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Fisiologia 3 Aula 3 – Eletrofisiologia cardíaca e o sistema condutor II Como ocorre a liberação de cálcio? Na musculatura estriada esquelética: Observando a imagem, conseguimos identificar um terminal sináptico, sendo uma placa motora e fazendo parte do sistema somático, logo, o corpo do neurônio pré-sináptico está presente no corno ventral da medula espinal. Observamos as invaginações da membrana, formando as fendas sinápticas da musculatura estriada esquelética e também os Túbulos T, que são invaginações do sarcolema da musculatura estriada esquelética. Outras observações na figura incluem a presença do retículo sarcoplasmático com a presença de cálcio em seu interior, lembrando que na musculatura estriada esquelética não há a presença de cálcio no interior dos Túbulos T; e a presença da molécula de troponina cobrindo a cabeça da miosina e impedindo a sua interação com a actina por meio de ligações de pontes cruzadas fortalecidas. No interior do terminal sináptico temos o armazenamento de acetilcolina, típicos de ações na musculatura estriada esquelética, sendo liberado na fenda sináptica e ligando-se com o receptor específico nicotínico, que promove a entrada de sódio e a saída de potássio, despolarizando a célula e permitindo que os canais voltaico dependentes nas fendas subneurais possam ser abertas e propagar o potencial de ação ao longo da membrana, lembrando que esse PA é bidirecional. Quando esse PA atinge as regiões que possuem Túbulos T, há a ativação de um receptor de dihidropiridina que ativa um segundo receptor, um receptor de rianodina, ao qual está acoplado. Esse receptor de rianodina está no retículo sarcoplasmático, logo, ao ser ativo, há a abertura dos canais de cálcio no meio intracelular. Uma vez esse cálcio liberado no meio intracelular haverá a sua ação em miofibrilas contrateis, ligando-se à troponina C e deslocando a tropomiosina de seu sítio de ligação da miosina com a actina, ou seja, promoverá a interação de miosina com actina e a contração da musculatura estriada esquelética. Na musculatura estriada cardíaca: Na representação podemos observar um esquema muito semelhante ao que vimos anteriormente. Agora, estamos nos referindo à musculatura estriada cardíaca. Temos então a membrana celular, com o túbulo T da musculatura estriada cardíaca e após a continuação da membrana. Esquematicamente, temos na membrana celular uma bomba trocadora de sódio-cálcio e uma bomba sódio-potássio ATPase. Há a presença de um canal de cálcio no Túbulo T, além de um receptor de rianodina e uma bomba de cálcio, conhecida como SERCA2, no retículo sarcoplasmático, bombeando cálcio para o interior do retículo. Como estamos falando de musculatura estriada cardíaca, não iremos considerar a ação da acetilcolina, mas sim a despolarização do nó sinoatrial e do seu complexo condutor. Temos então a chegada do PA na membrana das células cardíacas, atingindo as regiões dos túbulos T e lá há a ativação dos canais de cálcio presentes, fazendo com que o cálcio presente no túbulo T passe para o interior da célula. Esse cálcio extracelular é muito importante para a contração do músculo cardíaco, uma vez que o retículo sarcoplasmático do músculo cardíaco possui uma capacidade de armazenamento menor. Esse cálcio que entra no meio intracelular irá promover a contração da musculatura estriada cardíaca e também ativará o receptor de rianodina, liberando o cálcio que estava armazenado no retículo, que também irá atuar em um feedback positivo nos próprios receptores de rianodina. Após o potencial de ação, existem estruturas que serão importantes durante o relaxamento muscular, por meio de remoção do cálcio intracelular. Primeiramente, os receptores de rianodina são fechados com o fim do estímulo por cálcio, existindo também uma bomba (SERCA2) que bombeia o cálcio do meio intracelular para o interior do retículo sarcoplasmático, sendo ativada de uma forma muito rápida. Parte desse cálcio que está no citoplasma é também bombeado para fora da célula, por meio de um trocador chamado de trocador sódio-cálcio, sendo que o cálcio exocitado também pode se acumular novamente nos túbulos T para uma possível futura despolarização. Essa ação do trocador de cálcio- potássio é modulada pela ação da bomba sódio-potássio. Iremos ver também que o sistema nervoso simpático e parassimpático irá agir aumentando alguns canais de cálcio, aumentando o trabalho de bombas sódio-potássio e das SERCA2. Na imagem podemos observar a funcionalidade e a importância da bomba sódio-potássio. O fármaco Digoxina possui um efeito Inotrópico Positivo, ou seja, o aumento da força de contração cardíaca, sendo assim, é utilizada naquele coração que possui uma ação contrátil diminuída. Essa Digoxina inibe a ação da bomba de sódio-potássio, o que causa uma permanência da concentração alta de sódio, fazendo com que não haja a ação dos trocadores de sódio-cálcio. Essa série de fatos acarreta em uma permanência do cálcio no meio intracelular, fazendo com que ocorra um aumento também da saída de cálcio do retículo sarcoplasmático por meio da ativação de receptores de rianodina e, a união de todos esses fatores, acarreta em um aumento da força de contração do músculo estriado cardíaco. Ritmicidade Cardíaca e seus Potenciais de Ação Essa figura já foi vista anteriormente e trata sobre os diferentes potenciais de ação. No músculo esquelético há uma despolarização, com um rápido pico e uma rápida polarização, podendo haver hiperpolarização. No músculo cardíaco há uma rápida despolarização, seguida por um platô e uma polarização suave. Já no nódo sinoatrial temos uma lenta despolarização, com um pico e uma repolarização. Outro ponto que podemos identificar na figura são dos diferentes potenciais de membrana em repouso. Nas células do sistema condutor, o potencial de repouso de membranas se mantém próximo a -60 mV. Já na musculatura estriada cardíaca, esse potencial de membrana fica em torno de -80 mV. Potencial de ação e suas condutâncias Na figura podemos observar dois tipos de potencial de ação, sendo uma imagem representativa dos músculos esqueléticos/neurônio e a outra imagem representativa do músculo cardíaco. Na célula muscular esquelética temos que inicialmente a célula estava em repouso e houve a abertura de canais de sódio, gerando um influxo intracelular e, consequentemente, os canais de sódio voltaico dependentes foram abrindo-se mais e mais conforme o limiar de excitabilidade foi sendo atingido. No momento que a condutância do sódio começa a cair, a condutância ao potássio da célula começa a se elevar. Isso se deve devido ao fato de que o potássio está saindo da célula, sendo um canal de abertura e fechamento lentos, ocasionando a hiperpolarização da célula, uma vez que o potencial chega a níveis inferiores ao de repouso da membrana. No músculo cardíaco nós temos uma despolarização rápida e um platô. O potencial de ação da musculatura cardíaca possui mais fases do que a observada na musculatura esquelética e nos neurônios. Inicialmente temos a fase de despolarização, conhecida como fase 0, sendo seguida por um pico do potencial de ação, denominada de fase 1, seguida pela fase 2, que é a fase de platô do potencial de ação, seguida pela fase 3 que engloba a fase de repolarização e por último uma fase 4, que já é o retorno ao potencial de membrana de repouso. Quando essa célula está em repouso ela possui um potencial de membrana de cerca de -85 mV. Quando ocorre um estímulo nessa célula, seja externo ou intercelular, há a geração de uma despolarização da membrana, sendo inicialmente causadas pela abertura de canais de sódio. Se essa despolarização não atinge o limiar de excitabilidade, a célula volta para o estado de repouso. Se a despolarização atingir o limiar de excitabilidade, que fica em torno de -65mV, há a geraçãode um potencial de ação, fazendo com que o sódio comece a adentrar a célula, sendo que essa abertura de canais de sódio voltagem dependentes aumentam conforme a célula vai ficando menos negativa. Na fase 1 há um período de repolarização transitória, diminuindo a permeabilidade da membrana ao sódio. Os canais de sódio se fecham mesmo sem atingir o equilíbrio pela ação de comportas de inativação de sódio, que fecham os canais de sódio, uma vez que são voltagem dependentes. Na fase 2 temos a presença do platô da musculatura cardíaca, que faz a contração cardíaca ser cerca de 15x mais duradoura do que a contração da musculatura esquelética. Esse platô é gerado pelo aumento da permeabilidade de cálcio na membrana celular cardíaca. No final da fase 2, a permeabilidade de cálcio começa a diminuir, havendo fechamento dos canais de cálcio e aumento da permeabilidade de potássio, ocorrendo a repolarização até chegar no limiar de repouso, na fase 4. Na fase 4 também há permeabilidade de potássio pela presença de canais vazantes de potássio. A imagem à esquerda apresenta as fases do potencial de ação na parte superior e as correntes de potássio, sódio e cálcio na figura de baixo. Todas correntes de influxo são representadas para baixo e todas as correntes de efluxo são representadas para cima. Período refratário do miocárdio Assim como ocorre na musculatura estriada esquelética e nos neurônios, no músculo cardíaco também ocorre períodos refratários, sendo um absoluto e um relativo. Na fase 1 ocorre o fechamento das comportas de inativação dos canais de sódio, sendo que esse sódio não alcança seu equilíbrio antes dos fechamentos dos canais. A partir desse momento temos caracterizado o período refratário absoluto. Essas comportas de inativação fecharam os canais porque as membranas celulares atingiram certa voltagem, logo, para que a comporta de inativação perca sua funcionalidade é necessário que ocorra uma mudança do potencial elétrico da célula, que é o que ocorre no período refratário relativo. Sendo assim, durante todo o período refratário absoluto é impossível que se gere um novo potencial de ação, uma vez que todas as comportas de inativação se encontram ativas. Esse potencial de ação só poderá iniciar no fim da fase 3, ou seja, no período refratário relativo, em que uma porção das comportas já se encontram na sua forma inativa. Lembra-se que a dinâmica do canal de sódio é realizada por 2 tipos de comportas, sendo que a de ativação é aberta durante o potencial de ação e a de inativação que fecha o canal com a alteração de voltagem, já quando a voltagem está ficando mais negativa temos que a comporta de ativação que é a responsável por fechar os canais. Geração e condução do estímulo no NSA Em células autoexcitáveis, temos que o potencial de ação possui uma despolarização do tipo lento e sem a presença de platô, além do fato de o potencial de repouso ser menos negativo (-65 mV) do que o potencial de membrana das células musculares cardíacas (-85 mV). Temos que a concentração de sódio no meio extracelular é alta, logo, a tendência é de que haja uma entrada do sódio no interior da célula. O limiar de excitabilidade das células musculares cardíacas era de cerca de -65 mV e uma vez que esse limiar era atingido havia a despolarização da célula. Já as células autoexcitáveis possuem canais catiônicos abertos, o que favorece a entrada de sódio na célula o tempo todo, fazendo com que essas células se despolarizem de forma lenta até atingir o limiar de excitabilidade. Portanto, nesse momento, mesmo que essa célula atinja o seu período de potencial de membrana em repouso, essa membrana é muito permeável ao sódio, fazendo com que esse sódio entre cada vez mais e gere um potencial de ação. Existe um período que chamamos de pré-potencial (PP), um de potencial de ação (AP) e uma repolarização que chega a um ponto máximo, conhecido como potencial diastólico máximo (MDP), onde a célula está com seu potencial de membrana o mais negativo possível. Nesse período pré-potencial o potencial elétrico fica cada vez menos negativo devido ao vazamento de íons para o interior da célula, até que se atinja o limiar de excitabilidade e a despolarização esteja completa. O período pré-potencial pode ocorrer de forma mais lenta, ou ainda mais rápida. Essas alterações influenciam diretamente no tempo necessário para atingir o potencial de ação e na frequência cardíaca. Portanto, evidencia-se a importância de ter essas etapas do potencial de ação das células autoexcitatórias em mente e interpretar as suas alterações. Alterações da frequência cardíaca provocadas pela alteração do potencial do marcapasso: O SNA Efeito Simpático Primeiramente iremos falar do efeito simpático exercido nesse nó sinoatrial. Temos o efeito cronotrópico positivo, que é o aumento da frequência cardíaca, e o efeito dromotrópico positivo, que é o aumento da velocidade de propagação do sistema condutor. Precisamos lembrar que a frequência de disparo de potencial de ação pelas células autoexcitáveis é função da velocidade de despolarização diastólica lenta, logo, quanto maior for a quantidade de canais do sistema funny, maior vai ser a frequência de disparos. Com a ação do sistema simpático há uma inclinação maior do gráfico de despolarização devido ao aumento das correntes funny e de cálcio t, que fazem parte desse processo de despolarização. Esse fato ocorre devido à ação do simpático em receptores beta, que tem interações com a proteína Gs, que por sua vez aumenta o cAMP e fosforila uma série de proteínas e enzimas que culminam no aumento das correntes funny e de cálcio t, tornando a fase de despolarização mais rápida/inclinada. Além disso, como já dito antes, o simpático também tem um efeito dromotrópico positivo, aumentando as correntes no nó sinoatrial de cálcio l, fazendo com que a despolarização e repolarização também se dê de forma mais rápida, aumentando a frequência de disparos e a frequência cardíaca. Na imagem podemos observar outros dois efeitos do sistema simpático. Temos o efeito inotrópico positivo, que é referente à contração muscular, e o efeito lusitrópico positivo, que é o aumento da recapitação do cálcio via reticulo sarcoplasmático e relaxamento muscular. Pode-se pensar que essa recaptação de cálcio e relaxamento muscular não auxilia no aumento da contração e frequência cardíaca, porém, auxilia sim, uma vez que para que haja uma nova contração é preciso uma recaptação rápida de cálcio. Efeito Parassimpático O sistema parassimpático cardíaco, via liberação de acetilcolina, age sobre os receptores do timo M2, que são acoplados à proteína Gi. Essa proteína inibe a adenilato ciclase e diminui a cAMP e a atividade da proteína quinase dependente de cAMP. Os seus efeitos serão todos contrários àqueles gerados pela ação do simpático. Temos o efeito cronotrópico negativo, onde há a diminuição da frequência cardíaca via aumento do período pré- potencial por meio da diminuição da ação dos canais funny e de cálcio l. Existe também um efeito dromotrópico negativo, ou seja, uma diminuição do tempo da condução dos potenciais de ação por meio de ativações de canais de potássio pela liberação de acetilcolina. O efeito inotrópico negativo também é presente, uma vez que o parassimpático também tem ação na diminuição da contração cardíaca por meio da diminuição do influxo de cálcio durante a despolarização dos canais do tipo L, diminuindo o cálcio intracelular. O efeito lusitrópico negativo se dá pela diminuição da recaptação de cálcio via retículo sarcoplasmático, uma vez que estamos ligando com a proteína Gi e sua consequente não fosforilação da fosfolambana, que por sua vez irá impedir a ação da SERCA2, diminuindo a velocidade de relaxamento muscular. Bases do Eletrocardiograma – ECG O eletrocardiogramanada mais é do que um registro indireto da atividade elétrica cardíaca. Precisamos lembrar que a célula cardíaca gera um potencial de ação, que gera o que chamamos de dipolo. Esse dipolo é dado pelo fato de que em algumas regiões teremos uma membrana despolarizada e em outras teremos uma polarizada, ou seja, quando ocorre uma despolarização da membrana há a passagem de cargas positivas para o meio intracelular , porém esse processo é dado de forma gradual, o que justifica algumas regiões da membrana ainda estarem com as cargas invertidas, ou seja, mais negativas no meio intracelular. Quando pensamos em um meio condutor temos que o dipolo pode gerar um campo elétrico. No nosso corpo temos um meio condutor, mesmo que heterogêneo, sendo possível conduzir essa corrente até a superfície da pele, captado pelo eletrocardiograma. Propagação do Estímulo e o ECG Nesta imagem podemos avaliar o que acontece durante o registro do eletrocardiograma, sendo que no final desses processos temos a representação de um batimento completo. Cada uma dessas figuras representa contração de determinada parte do coração e também parte dos registros do eletrocardiograma. Temos inicialmente as ondas P, seguida pelo complexo QRS e por fim uma onda T. Quando falamos de potencial de ação, temos que esse é deflagrado pelo nó sinoatrial e caminha em direção aos átrios e também para o nó atrioventricular. A despolarização atrial formará uma onda que observaremos no eletrocardiograma, a onda P. Quando esse potencial de ação já despolarizou todo o átrio e chegou no nó atrioventricular temos um período de linha isoelétrica no ECG, uma vez que não há a capitação dos estímulos no nó atrioventricular devido ao atraso. Quando esse potencial de ação começa a trafegar pelo septo interventricular há a o início da formação do complexo QRS, que significa a despolarização ventricular. Temos um período em que não temos um potencial de ação, gerando um intervalo isoelétrico após a contração ventricular e após esse intervalo há a geração de uma última onda, chamada de onda T, que representa uma repolarização dos ventrículos. Defeitos na condução do Impulso Temos representado na imagem uma geração normal de potencial de ação cardíaco no nó sinoatrial, despolarizando regiões cardíacas específicas por meio da condução elétrica. Porém, podem existir alguns defeitos de condução deste potencial de ação, podendo ser de reentrada ou de bloqueio No defeito de bloqueio há uma lesão miocárdica, seja ela qual for e quando é gerado o potencial de ação, há o trafego normal de um lado e do outro que está lesionado não há o trafego direto, ocorrendo que a condução irá chegar no tecido mas de uma forma mais lenta. O aumento do tempo QRS pode estar relacionado com esse acontecimento. Existe também o defeito de reentrada, que é comum na geração de arritmias cardíacas. Nesse defeito, a região lesada pode transmitir o potencial de ação, mas de maneira lerda, ou seja, quando esse PA atinge essas regiões, ele pode voltar para o seu local de origem, causando despolarizações precoces. Defeitos na Formação do Impulso A partir desses defeitos do trafego do potencial de ação, temos algumas arritmias que podem acontecer, geralmente de duas formas: Automaticidade alterada ou Atividade deflagrada. A atividade deflagrada pode gerar pós-despolarização precoce (PDP) ou pós-despolarização tardia (PDT). A precoce ocorre no período refratário relativo, onde o miocárdio não se repolarizou totalmente, já a tardia ocorre com um período de tempo aumentado para que se gere outra despolarização, sendo relacionada geralmente com as concentrações de cálcio no meio intracelular. As PDP podem estar relacionadas com fármacos antiarrítmicos como a Quinidina, que prolongam o PA. Síndrome do QT longo Essa síndrome do QT longo se apresenta como pontas retorcidas no eletrocardiograma e que podem levar o indivíduo à morte. Esse intervalo QT longo pode indicar uma falha na repolarização dos ventrículos e, quando temos um potencial de ação muito prolongado há uma disposição desse problema.
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