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MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO | Luíza Moura e Vitória Neves FÁRMACOS ANTIRREUMÁTICOS MODIFICADORES DA DOENÇA O termo “ARMD” é um conceito elástico que abrange um grupo heterogêneo de agentes com estruturas químicas não relacionadas e diferentes mecanismos de ação. Estão incluídos nessa categoria: Metotrexato; Sulfassalazina; Compostos de ouro; Penicilamina; Cloroquina e outros antimaláricos; assim como Imunossupressores. Os ARMDs em geral: Melhoram os sintomas; Reduz a atividade da doença na AR, induzindo sua remissão; e Previne a destruição adicional das articulações e dos tecidos envolvidos. Conforme deduzido pela: Redução do número de articulações com edema e dor; Pontuação de dor; Pontuação de incapacidade; Imagem radiográfica; e Concentração sanguínea de proteínas de fase aguda e de fator reumatoide (anticorpo do tipo imunoglobulina IgM contra a IgG do hospedeiro). Os ARMDs costumam ser denominados FÁRMACOS DE SEGUNDA LINHA, porque só recorre a eles somente quando outras terapias (AINEs) falharam; Contudo, a terapia com ARMD pode ser iniciada assim que chegar a um diagnóstico definido, normalmente dentro de 3 meses. Seus efeitos clínicos, em geral: Têm início lento (meses); Sendo habitual fornecer “cobertura” com AINE durante a fase de indução. Se a terapia tiver sucesso (e a taxa de sucesso é variável), a terapia concomitante com AINE (ou glicocorticoide) pode ser reduzida. Alguns ARMDs (metotrexato) têm valor no tratamento de outras doenças inflamatórias crônicas; Em contraposição, não acredita que outros (penicilamina) tenham ação anti- inflamatória geral. ESCOLHA DO FÁRMACO Nenhum ARMD é eficaz e seguro para todos os pacientes. Pode ser necessário testar vários fármacos diferentes. A monoterapia pode ser iniciada com qualquer um dos ARMDs em pacientes com baixa atividade da doença. Para pacientes com atividade de moderada a alta ou resposta inadequada à monoterapia, pode ser necessário o tratamento com: ARMD combinado (usualmente, baseado em metotrexato); ou Uso de fármacos antiFNT (adalimumabe, certolizumabe, etanercepte, golimumabe). Para pacientes com doença mais estabelecida, o uso de outros tratamentos biológicos (abatacepte e rituximabe) deve ser considerado. A!! A maioria desses fármacos é contraindicado para gestantes. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO | Luíza Moura e Vitória Neves SINTÉTICOS METOTREXATO O metotrexato é um antagonista do ácido fólico que tem atividade anti-inflamatória, citotóxica e imunossupressora. Inibe produção de citocinas; e Inibe biossíntese de nucleotídeos purina. A!! O seu mecanismo de ação não está relacionado com efeito no ácido fólico (que é rotineiramente coadministrado para prevenir discrasia hemorrágica), mas pode estar conectado com a sua capacidade para bloquear a captura de adenosina. Ele possui ação antirreumática útil e confiável e é comumente um FÁRMACO DE PRIMEIRA ESCOLHA. Apresenta início de ação mais rápido que outros ARMDs, normalmente dentro de 3 a 6 semanas do início do tratamento; Administradas 1x /semana, minimizando os efeitos adversos. Mas precisa ser monitorado com atenção, em razão de discrasias sanguíneas (algumas fatais). Os efeitos adversos mais comuns após o tratamento são: Ulceração das mucosas e náusea. A!! Tomar ácido folínico 1x ao dia, após o metotrexato, diminui a gravidade dos efeitos adversos. Na administração crônica, podem ocorrer: Citopenias (particularmente, leucopenia); Cirrose hepática; e Pneumonia aguda. No entanto, superior a muitos outros ARMDs em termos de eficácia e tolerância do paciente, sendo frequentemente dado em conjunto com fármacos anticitocinas. HIDROXICLOROQUINA A hidroxicloroquina é usada na AR precoce e leve, em geral associada ao metotrexato. Esse fármaco também é utilizado no tratamento do lúpus e da malária. Seu mecanismo de ação em distúrbios autoimunes é desconhecido. O início dos efeitos demora de 6 semanas a 6 meses. A hidroxicloroquina tem menos efeito no fígado e sistema imune do que outros ARMDs, mas pode causar: Toxicidade ocular: lesão irreversível na retina e depósitos corneais. Pode causar distúrbios do SNC e do TGI; Alteração na coloração da pele; e Erupções. SULFASSALAZINA A sulfassalazina, outro ARMD comum de primeira escolha no Reino Unido, produz remissão na AR ativa e é usada para doença inflamatória INTESTINAL crônica. Ela é usada na AR inicial e leve associada a metotrexato e hidroxicloroquina. Seu mecanismo de ação não está estabelecido. O início da atividade demora de 1 a 3 meses. Ela pode atuar também removendo metabólitos tóxicos do oxigênio produzidos por neutrófilos. Ele é um complexo de sulfonamida (sulfapiridina) e salicilato, separado em suas partes componentes por bactérias no cólon, sendo o ácido 5- aminossalicílico o suposto radical que faz a remoção dos metabólitos tóxicos. O fármaco é geralmente bem tolerado, mas os efeitos adversos comuns incluem: Distúrbios gastrointestinais; Mal-estar e cefaleia. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO | Luíza Moura e Vitória Neves A!! Reações cutâneas e leucopenia podem ocorrer, mas são reversíveis com a suspensão do fármaco. A absorção de ácido fólico algumas vezes é comprometida; Isto pode ser contraposto fornecendo suplementos de ácido fólico. Também foi relatada uma diminuição reversível da contagem de espermatozoides. A exemplo de outras sulfonamidas, podem ocorrer depressão da medula óssea e reações de tipo anafilático em alguns pacientes. A!! Pode ser necessária a monitoração hematológica. PENICILAMINA A penicilamina é a dimetilcisteína; é uma das substâncias produzidas por hidrólise da penicilina e aparece na urina depois do tratamento com esse fármaco. O isômero D é usado na terapia da doença reumática. A!! Cerca de 75% dos pacientes com AR respondem à penicilamina. Os efeitos terapêuticos acontecem em: Semanas, mas não alcançam um platô por vários meses. Admite-se que a penicilamina modifique a doença reumática em parte por: Diminuir a resposta imunológica e a geração de IL-1; e/ou, em parte Impedindo a maturação do colágeno recém-sintetizado. A!! Porém, o mecanismo de ação exato ainda é motivo de discussão. A penicilamina é administrada por via oral, e somente metade da dose é absorvida. Alcança concentrações plasmáticas máximas em 1-2 horas e é eliminada na urina. A dose inicial é baixa e é aumentada aos poucos, visando: Minimizar os efeitos indesejáveis que ocorrem em cerca de 40% dos pacientes e determinar a suspensão do tratamento. Os efeitos adversos mais comuns são: Rashes e estomatites. Mas podem desaparecer se a dosagem for reduzida. Observam-se: Anorexia; Febre; Náuseas e vômitos; e Distúrbios da gustação (os últimos relacionados à quelação de zinco). Mas costumam desaparecer com a continuação do tratamento. Ocorre proteinúria em 20% dos pacientes e deve ser monitorada. A monitoração hematológica também é necessária no início do tratamento. Em caso de trombocitopenia, pode ser necessário reduzir a dose. Leucopenia ou anemia falciforme são contraindicações absolutas, assim como as condições autoimunes (p. ex., tireoidite, miastenia grave). Como a penicilamina é um quelante de metais, não deverá ser empregada concomitantemente com compostos de ouro. COMPOSTOS DE OURO O ouro é administrado sob a forma de um complexo orgânico, o aurotiomalato de sódio. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO | Luíza Moura e Vitória Neves O efeito anti-inflamatório se desenvolve lentamente por 3-4 meses. Dor, edemaarticular e progressão das lesões ósseas e articulares diminuem. O mecanismo de ação não está esclarecido. Mas sabe-se que os complexos de ouro gradualmente se acumulam nas células sinoviais nas articulações, mas também em outros tecidos, como: Células hepáticas; Túbulos renais; Córtex da suprarrenal; e em Macrófagos, permanecendo por algum tempo depois da suspensão do tratamento. A meia-vida inicial é de 7 dias, mas aumenta no decorrer do tratamento, de modo que o fármaco é geralmente administrado num primeiro momento em intervalos semanais e a seguir mensais. Os efeitos indesejáveis são observados em cerca de 1/3 dos pacientes tratados, havendo efeitos tóxicos sérios em cerca de 1 paciente a cada 10. Os efeitos indesejáveis importantes incluem: Rashes cutâneos (que podem ser graves); Úlceras bucais; Sintomas de resfriado inespecífico; Proteinúria; Trombocitopenia; e Discrasias sanguíneas. Podem ocorrer reações anafiláticas. Se a terapia for suspensa quando aparecem os primeiros sintomas, a incidência de efeitos tóxicos graves é relativamente baixa. Legenda: Comparação de alguns ARMD comuns e imunossupressores usados no tratamento de AR BIOLÓGICOS A IL-1 e o TNF-α são citocinas pró- inflamatórias envolvidas na patogênese da AR. Quando secretadas pelos macrófagos sinoviais, estimulam as células sinoviais a proliferar e sintetizar colagenase; Assim: Degradam a cartilagem; Estimulam a reabsorção óssea; e Inibem a síntese de proteoglicanos. Os inibidores do TNF-α (adalimumabe, certolizumabe, etanercepte, golimumabe e infliximabe) diminuem os sinais e sintomas da AR, diminuem a progressão da lesão estrutural e melhoram a função física. A resposta clínica pode ser observada após 2 semanas de tratamento. A decisão de continuar ou interromper um fármaco biológico pode ser tomada até 3 meses após o início do tratamento. Se um paciente não responde a um inibidor do TNF-α, é apropriado testar outro inibidor ou um tratamento biológico não TNF (abatacepte, rituximabe, tocilizumabe ou tofacitinibe). Os inibidores do TNF-α podem ser administrados com quaisquer outros fármacos contra a AR, exceto no tratamento biológico não TNF, devido ao aumento do risco de infecção. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO | Luíza Moura e Vitória Neves ADALIMUMABE O adalimumabe é um anticorpo monoclonal recombinante que se liga ao TNF-α, interferindo, dessa forma, na atividade do TNF-α endógeno e bloqueando sua interação com os receptores da superfície celular. Esse fármaco é indicado para o tratamento da AR de moderada a grave, seja como: Monoterápico; ou Associado ao metotrexato. Ele é administrado por via SC, semanalmente ou em semanas alternadas. Pode causar: Cefaleia; Náuseas; Eritema, reação no local da injeção. CERTOLIZUMABE PEGOL O certolizumabe é um bloqueador singular do TNF-α que tem um fragmento de um anticorpo humanizado (Fab). É também um neutralizador potente das ações biológicas do TNF-α. Ele é associado ao polietilenoglicol (pegilado) e administrado a cada 2 semanas via injeção SC. Tem indicações similares às do adalimumabe. Os efeitos adversos são similares aos dos demais inibidores do TNF. ETANERCEPTE O etanercepte é uma proteína de fusão do receptor totalmente humano, que se liga ao TNF-α, bloqueando sua interação com receptores de TNF-α na superfície celular. Esse fármaco é usado em pacientes com AR de moderada a grave, isolado ou associado ao metotrexato. A associação do etanercepte ao metotrexato é mais eficaz para: Retardar a progressão da doença; Melhorar a função; e Alcançar a remissão do que qualquer um dos dois isoladamente. É administrado por via SC 2x por semana e, em geral, é bem tolerado. GOLIMUMABE O golimumabe neutraliza a atividade biológica do TNF-α, ligando-se e bloqueando sua interação com os receptores da superfície celular. É administrado por via SC, 1x ao mês, em associação ao metotrexato ou a outro ARMD não biológico. INFLIXIMABE O infliximabe é um anticorpo monoclonal quimérico. O anticorpo se liga especificamente ao TNF-α e inibe a ligação com seus receptores. Está aprovado para uso associado ao metotrexato em pacientes com AR cuja resposta à monoterapia com metotrexato é inadequada. Não é indicado em monoterapia, pois isso leva ao desenvolvimento de anticorpos anti-infliximabe e diminue a eficácia. É administrado em infusão IV a cada 8 semanas. ABATACEPTE Os linfócitos T necessitam de 2 interações para serem ativados: 1. as ACP (macrófagos ou células B) precisam interagir com o receptor na célula T; e 2. a proteína CD80/CD86 na APC deve interagir com a proteína CD28 na célula T. MÓDULO FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO | Luíza Moura e Vitória Neves O abatacepte é uma proteína de fusão recombinante que compete com a CD28 pela ligação na proteína CD80/CD86, prevenindo, assim, a ativação completa da célula T. É indicado para pacientes com AR de moderada a grave que apresentam resposta inadequada aos ARMDs ou inibidores do TNF-α. É administrado como infusão IV a cada 4 semanas. RITUXIMABE Os linfócitos B são derivados da medula óssea e necessários para a eficácia da resposta imune. Contudo, na AR, as células B podem perpetuar o processo inflamatório na sinóvia por: Ativar os linfócitos T; Produzir autoanticorpos e fator reumatoide; Produzir citocinas pró -inflamatórias, como o TNF-α e a IL-1. O rituxumabe é um anticorpo monoclonal projetado e direcionado contra o antígeno CD20 encontrado na superfície de linfócitos B normais e malignos, resultando em depleção das células B. É indicado para uso associado ao metotrexato em pacientes com AR de moderada a grave que tiveram respostas inadequadas aos inibidores do TNF-α. É administrado por infusão IV a cada 16 a 24 semanas. TOCILIZUMABE O tocilizumabe é um anticorpo monoclonal que inibe as ações da IL-6, bloqueando o receptor IL- 6. É administrado por infusão IV a cada 4 semanas. Ele pode ser usado em monoterapia ou em associação ao metotrexato ou outro ARMD não biológico em pacientes com AR de moderada a grave. TOFACITINIBE Janus cinases são enzimas intracelulares que modulam a atividade das células imunitárias em resposta à ligação de mediadores inflamatórios na membrana celular. Citocinas, fatores de crescimento, interferonas, ILs e eritropoietina podem aumentar a atividade da janus cinase e a ativação do sistema imune. O tofacitinibe é um inibidor da janus cinase de uso oral indicado para o tratamento da AR de moderada a grave em pacientes que tiveram resposta inadequada ou são intolerantes ao metotrexato. Podem ser necessários ajustes de dosagem se o fármaco for usado com inibidores ou indutores potentes dessa isoenzima. A concentração de hemoglobina precisa ser > 9 g/dL para iniciar o tofacitinibe e deve ser monitorada durante o tratamento, devido ao risco de anemia. Legenda: Agentes biológicos utilizados no tratamento de doenças inflamatórias
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