de normas, surge no anseio da sociedade 
de serem estabelecidas regras gerais para o convívio dos indivíduos. Essas 
normas possuem o caráter de estabelecer que cada indivíduo dentro da 
sociedade esteja em equilíbrio com todos os demais, tanto no campo dos 
direitos quanto dos deveres.
Justiça, por sua vez, é um conceito abstrato, que busca se relacionar com 
um estado ideal de interação social, ou seja, um estado em que haja uma re-
lação recíproca entre os seres no que tange às relações pessoais na sociedade. 
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Nessa relação, há um equilíbrio que, por si só, deve ser razoável e impessoal, 
estabelecendo uma igualdade entre as pessoas envolvidas nessa relação social. 
O conceito de justiça está relacionado diretamente ao conceito de Direito, pois 
é por meio do Direito que a justiça pode ser efetivada.
Dentro desse paradoxo, o Direito é visto como uma instituição ética, que 
trabalha sob os princípios de aplicações morais, aceitas como balizas de uma 
sociedade — como igualdade, liberdade, justiça, entre outras —, visando 
sanar as contradições existentes na sociedade.
Nesse sentido, podemos observar que a ética é norteadora do Direito na 
busca da justiça, uma vez que é amparada na aplicação das regras morais 
de convívio social, ou seja, é a consumação do indivíduo dentro do seu 
agir racional, e é justamente a racionalização do indivíduo que se relaciona 
intimamente com o Direito. Ademais, a utilização da ética dentro do Direito 
respalda-se no fato de estar inserida dentro das ciências humanas, dentro 
do contexto de investigação do pensamento, buscando a consolidação da 
justiça na construção das sociedades humanas.
Tanto na Idade Antiga quanto na Idade Medieval, a reflexão do pen-
samento na construção e compreensão do Direito era intimamente ligada 
à ética, buscando a construção do justo. O exercício de reflexão de ética 
e finalidade do Direito era o objeto de debate dessa reflexão, tentando 
compreender, com clareza, qual a finalidade do Direito ou para que serve 
o Direito. Para a maioria desses estudiosos, o Direito sempre representou 
um avanço na humanidade no que tange ao balizamento de aspectos que 
levariam a um avanço social:
  para Platão, o Direito teria por essência a busca pela justiça;
  para Aristóteles, seria o bem comum e a felicidade de toda a comuni-
dade política; 
  para Espinosa, seria a felicidade dos súditos;
  para Hobbes, seria a cessação da guerra de todos contra todos;
  para Rousseau, seria a supremacia da vontade geral;
  para Hegel, seria a máxima expressão do ethos de um determinado povo.
 Todos esses filósofos, como já mencionado, viam o Direito sempre pela 
perspectiva nobre ou positiva. Somente alguns pensadores sofistas, na An-
tiguidade, buscaram debater o Direito como instrumento de dominação de 
determinados grupos aos demais.
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Para saber sobre o tema, leia Ética a Nicômaco, de Aristóteles.
Já na Idade Moderna, mais especificamente no pensamento do filósofo 
alemão Immanuel Kant, o discurso filosófico-jurídico passa por uma cisão. 
Kant afasta, epistemologicamente, Direito e ética, demonstrando que esses dois 
conceitos possuem realidades distintas, logo o Direito e a ética deveriam estar 
separados tanto da ética quanto da justiça. Kant, que inaugura o pensamento 
crítico na investigação do pensamento, demonstrou que o Direito deveria ser 
um mero dever–ser decorrente da norma, ou seja, no pensamento kantiano, o 
conhecimento seria apenas um método que busca equacionar a possibilidade 
se estabelecer juízos de valores universais.
Para Kant, na sua teoria transcendental, que tem por objeto de estudo o 
conhecimento, haveria juízos a priori e a posteriori — juízos analíticos e 
sintéticos — na construção dessa teoria. O juízo a priori é decorrente da razão 
pura que representa o conhecimento universal. Ele não tem seus fundamentos 
na experiência, mas no conhecimento humano que se fundamenta na realidade 
fenomenológica, por exemplo, o tempo. Já no juízo a posteriori, a lógica se 
inverte, ele encontra seu fundamento nas experiências.
Nos juízos analíticos, o atributo explicita o que é evidente no sujeito, por 
exemplo, um quadrado tem quatro lados. Ele já é implícito ao próprio sujeito. 
Por outro lado, nos juízos sintéticos, o atributo é algo que anteriormente 
não pertencia ao sujeito, por exemplo, a capado livro é de couro. Usando 
essa metodologia, Kant (2005), na obra Fundamentação metafísica dos 
costumes, observa que, na análise do Direito e da ética, há uma realidade 
normativa dúplice na organização social: uma interna e outra externa. A 
realidade interna diz respeito à ética, repleta de imperativos categóricos 
e foro íntimo. Já a realidade externa é a realidade normativa, do Direito, 
dotada de imperativos hipotéticos e foro externo. Kant destaca que as duas 
realidades regulamentam as ações dos indivíduos, mas a grande diferença 
é que somente o Direito possui a força coercitiva, ou seja, a força capaz de 
impor penas, sansões e limites dentro do Estado Moderno.
Essa inovação iniciada por Kant mudou a forma como o Direito passou a 
ser entendido. A finalidade do Direito passou a ser analisada não mais como 
sinônimo de justiça, mas como objeto de controle do poder do soberano/
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Estado, ou mesmo como instrumento garantidor dos direitos fundamentais 
visando à pacificação sócia, ou ainda como aparelho do Estado com o objetivo 
de harmonizar as relações econômicas, sociais, ideológicas e políticas dentro 
de uma determinada sociedade específica.
Essa concepção de crítica ao Direito retornaria nos estudos de Karl Marx, 
quando este procurou demonstrar que o Direito sempre seria uma ideologia 
e uma força a serviço das classes dominantes, para que esses mantivessem o 
controle político e a força repressora do aparelho Estatal.
Podemos observar que, sobre os conceitos e a aproximação de Direito, ética 
e justiça, há diferentes análises de acordo com o contexto sócio-histórico em 
que o pensamento está inserido. Esses conceitos exprimem a manifestação 
ideológica do status quo hegemônico. Para tanto, analisaremos esses conceitos 
dentro do contexto histórico em que estamos inseridos.
Como é estabelecida a relação entre 
ética, moral e Direito?
Após vermos como a ética, o Direito e a justiça se aproximam, vamos com-
preender como essa relação é estabelecida e como as normas de conteúdo 
moral se dão em determinado contexto histórico, em determinada sociedade.
Para compreender a relação entre ética e moral com o Direito, vamos ver 
primeiro a diferença entre a ética e a moral.
Como podemos perceber, a ética descende das palavras gregas ethos e 
areté. Contudo, vamos nos ater apenas à origem ethos, que significa “cos-
tume”, “hábito”. Por sua vez, as regras de conteúdo moral são valores apli-
cados no cotidiano de uma sociedade em determinado momento histórico. 
Essas regras são norteadoras do comportamento social de cada indivíduo, 
agindo internamente ao indivíduo e determinando o seu comportamento 
no seu próprio julgamento sobre o que é moral/imoral, certo/errado, bom/
mau, entre outros.
Em um primeiro momento, ao analisar esses dois conceitos, podemos cair 
no erro de pensar que tanto ética quanto moral são sinônimos, uma vez que, 
na prática, serão responsáveis por conduzir as bases da conduta individual e/
ou coletiva dos indivíduos em sociedade, determinando as suas ações sempre 
para a conduta mais aceita no agir comportamental em sociedade.
Entretanto, há algumas diferenças que merecem destaque. Ainda que 
ambas sejam normas que buscam conduzir o comportamento social, cabe 
à ética o exercício da racionalização sobre as normas de conteúdo moral, 
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visando identificar se essas normas morais ainda estão condizentes com o 
comportamento histórico-social vigente. Assim, deve a ética refletir e adequar 
as normas morais ao contexto social.
Por exemplo, em determinada sociedade, é proibido que as mulheres usem calça 
comprida. Cabe à ética refletir se essa norma de conteúdo moral está de acordo 
ou em desacordo com a evolução histórica daquela sociedade. Com a reflexão da 
ética, entendendo que determinada norma moral não está mais em harmonia com 
o contexto histórico vigente, levará a uma alteração da norma moral, fazendo aquilo 
que antes era imoral se tornar moralmente aceito.
Para compreendermos, com mais clareza, as relações entre ética, moral 
e Direito, vamos voltar ao pensamento kantiano e nos aprofundar um pouco 
nele. Para Kant, a ética se dividiria em dois aspectos:
  em um sentido amplo, ela é a ciência das leis da liberdade, que se 
dividem em morais e jurídicas;
  em sentido estrito, ela é a teoria da virtude, diferenciando-se do Direito.
Nesse sentido, Direito e moral são formas particulares de uma legislação 
universal, sendo que os princípios éticos, em sentido amplo, estão inseridos 
nessa legislação universal.
Especificamente em Metafísica dos costumes, Kant trata das diferenças 
entre a moral e o Direito. Essas bases são as questões preliminares na pro-
blemática da filosofia do Direito. Entre as diferenças apresentadas por Kant 
(2005), devemos destacar três:
  a diferença entre moralidade e legalidade; 
  a diferença entre autonomia e heteronomia; 
  a diferença entre hiperativos categóricos e imperativos hipotéticos.
A diferença entre moralidade e legalidade consiste nos motivos da ação e 
tem por base a relação de boa vontade, que não é uma imposição de nenhuma 
coação legal ou determinado interesse, mas tão somente pelo respeito ao dever. 
Dessa forma, temos moralidade quando qualquer ação é cumprida por simples 
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dever, ou seja, quando não há qualquer imposição externa para o cumprimento 
dessa determinada ação. A legalidade está intimamente ligada à questão do 
dever, seguindo alguma inclinação ou interesse. Kant exemplifica como quando 
um comerciante não explora a ingenuidade de um cliente. Ele age assim não 
porque seja o seu dever, mas porque seja do seu próprio interesse esse agir. 
A autonomia e a heteronomia estão implicadas também na separação 
entre o Direito e a moral. A autonomia é a qualidade que a vontade tem 
por si só, quando ela não deriva de nenhum ato de coação. Por exemplo, 
a vontade moral é uma vontade autônoma, pois parte exclusivamente do 
sujeito que pretende ou não fazer determinada ação. Já a heteronomia é uma 
vontade derivada de uma outra vontade, por exemplo, a vontade (coerção) 
estatal. Podemos concluir que, quando um indivíduo age conforme a sua 
vontade, essa conduta está inserida dentro da moralidade (autonomia); 
já quando ela deve obediência às normas jurídicas, ela está dentro da 
legalidade (heteronomia).
Há ainda os imperativos categóricos e hipotéticos. Categóricos são os 
imperativos que indicam que uma ação é boa por si mesma. Por exemplo, 
quando se diz que mentir é errado e não se deve mentir, chegamos a essa 
conclusão por meio de um juízo categórico. Os imperativos hipotéticos são 
aqueles que determinam uma ação boa para alcançar um fim específico. Por 
exemplo, caso você não queira ser preso pelo crime de furto, você não deve 
furtar nada. Recebem o nome de imperativos hipotéticos, pois são declarados 
por meio de juízo hipotético.
Podemos perceber que essas diferenças estabelecidas, segundo o pen-
samento kantiano, não eliminam a essência comum entre os imperativos. 
A essência da moral e do Direito possui um elo comum dentro da teoria de 
Kant, que é a liberdade.
A filosofia kantiana investiga duas esferas: a esfera da natureza, que estuda a possi-
bilidade da legalidade de determinada ação que advém da ciência, e a da liberdade, 
também podendo ser chamada de vontade ou razão prática. Ela investiga a possibi-
lidade da legalidade a partir de um fato não externo; a lei moral como único fato da 
razão. A liberdade aparece sendo a própria lei moral, que busca a validade não de 
forma externa, mas dentro da própria razão, aparecendo na forma de um imperativo 
categórico.
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Estabelecida a relação, na filosofia kantiana, entre o Direito e a moral, 
devemos compreender que o imperativo categórico é o elemento superior nabusca do ético dentro do Direito e da moral. Tanto na busca do ético no Direito 
quanto da moral, o imperativo categórico é critério de validade na busca do 
cumprimento tanto das normas jurídicas quanto das normas de conteúdo moral, 
na busca do agir ético simplesmente por ser aceito, não por uma imposição 
exterior na vontade do indivíduo.
Dessa forma, a ética trabalha como um mecanismo de racionalizar a apli-
cação tanto da moral quanto do Direito, questionando a lógica da sua aplica-
bilidade na legislação universal, como definida por Kant. Ou ainda buscar, 
mesmo que utopicamente, um agir ético por si só, sem uma coação moral ou 
estatal para o bom desenvolvimento da sociedade, como indicado por Kant 
nos seus imperativos categóricos. 
Qual é a importância da ética no Direito?
Após analisarmos os conceitos de ética, moral e Direito, a sua aplicabilidade 
na prática e como eles buscam uma harmonização das relações sociais, vamos 
nos aprofundar nessa temática. Após analisar essas questões preliminares, a 
pergunta que ainda fi ca é: qual é a importância da ética no Direito?
Para responder a essa questão, devemos fazer uma conceituação do que 
seria ética no Direito. Quando falamos de ética no Direito, podemos entendê-la 
tanto como um conjunto de regras de condutas que regulam a profissão dos 
operadores do Direito quanto a forma de abordagem do Direito, ou seja, como 
o Direito pode ser aplicado de modo ético, questionando a sua viabilidade e 
se determinada lei, ou entendimento jurisprudencial dos tribunais, está no 
caminho para que o valor abstrato de justiça se torne real.
A razão de a ética estar em evidente destaque desde a Antiguidade deve-se 
a um desvirtuamento na conduta social, refletindo em violência, egoísmo, 
indiferença nas relações intersubjetivas, entre outros. Como o Direito possui 
o monopólio da coerção estatal para regulamentar o modus operandi social 
e realizar uma harmonização social, é imprescindível que haja ética na sua 
aplicação. Isso porque devem existir limites até na atuação estatal, para que 
não haja abuso e o Estado não interfira em questões pessoais do indivíduo, 
como, por exemplo, se cabe ao Estado coibir que qualquer indivíduo faça 
uso de substâncias psicotrópicas.
Por essa razão, o uso da ética dentro do Direito se faz necessário na 
busca por uma sociedade mais democrática, pois, para que haja demo-
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cracia, o indivíduo tem de possuir consciência de que sua participação é 
indispensável ao bom exercício do Direito. Mesmo que os aplicadores do 
Direito não possam ser eleitos, os legisladores, esses possuindo a com-
petência legiferante, são eleitos e se tornam representantes dos eleitores. 
Como o Legislativo faz as leis, acaba exercendo um controle sobre quais 
normas devem ser aplicadas. Assim, cada poder tem sua atuação dentro da 
estrutura estatal com sua competência dentro da teoria de tripartição dos 
poderes de Montesquieu. Se os indivíduos não possuem uma consciência 
que o sistema é integralizado, podem ver os seus direitos sucumbirem por 
falta de participação política.
Ademais, a ética deve estar presente em todas as relações sociais, mas 
principalmente no modo operacional como é estabelecido o Direito, pois as 
contradições na sociedade exigirão um mínimo de formação moral norteadora 
da busca pelo justo de todos os operadores do Direito.
Para nortear taxativamente essas questões, há dentro do Direito a ética 
jurídica. Para compreendermos melhor esse conceito, devemos partir do 
pressuposto de que a ética profissional é um conjunto de valores que regulam 
determinada atividade profissional, visando a uma boa conduta dentro do 
seu espaço profissional. Trazendo essa realidade para dentro do Direito, a 
ética jurídica é um conjunto de regras de conduta que regulam a atividade 
jurisdicional, visando à busca do justo, bem como a preservação da imagem 
relacionada ao operador do Direito.
A ética jurídica é uma categoria própria dentro da orientação prática de cada operador 
do Direito. Ela se encontra paralelamente às orientações determinadas tanto pelas 
normas objetivas quanto pelas normas processuais. As normas éticas jurídicas podem 
ser codificadas — código de ética — inclusive vindo a impor sansões àqueles que não 
as cumprem, vindo sempre ser formulada dentro da experiência prática do operador 
do Direito.
Dentro da construção desse dever ético ao operador do Direito, há como 
disciplina dentro da filosofia do Direito a deontologia. A deontologia nos 
explica os direitos, os deveres e as prerrogativas dos operadores do Direito, 
além dos próprios fundamentos éticos.
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A deontologia tem sua origem etimológica do grego deontos, que sig-
nifica dever, e logos, que significa tratado. Essa expressão foi criada pelo 
filósofo inglês Jeremy Bentham, na obra Deontologie or science of morality, 
de 1834. Ela estabelece a teoria do dever, ou seja, ela se estabelece como 
ciência dos deveres dos indivíduos em geral, tanto os cidadãos quando os 
profissionais, bem como das normas. Essa mesma deontologia foi abordada 
por Kant em dois conceitos: razão prática e liberdade; como já abordamos 
neste capítulo.
A deontologia, por se tratar de uma disciplina norteadora do dever de 
agir dos indivíduos, é sempre necessária desde os estudos iniciais do Direito 
para que se comece a trabalhar com a lógica da ética dentro da sua atuação 
profissional, visando sempre um exercício racional na busca pelo justo.
Para ficar claro como a ética jurídica está inserida no nosso ordenamento jurídico, 
citemos o exemplo do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil 
(OAB), dado por um ato administrativo do Conselho Federal da OAB, que estabelece 
princípios e impõe medidas disciplinares para a conduta profissional dos advogados 
dentro das funções e prerrogativas no exercício das suas funções.
Mais do que uma estrutura de aplicação moral que regula a estrutura pro-
fissional dos operadores do direito, a ética é um instrumento que induz dentro 
Direito a busca pelo justo, refletindo as normas morais que podem ou não 
ser transformadas em normas jurídicas dentro de determinado ordenamento 
jurídico em uma sociedade.
Dessa forma, tentar reduzir a ética a determinada estrutura ou determi-
nada categoria é limitar a racionalização do pensamento e do senso crítico 
dentro da estrutura social. A ética se perfaz como ferramenta-chave para 
o debate e questionamento da própria estrutura, para que não aceitemos 
nossa estrutura e condição dentro da estrutura como certa e imutável, ou 
mesmo como excluídos dentro da estrutura, sentindo-nos apenas sujeitos 
de direito dentro da análise formal, mas não material. Portanto, uma ética, 
como já foi dito, dentro do Direito pressupõe democracia e, para alcançar 
essa democracia, somente por meio da participação de todos os indivíduos 
de determinada sociedade.
Ética e Direito10
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CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995. 
KANT, I. Fundamentação metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2005.
Leituras recomendadas
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Brasília: Universidade de Brasília, 2001.
BITTAR, E. C. B.; ALMEIDA, G. A. de. Curso de filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2010.
COSTA, A. C; GONZALES, E. T. Ética, Direito e justiça. Cadernos do Direito, v. 6, n. 10, 2006. 
Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-unimep/index.php/cd/
article/view/646>. Acesso em: 7 abr. 2018.
CRETELLA JÚNIOR, J. Curso de filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
KANT, I. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultura, 1980.
11Ética e Direito
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https://www.metodista.br/revistas/revistas-unimep/index.php/cd/
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, vocêencontra a obra na íntegra.
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