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REVISÃO ANATÔMICA O ar que entra pela inspiração passa pelas narinas, local de umidificação de filtração do ar, passando pela faringe (nasofaringe, orofaringe e hipofaringe) e laringe e, em seguida, para a traqueia, mediada pela membrana cricofaríngea, para então atingir os brônquios e pulmões e ocorrer a troca gasosa. A via aérea é dividida em superior e inferior. A porção superior compreende desde o nariz até a laringe. A porção inferior engloba a traqueia, brônquios e bronquíolos, e alvéolos. A laringe funciona como órgão selador, ou seja, garante a segurança do trato respiratório, já que impede a passagem de alimentos ou outros elementos, tal ação decorre do funcionamento da epiglote e da justaposição das cordas vocais. A traqueia é formada por anéis cartilaginosos e tem, ao nível da 5ª vértebra torácica, a carina, que divide em brônquios esquerdo e direito. O brônquio direito é mais verticalizado, o que favorece a intubação. Nas crianças, devido ao seu desenvolvimento, são percebidas algumas variações anatômicas. A epiglote infantil localiza-se um plano mais superior que a do adulto, além de ser mais estreitada porque a comissura posterior das aritenoides é edemaciada. A criança também possui uma língua volumosa, o que dificulta o acesso e uma cabeça volumosa, tendo que adaptar algumas situações quando em decúbito. Ainda, a traqueia infantil é revestida por um epitélio mais frouxo e, por isso, espessa, tendo como resultado um menor diâmetro traqueal – perdura até os 3 anos de idade (sendo mais fácil ainda de obstrução em processos inflamatórios), e também é mais afunilada. MANEJO DA VIA AÉREA 1. Análise da via aérea A via aérea do paciente é analisada numa anamnese ou exame físico, o que for possível de forma mais rápida, para realizar intermediação. A abordagem na via aérea tem a preocupação fundamental que é ofertar o gás oxigênio em percentual suficiente para os pacientes, sendo o mais adequado oferecer 100%. Em muitos casos a via aérea está obstruída, o que não permite o estabelecimento de maneira fácil, sendo necessárias algumas medidas de desobstrução. É denominada via aérea pérvia a que não tem impedimento de passagem do ar. Em situações como fraturas de face, presença de sangue, material regurgitado fica difícil tornar a VA pérvia. • Avaliação de Mallampati Realização com paciente acordado. A avaliação foi dividida em quatro classes por Samsoon e Young. Mallampati 1 Tonsila, úvula e palato mole Mallampati 2 Palato duro, mole e superior das tonsilas e úvula Mallampati 3 Palato mole e duro e base da úvula Mallampati 4 Somente palato duro • Critérios de Benumof Associação de itens que aumentam a sensibilidade de previsão de intubação difícil, pretendendo avaliar diversos critérios. Manejo da via aérea difícil Bases Técnicas de Cirurgia e Anestesiologia – aula 5 Nicole Sarmento Queiroga Figura 1. Avaliação de Mallampati. ✓ Tamanho dos incisivos – dificulta posicionamento da lâmina do laringoscópio ✓ Retrognatismo – dificulta posicionamento da lâmina do laringoscópio ✓ Subluxação mandibular – protrusão da mandíbula ✓ Distância interincisivos – maior que 4cm é bom para instrumentação ✓ Mallampati – III ou IV ✓ Conformação do palato – ogival ou estreito (comum em pacientes que chuparam chupeta – respiração bucal) é inadequado para instrumentação ✓ Distancia mento-tireóide – maior que 6cm facilita a visualização da glote ✓ Complacência do espaço mandibular – suficiente para luxação da língua ✓ Comprimento do pescoço – se for curto dificulta o alinhamento dos eixos da laringe, faringe e boca ✓ Largura do pescoço – largo dificulta o alinhamento dos eixos da laringe, faringe e boca ✓ Mobilidade da cabeça e pescoço (impossibilidade de hiperextensão) • Índice de Cormack Lehane Realizado por meio de laringoscopia Grau I Cordas vocais Grau II Porção inferior da glote Grau III Epiglote Grau IV Ponta da epiglote No grau II o fio bougie é indicado. No grau III pode ser utilizado uma lâmina de McGoy para levantar a epiglote e usar um guia flexível. No grau IV o broncofibroscópio é excelente para utilização, em caso de uso do fio pode haver piora, causando edema e sangramento por não ter visualização da glote. • Índice de Wilson Leva em consideração o peso (menor que 90kg ou maior que 110kg), movimento da cabeça e pescoço, movimento da mandíbula, dentes protusos ou não. • Classificação de Lewis Visualização de estruturas orofaríngeas por meio de fonação. Acredita que a distância entre tireoide e mento seja medida entre a cartilagem e a parte interna do mento. 2. Máscara facial É uma alternativa para pacientes que ainda não possuem a VA definitiva. A adaptação do paciente à máscara depende da face do paciente e do posicionamento adequado. Em pacientes com faces emagrecidas, com barba (impede a vedação), macroglossia, obesidade (IMC acima de 30), Mallampati III ou IV, idade superior a 56 anos (perda dentaria e restrição na hiperextensão), histórico de ronco (associado a inúmeras comorbidades como hipertensão e diabetes) já caracterizam uma dificuldade de uso da máscara e da pré-oxigenação. A técnica é feita com o polegar e o indicador comprimindo a máscara contra a face e com os dedos anelar e mindinho realizando apoio e tração mandibular para elevar o mento e realizar hiperextensão da cabeça. São preditores de ventilação sob máscara impossível, ou seja, não aguento a máscara como fornecedor de oxigênio por muito tempo: radioterapia em pescoço (alterações submentonianas), apneia obstrutiva do sono, Mallampati III ou IV. É uma opção quando não ocorre intubação em pacientes que não estão entre os casos descritos anterioirmente. Para facilitar a ventilação colocam-se cânulas orofaríngeas ou de Guedel (tamanho adequado é a medida da distância entre o lobo da orelha e a rima da boca. Figura 2. Mandíbula normal e prognatismo Figura 3. Palato duro ogival. Figura 4. Índice de Comarck Lehane Figura 5. Paciente com máscara facial. Figura 6. Tamanhos da cânula de Guedel. Figura 7. Medição da cânula de Guedel. 3. Intubação orotraqueal As indicações para essa medida de VA são resumidas a dois cenários: insuficiência respiratória (gasometria alterada) ou necessidade de proteger a VA (alteração do nível de consciência). É realizada com posicionamento do paciente a depender do tipo de lâmina. • Alinhamento dos 3 eixos na laringoscopia direta ✓ Eixo orofaríngeo – tirar a língua da frente com laringoscópio ✓ Eixo oro-laríngeo – levantar a epiglote ✓ Eixo laríngeo-traqueal – visualizar a glote Para esse alinhamento basta realizar extensão da articulação antlanto-occipital, colocar coxins sub-occipitais para visualizar a VA, de modo que o lobo da orelha fique na altura do esterno – denominada posição olfativa. No paciente obeso, deve-se fazer uma posição com base em trapézio para melhorar a capacidade residual funcional, aguentando mais tempo com oxigênio baixo. • Processo de intubação Incialmente, deve-se analisar se a via aérea possui algum corpo estranho ou líquidos que obstruam, sendo necessário realizar a remoção, seja manual em sólidos, seja pela aspiração em líquidos. Também podem ser feitas manobras de desobstrução como Jaw Trust e Chin Lift. A pré-oxigenação é uma medida que deve preceder a IOT por no mínimo 3 minutos, a fim de realizar a troca do nitrogênio pulmonar por oxigênio, aumento as reservas e reduzindo risco de hipóxia se a intubação demorar, proporcionando tempo de apneia de até 8 minutos. Com a mão esquerda segura-se o cabo do laringoscópio e introduz alâmina curva (concavidade voltada para baixo) pelo canto direito da boca auxiliada pela extensão da cabeça feita pela mão direita. A lâmina rebate a língua para esquerda e procura posicionar sua ponta na valécula, nesse momento o braço projeta o laringoscópio em um movimento para cima e no sentido dos pés do paciente, para visualizar a fenda glótica. Com essa visualização é colocado um tubo de tamanho adequado até abaixo das cordas vocais, quando se retira a lâmina e insufla o balão. Com a lâmina reta, o objetivo é posicionar a extremidade distal na face laríngea da epiglote, elevando-a e expondo a rima. Na criança utiliza-se a lâmina reta. ✓ Lâmina de Macintosh – curva, usada em adultos (tamanho 4 ou 3 – mais magro) ✓ Lâmina de Miller – reta, utilizada em crianças, passando por baixo da epiglote para visualizar cordas vocais ✓ Lâmina de McCoy – dobrável, alavanca na ponta para que epiglote suba e facilite a visão Intubação eficiente 1. Avaliar VA 2. Aspiração de secreções 3. Pré-oxigenação 4. Posição olfatórias 5. Experiencia com laringoscópio Figura 9. Colocação de coxins em paciente obeso. Figura 8. Esquematização do alinhamento dos eixos. Figura 9. Alinhamento com coxins. Figura 10. Intubação orotraqueal. Na avaliação pré-anestésica pode-se realizar a medicação do nível de hiperextensão do pescoço com transferidor, caso seja maior de 35º já estão alinhados os eixos orofaríngeo e oro- laríngeo. Pacientes com queimaduras possuem reduzida capacidade de extensão e de abertura da via aérea, assim como pacientes com bócio de tireoide. • Classificação de VA difícil Duas tentativas de laringoscopia sem êxito de colocação do tubo e visualização da glote. A terceira tentativa deve ser feita por um profissional com mais experiência para garantir que ela ocorra. 4. Intubação nasotraqueal Alternativa mais restrita, indicação por dificuldade de uso da via oral (anquilose da ATM) ou pela proposta cirúrgica (adeno-amigdalectomia). Contraindicada em presença de fraturas de ossos da base do crânio, distúrbios de coagulação e tumores nas fossas nasais. Uso de vasoconstritores nasais – substâncias adrenérgicas), lubrificação com lidocaína e introdução do tubo de forma perpendicular a face, evitando os cornetos. 5. Cricotireoidostomia Se o paciente não está com a saturação acima de 95% com a suplementação, caso não seja aceita e o paciente não consiga ser intubado – VA difícil e sem ventilação, realiza-se a circotiroidostomia como invasivo. Palpação da membrana e introdução no sentido caudal, estando colocado corretamente se o ar for aspirado. Muitas vezes utiliza anestésico local e aspira para fazer bolha, depois injeta anestésico para evitar broncoespasmo na presença da cânula. 6. Máscara laríngea Se o paciente não está com a saturação acima de 95% com a suplementação, caso não seja aceita e o paciente não consiga ser intubado – VA difícil e sem ventilação. Método não invasivo que é formado por uma câmara pneumática para ser alocado no EES e ter adaptação em torno da glote, um tubo para condução do ar até a traqueia e um balão-piloto. Método supra-glótico. 7. Técnicas anestésicas para intubação traqueal • Anestesia geral com indução clássica Retirada da consciência, bloqueio neuromuscular e analgesia, procedimento eletivos em pacientes em jejum. Ventilação do paciente pode ser mantida com máscara, já que apresenta pouco risco de aspiração devido ao jejum. • Anestesia geral com indução rápida Retirada da consciência bloqueio neuromuscular e analgesia, procedimento de urgência ou emergência em pacientes com estomago cheio, colaborativos ou não. Há preocupação com o tempo e a perda de consciência por medo de broncoaspiração, realização da intubação. • Intubação com paciente acordado e em jejum Risco reduzido de regurgitação do conteúdo gástrico, indicação recai se houver dificuldade na intubação. Anestesia tópica de base de língua, pilares, valécula e epiglote com lidocaína, bloqueio do N. laríngeo superior. Administração de agentes anticolinérgicos para reduzir as secreções orofaríngeas. • Intubação com paciente acordado e “estômago cheio” Cuidados estão entre anestesia atópica da orofaringe, valécula e epiglote. Dependendo da quantidade de tempo nas situações de urgência, pode-se inserir uma sonda nasogástrica, administrar BH2 ou IBPs, para reduzir o conteúdo gástrico. No caso de pacientes pediátricos, devido às suas peculiaridades anatômicas, deve-se usar coxins sub-occipitais para equiparar a altura da cabeça com o corpo. Em crianças de idade escolar deve haver inspeção de dentes ausentes ou amolecidos – risco de broncoaspiração. Devido à reduzida capacidade residual funcional, não suportam grande apneia. Há predomínio do tônus vagal, pela imaturidade do SNS abaixo dos seis meses, durante manobras laringoscópicas e Figura 11. Lâminas de Machintosh, Miller e McCoy, da esquerda para direita. Figura 12. Procedimento de critiroidostomia. Figura 13. Colocação de máscara laríngea. Figura 14. Máscara laríngea intubação sem anestesias, provocando bradiarritmia. O cálculo para estimar o tamanho do tubo para crianças acima de 2 anos é feito pela idade somada a 16 e dividida por 4. A cânula orofaríngea é o principal dispositivo usado, já que ele impede a queda da língua. Em pacientes gestantes há maior chance de complicação relacionada a VA, apresentando mais dificuldade de intubação, maior tendência a regurgitação e broncoaspiração. A principal anteração pulmonar é a redução da capacidade residual funcional, aumentando tendência de atelectasia. Devido às alterações hormonais, progesterona e gastrina, ocorre redução de trânsito do TGI, reduzindo ainda mais o tempo de esvaziamento e aumento da pressão intra-abdominal. 8. Complicações da extubação • Laringoespasmo • Crupe • Estridot Algumas formas de reverter as complicações são: fornecimento de oxigênio com pressão positiva, adrenalina em aerossol, succinilcolina (baixa dose do bloqueador neuromuscular de ação rápida para relaxar as cordas vocais e abrir passagem do ar), digito pressão retroauricular (para crianças). ESTRATÉRGIAS PARA MANEJO DA VA DIFÍCIL 1. Intubação com paciente acordado Tentativa de intubação não invasiva e em caso de não conseguir, cancela o caso e pensa em outras opções. Se for situação de urgência, faz por acesso invasivo. 2. Tentativa de intubação após indução anestésica Em caso de tentar e não funcionar incialmente, troca o profissional, caso ainda não consiga na primeira tentativa, retorna para ventilação mecânica e acorda o paciente. 3. Tentativa de intubação após indução anestésica sem sucesso Acorda o paciente e realiza a ventilação com máscara facial de forma adequada, com VA fora de emergência, tentativa de intubação sem sucesso, se for cirurgia eletiva faz a remarcação, se for emergência, faz o acesso com máscara laríngea. Acorda o paciente e realiza a ventilação com máscara facial de forma inadequada, sendo seguida pela colocação de máscara laríngea com sucesso. Acorda o paciente e realiza a ventilação com máscara facial de forma inadequada, sendo seguida pela colocação de máscara laríngea sem sucesso, VA com emergência e ventilação impossível, acesso invasivo – crico. Pacientes de “estômago cheio” 1. Sem jejum completo 2. Com trauma 3. Gestantes 4. Enfermidade abdominal aguda 5. Obesos 6. Diabéticos com disfunção neurológica
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