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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância Psicopedagogia Psicopedagogia: Histórico, Fundamentos e Atuação Autor: Marta Brostolin EAD – Educação a Distância Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação 2 www.eunapos.com.br SUMÁRIO UNIDADE 1 – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA ..................... 03 1.1 Na Europa ......................................................................................................... 03 1.2 Nas Américas: EUA e Argentina ....................................................................... 03 1.3 No Brasil ............................................................................................................ 05 1.4 A Psicopedagogia no estado de Mato Grosso do Sul ....................................... 07 UNIDADE 2 – CONCEITUAÇÃO, OBJETO DE ESTUDO E BASES EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA ..................................................... 10 2.1 Conceito e Caracterização ................................................................................ 10 2.2 Objeto de estudo da Psicopedagogia ................................................................ 12 2.3 Bases epistemológicas da Psicopedagogia ...................................................... 16 2.4 Campos de atuação: o psicopedagogo e seus âmbitos de intervenção ............ 19 2.5 Abordagem psicopedagógica da aprendizagem e os problemas decorrentes do processo .................................................................................................................. 26 UNIDADE 3 – O PSICOPEDAGOGO: FORMAÇÃO E IDENTIDADE DESTE PROFISSIONAL ..................................................................................................... 35 3.1 A formação como ponto de partida ................................................................... 35 3.2 Perfil, competências e habilidades .................................................................... 36 3.3 A Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp ........................................ 39 UNIDADE 4 – O PSICOPEDAGOGO E OS NOVOS DESAFIOS EDUCATIVOS .. 43 4.1 Desafios da escola atual ................................................................................... 43 4.2 O contexto educacional: a escola, a sala de aula, que espaços são estes? ..... 47 4.3 A Psicopedagogia como instrumento no auxílio à prática docente ................... 55 3 www.eunapos.com.br UNIDADE 1 - TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA PSICOPEDAGOGIA 1.1 Na Europa A Psicopedagogia não nasceu no Brasil e tampouco na Argentina. Ela teve sua origem na Europa, ainda no século XIX. Inicialmente, pensaram sobre o problema de aprendizagem os filósofos, os médicos e os educadores. O nascimento da Psicopedagogia ocorreu na Europa do século XIX. Todavia, o ano preciso ainda não é um dado consensual na literatura. Segundo Andrade (2004), ele teria acontecido na década de 1920, momento em que se instituiu o primeiro Centro de Psicopedagogia do mundo. Ligado ao pensamento psicanalítico de Lacan, tal centro, de acordo com a autora, fundamentou aquilo que posteriormente foi nomeado de Psicopedagogia Clínica. Bossa (1994) e Masini et al. (1993), por outro lado, apontam que a Psicopedagogia teria nascido no ano de 1946, período em que se deu a criação dos primeiros Centros Psicopedagógicos na Europa, em Paris, por Juliette Favez-Boutonier e George Mauco com direção médica e pedagógica. O nome “Centro Psicopedagógico” foi escolhido propositadamente, para que os pais das crianças consideradas portadoras de “problemas” encaminhassem os seus filhos com menos constrangimento, sugerindo que a consulta seria de caráter psicopedagógico e não médico. Estes Centros uniam conhecimentos das áreas de Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia e tentavam readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar, bem como atender crianças que apresentavam dificuldades de aprendizagem na escola apesar de serem inteligentes (MERY apud BOSSA, 2000, p. 39). 1.2 Nas Américas: EUA e Argentina Nos Estados Unidos, o mesmo movimento se desenrolava, porém a ênfase dada era maior nos aspectos médicos, dando um caráter biológico à abordagem das dificuldades de aprendizagem. Na segunda década do Século XX, surgem os primeiros centros de reeducação para delinquentes infantis nos Estados Unidos e na Europa. Cresce o 4 www.eunapos.com.br número de escolas particulares e de ensino individualizado para crianças consideradas de aprendizagem lenta. Por volta de 1930, surgem na França os primeiros centros de orientação educacional infantil, com equipes formadas por médicos, psicólogos, educadores e assistentes sociais (MERY apud BOSSA, 2000, p.11). Esperava-se através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia, conhecer a criança e o seu meio, para que fosse possível compreender o caso para determinar uma ação reeducadora. Diferenciar os que não aprendiam, apesar de serem inteligentes, daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou sensorial era uma das preocupações da época. Em seu percurso inicial, observou-se que a Psicopedagogia teve uma trajetória significativa tendo primeiramente um caráter médico-pedagógico, do qual fazia parte uma equipe do Centro Psicopedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e pedagogos. Somente a partir da década de 50 é que ela se configura na América do Sul. A Argentina, pioneira na América Latina, dá início à formação universitária em 1956. Tendo como precursora a européia Arminda Aberastury, professora, pediatra e psicanalista e o argentino, Jorge Visca, considerado o pai da Psicopedagogia (criador do Instituto de Psicopedagogia da Argentina, na década de 60) e responsável direto pela definição oficial da Psicopedagogia como área de conhecimento. Na década de 70, surgiram em Buenos Aires, os Centros de Saúde Mental, onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento. Estes profissionais perceberam, um ano após o tratamento, que os pacientes resolveram seus problemas de aprendizagem, mas desenvolveram distúrbios de personalidade como deslocamento de sintoma. Resolveram então incluir o olhar e a escuta clínica psicanalítica, perfil atual do psicopedagogo argentino. A corrente européia influenciou a Argentina, que passou a atender as pessoas portadoras de dificuldade de aprendizagem, realizando um trabalho de reeducação. Os conhecimentos da Psicanálise e da Psicologia Genética, além de todo o conhecimento de linguagem e de psicomotricidade, eram acionados para melhorar a compreensão das referidas dificuldades. 5 www.eunapos.com.br Na Argentina, a Psicopedagogia tem um caráter diferenciado da Psicopedagogia no Brasil. Naquele país são aplicados testes de uso corrente, “alguns dos quais não são permitidos aos brasileiros por serem considerados de uso exclusivo dos psicólogos” (BOSSA, 2000, p. 58). [...] os instrumentos empregados são mais variados, recorrendo o psicopedagogo argentino, em geral, a provas de inteligência, provas de nível de pensamento; avaliação do nível pedagógico; avaliação perceptomotora; testes projetivos; testes psicomotores; hora do jogo psicopedagógico (Id. Ibid., 2000, p. 42). 1.3 No Brasil Já o movimento da Psicopedagogia no Brasil remete ao seu histórico na Argentina. Devido à proximidade geográfica e ao acesso fácil à literatura (inclusive pela facilidade da língua), as idéias dos argentinos muito têm influenciado a nossa prática. A Psicopedagogia chegou ao Brasil na década de 70, em uma época cujas dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos (BOSSA, 2000, p. 48-49). A Psicopedagogia surge juntamentecom a criação da Escola Guatemala, no Rio de Janeiro, na década de 80. Esta escola iniciou um trabalho na ação preventiva junto ao professor, ou seja, buscavam-se saídas para as impropriedades do ensino. Porém, desde a década de 60, a Psicopedagogia começou a se estruturar no Brasil através de trabalhos de alguns autores brasileiros. Nesta época, a preocupação estava voltada mais para as deficiências que geravam problemas de aprendizagem, do que a outros fatores. 1.3.1 Traços Históricos da Psicopedagogia no Brasil Pode-se destacar como traços da Psicopedagogia no Brasil os seguintes: Desmembramento das faculdades de educação em faculdade de Pedagogia e Psicologia. Comprometimento do currículo. 6 www.eunapos.com.br Demanda por profissionais mais qualificados. Revisão curricular na universidade e busca por um referencial mais globalizante e menos tecnicista no final dos anos 70 e início da década de 80. Profissionais que trabalhavam com crianças com problemas de aprendizagem buscam um aprofundamento maior. Pesquisas na Argentina e a vinda ao Brasil do Professor Quirós. Influência de trabalhos de outros países através de uma bibliografia consistente. Criam-se os primeiros cursos com enfoque psicopedagógico no início da década de 70 na PUC/São Paulo. Profissionais que atuavam nas escolas não tinham visão clara dos problemas de aprendizagem. Distância entre o acesso à produção de Piaget e a prática escolar gerando inquietude nos profissionais. A busca por um caminho que possibilitasse uma visão mais abrangente que incluísse aspectos psicomotores, cognitivos e emocionais envolvidos na aprendizagem. Cria-se em 1979, em São Paulo, no Instituto Sedes Sapientiae, o primeiro curso regular de Psicopedagogia. A partir da década de 80 surgem os cursos de especialização Lato Sensu em Psicopedagogia, a princípio em São Paulo e, posteriormente, em outras instituições e regiões do Brasil. Sampaio (2006) confirma que o Brasil recebeu influências tanto americanas, quanto europeias, através da Argentina. Notadamente no sul do país, a entrada dos estudos de Quirós, Jacob Feldmann, Sara Paín, Alicia Fernández, Ana Maria Muñiz e Jorge Visca enriqueceram o desenvolvimento desta área de conhecimento no 7 www.eunapos.com.br Brasil, sendo Jorge Visca um dos maiores contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil. Visca foi o criador da Epistemologia Convergente, uma linha teórica que propõe um trabalho com a aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Teoria Psicogenética de Piaget; Escola Psicanalítica (Freud); e a Escola de Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière. Visca propõe o trabalho com a aprendizagem, em que o principal objeto de estudo são os níveis de inteligência, com as teorizações da psicanálise sobre as manifestações emocionais que representam seu interesse. 1.4 A Psicopedagogia no Estado de Mato Grosso do Sul Em Mato Grosso do Sul, a Psicopedagogia começou a escrever sua história em 1994, quando a UCDB/Universidade Católica Dom Bosco, ofereceu à comunidade o primeiro curso Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional da região Centro-Oeste. Por ser uma nova área de conhecimento, a sociedade de modo geral desconhecia e estranhava o nome e seu campo de atuação. A pergunta que se ouviu durante muito tempo foi, psico o quê? O que faz o psicopedagogo? É uma espécie de psicólogo? A partir desta primeira turma, muitas outras se constituíram, sendo que a UCDB continua oferecendo a formação em Psicopedagogia clínica e institucional, gozando de muita credibilidade e reconhecimento da sociedade, em função da proposta pautada na formação de um profissional multiespecialista em aprendizagem humana, que congrega conhecimentos de diversas áreas, a fim de intervir nesse processo, seja para potencializá-lo ou para sanar possíveis dificuldades, utilizando instrumentos próprios da Psicopedagogia. A Psicopedagogia no interior do Estado do MS tem seu início em 2003. Se por um lado, pretendia apenas atender à demanda das escolas que acumulavam interrogações sobre o processo de aprendizagem de seus alunos, sobretudo, daqueles que tinham as dificuldades aparentes na atividade do aprender, por outro 8 www.eunapos.com.br buscavam apenas responder a essas indagações num plano mais restrito de Psicopedagogia. Nesse sentido, ao que tudo indica pretendia-se que educadores, dos diversos níveis de ensino, tivessem essa formação para explicarem melhor suas próprias práticas ante aqueles aprendizes que não conseguiam aprender, acompanhar os conteúdos, passar o ano letivo obtendo as médias necessárias ou satisfatórias, etc. Sendo assim, formar-se como psicopedagogo era sinônimo de conhecer melhor sua prática, só isso. Contudo, se por um lado, pretendiam ampliar a formação do professor, promovendo a especialização, mais a título de melhorias salariais, por outro não ofereceram subsídios melhores para a aplicação da psicopedagogia tanto no contexto clínico, quanto no institucional. Em outras palavras, havia uma melhoria de salário apenas, enquanto que a efetivação da prática psicopedagógica ficava relegada à posterioridade. Isso pode ser visto e entendido nos dias atuais quando são encontrados profissionais que se dizem psicopedagogos, mas não exercem a prática, nem sequer sabendo qual o contexto clínico e qual contexto institucional pode ser efetivada essa atuação. Dessa forma, uma vez que as estruturas curriculares “deixaram a desejar” muitos alunos desses cursos retornaram, posteriormente, às salas de aula para refazerem a especialidade. A partir do curso oferecido pela UCDB, alguns psicopedagogos criaram um grupo de estudos, denominado mais tarde de núcleo, vinculado a ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia – em São Paulo. Exercício 1 1. A Psicopedagogia não nasceu no Brasil e nem na Argentina, nasceu na Europa no século XIX, mas esse dado não é consensual na literatura, portanto, assinale a afirmativa INCORRETA: a) Segundo Andrade (2004), surgiu em 1920 com o primeiro Centro de Psicopedagogia. b) Bossa (1994) e Massini (1993) apontam que a Psicopedagogia teria nascido no 9 www.eunapos.com.br ano de 1946, período em que se deu a criação dos primeiros Centros Psicopedagógicos na Europa, em Paris. c) Surgiu na França em 1870, através do Centro de Psicopedagogia ligado ao pensamento psicanalítico de Lacan. d) Segundo Souza (2003) surgiu em 1920 o primeiro Centro de Psicopedagogia. 2. O movimento da Psicopedagogia no Brasil remete ao seu histórico na Argentina, devido à proximidade geográfica e ao acesso fácil à literatura. Qual a alternativa que não condiz com os traços históricos da Psicopedagogia no Brasil? a) Pesquisas na Argentina e a vinda ao Brasil do Professor Quirós. b) A ausência de uma bibliografia consistente. c) Criam-se os primeiros cursos com enfoque psicopedagógico no início da década de 70 na PUC/São Paulo. d) A consistência de uma bibliografia da Argentina. 3. Jorge Visca criou uma linha teórica que propõe um trabalho com a aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Teoria Psicogenética; Escola Psicanalítica e a Escola de Psicologia Social. Sua linha teórica denomina-se: a) Epistemologia Convergente. b) Epistemologia Psicogenética. c) Epistemologia Psicopedagógica. d) Epistemologia Divergente. 10 www.eunapos.com.br UNIDADE 2 - CONCEITUAÇÃO, OBJETO DE ESTUDO E BASES EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA 2.1 Conceito e Caracterização Para Neves, apud Bossa (2000, p.6): Falar sobre Psicopedagogia é, necessariamente, falar sobre a articulação entre educação e psicologia, articulação essa que desafia estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora presente quase sempre no relato de inúmerostrabalhos científicos que tratam principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o termo Psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão conceitual. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa define o termo psicopedagogia como “aplicação da psicologia experimental à pedagogia” (1992, p.111). De acordo com Kiguel apud Bossa (2000, p.7), que também tem contribuído para o processo de construção do saber psicopedagógico: “a Psicopedagogia historicamente surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional”. Fonte: http://www.enscer.com.br/neuroeducacao/inclusao/imagens/Image3.gif Inicialmente, a Psicopedagogia foi usada de forma adjetiva, indicadora da inevitável intercessão desses dois campos do conhecimento que, em virtude do desenvolvimento científico havido, tornaram-se campos separados. Dentro dessa conotação adjetiva da Psicopedagogia, alguns autores, principalmente pertencentes ao campo pedagógico, no final da década de 70 e início dos anos 80 no Brasil, 11 www.eunapos.com.br chamaram de “atitude psicopedagógica” o que na verdade era um “psicologismo radical”. O que esses autores não pareciam perceber era a influência humanista1 na educação, em diversos momentos e, sobretudo, nos anos 60 e 70, de duas correntes opostas da Psicologia que, tomadas como base teórica, traziam procedimentos pedagógicos diferentes. Por um lado, havia os aspectos da teoria behaviorista, assumidos de forma absoluta, o que levou à apologia das listagens das instruções programadas, tão ao gosto da época. Essa tecnologia de ensino parecia descartar por definitivo o papel do professor e colocava o aluno apenas como uma peça de engrenagem, submisso a um processo que lhe era imposto e no qual tinha pouca ou quase nenhuma participação criadora. Por outro lado, o movimento humanista, liderado pelas correntes rogerianas, alcançava também a escola. Assim, ambas as abordagens aplicadas à Educação tinham como secundário o aspecto social do sujeito, descartando a possibilidade dele ser, igualmente, um fator decisivo na aprendizagem e fracasso escolar. Surge então, no início da década de 80, um movimento que, apoiado no materialismo dialético, advogava para o social. Porém, essa corrente também acabou perdendo a visão interdisciplinar e a multiplicidade de aspectos que o ser humano apresenta. O social passava a ser o único fator existente; o psicológico e o biológico pareciam não existir no ser humano. Neste contexto, a Psicopedagogia retornou gradativamente ao cenário pedagógico, adquirindo um caráter interdisciplinar, buscando conhecimentos em outros campos e, no “momento atual, à luz de pesquisas e contribuições das áreas de psicologia, sociologia, antropologia, linguística, epistemologia e outras, constrói seu aporte teórico”. Atualmente, vencendo a visão reducionista que identifica a palavra por suas partes constitutivas (psicologia / pedagogia), a Psicopedagogia caracteriza-se como 1 A abordagem humanista dá ênfase a relações interpessoais e ao crescimento que delas resulta, centrada no desenvolvimento da personalidade do indivíduo em seus processos de construção e organização pessoal da realidade, e em sua capacidade de atuar, como pessoa integrada. Dá-se igualmente ênfase à vida psicológica e emocional do indivíduo e à preocupação com sua orientação interna, com o autoconceito, com o desenvolvimento de uma visão autêntica de si mesmo, orientada para a realidade individual e grupal. (MIZUKAMI, 1986). 12 www.eunapos.com.br uma área de conhecimento e de atuação dirigida para o processo de aprendizagem. Difere da pedagogia porque não se ocupa de métodos ou técnicas de ensino, assim como da psicologia escolar porque não reduz seu trabalho e investigação ao âmbito da escola. De acordo com Bossa (2000), a Psicopedagogia é um campo no qual floresceu o conceito de sujeito autor, é uma área de estudo interdisciplinar que olha para o sujeito como um todo no contexto no qual está inserido, que estuda os caminhos do sujeito que aprende e apreende, adquire, elabora, saboreia e transforma em saber o conhecimento. A concepção de sujeito autor como aquele que constrói seu pensamento se faz presente através de um corpo que sente, existe, ama e proclama sua liberdade de ser, de estar e viver no eterno presente, no eterno agora. Como conhecimento, interessa a todo aquele que se dedica à educação, pois possibilita uma análise das teorias relacionadas com as ações de aprender e ensinar, não apenas no sentido da prática didático-pedagógica, mas no substrato epistemológico que dela se origina para a formação do sujeito aprendente- ensinante. 2.2 Objeto de estudo da Psicopedagogia Na tentativa de elucidar melhor o termo psicopedagogia, vejamos qual é o objeto de estudo da Psicopedagogia segundo alguns psicopedagogos brasileiros. Para Kiguel, apud Bossa (2000, p.8) “o objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio (família, escola e sociedade) no seu desenvolvimento”. De acordo com Neves apud Bossa (2000, p.12), [...] a Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos. 13 www.eunapos.com.br Segundo Scoz, in Bossa (2000, p.8), “a Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”. Do ponto de vista de Weiss (1992, p. 6), “a Psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores”. Em suma, o objeto de estudo da psicopedagogia é, portanto, um sujeito a ser estudado por outro sujeito. Esse estudo pode ser através de um trabalho clínico ou preventivo. O trabalho clínico se dá na relação entre um sujeito com sua história pessoal e sua modalidade de aprendizagem buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implícita no não-aprender. Nesse processo, investigador e objeto-sujeito interagem constantemente. No trabalho preventivo, a instituição (espaço físico e psíquico da aprendizagem) é objeto de estudos uma vez que são avaliados os processos didático-metodológicos e a dinâmica institucional que interferem no processo de aprendizagem. Ainda, segundo Bossa (2000), na sua função preventiva, cabe ao profissional: detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer processos de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. Dos profissionais brasileiros citados, podemos verificar que o tema da aprendizagem os ocupa e preocupa, sendo o processo de aprendizagem a causa e a razão da Psicopedagogia. Este também é o pensamento dos profissionais argentinos que atuam na área e que estão envolvidos pelo viés de suas formulações teóricas mais expressivas, sendo os mais destacados: Alícia Fernandes, através de 14 www.eunapos.com.br sua psicopedagogia clínica, a psicopedagogia operativa de Sara Paim, a epistemologia convergente de JorgeVisca e Marina Müller. Como prática, em seus primórdios voltou-se para os problemas relacionados com as dificuldades de aprender e o fracasso escolar, hoje, porém, visa favorecer a apropriação do conhecimento pelo ser humano ao longo da sua evolução, tendo por objetivo a promoção e otimização de aprendizagens. Configura-se como uma prática institucional e clínica que integra diferentes campos do conhecimento, envolvendo a elaboração teórica a respeito do ponto de convergência com que opera. As relações com o conhecimento, o vínculo com a aprendizagem e as significações contidas no ato de aprender são estudados pela Psicopedagogia, a fim de que possa contribuir para a análise e reformulação de práticas educativas sociais e para a ressignificação de atitudes subjetivas. A definição do objeto de estudo da Psicopedagogia passou por fases distintas. Em diferentes momentos históricos que repercutem nas produções científicas, esse objeto foi entendido de várias formas. Houve tempo em que o trabalho psicopedagógico priorizava a reeducação, o processo de aprendizagem era avaliado em função de seus déficits, e o trabalho procurava vencer tais defasagens. O objeto de estudo era o sujeito que não podia aprender, concebendo-se a “não aprendizagem” pelo enfoque que salientava a falta. Esse enfoque buscava estabelecer semelhanças entre grandes grupos de sujeitos, as regularidades, o esperado para determinada idade, visando reduzir as diferenças e acentuar a uniformidade. Posteriormente, surge uma nova fase fundamentada na Psicanálise e na Psicologia Genética. Essa concepção, segundo Bossa (2000, p.12), “leva em conta a singularidade do indivíduo ou grupo, buscando o sentido particular de suas características e suas alterações, segundo as circunstâncias da sua própria história e do seu mundo sócio-cultural”. Atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de aprendizagem segundo a qual participa desse processo um equipamento biológico com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma de relação do sujeito com o meio, sendo que essas disposições influenciam e são influenciadas pelas condições sócio-culturais do sujeito e do seu meio. 15 www.eunapos.com.br Sendo a Psicopedagogia uma área de conhecimento e de atuação dirigida para o processo de aprendizagem, seu objeto de estudo é o ser cognoscente, ou seja, o sujeito que se volta para a realidade e dela retira um saber. Vista no âmbito de um sistema complexo e inerente à condição humana, a aprendizagem não é estudada pela Psicopedagogia no espaço restrito da escola, ou num determinado momento da vida, posto que ocorre em todos os lugares, durante todo o tempo de existência. Podemos afirmar também que sendo o objeto de estudo da Psicopedagogia a aprendizagem como uma forma que a espécie humana desenvolveu para se adaptar ao meio, pela complexidade desse mecanismo, a Psicopedagogia configura- se como um campo multidisciplinar, cercando-se para isso de disciplinas teóricas sobre as bases orgânicas, psicológicas e sociais. Neste prisma, o trabalho psicopedagógico acontece entre o ser em processo de construção do conhecimento e o psicopedagogo. Neste contexto, o trabalho psicopedagógico pode assumir uma feição preventiva ou terapêutica e estar relacionado com equipes ligadas aos campos da educação e da saúde. Evoluiu a partir de uma demanda da sociedade, que passou a valorizar a aprendizagem a partir de paradigmas integradores e geradores de sínteses, e tem respondido a ela com uma práxis que busca responder as necessidades de compreensão do ser humano em toda a sua complexidade, tendo ampla aceitação nos mais diversos segmentos da sociedade. A Psicopedagogia é, portanto, um campo de conhecimento humano essencial para a sociedade da informação dos tempos atuais, que articula saberes e fazeres de forma transdisciplinar e atende aos indivíduos em suas necessidades de educação continuada no espaço lúdico da aprendizagem, no qual o desejo e o conhecimento se mesclam em criatividade. 16 www.eunapos.com.br 2.3 Bases epistemológicas da Psicopedagogia A Psicopedagogia como uma atividade prática se refere às técnicas de intervenção que tratam dos problemas de aprendizagem e normalmente se conduzem no sentido de trabalhar as possíveis raízes do problema e de resgatar os elementos essenciais à aprendizagem de qualquer conteúdo específico. Dentro dessa ótica, distancia-se do enfoque tradicional da prática pedagógica, que se ocupava especificamente do conteúdo a ser aprendido, para se debruçar sobre as diferentes ordens de dificuldades que possam existir no ato de aprender e, tentando, sobretudo, saná-las. Tem, portanto, um significado terapêutico. Segundo Bossa (2000), a Psicopedagogia é concebida com uma configuração clínica, ainda que sua prática se dê em um enfoque preventivo e, esse caráter clínico significa levar em conta a singularidade do processo a ser investigado, recorrendo tanto às avaliações e intervenções psicopedagógicas que lhe são comuns no trabalho institucional e clínico. Para a autora, o termo distingue- se em três conotações: como uma prática, como um campo de investigação do ato de aprender e como um saber científico. Neste sentido, a Psicopedagogia é entendida como uma área de aplicação que antecede o status de área de estudos, a qual tem procurado sistematizar um corpo teórico próprio, definindo seu objeto de estudo, delimitando seu campo de atuação, e para isso recorrendo à Psicologia, Psicanálise, Linguística, Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia e outras áreas de conhecimento. Fonte: http://migre.me/1b8sc Ainda para a autora, a Psicopedagogia deve se ocupar do estudo da aprendizagem humana e, portanto, preocupar-se inicialmente com o processo de aprendizagem (como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por diversos fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las). 17 www.eunapos.com.br A Psicopedagogia na sua conotação prática não se restringe apenas ao conceito terapêutico. Há outras diferentes modalidades que lhe estão implícitas e que nem sempre são distinguidas com a devida clareza. Se tomamos como base de classificação o modelo médico, temos a prática psicopedagógica subdividida em clínico-terapêutica, que, como já vimos, busca a cura dos sintomas (dificuldade de aprender) e preventiva, que se propõe a impedir que a instituição se faça doente e, consequentemente, zela pela saúde pedagógica dos indivíduos. 2.3.1 O trabalho clínico terapêutico Para Bossa (2000, p.11): O trabalho clínico se dá na relação entre um sujeito com sua história pessoal e sua modalidade de aprendizagem, buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implícita no não-aprender. Nesse processo, onde investigador e objeto-sujeito de estudo interagem constantemente, a própria alteração torna-se alvo de estudo da Psicopedagogia. Isto significa que, nesta modalidade de trabalho, deve o profissional compreender o que o sujeito aprende, como aprende e por que, além de perceber a dimensão da relação entre psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem. A prática psicopedagógica clínica realizada em espaços psicopedagógicos não é, entretanto, a única modalidade de psicopedagogia clínico-terapêutica, posto que pode também ser desenvolvida em instituições que mantêm serviços de atendimento a crianças provenientes de comunidades de baixa renda. Nesse caso, esse trabalho clínico geralmente se faz sob a forma grupal. É o caso, por exemplo, do trabalho clínico desenvolvido no Rio de Janeiro pelo Serviço de Psicologia Aplicada da UERJ, ou pelo núcleo de Orientação e Aconselhamento Psicopedagógico (NOAP) da PUC/RJ. Em Campo Grande/MS, temos o CCS – Centro de Ciências de Saúde da UCDB –Universidade Católica Dom Bosco que desenvolve trabalho semelhante. A Psicopedagogia Clínica pode ser também desenvolvida em hospitais de atendimento psicológico ou psiquiátrico ou mesmo em hospitais gerais. No Brasil, essa modalidade é muito pouco desenvolvida. Há uma experiência no hospital São Paulo, desenvolvida em 1994, no setor de Psicologia Pediátrica do Departamento de 18 www.eunapos.com.br Pediatria da Universidade Federal do Estado de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. A prática clínica terapêutica ainda pode ser desenvolvida dentro da própria escola, geralmente em horário especial de atendimento individual ou em grupo com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, sendo atendidos por um psicopedagogo caracterizando um trabalho psicopedagógico em nível institucional. Houve uma experiência muito próxima desse tipo de atendimento no Colégio Dom Bosco de Campo Grande/MS, trabalho realizado no período de 1996 a 1999, com o objetivo de ajudar as crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental a superarem suas dificuldades de aprendizagem. Bossa (2000, p.13) ainda reforça que O trabalho psicopedagógico na escola, realizado com crianças de 1ª série tem por objetivo favorecer um reforço permanente [...] mais oportunidades para as crianças que apresentam problemas no processo de aprendizagem. 2.3.2 A Psicopedagogia preventiva Diferente da terapêutica, a prática psicopedagógica preventiva busca evitar que as dificuldades de aprendizagem surjam. Bossa (2000, p.13) situa o trabalho preventivo em diferentes níveis de prevenção: [...] no primeiro nível, o psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem. Seu trabalho incide nas questões didático- metodológicas, bem como na formação e orientação de professores, além de fazer aconselhamento aos pais. No segundo nível, o objetivo é diminuir e tratar os problemas de aprendizagem já instalados. Para tanto, cria-se um plano diagnóstico da realidade institucional e elaboram-se planos de intervenção baseados nesse diagnóstico, a partir do qual se procura avaliar os currículos com os professores, para que não se repitam tais transtornos. No terceiro nível, o objetivo é eliminar os transtornos já instalados, num procedimento clínico com todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece aí, uma vez que ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros. 19 www.eunapos.com.br 2.4 Campos de atuação: o psicopedagogo e seus âmbitos de intervenção 2.4.1 O psicopedagogo nas escolas A presença do psicopedagogo nos centros educativos é uma oportunidade de contribuição para a implantação de práticas educativas mais de acordo com os princípios reguladores do ensino atual, ou seja, liderança do professorado no desenvolvimento do currículo, responsabilidade docente na orientação e no acompanhamento do aluno, atenção à diversidade como tarefa comum, etc. Embora seu papel nas escolas se considere ainda em fase de definição, é um profissional decisivo no progresso destas instituições para a incorporação de novas perspectivas. Seu papel está ligado à inovação, à mudança e, finalmente, a qualidade de ensino. A atuação do psicopedagogo como profissional de apoio se justifica sobremaneira porque as necessidades de orientação e assessoramento são inerentes às escolas, pois é um profissional sempre preocupado com a otimização dos contextos educativos em que se encontra. Suas funções incluem a coordenação e o estímulo do conjunto de atividades orientadoras dos professores, assim como o aprofundamento ou a ampliação dessas atividades, transformando-se, dessa forma, numa instância de apoio para a instituição escolar. Nesta perspectiva, o psicopedagogo deve ter claro que seu trabalho ganha sentido à medida que contribui para melhorar os processos educativos e, para isso, precisa trabalhar em colaboração íntima com os professores. 2.4.2 O Psicopedagogo nas equipes de apoio Atualmente, devido à complexidade que envolve a relação sociedade e educação, existe uma oferta considerável de serviços e programas de apoio e ou assessoria às instituições escolares que, segundo seu campo de ação, estão centrados mais nos alunos, nos professores ou na própria instituição. São numerosos os estudos que conceituam e analisam os diferentes modelos de intervenção mediante assessoria, mas centramos nossa atenção no âmbito de intervenção nos espaços escolares, onde se manifesta com mais clareza a 20 www.eunapos.com.br concepção subjacente à intervenção do psicopedagogo, isto é, colaborar com os profissionais da escola na melhoria das condições que determinam a relação de ensino-aprendizagem, a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais e, em geral, a mudança educativa. Entender a complexidade da instituição assim como as inter-relações existentes entre todas as partes será fundamental para a prática do psicopedagogo, cujas funções contemplam assessorar: na prevenção educativa; no levantamento de necessidades; nas avaliações psicopedagógicas; na elaboração dos projetos curriculares; nas medidas para atender à diversidade dos alunos; nas adaptações curriculares e na orientação pessoal, vocacional e profissional dos alunos. 2.4.3 O psicopedagogo como profissional da ação social A extraordinária riqueza de significados do conceito ação social faz com que a tarefa de delimitar seu conteúdo se torne extremamente difícil. O conceito de ação social é usado de forma genérica para se referir a toda uma série de espaços de ação que são produzidos à margem das intervenções próprias da administração pública e que podem dar motivo a atuações muito diversificadas. A ação social assim entendida abrange todos aqueles âmbitos que ficam fora da ação política institucional. Essa acepção suporia que são as atividades desenvolvidas na sociedade, nos chamados segundo e terceiro setor. O segundo setor refere-se a âmbitos em que se desenvolve a atividade econômica lucrativa, isto é, a todo o emaranhado empresarial que configura a economia de uma sociedade. Na abrangência possibilitada por essa interpretação da ação social, o psicopedagogo é um profissional que, sozinho ou como membro de uma equipe multidisciplinar, pode prestar serviço relativo a programas de orientação a instituições de educação não formal. O terceiro setor, também chamado de setor social, cobre uma variada gama de organizações e instituições que têm em comum o desenvolvimento de atividades que não perseguem o lucro pessoal, mas a melhoria generalizada da qualidade de vida. O profissional de psicopedagogia pode envolver-se de duas maneiras diferentes neste setor: como especialista contratado por ONGs que põem suas 21 www.eunapos.com.br competências a serviço dos processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos em contextos marginais ou empobrecidos ou cumprindo uma ação voluntária. 2.4.4 O psicopedagogo na orientação universitária Observa-se uma expansão no ensino superior que inclui maior diversidade de alunos e uma amplitude no mercado de trabalho. Essa tendência indica a necessidade de orientação na universidade. Os âmbitos de atuação pelo psicopedagogo são: orientação para o desenvolvimento da carreira; estratégias de aprendizagem; atenção à diversidade e prevenção e desenvolvimento humano. Na Europa, o desenvolvimento deste trabalho pelo psicopedagogo é comum, no Brasil está se criando este espaço. Fonte: http://migre.me/1b7Qa 2.4.5 O Psicopedagogo na área de recursos humanos Em todas as organizações complexas modernas desenvolveu-se uma área de função de recursos humanos com o objetivo de melhorar a eficiência e a eficácia das pessoas da organização. Dentro dessa função podemos distinguir três âmbitos: políticas, gestão e administração derecursos humanos. Atualmente, já se tem algumas experiências de intervenção psicopedagógica nas organizações no âmbito de recursos humanos no qual o psicopedagogo pode atuar, são: no planejamento estratégico; na estrutura organizativa; na seleção de pessoal; plano de acolhimento; projetos de planos de carreira; avaliação do desempenho; comunicação interna; formação; prevenção de acidentes de trabalho; cultura organizativa e relações com outros profissionais afins do setor. 2.4.6 O psicopedagogo na clínica A procura de um profissional fora do espaço escolar apresenta alternativas às propostas e condições existentes na escola. O atendimento diferenciado pode ir além das questões-problema vinculadas à aprendizagem podendo trazer à tona, 22 www.eunapos.com.br mais facilmente, as razões que desencadeiam as necessidades individuais, às vezes alheias ao fator escola, que fazem com que as crianças e adolescentes sintam-se excluídos, ou excluam-se a si mesmos do sistema educacional. O papel do profissional está caracterizado, conforme Fernández (1991), por uma atitude que envolve o escutar e o traduzir, transformando-se em uma testemunha atenta que valida a palavra do paciente; completamente inerente às relações entre ele e sua família. Nesta perspectiva, a imparcialidade sem preceitos ou preconceitos na escuta, interpretação, reflexão e intervenção, criando e recriando espaços, é fundamental. Podendo assim a Psicopedagogia, ser considerada como uma forma de terapia. É importante ressaltar que nessa modalidade clínica, o psicopedagogo também não trabalha sozinho, dependendo de parcerias com profissionais de outras áreas como: a Psicologia, a Neurologia, a Medicina e quais outras se fizerem necessárias para o caso a ser atendido. Ganha força a idéia de que o terapeuta é aquele que não cura, mas cuida do outro, tentando amenizar o seu sofrimento. O psicopedagogo é um terapeuta ao trabalhar com a aprendizagem, uma característica humana. Todo trabalho “psi” é clínico, seja realizado numa instituição ou entre as quatro paredes de um consultório. Clínica é a nossa atitude de respeito pelas vivências do outro, de disponibilidade perante seus sofrimentos, de olhar e de escuta além das aparências que nos são expostas. Vai além, pois caberá ao terapeuta a função de dialogar com o corpo, desatando os nós que se colocam como impelidos à vida e à inteligência criativa. E, a esta vida deve-se dar atenção, cuidando do ser. Afinal, não é somente o problema que existe e vive. É preciso olhar para aquilo que vai bem, para o ponto de luz que pode dissipar as trevas, aquilo que escapa ao homem, abrindo espaços para mudanças, um espaço onde o homem possa se recolher e descansar, encontrando seus próprios caminhos para aprender. O que não é ensinar, mas possibilitar aprendizagens. Essa relação promove um processo de crescimento para ambas as partes, criando "ensinantes e aprendentes", numa interação sem papéis fixos e independentes, direcionada para o interior ou exterior de cada envolvido. Deixando de lado particularidades, o próprio ponto de vista e seus condicionamentos, para ver 23 www.eunapos.com.br as coisas a partir delas mesmas, como são. Isso cria uma interdependência ativa que faz com que um complemente o outro e ambos cresçam construindo novos conhecimentos. O olhar do psicopedagogo, além de lúcido deve ser esclarecedor, sem julgamentos ou depreciações. Diante de um olhar assim, a aceitação flui naturalmente. E esta aceitação é a condição primeira, a mais necessária para que se inicie o caminho de cura, aliando a teoria à prática. 2.4.7 A Psicopedagogia Hospitalar A educação hospitalar da criança e do adolescente representa um novo desafio à educação, especificamente ao psicopedagogo, que, devido à sua formação é um dos profissionais mais aptos a esta modalidade. A alternativa de apoio educacional psicopedagógico ao paciente interno é interessante para assegurar-lhe uma boa recuperação em meio à inquietação oriunda da preocupação sobre o tratamento recomendado à recuperação e o tempo de hospitalização. Em suma, o ambiente hospitalar é um local que emana diversos sentimentos e sensações: ora de doença ou saúde, de imensa tensão ou angústia ou então de alívio, cura ou consolo. Extremamente técnico, aos poucos o local se abriu a outros profissionais que não são da área da saúde. No caso do psicopedagogo é necessário conectar-se com a equipe, criando um elo de ligação entre as especialidades. As doenças tratadas nos hospitais podem ser classificadas em: Acidentes domésticos (queimaduras, quedas, feridas), ou acidentes externos. Para esta categoria, juntem-se tentativa de suicídio, estupros e espancamentos (casos de maus-tratos). Esta primeira classificação constitui o que se chama traumatologia e internações gerais. Enfermidades de má formação congênita, como afecções ósseas, nefrológicas, hepáticas, neurológicas ou musculares: má-formação de membros ou do esqueleto, escolioses, luxações congênitas das articulações do quadril, miopatias, etc. 24 www.eunapos.com.br Enfermidades adquiridas ao nascimento ou de crescimento: debilidade motora cerebral, poliartrite, poliomielite, tumores musculares ou ósseos, cânceres. As equipes médicas agrupam cirurgiões, médicos, anestesistas, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, assistentes sociais, bem como, psicopedagogos. Ainda pode-se contar com visitas voluntárias, com intenções diversas, sejam recreativas, religiosas e/ou humanitárias. Toda esta equipe acompanha, direta ou indiretamente, todas as etapas de uma internação, que em geral são enfrentadas de forma diferente por cada indivíduo hospitalizado. A sensação de dor, por exemplo, é sentida diferentemente de acordo com a idade do paciente e de acordo com diferenças individuais. Nessa hora, nossa intervenção ganha uma razão de ser, mas não é, ainda, necessariamente aquilo que traz a cura, logo, não é essencial. Ainda não é fácil de distinguir entre a dor e outras agressões de que a criança é a vítima (separação da mãe, mudança de quadro, rostos e procedimentos desconhecidos). A intervenção deve levar em conta o estado emocional da criança que pede socorro quando se nega a uma atividade ou quando é agressiva. Fonte: http://migre.me/1b7RR Mesmo assim, muitas vezes as crianças não são capazes de expressar nem de reproduzir o que as faz temer, desenvolvendo angústias, fazendo surgir depressão, revolta ou desespero, ou ainda a possibilidade de regressão no nível de desenvolvimento. Mais uma vez, o psicopedagogo é aquele que faz diferença, trazendo o sentimento de valorização da vida, amor próprio, autoestima, aceitação e segurança. Recuperar estes prazeres e garantir a construção dos conhecimentos que estariam acontecendo em ambiente escolar é função do trabalho psicopedagógico que se insere na esfera hospitalar. Afinal, a aprendizagem é um 25 www.eunapos.com.br processo tão amplo e grandioso que ocorre através de interações, em qualquer lugar. 2.4.8 A Psicopedagogia empresarial Muitas mudanças estão acontecendo no desenvolvimento das organizações, determinadas ora pelas imposições do mercado, ora pela necessidade de reorganização do ambiente interno organizacional. O conhecimento humano surge como principal fonte de vantagem competitiva para as organizações. Isso pede uma série de mudanças organizacionais que possibilitem o compartilhamento do conhecimento por meio de adaptação do ambiente e, principalmente pela mudança de comportamento das pessoas. Um dos grandes desafios das organizações do futuro é o de saber usar o conhecimento de cada colaborador, saber somá-los e criar um ambiente de sinergia que lhes garanta o sucesso. As organizações passam a ser,portanto, espaços de processos de aprendizagem efetivos e, saber a forma individual como as pessoas constroem conhecimentos e como os utilizam para explicar a realidade e resolver problemas do cotidiano da organização passa a ser imprescindível. É, nesse cenário, acompanhando o aprender a aprender constante no ambiente organizacional, que o psicopedagogo assume papel significativo ao lado dos profissionais de recursos humanos. Sua ação se dá no sentido de facilitar a construção e compartilhar o conhecimento, incentivando novas formas de relacionamentos, criando sinergia entre o comportamento de gestores e colaboradores. Sua contribuição no planejamento, gestão, controle e avaliação de aprendizagens, pode favorecer a qualidade dos processos de recrutamento, seleção e organização de pessoal, bem como os de diagnóstico organizacional, dando subsídios significativos e perfis específicos aos treinamentos que se efetivam no interior da organização. A Psicopedagogia dentro da organização pode orientar ações avaliando a aprendizagem profissional, propondo e coordenando cursos de atualização que atendam as necessidades específicas desse espaço. É importante ressaltar que a Psicopedagogia é uma área multidisciplinar que não atua sozinha, 26 www.eunapos.com.br dependendo e enriquecendo outras áreas de atuação e trabalhando em parceria com os diversos profissionais da organização. Exercício 2 1. Na tentativa de conceituar a Psicopedagogia, muitos autores se remetem à articulação entre educação e psicologia, entretanto a Psicopedagogia adquiriu um caráter mais amplo buscando conhecimentos em outras áreas, o que demonstra ser: a) Uma área disciplinar. b) Uma área reducionista. c) Uma área interdisciplinar. d) Uma área multidisciplinar. 2. Ao caracterizar o objeto de estudo da Psicopedagogia podemos afirmar que: a) O meio familiar é o foco principal de estudo. b) O processo de aprendizagem humana é a razão da Psicopedagogia. c) O problema de aprendizagem é centro de atenção e estudo. d) o processo de aprendizagem escolar é seu principal foco. 3. Segundo Bossa (2000), a Psicopedagogia é uma configuração clínica que significa levar em conta o sujeito e a singularidade do processo a ser investigado que recorre a: a) Avaliações e intervenções psicopedagógicas. b) Práticas diagnósticas. c) Avaliações psicopedagógicas. d) O diagnóstico psicopedagógico. 27 www.eunapos.com.br 2.5 Abordagem Psicopedagógica da aprendizagem e os problemas decorrentes do processo Para melhor entendermos os problemas de aprendizagem, necessitamos, primeiramente, conceituar o termo aprendizagem de acordo com a idéia de autores psicopedagógicos. Para Pain (1986, p.15): [...] o processo de aprendizagem não configura nem define uma estrutura como tal, e o fato de certos acontecimentos serem passíveis de classificação, sem confusão, sob o nome de aprendizagem, deve-se mais à sua função e modalidade, e no melhor dos casos à sistematização das variáveis intervenientes do que à sua assimilação e uma construção teórica coerente [...]. Se a aprendizagem não é uma estrutura, não resta dúvida de que ela constitui um efeito, e neste sentido é um lugar de articulação de esquemas. Em sua obra, Pain ainda situa o processo de aprendizagem em quatro dimensões: o biológico, o cognitivo, o social e o processo de aprendizagem como função do eu. Segundo Weiss (1992, p.11): [...] a idéia básica de aprendizagem como um processo de construção que se dá na interação permanente do sujeito com o meio que o cerca. Meio esse expresso inicialmente pela família, depois pelo acréscimo da escola, ambos permeados pela sociedade em que estão. Esta construção se dá sob a forma de estruturas complexas. Conforme afirma Visca (1991, p.24), “a aprendizagem é uma construção intrapsíquica, com continuidade genética e diferenças evolutivas, resultante das precondições energético-estruturais do sujeito e as circunstâncias do meio”. De acordo com Coelho (1995, p.10), “a aprendizagem é resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maduro, que se expressa, diante de uma situação- problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência”. Visca (1991, p.45) ainda afirma que “a aprendizagem ajuda o homem a economizar energias na tentativa de resolver os conflitos cognitivo-afetivos que lhe são propostos pelo meio”. 28 www.eunapos.com.br Percebemos pelo entendimento dos autores a abordagem de aspectos diferentes e complementares, o que mostra que a pesquisa sobre aprendizagem é um movimento em constante construção. 29 www.eunapos.com.br 2.5.1 Normalidade X Patologia Uma vez situado o tema aprendizagem, tentaremos definir o âmbito de uma perturbação, isto é, a patologia da aprendizagem. A questão dos limites entre o normal e o patológico é uma das questões fundamentais para a Psicopedagogia. Historicamente, a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir da necessidade de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional. Os fatores etimológicos utilizados para explicar os índices alarmantes do fracasso escolar envolviam quase que exclusivamente, fatores individuais, como desnutrição, problemas neurológicos, psicológicos e outros. Portanto, consideramos pertinente voltarmos ao tempo, revendo alguns aspectos relacionados ao tema, ampliando, assim, a visão. No Brasil, particularmente durante a década de 30, foi amplamente difundido o rótulo de Disfunção Cerebral Mínima – D.C.M., para crianças que apresentavam como sintoma proeminente, distúrbios na escolaridade. Cypel (1986, p.142) refere: [...] em curto espaço de tempo e com relativa facilidade, pais e professores também já adotaram o rótulo de D.C.M. e antes de qualquer referência, na consulta médica, este diagnóstico surgia como queixa: “Dr, o meu filho tem D.C.M.”. A impressão que se tinha é que convivíamos com uma população de anormais, pois esta cifra atingia até 40% dos escolares. Tal concepção organicista e linear apresentava uma conotação nitidamente patologizante, uma vez que todo indivíduo com dificuldades na escola era considerado portador de disfunções psiconeurológicas, mentais e/ou psicológicas. Segundo Dorneles (1986, p.44), semelhante explicação para os fenômenos de evasão e repetência desempenhava uma importante função ideológica, pois “dissimulava a verdadeira natureza do problema e, ao mesmo tempo, legitimava as situações de desigualdades de oportunidades educacionais e seletividade escolar”. Fonte: http://migre.me/1b6um 30 www.eunapos.com.br O D.C.M. foi apenas um dentre os vários diagnósticos empregados para camuflar problemas sócio-pedagógicos traduzidos, ideologicamente, em termos de psicologia individual. Termos como dislexia, disritmia e outros, também foram usados para este fim. No momento atual, à luz de pesquisas psicopedagógicas, que vêm se desenvolvendo, e de contribuições das áreas da Psicologia, Sociologia, Antropologia, Linguística, Neuropsicolinguística, Epistemologia, o campo da Psicopedagogia passa por uma reformulação. De uma perspectiva puramente clínica e individual, busca-se uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem e uma atuação de natureza mais preventiva. O objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento. [...] sabe-se que as expectativas do ambiente face a criança desde seu nascimento, projetos, desejos e medo nela depositados determinarão a resposta ao impacto de uma dificuldade de aprendizagem. Determinarão, também, o manejona tentativa de superação dessa dificuldade e a cooperação para sua cristalização ou solução (KIGUEL, 1983, p.27). Isto é válido tanto para a criança em um ambiente social mais restrito – a família – como no contexto escolar, quando assumem importância os preconceitos dos professores com relação ao ambiente familiar das crianças, particularmente, as de classe desfavorecida. Nessa medida, os obstáculos enfrentados por muitos alunos, na escolaridade, estão sendo compreendidos não necessariamente como decorrentes, de patologias do educando, mas sim, como resultado de uma complexidade de fatores, inclusive, relacionados ao contexto sócio-político-cultural. Uma tarefa importante dos profissionais que se dedicam ao estudo de crianças com dificuldades de aprendizagem é verificar “como esses fatores externos, relativos ao nível sócio-econômico, à escola e aos professores são assimilados pelo 31 www.eunapos.com.br psiquismo da criança, gerando determinadas características ou condições internas que vão favorecer ou prejudicar os desempenhos” (ASSIS, 1985, p.10). Abaurre (1987, p.187-8) define o psicopedagogo como um “mediador de perplexidades”. Na tentativa que o profissional faz de identificar os fatores que interferem na aprendizagem de uma criança e de ajudar a superá-los, “torna-se um mediador entre a instituição social escola e instituição social família, ambas preocupadas com os sintomas do fracasso escolar da criança”. Fonte: http://migre.me/1b4X3 Em decorrência desse papel, prossegue a autora, o psicopedagogo lida com a perplexidade de natureza diversa: a perplexidade da escola que não consegue entender por que certas crianças não aprendem a ler e a escrever. Não encontrando outra saída, senão rotulá-las (apressadamente) de portadores de algum distúrbio de aprendizagem, a escola não reluta em encaminhá-las para especialistas diversos, eximindo-se, assim, de qualquer responsabilidade; a perplexidade das famílias que, até enviarem seus filhos para a escola, não haviam identificado nenhum sintoma preocupante no comportamento habitual dessas crianças; a perplexidade das próprias crianças que, muitas vezes, não entendem a escola e as atividades que ali são chamadas a desempenhar. Perplexas com o tratamento que passam a receber na escola e, consequentemente, em casa, acabam por incorporar o rótulo a elas atribuído e por comportar-se segundo expectativas geradas pelo próprio rótulo. Na tentativa de identificar alguns fatores relacionados aos conceitos de normalidade e de patologia, geradores de tais perplexidades, cabe salientar: 32 www.eunapos.com.br a multiplicidade de fatores que atuam no desempenho escolar (físicos, psicológicos, institucionais e sociais) e a possibilidade de aprofundamento em cada um, especificamente. Parece impossível estabelecer critérios de normalidade e de patologia para tais fatores, sejam eles considerados simultaneamente ou, sobretudo, no seu conjunto; as diferentes concepções teóricas sobre a normalidade e patologia existentes na escola e na família e as diferenças entre concepções explícitas e implícitas nas referidas instituições sociais. Em geral, são as concepções implícitas as que exercem maior influência; a variação do próprio conceito de normalidade e patologia em diferentes fases do desenvolvimento do indivíduo: o mesmo sintoma pode ser considerado normal em uma determinada faixa etária; e, patológico em outra; a variação do conceito de normalidade-patologia, em decorrência dos avanços científicos nas diferentes áreas do comportamento humano. Na educação, particularmente, as idéias de Ferreiro & Tebesroky (1986) sobre psicogênese da língua escrita produziram profundas alterações nesta questão; a crença em que, na verdade, o desenvolvimento harmonioso da aprendizagem representa um ideal, uma norma utópica, mais do que uma realidade. Dessa forma, o normal e o patológico, na aprendizagem escolar, assim como no equilíbrio psico-afetivo, não podem ser considerados como “dois estados distintos um do outro, separados com rigor por uma fronteira ou um grande fosso” (AJURIAGUERA & MARCELLI, 1986, p.61). Assim como é importante estudar o processo evolutivo normal para estabelecer os limites da patologia, é igualmente necessário conhecer o patológico para, no dizer de Freud (1976, p.77), “iluminar o normal”. Para ele, a patologia, à medida que torna as coisas mais toscas, atrai: 33 www.eunapos.com.br [...] a nossa atenção para condições normais que, de outros modos, nos escaparia. Onde ela mostra uma brecha ou uma rachadura, ali pode estar presente uma articulação. Se atirarmos no chão um cristal, ele se parte, mas não em pedaços, ao acaso. Ele se desfaz, segundo linhas de clivagem; embora fossem invisíveis, estavam pré- determinados pela estrutura do cristal. No ponto de vista de Visca (1991, p.68): [...] é possível convir que a aprendizagem possa adotar, no contínuo da normalidade-anormalidade, três grandes formas: normal, patogênica e patológica; cada uma pode ser estudada tanto segundo um enfoque teórico ou evolutivo, quanto sob um enfoque histórico ou sistemático. Unindo ambas as perspectivas, pode-se dizer então que, se a aprendizagem normal é aquela que permitirá aquisições ulteriores positivas, a patogênica consiste em um modo que, sem chegar a ser doente, possui a possibilidade de adoecer; e que a patológica é uma aprendizagem doente e adoecedora. Segundo Ajuriaguerra & Marcelli (1986, p.61-62): [...] o desenvolvimento e a maturação da criança são, por si mesmos, fontes de conflito que, como todo conflito, podem suscitar o aparecimento de sintomas. Assim, os campos respectivos do normal e do patológico interpenetram-se em grande parte: uma criança pode ser patologicamente normal da mesma forma que normalmente patológica. Na área psicológica, identificam como “patologicamente normais”, a hipermaturidade de filhos de pais psicóticos e, como “normalmente patológicas”, as fobias de tenra infância, as condutas de ruptura da adolescência e, ainda, muitos outros estados. Segundo Assis (1985), o papel disciplinador da escola, expresso em atitudes como fazer fila para entrar na sala, obedecer ao sinal, sentar em lugar determinado pela professora, fazer silêncio, organizar cadernos com capricho, etc., pode favorecer a organização mental interna, necessária não apenas para o aprendizado, mas também para o desenvolvimento da personalidade. Fonte: http://migre.me/1b6JO Em muitos casos, contudo, esse papel tem sido prejudicial, porque incentiva o embotamento afetivo, na medida em que a criança é estimulada a seguir regras, a tentar agradar ao adulto, a desempenhar tarefas impecavelmente e a ser disciplinada e ordeira. 34 www.eunapos.com.br A esse respeito, Luzuriaga, in Assis (1985, p.12) afirma: [...] o sistema educacional pode fomentar condutas intelectuais obsessivas, em vez de mentes criadoras e dinâmicas. Por isto, pode ser considerado muito bom e sadio um aluno com bloqueio intelectual tal que se limite a repelir, mecanicamente, a lição ensinada, ou bem outro, cujo caderno, exemplo de capricho, esconda uma angústia obsessiva patológica. Sob tal perspectiva, o bom desempenho não seria expressão de uma psicodinâmica positiva, mas de estar a serviço de perturbações internas e, nesse sentido, contribuiria para dissimulá-las. Com relação a aspectos cognitivos, também deve ser considerado que, em muitas escolas, nem sempre a compreensão é necessária para o êxito escolar. Exige-se que as crianças reproduzam, memorizem, copiem, e não que transformem, observem e expliquem. Infelizmente, grande número de crianças abandona a escola ou são alvos da chamada ‘expulsão encoberta’, em razão de falarem ‘errado’ e de escreverem com falhas ortográficas. Dorneles (1990, p.23) questiona se“seria normal ou patológico o aluno excluir-se de um ambiente que, constantemente, aponte suas supostas incapacidades”. Em síntese, a consideração de aspectos normais e patológicos na aprendizagem de uma criança, em particular, envolve o reconhecimento do sintoma, a avaliação de seu peso e função dinâmica, a sua estrutura pessoal e, finalmente, a apreciação dessa estrutura no quadro geral da evolução genética e do ambiente. A compreensão do fenômeno da aprendizagem, em seus aspectos normais e patológicos, de forma a integrar as várias áreas do conhecimento, a dimensão social do individual e, ainda, os diferentes níveis evolutivos, não é uma tarefa fácil, pois a síntese não se dá em nível teórico, e sim, em nível do fenômeno. Também não é uma tarefa que o psicopedagogo consiga resolver sozinho (KIGUEL, 1987). A necessidade de conhecimento e integração das várias áreas se impõe ao psicopedagogo, uma vez que ele recebe, diretamente das escolas, crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, mas que requerem outros tipos de atendimento. Cabe a este profissional reconhecer os limites de sua atuação, estabelecer prioridades e fazer os encaminhamentos adequados, pois é na interdisciplinaridade, pela conjugação de esforços de diversos especialistas, que se buscará desvendar esse fenômeno tão complexo, tão desafiador, que é a aprendizagem humana. Vale a pena relembrar que o psicopedagogo, profissional entre as áreas da saúde e da educação, deve sempre observar rigorosamente os limites da sua 35 www.eunapos.com.br atuação. Portanto, o psicopedagogo deverá ter embasamento teórico para o desenvolvimento de sua função. Assim sendo, a Psicopedagogia se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de distintas ciências humanas, objetivando adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender, pois o nosso foco é a aprendizagem. 36 www.eunapos.com.br UNIDADE 3 - O PSICOPEDAGOGO: FORMAÇÃO E IDENTIDADE DESTE PROFISSIONAL 3.1 A formação como ponto de partida A categoria profissional dos psicopedagogos organizou-se no país por volta dos anos 50 e 60 do século XX, com a divulgação da abordagem psiconeurológica do desenvolvimento humano, largamente difundida nessa época em nosso meio. Inicialmente, os profissionais psicopedagogos ficaram mais restritos a essa linha da análise. Há alguns anos atrás, a falta de clareza a respeito de problema de aprendizagem fazia com que os alunos com dificuldades fossem encaminhados concomitantemente para profissionais das mais diversas áreas de atuação. Pouco a pouco, foi se criando a consciência da necessidade de uma formação mais globalizante e consistente, que unisse a ação educacional na figura de um único indivíduo, apto e eficaz. Assim os atendimentos antes dispersos entre várias pessoas poderiam centrar-se num profissional, facilitando o vínculo do aluno com o processo de aprendizagem e o resgate do prazer de aprender e desenvolver-se. No atual momento, as recentes contribuições da Sociolinguística e da Psicolinguística, as novas abordagens teóricas sobre o desenvolvimento e a aprendizagem, bem como as inúmeras pesquisas sobre o peso dos fatores intra- escolares na determinação do fracasso escolar, têm oferecido aos profissionais psicopedagogos uma visão mais crítica e abrangente de seu próprio trabalho. Portanto, o psicopedagogo é um profissional pós-graduado, um multi- especialista em aprendizagem humana que congrega conhecimentos de diversas áreas a fim de intervir nesse processo, seja para potencializá-lo ou para sanar possíveis dificuldades, utilizando instrumentos próprios da Psicopedagogia. Sua formação inicial dá-se em nível de cursos de especialização Lato Sensu, regulamentados pela Resolução/CNE/MEC 12/83, de 06/10/83. Atualmente existem muitos cursos Lato Sensu de Psicopedagogia oferecidos no país, seja em instituições particulares ou públicas, fato este que preocupa a ABPp, pois os mesmos não obedecem a nenhuma regulamentação específica. Um dos aspectos importantes sobre a atuação do psicopedagogo é a formação continuada: não basta fazer um curso de pós-graduação, esta é a 37 www.eunapos.com.br formação inicial, portanto, é necessário sempre estar atualizado realizando cursos nas mais diversas áreas como na linguística, neurociência, psicologia entre outras. A formação continuada na área clínica é buscada geralmente fora do Brasil na Argentina ou na França, locais onde esse conhecimento já existe há mais tempo e a profissão já é regulamentada, o que ainda não ocorreu no Brasil. Entretanto, em algumas regiões do país já existem cursos de graduação em Psicopedagogia como, por exemplo, o Rio Grande do Sul e São Paulo. A formação tem continuidade em sessões de supervisão e em grupos de estudos que investem no conhecimento de seu próprio processo de aprendizagem. 3.2 Perfil, competências e habilidades Nos processos de formação em Psicopedagogia é mister salientar que ensinantes e aprendentes vão: [...] autorizando-se mutuamente, sendo autores dos pensamentos que constroem, movidos por seus desejos, em busca de seus processos e movimentos de autonomia, indo além do olhar do/a outro/a para reconhecer a autoria de seu pensamento e produção. Importante é perceber que "ensinagem" e "aprendência" são processos de permissão a autoridade de pensamentos, como movimentos diferenciados e conhecedores da alteridade (FERNANDEZ, 1991, p.12). Ensinar e aprender, aprender e ensinar são processos vitais na busca constante da conquista e do encantamento da autoria do pensamento, presente no universo da relação entre a magia da vida e a própria vida de cada aprendente, sendo espaço/tempo de desenvolvimento de nossa poética existencial, essencial, pessoal, única, singular. O desafio que se configura é o de mudar radicalmente os modos institucionais e pessoais de sermos e estarmos atuando em Psicopedagogia e Educação. Fernández enfatiza este processo ao nos dizer que a nossa função [...] está mais próxima da serpente do Paraíso: tentar com o conhecimento. Tentar, no duplo sentido de tratar (assistir, cuidar) e de tentação. Chamar à autoria, ainda que isso leve ao conhecimento de nossos limites, de nossa finitude, de nossa necessidade do outro para sobreviver, Saímos do Paraíso é certo. Perdemos a felicidade eterna. Porém existirá a felicidade sem o conhecimento (dela mesma e de nós)? O conhecimento os fará livres, e com a liberdade podemos tentar ser felizes. (FERNÁNDEZ, 1991, p.13) 38 www.eunapos.com.br A formação é, antes de tudo, multidisciplinar e assentada sobre diversas ciências: sob o ponto de vista filosófico, seu embasamento deve lhe permitir encontrar as idéias de home, de sociedade e educação implícitas em cada teoria psicopedagógica; sua formação sociológica deve facilitar a compreensão do tempo e do espaço sócio-cultural e econômico que influenciam o fenômeno educacional dos indivíduos pertencentes às classes sócio-econômicas mais baixas; sua formação psicológica deve-lhe permitir conhecer o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor do indivíduo que aprende, sob os ponto de vista evolutivo e econômico das relações interpessoais na família e na escola; o conhecimento de técnicas e métodos, relativos ao desenvolvimento das operações lógicas do pensamento e a aquisição das habilidades básicas psicomotoras e linguísticas é indispensável a este profissional da área psicopedagógica. Daí a importância de conhecimentos psicolinguísticos, neurológicos e outros. Deve-se, contudo, frisar que a integração destes conhecimentos não lhe é dada a priori, mas sim construída através de sua sensibilidade e experiência. O psicopedagogo deve, ao atuar, observar os seguintes princípios: mobilização de seu próprio potencial afetivo para tornar-se um fatorsegurizante e incentivador da aprendizagem do indivíduo; facilitação da aprendizagem, no sentido de desencadear um processo ativo que ocorre no indivíduo que aprende, de acordo com seu ritmo de desenvolvimento; incentivador da aprendizagem, criando condições ambientais capazes de motivar o aluno para a aquisição de certas aprendizagens como leitura, a escrita, etc.; 39 www.eunapos.com.br mobilização global do indivíduo, considerando que os processos cognitivos são determinados por condições psiconeurológicas e orientados pela emoção, pelos afetos e pelos valores culturais de quem aprende; totalidade do processo educativo que consiste na problematização da realidade escolar, pela equipe profissional, desmistificando certas crenças e valores relativos ao ensino, sem perder de vista as limitações que surgirão. O Código de Ética da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), em seu Artigo 4º afirma: [...] estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os profissionais graduados em 3º grau, portadores de certificados de curso de Pós-Graduação de Psicopedagogia; ministrado em estabelecimentos de ensino oficial e pré-reconhecido, ou mediante direitos adquiridos, sendo indispensável submeter-se à supervisão e aconselhável trabalho de formação pessoal. A profissão de psicopedagogo ainda não foi regulamentada do ponto de vista legal, mas já existe um anteprojeto de lei, documento este intitulado: Carta de intenções para a regulamentação profissional do psicopedagogo o qual foi apresentado na Câmara dos Deputados Federais pelo deputado Barbosa Neto em 14 de maio de 1997. Este projeto foi encaminhado à Comissão de Trabalho no dia 15/5/97 e aprovado pela mesma Comissão no dia 3/9/97. Após a aprovação, este Projeto de Lei foi encaminhado à Comissão de Educação, Cultura e Desporto onde permaneceu por quatro anos e também foi aprovado, com algumas emendas, no dia 12/9/01. Atualmente, o Projeto de Lei está na Comissão de Constituição e Justiça esperando pela sua aprovação. Caso seja aprovado, o Projeto de Lei irá para o Senado para a sua apreciação e, depois para ser sancionado pela Presidente da República. O que certamente acontecerá, pois, avanços já podem ser contabilizados nesta área. Em 20/9/01, o projeto de lei nº 108/01 foi aprovado no Estado de São 40 www.eunapos.com.br Paulo, autorizando o poder Executivo a implantar assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos públicos de ensino básico. Tendo em vista o trabalho e empenho da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp, já tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação, a ocupação de Psicopedagogo, porém, isso não é suficiente, faz-se necessário que esta profissão seja regulamentada. Neste cenário, a Psicopedagogia vem ganhando espaço nos meios educacionais brasileiros, despertando cada vez mais o interesse dos profissionais que atuam nas escolas e buscam subsídios para sua prática. Esse espaço não pode ser perdido. Enquanto campo do saber educativo, a Psicopedagogia deve estar presente no enfrentamento dos problemas cruciais da educação brasileira, assumindo uma atuação consciente e comprometida. Eis o importante papel da Psicopedagogia, que definimos como área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades e que, numa ação profissional, deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. 3.3 A Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp A Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp- é uma entidade de caráter científico-cultural, sem fins lucrativos, que congrega profissionais militantes da área de Psicopedagogia. Em 12 de novembro de 1980, um grupo de profissionais, já envolvidos e atuantes nas questões relativas aos problemas da aprendizagem, fundou a Associação Estadual de Psicopedagogos do Estado de São Paulo (AEP). Devido ao grande interesse a sua expansão em nível nacional surgiu como necessidade imperiosa. Em 1986, a AEP transformou-se na ABPp e, gradativamente, foram sendo criados Núcleos e Seções por todo o Brasil. A ABPp tornou-se uma entidade de representação do grupo que cadastrava seus profissionais e atuava na consolidação da identidade legal da categoria, na 41 www.eunapos.com.br elaboração, publicação e revisão de conhecimentos e tendências na área, bem como na organização de eventos. Uma de suas primeiras ações em termos nacionais foi a promoção do “I Congresso Brasileiro de Psicopedagogia” conjuntamente ao “III Encontro de Psicopedagogos”, cuja finalidade era exatamente a de reforçar a importância da integração de conhecimentos para se compreender o processo de aprendizagem como um todo, o que já havia tentado enquanto Associação paulista. Após esse encontro, vários outros eventos foram promovidos pela ABPp. Além de sua atuação na promoção de encontros, congressos, seminários etc., a ABPp passou a agir na orientação dos psicopedagogos do país. Com esse objetivo, o Conselho Nacional da ABPp aprovou, em 2000, um documento (“Diretrizes Básicas da Formação de Psicopedagogos no Brasil e Eixos Temáticos para Cursos de Formação em Psicopedagogia”) em que constavam sugestões de diretrizes para a consolidação e identidade da formação do psicopedagogo nacional. A ABPp também aprovou, em 12 de julho de 1992, durante a assembléia geral realizada no “V Encontro” e “II Congresso de Psicopedagogia”, um código de ética (“Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia”) que, dentre outros fins, pretendia delimitar melhor os objetivos da Psicopedagogia e a identidade do psicopedagogo no Brasil. Tal Código declarava que a Psicopedagogia seria um campo de atuação em Saúde e Educação voltado para o processo de aprendizagem humana em seus padrões normais e patológicos, considerada a influência do meio nos casos. Ainda, segundo o Código, tal campo atuaria a partir de procedimentos, técnicas e métodos próprios e valer-se-ia das várias áreas do conhecimento humano voltadas para a compreensão do ato de aprender (em seu sentido ontogenético e filogenético), tendo em vista a sua natureza interdisciplinar. A base desse trabalho seria de origem clínica e institucional, de caráter preventivo e ou remediativo, tendo como metas essenciais a promoção da aprendizagem e a realização de pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia. O documento indicava ainda que o psicopedagogo deveria atuar somente nos limites das atividades que lhe coubesse, bem como considerasse a existência dos casos 42 www.eunapos.com.br referentes a outros campos de especialização e a necessidade do encaminhamento para diferentes profissionais. Nessa linha de atuação, a ABPp posteriormente criou uma Comissão de Ética, composta por membros de seu Conselho, cuja ação dar-se-ia na orientação sobre a formação profissional do psicopedagogo e sobre sua conduta profissional, bem como em relação à conduta dos grupos associativos de psicopedagogos, com base no Código de Ética. Hoje, a ABPp se encontra presente em todo país, tendo seção na Bahia, em Brasília, no Ceará, em Goiás, em Minas Gerais, no Paraná Norte, no Paraná Sul, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Norte, no Rio Grande do Sul, em São Paulo, em Sergipe, bem como núcleos no Espírito Santo, no Sul Mineiro e em Teresina. Sem embargo dessa história da ABPp, vale lembrar que ela se constitui numa entidade representativa de uma categoria profissional que, até o presente, não é reconhecida legalmente no Brasil. A ABPp promove conferências, cursos, palestras, jornadas, congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua área de atuação, através da revista científica Psicopedagogia e do site www.abpp.com.br. Podem associar-se à ABPp todas as pessoas interessadas na Psicopedagogia, tendo ou não concluído a sua
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