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Modelo Biomédico - Trabalho USS

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Universidade Saúde e Sociedade 
Trabalho sobre os modelos explicativos do processo 
saúde-doença – Modelo Biomédico 
Ana Luize Chaves – 2113207 | Gabryellen Muniz – 2112625 | Maria Clara Capistrano – 
2010226 | Raynne Passos – 2118238 
 
 
Situação: 
 
CASO XIMENES LOPES VS. BRASIL (2006): 
O ASSASSINATO DE UM DEFICIENTE E O MODELO 
HOSPITALOCÊNTRICO 
Isadora Marques Merli 
Luiza Lima Rianelli 
 
 No dia primeiro de outubro de 2004, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
(CIDH) submeteu à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) uma 
demanda contra a República Federativa do Brasil pela violação do direito à vida, 
integridade pessoal, garantias judiciais e proteção judicial. 
 A sentença de mérito, reparação e custos do dia 6 de julho de 2006, além de se 
configurar como a primeira condenação do Brasil pela Corte IDH, inova ao aferir critérios 
ao processo penal em um prazo razoável. 
 O caso era referente ao senhor Damião Ximenes Lopes, pessoa com deficiência 
mental, que havia sido exposto a condições desumanas e degradantes em sua 
hospitalização na Casa de Repouso Guararapes (CE) e, o seu posterior, assassinato nesse 
estabelecimento. 
 Durante sua juventude, Damião desenvolveu uma condição mental depressiva de 
origem orgânica, ou seja, adquirida através de alterações funcionais em seu cérebro. 
Assim, apresentando crises psiquiátricas constantes. 
 Sua primeira internação ocorreu em 1995 por um período de 2 meses, na mesma clínica 
que acarretaria sua morte 4 anos depois; ao regressar a sua casa, Damião já exibia sinais 
de violência física. Como justificativa, a clínica comunicou que ele havia tentado fugir. 
 Houve uma segunda internação nessa clínica – única com serviço público em Sobral 
(CE) – em 1998, por conta de uma crise que foi desencadeada em um acidente no carro 
que Damião estava, o que o fez perambular sem rumo e, quando encontrado por 
autoridades, foi levado para Guararapes. De volta para casa, seus parentes perceberam 
novas lesões em seu corpo. 
 Já em sua terceira e última internação, em 1999, o fato se deu após um período 
particularmente difícil em que Damião deixou de tomar seus remédios por conta de 
náuseas constantes, fazendo seu apetite e sono desaparecerem, causando extrema 
preocupação em sua mãe que não encontrou alternativas além de procurar os serviços da 
Casa de Repouso Guararapes novamente. 
 No início do mês de outubro, ao chegarem na clínica descobriram que não havia 
médico para a consulta, com medo de levar seu filho no meio de uma crise para casa, D. 
Albertina decidiu deixar o filho internado para esperar pelo exame médico, Damião ao 
ingressar não tinha um comportamento agressivo ou lesões físicas. 
 Mesmo assim, em 3 de outubro, Ximenes supostamente apresentou uma crise nervosa, 
por isso, teria sido contido fisicamente, amarrado com as mãos para trás do corpo. Dona 
Albertina, mãe de Damião, presenciou a situação degradante do filho “sangrando pelo 
nariz, com a cabeça toda inchada e com os olhos quase fechados, vindo a cair a meus 
pés, todo sujo e com cheiro de urina” e pediu sua ajuda logo antes de morrer. 
 No mesmo dia, o médico da Casa de Repouso prescreveu medicação à Damião e sem 
examiná-lo, abandonou o hospital, que acabou ficando sem cobertura médica. Duas horas 
depois, Damião faleceu. 
 Apesar das marcas claras de tortura, incluindo equimoses localizadas no olho 
esquerdo, ombro homolateral e punho, no hospital, a necropsia concluiu “morte natural”. 
A família não concordou com tal laudo e acredita em uma omissão, uma vez que além de 
Damião, outras pessoas foram espancadas na Casa de Repouso de Guararapes. 
 A irmã da vítima, Irene Ximenes Lopes, reportou diversas consequências que a morte 
de Damião trouxe à família, em destaque para a mãe, Dona Albertina, que padeceu em 
depressão e gastrite nervosa, dificilmente tratada pois desenvolveu fobia de hospitais. 
Além do irmão gêmeo de Damião, Cosme, que possui um quadro psiquiátrico bem 
semelhante ao do falecido, infelizmente, piorado após esta perda traumática. 
 Após o ocorrido, a família de Damião iniciou sua busca pela identificação da causa e 
dos responsáveis. Em primeiro momento, contataram a polícia civil local, mas 
infelizmente o médico que exercia os laudos policiais era o mesmo que havia examinado 
o corpo de Damião anteriormente. Por conta disso, seu corpo foi transferido para 
Fortaleza onde o resultado foi informado como “morte indeterminada”. 
 Visto aos acontecimentos, Irene acionou todas as entidades e organizações públicas de 
que teve acesso, referentes à defesa dos direitos humanos que receberam uma carta de 
Irene denunciando o caso e a Casa de Repouso de Guararapes. Por conta da mobilização 
familiar, sindicâncias e auditorias foram realizadas. Como resultado, a Assembleia 
Legislativa do Ceará interviu e descredenciou a clínica. Ademais, processos quanto à 
responsabilidade penal e administrativa foram instituídos, mas não obtiveram solução 
prática até a data da denúncia à CIDH. 
 Nesse contexto, a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas 
de Discriminação contra as Pessoas com Deficiência, internalizado no Brasil pelo Decreto 
3.956 em outubro de 2001, reconhece o conceito de deficiência como uma restrição – 
física, mental ou sensorial- de caráter permanente ou transitório, que limita a capacidade 
individual. 
 Assim, o Direito Internacional dos Direitos Humanos certifica que pessoas com 
deficiências mentais internadas em instituição psiquiátrica, têm direito a consentir de 
maneira informada sobre o seu tratamento. Em exceção, a terapia forçada pode obter 
justificação em caso de dano iminente ao indivíduo ou a outros. 
 No caso de Damião, ele não representava risco a si mesmo ou a terceiros. Entretanto, 
não havia decisão informada por profissional médico, o que demonstra um sistema de 
saúde mental ancorado no modelo manicomial, com seu caráter excludente e confinador, 
que se afasta propositalmente da pessoa humana que ali se encontra, relativizando a 
dignidade humana e excluindo os deficientes. 
Não obstante, a prescrição forçada e desnecessária de medicação psiquiátrica também é 
considerada tratamento degradante e viola o artigo 5.2 da Convenção Americana de 
Direitos Humanos (CADH). 
 Em dezembro de 1999, dois meses após a morte de Damião, a CIDH iniciou a 
tramitação da petição sob o número 12.237, além da solicitação ao Estado sobre algum 
elemento de juízo que informasse sobre a situação do caso em nível interno, ou seja, se 
os recursos internos haviam sido esgotados. O Brasil não respondeu à demanda. O 
informe conclusivo da CIDH não foi cumprido pelo Estado brasileiro. 
 A CIDH se posicionou disponível para um acordo amistoso entre partes, o Brasil, no 
entanto, manteve-se inerte, o que provocou a aprovação do Relatório de Admissibilidade. 
A partir desse momento, a petição contra o Estado brasileiro era admissível pela violação 
dos direitos consagrados nos artigos 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 8 
(garantias judiciais) e 25 (proteção judicial), todos da CADH. 
 Nos termos da CADH, a CIDH fez recomendações a adoção de medidas para reparar 
violações e deu um prazo de dois meses para que informasse sobre o estado das medidas 
adotadas. Foi a partir deste momento, que o Centro Justiça Global teve contato com a 
peticionária Irene Ximenes, na intenção de entrar como co-peticionária do processo. 
 Em março de 2004, os autores encaminharam petição a CIDH, sustentando o envio do 
caso à Corte IDH, uma vez que, o Brasil não deu prosseguimento às recomendações feitas 
pela CIDH. Após uma solicitação para prorrogar a adoção de medidas, que foi concedida, 
em setembro de 2004, o caso foi submetido a Corte IDH. 
 Somente em setembro de 2005, o Presidente da Corte IDH convocou a CIDH,os 
representantes da vítima e o Estado para uma audiência pública, marcada para 30 de 
novembro e 1 de dezembro. Na celebração desta audiência pública, o Brasil aproveitou 
para reconhecer a responsabilidade pelos maus tratos e posterior morte de Damião 
Ximenes Lopes. 
 Entretanto, não houve uma auto responsabilização pela violação das garantias e 
proteção judicial em detrimento da família Ximenes Lopes. Neste sentido, a Corte 
considera que o reconhecimento da responsabilidade internacional do Estado contribui 
positivamente para o desenvolvimento deste processo e para a vigência dos princípios 
que inspiram a Convenção no Brasil. 
 Além disso, a Corte aproveitou para negar provimento à exceção preliminar de não 
esgotamento dos recursos internos interposta pelo Estado, fundamentada pela Comissão 
anteriormente, a partir da exceção de “demora injustificada na decisão sobre os 
mencionados recursos internos”. 
 A sentença de mérito proferida pela Corte IDH foi clara e engloba todas as acusações 
de violação do Estado brasileiro neste caso. Em relação ao intrincado sistema de saúde, 
ainda que a Casa de Repouso de Guararapes fosse um estabelecimento privado, ele atuava 
de forma complementar ao Sistema Único de Saúde (SUS) no serviço de auxílio a 
pacientes com sofrimentos mentais. Logo, de acordo com o raciocínio da Corte IDH, o 
Brasil deveria ter criado mecanismos adequados para inspecionar as instituições 
psiquiátricas sob a sua jurisdição, principalmente quando se tratava de um serviço com 
correlação direta à administração pública. 
 Ao se referir à violação do direito à vida e à dignidade humana, deu-se ênfase na 
vulnerabilidade do deficiente, o que gera uma tutela especial por parte do Estado de forma 
a atender suas obrigações. A partir dessa análise, já existem lacunas nos deveres de 
respeito, prevenção e proteção. Outro fato apresentado diz respeito ao dever de investigar. 
 Segundo a Corte IDH, o Estado tem o dever de iniciar uma investigação séria, 
imparcial e efetiva, que não se empreenda como mera formalidade. Outra violação pela 
qual o Brasil foi responsabilizado é a integridade psíquica e moral dos familiares da 
vítima em virtude do sofrimento adicional pelo qual passaram. Além das violações que 
viram sofrer seu ente querido, ainda houve posterior omissão das autoridades estatais 
frente aos fatos[8]. 
 A Corte IDH estabeleceu como deveres do Estado em relação às partes lesadas, 
ou seja, como reparação: (a) garantir a celeridade da justiça para investigar e sancionar 
os responsáveis pela tortura e morte de Damião; (b) pagar indenização como medida de 
reparação à família de Damião e; (c) publicar a sentença no Diário Oficial ou em jornal 
de circulação nacional. 
 Em relação à garantia de não repetição, foi estabelecido o dever de o Estado brasileiro 
continuar a desenvolver um programa de formação e capacitação para o pessoal médico, 
de psiquiatria e psicologia, de enfermagem e auxiliares de enfermagem e para todas as 
pessoas vinculadas ao atendimento de saúde mental. 
 Em relação ao acatamento da sentença, em 2007 o Brasil cumpriu o pagamento de 
uma indenização aos familiares de Damião no valor de cento e quarenta e seis mil dólares, 
estabelecida pela Corte. No entanto, a responsabilidade penal dos envolvidos no óbito de 
Damião enquanto processo judicial, não foi concluída. Ademais, o governo brasileiro 
estabeleceu acordo com o Conselho Nacional de Justiça no tocante ao cumprimento da 
sentença com relação a uma prestação jurisdicional eficiente. 
 No tocante a supervisão de cumprimento de sentença, em maio de 2010, a Corte IDH 
publicou uma resolução sobre a situação brasileira. No texto, tornou-se clara a 
insatisfação dos representantes, passados 11 anos da morte de Damião Ximenes Lopes, 
ainda inexistir uma sentença definitiva no âmbito penal (julgado em primeira instância, 
somente), o que gera uma lacuna no cumprimento da sentença. 
 Ainda assim, em entrevista concedida ao G1 em 2016, Irene Lopes afirmou que “a 
punição representou uma vitória da insistência em se tentar manter viva a memória do 
irmão”. O desejo de fazer justiça e não deixar o assassinato do irmão impune foi o que 
motivou Irene a buscar o auxílio da CIDH. 
 Outra parte ainda sujeita à supervisão é o programa brasileiro de capacitação dos 
funcionários da área de saúde em relação ao tratamento de pessoas portadoras de 
deficiência mental. Assim, hoje há o cumprimento parcial da sentença pelo Brasil, 
https://nidh.com.br/damiao/#_ftn8
continuando o caso sujeito à supervisão da Corte, somente devendo ser considerado 
concluído quando verificado o cumprimento integral da sentença. 
 A denúncia à Corte IDH ocorre em um contexto sócio-histórico de busca pela 
salvaguarda aos direitos humanos no país, uma vez que no ano anterior o Brasil havia se 
submetido à jurisdição da Corte IDH, em consonância à ratificação da CADH em 1992. 
 Sendo assim, o caso de Damião contribuiu para uma maior visibilidade do Sistema 
Interamericano de Direitos Humanos (SIDH) enfatizando sua eficiência no tocante à 
violação dos direitos. Nesse contexto, também é relevante destacar a ampliação de uma 
cultura de enfoque aos direitos humanos para além do campo jurídico, mas agregando 
diferentes tipos de saberes integrados a uma verdadeira rede de proteção. 
 Somado a isso, o caso de Damião Ximenes Lopes fortaleceu os movimentos 
relacionados à reforma psiquiátrica e antimanicomial no país e a elaboração da Rede de 
Atenção Integral em Saúde Mental (RAISM) em Sobral, sendo uma referência na 
América Latina, no entanto, a instituição enfrentou dificuldades no exercício de sua 
função. 
 Por fim, como consequência do caso para o Brasil, houve a aplicação do 
chamado power of embarrassment (poder de constrangimento), forma de sanção política 
que visa a inclusão pelo Estado Brasileiro de atualizações do estado de suas ações no 
cumprimento da sentença em seus relatórios. 
 
 
Perguntas: 
1 - Que características do modelo explicativo do processo 
saúde-doença vocês identificam na situação/contexto 
selecionada? 
A característica em especial é a de o tratamento possuir uma visão 
totalmente restritiva, onde procurou-se a qualquer custo controlar a 
situação do paciente sem ao menos avaliar outros fatores, como em 
destaque, as condições psicológicas e emocionais, interpretando-o como 
“algo a ser consertado" e agindo, portanto, de forma agressiva para/com o 
tal. O que por fim, além de resultar em sequelas físicas e emocionais no 
paciente, acarretou a sua morte. 
 
 
 
2 - Que contexto histórico-social do modelo explicativo está 
presente na situação/contexto? 
É o momento histórico característico por transformações sociais relevantes, 
com amplitudes de ideias/conceitos da própria idade contemporânea, como 
a consolidação do capitalismo e a globalização econômica. 
 
3 - Dentre os aspectos políticos, religiosos, sociais, filosóficos, 
culturais, econômicos, analise os que estão presentes nesse 
modelo explicativo? 
Estão envolvidos aspectos sociais, pois os valores e direitos do paciente e 
da sua família não foram respeitados, sendo assim, foi impossível de se 
manter um bem-estar social diante da situação. Ademais, há também o fator 
político, pois no caso encontram-se organizações e entidades aos quais a 
família teve que acionar para dar início á processos judiciais em busca da 
defesa dos Direitos Humanos. 
 
 
4 - Que reflexões críticas o grupo faz ao modelo explicativo 
presente na situação/contexto? 
A crítica é baseada exatamente na ausência de ética, profissionalismo e 
empatia correlacionados ao bem-estar do paciente, o qual foi injustiçado e 
tratado de maneira cruel, justamente por aqueles que deveriam 
compreender suas limitações e oferecer auxílio. Pode-se acrescentar 
também que a família foi privada do seu direito, conformeos Direitos 
Humanos, de consentir sobre o seu tratamento. Com isso, a clínica mostrou 
uma conduta totalmente hospitalocêntrica, grosseira e exclusiva.

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