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1 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. Pneumonia e Bronquiolite PNEUMONIA A pneumonia é um tipo de inflamação que afeta os pulmões e que, geralmente, está relacionada a uma infecção. Infecção que inflama os sacos de ar (sacos alveolares) em um ou ambos os pulmões, que podem ficar cheios de líquido. Na pneumonia, os sacos alveolares podem ficar cheios de líquido ou pus. A infecção pode ser fatal para qualquer pessoa, mas particularmente para bebês, crianças e pessoas com mais de 65 anos. Os sintomas incluem tosse com catarro ou pus, febre, calafrios e dificuldade respiratória. Os antibióticos podem tratar muitos tipos de pneumonia e alguns podem até ser evitados com vacinas. Ela é uma doença provocada por micro-organismos (vírus, bactéria ou fungo) ou pela inalação de produtos tóxicos. Ela pode ser adquirida pelo ar, saliva, secreções, transfusão de sangue ou, no caso do inverno, devido a mudanças bruscas de temperatura. Muitas vezes ela começa com uma simples gripe ou resfriado que não é bem tratado, fazendo com que a imunidade do paciente diminua consideravelmente. PNEUMONIA NA INFÂNCIA A pneumonia é a inflamação do parênquima pulmonar, causada na maioria das vezes por microrganismos e raramente por agentes não infecciosos. EPIDEMIOLOGIA A maioria das crianças tem 4 a 6 infecções respiratórias agudas por ano, principalmente aquelas que habitam nas áreas urbanas. Dessas infecções agudas do trato respiratório, cerca de 2 a 3 evoluem para uma infecção de parênquima pulmonar (pneumonia) e dessas, cerca de 10 a 20% evoluem para o óbito. Segundo dados da OMS, as pneumonias agudas, são responsáveis por cerca de 20% da mortalidade mundial em crianças de 5 anos de idade. São cerca de 2 milhões de óbitos anuais nesta faixa etária e 70% deles ocorrem em países subdesenvolvidos. Como a maioria grande maioria das infecções respiratórias, as pneumonias tem maior incidência no inverno. No brasil, há alguns períodos que ocorrem picos de alguns vírus que causam pneumonias virais, como a parainfluenza na primavera e o VSR (Vírus sincicial respiratório) no outono. 2 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. FISIOPATOLOGIA DA PNEUMONIA O trato respiratório inferior é estéril pela a ação de vários mecanismos fisiológicos de defesa. A infecção pulmonar acontece quando há uma menor eficácia desses mecanismos de defesa ou quando a quantidade de agentes infectantes satura os mecanismos de defesa. Basicamente, pneumonias são provocadas pela penetração de um agente infeccioso ou irritante (bactérias, vírus, fungos e por reações alérgicas) no espaço alveolar, onde ocorre a troca gasosa. Esse local deve estar sempre muito limpo, livre de substâncias que possam impedir o contato do ar com o sangue. Com essa invasão de agentes, uma reação inflamatória pode ocorrer nos alvéolos, produzindo exsudato que interfere com a difusão. Com frequência, a pneumonia afeta a ventilação e difusão. Com isso, além da presença de leucócitos (neutrófilos) no local onde anteriormente havia ar ocorre o edema da mucosa, levando a uma oclusão parcial de brônquios e alvéolos, com uma resultante diminuição da pressão de oxigênio alveolar. Disponível em: https://infomedica.fandom.com/pt-br/wiki/Pneumonia O aparelho respiratório possui um sistema de defesa, tais como: 1. Anatomia das vias aéreas: filtração aerodinâmica 2. Epitélio da naso e orofaringe. 3. Muco/ depuração mucociliar 4. Refluxo da tosse 5. Macrófagos alveolares 6. Neutrófilos 7. Imunoglobulinas 8. Complemento 9. Surfactante Existe algumas vias de acesso dos agentes até o pulmão, como: → Aspiração de secreções das vias aéreas superiores → Inalação (agentes que ultrapassam a filtração aerodinâmica como microrganismos, micobactérias, micoplasma, fungos, vírus). → Hematogênica (substâncias que compõe o sangue) → Contiguidade (foco infeccioso em órgão próximo ao pulmão) → Aspiração de conteúdo gástrico → Inoculação nas vias por procedimentos (intubação) 3 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. CLASSIFICAÇÃO Com relação a sua classificação, ela pode ser classificada de acordo com a sua localização, seu tipo e de acordo ao seu agente infeccioso. → Local: Pneumonia adquirida na Comunitária (PAC) – (A PAC é uma infecção do parênquima pulmonar adquirida fora dos hospitais ou instalações de cuidados prolongados. Geralmente, os patógenos responsáveis pela infecção não são identificados) ou hospitalar (Pneumonia Hospitalar é definida como aquela que ocorre 48 horas ou mais após a internação, que não estava, portanto, incubada no momento da admissão. É a segunda infecção hospitalar mais freqüente, sendo a primeira dentro das unidades de terapia intensiva). → Tipo Lobar, intersticial e broncopneumonia. → Agente: infeccioso ou não infeccioso. MORFOLOGICAMENTE, AS PNEUMONIAS PODEM COMPROMET ER PREDOMINANTEMENTE: ▪ Luz alveolar: pneumonia lobar (afeta 1 ou mais lobos pulmonares, endurecendo todo o lobo afetado). É a forma mais frequente, tende a afetar todo o lobo pulmonar. Costuma ser de origem bacteriana e o microrganismo responsável mais comum é o pneumococo ou Streptococcus pneumoniae. ▪ Vias aéreas e os alvéolos: broncopneumonia. A infecção inicia-se nos brônquios e bronquíolos para originar vários focos em vários segmentos de um ou ambos os pulmões sucessivamente. Os microrganismos que com maior frequência provocam este tipo de pneumonia são o Staphylococcus aureus e o Haemophilus influenzae. ▪ Interstício: pneumonia intersticial (a reação inflamatória se localiza nas paredes alveolares. A luz alveolar é livre). Nesse tipo se produz essencialmente uma inflamação dos septos alveolares, os agentes infecciosos responsáveis podem ser vírus, como o da gripe, micróbios que apenas encontram condições favoráveis para a sua proliferação quando há uma diminuição das defesas orgânicas, como a bactéria Mycoplasma pneumoniae, o protozoário Pneumocystis carínii e a bactéria Legionella pneumophila, causadora da denominada doença do legionário. Disponível em: http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_print.asp?cod_noticia=1059#:~:text=Na%20pneumonia%20lobar% 20uma%20parte,adquirida%20no%20hospital%20ou%20nosocomial. 4 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. Na pneumonia lobar uma parte do pulmão (lobo) é afetada de maneira uniforme. A broncopneumonia afeta os pulmões de maneira "salpicada". ETIOLOGIA A infecção do tecido pulmonar pode ser provocada por vários microrganismos, sobretudo bactérias e vírus, e com menor frequência por fungos e protozoários. Os microrganismos costumam chegar aos pulmões diretamente a partir do exterior, suspensos no ar. Contudo, as pneumonias podem resultar da aspiração de secreções provenientes do aparelho digestivo, da contaminação a partir de focos infecciosos adjacentes ou por disseminação hematogênica de focos infecciosos mais distantes. Embora existam inúmeros microrganismos presentes no ar, os quais penetram constantemente nas vias respiratórias, estes são neutralizados, em condições normais, pelos mecanismos defensivos. Geralmente, os microrganismos são retidos no muco que reveste as vias respiratórias, sendo posteriormente arrastados pelos movimentos dos cílios em direção à faringe, podendo igualmente ser detectados e eliminados pelas células defensivas ali presentes. De qualquer forma, quando por alguma razão estes mecanismos defensivos se encontram debilitados ou quando os microrganismos são particularmente agressivos, a possibilidade de desenvolvimento de pneumonia aumenta. Desse modo, existe ainda as pneumonias classificadas conforme a sua etiologia: 1. Pneumonia viral É uma infecção causada por vírus e que se instala nospulmões, podendo afetar a região dos alvéolos pulmonares. Diversos vírus respiratórios podem causar um quadro clínico mais grave do que um resfriado ou gripe. Os mais comuns são influenza, coronavírus, parainfluenza, adenovírus e vírus sincicial respiratório. 2. Pneumonia bacteriana É o tipo mais comum da doença. Ela pode ser causada por bactérias inaladas ou presentes no próprio organismo, em locais como: garganta, boca, nariz, sistema digestivo e pele. Como já estão instaladas, podem acarretar em uma pneumonia quando a imunidade cai. Entre os agentes mais frequentes das pneumonias bacterianas, destacam-se as bactérias que vivem no nosso sistema respiratório. 3. Pneumonia química Diferentemente dos tipos de pneumonia mais conhecidos, a pneumonite química, como também é conhecida, não é causada por bactérias ou vírus. Mas sim, pela inalação de substâncias agressivas ao pulmão, como: agrotóxicos, fumaça como o vapor de cigarros elétricos, poluição, produtos químicos em geral. Essas substâncias vão parar nos pulmões, causando inflamação nas vias aéreas e nos alvéolos - pequenas estruturas que transportam o oxigênio para o sangue. Esse tipo de inflamação pulmonar facilita a ação de bactérias, permitindo que a doença evolua para uma pneumonia bacteriana sobreposta. 4. Pneumonia fúngica 5 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. É uma doença causada por fungos. Apesar de ser o tipo de pneumonia mais raro, tem o potencial de ser bastante agressivo. Ocorre com mais frequência em pessoas imunodeprimidas ou com doenças crônicas, como é o caso de pacientes oncológicos ou infectados pelo vírus HIV QUADRO CLÍNICO Leve: com acometimento das vias aéreas superiores associado a sintomas inespecíficos como febre, fadiga, tosse, anorexia, mal estar, dor muscular, dor de garganta, congestão nasal ou cefaleia. Alguns casos podem não apresentar febre e sim, sintomas gastrintestinais, como diarreia, náuseas e vômitos. Moderado: pneumonia sem complicações (sem sinais de gravidade). Há febre (mais frequente), tosse ou dificuldade respiratória e taquipneia, ainda sem hipoxemia. Tomografia computadorizada de tórax alterada com a presença de lesões pulmonares. Grave: pneumonia grave com tosse, dificuldade de respirar, além de pelo menos um dos seguintes sinais: cianose central ou spO2 < 90% a 92%; sinais de angustia respiratória (por exemplo, grunhidos, tiragem grave); sinais sistêmicos de alerta; letargia ou inconsciência ou convulsões. Críticos: síndrome respiratória aguda grave (SRAG) ou pacientes com quadro de choque, encefalopatia, lesão miocárdica e insuficiência cardíaca, distúrbios da coagulação e lesão renal aguda. Alguns dos sintomas que podem surgir são: febre, tosse, aumento da frequencia respiratória (taquipneia), taquicardia, dispneia, saturação diminuída de O2, febre alta, dor no tórax, alterações da pressão arterial, confusão mental, mal-estar generalizado, falta de ar, secreção de muco purulento de cor amarelada ou esverdeada, toxemia (danos provocados pelas toxinas carregadas pelo sangue), prostração (fraqueza). VARIÁVEIS DE RISCO DA PNEUMONIA NA INFÂNCIA 1. Desnutrição 2. Baixa idade 3. Comorbidades 4. Baixo peso ao nascer 5. Episódios prévios de sibilância e pneumonias 6. Ausência de aleitamento materno 7. Vacinação incompleta 8. Infecções respiratórias virais 9. Agentes etiológicos PNEUMONIA ATÍPICA A pneumonia atípica é uma infecção pulmonar causada por micro-organismos menos comuns que os da pneumonia normal, onde se incluem os vírus, o Mycoplasma pneumoniae, a Legionella pneumophila ou a Chlamydophila pneumoniae, por exemplo. 6 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. Este tipo de pneumonia geralmente é contagioso através do contato com gotículas de saliva da pessoa infectada e, por isso, é mais comum entre pessoas que compartilham espaços pequenos, como acontece com os presos ou os militares, sendo uma importante suspeita quando toda a família apresenta os mesmos sintomas. Embora seja conhecida como uma pneumonia grave, a pneumonia atípica tem cura e o seu tratamento pode ser feito em casa com repouso e uso de antibióticos receitados pelo clínico ou pelo pneumologista. O que acontece é que, como é causada por outros tipos menos comuns de micro-organismos, seu tratamento pode ser mais difícil e demorado, havendo maiores chances de complicações. MYCOPLASMA PNEUMONIAE Possui um inicio gradual de mal-estar, febre, cefaléia e tosse irritativa. Acomete preferencialmente crianças em idade escolar. Eventual tosse coqueluchoide. Relatos de contactantes familiares ou na escola. CHLAMYDIA TRACHOMATIS Pneumonia afebril em lactentes menores de 4 meses de vida, nascidos de parto normal. Apresentam-se com tosse coqueluchoide, taquipneia e estertores finos bilaterais. Relato materno de leucorreia na época do parto. EXAME FÍSICO → Estado geral → Gemência → Cianose / palidez → Frequencia cardíaca → Expansibilidade torácica → Frêmito tóraco-vocal: vibração sentida quando o paciente emite um som estridente (33). Nas consolidações, o som encontra-se aumentado e nos derrames, diminuído. → Percussão: som maciço nas consolidações. → Murmúrio vsicular: diminuído na consolidação. → Ruídos adventíciosas: ▪ Estertores finos (crepitações): sons nítidos e descontínuos (como o friccionar dos cabelos). Gerados quando o ar entra nos alvéolos contendo liquido (pneumonia, edema pulmonar). ▪ Estertores grossos: menos agudos e mais duradouros. Sofrem alterações com a tosse. Ocorre na abertura e fechamento das vias aéreas contendo secreção viscosa e espessa. → Esforço respiratório: tiragem sub e intercostal, sucupraclavicular, retração de fúrcula e batimento de atleta nasal. → Sibilância nas infecções virais ou por bactéria atípica. Não é comum na pneumonia bacteriana. 7 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. → RN: manifestações respiratórias são menos evidentes. Predominam sinais gerais de sepse (recusa alimentar, letargia, distensão absominal, palidez, cianose, hipotermia, taquipneia, dispneia, taquicardia). SINAIS DE DOENÇA GRAVE → Tiragem subcostal (é a retração da parede torácica inferior). → Dificuldade para ingerir líquidos → Dificuldade respiratória mais grave (movimentos involuntários da cabeça, gemência e batimentos de asa do nariz). → Cianose central → Sinais de má perfusão periférica. COMPLICAÇÕES → Sepse / choque séptico → Atelectasia (o colapso do tecido pulmonar com perda de volume. Os pacientes podem ter dispneia ou insuficiência respiratória se a atelectasia for extensa). → Derrame pleural → Pneumactocele (Cavidade formada nas paredes finas, no interior do pulmão, própria da pneumonia estafilocócica). → Abcesso pulmonar DERRAME PLEURAL O derrame pleural é o acúmulo de líquido na cavidade pleural (entre as pleuras parietal e visceral). Ocorrem em 5 a 10% das pneumonias bacterianas sendo 50% delas em crianças menores de 2 anos. CLASSIFICAÇÃO → Exsudato: Hemorrágico, turvo ou purulento. Acometimento inflamatório das pleuras (aumento da permeabilidade capilar). https://www.mdsaude.com/pneumologia/derrame-pleural/ 8 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. → Trasudato: límpido, amarelo-claro. Resultam de doenças extrapulmonares onde há aumento da pressão hidrostática. QUADRO CLÍNICO Além dos sintomas da pneumonia, pode haver dor pleurítica. Ao exame, observa-se diminuição da expansibilidade torácica, macicez ou submacicez a percussão, ausência do murmúrio vesicular, diminuição do FTV (frêmito toracovocal). Os sintomas do derrame pleural podem variar bastante. Os mais característicos são falta de ar (dispneia), mesmo em repouso; cansaço na realização de esforços; dor pararespirar, especialmente nas inspirações profundas (a chamada dor pleurítica). DIAGNÓSTICO O diagnóstico pode ser: → Clínico → Laboratoriais: hemograma completo, gasometria arterial, eletrólitos, PCR. → Estudo microbiológico: hemocultura, cultura do líquido pleural. Cultura de escarro não é útil (colonização) → Sorologias: infecções atópicas. → Pesquisa viral em secreções respiratórias → Raio X de tórax → USG tórax: ▪ Estima o volume da efusão ▪ Determina se há loculações ▪ Determina a ecogenicidade do fluido ▪ Guia a inserção do dreno torácico ou a toracocentese. → Estudo do líquido pleural (derrame pleural). https://www.mdsaude.com/pneumologia/derrame-pleural/ http://blog.somiti.org.br/o-que-causa-o-derrame-pleural/ 9 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. → O TC de tórax: avalia complicações como derrame parapneumônico, extensão da pneumonia, necrose pulmonar, pneumatoceles, abscesso pulmonar e fístula broncopleural. TRATAMENTO → Ambulatorial: pacientes sem critério de gravidade. Pneumonia ATÍPICA: macrolídeo (azitromicina, eritromicina ou claritromicina). → Hospitalar Indicações: 1. Falha do tratamento ambulatorial 2. Sinais de toxemia 3. Lactantes < 2 meses 4. Tiragem subcostal 5. Desnutridas, imunodeprimidas ou com comorbidades 6. Recusa da ingestão de líquidos 7. Vômitos frequentes. PARA MENORES DE 2 MESES: Ampicilina + aminoglicosídeo ou ampicilina + cefalosporina de 3ª geração ou Eritromicina em caso de suspeita de C. Trachomatis. PARA MAIORES DE 2 MESES: Penicilina cristalina ou ampicilina Grave: oxacilina + cefalosporina de 3ª geração ou amoxicilina + clavulanato ou cefuroxima. 10 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. BRONQUIOLITE Bronquiolite é o processo inflamatório da mucosa das vias aéreas de pequeno calibre (bronquíolos), que cursa com a obstrução da luz dessas vias, identificada como primeiro episódio de sibilância (broncoespasmo) associado a sinais gripais em crianças menores de 2 anos (acontece mais nessa faixa etária) É uma infecção dos bronquíolos. O termo bronquiolite é confundido com bronquite, que é uma infecção das vias aéreas superiores e se dá em crianças maiores). Clinicamente se pensa em bronquiolite quando a criança tem sintomas gripais e no exame físico tem o primeiro episódio de sibilância. A condição começa como um resfriado comum. Progride para tosse, chiado e, às vezes, dificuldade em respirar. Os sintomas podem durar de uma semana a um mês. É possível tratar a bronquiolite com cuidados domiciliares na maioria dos casos. Casos graves necessitam de hospitalização. EPIDEMIOLOGIA Estimativas globais demonstram 3,4 milhões de admissões hospitalares e 199 mil mortes em crianças menores de 5 anos. Acomete lactantes menores de 2 anos sendo o pico de incidência abaixo de 6 meses de vida. A bronquiolite é quase sempre causada por um vírus. E tem maior prevalência durante outono e inverno. FATORES DE RISCO → Prematuridade extrema (IG < 29 semanas) → Lactantes < 4 meses → Doença pulmonar crônica (displasia broncopulmonar) → Cardiopatia congênita → Imunodeficiência → Defeito anatômico da via aérea → Doença neurológica da base → Fatores ambientais (creche, fumante passivo). Embora a bronquiolite possa aparecer em todas as crianças, esta infecção parece ser mais frequente em crianças com menos de dois anos, já que suas vias aéreas são mais estreitas. Além disso, os sintomas parecem ser mais graves em bebês com: • Idade inferior a 12 meses; • Doenças pulmonares ou cardíacas; • Baixo peso. Bebês prematuros ou com o sistema imune enfraquecido também têm maior risco de desenvolver um quadro de bronquiolite mais grave, que pode precisar de internamento no hospital. 11 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. ETIOLOGIA → O vírus sincicial respiratório (VSR) é um dos principais agentes etiológicos (60-80%). → O parainfluenza, rinovírus, metapneumovírus, bocavírus, adenovírus. → Coinfecção por mais de um desses agentes parece ocorrer em 1/3 dos casos. O vírus sincicial respiratório (VSR), que pertence ao gênero Pneumovirus, é um dos principais agentes de uma infecção aguda nas vias respiratórias, que pode afetar os brônquios e os pulmões. Na maior parte dos casos, ele é responsável pelo aparecimento de bronquiolite aguda (inflamação dos bronquíolos, ramificações cada vez mais finas dos brônquios que penetram nos alvéolos pulmonares) e pneumonia, especialmente em bebês prematuros, no primeiro ano de vida. Até mesmo aqueles que receberam anticorpos das mães durante a gestação são vulneráveis à infecção pelo vírus sincicial respiratório. VIA DE TRANSMISSÃO O material infectado (secreções respiratórias de pessoas infectadas, superfícies ou objetos contaminados) atinge o organismo através das mucosas dos olhos, nariz e boca ou por inalação de gotículas derivadas da tosse e espirro (quando a pessoa infectada tosse ou espirra, a gotícula infectada pode alcançar até 2 ou 1,5m de distância). VSR – sobrevive nas mãos por 1 hora e nas superfícies duras por até 24 horas. (Desse odo, é de extrema importância higienizar as mãos com frequência). PATOGÊNESE O vírus invade o epitélio da nasofaringe e dissemina-se, célula a célula, por toda mucosa do trato respiratório inferior. Ocorre dano e morte celular, infiltração peribrônquica por leucócitos (mononucleares), edema de submucosa e adventícia e aumento da produção de muco. Esse edema, vai desencadear um epitélio necrosado e com fibrina, essa fibrina produzida vai fazer uma rolha de secreção que vai obstruir a luz dos bronquíolos. O ar que tinha entrado e que agora não consegue sair devido a obstrução vai fazer uma área de aprisionamento de ar e hiperinsuflação. Quando se tem essa obstrução da luz dos bronquíolos, no momento da ausculta, é percebido sibilos. Só que esses sibilos não são promovidos pela contração de musculatura lisa do bronquíolo (como acontece na asma), esse sibilo é promovido pela obstrução mecânica da luz alveolar. Resumindo: O vírus se alastra do trato respiratório alto para o médio e pequenos brônquios e bronquíolos, causando necrose epitelial e iniciando uma resposta inflamatória. O aparecimento de edema e exsudato causa uma obstrução parcial mais pronunciada na expiração e leva ao aprisionamento do ar nos alvéolos. A obstrução completa e a absorção do ar aprisionado podem levar a múltiplas áreas de atelectasia, o que pode ser exacerbado ao respirar concentrações altas de oxigênio inspirado. https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/bronquios/ http://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/pulmao/ http://drauziovarella.uol.com.br/crianca-2/bronquiolite/ https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/bronquiolos/ https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/alveolo-pulmonar/ http://drauziovarella.uol.com.br/letras/p/pneumonia/ 12 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. O que acontece é: a criança inala partículas contaminadas e essas partículas depois do primeiro contato e do período de incubação (que é de mais ou menos, 4 a 5 dias), e aí o paciente começa a desenvolver sintomas. Primeiro começa com sintomas nasais, podendo ter rinorreia, espirro, obstrução nasal, tosse. Depois de 3 dias mais ou menos, esse vírus vai alcançar parênquima pulmonar, já alcançou a via aérea mais baixa (brônquios e bronquíolos). E aí com isso, começa a ter um quadro mais exacerbado. A luz dos bronquíolos fica estreitados pelo edema na submucosa e dentro da luz dele fica cheio de muco, células desgarradas e fibrina, dificultando a passagem de ar. Essas obstruções provocam esforço respiratório importante, na tentativa de promover a entrada desse ar da via aérea. QUADRO CLÍNICORinorreia hialina, obstrução nasal, tosse e espirros acompanhados de febre ou não. Além de irritabilidade, anorexia, dificuldade para mamar. A doença progride e em torno do 4º ao 6º dia surgem sinais de comprometimento das vias aéreas inferiores. Nos primeiros dois dias, a bronquiolite causa sintomas semelhantes aos de uma gripe ou resfriado, como tosse persistente, febre acima de 37,5º C, nariz entupido e coriza. Estes sintomas normalmente duram um ou dois dias e depois evoluem para: • Chiado ao respirar; • Respiração rápida; • Alargamento das narinas ao respirar; • Diminuição do apetite; • Dificuldade para dormir. Em lactantes jovens e prematuros, a apneia é comum. O tempo médio de resolução dos sintomas é de mais ou menos 15 dias. E cerca de 10 a 20% permanecem sintomáticos por até 3 semanas. EXAME FÍSICO → Estado geral → Frequência respiratória e cardíaca → Saturação de oxigênio → Ausculta respiratória: sibilos, tempo expiratório prolongado, estertores grossos difusos. Disponível em: https://www.tuasaude.com/bronquiolite/ 13 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. → Avaliar a presença de esforço respiratório → Avaliar o estado de hidratação. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE INSUFICÊNCIA RESPIRATÓRI A → Cardiopatia → Anormalidades da via aérea (anel vascular) → Aspiração de corpo estranho → Pneumonia → Infecção por B pertussi CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO → Apneia → Esforço respiratório importante → Cianose central → Taquipneia (FR > 70) → Saturação de O2 persistentemente baixa → Desidratação → Problemas sociais DIAGNÓSTICO → Clínico → Laboratoriais: hemograma, gasometria arterial, eletrólitos, PCR. → Hemocultura: quando houver suspeita de infecção bacteriana associada. → Isolamento do vírus na secreção nasofaríngea: indicada para pacientes internados com quadros mais graves ou diagnóstico incerto. → Raio X de tórax – indicado para quadros mais graves, mais de 2 dias de febre, ausculta assimétrica ou que necessitem de oxigênio. Achados: ▪ Espessamento peribrônquico ▪ Atelectasias ▪ Sinais de hiperinsuflação pulmonar: rebaixamento da cúpula diafragmática, ângulos costofrênicos menos agudos, retificação de arcos costais. No perfil, aumento do diâmetro ântero-posterior e presença de coluna de ar retroesternal. O diagnóstico da bronquiolite baseia-se nos dados de história, exame físico e ocorrência epidêmica da doença. Pacientes com suspeita de bronquiolite devem ser submetidos a oxigenação com oximetria de pulso. Casos leves com níveis normais de oxigênio não necessitam de outros testes; porém, nos casos de hipoxemia e esforço respiratório grave, a radiografia de tórax ajuda no diagnóstico e tipicamente mostra pulmões hiperinsuflados, diafragma deprimido e marcas hílares proeminentes. Infiltrados podem estar presentes resultantes de atelectasias e/ou 14 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. pneumonia por VSR; pneumonia por VSR é relativamente comum em lactentes com bronquiolite por VSR. Em alguns casos, especialmente quando a bronquiolite demora para passar ou quando os sintomas são muito intensos, o pediatra pode pedir alguns exames de sangue para despistar outras infecções. TRATAMENTO → Oxigenoterapia é a única terapia comprovadamente benéfica (stO2 < 90 -092%) → Corticoide (oral, venoso ou inalatório) NÃO indicado! → Antibiótico – em casos de infecção bacterina secundária (pneumonia, otite média aguda). → Broncodilatador – não indicado. Pacientes com história pessoal e familiar de atopia devem ser avaliados individualmente. → Salina hipertônica – função de reidratar a via aérea, restabelecer as propriedades do muco, melhorar o clearance mucociliar, reduzir edema submucoso. Sem indicação de rotina. Pode induzir broncoespasmo. → Cânulo de alto fluxo – terapia intensiva. (OBS: BVA = Bronquiolite Viral Aguda) Não existe um remédio antiviral para eliminar o vírus que está provocando a bronquiolite, mas normalmente o vírus é eliminado pelo organismo naturalmente após 2 ou 3 semanas. Durante esse tempo é importante cuidar do bebê da mesma forma que se trata um resfriado, deixando-o repousar, evitando alterações de temperatura, fazendo nebulizações com soro e mantendo-o bem hidratado com leite e água. Além disso, em casos de febre, por exemplo, deve-se consultar o pediatra para usar remédios como o Paracetamol ou o Ibuprofeno, para aliviar os sintomas. Em casos mais leves, em que não há desconforto respiratório (tosse com chiado ou falta de ar), é possível cuidar da criança em casa, controlando a febre e mantendo-a sempre hidratada e alimentada. 15 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. A internação somente se faz necessária quando a criança precisa de cuidados mais específicos no hospital. “A principal indicação é a baixa oxigenação no sangue, o que a leva a precisar de tratamento com oxigênio. PROFILAXIA → Lavagem das mãos → Uso de álcool 70%, mascaras e luvas → Palivizumabe (anticorpo monoclonal) - específico contra o vírus sincicial respiratório (VSR), e quando administrado em lactentes de risco, evita hospitalizações e formas graves da doença. Este anticorpo apresenta atividade neutralizante e inibitória de fusão contra o VSR. 16 Habilidades Médicas V – Pneumonia e Bronquiolite. | Larissa Gomes de Oliveira. REFERÊNCIAS MARCH, Maria de Fátima Bazhuni Pombo., et al. Pneumonia adquirida na comunidade em crianças e vacinação antipneumocócica 10 valente: atualização. Rev Ped SOPERJ. 2018;18(3):13-24 KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran. Patologia – Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010; VILAR, Fernando Crivelenti. Pneumonias. Programa de Educação Médica Continuada. Módulo IV. CREMESP. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/pdfs/eventos/eve_04102016_145915_Pneumonias%20- %20Dr.%20Fernando%20Crivelenti%20Vilar.pdf>
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