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2 A complexidade dos problemas de segurança pública exige buscar alternativas que melhorem a prestação do serviço. A produção de conhecimento científico constitui-se em uma variável estratégica das transformações necessárias para enfrentar os novos desafios da segurança pública e de proteção dos direitos dos cidadãos. Este curso de Metodologia é um guia prático sobre a pesquisa científica. O pesquisador iniciante encontrará aqui uma disciplina metodológica, prática e objetiva que o auxiliará na elaboração de projetos de pesquisa, monografias e artigos científicos relevantes para sua área de atuação. Bom estudo! Objetivo do curso Ao final do estudo deste curso, você será capaz de: • Reconhecer a importância da pesquisa científica para produção do conhecimento; • Compreender os procedimentos metodológicos da pesquisa científica; • Elaborar projeto de pesquisa, monografia e artigos científicos. Estrutura do curso Este curso compreende os seguintes módulos: • Módulo 1 – Aspectos introdutórios • Módulo 2 – Elaboração do projeto de pesquisa: o que pesquisar e como planejar a pesquisa • Módulo 3 – Procedimentos metodológicos • Módulo 4 – Tipos de pesquisa, técnicas de coleta e de análise dos dados • Módulo 5 - Elaboração de trabalhos científicos 3 Apresentação do módulo Neste módulo você estudará a natureza da prática científica, mais especificamente sobre a diferença entre o conhecimento científico e o conhecimento vulgar) ou senso comum). Estudará também as características dos principais métodos científicos e o problema da subjetividade e da objetividade na construção do conhecimento. Objetivo do módulo Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de: • Diferenciar o conhecimento científico do conhecimento vulgar ou de senso comum; • Caracterizar o método científico; e • Compreender o problema da objetividade e subjetividade na produção do conhecimento científico. Estrutura do Módulo Esse módulo compreende as seguintes aulas: • Aula 1- Conhecimento vulgar ou de senso comum; • Aula 2 - Método científico e conhecimento científico; • Aula 3 - Subjetividade e objetividade científica. Aula 1 – Conhecimento vulgar ou de senso comum Nesta aula você estudará a natureza do conhecimento vulgar ou de senso comum, suas principais fontes e sua relação com o conhecimento científico. MÓDULO 1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS 4 Antes de iniciar a leitura da aula, assista ao filme franco-canadense “A Guerra do Fogo” (Disponível em http://www.ustream.tv/recorded/5564454), de Jean-Jacques Annaud, produzido no ano de 1981. Após assistir ao filme, reflita sobre as seguintes questões: • Como o homem pré-histórico construía seu saber? • Para que servia esse saber? • Qual relação se apresenta no filme entre a experiência e o saber? 1.1 O conhecimento baseado no saber-fazer Os seres humanos procuraram o conhecimento da natureza e dos objetos próximos, pois disso dependia a sua sobrevivência. Esse conhecimento é, antes de tudo, um saber-fazer produzido na experiência diária. 1.2 As fontes do conhecimento vulgar ou de senso comum Laville e Dione (1999) consideram saberes espontâneos à: Intuição: Saber espontâneo. Tradição: Se constitui compartilhando saberes espontâneos considerados adequados pela sociedade. Autoridade: Transmitem saberes que são socialmente aceitos, pelo comum sem muitos questionamentos. 1.2.1 O saber baseado na intuição Da observação que o sol nasce todos os dias de um lado da terra e se põe do outro, o homem pensou, por muito tempo, que o sol girava em torno da terra. Essa compreensão do fenômeno pareceu satisfatória durante séculos, sem mais provas do que a simples observação (LAVILLE e DIONE, 1999, p.18). 1.2.2 O saber baseado na tradição Na família, na comunidade em diversas escalas, a tradição lega saber que parece útil a todos e que se julga adequado conhecer para conduzir sua vida. Esse saber é mantido por ser presumidamente verdadeiro hoje em dia, e é hoje porque o era no passado e deveria assim permanecer no futuro. A tradição dita o que se deve conhecer, compreender, e indica, por consequência, como se comportar (LAVILLE e DIONE, 1999, p.19). http://www.ustream.tv/recorded/5564454 5 1.2.3 O saber baseado na autoridade Com frequência, sem provas metodicamente elaboradas, autoridades se encarregam da transmissão da tradição. Desse modo, a igreja católica decidiu, muito cedo, regras para o casamento (uniões proibidas entre primos, proclamas, declarações de impedimentos conhecidos) tendo como objetivo prevenir relações incestuosas e inclusive consanguíneas. Impõe sua autoridade aos fiéis por meio dos preceitos ensinados pelo clero. Todas as religiões transmitem, portanto, sua autoridade através de saberes que guiam a vida de seus fiéis sem que seu sentido ou origem sejam sempre evidentes (LAVILLE e DIONE, 1999, p. 20). 1.3 A visão de Emile Durkheim sobre o problema do conhecimento vulgar ou de senso comum e a ciência sociológica O conhecimento espontâneo do mundo que nos rodeia e as pré-noções que esse saber pode acarretar na compreensão do social preocuparam os primeiros sociólogos, interessados na constituição da Sociologia como ciência. Emile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês fundador da Sociologia como ciência no século XIX foi um grande defensor da construção de uma Sociologia independente e autônoma de outros campos do conhecimento. 1.3.1 Sociologia independente e autônoma de outros campos do conhecimento. Durkheim (2007) utiliza argumentos filosóficos e metodológicos na fundamentação da Sociologia e aborda o problema clássico da Sociologia do Conhecimento: A definição do objeto a ser estudado e a relação entre o sujeito que conhece - objeto de conhecimento No livro “As Regras do Método Sociológico”, Durkheim (2007) afirma, criticamente, que o conhecimento de senso comum é produto de nossas experiências sociais cotidianas e, por isso, tendemos a utilizar essa compreensão espontânea para entender os mais diversos aspectos da vida social. É nesse sentido que ele afirma: O homem não pode viver em meio às coisas sem formar a respeito delas ideias, de acordo com as quais regula sua conduta. Acontece que, como essas noções estão mais próximas de nós e mais ao nosso alcance do que as realidades a que correspondem, tendemos naturalmente a substituir estas últimas por elas e a fazer delas a matéria mesma de nossas especulações (DURKHEIM, 2007, p.12). Observe a seguir que Durkheim (2007) alerta para o uso incorreto que podemos fazer de nossas ideias sobre os fatos sociais. Essas ideias também são fruto da experiência, mas elas não devem preceder aos fatos observados cientificamente. Em vez de observar as coisas, de descrevê-las, de compará-las, contentamo-nos então em tomar consciência de nossas ideais, em analisá-las, em combiná-las. Em 6 vez de uma ciência de realidades, não fazemos mais que uma análise ideológica. Por certo essa análise não exclui necessariamente toda observação. Pode se recorrer aos fatos para confirmar as noções ou as conclusões que se tiram. Mas os fatos só intervêm secundariamente (DURKHEIM, 2007, p. 12). Por fim, Durkheim (2007) enfatiza que as ideias sobre as coisas não podem substituir a observação sistemática, isso é, planejada dos fatos sociais. Com efeito, essas noções ou conceitos, não importa o nome que se queira dar-lhes não são os substitutos legítimos das coisas. Produtos da experiência vulgar, eles tem por objeto, antes de tudo, colocar nossas ações em harmonia com o mundo que nos cerca; são formados pela prática e para ela (DURKHEIM, 2007, p. 16). Sintetizando... Durkheim (2007) alerta para a necessidade de afastar,na prática científica, as ideias sobre as coisas que nos rodeiam e que adquirimos a partir de nosso nascimento, na família, na escola, no trabalho, pela mídia, nas redes sociais etc. Por exemplo, têm pessoas que acreditam que a droga é um ente externo à sociedade, que infeta o corpo social sano. Esta crença pode justificar a ação de “guerra às drogas”. Mas, tanto o consumo quanto a venda de drogas constituem processos sociais complexos que precisam ser compreendidos cientificamente para serem enfrentados de forma adequada. A ciência rompe com a experiência cotidiana colocando os objetos dessa experiência a luz de novos conceitos, que revelam propriedades e relações não disponíveis para a percepção de senso comum. Nesse sentido, é possível afirmar que o enfoque científico alarga e torna mais complexa a realidade. Saiba Mais... Você tem interesse em saber como uma cientista social desmistifica a pré-noção que afirma o encarceramento como fator de diminuição da criminalidade? Então, leia o texto de: LEMGRUBER, Julita. Controle da criminalidade: mitos e fatos. Revista Think Tank, Instituto Liberal de Rio de Janeiro, 2001. 7 Aula 2 – Método científico e conhecimento científico Nesta aula você vai estudar o surgimento do método científico e do conhecimento científico no Ocidente. 2.1 O que é método científico? O método como o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo-conhecimentos válidos e verdadeiros-, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista (LAKATOS e MARCONI, 1991, p.83). O método é o caminho traçado pelo pesquisador para alcançar os objetivos da pesquisa científica. O método científico tem uma história. Nessa aula você vai estudar os métodos científicos na ordem em que foram surgindo ao longo da história da humanidade: 2.1.1 Método hipotético-dedutivo Na Grécia Antiga tem lugar a transição entre duas formas de explicar o mundo: a mitológica e a racional. A partir da transição, os mitos e as religiões foram substituídos pela reflexão filosófica. Na Grécia, a ciência era episteme, isso é, conhecimento superior oposto à “opinião ou doxa”, segundo o filósofo Platão. A episteme era o conhecimento próprio do mundo inteligível, eterno, imutável tal e como eram imutáveis as ideias a que esse saber fazia referencia. O filósofo Aristóteles a concebia como um tipo de conhecimento universal e necessário, produzido por dedução, isso é, a partir de princípios, e por isso não afetado pelas imperfeições do conhecimento sensorial, limitado e contingente. Na hierarquia de conhecimentos, a episteme era prévio ao nível supremo de conhecimento ou sabedoria (sofia). Tanto o conhecimento científico quanto o conhecimento filosófico tinham pretensões de universalidade, necessidade, imutabilidade e eternidade. Importante! Da Filosofia se depreenderam outras formas de pensar e os métodos que, mais tarde, se especializaram e se tornaram independentes, hoje conhecidos como ciências. Método dedutivo Método indutivo Método hipotético- dedutivo 8 2.1.2 A Idade Média Depois de um intervalo de ausência de progresso na concepção da ciência e das modalidades de construção do saber, na Idade Média se reencontra a reflexão filosófica e progressos nas artes e na cultura (LAVILLE e DIONNE, 1999). Vale ressaltar que as ciências em si, pouco se desenvolveram por causa da dominação do teocentrismo. O mundo medieval foi considerado como passivo e simbólico, ou seja, via nas formas da natureza à vontade de Deus. A igreja católica era a principal autoridade espiritual, política e científica e a grande referência filosófica era Aristóteles. 2.1.2 A Revolução científica no Renascimento Segundo Laville e Dione (1999), superstições, magia e bruxaria concorrem para explicar o “real” durante o Renascimento, muito embora exista uma inclinação à rejeição da tradição. O Renascimento acena com importante revolução nas artes e nas letras. Muitos redescobrem as artes e os estudos da Grécia Antiga e de Roma, desenvolvendo novas ideias sobre a realidade circundante. Mas também, as coisas são observadas criticamente e a observação e a experimentação tornam-se mais importantes em diversas áreas (LAVILLE e DIONE, 1999). A ciência experimental começa a ser definida com o trabalho conjunto da razão e da experiência para compreender a realidade. Ciências da natureza como a física e a astronomia se organizam, determinam suas características específicas e adquirem autonomia desenhando seu próprio método, o método científico (LAVILLE e DIONE, 1999). Veja, a seguir, representantes da referida época. Galileu (1564-1642) O método empírico preconizado por Galileu Galilei (1564-1642) é considerado uma ruptura em relação ao conhecimento especulativo. O objetivo da ciência deve ser o conhecimento das leis gerais que constituem as condições dos fenômenos, e não a essência íntima desses. Galileu sugeriu partir do particular para o geral, isso é, da indução ou observação dos fatos e da experimentação. Esse método é denominado Indução Experimental. Bacon (1561- 1626) Francis Bacon (1561- 1626) autor do Novum Organum (que significa “Novo Instrumento”), sua obra máxima publicada no ano de 1620 contestou a afirmação medieval de que a busca da verdade demandava pouca observação e muito raciocínio. Bacon (1973, p. 79) afirmava: “Os homens, até agora, pouco e muito superficialmente se têm dedicado à experiência, mas têm consagrado um tempo infinito a meditações e divagações engenhosas”. Bacon rompe com a tradição da especulação, senta as bases do método indutivo e coloca no centro da atividade científica a observação dos fatos, a experimentação e a generalização ou formulação de leis gerais. 9 Outra contribuição de Bacon foi a de apontar para a necessidade do pensamento crítico na produção do conhecimento científico. O autor indicou que existe em nossa mente uma série de obstáculos que nos inclina a escolher o erro e o caminho mais fácil. Esses obstáculos são as imagens falsas que se apoderam da mente. Em razão disso, e antes de iniciar o método de interpretação da natureza é necessário proceder a eliminar os prejuízos, isto é, os ídolos da mente. A grande contribuição de Bacon para a ciência foi a criação de seu método científico que visava à indução, à experimentação e à formulação de generalizações e de leis gerais. Esse método se conhece como método das coincidências constantes. Descartes (1596-1650) Descartes propõe um método baseado na inferência dedutiva, isso é, o raciocínio que vai do geral para o particular. A razão é que permite alcançar a verdade e não apenas a observação dos fatos. 2.1.3 A Ciência Moderna O século das luzes Os princípios da ciência experimental de Bacon têm diversas aplicações durante o século XVIII. A Física é a disciplina científica hegemônica. Nas ciências humanas predominam as filosofias sociais da sociedade capitalista em desenvolvimento. O século XVIII é o “século das luzes” devido a filosofia iluminista, movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. Essa filosofia impacta no plano científico pela sua fé no poder da razão, como força capaz de libertar os homens e mulheres dos grilhões dos preconceitos e das superstições vinculadas à religião, levar à perfectibilidade humana e ao progresso econômico e social. A filosofia iluminista se apoia em menor peso no Discurso do Método de Descartes e em maior nas Regulae Philosophandi de Newton para resolver o problema central do método científico (CASSIRER, 1994). Veja a seguir os representantes da referida época. Newton (1642-1727)A via newtoniana não é a da dedução pura, e sim a da análise. Para Newton, os fenômenos são os dados; os princípios, o que é preciso descobrir, usando a experiência e a observação. Para Newton, não há oposição entre experiência e pensamento. Os fatos não são um material simples, uma massa incoerente de detalhes, mas, se pode demonstrar nos fatos e pelos fatos, a existência de uma forma que os penetra e os une matematicamente. A ordem, a legalidade, a razão não é uma regra anterior aos fenômenos, concebível e exprimível a priori: que se demonstre a razão nos próprios fenômenos como a forma de sua ligação interna e de seu encadeamento imanente (CASSIRER, 1994, p. 26). 10 Segundo Newton, para explicar um fenômeno natural não é necessário apresentá-lo em seu ser e em sua maneira de ser, mas sim fazer ver de que condições particulares esse fenômeno depende e que tipo de dependência tem dessas condições. Para isso, é necessário decompor a imagem sintética do fenômeno para resolvê-la em seus momentos constitutivos (CASSIRER, 1994). Quadro 1.Divisão das disciplinas científicas Fonte: LAKATOS& MARCONI (1991:81). Foi possível perceber também que as ciências são separadas em disciplinas. O pesquisador deve estar distanciado de seu objeto, o experimento implica em separar o objeto de seu meio natural, a ciência corresponde às certezas do mundo empírico e é separada da filosofia, a razão obedece a princípios clássicos: indução, dedução, contradição, identidade, etc.. Se a teoria obedece a estas regras, ela obedece à razão (MORIN, 1999, p.22). É importante que você saiba que esta concepção do método científico e da ciência tem sido questionada, e que a partir do início do século passado aconteceram coisas revolucionárias no campo científico, que levaram alguns pensadores a problematizar essa percepção tradicional das ciências. Aula 3 – Subjetividade e objetividade científica Que relação existe entre o sujeito que conhece (o pesquisador) e seu objeto de conhecimento (fenômeno a ser estudado)? Nesta aula você vai estudar o problema da objetividade e da subjetividade na produção do conhecimento científico. 3.1 O sujeito e o objeto da pesquisa Da resposta à pergunta inicial depende a concepção do problema da objetividade nas ciências. Você estudou na Aula 2 que, tradicionalmente, o conceito de objetividade dizia respeito à conservação das características do objeto a ser analisado, e pressupunha o distanciamento entre o pesquisador e seu objeto de conhecimento, na realização da pesquisa científica. CIÊNCIAS Formais: Lógica e Matemática Factuais Naturais: Física, Química, Biologia, etc Sociais: Antropologia, Direito, Economia, Política, Sociologia, Psicologia, etc. 11 Exigia-se do pesquisador, a observação o mais isenta possível do fenômeno natural ou social estudado, de modo tal a não interferir nas propriedades do objeto. Nesse caso, o objeto de estudo é concebido como exterior ao pesquisador e constitui a fonte de suas sensações. Importante! “Durante muito tempo no domínio das ciências pensava-se que o conhecimento era o espelho da realidade e o espelho do mundo” (MORIN, 1999, p.22). 3.2 O papel ativo do pesquisador Essa concepção da objetividade muda, na medida em que o pesquisador se conscientiza de seu papel ativo nas observações que realiza. Um exemplo esclarecedor! Felix Shuster, meu querido professor de Metodologia chamava a atenção para o fato do pesquisador afetar a medição da temperatura da água, no momento de submergir o termômetro escolhido para medir essa temperatura. Assim os instrumentos utilizados pelo pesquisador para medir afetam suas observações e, portanto, o conhecimento do que se estuda. BARBIER (1985, p.106) considera que as ciências humanas são mais vulneráveis que as naturais à ação subterrânea da subjetividade, na elaboração e desenvolvimento de uma pesquisa. Nessas ciências, o pesquisador utiliza técnicas ou instrumentos de pesquisa que produzem as informações necessárias para resolver seu problema. A aplicação dessas técnicas se dá em contextos de interação social, que afetam a informação produzida. Esses efeitos precisam ser controlados pelo pesquisador, reduzindo ao máximo a violência simbólica, isso é, a interferência na relação social da pesquisa, das influências derivadas da procedência de classe, raça- etnia, profissão etc. do pesquisador e aspectos que podem provocar sentimentos de inferioridade nos pesquisados. O pesquisador, ao escolher seu objeto de investigação, já traz consigo seus interesses: possui uma formação acadêmica e experiências sócio-culturais e históricas específicas, suas concepções de mundo e preferências políticas, isso é, tem sua subjetividade. Dessa maneira, a objetividade não depende do objeto em si que o pesquisador pretende estudar, já que esse constitui um recorte do mundo da vida apreendido pelo saber de natureza espontânea, mas da correta utilização dos procedimentos por parte do pesquisador, legitimados pelo campo científico e da vigilância epistemológica. 12 3.3 Objetivação da subjetividade Para pesquisar cientificamente, o pesquisador deve querer tornar objetiva sua própria subjetividade, quer dizer, reconhecer e dar visibilidade a suas preferências, valores, crenças, preconceitos, entre outros aspectos subjetivos que influenciam na compreensão do seu objeto. A pesquisa científica constitui um processo reflexivo do pesquisador sobre si mesmo, seus valores e preferências, suas crenças e sobre os procedimentos de pesquisa que utiliza. Para os cientistas, reclamamos o direito para desviar por um instante a ciência de seu trabalho positivo, de sua vontade de objetividade para descobrir o que há de subjetivo nos métodos mais severos (BACHELARD, 1971:27). Finalizando... Neste módulo, você estudou que ... • Os seres humanos procuraram o conhecimento da natureza e dos objetos próximos, pois disso dependia a sua sobrevivência. Esse conhecimento é, antes de tudo, um saber-fazer produzido na experiência diária. • A ciência rompe com a experiência cotidiana colocando os objetos dessa experiência a luz de novos conceitos, que revelam propriedades e relações não disponíveis para a percepção de senso comum. Nesse sentido, é possível afirmar que o enfoque científico alarga e torna mais complexa a realidade. • O método é o caminho traçado pelo pesquisador para alcançar os objetivos da pesquisa científica. O método científico tem uma história. • O raciocínio indutivo se complementa com o raciocínio dedutivo, no contexto da hipótese, isto é, da resposta antecipada ao problema de pesquisa. Importa também descobrir as leis que governam os fenômenos, isso é, as leis da natureza. É o método hipotético- dedutivo. • As ciências são separadas em disciplinas. O pesquisador deve estar distanciado de seu objeto. O experimento implica em separar o objeto de seu meio natural. A ciência corresponde às certezas do mundo empírico e é separada da filosofia. A razão obedece a princípios clássicos: indução, dedução, contradição, identidade, etc.. • Para pesquisar cientificamente, o pesquisador deve pretender tornar objetiva sua própria subjetividade, quer dizer, reconhecer e dar visibilidade a suas preferências, valores, crenças, preconceitos, entre outros aspectos subjetivos que influenciam na compreensão do seu objeto. • A pesquisa científica constitui um processo reflexivo do pesquisador sobre si mesmo, seus valores e preferências, suas crenças e sobre os procedimentos de pesquisa que utiliza. 13 Exercícios 1. Quais são as fontes do conhecimento vulgar ou senso comum? a. Intuição, Contato e Cultura. b. Sociologia, Autonomia e Autoridade. c. Intuição, Tradição e Autoridade. d. Cultura, Tradição e Sociedade. 2. Considerando o métodocientífico, assinale a opção correta: a. O método científico é utilizado só em matérias com foco na ciência como química e física. b. O método científico é o conhecimento passado por geração e cultura. c. O método científico é moldado pela humanidade a muito tempo, tendo varias mudanças no decorrer da historia, transformação mais positiva foi na idade média. d. O método é o caminho traçado pelo pesquisador para alcançar os objetivos da pesquisa científica. 3. Nesse módulo você aprendeu o que é conhecimento vulgar ou de senso comum. Na aula 1, você leu a seguinte afirmação sobre esse tipo de conhecimento: “Produtos da experiência vulgar, eles (esses conhecimentos) tem por objeto, antes de tudo, colocar nossas ações em harmonia com o mundo que nos cerca; são formados pela prática e para ela” (DURKHEIM , 2007, p. 16). a) Dê um exemplo de conhecimento vulgar ou de senso comum na sua área de atuação profissional, e use o conhecimento científico disponível sobre o tema para criticar esse conhecimento vulgar. b) Durante muito tempo, no domínio das ciências pensava-se que o conhecimento era o espelho da realidade e o espelho do mundo (MORIN, 1999, p. 22 ). • Explicite a compreensão da relação entre o pesquisador e seu objeto de estudo nessa afirmação. • Explicite a compreensão atual sobre o problema da subjetividade e da objetividade na ciência. 14 Gabarito 1. Resposta Correta: Letra C 2. Resposta Correta: Letra D 3. Orientação de Resposta: a. Para orientá-lo na elaboração de sua resposta segue um exemplo de conhecimento de senso comum, e um trecho de um artigo de uma pesquisadora da violência que questiona sua cientificidade: Conhecimento de senso comum: “A violência na sociedade contemporânea tem crescido consideravelmente”. Sobre essa afirmação de senso comum Grossi (2004) assinala que: Assim expressa, a afirmação não tem sustentação empírica mais substantiva, a não ser a que recorre às constantes remissões aos noticiários, os quais não se cansam de atestar tal crescimento. O crescimento de um fenômeno plural e polissêmico como o da violência é algo sobre o que não se pode decidir se não se distingue com clareza e exatidão que parâmetros estão sendo utilizados, e a partir de que critérios, para se definir violência (GROSSI PORTO, 2004, p.133) GROSSI PORTO, Maria Stela. Polícia e violência: representações sociais de elites policiais do Distrito Federal. São Paulo Perspec. vol.18 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2004. b. Para responder a estas questões revise as aulas 1, 2 e 3 desse módulo. Observe que a afirmação de MORIN diz respeito a concepção tradicional da ciência. 15 Apresentação do módulo Talvez você nunca tenha elaborado um projeto de pesquisa científica. Este módulo vai ajudá-lo a enfrentar esse desafio discutindo detalhadamente cada um dos elementos que constituem um projeto de pesquisa científica, e indicando exemplos recolhidos na docência da disciplina metodologia da pesquisa científica. Objetivo do módulo Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: • Compreender a lógica do projeto de pesquisa científica; • Escolher um tema de pesquisa pertinente à sua área de atuação profissional; • Formular o problema de pesquisa; • Discutir teoricamente seu objeto – problema de pesquisa; • Formular hipóteses; • Explicitar o modelo de análise; • Definir os objetivos da pesquisa; • Elaborar a justificação da pesquisa; • Escolher os procedimentos metodológicos adequados a seus objetivos de pesquisa; e • Elaborar o cronograma da pesquisa. Estrutura do Módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: • Aula 1 - O projeto de pesquisa, o tema e o problema de pesquisa • Aula 2 - A discussão teórica do problema de pesquisa • Aula 3 - A formulação da hipótese e o modelo de análise • Aula 4 - As variáveis e a operacionalização das variáveis • Aula 5 - Os objetivos e a justificativa da pesquisa MÓDULO 2 A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA: O QUE PESQUISAR E COMO PLANEJAR A PESQUISA 16 • Aula 6 - O cronograma da pesquisa Aula 1 – O projeto de pesquisa, o tema e o problema de pesquisa Nesta aula você estudará o que é o projeto de pesquisa, a diferença entre tema e problema de pesquisa e as resistências que você terá que superar para ter sucesso na formulação de seu problema de pesquisa. 1.1 O que é um projeto de pesquisa? O projeto de pesquisa constitui-se em uma ferramenta indispensável à atividade de investigação, devendo servir para orientar seu estudo e poder comunicar às outras pessoas (orientador, membros de uma banca, membros de outras instituições, entre outros) o que você pretende fazer. A realização da pesquisa subsidia a elaboração da monografia. O que é monografia? Monografia é um estudo sobre um tema específico ou particular com suficiente valor representativo e que obedece à rigorosa metodologia. Investiga determinado assunto não só em profundidade, mas também em todos seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destina (LAKATOS e MARCONI, 1991, p.235). Se você deseja pesquisar, seu primeiro passo é elaborar o projeto de pesquisa, isto é, planejar seu estudo. Para elaborar esse projeto você precisa de esforço intelectual considerável. Você deve responder às seguintes questões: Qual tema tenho interesse em pesquisar Qual problema de pesquisa pretendo resolver Quais abordagens teóricas e conceituais deverão ser utilizadas para construir cientificamente meu problema Quais são os autores que discutem meu problema? Qual é a minha hipótese Quais objetivos minha pesquisa tem Quais procedimentos metodológicos devo escolher para alcançar esses objetivos Quanto tempo tenho para desenvolver minha pesquisa 17 1.2 O primeiro desafio: a diferença entre o tema e o problema de pesquisa A elaboração do projeto de pesquisa inicia-se com o primeiro desafio: a escolha do tema e do problema de pesquisa. Para enfrentar esse desafio é importante que você conheça a diferença entre eles. 1.2.1 O tema da pesquisa É comum você pensar primeiro no tema da pesquisa, isto é, em assuntos que podem ser pesquisados. Os temas de pesquisa podem surgir das observações do seu ambiente de trabalho, da conversa com colegas, da leitura dos jornais e de artigos científicos de sua área de atuação profissional, disponíveis nas bases e bibliotecas virtuais, entre outros. Desafio... Desafio você a pensar em alguns temas de seu interesse, que considere relevantes para sua instituição e para a segurança pública, e a registrá-los. Veja alguns dos temas de monografia que um grupo de alunos de um curso de Especialização em Segurança Pública e Cidadania e Gestão da Segurança Pública escolheram nos últimos anos: • Homicídios; • Gestão e trabalho nas prisões; • Policiamento comunitário; • Reintegração social do detento; • Medidas socioeducativas; • Abordagem policial; • Programas comunitários da subsecretaria de segurança cidadã do DF; • Violência institucional e profissionais da segurança pública; • O crescimento do encarceramento no DF; • A saúde mental dos policiais; e • A construção do suspeito na identificação criminal, entre muitos outros. Observe que a característica dos temas apontados é a abrangência. Escolhido o tema, o passo seguinte é a delimitação do tema de pesquisa escolhendo uma das tantas possibilidades de recorte. Isto é, a formulação de seu problema de pesquisa. 1.2.2 O problema de pesquisa Um problema de pesquisa é “um problema que se pode resolver com conhecimentos e dados já disponíveis ou com aqueles factíveis de serem produzidos” (LAVILLE e DIONNE, 1999, p.87). Observe os seguintes exemplos de formulação de perguntas-problemas sobre o tema homicídios.18 a) O consumo de drogas ilícitas e de álcool está vinculado à ocorrência de homicídios no Brasil, na última década? b) Pode-se reduzir a taxa de homicídios legalizando o consumo de drogas no Brasil? Essas duas perguntas constituem-se em problemas de pesquisa que podem ser redigidos da seguinte forma, quando seu orientador olhar para você e perguntar: Qual é seu problema de pesquisa? • Meu problema de pesquisa é analisar a relação entre os homicídios e o consumo de drogas ilícitas e de álcool no Brasil. • Meu problema de pesquisa é analisar em que medida a legalização do consumo das drogas ilícitas pode contribuir para reduzir a taxa de homicídios no Brasil. Você percebeu que um tema pode permitir formular vários problemas de pesquisa. Veja, a seguir, alguns conselhos para conseguir formular seu problema de pesquisa de forma adequada. Mas considere que não existe uma receita para se chegar lá. AÇÕES ATIVIDADES AMPLIE SUAS LEITURAS Realize uma imersão sistemática no tema de seu interesse. Procure artigos em periódicos científicos publicados nos últimos cinco anos sobre o tema inicialmente escolhido, e observe quais são os problemas levantados pelos pesquisadores em torno do tema que lhe interessa. DIALOGUE COM SEU ORIENTADOR Converse com seu orientador para descobrir seu problema de pesquisa, pois ele acumula experiência concreta no campo de estudo. Informe seu orientador sobre suas motivações e interesses. PLANEJE UM TRABALHO DE CAMPO EXPLORATÓRIO Por último, se não conseguir delimitar claramente seu problema, realize um trabalho de campo preliminar flexível, assistemático, anotando em um caderno de campo suas principais observações, conversando informalmente com os possíveis sujeitos de sua pesquisa, coletando todas as informações e dados que achar pertinente. Quadro 2: Conselhos úteis para formular o problema de pesquisa. Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista (UNB). Para ter sucesso na formulação de seu problema de pesquisa, você também tem que considerar as seguintes questões: Você precisa superar suas resistências: Uma pesquisa realizada em um contexto acadêmico deve ater-se à compreensão científica do mundo social. O conhecimento sociológico, por exemplo, permite ir além das aparências da realidade, aprofundando a compreensão dos diversos aspectos da sociedade em que você 19 vive. É possível, inicialmente, que você resista à compreensão científica do social, em função de seus conhecimentos de senso comum, como foi discutido na Aula 1, do Módulo 1. A escolha de seu problema de pesquisa pode ser bastante lenta e complexa, pois lhe exigirá capacidade de proceder a rupturas com seu próprio mundo profissional, suas preferências políticas, seus valores, suas crenças e seus interesses. Você precisa avaliar questões práticas: A escolha de um problema de pesquisa lhe exigirá considerar elementos de ordem prática, tais como o tempo que tem disponível para realizar o estudo, os recursos intelectuais que possui para levar a cabo a empreitada, os recursos financeiros, entre outros. Você precisa saber que não vai ser possível pesquisar todo: A escolha de um problema de pesquisa lhe exigirá delimitar o tema de pesquisa, isto é, focar em algum aspecto desse tema. Na próxima aula você estudará sobre a necessidade de aprofundar a discussão teórica de seu problema de pesquisa, a formulação da hipótese do estudo e a explicitação do modelo analítico que utilizará na sua pesquisa. Até a próxima aula! Aula 2 – A discussão teórica do problema de pesquisa Nesta aula, você estudará a importância de discutir teoricamente seu problema de pesquisa, a formulação da hipótese e do modelo de análise de sua pesquisa. 2.1 A importância da discussão teórica do objeto Na Aula 1 deste Módulo você aprendeu a formular um problema de pesquisa. Neste tópico, você vai compreender a importância de discutir teoricamente esse problema e algumas estratégias para ter sucesso no empreendimento. Os conceitos desenvolvidos pela teoria do processo de trabalho capitalista (controle e disciplina fabril, divisão capitalista do trabalho, expropriação, entre outros) permitiram observar novos e mais complexos aspectos da realidade social do trabalho que aconteciam, impossíveis de serem percebidos sem esses “óculos” teóricos. 20 O que é conceito? Conceitos são declarações generalizadas sobre classes inteiras de fenômenos (BECKER, 20071, p.45). Você compreendeu a necessidade de discutir teoricamente o que pretende estudar, em outras palavras, de discutir seu objeto - problema de pesquisa - utilizando teorias e conceitos característicos da área científica, que possibilitam a sua interpretação. Veja, a seguir, mais um desafio. 2.2 O desafio de teorizar sobre seu objeto-problema de pesquisa Para enfrentar esse desafio, você tem que identificar e analisar as abordagens teóricas pertinentes ao seu problema de pesquisa, analisar pesquisas sobre seu problema, escolher uma das abordagens teóricas e escrever um texto que discuta as abordagens, as pesquisas já realizadas e seus resultados e que explicite as razões de sua escolha. 2.2.1 Identificar as abordagens teóricas e as pesquisas realizadas pertinentes a seu problema Se seu problema de pesquisa é analisar a relação entre os homicídios e o consumo de drogas ilícitas e de álcool no Brasil (tema indicado na aula 1, deste Módulo) por exemplo, você deve identificar quais são as abordagens teóricas sobre esse problema de pesquisa, as pesquisas existentes e seus principais autores. Orientação Pode ser que você tenha cursado uma disciplina que abordou, seguindo o exemplo anterior, a relação entre o consumo de drogas ilícitas e de álcool e os homicídios. Nesse caso, seu problema está resolvido. Caso contrário, você tem dois caminhos para descobrir essas abordagens: - Consulte o seu orientador sobre os autores-chave. Supõe-se que ele sabe. - Faça uma revisão bibliográfica (artigos, comunicações, dissertações, teses, entrevistas, entre outros) e utilize buscadores acadêmicos na internet, diretórios, bases de dados, sites de expertos no problema, consulte pesquisas sobre seu problema e observe as abordagens teóricas, as pesquisas e seus autores. Seu problema de pesquisa deve ser uma decorrência lógica da discussão teórica que apresenta. Todas as obras importantes sobre seu problema de pesquisa devem ser consultadas, mas, é possível que a revisão seja exaustiva. 2.2.2 Dicas simples para revisar a bibliografia Para revisar rapidamente a bibliografia e selecionar a que lhe interessa, proceda da seguinte forma: Livro: revise o índice e o índice analítico para obter um panorama dos temas abordados no livro. Artigos Científicos: revise primeiro o resumo para saber se é de seu interesse. 21 Importante! Na revisão da bibliografia, você pode encontrar diversas situações com relação à teoria existente sobre seu problema de pesquisa. As situações mais comuns são as seguintes: a) Há uma teoria bem consolidada, que possui evidências empíricas abundantes e que você considera adequada para abordar seu problema de pesquisa; b) Há várias teorias para abordar seu problema de pesquisa e você deve escolher alguma delas; c) Não há teoria para abordar seu problema de pesquisa. 2.3 Escolher uma das abordagens e escrever um texto Você revisou a bibliografia sobre seu problema e agora enfrenta o desafio de escolher uma entre as abordagens teóricas que existem, isto é, enfrenta o desafio de construir sua Problemática. A construção da Problemática diz respeito às escolhas teóricas e conceituais do pesquisador. Escolha a abordagem teórica que mais se ajusta à natureza de seu problema de pesquisa e, se achar necessário, também utilize elementos de outras teorias. Você vai escrever um texto que articule as ideias principais dos autores encontrados na revisãobibliográfica, no exemplo explicitado anteriormente, sobre a relação entre o consumo de drogas ilícitas e de álcool e a ocorrência dos homicídios no Brasil. 2.4. Como sistematizar o marco teórico ou de referência? O próximo passo é você sistematizar as abordagens teóricas escrevendo um texto. Mais um desafio que exigirá de você, resumir, citar textualmente, comentar, criticar, e ter muita paciência, pois precisa de leitura rigorosa. Veja, a seguir, alguns conselhos para ter sucesso na identificação da discussão teórica de seu problema de pesquisa. AÇÕES ATIVIDADES CONSULTE o seu orientador sobre quais são as obras mais importantes a respeito do tema para facilitar sua pesquisa bibliográfica. Também quais são os principais centros de documentação que deve pesquisar, e as principais obras, artigos, entre outros, bem como pesquisadores, autoridades e outros agentes que você talvez precise entrevistar. ORGANIZE sua discussão teórica focando nas principais ideias dos autores consultados sobre seu problema de pesquisa. Articule bem essas ideias. Prepare-se para mergulhar na leitura e na reflexão. APOIE as ideias apresentadas nas referências consultadas. Quadro 3: Conselhos úteis na hora de discutir teoricamente o objeto-problema de pesquisa. Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista. 22 Na próxima aula você vai estudar a hipótese da pesquisa e a explicitação do modelo de análise de seu estudo, até lá! Aula 3 – A formulação de hipóteses e o modelo de análise Nesta aula você vai estudar o que é hipótese e sobre a explicitação do modelo de análise da pesquisa. 3.1 O que é uma hipótese? Como formulá-la? Veja, a seguir, as definições sobre hipótese: Enunciado geral de relações entre variáveis (fatos, fenômenos). Formulado como solução provisória para um determinado problema, apresentando caráter preditivo ou explicativo; compatível com o conhecimento científico (coerência externa) e revelando consistência lógica (coerência interna); sendo passível de verificação empírica em suas consequências (LAKATOS e MARCONI , 1999, p. 126). Em termos simples, uma hipótese é uma resposta possível de ser testada e fundamentada para uma pergunta feita relativa ao fenômeno escolhido (RICHARDSON, 2011, p.27). A hipótese, que constitui uma resposta antecipada de seu problema de pesquisa, é uma conjetura afirmativa, plausível de ser verdadeira. Você deve formular uma hipótese que possa ser testada, isto é, que possa ser contrastada com os dados da realidade. A validade da hipótese depende de sua congruência com os fatos ou fenômenos da realidade. As hipóteses se fundamentam no conhecimento prévio e a sua verificação ou refutação permite novos e aprofundados conhecimentos (KERLINGER, 1996). Quiuy e Camenhoudt (1995, p. 149 apud Gerhardt 2009, p. 54) indicam duas formas de construção das hipóteses pelos pesquisadores: por meio do raciocínio indutivo ou por meio do raciocínio dedutivo. No método hipotético indutivo, isto é, o método de construção da hipótese por meio do raciocínio indutivo, a construção da hipótese se baseia na observação direta da realidade que se pretende estudar, e a partir dessas observações, o pesquisador constrói novos conceitos, novas hipóteses e o modelo que será posteriormente submetido à prova dos fatos. No método hipotético dedutivo, isto é, o método de construção da hipótese por meio do raciocínio dedutivo, o pesquisador parte de um postulado ou conceito que serve como modelo de interpretação da realidade que pretende analisar. Por meio de um trabalho lógico, o pesquisador deriva desse modelo as hipóteses e as variáveis (ou aspectos) da realidade que quer observar. 23 Método hipotético indutivo Método hipotético dedutivo A construção parte da observação. O indicador é de natureza empírica. A partir dele, constroem-se novos conceitos, novas hipóteses e o modelo que será submetido à prova dos fatos. A construção parte de um postulado ou conceito como modelo de interpretação do objeto estudado. Esse modelo gera, através de um trabalho lógico, as hipóteses, os conceitos e os indicadores para os quais será necessário buscar correspondentes no real. Quadro 4: Métodos hipotético indutivo e hipotético dedutivo. Fonte: QUIVY & CAMPENHOUDT, 1995. Contudo, esses dois métodos de construção das hipóteses da pesquisa são articulados no trabalho científico: Quando iniciamos uma pesquisa pela primeira vez, a abordagem hipotético indutiva normalmente prevalece, ou seja, construímos nossas hipóteses e indicadores a partir da observação do campo empírico, derivando daí novos conceitos e novas hipóteses que serão submetidas à comprovação pelo modelo estabelecido. Na sequência, quando se possuem algumas ideias conceituais a respeito do tema trabalhado que possam explicar o objeto de estudo, a abordagem hipotético dedutiva passa a ter mais importância. Isso quer dizer que a construção das hipóteses parte de um postulado ou conceito como modelo de interpretação do objeto estudado. Na realidade, essas duas abordagens se articulam, pois todos os modelos elaborados por uma pesquisa científica comportam dedução e indução (GERHARDT, 2009, p. 54). 3.2 O modelo de análise A construção do modelo de análise da sua pesquisa implica na explicitação da hipótese ou dos interrogantes que você formulou para orientar a pesquisa, e dos conceitos derivados da problemática ou abordagem teórica que você escolheu para referenciá-la. Caso tenha preferido formular perguntas de pesquisa em vez da hipótese, precisa identificar os conceitos principais de sua abordagem teórica e definir os aspectos da realidade que você vai observar, a partir das interrogantes que formulou. Importante! Nem sempre os pesquisadores elaboram uma hipótese para orientar a realização da pesquisa. Podem formular apenas perguntas de pesquisa, que servem também para orientar a realização do estudo. 24 O modelo de análise é composto pela hipótese e as variáveis e suas definições operacionais, ou pelas perguntas da pesquisa, e os conceitos operacionalizados, isto é, definidos de forma a possibilitar sua observação na realidade social. Na próxima aula você vai estudar o papel das variáveis na pesquisa científica. Aula 4 – As variáveis e a operacionalização das variáveis Nesta aula você vai conhecer, de forma introdutória, o papel das variáveis na construção do conhecimento científico. 4.1 Definições de conceitos e variáveis As definições dos conceitos utilizados na pesquisa científica são gerais, ou seja, amplas, enquanto que as definições operacionais desses conceitos são restritas, voltadas para aspectos específicos do objeto de estudo, permitindo a observação e/ou mensuração das variáveis envolvidas no fenômeno que você pretende analisar. Richardson (2011, p. 117) aponta que o conceito de variável representa classes de objetos, como: sexo, escolaridade, renda mensal, participação política, violência psicológica etc. A variável “sexo” é fácil de operacionalizar, já que apresenta duas categorias: feminino e masculino. Mas, existem outras variáveis que são bem mais complexas, como participação política e violência psicológica, pois suas definições não são simples. 4.1.1 Quais são as características das variáveis? As variáveis constituem-se de aspectos observáveis e mensuráveis de um fenômeno, que podem apresentar diferentes valores (variável quantitativa) ou ser agrupados em categorias (variável qualitativa). A variável idade tem diversos valores: 20 anos, 25 anos, 30 anos, etc. A variável estado civil pode ser agrupada nas seguintes categorias: solteiro, casado, viúvo, desquitado e divorciado. As variáveis devem apresentar variações ou diferenças em relação ao mesmo ou a outros fenômenos. Um exemplo bem simples pode contribuir paraesclarecer essa questão. Observe a tabela: Tabela 1: Distribuição de Policiais Militares, segundo o estado civil. ESTADO CIVIL FREQUÊNCIA Solteiros 140 Casados 60 Viúvos 20 25 Neste caso, você pode analisar a tabela comparando as categorias, pois as variações internas da variável estado civil são significativas (RICHARDSON, 2011, p.118). Segundo Davis (1976 apud RICHARDSON, 2011, p. 120), no que diz respeito à importância das variações internas de uma variável, você pode considerar as seguintes regras: • Disponha de grande número de casos que difiram em sua classificação; • Se uma das categorias for exageradamente maior em frequência que as demais, use-a sozinha. Isto é, transforme-a em uma variável; • Se tiver um grande número de categorias com pequenas frequências, comece a agrupar em pares até obter categorias significativas; • Evite alternativas que concentrem mais de 70% dos casos, pois elas prejudicam a análise. Resta assinalar que existem casos em que as categorias não podem ser reagrupadas, ou a variável não pode ser reformulada. Nesses casos você precisa eliminar a variável, já que não serve como medida de avaliação (RICHARDSON, 2011, p. 120). 4.2 Tipos de relações entre variáveis/fenômenos A variável é o aspecto observável de determinado fenômeno, ligado a outras variáveis numa situação determinada. Observe no quadro a seguir os tipos de relações entre variáveis, segundo Richardson (2011, p. 121): Relação de covariação As variáveis mudam conjuntamente. Exemplo: relação entre o peso e a estatura. Relação de associação As variáveis podem mudar conjuntamente, mas, as mudanças em uma, não necessariamente produzem mudanças na outra. Exemplo: desempenho escolar em matemática e desempenho escolar em biologia. Relação de dependência Uma variável depende da outra. Exemplo: a variável posição social depende da variável renda pessoal. Relação de causalidade Mudanças em uma variável produzem mudanças na outra. Exemplo: entre o preço do produto e a procura por esse produto. Quadro 5: Tipos de relações entre variáveis. Fonte: Richardson (2011, p. 121). Desquitados 40 Divorciado 20 Total 280 26 4.3 Princípios para definir variáveis Segundo Richardson (2011, p. 121) dois princípios devem ser considerados na definição de todas as variáveis. Importante! A não observância desses princípios leva a perda de informação ou a inutilidade da medição realizada pelo pesquisador. O primeiro princípio que você precisa considerar na definição operacional das variáveis é o que estabelece que os valores de uma variável devem ser mutuamente excludentes. Veja a seguir o exemplo indicado pelo citado autor: Variável: Religião Categorias da variável Religião: • Católica • Protestante • Anglicana Você já percebeu qual é o problema com essa categorização? O problema é que um sujeito anglicano é também protestante. Isso significa que as categorias não são mutuamente excludentes. O correto seria: Variável: Religião Categorias da variável Religião: 1. Católica 2. Protestante Resta esclarecer ainda que as categorias devem estar adequadas à realidade local ou regional do estudo que você pretende fazer. - O segundo princípio que você precisa considerar na definição operacional das variáveis é o que estabelece que as categorias devem ser exaustivas. Isto é, todos os elementos da amostra devem ser classificados em algumas das categorias elaboradas pelo pesquisador. Seria inútil na categorização da variável Religião de um estudo no Brasil incluir a categoria muçulmana, por exemplo (RICHARDSON, 2011, p.123). 4.4 Tipos de variáveis, segundo níveis de medição São considerados quatro tipos de variáveis segundo seus níveis de medição: Variável nominal ou categórica: Este é o tipo de variável mais simples e inferior em termos de informação. A variável é classificada em categorias distintas, como no exemplo já explicitado sobre a variável 27 estado civil dos policiais militares (solteiro, casado, viúvo, desquitado, divorciado). Observe que não há nenhuma hierarquia entre as categorias da variável estado civil (RICHARDSON, 2011, p.126). Variável ordinal: A variável ordinal resulta da operação de ordenar por postos. Além de classificar os elementos de um conjunto, como no caso anterior da variável nominal ou categórica, estabelece uma ordem hierárquica entre as categorias. A ordem resulta da distinção dos elementos de acordo com o maior ou menor grau que determinada característica possui. Por exemplo, a variável nível socioeconômico pode ser hierarquizada como segue (RICHARDSON, 2011, p.26): Exemplo: - nível alto - nível médio - nível baixo Tem-se, assim, uma variável ordinal que implica numa ordem quantitativa numérica, só em termos de maior ou menor. Observe que não se estabelece quantos pontos mais alto ou mais baixo é o nível socioeconômico de uma ou outra categoria (RICHARDSON, 2011, p. 127). Variáveis de razão: Estas variáveis reúnem todas as propriedades dos números naturais: classificação, ordem, distância e origem. Supõem um zero absoluto, mesmo quando o referido valor não se dá, em nenhum caso, em certas variáveis. Por exemplo: número de habitantes de uma cidade: podem existir cidades sem habitantes, mas, é muito difícil. Variáveis intervalares: Estas variáveis possuem as características das escalas anteriores: nominal e ordinal. Além disso, as variáveis intervalares apresentam distâncias iguais entre os intervalos que se estabelecem sobre a propriedade medida. Isto é, requerem o estabelecimento de algum tipo de unidade física de medição que sirva como norma e que, portanto, possa aplicar-se sucessivamente com os mesmos resultados. 4.5 Classificação das variáveis, segundo a posição na relação entre duas ou mais variáveis Segundo Richardson (2011, p. 129), é possível classificar as variáveis de acordo com a relação temporal que existe entre elas. Variáveis independentes: Afetam outras variáveis, mas, não precisam estar relacionadas com elas. Por exemplo, idade e sexo podem influir nos desejos dos policiais de abandonar a Corporação. Mas, a idade não depende do sexo, nem o sexo da idade. São variáveis independentes entre si, mas que afetam uma variável dependente específica. Nesse caso, o desejo de abandonar a Corporação. Variáveis dependentes: São aquelas variáveis afetadas ou explicadas pelas variáveis independentes. Variam de acordo com as mudanças nas variáveis independentes. No exemplo anterior, podemos supor que à medida que a idade aumenta, é menos provável o desejo dos profissionais de abandonar a Corporação. Assim, o desejo de abandonar a Corporação depende da idade. O desejo de abandonar a Corporação é a variável dependente, a idade, a variável independente. Resta esclarecer que devido à interação que existe entre as 28 variáveis sociais, não se pode determinar, em termos absolutos, quais são as independentes e as dependentes (RICHARDSON, 2011, p. 129,130). Variáveis intervenientes: Estas variáveis estão entre as independentes e as dependentes. Elas intervêm nessa relação. Exemplificando... Para você compreender melhor a influência das variáveis intervenientes, observe o exemplo a seguir, segundo Richardson (2011, p. 131): Variável independente: sexo Variável dependente: aproveitamento escolar Nesse caso, o pesquisador supõe que existe relação entre o sexo feminino e o melhor aproveitamento escolar. Mas o pesquisador também supõe que o aproveitamento escolar é influenciado pelas habilidades do aluno e pelas suas expectativas profissionais, isto é, por duas variáveis intervenientes. De acordo com Richardson (2011, p. 131), os efeitos das variáveis intervenientes podem ser os seguintes: • Não existe efeito. A relação original entre o sexo e o aproveitamento escolarse mantém invariável. • As variáveis têm efeito significativo. A relação original desaparece. Também pode ser que apenas uma das variáveis intervenientes tenha efeito significativo. • As variáveis têm efeitos significativos, mas a relação original não desaparece, apenas enfraquece. 5.6 Variáveis segundo as características de continuidade Segundo a característica de continuidade, as variáveis podem ser discretas e contínuas: Variáveis discretas ou nominais: São as variáveis constituídas de categorias separadas ou distintas. Variáveis contínuas ou ordinais, intervalares e de razão: São as variáveis que podem assumir um conjunto ordenado de valores dentro de determinados limites. Os valores de uma variável contínua pelo menos refletem uma ordem hierárquica (alto, médio, baixo). Além disso, os valores variam dentro de determinados limites e cada elemento recebe um escore entre esses limites. A variável aproveitamento escolar, essencialmente, varia entre zero e dez pontos (RICHARDSON, 2011, p. 133). Agora que já compreende bem o que são variáveis, na próxima aula, você vai estudar como elaborar os objetivos de seu projeto de pesquisa e a justificativa do estudo. 29 Aula 5 - Os objetivos e a justificativa da pesquisa Nesta aula você vai estudar como redigir os objetivos e a justificativa de sua pesquisa. 5.1 Formulação dos objetivos da pesquisa Você fez progressos importantes, superou os desafios de elaborar seu problema de pesquisa, de discutir teoricamente seu objeto – problema de pesquisa – formulou a hipótese do seu estudo e explicitou seu modelo de análise. Seu desafio agora é redigir os objetivos da pesquisa. Para isso, deve responder à seguinte pergunta: O que pretende com sua pesquisa? 5.1.1 Os objetivos gerais e os objetivos específicos Os objetivos estão relacionados ao seu problema de pesquisa e a sua hipótese. Um projeto de pesquisa deve conter objetivos GERAIS e ESPECÍFICOS. Os objetivos gerais expressam os resultados mais abrangentes que se pretendem alcançar com a pesquisa. Os objetivos específicos expressam os passos necessários para se alcançar o objetivo geral, em outras palavras, constituem-se da desagregação, em ações, do objetivo geral. Os objetivos precisam ser factíveis e, durante sua pesquisa, você deve alcançá-los. Sua pesquisa é avaliada nesse sentido e, além do mais, você deve explicar em que medida e como conseguiu alcançar os objetivos explicitados. Veja, a seguir, alguns conselhos que o auxiliarão na elaboração dos objetivos. Quadro 6: Conselhos para elaborar os objetivos da pesquisa. Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista (UNB). Lembre que os objetivos devem produzir conhecimentos para resolver seu problema de pesquisa. Elabore um objetivo geral e o desagregue em, no mínimo, três e, no máximo, seis objetivos específicos. Inicie a redação dos objetivos com um verbo: identificar, analisar, observar, relacionar, entre outros. Elabore os objetivos específicos, pensando nos procedimentos metodológicos para alcançá-los. 30 Exemplificando... Redação dos objetivos da pesquisa Observe como foram redigidos os objetivos com este exemplo bem simples de proposta de pesquisa: Problema de Pesquisa: Como as mulheres presas percebem as atividades destinadas à reintegração social no presídio feminino do DF? Objetivo Geral: Compreender as percepções das mulheres presas sobre as atividades de ensino e trabalho no presídio. Objetivos específicos: - Analisar o perfil sociodemográfico das mulheres encarceradas no presídio feminino do DF. - Descrever as atividades de ensino e trabalho das mulheres encarceradas no presídio feminino do DF. - Identificar o papel da educação e do trabalho no presídio da perspectiva das mulheres presas. Fonte: Elaboração da professora Dra. Analía Soria Batista (UNB). Redigiu os objetivos do seu projeto? Se você já os redigiu, vai para o próximo desafio. 5.2 Justificativa da pesquisa Você tem que justificar sua pesquisa, isto é, explicitar por que acha importante realizar seu estudo, por que você deseja fazer essa pesquisa. Observe a seguir alguns dos aspectos envolvidos na justificação da relevância de um projeto de pesquisa e inspire-se neles para justificar seu estudo. Quadro 7: Conselhos para identificar a relevância de seu projeto. Fonte: Elaborado pela professora Dra. Analía Soria Batista (UNB). Justificativa Teórica e Metodológica Justificativa pelas Consequências Sociais A relevância de seu projeto pode se justificar teórica e metodologicamente. Você propõe estudar um problema já abordado no campo científico, mas, adotando enfoques teórico- metodológicos novos. A relevância de seu projeto pode se justificar devido às consequências sociais do problema que propõe. Justificativa em função das lacunas Justificativa pelos objetivos e interesses institucionais. A relevância de seu projeto pode se justificar em função das lacunas identificadas no conhecimento que está disponível sobre seu problema de pesquisa. A relevância de seu projeto pode se justificar em função dos objetivos e interesses de sua instituição de origem. 31 Aula 6 - O cronograma da pesquisa Nesta aula, você vai aprender como elaborar o cronograma de sua pesquisa, identificando as atividades e o tempo necessário à sua execução. O cronograma da pesquisa é o planejamento das atividades que permitem o desenvolvimento do projeto de pesquisa em um tempo preestabelecido. O cronograma da pesquisa responde a perguntas, tais como: Quê? Quando? Para elaborar o cronograma de sua pesquisa você precisa considerar o tempo total de que dispõe para realizar seu estudo em meses, e todas as atividades envolvidas nessa empreitada, calculando para cada uma delas, o tempo necessário de sua execução. Você pode começar definindo as atividades que permitem desenvolver seu projeto de pesquisa, de forma sequencial. As atividades correspondem a ações e são definidas por um verbo (revisar, elaborar, sistematizar, analisar etc.). Uma vez definidas sequencialmente as atividades necessárias ao desenvolvimento do projeto de pesquisa, incluindo aí a versão final da monografia e sua defesa pública, você deve planejar um determinado tempo de realização de cada uma das atividades elencadas. Importante! O orientador de sua monografia pode aqui ajudar e muito! Se você não tiver experiência em pesquisa, discuta com seu orientador o tempo necessário a cada uma das atividades de pesquisa elencadas em seu cronograma. Considere que, a depender das características do trabalho de campo, este pode ser demorado. Por exemplo, entrevistas individuais e grupais podem eventualmente ser desmarcadas pelos sujeitos, gerando atrasos no cronograma. Visitas a instituições podem atrasar em função das dificuldades para conseguir autorização. Acesso a dados e informações secundárias pode não ser fácil, exigir autorizações especiais etc. Vale ressaltar que é comum a pesquisa iniciar com atividades de aprofundamento bibliográfico. Ela pode exigir também o levantamento de documentos oficiais, por exemplo. Os preparativos para o trabalho de campo merecem bastante atenção. Estes podem implicar em conseguir dados sobre determinado grupo social que se quer estudar, para aplicar técnicas de amostragem ou, ainda, podem exigir autorização para ingressar em determinados espaços institucionais e pesquisar junto às pessoas que trabalham no lugar. É necessário também construir os instrumentos da pesquisa, sejam estes questionários ou entrevistas individuais ou grupais etc. Os instrumentos precisam passar por pré-testes e reelaborações antes de sua aplicação definitiva. Há um tempo para realizar a coleta dos dados e um tempo para sistematizaresses dados e proceder a sua análise. Ainda, será necessário escrever uma versão preliminar da monografia, considerar um espaço de tempo para submetê-la ao veredicto do orientador e um espaço de tempo para realizar as correções do texto 32 recomendadas e apresentar a versão definitiva do trabalho. Por último, deverá ser marcada a defesa pública do trabalho realizado. Exemplificando... Um discente tem 12 meses para realizar a pesquisa e apresentar sua monografia. Finalizando... Neste módulo, você estudou que... • O projeto de pesquisa constitui-se em uma ferramenta indispensável à atividade de investigação, devendo servir para orientar seu estudo e poder comunicar às outras pessoas (orientador, membros de uma banca, membros de outras instituições, entre outros) o que você pretende fazer. • Na revisão da bibliografia, você pode encontrar diversas situações com relação à teoria existente sobre seu problema de pesquisa. As situações mais comuns são as seguintes: a) Há uma teoria bem consolidada, que possui evidências empíricas abundantes e que você considera adequada para abordar seu problema de pesquisa; b) Há várias teorias para abordar seu problema de pesquisa e você deve escolher alguma delas; e c) Não há teoria para abordar seu problema de pesquisa. • Você deve formular uma hipótese que possa ser testada, isto é, que possa ser contrastada com os dados da realidade. • As definições dos conceitos utilizados na pesquisa científica são gerais, ou seja, amplas, enquanto que as definições operacionais desses conceitos são restritas, voltadas para aspectos específicos do objeto 33 de estudo permitindo a observação e/ou mensuração das variáveis envolvidas no fenômeno que você pretende analisar. • As variáveis constituem-se de aspectos observáveis e mensuráveis de um fenômeno, que podem apresentar diferentes valores (variável quantitativa) ou ser agrupados em categorias (variável qualitativa). • Os objetivos estão relacionados ao seu problema de pesquisa e a sua hipótese. Um projeto de pesquisa deve conter objetivos GERAIS e ESPECÍFICOS. Os objetivos gerais expressam os resultados mais abrangentes que se pretendem alcançar com a pesquisa. • Os objetivos específicos expressam os passos necessários para se alcançar o objetivo geral, em outras palavras, constituem-se da desagregação, em ações, do objetivo geral. • O cronograma da pesquisa é o planejamento das atividades que permitem o desenvolvimento do projeto de pesquisa em um tempo preestabelecido. Exercício 1. Escolha um tema de pesquisa e formule 3 perguntas relativas a esse tema, escrevendo-as. Se não consegue fazer essas perguntas, proceda como indicado neste Módulo, leia artigos científicos sobre o tema, analise os problemas levantados pelos autores desses artigos e procure inspiração para conseguir elaborar seu próprio problema de pesquisa. Formule seu problema na forma de pergunta. 2. Explique a seguinte afirmação: “Há necessidade de se discutir teoricamente o que se pretende estudar, em outras palavras, de discutir seu objeto de pesquisa utilizando teorias e conceitos característicos da área científica”. 3. Escolha a sua problemática (abordagem teórica) e explicitação. a. Que autores-chave discutem seu problema de pesquisa? Explicite. b. Quais abordagens teóricas eles utilizam? Apresente as ideias centrais dos autores. c. Como as abordagens servem para compreender seu problema de pesquisa? Explicite. 4. Explicite seu modelo de análise a. Qual é a sua hipótese? b. Quais são seus conceitos centrais? c. Operacionalize sua hipótese. d. Operacionalize seus conceitos. 34 Gabarito 1. Orientação de resposta: Para orientá-lo em sua resposta, segue um exemplo de tema e de problema de pesquisa. Tema de pesquisa: Metropolização e homicídios na região do Entorno de DF. Pergunta-problema de pesquisa: Que relação existe entre o processo de metropolização de Brasília e a ocorrência de altas taxas de homicídios em municípios do Entorno? 2. Orientação de resposta: Para responder a esta pergunta, revise a Aula 2 deste módulo. Lembre- se que o objeto de pesquisa pode ser assim redigido: “Estudo sobre a relação entre o processo de metropolização de Brasília e a ocorrência de altas taxas de homicídios nos municípios do Entorno do DF”. Nesse caso, seria necessário procurar estudos e pesquisas que interpretem essa relação, a partir de determinadas abordagens teóricas e utilizando determinados conceitos. Essas interpretações ampliam a realidade sob estudo, indicam aspectos que devem ser considerados pelo pesquisador, relações importantes entre os fenômenos, condições, etc. 3. Orientação de resposta: Uma vez formulado seu problema de pesquisa, é necessário pesquisar bibliografia sobre o problema e analisar as interpretações teóricas e conceituais que os autores pesquisados utilizam para interpretar a questão que lhe interessa estudar. É preciso também analisar como esses autores lhe permitem compreender melhor seu problema, isto é, ampliá-lo e torná-lo mais rico e complexo. Para responder a esta questão, revise a Aula 2 deste módulo. 4. Orientação de resposta: A explicitação do Modelo de Análise da pesquisa exige que você elabore sua hipótese ou as interrogantes que orientarão sua pesquisa. Também deve explicitar os conceitos que considera importantes para orientar seu trabalho. Para responder a estas questões, revise a Aula 3, deste módulo. 35 Apresentação do módulo Você iniciará agora o terceiro módulo deste curso, nele você estudará sobre a elaboração dos procedimentos metodológicos de sua pesquisa. Objetivo do módulo Ao final do módulo, você será capaz de: • Identificar os elementos que fazem parte da metodologia; • Explicitar a estratégia de pesquisa; • Compreender o problema da amostragem; • Listar os alcances e limites de duas técnicas de coleta de dados: questionário e entrevista; • Listar os alcances e limites de duas técnicas de análise de dados: análise estatística e análise de conteúdo; • Descrever os pontos indispensáveis no conteúdo de uma conclusão. Estrutura do Módulo Este módulo contempla as seguintes aulas: Aula 1 – Elementos da metodologia Aula 2 – A amostra na pesquisa científica: conceitos e tipos de amostras Aula 3 – A coleta de dados: as técnicas do questionário e da entrevista Aula 4 – Análise dos dados e análise de conteúdo Aula 5 – As conclusões MÓDULO 3 OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 36 Aula 1 – Elementos da metodologia Nesta aula você estudará sobre os elementos que estão incluídos nos procedimentos metodológicos de uma pesquisa. 1.1 Quais são os elementos da metodologia? A metodologia da pesquisa inclui vários elementos, como indica a definição a seguir: A metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). A metodologia é muito mais que técnicas. Ela inclui as concepções teóricas da abordagem, articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade. No entanto, nada substitui, a criatividade do pesquisador (MINAYO, 2010, s. p). Em outras palavras, a metodologia diz respeito à estratégia utilizada para abordar o problema de pesquisa. De forma geral, a estratégia pode ser quantitativa ou qualitativa. As técnicas de coleta são os instrumentos que você utiliza para coletar os dados (questionário, entrevista etc.). As técnicas de análise (estatísticas, análise de conteúdo etc.) são os instrumentos que você utiliza para analisar as informações coletadas, à luz de sua hipótese ou interrogantes de pesquisa edos objetivos de seu estudo. 1.2 Decisões que você deve tomar 1.2.1 Decidir se a pesquisa é quantitativa ou qualitativa Você deve decidir se sua pesquisa é qualitativa ou quantitativa. De forma sintética e simplificada, se você pretende conhecer de maneira aprofundada a subjetividade de certos grupos (pesquisa qualitativa) ou se vai responder a seu problema de pesquisa, quantificando informações (pesquisa quantitativa), ou se acha mais adequado responder a seu problema utilizando uma estratégia combinada de pesquisa (quanti- qualitativa). Importante! Para tomar estas importantes decisões você vai precisar ler atentamente o Módulo 4 : Tipos de Pesquisa, técnicas de coleta e de análise de dados ou de informações. 37 1.2.2 Decidir sobre os instrumentos de coleta de dados, sujeitos, locais e amostras. Você precisa coletar dados, orientado pelo seu modelo de análise e pelos objetivos de sua pesquisa. Posteriormente, a análise desses dados permitirá a você: testar sua hipótese ou responder as suas perguntas de pesquisa, isto é, a seu problema de pesquisa. Para organizar a coleta dos dados você precisará responder à seguinte pergunta: Quais as fontes de informações serão utilizadas: Primárias, secundárias, ambas? De forma sintética e simplificada, se coletará as informações utilizando um instrumento elaborado por você (dados primários), tais como o questionário, a entrevista etc., ou se utilizará dados coletados por outros (dados secundários), por exemplo, os dados sobre diversos temas produzidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública ou por outros organismos. Você também precisa responder às seguintes perguntas: - Que sujeitos serão observados? Isto é, explicitar quem são os sujeitos de sua pesquisa. - Quantos sujeitos serão observados? De acordo com o caso, você “poderá estudar a população total ou somente uma amostra representativa (quantitativamente) ou ilustrativa (qualitativamente) dessa população” (GERHARDT, 2009, p.56). Na próxima aula você estudará, de forma preliminar, a questão da amostra na pesquisa científica. Aula 2 – Amostra na pesquisa científica: conceitos e tipos de amostras Nesta aula você estudará o papel da amostra na pesquisa científica, os principais conceitos e os tipos de amostras. 2.1 Amostras Já reparou que você usa a amostragem naturalmente na sua vida diária? Quando você quer verificar a qualidade do tempero de um alimento em preparação, prova uma porção desse alimento. Pronto! Você fez amostragem, isto é, extraiu do todo (população) uma parte (amostra) com o objetivo de ter uma ideia sobre a qualidade do tempero do alimento (BARBETTA, 2006, p.41). Na pesquisa científica, quando você deseja conhecer algumas características de uma população, também pode observar apenas uma amostra de seus elementos, e com base nessa amostra, obter valores aproximados para as características ou parâmetros de seu interesse (BARBETTA, 2006, p.41). Veja alguns conceitos importantes: 38 População: é o conjunto de elementos para os quais você deseja que as conclusões da pesquisa sejam válidas, com a restrição de que esses elementos possam ser observados ou mensurados sob as mesmas condições. Parâmetro: é uma medida que descreve certa característica dos elementos da população. Amostra: parte dos elementos de uma população. Amostragem: processo de seleção da amostra. Estimativa: valor calculado com base na amostra, e usado com a finalidade de avaliar aproximadamente um parâmetro. Barbetta (2006), alerta que nem sempre a amostragem é interessante na pesquisa científica. Veja a seguir quando a amostragem não é interessante: - Quando a população que interessa estudar é pequena. - Quando a característica é de tão fácil mensuração que não compensa investir num plano de amostragem. - Quando você necessita de alta precisão. 2.1.1 Tipos de amostragem As amostragens podem ser: Aleatórias; e Não aleatórias. Nos quadros a seguir, você encontra explicações sucintas de alguns dos tipos de amostragem. Amostragens aleatórias O primeiro quadro apresenta amostragens aleatórias, segundo Barbetta (2006, p. 45, 47,49). Amostragem aleatória simples Você precisa ter a lista completa de elementos da população. Consiste em selecionar a amostra através de um sorteio sem restrição. As tabelas de números aleatórios facilitam esta tarefa. Amostragem aleatória sistemática Você pode, por exemplo, tirar uma amostra de 1000 fichas, dentre uma população de 5000 fichas, tirando sistematicamente, uma ficha a cada cinco. Para garantir que cada ficha da população tenha a mesma probabilidade de pertencer à amostra, você deve sortear a primeira ficha dentre as cinco primeiras. 39 Amostragem estratificada Você pode dividir a população em subgrupos (estratos). Estes devem ser internamente mais homogêneos que a população toda, com respeito às principais variáveis em estudo. Para constituir cada estrato, são realizadas seleções aleatórias, de forma independente. Amostragem estratificada proporcional Você deve manter a proporcionalidade do tamanho de cada estrato da população, na amostra. Essa amostra garante que cada elemento da população tenha a mesma probabilidade de pertencer à amostra. Amostragem estratificada uniforme Você seleciona a mesma quantidade de elementos em cada estrato. Essa amostragem é usada quando há interesse em obter estimativas separadas para cada estrato, ou quando se deseja comparar os diversos estratos. Quadro 8 - Tipos de Amostragens aleatórias Fonte: Barbetta (2006, p. 45, 47,49). A seleção de uma amostra aleatória pode ser muito difícil, ou impossível. Pelo comum, isto se deve à impossibilidade de se obter uma lista completa dos elementos da população. Amostragens não aleatórias As técnicas de amostragem não aleatórias procuram gerar amostras que, de alguma forma representam de modo razoável a população de onde foram extraídas. Veja no quadro, a seguir, as amostragens não aleatórias (BARBETTA, 2006, p.54, 55). Amostragem por cotas A população é vista de forma segregada, dividida em diversos grupos. Seleciona-se uma cota de cada subgrupo, proporcional a seu tamanho. A seleção não precisa ser aleatória. Para compensar a falta de aleatoriedade na seleção, costuma-se dividir a população num grande número de subgrupos. Amostragem por julgamento Os elementos escolhidos são os julgados como típicos da população que se deseja estudar. Quadro 9 – Tipos de Amostragens não aleatórias Fonte: Barbetta (2006, p. 45, 47,49). 40 Importante! As decisões sobre amostragem quando necessárias devem ser discutidas com seu orientador. As definições aqui explicitadas têm por objetivo indicar as possibilidades de amostragem e não ensinar como você pode realizar os diferentes procedimentos. Aula 3 – A coleta de dados: as técnicas do questionário e da entrevista Nesta aula você vai estudar os alcances e limites de duas técnicas de coleta de dados: o questionário e a entrevista em profundidade. Você tem que coletar dados para resolver seu problema de pesquisa. Você pode ter que testar uma hipótese ou responder a interrogantes de pesquisa. Você formulou objetivos de pesquisa para alcançar esses resultados. Os objetivos precisam ser alcançados coletando dados e informações. Para isso você pode ter que consultar documentos, observar o fenômeno que lhe interessa ou perguntar a pessoas que possuem essa informação. Na coleta de dados, o importante não é somente coletar informações que deem conta dos conceitos (através dos indicadores), mas também obter essas informações de forma que se possa aplicar posteriormente o tratamento necessário para testar as hipóteses. Portanto, é necessário antecipar, ou seja, preocupar-se,
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