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Ao pensar em Trauma, a principal referência é o ATLS (Advanced Trauma Life Support), um manual que sistematiza a sequência de atendimento ao paciente politraumatizado para propor medidas durante a chamada hora de ouro. Distribuição trimodal das mortes no trauma (CR) 1º período: Mortes imediatas Esse período compreende as mortes que acontecem na cena, ou seja, a forma de preveni-la é evitar o próprio acidente, compreendendo medidas de políticas públicas e educação. A principal causa de morte é a apneia, seja decorrente de lesões cerebrais, medulares ou de grandes vasos. 2º período: Mortes precoces (Hora de ouro) São as mortes que ocorrem de minutos a horas após o trauma e onde o médico preparado é capaz de intervir priorizando as lesões que matam mais rápido. A principal causa de morte deste período são as perdas sanguíneas (visceral, hemopneumotórax, hematomas epi/subdural). 3º período: Mortes tardias Por fim, são as que ocorrem dias ou meses após o trauma, geralmente por um quadro de sepse ou falência de múltiplos órgãos- ou seja, o que pode interferir no prognóstico aqui é a qualidade dos grandes centros de referência. ATENDIMENTO INICIAL AO POLITRAUMATIZADO O objetivo do atendimento é prestar suporte médico às vítimas, no intuito de preservar sua vida. Portanto, o atendimento precisa ser ágil, e por isso, é sistematizado na seguinte sequência: Preparação (CR) Fase pré-hospitalar: Envolve condutas que seguem um protocolo específico (o PHTLS). Essa fase requer que os socorristas abreviem o máximo a permanência da vítima na cena do trauma e notifique o hospital de destino antes de iniciar o transporte, para que os médicos se preparem. SE LIGA! Nesse momento, é importante que o socorrista esteja a par de algumas informações da vítima, como: documentação, história do trauma, horário e mecanismo, e eventos relacionados. Fase intra-hospitalar Ela se inicia a partir do momento da notificação dos socorristas, pois consiste num planejamento antecipado à chegada do paciente por parte da equipe e seu líder. Compreende: 1. Desligar o ar-condicionado da sala de trauma; 2. Promover a proteção da equipe, com máscaras, óculos, luvas e avental impermeável; 3. Área de reanimação; 4. Equipamentos de via aérea (testar todos); 5. Soluções de cristaloides aquecidas; 6. Equipamento para monitorização; 7. Protocolo Onda vermelha Sistema de alarmes localizado na sala de Trauma e, ao ser acionado, emite sinais nos corredores, centro cirúrgico, laboratório e radiologia para que o politrauma se torne prioridade em todos os setores envolvidos. Triagem (CR) Importante quando há mais de uma vítima para classificá-las de acordo com o tratamento necessário e recursos disponíveis e, assim, obter uma ordem de prioridade estabelecida. Há 2 tipos de situações de triagem: Múltiplas vítimas Quando os recursos presentes são suficientes para atender a quantidade total de vítimas e manejar a gravidade das lesões. Nesses casos, a prioridade de atendimento são pacientes com risco de vida iminente ou traumatismos multissistêmicos. Vítimas em massa O número de vítimas e a gravidade das lesões excedem a capacidade de atendimento. Portanto, têm prioridade de atendimento aqueles com maior chance de sobrevida. Existem alguns protocolos para auxiliar o profissional de saúde a realizar a triagem em situação com diversas vítimas. O protocolo START é um fluxo a se seguir para realizar de maneira rápida e fácil no atendimento pré- hospitalar. Essa abordagem baseia-se no lema “tratar primeiro o que representa maior ameaça à vida”. Dessa forma, a avaliação inicial prioriza a abordagem e tratamento de sistemas numa ordem: XABCDE. O XABCDE é um mnemônico que padroniza o atendimento inicial ao paciente politraumatizado e define prioridades na abordagem ao trauma, no sentido de padronizar o atendimento. Ou seja, é uma forma rápida e fácil de memorizar todos os passos que devem ser seguidos com o paciente em politrauma. Ele foi pensado para identificar lesões potencialmente fatais ao indivíduo, e é aplicável a todos as vítimas com quadro crítico, independentemente da idade. O protocolo tem como principal objetivo reduzir índices de mortalidade e morbidade em vítimas de qualquer tipo de trauma. Atenção! Mudança (a entrada do X): O famoso mnemônico do trauma "abcde" ganhou na 9ª edição do PHTLS 2018, no capítulo 6 , mais uma letra. O "x' de hemorragia exsanguinante ou seja hemorragia externa grave. Ainda não foi publicado oficialmente e não foi traduzido, mas já nos atualizamos. O APH sofreu uma substancial alteração, dando mais ênfase às grandes hemorragias externas, antes mesmo do controle cervical ou da abertura das vias aéreas! Significado das Letras XABCDE: (CR) ABORDAGEM INICIAL A apresentação inicial do médico ao paciente já traz informações importantes sobre o estado clínico. Pergunta-se: “Olá, sou médico (a) e estou aqui para te ajudar. O que aconteceu?”. Uma resposta apropriada para esta pergunta já nos traz as informações: a) Não há comprometimento de vias aéreas (A), pois, como ele respondeu, estão pérvias; b) Não há comprometimento da ventilação (B), pois, o ar teve que passar para formar a voz; c) Há perfusão suficiente para raciocinar (C); d) E, por fim, não há diminuição do sensório (D); Agora sim, com essa visão do estado geral do paciente, iniciamos a avaliação primária propriamente dita. Letra X – Exsanguinação (CR) Contenção de hemorragia externa grave, a abordagem a esta, deve ser antes mesmo do manejo das vias aérea uma vez que, epidemiologicamente, apesar da obstrução de vias aéreas ser responsável pelos óbitos em um curto período de tempo, o que mais mata no trauma são as hemorragias graves. Letra A - Vias aéreas + restrição da mobilidade cervical (CR) Lembra que já falamos que o que mata mais rápido é a apneia? Então vamos entender como checar a permeabilidade das VA; No paciente consciente: solicita que o paciente abra a boca; No paciente desacordado: realiza manobra de abertura de VA, como o Jaw Thrust (preferencial) ou Chin Lift, sempre mantendo a coluna cervical estabilizada; Caso haja de fato obstruindo, qual a conduta? Corpo estranho (CE): retirar com uma pinça; Sangue/secreções: aspirador de ponta rígida; Não esquecer: todo paciente politraumatizado merece receber oxigênio suplementar ofertado com máscara não reinalante, com 12-15L de O2/min. Caso o paciente não tenha capacidade de manter a via aérea pérvia, uma via aérea definitiva deve ser considerada. E como sei quando indicar uma VA definitiva? A forma mais fácil de promovê-la é realizando uma intubação orotraqueal (IOT). Caso não seja possível, podemos optar por uma cricotireoidostomia (por punção ou cirúrgica) ou ainda uma traqueostomia - o importante é não sair da letra A sem resolvê-la! Lesão de árvore traqueobrônquica Apesar de a obstrução ser o principal problema que nos deparamos no A, a lesão de árvore traqueobrônquica merece um espaço aqui, pois, apesar de mais rara, é potencialmente fatal. Os pacientes que sobrevivem apresentam sinais clássicos ao exame físico: hemoptise, enfisema subcutâneo, fratura palpável em região cervical e expansibilidade diminuída- e o paciente ainda pode acabar entrando num quadro de pneumotórax hipertensivo! Diante desse quadro, nossa conduta se pauta na obtenção de uma VA definitiva, e o paciente deve ser encaminhado imediatamente para a cirurgia. Após a avaliação da via aérea, seguimos com a avaliação do pescoço e restringindo o movimento da coluna cervical. No pescoço, buscamos os seguintes sinais: A melhor forma de restringir o movimento cervical é instalando um colar cervical. Porém, você precisa saber quais pacientes realmente precisam. SE LIGA! Ao final do A, devemos realizar a monitorizaçãodo paciente e oferecer oxigênio a 100% por meio de uma máscara não reinalante. Envolve: monitorização cardioscópica, oxímetro de pulso e PA não invasiva. Letra B - Ventilação (CR) Se passamos pelo A, garantimos que o ar está chegando nos pulmões da vítima. Mas isso não garante a eficiência das trocas gasosas, e é justamente essa oxigenação que avaliamos no B. • Inspeção: a expansão está simétrica? • Palpação: há fratura palpável? Crepitação ou dor à palpação? • Ausculta: MV bem distribuído e simétrico? (abolido/reduzido pode indicar pneumotórax/ hemotórax) • Percussão: se, ao invés do som claro pulmonar (timpânico), estiver maciço pode indicar hemotórax/ hipertimpânico pode indicar pneumotórax; Podemos, então, juntar essas informações semiológicas com os achados do P e tentar identificar possíveis lesões que prejudicam a ventilação: Pneumotórax hipertensivo Pra começar, pneumotórax significa ar na cavidade pleural. E ele é dito hipertensivo pois cursa com repercussão hemodinâmica e seu mecanismo cria uma válvula unidirecional, que permite apenas a entrada de ar, e não a sua saída. Assim, o grande volume de ar acumulado aumenta a pressão torácica, o que reduz o retorno venoso e causa a estase de jugular. E, como também acaba comprimindo o mediastino para o lado contralateral, leva ao desvio de traqueia. Com isso, encontramos timpanismo à percussão e abolição de murmúrios vesiculares na ausculta. Esse conjunto de fatores apresenta- -se em um paciente com dispneia intensa e dor torácica. E nossa conduta é simples: drenar o conteúdo gasoso. Pneumotórax aberto É aquele provocado por ferimento aberto na parede torácica, que corresponde a mais de 2/3 do diâmetro da traqueia. O paciente também se apresenta com dispneia e dor torácica, mas como o volume de ar costuma ser menor, ao exame físico só encontramos timpanismo à percussão e MV abolidos a ausculta. Quanto a conduta, nesses casos não é indicada a punção de alívio, até porque já existe uma comunicação entre a cavidade pleural e o meio externo então realizamos o curativo de três pontas. Ele consiste em um material estéril e retangular que envolva a lesão e seja fixado em 3 dos 4 lados possibilitando que o ar sob pressão saia pelo lado aberto e, na fase em que o ar deveria entrar na cavidade pleural, o curativo oclui o orifício. Basicamente, nós criamos uma válvula unidirecional! Depois, então, o paciente precisa de uma drenagem torácica. Hemotórax maciço Só pela etimologia sabemos que se trata de sangue na cavidade pleural. Considera-se maciço quando o volume é maior que 1,5L. Assemelha-se ao pneumotórax hipertensivo, logo, o paciente também se mostra com dor torácica, dispneia, possível desvio de traqueia, macicez (e não timpanismo!) à percussão e abolição dos MV, pelos motivos que já falamos acima. É importante ressaltar que a estase de jugular pode estar presente (por conta do aumento da pressão torácica), no entanto pode não estar, afinal, o paciente perdeu muito sangue. E, justamente por essa perda, o paciente apresenta sinais de choque. O tratamento também consiste em drenagem torácica, porém, considerando o choque associado, realiza-se reposição volêmica. Tamponamento cardíaco É o acúmulo de líquido na cavidade pericárdica e, como o pericárdio fibroso é pouco elástico, o líquido comprime o coração e limita seu movimento- causando um choque restritivo. Nós identificamos essa condição através do exame físico, pela Tríade de Beck, que é composta por: Hipotensão, Estase de jugular e Abafamento de bulhas cardíacas. Mas por quê? Vamos lá: o coração está comprimido, logo seu volume interno está reduzido. Isso explica os 2 primeiros sinais: com o volume reduzido, menos sangue é ejetado, e gera hipotensão. Por outro lado, se menos sangue consegue entrar no coração, há um congestionamento venoso, que fica evidente nas veias jugulares, por serem mais superficiais. Já o abafamento das bulhas ocorre porque a presença do líquido impede a transmissão do som pela parede torácica. Para tratarmos essa condição, o ideal seria uma toracotomia de emergência, mas, caso não haja tempo hábil ou profissional capacitado, realiza-se uma pericardiocentese (que é uma medida de alívio, ou seja, depois o paciente precisará de uma toracotomia). Letra C - Circulação (CR) No C, a circulação e a pesquisa por hemorragia são os principais parâmetros de análise. A maioria das hemorragias é estancada pela compressão direta do foco. A Hemorragia é a principal causa de morte no trauma. A diferença entre o “X” e o “C” é que o X se refere a hemorragias externas, grandes hemorragias. Já o “C” refere-se a hemorragias internas, onde deve-se investigar perdas de volume sanguíneo não visível, analisando os principais pontos de hemorragia interna no trauma (pelve, abdômen e membros inferiores), avaliando sinais clínicos de hemorragia como tempo de enchimento capilar lentificado, pele fria e pegajosa e comprometimento do nível e qualidade de consciência. Na letra C, deixamos a ausculta cardíaca para o final e investigamos a presença de sinais de choque. O ATLS inclusive prega que, uma vez afastado o pneumotórax hipertensivo, todo choque no trauma é hipovolêmico até que se prove o contrário. Quais sinais indicam que o paciente está em choque? 3Ps: pele, pulso, perfusão. • Pele: pálida e fria. • Pulso: acelerado (taquicardíaco) • Perfusão: pelo tempo de enchimento capilar, que está alterado se >3s. Outros fatores que também nos ajudam a identificar um possível choque são: • Hipotensão • Rebaixamento do nível de consciência • Débito urinário reduzido OBS: devemos ter uma atenção especial com: • Idosos: possuem capacidade limitada de aumentar sua FC em resposta à perda sanguínea, logo podem apresentar choque sem taquicardia. • Crianças: possuem uma reserva fisiológica muito grande e costumam não apresentar sinais de choque; mas, quando descompensam, acontece de forma rápida e catastrófica. • Atletas: também possuem mecanismos de compensação semelhantes aos das crianças, e podem inclusive apresentar bradicardia relativa. Resumindo: vamos sempre desconfiar do estado hemodinâmico normal do paciente! Ao identificar o choque, o que fazer? Obtém-se um acesso venoso periférico uni/bilateral calibroso, para, a partir daí, iniciar reposição volêmica com 1L de Ringer Lactato ou SF 0,9% aquecidos e, então, reavaliar a necessidade de continuar a reposição de acordo com a resposta do paciente. OBS. Lembra daquilo que falamos, que todo choque é hipovolêmico/hemorrágico até que se prove o contrário? Logo, sempre repomos volume. Ainda que seja realizada a reposição volêmica, em um paciente chocado, é mandatório investigar a fonte de sangramento. Através de inspeção e/ ou exames de imagem, conseguimos identificar se a hemorragia é externa ou interna. Nos casos de hemorragia externa, fazemos compressão direta e, caso a compressão direta seja ineficaz, pode-se avaliar a necessidade de realizar um torniquete. Em contrapartida, nos casos de hemorragia interna (que normalmente acomete tórax, abdome, pelve, retroperitônio e ossos longos), os tratamentos variam. Letra D - Disfunção neurológica (CR) Aqui avaliamos o sistema nervoso do paciente, o que inclui: • Reatividade das pupilas → bilateral; estão isofotorreagentes? • Pesquisar sinais de lateralização → bi hemi/para/tetraplegia? • Nível de consciência → bi pode ser causado por trauma no SNC ou por hipoperfusão; logo, ao detectar rebaixamento, é mandatório reavaliação imediata das VA. E como avaliamos esse nível de consciência? Através da Escala de Coma de Glasgow (GCS, em inglês). Essa escala avalia a resposta ocular, resposta verbal e resposta motora. Letra E - Exposição (CR) Para finalizar a avaliação primária, temos que despir completamente o paciente (cortando as roupas) para procurar lesões externas e não esquecer derotacioná-lo (em monobloco) para avaliar o dorso! Nessa etapa é fundamental a atenção a hipotermia (o AC já deve estar desligado, como falamos na preparação, mas, se necessário, deve-se cobrir o paciente com mantas térmicas). E agora, nesse momento de mais “calmaria” no atendimento é que se deve realizar os exames de imagem indicados para o quadro do paciente. MEDIDAS AUXILIARES À AVALIAÇÃO PRIMÁRIA Aqui estamos falando de exames e procedimentos que auxiliam na monitorização do paciente, sendo que na maioria das vezes são realizadas simultaneamente a avaliação primária; • Sondagem gástrica para esvaziar o estomago e evitar vômitos e broncoaspiração; • Sondagem vesical para controle do débito urinário; CONSIDERAR TRANSFERÊNCIA Uma vez acabado o atendimento inicial, já colhemos a história e cabe a nós decidir se ele merece transferência para um serviço mais especializado, lembrando que NUNCA devemos transferir um paciente instável. No entanto, havendo necessidade, essa transferência não deve ser atrasada (exceto quando estão realizando medidas de ressuscitação para estabilizar o paciente ou para garantir uma transferência segura). AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA Terminado o ABCDE, agora vamos para a avaliação secundária, que consiste em examinar o paciente de forma integral, o que significa realizar o exame físico de todos os sistemas e fazer a anamnese do trauma, que inclui a história AMPLA: Alergias Medicamentos em uso Passado médico/ prenhez Líquidos e alimentos ingeridos recentemente Ambiente e eventos do trauma (nessa parte é importante colher informações do mecanismo envolvido). OBS. Lembrar que, no trauma, coloca- -se “dedos e sondas em todos os orifícios”, logo, não podemos esquecer de realizar o toque vaginal e/ou retal. Medidas auxiliares ao exame secundário: estamos falando de exames diagnósticos mais especializados, com o objetivo de identificar lesões especificas, como TC, ecocardiograma ou broncoscopia, por exemplo. REAVALIAÇÃO Quando chegamos aqui é porque já terminamos o atendimento, mas devemos lembrar que esse paciente deve ser reavaliado constantemente, para garantir que nenhuma lesão passe despercebida (essencial a manutenção continuada dos dados vitais e diurese horária!). ATENÇÃO! Para a confecção desse material foram usados livros, artigos científicos, conteúdos de aulas e palestras da faculdade UNIME de medicina. Além de conteúdos de aulas e material didático de outras plataformas de ensino. Foi utilizado também materiais confeccionados por outros colegas, portanto, não é um conteúdo autoral. Ou seja, o conteúdo contido no resumo não é de criação minha, eu apenas compilei o material da melhor forma para estudo.
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