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1 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA FÁRMACOS QUE ATUAM NA COAGULAÇÃO SANGUÍNEA TERAPIA ANTITROMBÓTICA o Redução de fatores de risco a fim de evitar lesão endotelial. o Antiplaquetários → Afetam a adesão e ativação das plaquetas. o Anticoagulantes → Afetam a formação de trombina e fibrina. o Fibrinolíticos → Afetam a formação de plasmina e fibrinólise. HEMOSTASIA A hemostasia compreende uma série de mecanismos regulados que mantêm a fluidez do sangue, livre de coágulos, em veias e artérias normais. De forma geral, tem-se fatores coagulantes e anticoagulantes coexistindo para que se mantenha a hemostasia. A hemostasia consegue ser perturbada sob a ação de dois fatores: o Lesão vascular: Rápida formação do coágulo, a fim de impedir a perda sanguínea e haja a cicatrização. o Fluxo sanguíneo anormal que tende a ocasionar uma lesão vascular. TRÍADE DE VIRCHOW São três eventos que ocasionam na formação do trombo. o Lesão vascular; o Estase ou turbulência no fluxo sanguíneo; o Hipercoagulabilidade; Nesse sentido, os fatores conversam entre si, logo uma lesão vascular pode levar a turbulência no fluxo sanguíneo, que estimula a hipercoagulabilidade e ocasiona o evento trombótico. MANUTENÇÃO DA HEMOSTASIA Tem-se o endotélio, as plaquetas e a cascata de coagulação. ➔ Endotélio: o Endotélio íntegro: Quando íntegro produz fatores que inibem a adesão plaquetária como prostaciclina, diminui a ativação das plaquetas e NO2, além de promover a ativação das plaquetas, é um vasodilatador. o Endotélio lesionado: Caso o endotélio esteja ativado por lesão, inflamação, infecção ou forças hemodinâmicas, tem-se a produção de fatores teciduais. Nesse caso, o endotélio passa a produzir substâncias pró-coagulante e não anti-coagulante. Na imagem abaixo, na parte superior tem-se o endotélio íntegro e na parte inferior, o endotélio lesionado, no qual a célula está rompida e há o contato da camada subendotelial das fibras colágenas com a região intravascular e esse é um dos grandes estímulos para a ativação e consequente adesão plaquetária, o contato de proteínas vasculares com a região subendotelial. Uma dessas proteínas é o fator de von Willebrand o qual funciona como uma âncora, de modo que se fixa na região subendotelial e interage com o receptor de plaqueta, logo, as primeiras plaquetas que se aderem no local da lesão, se aderem via fator de von Willebrand e a partir disso começa a agregação plaquetária. Além disso, o fator tecidual é produzido por células endoteliais ativadas, ou seja, uma lesão tecidual em um determinado local induziu as células vizinhas a produzirem o fator tecidual, o qual ativa a cascata de coagulação e as plaquetas das regiões próximas à lesão. ➔ Plaquetas: São fragmentos celulares anucleados provenientes de megacariócitos da medula óssea. Devido à ausência de núcleos, não podem produzir proteínas. No entanto, podem alterar seu fenótipo diante de um processo de ativação, presença de fator nuclear, tromboxano 2, prostaciclinas, etc. Formam coágulo, recrutam e concentram fatores de coagulação, sendo importante para a ativação de novas plaquetas. 2 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA Ativação da coagulação: o Plaqueta em repouso: Uma célula endotelial intacta produz substâncias anticoagulantes, como prostaciclina e óxido nítrico, desse modo, as plaquetas estão em repouso. Uma plaqueta em repouso tem uma grande quantidade de AMPc dentro dela, isso porquê a prostaciclina tem um receptor, na membrana da plaqueta, que é um receptor acoplado a uma proteína Gs, a qual estimula adenilciclase, ou seja, estimula AMPc a ser produzido. O AMPc dentro da plaqueta diminui a liberação de grânulos contendo cálcio e outros agentes pró-coagulatórios e mantêm os receptores de GP IIb/ IIIa inativos. o Adesão plaquetária: O endotélio se lesionou, logo, as plaquetas que antes estavam em repouso se ativam, inicialmente, pelo fator tecidual das células endoteliais vizinhas e se ancoram no fator de Von Willebrand, a partir disso, as plaquetas agora ativadas começam a produzir TXA2, ADP, serotonina e PAF (fator de agregação plaquetária), logo, as plaquetas vizinhas serão ativadas e recrutadas para formar o tampão plaquetário. o Plaquetas ativadas: Uma plaqueta é ativada mediante txa2, trombina, ADP, serotonina, entre outros. Quando esses receptores são ativados por essas substâncias, tem-se o aumento da liberação de cálcio dentro das plaquetas, logo, se a manutenção de cálcio em níveis baixos mantinha a plaqueta inativa, ao aumenta-lo tem-se a ativação dessa plaqueta. Essa plaqueta com uma maior quantidade de cálcio dentro do seu citoplasma, ela vai produzir as substâncias supracitadas e vai liberá-las para produzir novas plaquetas. Além disso, o cálcio ativa o receptor de GP IIb/IIIa. Esse receptor faz a ligação entre as plaquetas, permitindo a agregação plaquetária, de modo que entre ambos os receptores de cada plaqueta tem uma ponte de fibrinogênio, o qual, além de ser o precursor da fibrina, para de fato formar o tampão, participa do processo de agregação plaquetária. A agregação plaquetária diminui a produção de heparina no nosso corpo, a qual além de ser um fármaco também é uma substância produzida por nós e que participa do processo de manutenção da hemostasia, desse modo, a ativação desses fatores leva a ativação de protrombina, a qual é a forma inativa da trombina, sendo essa a enzima ativa que vai converter o fibrinogênio → fibrina, a qual é essencial para a manutenção do coágulo, formando redes, a fim de conferir sustentação ao agregado plaquetário, para que resistam ao fluxo sanguíneo que está passando. No entanto, se não existisse nenhum agente limitador da formação desse coágulo, a agregação iria continuar de forma que iria obstruir a luz do vaso com a rede de fibrina, comprometendo a passagem do fluxo sanguíneo. Logo, fisiologicamente isso não acontece, pois se tem uma substância fibrinolítica chamada de plasmina, a qual é produzida por meio da ativação do plasminogênio através 3 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA do “ativador do plasminogênio tecidual”, o qual converte o plasminogênio em plasmina. A plasmina é uma substância que tem capacidade de quebrar as moléculas de fibrina, então ela vai destruindo a proteína filamentosa que iria conferir sustentação ao tampão, assim, ela vai impedindo o crescimento do tampão. ADERÊNCIA E AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA O fator de von Willebrand são responsáveis por intermediar a camada subendotelial e a plaqueta. No entanto, a plaqueta interage com esse fator, que está ligado ao colágeno, por meio do receptor GPb, e quando essas plaquetas estãoativadas e prontas para se agregarem elas ativam o GP IIb/IIIa, aumentando a reserva de cálcio intracelular, de modo que esse receptor passa a ter uma maior afinidade com o fibrinogênio, e assim, vai acontecendo o processo de agregação plaquetária. ATIVAÇÃO DAS PLAQUETAS As plaquetas, quando ativadas, mudam seu fenótipo e começam a produzir substâncias responsáveis por recrutar e produzir novas plaquetas. O fator tecidual é um componente iniciador crítico da cascata de coagulação, inclusive, participando da conversão de protrombina em trombina. Processos moleculares da ativação plaquetária: o Tromboxanos A2: É uma das substâncias responsáveis por ativar plaquetas, mas como fazem isso a nível molecular? O tromboxano A2 é um produto formado pela cox-1, o tromboxano tem receptores nas próprias plaquetas e esse receptor é um receptor acoplado à proteína Gq, logo, é uma proteína que ativa fosfolipase C, a qual é responsável por aumentar e ativar IP3 e DAG, o IP3 estimula a liberação de cálcio através de vesículas, aumentando a concentração de cálcio no citoplasma, já o DAG, ativa a proteína kinase C ou PkC, a qual ativa fosfolipase A2, essa lfosforila o GP IIb/IIIa resultando na sua ativação, uma vez ativado, possui afinidade pela molécula do fibrinogênio, deixando a molécula pronta para se agregar a uma outra. o ADP e trombina: A trombina possui o mesmo processo de ativação do tromboxano A2, pois, o receptor de trombina também é um receptor acoplado a proteína Gq. Logo, por fim, tem-se uma maior fosforilação do receptor GP IIb/IIIa ativando-o. O ADP tem dois receptores nas plaquetas, o receptor P2Y e o receptor P2Y1, o qual também é acoplado a proteína Gq, contribuindo para ativar a plaqueta da mesma maneira supracitada. No entanto, a via do receptor P2Y, ocorre por meio da acoplação à proteína Gi, a qual inibe adenilciclase, de forma que isso ocasiona a diminuição de AMPc → diminuição de PKA, a qual ocasiona a ativação plaquetária. Diminuição de PKA ativa na plaqueta → ativa a plaqueta. PKA alto na plaqueta → plaqueta inativa. 4 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA ➔ Cascata de coagulação: É uma sequência de eventos, de modo que cada evento anterior, estimula o evento seguinte. A cascata de coagulação pode ser dividida em via intrínseca, extrínseca e via comum, a fim de que se entenda que há duas vias que levam a um produto comum que é o fato X ativado, de modo que as vias passam a ser comuns. A trombina participa da via intrínseca, extrínseca e comum, participando da formação de fibrina e do fator XIIIa. Logo, esse é um dos elementos mais fundamentais para a cascata de coagulação, bem como o cálcio, o qual se faz presente em praticamente todas as etapas de ativação dos fatores. Isso explica, por exemplo, o porquê que o EDTA é um anticoagulante. O EDTA é uma molécula química que tem um alto poder de “sequestrar” cátions, ou seja, um poder quelante, desse modo, ao coletar um sangue e colocar em um tubo contendo EDTA significa que ele vai tirar o cálcio da cascata de coagulação justificando o porquê do sangue não coagular. Até então foram mostrados apenas fatores pró- coagulatórios como ou que participam da coagulação como o endotélio, plaquetas e a cascata de coagulação. Agora serão mostradas substâncias que participam do processo anticoagulante e estimulam a não formação do coágulo. FATORES ANTICOAGULANTES Tem-se fatores como as prostaciclinas (PGI2), antitrombina III, inibidor da via do fator tecidual (TFPI) e ativador de plasminogênio tecidual. ➔ Prostaciclina: É produzida pelo endotélio quando íntegro. Interage com receptores acoplados à proteína Gs, estimulando adenilato ciclase → aumenta AMPc dentro da plaqueta → Inibe a agregação plaquetária pois mantem o receptor GP IIb/IIIa inativo → inibe a liberação de grânulos que contêm cálcio e ADP, tromboxanos A2 e outras substâncias pró-coagulatórias. ➔ Antitrombina III: É uma proteína que fica circulando pelo sangue em sua forma inativa, no entanto, nossas células endoteliais intactas, além de produz óxido nítrico e prostaciclinas, também produz heparina, a qual é uma molécula endógena liberada pelo nosso organismo para manter o processo de não coagulação espontânea, mas como ela faz isso? A heparina se liga a essa antitrombina III formando um complexo heparina-antitrombina III, mudando a conformação da antitrombina III, a qual é uma conformação ativa que faz com que esse complexo tenha afinidade por fatores de coagulação ativos (trombina, Xa, IXa, XIa e XIIa), ligando-se a eles e os inativando, inviabilizando sua participação na cascata de coagulação. Desse modo, a antitrombina III participa como anticoagulante. Obs: A partir do momento em que a heparina contribui pra ligação da antitrombina III com o fator ativado ela se solta, pois, já cumpriu sua “missão”. ➔ Inibidor da via do fator tecidual ou TFPI: Tem dois papéis como inibidor da cascata, 1º é se ligar ao fator Xa e inativa-lo, inviabilizando a ocorrência da via 5 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA comum e se ligar ao complexo fator VIIa – fator tecidual, o qual é responsável por ativar o fator X da via extrínseca, logo, ao bloquear essa ativação, tem-se uma diminuição da quantidade de fator Xa para seguir a cascata na via comum. ➔ Ativador do plasminogênio tecidual: Esse ativador tem a função de converter o plasminogênio em plasmina, a qual degrada os polímeros de fibrina, diminuindo o tampão plaquetário. Logo, o papel anticoagulante do ativador do plasminogênio tecidual é formar plasmina pra que ela possa degradar os polímeros de fibrina. Esses fármacos costumam ser úteis em processos de interrupção da hemostasia, ou seja, em processos hipercoagulatórios, em que o indivíduo tem tendência ou risco a formar coágulos. HIPERCOAGULAÇÃO Alguns dos principais quadros de hipercoagulação: o Adquirida: Quando o indivíduo tem uma lesão tecidual ou estase (falência cardíaca, trauma). o Anticoncepcionais orais e gravidez: Estado hiperestrogênico, ou seja, tem-se o aumento da síntese hepática de fatores de coagulação e redução de fatores trombolíticos, por isso a tendência à trombose. o Uso de medicamentos p.ex. COXIBES, onde se tem a redução de prostacilcinas, sem mexer na produção de tromboxanos. o Obesidade e tabagismo. o Idade: Quanto maior a idade, maior a redução de prostaciclinas e o aumento da agregação plaquetária. ➔ Lesão vascular ou endotelial: É um dos principais agentes pró-coagulatórios, ou seja, uma das principais causas de hipercoagulação. É super importante em processos de coagulação no coração ou em artéria p.ex. coagulação após infarto do miocárdio, aterosclerose ou trauma e inflamação (vasculite). FÁRMACOS ANTIPLAQUETÁRIOS ➔ Inibidores da cox. p.ex. AAS. o Aspirina: Características e efeitos: Uso primário: Analgésico, utilizado para combater dor leve a moderada, cefaleia, mialgia e artralgia. Se liga de forma irreversível à COX, além disso, é um agente antitrombogênico, pois, atua inibindo a ativação plaquetária. Uso secundário: Profilaxiado infarto do miocárdio e AVE. Riscos: - Gastropatia e nefropatia; - Asma sensível a aspirina. Obs: Por reações de hipersensibilidade alguns AINES produzem uma resposta similar ao quadro asmático, causando uma inflamação das vias aéreas, sendo nomeada de asma sensível à aspirina. Como que a aspirina pode funcionar como antiagregante plaquetário? É importante lembrar do papel do tromboxano A2 na agregação plaquetária, desse modo ao utilizar um fármaco que bloqueia a ação da cox, tem-se a diminuição da formação de tromboxano A2, logo, essa via de ativação estará diminuída para desempenhar o papel de agregação plaquetária dentro da plaqueta. ATENÇÃO: O AAS é usado no tratamento profilático da isquemia cerebral transitória para reduzir a incidência de IAM recorrente e para diminuir a mortalidade nas situações de prevenção do IAM primário e secundário. Estima-se que uma dose diária de 75mg seja o suficiente para diminuir a agregação das plaquetas. A dose recomendada de AAS vai de 50 a 325 mg/dia. ➔ Inibidores dos receptores de ADP. o Clopidogrel: É importante recordar o mecanismo fisiológico molecular da ativação do ADP. 6 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA O ADP se liga ao receptor de ADP que responde a via do P2Y, isso ocorre por meio da acoplação à proteína Gi, a qual inibe adenilciclase, de forma que isso ocasiona a diminuição de AMPc → diminuição de PKA, levando à ativação plaquetária. Desse modo, ao utilizar clopidogrel ou ticlopidina, ou algum outro inibidor dos receptores de ADP, não se tem a liberação da subunidade alfa da proteína Gi, logo, se isso não ocorre não há a inibição de adenilciclase → há produção de AMPc → mantêm a PKA ativa, de forma que as plaquetas ficam em um estado de repouso ou inativa. O clopidogrel é um inibidor que inibe uma sinalização inibitória que quando não está inibida, estimula o AMPc que ativa o PKA o qual inativa as plaquetas, quando presente em maior quantidade. O clopidogrel é um pró-fármaco, ou seja, é necessário que seja metabolizado para que se transforme em um fármaco ativo, esse mecanismo se dá pela CYP2C19. Aplicações clínicas: - AVE; - Infarto (em associação com AAS); - Doença arterial periférica; A inibição máxima da aglutinação das plaquetas é obtida em: - 1 e 3 horas com ticagrelor; - 2 e 4 horas com prasugrel; - 3 e 4 dias com ticlopidina; - 3 e 5 dias com clopidogrel; Quando o tratamento é suspenso, o sistema plaquetário necessita de tempo para recuperação, principalmente quando se fala de fármacos que se ligam de modo irreversível. NOMES COMERCIAIS Plavix – bissulfato de clopidogrel: Deve ser administrado em dose única diária de 75mg. TICLID – ticlopidina: Deve ser administrado 2 comprimidos de 250 mg 1x dia; Effient – cloridrato de prasugrel: Dose inicial de ataque → 60 mg. Manutenção: 10 mg por dia, com tratamento adicional com AAS. Brillinta – ticagrelor: Iniciado com uma dose única de 180mg e então continuada com a dose de 90 mg 2x ao dia. ➔ Inibidores da fosfodiesterase: o Dipiridamol: A fosfodiesterase degreda a AMPc e faz isso em todos os tecidos/locais em que agir. Ao utilizar um fármaco que inibe uma enzima que degrada o AMPc, esse irá aumentar dentro da plaqueta, desse modo, ao aumentar AMPc → aumenta PKA → inativação das plaquetas. Logo, a via intraplaquetária é muito parecida com a via do clopidogrel, exceto pelo fato do dipiridamol intervir em uma etapa intermediária do processo, ou seja, age diretamente no aumento ou não degradação do AMPc, enquanto o clopidogrel vai agir via receptor de ADP, vai ter o mesmo final (aumento de AMPc → aumento de PKA), mas o método é diferente. Associação medicamentosa: O dipiradamol normalmente é administrado associado: - Varfarina: Inibir a formação de trombos em próteses valvares cardíacas. - Aspirina: Reduzir a possibilidade de trombose. Doses: ➔ Antagonistas dos receptores GP IIb/ IIIa: Se liga ao receptor GP IIb/IIIa e impede que o fibrinogênio se ligue. Se O fibrinogênio não consegue se ligar a esse 7 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA receptor, ele não vai fazer a ligação entre as plaquetas, logo, as plaquetas vão perder a capacidade de se agregar. Esses receptores possuem duas subunidades: - Subunidade IIb: - Subunidade IIIa: É uma subunidade que possui um sítio de interação com os seguintes aminoácidos: arginina, glicina e ácido aspártico, desse modo, as moléculas endógenas que se ligam a essa subunidade, possuem essa sequência em uma conformação que seja capaz de interagir com esse receptor p.ex. fibrinogênio, Fator de Von Willebrand e fibronectina. Estratégias de modulação farmacológica: - Anticorpos monoclonais dirigidos para o receptor; - Peptídeos: Possuem uma sequência diferente da sequência da subunidade IIIa, essa sequência é muito comum no veneno de cobras, pois, animais que têm uma tendência a inocular substâncias em suas presas tendem a ter peptídeos anticoagulantes, para facilitar a inoculação do veneno. Alguns desses peptídeos foram isolados dos venenos das cobras e utilizados como fármacos. - Pequenas moléculas de origem sintética; Abciximab: - Anticorpo monoclonal; - Inibe a ligação do fibrinogênio ao GP IIb/IIIa ou integrina, portanto, uma menor agregação plaquetária leva à uma menor formação de trombina. - Costuma ser utilizada em pacientes de alto risco que serão submetidos à angioplastia + heparina + AAS. - Meia vida de 3 dias. Efeitos adversos: Hemorragia, trombocitopenia e imunogenicidade. Eptifibatide: - Isolado do veneno de cobra. - Inibe o sítio de ligação do fibrinogênio. - A sequência de aminoácidos é lisina, glicina e ácido aspártico, pois, o código químico da arginina é muito semelhante ao código químico da lisina, assim, essa mudança torna o código diferente, mas não impede a interação. - Indicado em casos de síndrome coronariana aguda e angioplastia coronariana. - A função plaquetária retorna ao normal em 2 a 4 horas após a infusão do fármaco. Tirofiban: - Derivado não peptídico da tirosina que inibe seletivamente o receptor GP IIb/IIIa. - Possui meia vida de 3 horas. - Permite administração por via oral, sendo essa uma grande vantagem. - Diminui eventos na síndrome coronariana aguda. - Indicado em casos de angina estável. FÁRMACOS ANTICOAGULANTES Atuam na formação de trombina e fibrina. ➔ Varfarina: É um antagonista da vitamina K. Foi descoberta em 1924 devido a uma doença hemorrágica que acometeu os gados, com isso, concluiu-se que entre as plantas que o gado ingeria tinha uma planta chamada de “trevo doce”, a qual quando armazenada para alimentar o gado entrava em um processo de deterioração, produzindo uma substância anticoagulante chamada de dicumarol, com o tempo, foi identificada uma substância química que era responsável por exercer o mesmo efeito anticoagulante que o dicumarol, e essa foi batizada de warfarin. Classes de antagonistas da vitamina K: - Derivados da 4-hidroxicumarina: Dicumarol, acenocumarol varfarina, femprocumom e biscumacetato de etilo. - Derivados do indano-1,3-diona: Fenindiona, difenadionae anisindiona. ATENÇÃO: São classes diferentes que possuem o mesmo mecanismo de ação. O que o antagonista da vitamina K tem a ver com a função de agregação plaquetária ou de coagulação como um todo? A síntese de fatores de coagulação como fator II, VII, IX e X, e alguns cofatores como proteína C e S, são dependentes da presença da vitamina K, logo, o fármaco que funciona como antagonista da vitamina K, diminui a produção de fatores da coagulação, diminuindo a resposta coagulatória. Mecanismo de ação: Esses fármacos têm uma capacidade de bloquear a gama carboxilação de vários resíduos de glutamato presentes na protrombina, fatores VII, IX e X, bem como das proteínas anticoagulantes endógenas C e S. A consequência disso é a formação de moléculas incompletas, estando biologicamente inativas no processo de coagulação. A vitamina K participa de uma etapa da reação química que permite que alguns de seus resíduos de ácido glutâmico sejam carboxilados para formar resíduos de γ- carboxiglutâmico, acontece que essa vitamina K, quando reduzida é convertida em epóxido de vitamina K durante a reação. A vitamina K é regenerada do epóxido pela vitamina K epóxido redutase, a enzima que é inibida pela varfarina. Nesse sentido, esse processo de carboxilação do glutamato ocorre via vitamina K, a qual após a formação do resíduo de γ-carboxiglutâmico, é reciclada pela vitamina K epóxido redutase, desse modo, a vitamina K tá pronta para fazer esse processo novamente em todos os fatores de coagulação que ela participa. 8 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA A varfarina é um inibidor da vitamina K epóxido redutase, assim, ao utilizar um fármaco que impede a recuperação do estado reduzido da vitamina K, tem-se uma menor quantidade de vitamina K reduzida para que o processo de γ-carboxiglutâmico aconteça. A consequência de carboxilar menos fator de coagulação é a produção de fatores de coagulação biologicamente inativos. A trombina tem um papel fundamental em quase todas as etapas da coagulação, e uma das substancias que dependem da oxidação pela vitamina K é a protrombina, logo, se não tiver vitamina K reduzida suficiente para oxidar a protrombina, não se tem trombina suficiente para participar de todos os processos da coagulação sanguínea. Por isso que a varfarina e essa classe de fármacos tem anticoagulantes tão potentes, pois, interferem na produção de uma substância que é fundamental para a maioria dos processos. Farmacocinética: - É administrada por via oral, na sua forma sódica possui 100% de biodisponibilidade. - Tem-se uma elevada ligação às proteínas plasmáticas principalmente com a albumina o que diminui a sua distribuição. - O início da ação se dá de 8 a 12h e sua meia vida é de 36 horas. - A dose a ser administrada é baseada no tempo de protrombina. - Antídoto para um evento agudo: Vitamina K - Possui um baixo índice terapêutico, isso significa que a sua concentração plasmática mínima para exercer a dose terapêutica é muito próxima da concentração plasmática responsável por causar os efeitos colaterais. - Atravessa a placenta facilmente e ocasiona hemorragia fetal, por isso, nunca deve ser administrada em gestantes. - É comum apresentar eventos hemorrágicos quando a dose não está definida na dose correta ou quando esse paciente começa a inserir alimentos verdes na dieta. - Associação com AAS ou com doença hepática aumentam o efeito da varfarina, por sinergismo e devido a menor quantidade de proteínas plasmáticas respectivamente. - Interação com cefalosporina 3ª geração: Eliminação da flora intestinal e reduz a síntese de vitamina K, potencializando a ação da varfarina. - Interação com fármacos indutores enzimáticos p.ex. barbitúricos, rifampicina e cimetidina. Interações: Efeito adverso: Hemorragia. Pequenos sangramentos são controlados com a suspensão da varfarina ou com a administração de vitamina K por via oral, mas sangramentos graves exigem doses maiores da vitamina K administrada por via intravenosa. ➔ Heparinas não fracionadas de baixo peso molecular: A heparina consiste numa mistura heterogênea de mucopolissacarídeos sulfatados que se liga à superfície das células endoteliais. Tipos de heparinas: - Heparina não fracionada: Isolada, purificada e usada como fármaco a partir do pulmão bovino e mucosa intestinal suína. Peso molecular alto e heparina grande. Essa heparina interage com a antitrombina III e ativa essa antitrombina, deixando- a pronta para se ligar com alguns fatores de coagulação. Desse modo, o fator Xa interage com a antitrombina e se torna inativo. A trombina interage com a antitrombina que está ligada a heparina, a heparina não fracionada abraça e força essa interação, dessa forma a antitrombina consegue inativar os demais fatores e a trombina. - Heparinas de baixo peso molecular: É obtida a partir da heparina não fracionada devido à despolimerização. É mais curta, no entanto, os sítios de interação permanecem os mesmos. 9 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA Consegue neutralizar os fatores, mas não consegue neutralizar a trombina, justamente por ter um menor comprimento. Possui potencial de anticoagulação mais baixo. DIFERENÇAS HEPARINA E HBPM ➔ Inibidores seletivos do fator Xa: Foundaparinux se liga a antitrombina III, como se fosse a heparina, mesmo sítio, no entanto, essa ligação faz com que a antitrombina III adote uma conformação que faz com que ela seja capaz de se ligar apenas ao fator Xa. ➔ Inibidores diretos da trombina: Os inibidores que não tem interferência alguma com os fatores de coagulação, mas isso impede Uso: Usos terapêuticos dos anticoagulantes: Usos: - Heparinas: Trombose aguda. - Varfarina e inibidor de trombina: Trombose crônica. Usados na prevenção de: - Trombose venosa profunda (TVP). - Embolia pulmonar. - Trombose e embolização em pacientes com fibrilação atrial. - Trombose em várias válvulas cardíacas. FÁRMACOS FIBR INOLÍTICOS Atuam na formação de plasmina e na fibrinólise. Estreptocinase e alteplase: São dois fármacos que estimulam a conversão do plasminogênio em plasmina ou a ativação do plasminogênio. Fisiologicamente o plasminogênio é ativado em plasmina via ativador do plasminogênio tecidual, e essa ativação pode ser aumentada pelo uso de estreptoquinase e alteplase. A plasmina age degradando a fibrina, a fim de evitar que o excesso dessa rede obstrua a passagem sanguínea. A dissolução do coágulo e a reperfusão ocorrem com maior frequência quando o tratamento é iniciado logo após a formação do trombo, pois, ele se torna mais resistente a lise à medida que envelhece. São usados no tratamento inicial de: - Oclusão vascular periférica aguda. - Trombose venosa profunda. - Embolia pulmonar. Efeitos adversos: - Hemorragia. Contra-indicações: - Pericardite aguda; - Hemorragia interna ativa; - AVC recente; - Feridas profundas em processo de cicatrização; - Cancro com metastização; ➔ Estreptocinase: o É um fármaco muito antigênico, ou seja, tem um alto potencial de desenvolver a resposta imunológica porquê é um fármaco proteíco.o É uma proteína isolada da estreptococcus B-hemolítico grupo A. o Não possui atividade enzimática intrínseca. o Após a infusão intravenosa combina-se com o plasminogênio 1:1, ativando a passagem dessa plasmina. 10 4º SEMESTRE 2021 – UNIFTC FARMACOLOGIA JULIANA OLIVEIRA Uma molécula da estreptocinase interage com uma molécula de plasminogênio e formam o complexo plasminogênio-estreptoquinase e esse complexo é responsável por estimular a conversão de mais plasminogênio em plasmina e essa quebrar a fibrina. ➔ Urocinase: o É purificada a partir de cultura de células renais humanas. o Converte diretamente o plasminogênio em plasmina por quebra da ligação arginina-valina no plasminogênio. o A urocinase degrada diretamente fibrina e fibrinogênio. o Por se tratar de uma proteína humana, não induz a resposta antigênica. ➔ Anistreplase: o Molécula sintetizada em cima da estreptocinase, ou seja, foi realizada uma modificação da estreptocinase, dando origem a anistreplase. o É um pró-fármaco, estando enzimaticamente inativo até sofrer uma desacetilação após a administração. o Sua meia vida é 4x maior que a estreptocinase e pode ser administrada de forma direta intravenosa. o Possui características antigênicas. ➔ Alteplase: o É um ativador do plasminogênio tecidual produzido por DNA recombinante. o A sua atividade enzimática depende da presença de fibrina. o A alteplase ativa o plasminogênio ligado a fibrina rapidamente, em detrimento do plasminogênio livre na circulação. o Acredita-se causar menor ativação do sistema fibrinolítico, fora do coágulo, diminuindo os riscos de hemorragia. ESTREPTOQUINASE X ALTEPLASE
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