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FERIMENTOS 1. Conceito Lesões das partes moles ocasionadas por traumas, originados de energias de vários tipos, como a mecânica, física ou química, o que resulta num dano tecidual com ou sem perda de solução de continuidade. Essa perda gera prejuízos à integridade da pele e aos tecidos. A dissipação da energia está diretamente relacionada à força e inversamente à área, ou seja, se houver aplicação de uma força muito grande em uma área muito pequena, haja grande dissipação de 2. Classificação • Morfologia e mecanismo ✓ Incisos ou cortantes (dissipação de energia em uma pequena área, provocando divulsão das células no local que foi atingido). Provocado por agentes cortantes (faca, bisturi), com bordas nítidas, geralmente regulares, possui no meio da ferida uma maior profundidade. ✓ Contusos (dissipação de energia em uma grande área, promovendo não apenas dor na área que foi atingida, mas nas regiões próximas também – fechar a porta do carro com dedo entre a porta e o automóvel) ✓ Corto-contundentes (grande dissipação de energia em uma área que promoveu divulsão celular da área e dor em outras – criança que bate o queixo, corta sente dor em toda a região inferior da face, energia de explosões). ✓ Perfurantes (ocasionados por uma energia baixa em áreas pequenas por objetos como a ponta da faca, projétil de arma de fogo, espeto de churrasco, agulha) ✓ Perfurocortantes (mesma ideia dos perfurantes, mas o objeto seria toda a faca). ✓ Perfurocontuso (arma de fogo – orifício de entrada é perfurante e pode haver dissipação para mais áreas). ✓ Lacerações (energia grande que é capaz de romper e remover tecidos) ✓ Lacero-contundentes (energia tão grande que promove o “arranca pedaço”, há perda tecidual e promove dor na região proximal – machadada na mão, acidentes em empresas como metalúrgicas, siderúrgicas, pode ser por compressão ou tração, apresenta bordas irregulares). Ferimentos e cicatrização Bases Técnicas de Cirurgia e Anestesiologia – aula 3 Nicole Sarmento Queiroga Figura 4. Lesão perfurante em pé direito por meio de prego. Figura 2. Lesões cortantes com caudas de escoriações em abdome e tórax por meio de faca. Figura 3. Lesão corto-contusa em queixo. Figura 5. Lesão perfurocortante em flanco direito. Figura 6. Lesão perfuro-contusa por projétil de arma de fogo, provocando equimoses regionais. Figura 7. Lesão por laceração. Figura 1. Lesão cortante. ✓ Escoriações (ferimentos superficiais em que, muitas vezes, rompe apenas a camada epidérmica, não atingindo a derme) ✓ Equimoses (promove rompimento de vaso nos tecidos, dissipando-se, formando manchas arroxeadas, sem romper o tecido epidérmico – não muda a coloração ao ser pressionado e tem caráter plano, o eritema ao ser pressionado tem alteração de cor) ✓ Hematomas (equimose não plana) ✓ Bossas sanguíneas (bolsa de sangue) CICATRIZAÇÃO 1. Conceito Sequência de reações celulares e bioquímicas que se iniciam após a agressão tecidual, sendo um processo mister para a sobrevivência dos seres vivos. A cicatrização funciona para o reparo de feridas, o que é diferente da regeneração tecidual. O reparo ocorre pela substituição do tecido lesado por outro que não seja o de origem, sendo tecido cicatricial. A regeneração ocorre em alguns locais do corpo humano e faz a substituição pelo mesmo tecido por meio de células pluripotentes que se diferenciam, ocorre apenas nos planos superficiais como a epiderme, por meio da proliferação e migração de queratinócitos da membrana basal, como queimaduras de primeiro grau e regeneração hepática. 2. Classificação • Primário ou por primeira intenção Há intervenção por meio de suturas e pontos. • Secundário ou por segunda intenção Espera a cicatrização espontânea. • Terciário, tardio ou por terceira intenção Necessidade de espera de cicatrização inicial – formação do tecido de granulação – e retirada para realização do fechamento com pontos. • Fases da cicatrização ✓ Inflamatória Vai até o 2º dia, podendo durar 7. É a fase em que há lesão tecidual (celular e endotelial) pelo agente agressor. Após a lesão, ocorre a vasoconstrição para reduzir o fluxo sanguíneo na área lesada e evitar a perda de sangue e degranulação plaquetária para formação de trombos, além da liberação de citocinas como PDGF, TGF-β, IGF-1, aumento da permeabilidade dos capilares e ativação de vias de coagulação. Na região afetada há a quimiotaxia, em que os leucócitos são as primeiras células atuarem por meio da produção de enzimas citotóxicas e proteolíticas e pela atração dos macrófagos para o local de cicatrização. Ao chegar, o macrófago dá início a sua Figura 8. Escoriação em região periorbital, com hematoma periorbitário e ferimento corto-contuso em supercílio esquerdo. Hematoma e equimose com algumas escoriações em região infraorbital direita. Figura 9. Equimose. Figura 10. Hematoma. Desbridamento não é uma forma de cicatrização, é um método de limpeza e após ser realizado deve-se decidir qual método é o mais adequado para cicatrização. Figura 12. Cicatrização por segunda intenção após queimadura de face. Figura 11. Cicatrização por primeira intenção Figura 13. Aplicação de enxerto para cicatrização terciária. atividade de atração de agentes de defesa, pela liberação de citocinas e de fatores de crescimento, o que atrasa a cicatrização porque os LB e LT impedem a produção de fibrina pelos fibroblastos e a formação o arcabouço cicatricial. Após a infecção das feridas ou na ausência delas, o macrófago direciona seu metabolismo ao fibroblasto, induzindo o anabolismo das enzimas proteolíticas e estimulando a produção de fibrina. Os neutrófilos são as primeiras células recrutadas (primeiras 24 horas), realizam a fagocitose de corpos estranhos e limpeza de restos celulares, além da liberação de proteases (elastase e colagenase), radicais livres e substâncias citotóxicas, sendo fundamental para ferimentos infectados. Os macrófagos fazem a manutenção da fagocitose e limpeza mais eficaz, realizam a mediação com a próxima fase, liberam IL-1, TGF-β, FGF, (fator de crescimento de fibroblastos – estimula migração de queratinócitos, produção matricial e angiogênese de células endoteliais), também liberam outras citocinas, radicais livres de oxigênio e proteinases para degradar a MEC, como as metaloproteinases, para fazer a renovação. Os linfócitos surgem por volta do 5º dia de lesão, produzindo citocinas estimuladoras como IL-2 e inibitórias, como TGF-β, TGF-α e TGF-γ. Quando o número de bactérias cai, sua presença também é reduzida. Nas primeiras 24h ocorre o extravasamento de células inflamatórias, formação da matriz de fibrina. 2 a 3 dias após o trauma já não tem infecção, maior presença de macrófagos e organização de fibrina e colágeno. ✓ Fase proliferativa Ocorre a angiogênese para nutrir e suprir as necessidades dos tecidos que estão em crescimento, também sendo responsável pelo aumento do aporte de macrófagos e fibroblastos para a ferida. A angiogênse é estimulada por pH ácido, elevados níveis de lactato e redução da tensão de oxigênio. A fibroplasia é responsável pela produção de MEC e da cicatriz, além da diferenciação em miofibroblastlos. Necessidade de hidroxilação da prolina em hidroxiprolina, pela presença de ácido ascórbico, gás oxigênios e ferro. A produção de colágeno é principalmente I e III (predomínio inicial, substituição após), proteínas presentes e predominantes 4-5 dias após a lesão. Formação do tecido de granulação, composto por elementos celulares, como fibroblastos e células inflamatórias), vasos neoformado envoltos por MEC de fibrina, colágeno e ácido hialurônico. A epitelização inicia-se após 8h dalesão, sendo completada entre 24 e 36 horas. Fatores de crescimento epidérmico estimulam a proliferação de queratinócitos, que avançam em direção a ferida para reestabelecer a integridade da pele. A selagem do meio externo e feita em 24h ✓ Maturação Equilíbrio entre a síntese (fibroblasto) e a degradação (macrófago) do colágeno sintetizado, há contração da ferida por movimentos centrípeto e circundante, sendo uma limitação funcional pela contração excessiva para have retração da cicatriz, transformação de fibroblastos em miofibroblasto e expressão da actina e miosina. A resistência aumenta até 8 semanas e depois entra em platô até um ano após a lesão. • Fatores que atrapalham a cicatrização ✓ Deficiências nutricionais (albumina <2,5mg/dL) ✓ Idade avançada ✓ Avitaminose ✓ Hipóxia ✓ Infecções subclínicas de ferida operatória ✓ Esteroides ✓ Diabetes (neuropatia, insuficiência arterial – 30-60% dos casos -, redução dos fatores de crescimento) ✓ Irradiações (lesão fibroblástica, endotelial e de queratinócitos) ✓ Edema (hipoxia tecidual, edema crônico por deposição de proteínas-barreira para nutrientes e fatores de crescimento celular, diluição dos elementos. • Fatores que podem acelerar a cicatrização ✓ Vitamina A promove cicatrização normal em pacientes que usam esteroides ✓ Suporte nutricional aos que estão desnutridos promove a normalização Figura 14. Relação entre tempo e resistência da cicatriz.
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