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Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre INTRODUÇÃO Chama-se pigmento a toda substância com cor própria. Deste modo, constituem este grupo substância com origem, composição química e significado fisiológico e patológico. Podem ser classificados em: ▪ Endógena: Sintetizados no organismo; ▪ Exógena: Oriundas do exterior e introduzidos no organismo por ingestão, inalação ou inoculação. Os distúrbios da pigmentação decorrem de alterações na formação do pigmento (hiper ou hipopigmentação) e alterações na distribuição. PIGMENTAÇÕES ENDÓGENAS Hiperprodução e acúmulo de pigmentos sintetizados no próprio organismo. Um pigmento pode ser produzido em uma célula e ser depositado nela mesma ou em outra célula. MELANINA Pigmento responsável, principalmente, pela coloração da pele, pelos e olhos, tem a função de proteger conta radiações em geral. É um pigmento preto-acastanhado, sintetizados pelos melanócitos localizados na epiderme. Os melanócitos possuem a enzima tirosinase (ou tirosina oxidase), que atua sobre a tirosina, resultando como produto final a melanina. Embora os melanócitos sejam a única fonte de melanina, os queratinócitos basais podem acumular o pigmento (ex.: sarnas), assim como os macrófagos na derme. Patologias: ▪ Albinismo (ou acromia, acromatose): Despigmentação generalizada congênita (herança hereditária recessiva): o Incapacidade dos melanócitos de sintetizar a tirosinase, levando a ausência da pigmentação da pele e conjuntiva. ▪ Vitiligo: É uma acromia localizada adquirida. Características, geralmente, simétrica, irregular e delimitada com Hipercromia periférica; o Decorrem da perda de atividade enzimática local dos melanócitos. Na maioria das literaturas é descrita como um transtorno de origem idiopática – autoimune (alterações de toxinas e quimosinas, além de atividades diferentes das células associadas a resposta imune); predisposição genética, fatores externos (ex.: estresse). ▪ Acromia cicatrial: o Exaustão dos melanócitos ou da sua destruição no local da cicatriz. o Hipopigmentação pós inflamatória: Inflamação cutânea pode induzir a perda ou diminuição da coloração da pele. (Principalmente inflamação crônica). ▪ Acromotriquia: o Exaustão dos melanócitos comprometendo a produção de pigmento no cabelo. Acontecem na senilidade (envelhecimento) – levando em conta fatores genéticos –, por deficiências nutricionais (diminuição da cor pela carência extrema de alimento, ex.: proteína, além de deixar o cabelo “fraco”) e pelas radiações intensas, após um período de hiperpigmentação. ▪ Hiperpigmentação: ▪ Melasma: Manchas hiperpigmentares mais comumente na face, mas também pode ser extrafacial, com acometimento dos braços, pescoço e colo. Patologia Patologia Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre o Não há causa definida, mas muitas vezes esta condição está relacionada ao uso de anticoncepcionais femininos, à gravidez, predisposição genética, e principalmente, à exposição solar. ▪ A inflamação crônica pode causar manchas pós-inflamatórias, podendo levar ao dano permanente no DNA celular. o As máculas podem variar em cor de rosa a vermelho, marrom ou preto, dependendo do tom da pele e da profundidade da coloração; essas manchas podem regredir quando se trata a causa de base. Melanoma: Neoplasia maligna que tende a ser agressiva - multiplicação autônoma e desordenada de melanoblastos e melanócitos. Qualquer lesão pigmentada que comece a crescer, que tenha alterações na pigmentação ou que venha a sangra deve ser estudada microscopicamente. PIGMENTOS LIPÍDICOS ▪ Lipofucsina: Conhecido como pigmento do desgaste ou da idade ou pigmento senil – atrofia parda. É um material intracelular granular, castanho-amarelado que se acumula em diferentes tecidos (particularmente no coração, fígado e cérebro) como consequência de envelhecimento ou atrofia. É um pigmento que vai se acumulando dentro da célula dependente do tempo, ou seja, acumula-se desde o nascimento e cresce à medida que o individuo envelhece. Esse pigmento só é observado em grande quantidade, por isso, é comumente observado em indivíduos mais velhos. o Acumula-se em células pós-mitóticas (ex.: neurônios, miócitos cardíacos, míocitos da musculatura esquelética) e células com divisão lenta (ex.: hepatócitos e células da glia); o É o resultado final da autofagocitose dos constituintes celulares (organelas – as membranas das organelas são lipídicas) de células parenquimatosas. o Resíduo final não degradável acumulado em lisossomos. o Aspectos: • Macroscópico: Grande quantidades de lipofuscina dão coloração amarronzada; • Microscópico: Grânulos amarronzados no citoplasma de células parenquimatosas. ▪ Ceróide: Também acontece pela oxidação de lipídeos, porém é acumulado no interior de macrófagos; não é uma autofagia, é resquicídios de outra células (heterofagia). Possui efeito deletério sobre a célula, ou seja, compromete o funcionamento. o Comum em áreas degeneradas necróticas ou hemorrágicas em que lipídeos são liberados nos tecidos e fagocitados e degradados pelos macrófagos. o Presente na desnutruição severa (ex.: caquexia advinda do câncer), deficiência de vitamina E, radiação. o Se acumula, frequentemente, nas células de Kupffer, e em menor extensão nos hepatócitos, miócitos da musculatura esquelética e lisa. Fatores Lipofusina Ceróide Dependente do tempo Sim Não Início Infância Em qualquer fase Deletério Não Frequente Taxa de acumulação Muito devagar Usualmente rápida Distribuição nos tecidos Intracelular Intra e Extracelular Formação Autofagia Heeterofagia Origem dos percursores Maioria intracelular Maioria extracelular Lembrar que quando há degeneração e inflamação, os neutrófilos irão agir sobre o tecido comprometido, e as enzimas liberadas por essas células podem degradar os lípideos e gerar deposição de ceróide extracelular. PIGMENTOS HEMOGLOBÍNICOS Pigmentos resultado da destruição das hemácias. Fusão da organela com o lisossomo Oxidação de lipídeos das membranas de organelas Fagocitose Acúmulo em vacúolos Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre A meia vida da hemácia é de 120 dias, depois disso é destruída a passar pelo baço, e então divida em “Heme” e “Globina”. ▪ Bilirrubina: Produto do catabolismo da fração heme da hemoglobina e de outras hemoproteínas. Transportes: o Transporte sanguíneo: Da bilirrubina não conjugada (antes de chegar no fígado), a molécula nesse estado é tóxica. • No plasma 91% da Bb não conjugada é transportada ligada à albumina; • 9% restante carregado ligado à Apolipoproteína D; • Insolúvel em soluções aquosas, logo, não pode ser eliminada diretamente. o Transporte e conjugação no hepatócito: Da bilirrubina em conjugação com o ácido glicurônico nos hepatócitos; essa conjugação transforma a molécula em inócua, hidrofílica e solúvel em água, além de ser frouxamente ligada à albumina: • A molécula ao chegar no rim, é filtrada e eliminada diretamente. • Essa etapa é necessária para excreção. Mecanismo de formação e acúmulo: O conhecimento do metabolismo da Bilirrubina é essencial para o diagnóstico e avaliação de um grande número de doenças do fígado e do sangue, ex.: o O aumento de níveis sanguíneos de Bb não conjugada, particularmente em recém-nascido, causa a lesão cerebral irreversível (sequelas neurológicas permanentes) ou morte. o Hiperbilirruninemia: Distúrbios associados ao aumento da produção de Bb ou a defeito hepático – comprometimento dos hepatócitos – na remoção do pigmento da circulação resultam na evolução de seu nível no sangue, traduzida no quadro de icterícia (retenção da bile): • Icterícia pré-hepática: Predomínio da Bb não-conjugada(indireta): Acontece quando a superprodução de Bb na hemólise excessiva – anticorpos produzidos nas incompatibilidades sanguíneas, doenças autoimunes e depósitos de imunocomplexos –, logo a taxa de produção excede a taxa de remoção do fígado. • Icterícia hepática: Tanto pela Bb conjugada como pela não conjugada. Acontece pela redução na capacitação e transporte ou pela diminuição da conjugação, ex.: Hepatites e cirroses: o Infecciosa (Leptospirose, enterobactérias, vírus da hepatite); o Tóxica (Envenenamentos por aflotoxina, chumbo, anilina, fósforo, medicamentos); o Degenerativa (Tumor hepático, cirrose). • Icterícia pós-hepática: Predomínio da bilirrubina conjugada (direta). Acontece por um obstáculo ao funcionamento biliar, diminuindo a excreção. Pode estar localizado nas próprias vias biliares (como cálculo ou quando a bile fica anormalmente espessa) ou no exterior, pela compressão do ducto colédoco ou da vesícula biliar (por corpos estranhos no duodeno ou neoplasias de órgãos próximos como tumores hepáticos e digestivos). Na imagem ao lado (fígado): Colestase intrahepatocítica (acúmulo dentro dos hepatócitos) e extrahepatocítica (fora – ao redor – dos hepatócitos). As membranas plasmáticas dos hepatócitos se fundem e formam o canalículo biliar – acúmulo de bilirrubina. A bilirrubina é o produto final da degradação do heme (proveniente da decomposição de eritrócitos, principalmente no baço) A heme oxigenase intracelular (fagócitos) oxida o heme, formando a biliverdina, que em seguida é reduzida a bilirrubina pela biliverdina redutase A bilirrubina (não conjulgada) é ligada à albumina sérica, para que seja transportada pela circulação até o fígado No fígado, a bilirrubina é captada pelos hepatócitos, conjugada ao ácido- glicurônico pela UDP-glicuronil-transferase no retículo endoplásmatico, e é excretada na forma de glicuronídeos de bilirrubina na bile A maior parte dos glicuronídeos de bilirrubina é desconjugada na luz intestinal por β-glicuronidases bacterianas e degradada até urobilinogênios (dá coloração as fezes), que junto com os resíduos intactos, são excretados nas fezes Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre Respectivamente, colestase intracelular e extracelular. ▪ Hematina: Pigmento derivado do heme contendo ferro, resultante da ação de um ácido forte. Encontrada ao redor de vasos e em áreas hemorrágicas. o Pigmento da úlcera gástrica: Observa-se a ação do ácido clorídrico sobre a hemoglobina; o Hematina malárica ou esquitossomótica (ou hemosoina): Resultado da digestão enzimática da hemoglobina por parasitos: • A ruptura das hemácias libera grânulos castanhos- escuros no interstício para os macrófagos do baço, fígado e outros órgãos. o Pigmento do formol: Grânulos bronzeados ou preto esverdeado, vistos em tecidos hemorrágicos quando fixados em formol – principalmente em cortes de tecidos com pH abaixo de 5 –, ou acontecem também pelo indício de autólise pós morte. • Não tem significado patológico; • Pode ser confundido com outros pigmentos importantes, como a hematina. • O uso do formal tamponado e neutro previne sua ocorrência. ▪ Hemossiderina: Produto do catabolismo “Heme” do Ferro da hemoglobina. Grânulos de cor marrom escura, que se acumula em tecidos, onde há excesso de ferro, local ou sistêmico. o O ferro é vital para todos os seres vivos, pois realizam funções como transporte de oxigênio e de elétrons (hemoproteínas) e síntese de DNA (enzima ribonucleotídeo redutase); o O ferro está em constante equilíbrio entre absorção, transporte, armazenamento e utilização. Ferritina (forma do ferro carreado e armazenado): Associação da apoferritina com o ferro, que mantém o ferro sequestrado em forma oxidada (melhor visualização óptica), controlando sua atividade pró-oxidante formadora de radicais livres de oxigênio. o Se tiver oferta de ferro ao sistema reticuloendotelial, terá moléculas de ferritina formando micelas que se agregam e formam hemossiderina. A porcentagem de ferro em relação à proteína é maior na hemossiderina que na ferritina, e a mobilização do ferro é mais difícil. o Acúmulo de hemossiderina nos tecidos acontecem pela destruição excessiva de hemácias (anemia hemolíticas ou autoimunes ou transfusões múltiplas) e também pela ingesta excessiva de ferro (quando nosso organismo supera a capacidade de controle de absorção a nível do intestino). o Diagnóstico diferencial: Reação do azul da Prússia (ou de Perls) – Fe reage com fercocianeto f de potássio e forma o ferrocianeto férrico, que é azul intenso e insolúvel. Imcorporação da ferretina no citosol sob a forma de agregados pelo retículo endoplasmático liso (vacúolos autofágicos) Fusão dos vacúolos autofágicos com lisossomos, formando lisossomos secundários (siderossomos) Degradação enzimática da apoferritina Persistência de agregados maciços e insolúveis de ferro, constituindo a hemossiderina Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre O ferro é corado de azul no diagnóstico em Perls. A hemossiderose pode ser usado para denominar uma determinada patologia: o Hematoma: Extravasamento do sangue dentro do tecido. As hemácias são fagocitadas por macrófagos que liberam o ferro, e este acumula-se como hemossiderina no citoplasma destes. Possui cor amarelada ou ferruginosa do tecido durante a reabsorção do hematoma. o Congestão passiva crônica dos pulmões: A insuficiência cardíaca esquerda, leva ao aumento da pressão nos capilares do pulmão, causando o extravasamento de hemácias para os alvéolos, que serão fagocitadas por macrófagos e esses ficaram abarrotados de hemossiderina. Mesmo ocorrendo deposição intraparenquimatosa do pigmento, não há, na maioria dos pacientes, lesão celular suficiente para provocar distúrbios funcional dos órgãos afetados. PIGMENTOS EXÓGENOS Oriundos do exterior, que introduzidos no organismo por ingestão, inalação ou inoculação, se depositam nos tecidos, funcionando como corpos estranhos, sendo fagocitados por macrófagos ou drenados por vasos linfáticos. VIA INGESTÃO (ORAL) ARGIR ISMO OU ARGINA ▪ Intoxicação com sais de prata: Quando se tem administração prolongada e muitas vezes excessivas de medicamentos com sais de prata (prata coloidal), gerando dermatites, cistites, coccidioses e oftalmias. o Deposição de complexos de Ag (prata) nos glomérulos renais, glândulas sudoríparas e sebáceas e derme superficial, produzindo uma pigmentação acinzentada azulada permanentemente na pele e mucosa oral. Popularmente conhecida como doença do homem azul. Muito rara. CAROTENOSE OU LIPOCROMATOSE EXÓGENA Ingestão (dieta) excessiva de pigmentos vegetais, como plantas e algas, lipossolúveis que garantem pigmentação amarelo pálido na pele e mucosas. o São essenciais para a vida, pois o Beta-caroteno é um componente básico da vitamina A. o As células que mais captam esse pigmento são principalmente, as células de Kupffer do fígado e os adipócitos, mas também as epiteliais da adrenal, dos testículos e da vesícula seminal, as luteínas do corpo lúteo e as células ganglionares. VIA INALATÓRIA (RESPIRATÓRIA) ▪ Pneumoconioses: São alterações pulmonares e de linfonodos regionais decorrentes da inalação de partículas provindas do ambiente (poeiras/poluição do ar). o Não são verdadeiramente distúrbios pigmentares, mas alguns pigmentos exógenos são frequentemente inalados; o A gravidade dependerá: • Do tipo de partícula inalada (qualidade e diferença das inertes para as não inertes); • Do tempo de exposição à poeira (quantidade); • Presença ou não de infecção associada. o Tipos: 1. Antracose: Deposição de carvão; 2. Silicone Inalação de sílica; Outros: Asbestose: Inalação de silicato de magnésio (componente do amianto. Deposiçãodas fibras de asbesto leva a reação inflamatória crônica e fibrose); Silicossiderose: De minério de ferro (Hematita); "Calcinose": De Carbonato de cálcio (cal); Beriliose: De Berílio; Cadmiose: De cádmio; Plumbose: De chumbo; Cuprose: De cobre; Argirose: De sais de prata; Hidrargirose: De sais de mercúrio; Bismutose: De sais de bismuto. } m ai s im po rt an te s Anna Beatriz Fonseca | MED UNIFTC 2020.2 – 3º semestre ▪ Antracose: Deposição de carvão nos pulmões, linfonodos regionais e em outros órgãos (via migração de macrófagos com carvão fagocitado). o Partículas de carbono da poluição atmosférica que chegam aos alvéolos; o Grupos de risco: mineiros, populações de centro urbanos, áreas poluídas e fumantes. Aspectos: o Macroscopicamente verifica-se um pontilhado preto acinzentado, mais intenso nas porções mais ventrais e linfonodos regionais também escurecidos. o Microscopicamente observa-se grânulos enegrecidos histoquimicamente resistentes a todos solventes, localizados nos alvéolos e nos septos interalveolares, as vezes dentro de macrófagos. Na imagem ao lado, melhor visualização dos grânulos de poeira. Na imagem ao lado, os pigmentos de antracnose e asbesto. ▪ Silicone: Inalação de sílica ("areia") sendo altamente irritante, determinando reações violentas (nódulos altamente fibróticos - de natureza granulomatosa), além de predispor às infecções pulmonares, e surgimento de áreas de enfisema. o Exposição ocupacional: Mineiros, indivíduos que trabalham com concreto e pintores). Patologias: • Intensa fibrose (diminui complacência) do parênquima pulmonar causando uma pneumopatia restritiva; • Enfisema: os alvéolos se tornam perceptíveis macroscopicamente; • Lesão silicótica mais intensa no parênquima, em que o tecido tem cor acinzentada e aspecto pétreo. • Paquipleuris – intensa fobrose pleural. Nódulo do pulmão. Observa-se o rompimento da periferia, sendo composta de filtrado inflamatório e colágeno. VIA INOCULAÇÃO (CUTÂNEA) ▪ Tatuagem: Pigmentos insolúveis, introduzidos por agulha com propósitos decorativos ou identificadores. Histologicamente o pigmento é visto como pequenos grânulos fagocitados por histiócitos ou retidos no tecido conjuntivo fibroso.
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