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Psicopedagogia Psicopedagogia: Histórico, Fundamentos e Atuação

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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância 
 
 
 
 
 
 
Psicopedagogia 
 
Psicopedagogia: Histórico, 
Fundamentos e Atuação 
 
 
 
 
 
Autor: Marta Brostolin 
 
 
EAD – Educação a Distância 
Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação 
 
 
 
 
2 
www.eunapos.com.br 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA ..................... 03 
1.1 Na Europa ......................................................................................................... 03 
1.2 Nas Américas: EUA e Argentina ....................................................................... 03 
1.3 No Brasil ............................................................................................................ 05 
1.4 A Psicopedagogia no estado de Mato Grosso do Sul ....................................... 07 
 
UNIDADE 2 – CONCEITUAÇÃO, OBJETO DE ESTUDO E BASES 
EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA ..................................................... 10 
2.1 Conceito e Caracterização ................................................................................ 10 
2.2 Objeto de estudo da Psicopedagogia ................................................................ 12 
2.3 Bases epistemológicas da Psicopedagogia ...................................................... 16 
2.4 Campos de atuação: o psicopedagogo e seus âmbitos de intervenção ............ 19 
2.5 Abordagem psicopedagógica da aprendizagem e os problemas decorrentes do 
processo .................................................................................................................. 26 
 
UNIDADE 3 – O PSICOPEDAGOGO: FORMAÇÃO E IDENTIDADE DESTE 
PROFISSIONAL ..................................................................................................... 35 
3.1 A formação como ponto de partida ................................................................... 35 
3.2 Perfil, competências e habilidades .................................................................... 36 
3.3 A Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp ........................................ 39 
 
UNIDADE 4 – O PSICOPEDAGOGO E OS NOVOS DESAFIOS EDUCATIVOS .. 43 
4.1 Desafios da escola atual ................................................................................... 43 
4.2 O contexto educacional: a escola, a sala de aula, que espaços são estes? ..... 47 
4.3 A Psicopedagogia como instrumento no auxílio à prática docente ................... 55 
 
 
 
 
3 
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UNIDADE 1 - TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA 
1.1 Na Europa 
 
A Psicopedagogia não nasceu no Brasil e tampouco na Argentina. Ela teve 
sua origem na Europa, ainda no século XIX. Inicialmente, pensaram sobre o 
problema de aprendizagem os filósofos, os médicos e os educadores. 
 O nascimento da Psicopedagogia ocorreu na Europa do século XIX. 
Todavia, o ano preciso ainda não é um dado consensual na literatura. Segundo 
Andrade (2004), ele teria acontecido na década de 1920, momento em que se 
instituiu o primeiro Centro de Psicopedagogia do mundo. Ligado ao pensamento 
psicanalítico de Lacan, tal centro, de acordo com a autora, fundamentou aquilo que 
posteriormente foi nomeado de Psicopedagogia Clínica. Bossa (1994) e Masini et al. 
(1993), por outro lado, apontam que a Psicopedagogia teria nascido no ano de 1946, 
período em que se deu a criação dos primeiros Centros Psicopedagógicos na 
Europa, em Paris, por Juliette Favez-Boutonier e George Mauco com direção médica 
e pedagógica. O nome “Centro Psicopedagógico” foi escolhido propositadamente, 
para que os pais das crianças consideradas portadoras de “problemas” 
encaminhassem os seus filhos com menos constrangimento, sugerindo que a 
consulta seria de caráter psicopedagógico e não médico. 
 Estes Centros uniam conhecimentos das áreas de Medicina, Psicologia, 
Psicanálise e Pedagogia e tentavam readaptar crianças com comportamentos 
socialmente inadequados na escola ou no lar, bem como atender crianças que 
apresentavam dificuldades de aprendizagem na escola apesar de serem inteligentes 
(MERY apud BOSSA, 2000, p. 39). 
 
1.2 Nas Américas: EUA e Argentina 
Nos Estados Unidos, o mesmo movimento se desenrolava, porém a ênfase 
dada era maior nos aspectos médicos, dando um caráter biológico à abordagem das 
dificuldades de aprendizagem. 
Na segunda década do Século XX, surgem os primeiros centros de 
reeducação para delinquentes infantis nos Estados Unidos e na Europa. Cresce o 
 
 
 
 
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número de escolas particulares e de ensino individualizado para crianças 
consideradas de aprendizagem lenta. Por volta de 1930, surgem na França os 
primeiros centros de orientação educacional infantil, com equipes formadas por 
médicos, psicólogos, educadores e assistentes sociais (MERY apud BOSSA, 2000, 
p.11). 
Esperava-se através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia, 
conhecer a criança e o seu meio, para que fosse possível compreender o caso para 
determinar uma ação reeducadora. Diferenciar os que não aprendiam, apesar de 
serem inteligentes, daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou 
sensorial era uma das preocupações da época. 
Em seu percurso inicial, observou-se que a Psicopedagogia teve uma 
trajetória significativa tendo primeiramente um caráter médico-pedagógico, do qual 
fazia parte uma equipe do Centro Psicopedagógico: médicos, psicólogos, 
psicanalistas e pedagogos. 
Somente a partir da década de 50 é que ela se configura na América do Sul. 
A Argentina, pioneira na América Latina, dá início à formação universitária em 1956. 
Tendo como precursora a européia Arminda Aberastury, professora, pediatra e 
psicanalista e o argentino, Jorge Visca, considerado o pai da Psicopedagogia 
(criador do Instituto de Psicopedagogia da Argentina, na década de 60) e 
responsável direto pela definição oficial da Psicopedagogia como área de 
conhecimento. 
Na década de 70, surgiram em Buenos Aires, os Centros de Saúde Mental, 
onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento. Estes 
profissionais perceberam, um ano após o tratamento, que os pacientes resolveram 
seus problemas de aprendizagem, mas desenvolveram distúrbios de personalidade 
como deslocamento de sintoma. Resolveram então incluir o olhar e a escuta clínica 
psicanalítica, perfil atual do psicopedagogo argentino. 
A corrente européia influenciou a Argentina, que passou a atender as 
pessoas portadoras de dificuldade de aprendizagem, realizando um trabalho de 
reeducação. Os conhecimentos da Psicanálise e da Psicologia Genética, além de 
todo o conhecimento de linguagem e de psicomotricidade, eram acionados para 
melhorar a compreensão das referidas dificuldades. 
 
 
 
 
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Na Argentina, a Psicopedagogia tem um caráter diferenciado da 
Psicopedagogia no Brasil. Naquele país são aplicados testes de uso corrente, 
“alguns dos quais não são permitidos aos brasileiros por serem considerados de uso 
exclusivo dos psicólogos” (BOSSA, 2000, p. 58). 
[...] os instrumentos empregados são mais variados, recorrendo o 
psicopedagogo argentino, em geral, a provas de inteligência, provas 
de nível de pensamento; avaliação do nível pedagógico; avaliação 
perceptomotora; testes projetivos; testes psicomotores; hora do jogo 
psicopedagógico (Id. Ibid., 2000, p. 42). 
 
1.3 No Brasil 
Já o movimento da Psicopedagogia no Brasil remete ao seu histórico na 
Argentina. Devido à proximidade geográfica e ao acesso fácil à literatura (inclusive 
pela facilidade da língua), as idéias dos argentinos muito têm influenciado a nossa 
prática. 
A Psicopedagogia chegou ao Brasil na década de 70, em uma época cujas 
dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma disfunção neurológica 
denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste período, 
servindo para camuflar problemas sociopedagógicos (BOSSA, 2000, p. 48-49). 
A Psicopedagogia surge juntamentecom a criação da Escola Guatemala, no 
Rio de Janeiro, na década de 80. Esta escola iniciou um trabalho na ação preventiva 
junto ao professor, ou seja, buscavam-se saídas para as impropriedades do ensino. 
Porém, desde a década de 60, a Psicopedagogia começou a se estruturar no Brasil 
através de trabalhos de alguns autores brasileiros. Nesta época, a preocupação 
estava voltada mais para as deficiências que geravam problemas de aprendizagem, 
do que a outros fatores. 
1.3.1 Traços Históricos da Psicopedagogia no Brasil 
Pode-se destacar como traços da Psicopedagogia no Brasil os seguintes: 
 Desmembramento das faculdades de educação em faculdade de 
Pedagogia e Psicologia. 
 Comprometimento do currículo. 
 
 
 
 
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 Demanda por profissionais mais qualificados. 
 Revisão curricular na universidade e busca por um referencial mais 
globalizante e menos tecnicista no final dos anos 70 e início da década de 
80. 
 Profissionais que trabalhavam com crianças com problemas de 
aprendizagem buscam um aprofundamento maior. 
 Pesquisas na Argentina e a vinda ao Brasil do Professor Quirós. 
 Influência de trabalhos de outros países através de uma bibliografia 
consistente. 
 Criam-se os primeiros cursos com enfoque psicopedagógico no início da 
década de 70 na PUC/São Paulo. 
 Profissionais que atuavam nas escolas não tinham visão clara dos 
problemas de aprendizagem. 
 Distância entre o acesso à produção de Piaget e a prática escolar 
gerando inquietude nos profissionais. 
 A busca por um caminho que possibilitasse uma visão mais abrangente 
que incluísse aspectos psicomotores, cognitivos e emocionais envolvidos na 
aprendizagem. 
 Cria-se em 1979, em São Paulo, no Instituto Sedes Sapientiae, o primeiro 
curso regular de Psicopedagogia. 
 A partir da década de 80 surgem os cursos de especialização Lato Sensu 
em Psicopedagogia, a princípio em São Paulo e, posteriormente, em outras 
instituições e regiões do Brasil. 
 
Sampaio (2006) confirma que o Brasil recebeu influências tanto americanas, 
quanto europeias, através da Argentina. Notadamente no sul do país, a entrada dos 
estudos de Quirós, Jacob Feldmann, Sara Paín, Alicia Fernández, Ana Maria Muñiz 
e Jorge Visca enriqueceram o desenvolvimento desta área de conhecimento no 
 
 
 
 
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Brasil, sendo Jorge Visca um dos maiores contribuintes da difusão psicopedagógica 
no Brasil. 
Visca foi o criador da Epistemologia Convergente, uma linha teórica que 
propõe um trabalho com a aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas 
da Psicologia: Teoria Psicogenética de Piaget; Escola Psicanalítica (Freud); e a 
Escola de Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière. Visca propõe o trabalho com 
a aprendizagem, em que o principal objeto de estudo são os níveis de inteligência, 
com as teorizações da psicanálise sobre as manifestações emocionais que 
representam seu interesse. 
 
1.4 A Psicopedagogia no Estado de Mato Grosso do Sul 
Em Mato Grosso do Sul, a Psicopedagogia começou a escrever sua história 
em 1994, quando a UCDB/Universidade Católica Dom Bosco, ofereceu à 
comunidade o primeiro curso Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional 
da região Centro-Oeste. Por ser uma nova área de conhecimento, a sociedade de 
modo geral desconhecia e estranhava o nome e seu campo de atuação. A pergunta 
que se ouviu durante muito tempo foi, psico o quê? O que faz o psicopedagogo? É 
uma espécie de psicólogo? 
A partir desta primeira turma, muitas outras se constituíram, sendo que a 
UCDB continua oferecendo a formação em Psicopedagogia clínica e institucional, 
gozando de muita credibilidade e reconhecimento da sociedade, em função da 
proposta pautada na formação de um profissional multiespecialista em 
aprendizagem humana, que congrega conhecimentos de diversas áreas, a fim de 
intervir nesse processo, seja para potencializá-lo ou para sanar possíveis 
dificuldades, utilizando instrumentos próprios da Psicopedagogia. 
 
A Psicopedagogia no interior do Estado do MS tem seu início em 2003. Se 
por um lado, pretendia apenas atender à demanda das escolas que acumulavam 
interrogações sobre o processo de aprendizagem de seus alunos, sobretudo, 
daqueles que tinham as dificuldades aparentes na atividade do aprender, por outro 
 
 
 
 
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buscavam apenas responder a essas indagações num plano mais restrito de 
Psicopedagogia. 
Nesse sentido, ao que tudo indica pretendia-se que educadores, dos diversos 
níveis de ensino, tivessem essa formação para explicarem melhor suas próprias 
práticas ante aqueles aprendizes que não conseguiam aprender, acompanhar os 
conteúdos, passar o ano letivo obtendo as médias necessárias ou satisfatórias, etc. 
Sendo assim, formar-se como psicopedagogo era sinônimo de conhecer melhor sua 
prática, só isso. 
Contudo, se por um lado, pretendiam ampliar a formação do professor, 
promovendo a especialização, mais a título de melhorias salariais, por outro não 
ofereceram subsídios melhores para a aplicação da psicopedagogia tanto no 
contexto clínico, quanto no institucional. Em outras palavras, havia uma melhoria de 
salário apenas, enquanto que a efetivação da prática psicopedagógica ficava 
relegada à posterioridade. 
Isso pode ser visto e entendido nos dias atuais quando são encontrados 
profissionais que se dizem psicopedagogos, mas não exercem a prática, nem sequer 
sabendo qual o contexto clínico e qual contexto institucional pode ser efetivada essa 
atuação. 
Dessa forma, uma vez que as estruturas curriculares “deixaram a desejar” 
muitos alunos desses cursos retornaram, posteriormente, às salas de aula para 
refazerem a especialidade. 
A partir do curso oferecido pela UCDB, alguns psicopedagogos criaram um 
grupo de estudos, denominado mais tarde de núcleo, vinculado a ABPp – 
Associação Brasileira de Psicopedagogia – em São Paulo. 
 
Exercício 1 
1. A Psicopedagogia não nasceu no Brasil e nem na Argentina, nasceu na 
Europa no século XIX, mas esse dado não é consensual na literatura, 
portanto, assinale a afirmativa INCORRETA: 
a) Segundo Andrade (2004), surgiu em 1920 com o primeiro Centro de 
Psicopedagogia. 
b) Bossa (1994) e Massini (1993) apontam que a Psicopedagogia teria nascido no 
 
 
 
 
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ano de 1946, período em que se deu a criação dos primeiros Centros 
Psicopedagógicos na Europa, em Paris. 
c) Surgiu na França em 1870, através do Centro de Psicopedagogia ligado ao 
pensamento psicanalítico de Lacan. 
d) Segundo Souza (2003) surgiu em 1920 o primeiro Centro de Psicopedagogia. 
 
2. O movimento da Psicopedagogia no Brasil remete ao seu histórico na 
Argentina, devido à proximidade geográfica e ao acesso fácil à literatura. Qual 
a alternativa que não condiz com os traços históricos da Psicopedagogia no 
Brasil? 
a) Pesquisas na Argentina e a vinda ao Brasil do Professor Quirós. 
b) A ausência de uma bibliografia consistente. 
c) Criam-se os primeiros cursos com enfoque psicopedagógico no início da década 
de 70 na PUC/São Paulo. 
d) A consistência de uma bibliografia da Argentina. 
 
3. Jorge Visca criou uma linha teórica que propõe um trabalho com a 
aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Teoria 
Psicogenética; Escola Psicanalítica e a Escola de Psicologia Social. Sua linha 
teórica denomina-se: 
a) Epistemologia Convergente. 
b) Epistemologia Psicogenética. 
c) Epistemologia Psicopedagógica. 
d) Epistemologia Divergente. 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 2 - CONCEITUAÇÃO, OBJETO DE ESTUDO E BASES 
EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA 
2.1 Conceito e Caracterização 
Para Neves, apud Bossa (2000, p.6): 
Falar sobre Psicopedagogia é, necessariamente, falar sobre a 
articulação entre educação e psicologia, articulação essa que desafia 
estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora presente quase 
sempre no relato de inúmerostrabalhos científicos que tratam 
principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o termo 
Psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão 
conceitual. 
 
O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa define o termo 
psicopedagogia como “aplicação da psicologia experimental à pedagogia” (1992, 
p.111). 
De acordo com Kiguel apud Bossa (2000, p.7), que também tem contribuído 
para o processo de construção do saber psicopedagógico: “a Psicopedagogia 
historicamente surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das 
necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem, 
consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional”. 
 
Fonte: http://www.enscer.com.br/neuroeducacao/inclusao/imagens/Image3.gif 
 
Inicialmente, a Psicopedagogia foi usada de forma adjetiva, indicadora da 
inevitável intercessão desses dois campos do conhecimento que, em virtude do 
desenvolvimento científico havido, tornaram-se campos separados. Dentro dessa 
conotação adjetiva da Psicopedagogia, alguns autores, principalmente pertencentes 
ao campo pedagógico, no final da década de 70 e início dos anos 80 no Brasil, 
 
 
 
 
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chamaram de “atitude psicopedagógica” o que na verdade era um “psicologismo 
radical”. 
O que esses autores não pareciam perceber era a influência humanista1 na 
educação, em diversos momentos e, sobretudo, nos anos 60 e 70, de duas 
correntes opostas da Psicologia que, tomadas como base teórica, traziam 
procedimentos pedagógicos diferentes. Por um lado, havia os aspectos da teoria 
behaviorista, assumidos de forma absoluta, o que levou à apologia das listagens das 
instruções programadas, tão ao gosto da época. Essa tecnologia de ensino parecia 
descartar por definitivo o papel do professor e colocava o aluno apenas como uma 
peça de engrenagem, submisso a um processo que lhe era imposto e no qual tinha 
pouca ou quase nenhuma participação criadora. 
Por outro lado, o movimento humanista, liderado pelas correntes rogerianas, 
alcançava também a escola. Assim, ambas as abordagens aplicadas à Educação 
tinham como secundário o aspecto social do sujeito, descartando a possibilidade 
dele ser, igualmente, um fator decisivo na aprendizagem e fracasso escolar. 
Surge então, no início da década de 80, um movimento que, apoiado no 
materialismo dialético, advogava para o social. Porém, essa corrente também 
acabou perdendo a visão interdisciplinar e a multiplicidade de aspectos que o ser 
humano apresenta. O social passava a ser o único fator existente; o psicológico e o 
biológico pareciam não existir no ser humano. 
Neste contexto, a Psicopedagogia retornou gradativamente ao cenário 
pedagógico, adquirindo um caráter interdisciplinar, buscando conhecimentos em 
outros campos e, no “momento atual, à luz de pesquisas e contribuições das áreas 
de psicologia, sociologia, antropologia, linguística, epistemologia e outras, constrói 
seu aporte teórico”. 
Atualmente, vencendo a visão reducionista que identifica a palavra por suas 
partes constitutivas (psicologia / pedagogia), a Psicopedagogia caracteriza-se como 
 
1 A abordagem humanista dá ênfase a relações interpessoais e ao crescimento que delas resulta, centrada no 
desenvolvimento da personalidade do indivíduo em seus processos de construção e organização pessoal da 
realidade, e em sua capacidade de atuar, como pessoa integrada. Dá-se igualmente ênfase à vida psicológica e 
emocional do indivíduo e à preocupação com sua orientação interna, com o autoconceito, com o 
desenvolvimento de uma visão autêntica de si mesmo, orientada para a realidade individual e grupal. 
(MIZUKAMI, 1986). 
 
 
 
 
 
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uma área de conhecimento e de atuação dirigida para o processo de aprendizagem. 
Difere da pedagogia porque não se ocupa de métodos ou técnicas de ensino, assim 
como da psicologia escolar porque não reduz seu trabalho e investigação ao âmbito 
da escola. 
De acordo com Bossa (2000), a Psicopedagogia é um campo no qual 
floresceu o conceito de sujeito autor, é uma área de estudo interdisciplinar que olha 
para o sujeito como um todo no contexto no qual está inserido, que estuda os 
caminhos do sujeito que aprende e apreende, adquire, elabora, saboreia e 
transforma em saber o conhecimento. A concepção de sujeito autor como aquele 
que constrói seu pensamento se faz presente através de um corpo que sente, existe, 
ama e proclama sua liberdade de ser, de estar e viver no eterno presente, no eterno 
agora. 
Como conhecimento, interessa a todo aquele que se dedica à educação, 
pois possibilita uma análise das teorias relacionadas com as ações de aprender e 
ensinar, não apenas no sentido da prática didático-pedagógica, mas no substrato 
epistemológico que dela se origina para a formação do sujeito aprendente-
ensinante. 
 
2.2 Objeto de estudo da Psicopedagogia 
Na tentativa de elucidar melhor o termo psicopedagogia, vejamos qual é o 
objeto de estudo da Psicopedagogia segundo alguns psicopedagogos brasileiros. 
Para Kiguel, apud Bossa (2000, p.8) “o objeto central de estudo da 
Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem 
humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do 
meio (família, escola e sociedade) no seu desenvolvimento”. 
De acordo com Neves apud Bossa (2000, p.12), 
 
[...] a Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando 
sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, 
tomadas em conjunto. E mais, procurando estudar a construção do 
conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em 
pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe 
estão implícitos. 
 
 
 
 
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Segundo Scoz, in Bossa (2000, p.8), “a Psicopedagogia estuda o processo 
de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários 
campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”. 
Do ponto de vista de Weiss (1992, p. 6), “a Psicopedagogia busca a 
melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na 
construção da própria aprendizagem de alunos e educadores”. 
Em suma, o objeto de estudo da psicopedagogia é, portanto, um sujeito a 
ser estudado por outro sujeito. Esse estudo pode ser através de um trabalho clínico 
ou preventivo. 
 O trabalho clínico se dá na relação entre um sujeito com sua história 
pessoal e sua modalidade de aprendizagem buscando compreender a 
mensagem de outro sujeito, implícita no não-aprender. Nesse 
processo, investigador e objeto-sujeito interagem constantemente. 
 No trabalho preventivo, a instituição (espaço físico e psíquico da 
aprendizagem) é objeto de estudos uma vez que são avaliados os 
processos didático-metodológicos e a dinâmica institucional que 
interferem no processo de aprendizagem. 
 
 Ainda, segundo Bossa (2000), na sua função preventiva, cabe ao 
profissional: detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; 
participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer 
processos de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo 
com as características dos indivíduos e grupos; realizar processos de orientação 
educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. 
Dos profissionais brasileiros citados, podemos verificar que o tema da 
aprendizagem os ocupa e preocupa, sendo o processo de aprendizagem a causa e 
a razão da Psicopedagogia. Este também é o pensamento dos profissionais 
argentinos que atuam na área e que estão envolvidos pelo viés de suas formulações 
teóricas mais expressivas, sendo os mais destacados: Alícia Fernandes, através de 
 
 
 
 
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sua psicopedagogia clínica, a psicopedagogia operativa de Sara Paim, a 
epistemologia convergente de JorgeVisca e Marina Müller. 
Como prática, em seus primórdios voltou-se para os problemas relacionados 
com as dificuldades de aprender e o fracasso escolar, hoje, porém, visa favorecer a 
apropriação do conhecimento pelo ser humano ao longo da sua evolução, tendo por 
objetivo a promoção e otimização de aprendizagens. Configura-se como uma prática 
institucional e clínica que integra diferentes campos do conhecimento, envolvendo a 
elaboração teórica a respeito do ponto de convergência com que opera. 
As relações com o conhecimento, o vínculo com a aprendizagem e as 
significações contidas no ato de aprender são estudados pela Psicopedagogia, a fim 
de que possa contribuir para a análise e reformulação de práticas educativas sociais 
e para a ressignificação de atitudes subjetivas. 
A definição do objeto de estudo da Psicopedagogia passou por fases 
distintas. Em diferentes momentos históricos que repercutem nas produções 
científicas, esse objeto foi entendido de várias formas. Houve tempo em que o 
trabalho psicopedagógico priorizava a reeducação, o processo de aprendizagem era 
avaliado em função de seus déficits, e o trabalho procurava vencer tais defasagens. 
O objeto de estudo era o sujeito que não podia aprender, concebendo-se a “não 
aprendizagem” pelo enfoque que salientava a falta. Esse enfoque buscava 
estabelecer semelhanças entre grandes grupos de sujeitos, as regularidades, o 
esperado para determinada idade, visando reduzir as diferenças e acentuar a 
uniformidade. 
Posteriormente, surge uma nova fase fundamentada na Psicanálise e na 
Psicologia Genética. Essa concepção, segundo Bossa (2000, p.12), “leva em conta 
a singularidade do indivíduo ou grupo, buscando o sentido particular de suas 
características e suas alterações, segundo as circunstâncias da sua própria história 
e do seu mundo sócio-cultural”. 
Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de 
aprendizagem segundo a qual participa desse processo um equipamento biológico 
com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma de relação do sujeito 
com o meio, sendo que essas disposições influenciam e são influenciadas pelas 
condições sócio-culturais do sujeito e do seu meio. 
 
 
 
 
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Sendo a Psicopedagogia uma área de conhecimento e de atuação dirigida 
para o processo de aprendizagem, seu objeto de estudo é o ser cognoscente, ou 
seja, o sujeito que se volta para a realidade e dela retira um saber. Vista no âmbito 
de um sistema complexo e inerente à condição humana, a aprendizagem não é 
estudada pela Psicopedagogia no espaço restrito da escola, ou num determinado 
momento da vida, posto que ocorre em todos os lugares, durante todo o tempo de 
existência. 
Podemos afirmar também que sendo o objeto de estudo da Psicopedagogia 
a aprendizagem como uma forma que a espécie humana desenvolveu para se 
adaptar ao meio, pela complexidade desse mecanismo, a Psicopedagogia configura-
se como um campo multidisciplinar, cercando-se para isso de disciplinas teóricas 
sobre as bases orgânicas, psicológicas e sociais. Neste prisma, o trabalho 
psicopedagógico acontece entre o ser em processo de construção do conhecimento 
e o psicopedagogo. 
Neste contexto, o trabalho psicopedagógico pode assumir uma feição 
preventiva ou terapêutica e estar relacionado com equipes ligadas aos campos da 
educação e da saúde. Evoluiu a partir de uma demanda da sociedade, que passou a 
valorizar a aprendizagem a partir de paradigmas integradores e geradores de 
sínteses, e tem respondido a ela com uma práxis que busca responder as 
necessidades de compreensão do ser humano em toda a sua complexidade, tendo 
ampla aceitação nos mais diversos segmentos da sociedade. 
A Psicopedagogia é, portanto, um campo de conhecimento humano 
essencial para a sociedade da informação dos tempos atuais, que articula saberes e 
fazeres de forma transdisciplinar e atende aos indivíduos em suas necessidades de 
educação continuada no espaço lúdico da aprendizagem, no qual o desejo e o 
conhecimento se mesclam em criatividade. 
 
 
 
 
 
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2.3 Bases epistemológicas da Psicopedagogia 
A Psicopedagogia como uma atividade prática se refere às técnicas de 
intervenção que tratam dos problemas de aprendizagem e normalmente se 
conduzem no sentido de trabalhar as possíveis raízes do problema e de resgatar os 
elementos essenciais à aprendizagem de qualquer conteúdo específico. 
Dentro dessa ótica, distancia-se do enfoque tradicional da prática 
pedagógica, que se ocupava especificamente do conteúdo a ser aprendido, para se 
debruçar sobre as diferentes ordens de dificuldades que possam existir no ato de 
aprender e, tentando, sobretudo, saná-las. Tem, portanto, um significado 
terapêutico. 
Segundo Bossa (2000), a Psicopedagogia é concebida com uma 
configuração clínica, ainda que sua prática se dê em um enfoque preventivo e, esse 
caráter clínico significa levar em conta a singularidade do processo a ser 
investigado, recorrendo tanto às avaliações e intervenções psicopedagógicas que 
lhe são comuns no trabalho institucional e clínico. Para a autora, o termo distingue-
se em três conotações: como uma prática, como um 
campo de investigação do ato de aprender e como 
um saber científico. Neste sentido, a 
Psicopedagogia é entendida como uma área de 
aplicação que antecede o status de área de 
estudos, a qual tem procurado sistematizar um 
corpo teórico próprio, definindo seu objeto de 
estudo, delimitando seu campo de atuação, e para 
isso recorrendo à Psicologia, Psicanálise, 
Linguística, Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia e 
outras áreas de conhecimento. 
Fonte: http://migre.me/1b8sc 
 Ainda para a autora, a Psicopedagogia deve se ocupar do estudo da 
aprendizagem humana e, portanto, preocupar-se inicialmente com o processo de 
aprendizagem (como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e 
está condicionada por diversos fatores, como se produzem as alterações na 
aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las). 
 
 
 
 
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A Psicopedagogia na sua conotação prática não se restringe apenas ao 
conceito terapêutico. Há outras diferentes modalidades que lhe estão implícitas e 
que nem sempre são distinguidas com a devida clareza. 
Se tomamos como base de classificação o modelo médico, temos a prática 
psicopedagógica subdividida em clínico-terapêutica, que, como já vimos, busca a 
cura dos sintomas (dificuldade de aprender) e preventiva, que se propõe a impedir 
que a instituição se faça doente e, consequentemente, zela pela saúde pedagógica 
dos indivíduos. 
 
2.3.1 O trabalho clínico terapêutico 
Para Bossa (2000, p.11): 
O trabalho clínico se dá na relação entre um sujeito com sua história 
pessoal e sua modalidade de aprendizagem, buscando compreender 
a mensagem de outro sujeito, implícita no não-aprender. Nesse 
processo, onde investigador e objeto-sujeito de estudo interagem 
constantemente, a própria alteração torna-se alvo de estudo da 
Psicopedagogia. Isto significa que, nesta modalidade de trabalho, 
deve o profissional compreender o que o sujeito aprende, como 
aprende e por que, além de perceber a dimensão da relação entre 
psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem. 
A prática psicopedagógica clínica realizada em espaços psicopedagógicos 
não é, entretanto, a única modalidade de psicopedagogia clínico-terapêutica, posto 
que pode também ser desenvolvida em instituições que mantêm serviços de 
atendimento a crianças provenientes de comunidades de baixa renda. Nesse caso, 
esse trabalho clínico geralmente se faz sob a forma grupal. É o caso, por exemplo, 
do trabalho clínico desenvolvido no Rio de Janeiro pelo Serviço de Psicologia 
Aplicada da UERJ, ou pelo núcleo de Orientação e Aconselhamento 
Psicopedagógico (NOAP) da PUC/RJ. Em Campo Grande/MS, temos o CCS – 
Centro de Ciências de Saúde da UCDB –Universidade Católica Dom Bosco que 
desenvolve trabalho semelhante. 
A Psicopedagogia Clínica pode ser também desenvolvida em hospitais de 
atendimento psicológico ou psiquiátrico ou mesmo em hospitais gerais. No Brasil, 
essa modalidade é muito pouco desenvolvida. Há uma experiência no hospital São 
Paulo, desenvolvida em 1994, no setor de Psicologia Pediátrica do Departamento de 
 
 
 
 
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Pediatria da Universidade Federal do Estado de São Paulo – Escola Paulista de 
Medicina. 
A prática clínica terapêutica ainda pode ser desenvolvida dentro da própria 
escola, geralmente em horário especial de atendimento individual ou em grupo com 
alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, sendo atendidos por um 
psicopedagogo caracterizando um trabalho psicopedagógico em nível institucional. 
Houve uma experiência muito próxima desse tipo de atendimento no Colégio 
Dom Bosco de Campo Grande/MS, trabalho realizado no período de 1996 a 1999, 
com o objetivo de ajudar as crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental a 
superarem suas dificuldades de aprendizagem. 
Bossa (2000, p.13) ainda reforça que 
O trabalho psicopedagógico na escola, realizado com crianças de 1ª 
série tem por objetivo favorecer um reforço permanente [...] mais 
oportunidades para as crianças que apresentam problemas no 
processo de aprendizagem. 
 
2.3.2 A Psicopedagogia preventiva 
Diferente da terapêutica, a prática psicopedagógica preventiva busca evitar 
que as dificuldades de aprendizagem surjam. Bossa (2000, p.13) situa o trabalho 
preventivo em diferentes níveis de prevenção: 
[...] no primeiro nível, o psicopedagogo atua nos processos 
educativos com o objetivo de diminuir a frequência dos problemas de 
aprendizagem. Seu trabalho incide nas questões didático-
metodológicas, bem como na formação e orientação de professores, 
além de fazer aconselhamento aos pais. No segundo nível, o objetivo 
é diminuir e tratar os problemas de aprendizagem já instalados. Para 
tanto, cria-se um plano diagnóstico da realidade institucional e 
elaboram-se planos de intervenção baseados nesse diagnóstico, a 
partir do qual se procura avaliar os currículos com os professores, 
para que não se repitam tais transtornos. No terceiro nível, o objetivo 
é eliminar os transtornos já instalados, num procedimento clínico com 
todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece aí, uma 
vez que ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o 
aparecimento de outros. 
 
 
 
 
 
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2.4 Campos de atuação: o psicopedagogo e seus âmbitos de 
intervenção 
 
2.4.1 O psicopedagogo nas escolas 
A presença do psicopedagogo nos centros educativos é uma oportunidade 
de contribuição para a implantação de práticas educativas mais de acordo com os 
princípios reguladores do ensino atual, ou seja, liderança do professorado no 
desenvolvimento do currículo, responsabilidade docente na orientação e no 
acompanhamento do aluno, atenção à diversidade como tarefa comum, etc. Embora 
seu papel nas escolas se considere ainda em fase de definição, é um profissional 
decisivo no progresso destas instituições para a incorporação de novas 
perspectivas. Seu papel está ligado à inovação, à mudança e, finalmente, a 
qualidade de ensino. 
A atuação do psicopedagogo como profissional de apoio se justifica 
sobremaneira porque as necessidades de orientação e assessoramento são 
inerentes às escolas, pois é um profissional sempre preocupado com a otimização 
dos contextos educativos em que se encontra. Suas funções incluem a coordenação 
e o estímulo do conjunto de atividades orientadoras dos professores, assim como o 
aprofundamento ou a ampliação dessas atividades, transformando-se, dessa forma, 
numa instância de apoio para a instituição escolar. 
Nesta perspectiva, o psicopedagogo deve ter claro que seu trabalho ganha 
sentido à medida que contribui para melhorar os processos educativos e, para isso, 
precisa trabalhar em colaboração íntima com os professores. 
 
2.4.2 O Psicopedagogo nas equipes de apoio 
Atualmente, devido à complexidade que envolve a relação sociedade e 
educação, existe uma oferta considerável de serviços e programas de apoio e ou 
assessoria às instituições escolares que, segundo seu campo de ação, estão 
centrados mais nos alunos, nos professores ou na própria instituição. São 
numerosos os estudos que conceituam e analisam os diferentes modelos de 
intervenção mediante assessoria, mas centramos nossa atenção no âmbito de 
intervenção nos espaços escolares, onde se manifesta com mais clareza a 
 
 
 
 
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concepção subjacente à intervenção do psicopedagogo, isto é, colaborar com os 
profissionais da escola na melhoria das condições que determinam a relação de 
ensino-aprendizagem, a inclusão dos alunos com necessidades educativas 
especiais e, em geral, a mudança educativa. 
Entender a complexidade da instituição assim como as inter-relações 
existentes entre todas as partes será fundamental para a prática do psicopedagogo, 
cujas funções contemplam assessorar: na prevenção educativa; no levantamento de 
necessidades; nas avaliações psicopedagógicas; na elaboração dos projetos 
curriculares; nas medidas para atender à diversidade dos alunos; nas adaptações 
curriculares e na orientação pessoal, vocacional e profissional dos alunos. 
 
2.4.3 O psicopedagogo como profissional da ação social 
A extraordinária riqueza de significados do conceito ação social faz com que 
a tarefa de delimitar seu conteúdo se torne extremamente difícil. O conceito de ação 
social é usado de forma genérica para se referir a toda uma série de espaços de 
ação que são produzidos à margem das intervenções próprias da administração 
pública e que podem dar motivo a atuações muito diversificadas. A ação social 
assim entendida abrange todos aqueles âmbitos que ficam fora da ação política 
institucional. Essa acepção suporia que são as atividades desenvolvidas na 
sociedade, nos chamados segundo e terceiro setor. 
O segundo setor refere-se a âmbitos em que se desenvolve a atividade 
econômica lucrativa, isto é, a todo o emaranhado empresarial que configura a 
economia de uma sociedade. Na abrangência possibilitada por essa interpretação 
da ação social, o psicopedagogo é um profissional que, sozinho ou como membro 
de uma equipe multidisciplinar, pode prestar serviço relativo a programas de 
orientação a instituições de educação não formal. 
O terceiro setor, também chamado de setor social, cobre uma variada gama 
de organizações e instituições que têm em comum o desenvolvimento de atividades 
que não perseguem o lucro pessoal, mas a melhoria generalizada da qualidade de 
vida. O profissional de psicopedagogia pode envolver-se de duas maneiras 
diferentes neste setor: como especialista contratado por ONGs que põem suas 
 
 
 
 
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competências a serviço dos processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos em 
contextos marginais ou empobrecidos ou cumprindo uma ação voluntária. 
2.4.4 O psicopedagogo na orientação universitária 
 
Observa-se uma expansão no ensino superior que inclui maior diversidade 
de alunos e uma amplitude no mercado de trabalho. 
Essa tendência indica a necessidade de orientação 
na universidade. Os âmbitos de atuação pelo 
psicopedagogo são: orientação para o 
desenvolvimento da carreira; estratégias de 
aprendizagem; atenção à diversidade e prevenção e 
desenvolvimento humano. Na Europa, o 
desenvolvimento deste trabalho pelo psicopedagogo 
é comum, no Brasil está se criando este espaço. 
Fonte: http://migre.me/1b7Qa 
 
2.4.5 O Psicopedagogo na área de recursos humanos 
Em todas as organizações complexas modernas desenvolveu-se uma área 
de função de recursos humanos com o objetivo de melhorar a eficiência e a eficácia 
das pessoas da organização. Dentro dessa função podemos distinguir três âmbitos: 
políticas, gestão e administração derecursos humanos. Atualmente, já se tem 
algumas experiências de intervenção psicopedagógica nas organizações no âmbito 
de recursos humanos no qual o psicopedagogo pode atuar, são: no planejamento 
estratégico; na estrutura organizativa; na seleção de pessoal; plano de acolhimento; 
projetos de planos de carreira; avaliação do desempenho; comunicação interna; 
formação; prevenção de acidentes de trabalho; cultura organizativa e relações com 
outros profissionais afins do setor. 
2.4.6 O psicopedagogo na clínica 
A procura de um profissional fora do espaço escolar apresenta alternativas 
às propostas e condições existentes na escola. O atendimento diferenciado pode ir 
além das questões-problema vinculadas à aprendizagem podendo trazer à tona, 
 
 
 
 
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mais facilmente, as razões que desencadeiam as necessidades individuais, às vezes 
alheias ao fator escola, que fazem com que as crianças e adolescentes sintam-se 
excluídos, ou excluam-se a si mesmos do sistema educacional. 
O papel do profissional está caracterizado, conforme Fernández (1991), por 
uma atitude que envolve o escutar e o traduzir, transformando-se em uma 
testemunha atenta que valida a palavra do paciente; completamente inerente às 
relações entre ele e sua família. Nesta perspectiva, a imparcialidade sem preceitos 
ou preconceitos na escuta, interpretação, reflexão e intervenção, criando e recriando 
espaços, é fundamental. Podendo assim a Psicopedagogia, ser considerada como 
uma forma de terapia. 
 É importante ressaltar que nessa modalidade clínica, o psicopedagogo 
também não trabalha sozinho, dependendo de parcerias com profissionais de outras 
áreas como: a Psicologia, a Neurologia, a Medicina e quais outras se fizerem 
necessárias para o caso a ser atendido. Ganha força a idéia de que o terapeuta é 
aquele que não cura, mas cuida do outro, tentando amenizar o seu sofrimento. 
O psicopedagogo é um terapeuta ao trabalhar com a aprendizagem, uma 
característica humana. Todo trabalho “psi” é clínico, seja realizado numa instituição 
ou entre as quatro paredes de um consultório. Clínica é a nossa atitude de respeito 
pelas vivências do outro, de disponibilidade perante seus sofrimentos, de olhar e de 
escuta além das aparências que nos são expostas. Vai além, pois caberá ao 
terapeuta a função de dialogar com o corpo, desatando os nós que se colocam 
como impelidos à vida e à inteligência criativa. E, a esta vida deve-se dar atenção, 
cuidando do ser. 
Afinal, não é somente o problema que existe e vive. É preciso olhar para 
aquilo que vai bem, para o ponto de luz que pode dissipar as trevas, aquilo que 
escapa ao homem, abrindo espaços para mudanças, um espaço onde o homem 
possa se recolher e descansar, encontrando seus próprios caminhos para aprender. 
O que não é ensinar, mas possibilitar aprendizagens. 
Essa relação promove um processo de crescimento para ambas as partes, 
criando "ensinantes e aprendentes", numa interação sem papéis fixos e 
independentes, direcionada para o interior ou exterior de cada envolvido. Deixando 
de lado particularidades, o próprio ponto de vista e seus condicionamentos, para ver 
 
 
 
 
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as coisas a partir delas mesmas, como são. Isso cria uma interdependência ativa 
que faz com que um complemente o outro e ambos cresçam construindo novos 
conhecimentos. 
O olhar do psicopedagogo, além de lúcido deve ser esclarecedor, sem 
julgamentos ou depreciações. Diante de um olhar assim, a aceitação flui 
naturalmente. E esta aceitação é a condição primeira, a mais necessária para que se 
inicie o caminho de cura, aliando a teoria à prática. 
 
2.4.7 A Psicopedagogia Hospitalar 
A educação hospitalar da criança e do adolescente representa um novo 
desafio à educação, especificamente ao psicopedagogo, que, devido à sua 
formação é um dos profissionais mais aptos a esta modalidade. A alternativa de 
apoio educacional psicopedagógico ao paciente interno é interessante para 
assegurar-lhe uma boa recuperação em meio à inquietação oriunda da preocupação 
sobre o tratamento recomendado à recuperação e o tempo de hospitalização. 
Em suma, o ambiente hospitalar é um local que emana diversos sentimentos 
e sensações: ora de doença ou saúde, de imensa tensão ou angústia ou então de 
alívio, cura ou consolo. Extremamente técnico, aos poucos o local se abriu a outros 
profissionais que não são da área da saúde. No caso do psicopedagogo é 
necessário conectar-se com a equipe, criando um elo de ligação entre as 
especialidades. 
As doenças tratadas nos hospitais podem ser classificadas em: 
 Acidentes domésticos (queimaduras, quedas, feridas), ou acidentes 
externos. Para esta categoria, juntem-se tentativa de suicídio, estupros 
e espancamentos (casos de maus-tratos). Esta primeira classificação 
constitui o que se chama traumatologia e internações gerais. 
 Enfermidades de má formação congênita, como afecções ósseas, 
nefrológicas, hepáticas, neurológicas ou musculares: má-formação de 
membros ou do esqueleto, escolioses, luxações congênitas das 
articulações do quadril, miopatias, etc. 
 
 
 
 
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 Enfermidades adquiridas ao nascimento ou de crescimento: 
debilidade motora cerebral, poliartrite, poliomielite, tumores musculares 
ou ósseos, cânceres. 
As equipes médicas agrupam cirurgiões, médicos, anestesistas, enfermeiras, 
auxiliares de enfermagem, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, 
psicólogos, assistentes sociais, bem como, psicopedagogos. 
Ainda pode-se contar com visitas voluntárias, com intenções diversas, sejam 
recreativas, religiosas e/ou humanitárias. 
Toda esta equipe acompanha, direta ou indiretamente, todas as etapas de 
uma internação, que em geral são enfrentadas de forma diferente por cada indivíduo 
hospitalizado. A sensação de dor, por exemplo, é sentida diferentemente de acordo 
com a idade do paciente e de acordo com diferenças individuais. Nessa hora, nossa 
intervenção ganha uma razão de ser, mas não é, 
ainda, necessariamente aquilo que traz a cura, 
logo, não é essencial. Ainda não é fácil de distinguir 
entre a dor e outras agressões de que a criança é a 
vítima (separação da mãe, mudança de quadro, 
rostos e procedimentos desconhecidos). A 
intervenção deve levar em conta o estado 
emocional da criança que pede socorro quando se 
nega a uma atividade ou quando é agressiva. 
 
Fonte: http://migre.me/1b7RR 
Mesmo assim, muitas vezes as crianças não são capazes de expressar nem 
de reproduzir o que as faz temer, desenvolvendo angústias, fazendo surgir 
depressão, revolta ou desespero, ou ainda a possibilidade de regressão no nível de 
desenvolvimento. Mais uma vez, o psicopedagogo é aquele que faz diferença, 
trazendo o sentimento de valorização da vida, amor próprio, autoestima, aceitação e 
segurança. Recuperar estes prazeres e garantir a construção dos conhecimentos 
que estariam acontecendo em ambiente escolar é função do trabalho 
psicopedagógico que se insere na esfera hospitalar. Afinal, a aprendizagem é um 
 
 
 
 
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processo tão amplo e grandioso que ocorre através de interações, em qualquer 
lugar. 
 
2.4.8 A Psicopedagogia empresarial 
Muitas mudanças estão acontecendo no desenvolvimento das organizações, 
determinadas ora pelas imposições do mercado, ora pela necessidade de 
reorganização do ambiente interno organizacional. O conhecimento humano surge 
como principal fonte de vantagem competitiva para as organizações. Isso pede uma 
série de mudanças organizacionais que possibilitem o compartilhamento do 
conhecimento por meio de adaptação do ambiente e, principalmente pela mudança 
de comportamento das pessoas. 
Um dos grandes desafios das organizações do futuro é o de saber usar o 
conhecimento de cada colaborador, saber somá-los e criar um ambiente de sinergia 
que lhes garanta o sucesso. As organizações passam a ser,portanto, espaços de 
processos de aprendizagem efetivos e, saber a forma individual como as pessoas 
constroem conhecimentos e como os utilizam para explicar a realidade e resolver 
problemas do cotidiano da organização passa a ser imprescindível. 
É, nesse cenário, acompanhando o aprender a aprender constante no 
ambiente organizacional, que o psicopedagogo assume papel significativo ao lado 
dos profissionais de recursos humanos. Sua ação se dá no sentido de facilitar a 
construção e compartilhar o conhecimento, incentivando novas formas de 
relacionamentos, criando sinergia entre o comportamento de gestores e 
colaboradores. 
Sua contribuição no planejamento, gestão, controle e avaliação de 
aprendizagens, pode favorecer a qualidade dos processos de recrutamento, seleção 
e organização de pessoal, bem como os de diagnóstico organizacional, dando 
subsídios significativos e perfis específicos aos treinamentos que se efetivam no 
interior da organização. A Psicopedagogia dentro da organização pode orientar 
ações avaliando a aprendizagem profissional, propondo e coordenando cursos de 
atualização que atendam as necessidades específicas desse espaço. É importante 
ressaltar que a Psicopedagogia é uma área multidisciplinar que não atua sozinha, 
 
 
 
 
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dependendo e enriquecendo outras áreas de atuação e trabalhando em parceria 
com os diversos profissionais da organização. 
 
Exercício 2 
1. Na tentativa de conceituar a Psicopedagogia, muitos autores se remetem à 
articulação entre educação e psicologia, entretanto a Psicopedagogia adquiriu 
um caráter mais amplo buscando conhecimentos em outras áreas, o que 
demonstra ser: 
a) Uma área disciplinar. 
b) Uma área reducionista. 
c) Uma área interdisciplinar. 
d) Uma área multidisciplinar. 
 
2. Ao caracterizar o objeto de estudo da Psicopedagogia podemos afirmar 
que: 
a) O meio familiar é o foco principal de estudo. 
b) O processo de aprendizagem humana é a razão da Psicopedagogia. 
c) O problema de aprendizagem é centro de atenção e estudo. 
d) o processo de aprendizagem escolar é seu principal foco. 
 
3. Segundo Bossa (2000), a Psicopedagogia é uma configuração clínica que 
significa levar em conta o sujeito e a singularidade do processo a ser 
investigado que recorre a: 
a) Avaliações e intervenções psicopedagógicas. 
b) Práticas diagnósticas. 
c) Avaliações psicopedagógicas. 
d) O diagnóstico psicopedagógico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2.5 Abordagem Psicopedagógica da aprendizagem e os problemas 
decorrentes do processo 
Para melhor entendermos os problemas de aprendizagem, necessitamos, 
primeiramente, conceituar o termo aprendizagem de acordo com a idéia de autores 
psicopedagógicos. 
Para Pain (1986, p.15): 
[...] o processo de aprendizagem não configura nem define uma 
estrutura como tal, e o fato de certos acontecimentos serem 
passíveis de classificação, sem confusão, sob o nome de 
aprendizagem, deve-se mais à sua função e modalidade, e no 
melhor dos casos à sistematização das variáveis intervenientes do 
que à sua assimilação e uma construção teórica coerente [...]. Se a 
aprendizagem não é uma estrutura, não resta dúvida de que ela 
constitui um efeito, e neste sentido é um lugar de articulação de 
esquemas. 
 
Em sua obra, Pain ainda situa o processo de aprendizagem em quatro 
dimensões: o biológico, o cognitivo, o social e o processo de aprendizagem como 
função do eu. 
Segundo Weiss (1992, p.11): 
[...] a idéia básica de aprendizagem como um processo de 
construção que se dá na interação permanente do sujeito com o 
meio que o cerca. Meio esse expresso inicialmente pela família, 
depois pelo acréscimo da escola, ambos permeados pela sociedade 
em que estão. Esta construção se dá sob a forma de estruturas 
complexas. 
 
Conforme afirma Visca (1991, p.24), “a aprendizagem é uma construção 
intrapsíquica, com continuidade genética e diferenças evolutivas, resultante das 
precondições energético-estruturais do sujeito e as circunstâncias do meio”. De 
acordo com Coelho (1995, p.10), “a aprendizagem é resultado da estimulação do 
ambiente sobre o indivíduo já maduro, que se expressa, diante de uma situação-
problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da 
experiência”. Visca (1991, p.45) ainda afirma que “a aprendizagem ajuda o homem a 
economizar energias na tentativa de resolver os conflitos cognitivo-afetivos que lhe 
são propostos pelo meio”. 
 
 
 
 
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Percebemos pelo entendimento dos autores a abordagem de aspectos 
diferentes e complementares, o que mostra que a pesquisa sobre aprendizagem é 
um movimento em constante construção. 
 
 
 
 
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2.5.1 Normalidade X Patologia 
Uma vez situado o tema aprendizagem, tentaremos definir o âmbito de uma 
perturbação, isto é, a patologia da aprendizagem. A questão dos limites entre o 
normal e o patológico é uma das questões fundamentais para a Psicopedagogia. 
Historicamente, a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a 
Psicologia, a partir da necessidade de atendimento de crianças com distúrbios de 
aprendizagem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional. 
Os fatores etimológicos utilizados para explicar os índices alarmantes do fracasso 
escolar envolviam quase que exclusivamente, fatores individuais, como desnutrição, 
problemas neurológicos, psicológicos e outros. Portanto, consideramos pertinente 
voltarmos ao tempo, revendo alguns aspectos relacionados ao tema, ampliando, 
assim, a visão. 
No Brasil, particularmente durante a década de 30, foi amplamente difundido 
o rótulo de Disfunção Cerebral Mínima – D.C.M., para crianças que apresentavam 
como sintoma proeminente, distúrbios na escolaridade. 
Cypel (1986, p.142) refere: 
[...] em curto espaço de tempo e com relativa facilidade, pais e 
professores também já adotaram o rótulo de D.C.M. e antes de 
qualquer referência, na consulta médica, este diagnóstico surgia 
como queixa: “Dr, o meu filho tem D.C.M.”. A impressão que se tinha 
é que convivíamos com uma população de anormais, pois esta cifra 
atingia até 40% dos escolares. 
 
Tal concepção organicista e linear apresentava uma conotação nitidamente 
patologizante, uma vez que todo indivíduo com dificuldades na escola era 
considerado portador de disfunções psiconeurológicas, mentais e/ou psicológicas. 
Segundo Dorneles (1986, p.44), semelhante explicação para os fenômenos 
de evasão e repetência desempenhava uma importante 
função ideológica, pois “dissimulava a verdadeira 
natureza do problema e, ao mesmo tempo, legitimava 
as situações de desigualdades de oportunidades 
educacionais e seletividade escolar”. 
 Fonte: http://migre.me/1b6um 
 
 
 
 
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O D.C.M. foi apenas um dentre os vários diagnósticos empregados para 
camuflar problemas sócio-pedagógicos traduzidos, ideologicamente, em termos de 
psicologia individual. Termos como dislexia, disritmia e outros, também foram 
usados para este fim. 
No momento atual, à luz de pesquisas psicopedagógicas, que vêm se 
desenvolvendo, e de contribuições das áreas da Psicologia, Sociologia, 
Antropologia, Linguística, Neuropsicolinguística, Epistemologia, o campo da 
Psicopedagogia passa por uma reformulação. De uma perspectiva puramente clínica 
e individual, busca-se uma compreensão mais integradora do fenômeno da 
aprendizagem e uma atuação de natureza mais preventiva. 
O objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno 
do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e 
patológicos, bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no seu 
desenvolvimento. 
[...] sabe-se que as expectativas do ambiente face a criança desde 
seu nascimento, projetos, desejos e medo nela depositados 
determinarão a resposta ao impacto de uma dificuldade de 
aprendizagem. Determinarão, também, o manejona tentativa de 
superação dessa dificuldade e a cooperação para sua cristalização 
ou solução (KIGUEL, 1983, p.27). 
 
Isto é válido tanto para a criança em um ambiente social mais restrito – a 
família – como no contexto escolar, quando assumem importância os preconceitos 
dos professores com relação ao ambiente familiar das crianças, particularmente, as 
de classe desfavorecida. 
Nessa medida, os obstáculos enfrentados por muitos alunos, na 
escolaridade, estão sendo compreendidos não necessariamente como decorrentes, 
de patologias do educando, mas sim, como resultado de uma complexidade de 
fatores, inclusive, relacionados ao contexto sócio-político-cultural. 
Uma tarefa importante dos profissionais que se dedicam ao estudo de 
crianças com dificuldades de aprendizagem é verificar “como esses fatores externos, 
relativos ao nível sócio-econômico, à escola e aos professores são assimilados pelo 
 
 
 
 
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psiquismo da criança, gerando determinadas características ou condições internas 
que vão favorecer ou prejudicar os desempenhos” (ASSIS, 1985, p.10). 
Abaurre (1987, p.187-8) define o 
psicopedagogo como um “mediador de 
perplexidades”. Na tentativa que o profissional faz 
de identificar os fatores que interferem na 
aprendizagem de uma criança e de ajudar a 
superá-los, “torna-se um mediador entre a 
instituição social escola e instituição social família, 
ambas preocupadas com os sintomas do fracasso 
escolar da criança”. 
 Fonte: http://migre.me/1b4X3 
Em decorrência desse papel, prossegue a autora, o psicopedagogo lida com 
a perplexidade de natureza diversa: 
 a perplexidade da escola que não consegue entender por que certas 
crianças não aprendem a ler e a escrever. Não encontrando outra 
saída, senão rotulá-las (apressadamente) de portadores de algum 
distúrbio de aprendizagem, a escola não reluta em encaminhá-las para 
especialistas diversos, eximindo-se, assim, de qualquer 
responsabilidade; 
 a perplexidade das famílias que, até enviarem seus filhos para a 
escola, não haviam identificado nenhum sintoma preocupante no 
comportamento habitual dessas crianças; 
 a perplexidade das próprias crianças que, muitas vezes, não 
entendem a escola e as atividades que ali são chamadas a 
desempenhar. Perplexas com o tratamento que passam a receber na 
escola e, consequentemente, em casa, acabam por incorporar o rótulo 
a elas atribuído e por comportar-se segundo expectativas geradas pelo 
próprio rótulo. 
Na tentativa de identificar alguns fatores relacionados aos conceitos de 
normalidade e de patologia, geradores de tais perplexidades, cabe salientar: 
 
 
 
 
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 a multiplicidade de fatores que atuam no desempenho escolar (físicos, 
psicológicos, institucionais e sociais) e a possibilidade de 
aprofundamento em cada um, especificamente. Parece impossível 
estabelecer critérios de normalidade e de patologia para tais fatores, 
sejam eles considerados simultaneamente ou, sobretudo, no seu 
conjunto; 
 as diferentes concepções teóricas sobre a normalidade e patologia 
existentes na escola e na família e as diferenças entre concepções 
explícitas e implícitas nas referidas instituições sociais. Em geral, são 
as concepções implícitas as que exercem maior influência; 
 a variação do próprio conceito de normalidade e patologia em 
diferentes fases do desenvolvimento do indivíduo: o mesmo sintoma 
pode ser considerado normal em uma determinada faixa etária; e, 
patológico em outra; 
 a variação do conceito de normalidade-patologia, em decorrência dos 
avanços científicos nas diferentes áreas do comportamento humano. 
Na educação, particularmente, as idéias de Ferreiro & Tebesroky 
(1986) sobre psicogênese da língua escrita produziram profundas 
alterações nesta questão; 
 a crença em que, na verdade, o desenvolvimento harmonioso da 
aprendizagem representa um ideal, uma norma utópica, mais do que 
uma realidade. 
Dessa forma, o normal e o patológico, na aprendizagem escolar, assim 
como no equilíbrio psico-afetivo, não podem ser considerados como “dois estados 
distintos um do outro, separados com rigor por uma fronteira ou um grande fosso” 
(AJURIAGUERA & MARCELLI, 1986, p.61). 
Assim como é importante estudar o processo evolutivo normal para 
estabelecer os limites da patologia, é igualmente necessário conhecer o patológico 
para, no dizer de Freud (1976, p.77), “iluminar o normal”. Para ele, a patologia, à 
medida que torna as coisas mais toscas, atrai: 
 
 
 
 
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[...] a nossa atenção para condições normais que, de outros modos, 
nos escaparia. Onde ela mostra uma brecha ou uma rachadura, ali 
pode estar presente uma articulação. Se atirarmos no chão um 
cristal, ele se parte, mas não em pedaços, ao acaso. Ele se desfaz, 
segundo linhas de clivagem; embora fossem invisíveis, estavam pré-
determinados pela estrutura do cristal. 
No ponto de vista de Visca (1991, p.68): 
[...] é possível convir que a aprendizagem possa adotar, no contínuo 
da normalidade-anormalidade, três grandes formas: normal, 
patogênica e patológica; cada uma pode ser estudada tanto segundo 
um enfoque teórico ou evolutivo, quanto sob um enfoque histórico ou 
sistemático. Unindo ambas as perspectivas, pode-se dizer então que, 
se a aprendizagem normal é aquela que permitirá aquisições 
ulteriores positivas, a patogênica consiste em um modo que, sem 
chegar a ser doente, possui a possibilidade de adoecer; e que a 
patológica é uma aprendizagem doente e adoecedora. 
Segundo Ajuriaguerra & Marcelli (1986, p.61-62): 
[...] o desenvolvimento e a maturação da criança são, por si mesmos, 
fontes de conflito que, como todo conflito, podem suscitar o 
aparecimento de sintomas. Assim, os campos respectivos do normal 
e do patológico interpenetram-se em grande parte: uma criança pode 
ser patologicamente normal da mesma forma que normalmente 
patológica. 
Na área psicológica, identificam como “patologicamente normais”, a 
hipermaturidade de filhos de pais psicóticos e, como “normalmente patológicas”, as 
fobias de tenra infância, as condutas de ruptura da 
adolescência e, ainda, muitos outros estados. 
Segundo Assis (1985), o papel disciplinador da 
escola, expresso em atitudes como fazer fila para entrar 
na sala, obedecer ao sinal, sentar em lugar determinado 
pela professora, fazer silêncio, organizar cadernos com 
capricho, etc., pode favorecer a organização mental 
interna, necessária não apenas para o aprendizado, mas 
também para o desenvolvimento da personalidade. 
 Fonte: http://migre.me/1b6JO 
Em muitos casos, contudo, esse papel tem sido prejudicial, porque incentiva 
o embotamento afetivo, na medida em que a criança é estimulada a seguir regras, a 
tentar agradar ao adulto, a desempenhar tarefas impecavelmente e a ser 
disciplinada e ordeira. 
 
 
 
 
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A esse respeito, Luzuriaga, in Assis (1985, p.12) afirma: 
[...] o sistema educacional pode fomentar condutas intelectuais 
obsessivas, em vez de mentes criadoras e dinâmicas. Por isto, pode 
ser considerado muito bom e sadio um aluno com bloqueio 
intelectual tal que se limite a repelir, mecanicamente, a lição 
ensinada, ou bem outro, cujo caderno, exemplo de capricho, esconda 
uma angústia obsessiva patológica. Sob tal perspectiva, o bom 
desempenho não seria expressão de uma psicodinâmica positiva, 
mas de estar a serviço de perturbações internas e, nesse sentido, 
contribuiria para dissimulá-las. Com relação a aspectos cognitivos, 
também deve ser considerado que, em muitas escolas, nem sempre 
a compreensão é necessária para o êxito escolar. Exige-se que as 
crianças reproduzam, memorizem, copiem, e não que transformem, 
observem e expliquem. Infelizmente, grande número de crianças 
abandona a escola ou são alvos da chamada ‘expulsão encoberta’, 
em razão de falarem ‘errado’ e de escreverem com falhas 
ortográficas. 
Dorneles (1990, p.23) questiona se“seria normal ou patológico o aluno 
excluir-se de um ambiente que, constantemente, aponte suas supostas 
incapacidades”. Em síntese, a consideração de aspectos normais e patológicos na 
aprendizagem de uma criança, em particular, envolve o reconhecimento do sintoma, 
a avaliação de seu peso e função dinâmica, a sua estrutura pessoal e, finalmente, a 
apreciação dessa estrutura no quadro geral da evolução genética e do ambiente. 
A compreensão do fenômeno da aprendizagem, em seus aspectos normais 
e patológicos, de forma a integrar as várias áreas do conhecimento, a dimensão 
social do individual e, ainda, os diferentes níveis evolutivos, não é uma tarefa fácil, 
pois a síntese não se dá em nível teórico, e sim, em nível do fenômeno. Também 
não é uma tarefa que o psicopedagogo consiga resolver sozinho (KIGUEL, 1987). 
A necessidade de conhecimento e integração das várias áreas se impõe ao 
psicopedagogo, uma vez que ele recebe, diretamente das escolas, crianças que 
apresentam dificuldades de aprendizagem, mas que requerem outros tipos de 
atendimento. Cabe a este profissional reconhecer os limites de sua atuação, 
estabelecer prioridades e fazer os encaminhamentos adequados, pois é na 
interdisciplinaridade, pela conjugação de esforços de diversos especialistas, que se 
buscará desvendar esse fenômeno tão complexo, tão desafiador, que é a 
aprendizagem humana. 
Vale a pena relembrar que o psicopedagogo, profissional entre as áreas da 
saúde e da educação, deve sempre observar rigorosamente os limites da sua 
 
 
 
 
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atuação. Portanto, o psicopedagogo deverá ter embasamento teórico para o 
desenvolvimento de sua função. Assim sendo, a Psicopedagogia se propõe a 
integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de distintas ciências 
humanas, objetivando adquirir uma ampla compreensão sobre os variados 
processos inerentes ao aprender, pois o nosso foco é a aprendizagem. 
 
 
 
 
 
 
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UNIDADE 3 - O PSICOPEDAGOGO: FORMAÇÃO E IDENTIDADE 
DESTE PROFISSIONAL 
3.1 A formação como ponto de partida 
A categoria profissional dos psicopedagogos organizou-se no país por volta 
dos anos 50 e 60 do século XX, com a divulgação da abordagem psiconeurológica 
do desenvolvimento humano, largamente difundida nessa época em nosso meio. 
Inicialmente, os profissionais psicopedagogos ficaram mais restritos a essa linha da 
análise. Há alguns anos atrás, a falta de clareza a respeito de problema de 
aprendizagem fazia com que os alunos com dificuldades fossem encaminhados 
concomitantemente para profissionais das mais diversas áreas de atuação. Pouco a 
pouco, foi se criando a consciência da necessidade de uma formação mais 
globalizante e consistente, que unisse a ação educacional na figura de um único 
indivíduo, apto e eficaz. Assim os atendimentos antes dispersos entre várias 
pessoas poderiam centrar-se num profissional, facilitando o vínculo do aluno com o 
processo de aprendizagem e o resgate do prazer de aprender e desenvolver-se. 
No atual momento, as recentes contribuições da Sociolinguística e da 
Psicolinguística, as novas abordagens teóricas sobre o desenvolvimento e a 
aprendizagem, bem como as inúmeras pesquisas sobre o peso dos fatores intra-
escolares na determinação do fracasso escolar, têm oferecido aos profissionais 
psicopedagogos uma visão mais crítica e abrangente de seu próprio trabalho. 
 Portanto, o psicopedagogo é um profissional pós-graduado, um multi-
especialista em aprendizagem humana que congrega conhecimentos de diversas 
áreas a fim de intervir nesse processo, seja para potencializá-lo ou para sanar 
possíveis dificuldades, utilizando instrumentos próprios da Psicopedagogia. Sua 
formação inicial dá-se em nível de cursos de especialização Lato Sensu, 
regulamentados pela Resolução/CNE/MEC 12/83, de 06/10/83. Atualmente existem 
muitos cursos Lato Sensu de Psicopedagogia oferecidos no país, seja em 
instituições particulares ou públicas, fato este que preocupa a ABPp, pois os 
mesmos não obedecem a nenhuma regulamentação específica. 
Um dos aspectos importantes sobre a atuação do psicopedagogo é a 
formação continuada: não basta fazer um curso de pós-graduação, esta é a 
 
 
 
 
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formação inicial, portanto, é necessário sempre estar atualizado realizando cursos 
nas mais diversas áreas como na linguística, neurociência, psicologia entre outras. 
A formação continuada na área clínica é buscada geralmente fora do Brasil 
na Argentina ou na França, locais onde esse conhecimento já existe há mais tempo 
e a profissão já é regulamentada, o que ainda não ocorreu no Brasil. Entretanto, em 
algumas regiões do país já existem cursos de graduação em Psicopedagogia como, 
por exemplo, o Rio Grande do Sul e São Paulo. A formação tem continuidade em 
sessões de supervisão e em grupos de estudos que investem no conhecimento de 
seu próprio processo de aprendizagem. 
3.2 Perfil, competências e habilidades 
Nos processos de formação em Psicopedagogia é mister salientar que 
ensinantes e aprendentes vão: 
[...] autorizando-se mutuamente, sendo autores dos pensamentos 
que constroem, movidos por seus desejos, em busca de seus 
processos e movimentos de autonomia, indo além do olhar do/a 
outro/a para reconhecer a autoria de seu pensamento e produção. 
Importante é perceber que "ensinagem" e "aprendência" são 
processos de permissão a autoridade de pensamentos, como 
movimentos diferenciados e conhecedores da alteridade 
(FERNANDEZ, 1991, p.12). 
 Ensinar e aprender, aprender e ensinar são processos vitais na busca 
constante da conquista e do encantamento da autoria do pensamento, presente no 
universo da relação entre a magia da vida e a própria vida de cada aprendente, 
sendo espaço/tempo de desenvolvimento de nossa poética existencial, essencial, 
pessoal, única, singular. 
O desafio que se configura é o de mudar radicalmente os modos 
institucionais e pessoais de sermos e estarmos atuando em Psicopedagogia e 
Educação. Fernández enfatiza este processo ao nos dizer que a nossa função 
[...] está mais próxima da serpente do Paraíso: tentar com o 
conhecimento. Tentar, no duplo sentido de tratar (assistir, cuidar) e 
de tentação. Chamar à autoria, ainda que isso leve ao conhecimento 
de nossos limites, de nossa finitude, de nossa necessidade do outro 
para sobreviver, Saímos do Paraíso é certo. Perdemos a felicidade 
eterna. Porém existirá a felicidade sem o conhecimento (dela mesma 
e de nós)? O conhecimento os fará livres, e com a liberdade 
podemos tentar ser felizes. (FERNÁNDEZ, 1991, p.13) 
 
 
 
 
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A formação é, antes de tudo, multidisciplinar e assentada sobre diversas 
ciências: 
 sob o ponto de vista filosófico, seu embasamento deve lhe permitir 
encontrar as idéias de home, de sociedade e educação implícitas em 
cada teoria psicopedagógica; 
 sua formação sociológica deve facilitar a compreensão do tempo e 
do espaço sócio-cultural e econômico que influenciam o fenômeno 
educacional dos indivíduos pertencentes às classes sócio-econômicas 
mais baixas; 
 sua formação psicológica deve-lhe permitir conhecer o 
desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor do indivíduo que 
aprende, sob os ponto de vista evolutivo e econômico das relações 
interpessoais na família e na escola; 
 o conhecimento de técnicas e métodos, relativos ao 
desenvolvimento das operações lógicas do pensamento e a aquisição 
das habilidades básicas psicomotoras e linguísticas é indispensável a 
este profissional da área psicopedagógica. Daí a importância de 
conhecimentos psicolinguísticos, neurológicos e outros. Deve-se, 
contudo, frisar que a integração destes conhecimentos não lhe é dada 
a priori, mas sim construída através de sua sensibilidade e experiência. 
O psicopedagogo deve, ao atuar, observar os seguintes princípios: 
 mobilização de seu próprio potencial afetivo para tornar-se um fatorsegurizante e incentivador da aprendizagem do indivíduo; 
 facilitação da aprendizagem, no sentido de desencadear um processo 
ativo que ocorre no indivíduo que aprende, de acordo com seu ritmo de 
desenvolvimento; 
 incentivador da aprendizagem, criando condições ambientais capazes 
de motivar o aluno para a aquisição de certas aprendizagens como 
leitura, a escrita, etc.; 
 
 
 
 
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 mobilização global do indivíduo, considerando que os processos 
cognitivos são determinados por condições psiconeurológicas e 
orientados pela emoção, pelos afetos e pelos valores culturais de quem 
aprende; 
 totalidade do processo educativo que consiste na problematização da 
realidade escolar, pela equipe profissional, desmistificando certas 
crenças e valores relativos ao ensino, sem perder de vista as limitações 
que surgirão. 
O Código de Ética da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), em 
seu Artigo 4º afirma: 
[...] estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os 
profissionais graduados em 3º grau, portadores de certificados de 
curso de Pós-Graduação de Psicopedagogia; ministrado em 
estabelecimentos de ensino oficial e pré-reconhecido, ou mediante 
direitos adquiridos, sendo indispensável submeter-se à supervisão e 
aconselhável trabalho de formação pessoal. 
 
A profissão de psicopedagogo ainda não foi regulamentada do ponto de 
vista legal, mas já existe um anteprojeto de lei, documento este intitulado: Carta de 
intenções para a regulamentação profissional do psicopedagogo o qual foi 
apresentado na Câmara dos Deputados Federais pelo deputado Barbosa Neto em 
14 de maio de 1997. 
Este projeto foi encaminhado à Comissão de Trabalho no dia 15/5/97 e 
aprovado pela mesma Comissão no dia 3/9/97. Após a aprovação, este Projeto de 
Lei foi encaminhado à Comissão de Educação, Cultura e Desporto onde 
permaneceu por quatro anos e também foi aprovado, com algumas emendas, no dia 
12/9/01. Atualmente, o Projeto de Lei está na Comissão de Constituição e Justiça 
esperando pela sua aprovação. Caso seja aprovado, o Projeto de Lei irá para o 
Senado para a sua apreciação e, depois para ser sancionado pela Presidente da 
República. 
O que certamente acontecerá, pois, avanços já podem ser contabilizados 
nesta área. Em 20/9/01, o projeto de lei nº 108/01 foi aprovado no Estado de São 
 
 
 
 
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Paulo, autorizando o poder Executivo a implantar assistência psicológica e 
psicopedagógica em todos os estabelecimentos públicos de ensino básico. 
Tendo em vista o trabalho e empenho da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia - ABPp, já tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação, a 
ocupação de Psicopedagogo, porém, isso não é suficiente, faz-se necessário que 
esta profissão seja regulamentada. 
Neste cenário, a Psicopedagogia vem ganhando espaço nos meios 
educacionais brasileiros, despertando cada vez mais o interesse dos profissionais 
que atuam nas escolas e buscam subsídios para sua prática. Esse espaço não pode 
ser perdido. Enquanto campo do saber educativo, a Psicopedagogia deve estar 
presente no enfrentamento dos problemas cruciais da educação brasileira, 
assumindo uma atuação consciente e comprometida. Eis o importante papel da 
Psicopedagogia, que definimos como área que estuda e lida com o processo de 
aprendizagem e suas dificuldades e que, numa ação profissional, deve englobar 
vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. 
 
3.3 A Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp 
 A Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp- é uma entidade 
de caráter científico-cultural, sem fins lucrativos, que congrega profissionais 
militantes da área de Psicopedagogia. Em 12 de novembro de 1980, um grupo de 
profissionais, já envolvidos e atuantes nas questões relativas aos problemas da 
aprendizagem, fundou a Associação Estadual de Psicopedagogos do Estado de São 
Paulo (AEP). Devido ao grande interesse a sua 
expansão em nível nacional surgiu como necessidade 
imperiosa. Em 1986, a AEP transformou-se na ABPp 
e, gradativamente, foram sendo criados Núcleos e 
Seções por todo o Brasil. 
 
A ABPp tornou-se uma entidade de representação do grupo que cadastrava 
seus profissionais e atuava na consolidação da identidade legal da categoria, na 
 
 
 
 
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elaboração, publicação e revisão de conhecimentos e tendências na área, bem 
como na organização de eventos. 
Uma de suas primeiras ações em termos nacionais foi a promoção do “I 
Congresso Brasileiro de Psicopedagogia” conjuntamente ao “III Encontro de 
Psicopedagogos”, cuja finalidade era exatamente a de reforçar a importância da 
integração de conhecimentos para se compreender o processo de aprendizagem 
como um todo, o que já havia tentado enquanto Associação paulista. Após esse 
encontro, vários outros eventos foram promovidos pela ABPp. Além de sua atuação 
na promoção de encontros, congressos, seminários etc., a ABPp passou a agir na 
orientação dos psicopedagogos do país. Com esse objetivo, o Conselho Nacional da 
ABPp aprovou, em 2000, um documento (“Diretrizes Básicas da Formação de 
Psicopedagogos no Brasil e Eixos Temáticos para Cursos de Formação em 
Psicopedagogia”) em que constavam sugestões de diretrizes para a consolidação e 
identidade da formação do psicopedagogo nacional. 
 A ABPp também aprovou, em 12 de julho de 1992, durante a assembléia 
geral realizada no “V Encontro” e “II Congresso de Psicopedagogia”, um código de 
ética (“Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia”) que, dentre 
outros fins, pretendia delimitar melhor os objetivos da Psicopedagogia e a identidade 
do psicopedagogo no Brasil. 
Tal Código declarava que a Psicopedagogia seria um campo de atuação em 
Saúde e Educação voltado para o processo de aprendizagem humana em seus 
padrões normais e patológicos, considerada a influência do meio nos casos. Ainda, 
segundo o Código, tal campo atuaria a partir de procedimentos, técnicas e métodos 
próprios e valer-se-ia das várias áreas do conhecimento humano voltadas para a 
compreensão do ato de aprender (em seu sentido ontogenético e filogenético), tendo 
em vista a sua natureza interdisciplinar. 
A base desse trabalho seria de origem clínica e institucional, de caráter 
preventivo e ou remediativo, tendo como metas essenciais a promoção da 
aprendizagem e a realização de pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia. 
O documento indicava ainda que o psicopedagogo deveria atuar somente nos limites 
das atividades que lhe coubesse, bem como considerasse a existência dos casos 
 
 
 
 
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referentes a outros campos de especialização e a necessidade do encaminhamento 
para diferentes profissionais. 
Nessa linha de atuação, a ABPp posteriormente criou uma Comissão de 
Ética, composta por membros de seu Conselho, cuja ação dar-se-ia na orientação 
sobre a formação profissional do psicopedagogo e sobre sua conduta profissional, 
bem como em relação à conduta dos grupos associativos de psicopedagogos, com 
base no Código de Ética. 
Hoje, a ABPp se encontra presente em todo país, tendo seção na Bahia, em 
Brasília, no Ceará, em Goiás, em Minas Gerais, no Paraná Norte, no Paraná Sul, em 
Pernambuco, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Norte, no Rio Grande do Sul, em 
São Paulo, em Sergipe, bem como núcleos no Espírito Santo, no Sul Mineiro e em 
Teresina. Sem embargo dessa história da ABPp, vale lembrar que ela se constitui 
numa entidade representativa de uma categoria profissional que, até o presente, não 
é reconhecida legalmente no Brasil. A ABPp promove conferências, cursos, 
palestras, jornadas, congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua 
área de atuação, através da revista científica Psicopedagogia e do site 
www.abpp.com.br. Podem associar-se à ABPp todas as pessoas interessadas na 
Psicopedagogia, tendo ou não concluído a sua

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