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As Aventuras do Prof. Ventura, Beto e Cleto - 2

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Prévia do material em texto

1
2
As Aventuras do
Prof. Ventura,
Beto e Cleto
Volume 2
Newton C. Braga
Patrocinado por
3
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São Paulo− Brasil− 2020
Instituto NCB
www.newtoncbraga.com.br
leitor@newtoncbraga.com.br
Diretor responsável: Newton C. Braga
Capa: Renato Paiotti
Impressão: AgBook – Clube de Autores
4
mailto:leitor@newtoncbraga.com.br
http://www.newtoncbraga.com.br/
As aventuras do Prof. Ventura, Beto e Cleto− 2
Autor: Newton C. Braga
São Paulo− Brasil – 2020
Palavras-chave: Eletrônica – Infanto-Juvenil− estória
Copyright by
INTITUTO NEWTON C BRAGA.
1ª edição
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por
qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos,
fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos, atualmente existentes ou
que venham a ser inventados. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou
parcial em qualquer parte da obra em qualquer programa juscibernético
atualmente em uso ou que venha a ser desenvolvido ou implantado no futuro.
Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua
editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e
parágrafos, do Código Penal, cf. Lei nº 6.895, de 17/12/80) com pena de prisão e
multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenização diversas (artigos
122, 123, 124, 126 da Lei nº 5.988, de 14/12/73, Lei dos Direitos Autorais).
5
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
6
NEWTON C. BRAGA
Índice
Introdução................................................................................8
Apresentação− A História dos Personagens...............................9
A Tuba Eletrônica....................................................................11
Projetos..........................................................................33
Gerador de percussão...........................................33
Sino e Gongo Acionado Por Toque..........................37
BAIXOU O SANTO....................................................................42
Projetos..........................................................................53
 Nervo Teste........................................................53
Máquina de Choque..............................................58
Entrega rápida.........................................................................61
Projetos..........................................................................80
Bicicleta Girostática..............................................80
Sirene Manual......................................................82
Oscilador de Áudio – Multivibrador.........................84
Controle remoto......................................................................88
Foto Controle Remoto...........................................99
Pisca-Pisca Controlado Pela Luz com o 4093..........101
A Fonte Dançante..................................................................103
A SAGA ESCATOLÓGICA DE EPAMINONDAS PORTENTOSO. .103
Projetos........................................................................121
Canhão Eletromagnético......................................121
CARA OU COROA ELETROMAGNÉTICO...................126
Aprendendo Mais...................................................................129
Os outros mais de 100 livros de Tecnologia, Ciência e muito mais
.............................................................................................130
7
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
Introdução
 Depois de um primeiro livro “As aventuras do Professor
Ventura, Beto e Cleto”, voltamos com uma segunda coletânea de
estórias e projetos envolvendo os makers malucos que, mais uma
vez, vão divertir nossos leitores ligados em tecnologia.
Escolhemos mais algumas estórias que fazem parte de nosso
acervo e que podem ser acessadas de forma independente em
nosso site.
Também
selecionamos
alguns projetos
simples que,
relacionados com
as estórias, podem
servir para que
você faça algo
interessante para
mostrar para seus
amigos, ensinar
seus filhos e netos
e mesmo treinar
para ser um
“maker”. E, se
quiser saber mais, sugerimos a leitura de nosso Manual Maker em
que a parte prática das estórias poderá ser colocada ação, com a
possibilidade de você se tornar um personagem participante das
estórias. Como no livro anterior, escolhi mais algumas estórias
que se baseiam nos personagens que criei nos anos 60 e que
somente foram publicadas a partir dos anos 80. Algumas delas
foram atualizadas de modo a utilizar tecnologia mais moderna.
Divirtam-se e baixem no nosso site o primeiro livro, também com
o patrocínio da Mouser Electronics.
Newton C. Braga – 2020
8
NEWTON C. BRAGA
Apresentação− A História dos 
Personagens
Imaginem um professor maluco, mas muito bem
intencionado, conhecedor de tecnologia e outras ciências e seus
dois alunos metidos nas maiores aventuras em uma pequena
cidade do interior em que funciona uma escola técnica. Usando
tecnologia eletrônica de diversas épocas, desde material
improvisado até microcontroladores e outros recursos eles se
envolvem em encrencas engraçadas, solucionam mistérios e até
resolvem problemas da comunidade. 
Este é o professor Ventura com seus alunos Beto e Cleto.
Neste livro escolhi algumas das mais engraçadas aventuras que
escrevi desde que imaginei os personagens nos anos 60 e depois
os modifiquei para fazer parte de uma série que foi publicada
numa revista dos anos 80 e depois no meu site, já com uma
modernização evidente. Além deles, diversos outros personagens,
alguns bastante engraçados protagonizam as estórias. 
O destaque é para o Epaminondas, tocador de tuba da
banda da cidadezinha em que as estórias se desenrolam, e que
sempre é a principal vítima das experimentações do professor.
Temos também o prefeito Saturnino, o Professor Salgado diretor
da escola técnica e muitos outros.
As Aventuras do Professor Ventura visam ensinar um
pouco de tecnologia, basicamente eletrônica, informática e
mesmo outras ciências de uma forma divertida. Em torno de uma
estória, o Professor utiliza recursos tecnológicos ou científicos
para resolver os problemas que ocorrem na pequena cidade em
que vivem ou mesmo para criar (involuntariamente) estes
problemas, sempre ajudado pelos seus alunos Beto e Cleto.
Um ponto importante a ser ressaltado é que em todas as
aventuras procura-se ensinar um pouco de tecnologia,
especialmente a eletrônica, física e a mecatrônica, de uma forma
bastante suave. Os dispositivos e circuitos envolvidos são sempre
analisados pelo professor Ventura que os explica à Beto e Cleto.
Devido a este fato, mesmo que não ligado diretamente a pessoas
que não sejam da área técnica, tornam a obra didática. Aprende-
9
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
se muito de tecnologia, informática e eletrônica e seus
fundamentos de uma forma divertida.
O Professor, como um verdadeiro maker, utiliza recursos
avançados e coisas básicas que vão desde o emprego das antigas
válvulas até os microcontroladores, drones, celulares etc.
 
(*) Para saber mais, baixe o primeiro volume desta série.
http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/42-newton-c-
braga/biblioteca/17611-as-aventuras-do-prof-ventura-
beto-e-cleto-download-gratuito 
10
http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/42-newton-c-braga/biblioteca/17611-as-aventuras-do-prof-ventura-beto-e-cleto-download-gratuito
http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/42-newton-c-braga/biblioteca/17611-as-aventuras-do-prof-ventura-beto-e-cleto-download-gratuito
http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/42-newton-c-braga/biblioteca/17611-as-aventuras-do-prof-ventura-beto-e-cleto-download-gratuito
NEWTON C. BRAGA
A Tuba Eletrônica
Esta estória foi publicada originalmente no meu livro Som,
Amplificadores &CIA de 1994. Este livro consistia numa
coletânea de artigos sobre projetos de som, a maioria dos
quais se encontram em meu site. O tema básico da estória
é a eventual capacidade dos equipamentos eletrônicos
reproduzirem ou produzirem sons com tamanha qualidade
que nosso ouvido não possa distingui-los dos sons
produzidos por meios naturais, como a voz humana,
instrumentos mecânicos etc. É um tema bastante atual
que até hoje é motivo de discussões nos meios técnicos.
Fica por conta de os leitores tirar conclusões.
Os equipamentos eletrônicos estão a cada dia mais
perfeitos, e já se torna difícil, mesmo para um ouvido treinado,
distinguir entre um som "mecânico" de um instrumento real e o
11
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
mesmo som, quando reproduzido eletronicamente. Foi por causa
de uma aposta neste sentido que o Professor Ventura, Beto e
Cleto, se envolveram em mais uma aventura que, como não
poderia deixar de ser também contou com a participação
conturbada de Epaminondas Portentoso, o músico local.
 Newton C. Braga
− É! 
− Não é!
− É!
O professor Ventura entrou no laboratório, bem a tempo
de encontrar Beto e Cleto quase se "pegando". numa acalorada
discussão:
− Mas, afinal, o que é, e o que não é? − Interrompeu o
professor, afastando os dois rapazes que já se
encontravam perigosamente próximos um do outro,
podendo decidir a questão de uma forma menos
inteligente.
Cleto explicou então o motivo pelo qual discutiam:
− Eu digo que os amplificadores modernos são tão fiéis que,
mesmo o mais treinado dos ouvidos, não consegue
distinguir um instrumento musical real do reproduzido
eletronicamente! E, além disso...
Beto interrompeu:
− Pois eu digo que não! Existem diferenças tão pequenas
entre o som real e o som reproduzido eletronicamente
que, certamente, um ouvido treinado pode perceber!
O professor Ventura olhou para os dois e mostrou que
também estava na dúvida:
12
NEWTON C. BRAGA
− Saibam! Os amplificadores modernos como, por exemplo,
os que usam transistores de efeito de campo de potência
na saída, podem atingir níveis de distorção baixíssimos, da
ordem de 0,001%, ou mil vezes menores do que o mínimo
que pode ser percebido pelos nossos ouvidos!
− O que significa que não podemos perceber diferença
alguma entre o som real do instrumento e o reproduzido!
− Completou Cleto olhando feio para Beto.
Mas o professor não havia terminado:
− No entanto, a reprodução não depende só do amplificador!
− Ah! − Exclamou Beto, apontando para o amigo Cleto,
como que o colocando em xeque.
O professor pediu calma e continuou:
− Além dos alto-falantes e das fontes sonoras, que podem
ser tão perfeitas que a diferença não seria percebida pelos
ouvidos, temos um fator muito importante a ser
considerado, e que muita gente ainda discute.
Beto e Cleto, curiosos, perguntaram ao mesmo tempo:
− Qual, professor?
− As componentes harmônicas que não podemos ouvir
desses sons!
Beto e Cleto ficaram embaraçados, mas foi Beto que
perguntou:
− Que não podemos ouvir? Mas, se não podemos ouvir,
como essas "componentes" podem influir?
O professor Ventura explicou então:
13
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
− Os sons musicais têm formas de ondas muito complexas, e
por esse motivo, são formados por oscilações
fundamentais e harmônicas em grande quantidade que,
teoricamente, possuem frequências que se estendem até o
infinito.
− Sim, mas não podemos ouvir estas harmônicas acima do
nosso limite auditivo, em torno dos 18 000 hertz! Não é
verdade? − Perguntou Cleto.
− Não podemos ouvir, mas demonstrou-se que estas
harmônicas, mesmo as de frequências mais altas,
contribuem para um efeito de "coloração" nos sons, ou
seja, enriquecem-no de tal forma que nossos ouvidos
podem perceber isso de forma indireta, mesmo sem se
considerar que ouvem, ou pelo menos parecem!− Falou
sério o professor.
− Colorido? O único som colorido que conheço é o da tuba do
Epaminondas! Ele fica verde, azul e de todas as cores
conhecidas quando sopra aquele "troço".
Beto e o Professor Ventura riram diante do comentário
bem humorado de Cleto. O professor não parou por aí,
entretanto:
− Na verdade, não existe uma definição para o que seja a
"coloração" de um som a não ser a sua própria riqueza em
harmônicas. Fizeram uma vez uma experiência
interessante para demonstrar isso.
− Sim? − os rapazes estavam muito curiosos, pois o assunto
era fascinante.
− Dois amplificadores, de faixas de frequências passantes
diferentes, foram usados para a reprodução de um mesmo
som. Um deles tinha apenas a faixa que podemos ouvir,
mas a reproduzia sem distorção. O outro tinha uma faixa
14
NEWTON C. BRAGA
muito mais ampla, estendendo até os 40 ou 50 kHz, muito
além de nossa capacidade auditiva, assim como operava
com grande fidelidade.
− Posso imaginar os resultados! − Comentou Beto,
antecipando o que o Professor Ventura iria dizer.
− Pois bem! Mesmo reproduzindo sons que não podem ser
ouvidos, o de faixa mais larga se mostrou mais "rico" na
reprodução, com o que foi denominado de um "colorido"
mais puro para o som. O som era mais "agradável" ou
natural! Para o outro, o comentário foi que seu som
parecia mais "duro" ou artificial!
− É por esse motivo que, mesmo que a gente não possa
ouvir frequências acima de 16 000 Hz ou 18 000 Hz, os
amplificadores comerciais são vendidos com respostas que
vão muito além disso !− concluiu Cleto.
O professor concordou:
− Exatamente! A resposta acima do que podemos ouvir
garante a amplificação e reprodução das harmônicas que
dão o chamado "colorido" ao som, tornando-o mais
próximo do real!
− Puxa!
Beto achava que aquilo era o bastante para convencer o
amigo:
− E então, convenceu-se que existem aquelas "nuances" do
som que um ouvido treinado pode perceber, e que mesmo
com um amplificador que chegue aos 40 kHz teremos
harmônicas ainda mais elevadas que podem faltar! Elas
seriam suficientes para que um ouvido treinado as
reconhecesse?
15
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
A resposta do outro mostrava, entretanto, que ele não
havia mudado de opinião:
− Duvido!
Já iam se pegar em nova discussão, quando o Professor
Ventura, separando-os fez uma sugestão:
− Por que não fazemos uma prova?
Os dois rapazes pararam quietos e pensaram. Estava ali
uma boa ideia para tirar qualquer dúvida, mas que tipo de prova
poderiam fazer?
O professor tinha a resposta para tudo e não seria muito
difícil "bolar" algo que serviria também para tirar uma dúvida que
era dele:
− Equipamento fiel, nós temos: um potente amplificador de
150 watts com MOSFETs de potência e com faixa passante
de 16 a 100 000 Hertz, distorcendo apenas 0,001%. Uma
caixa acústica de excelente fidelidade também! Falta
apenas a fonte de sinal e o "ouvido treinado"! 
Beto concordou, pensou um pouco e, finalmente,
encontrou o que faltava para a experiência:
− A fonte de sinal nós também temos, meu sintetizador
eletrônico. Quanto ao ouvido treinado, conheço um, mas
não está aqui na escola!
O Professor Ventura e Cleto perceberam então no que
Beto estava pensando e completaram ao mesmo tempo:
− Epaminondas Portentoso!
Sim, nada melhor do que um músico, um tocador de tuba
orgulhoso de sua habilidade como "mais potente tuba" de todas
16
NEWTON C. BRAGA
as bandas da região, para ter a sensibilidade e competência
exigida para a prova.
Cleto já ia sair correndo atrás do Epaminondas quando o
Professor Ventura o impediu:
− Espere aí! Onde pensa que vai?
− Ora, convidar o Epaminondas para nos ajudar no teste! Ele
vai ficar orgulhoso!
O professor pediu para Cleto se acalmar, e fazendo-o
sentar-se explicou:
− Você está fazendo as coisas demodo errado! Se você
convidar o Epaminondas para nos ajudar no teste, com
seu ouvido "treinado", ele orgulhoso como é de seu
instrumento não eletrônico, e da música tocada da forma
tradicional, mesmo que não sinta diferença alguma, não
vai admitir isso!
− É verdade! − concordou Cleto mais calmo.
Mas, o professor sabia como fazer a "coisa" da maneira
certa!
Ele sugeriu então que se fizesse um teste, mas sem o
Epaminondas saber. O músico faria o julgamento, mas sem ter
consciência disso, de modo que não interferiria no resultado!
Determinaria, dessa forma, se haveria diferença ou não entre o
som "vivo" de um instrumento, e o som "gravado" do mesmo
instrumento!
− Mas como?
O professor sentou-se e calmamente explicou o que
pretendia:
− Ouçam! 
17
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
O plano era muito interessante, principalmente porque
envolvia também uma espécie de "brincadeira" que fariam com o
Epaminondas. Beto e Cleto gostaram mais desta parte.
− Puxa! Legal! Mexer com Epaminondas e sua tuba!
− Genial!
Evidentemente, a brincadeira era totalmente inofensiva e
não desagradaria ao Epaminondas, que tinha um bom humor
natural para estas coisas. Afinal não iriam ofendê-lo, nem causar
qualquer dano ao seu amado instrumento! O que não estava no
"programa", entretanto, é que os resultados poderiam ser um
pouco diferentes dos planejados!
Vamos então explicar o que os três estavam pretendendo:
Beto e Cleto iriam instalar numa casa vazia de um conhecido, um
amplificador de altíssima fidelidade, excelentes caixas acústicas e
uma fonte de sinal que produzisse o som de tuba.
A fonte era um poderoso sintetizador de teclado, que era
capaz de imitar mais de 100 instrumentos musicais, com
perfeição! Muitos diziam que era impossível distinguir os sons do
teclado do som dos instrumentos imitados, quando a reprodução
era feita num amplificador fiel, com caixas de boa qualidade. Era
o que eles queriam ver!
A casa ficava bem no caminho que todos os dias
Epaminondas percorria, de sua casa para a barbearia. Para os
que não sabem, o tubista, profissionalmente, era o barbeiro de
Brederópolis, a pacata cidade em que a estória se desenrola. A
ideia era acionar o teclado, por controle remoto, no momento
exato de sua passagem, reproduzindo o som de tuba, que ele
tanto conhecia. Estudando suas reações poderiam saber se ele
estava reconhecendo o som como "natural" ou "artificial"!
− Natural! − dizia Cleto.
− Artificial! Quer apostar? − retrucou Beto.
18
NEWTON C. BRAGA
− Apostado! Quem perder vai ter que ouvir a tuba do
Epaminondas na praça durante duas semanas!
 
− E aplaudir! − completou Beto, estendendo a mão para
selar a aposta. 
A aposta havia sido feita, mas ainda havia um problema: 
− Mas, o som? Quem vai produzir o som? − perguntou Cleto.
Beto que conhecia um pouco de música e manejava com
certa habilidade o teclado, não se preocupou com este pormenor:
− É fácil! Todas as vezes que o Epaminondas ensaia na sua
barbearia ele se "aquece" com uma sequência de notas
que partindo de um "dó" mais grave, sobe até o fim da
escala, para depois voltar! Algo assim como: dó, ré, mi,
fá, sol, lá, si, dó e novamente na ordem inversa: dó, si, lá,
sol, fá, mi, ré, dó. Ele faz isso várias vezes e eu seria
capaz de reproduzir isso no teclado!
− Caramba! Vai soar como se alguém estivesse "ensaiando"
tuba, e imitando o Epaminondas! − concluiu Cleto.
− É exatamente essa a ideia!
Foi então que o professor mostrou a verdadeira
"profundidade" da brincadeira.
− Se ele ouvir o som, certamente vai querer saber quem é!
Se for capaz de perceber que é "eletrônico", não vai se
preocupar muito! Mas, se pensar que é outra tuba na
cidade então!...
De fato, Epaminondas era extremamente orgulhoso de sua
posição como a "mais potente tuba" da região, e não admitia ser
"desafiado" por qualquer outro músico. Para ele seria o "fim do
mundo" aparecer, ainda mais na sua cidade, alguém que
"ousasse" tocar tuba mais forte que ele!
19
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
− Enquanto meus pulmões aguentarem, naquela banda só
quem toca tuba sou eu!
− Calma querido! − acalmava dona Pafúncia− Você foi, é‚ e
será sempre o melhor! Não existe tuba melhor que a sua!
Epaminondas, orgulhoso, acariciava sua tuba, tirando
eventualmente uma manchinha que prejudicava o brilho
impecável do poderoso instrumento.
Mas, o que interessa realmente é o que Beto e Cleto, com
a ajuda do professor Ventura prepararam para "tirar suas
dúvidas", usando o Epaminondas.
Na casa vazia, que estava com uma enorme placa de
"vende-se" há um bom tempo, e que era de um conhecido do
professor Ventura, eles instalaram todo o equipamento de
"simulação de tuba".
− Uma tuba eletrônica! − foi a denominação final dada ao
projeto, por Beto.
O equipamento consistia no sintetizador, o amplificador de
altíssima fidelidade, com MOSFETs de potência e uma caixa de
qualidade estupenda, do equipamento de som da escola. Tudo
isso era acionado a distância por meio de um controle remoto.
O sintetizador tinha por característica a possibilidade de
gravar uma música e reproduzi-la quando ativado e a ideia era
fazer isso por controle remoto via rádio, bastante eficiente.
− Quando acionarmos o controle remoto, o sistema produz
sequências musicais de tuba, como se alguém estivesse
ensaiando, exatamente da mesma forma que o
Epaminondas! − comentou, orgulhoso do projeto, Beto.
− Podemos ficar escondidos do lado oposto da rua, onde
existe um terreno baldio, e observar as reações do
Epaminondas!
− Vai ser interessante! − concluiu o professor Ventura.
20
NEWTON C. BRAGA
Os testes com o equipamento, antes de serem instalados,
mostraram que não era possível distinguir o som sintetizado da
tuba, de uma tuba verdadeira, pelo menos para eles!
− Perfeito!
Na casa, tudo ficou oculto, pois não queriam que o
Epaminondas visse que o som era "eletrônico". Ele deveria
deduzir isso, se fosse possível, e assim comprovar as teorias de
Beto ou de Cleto em relação à reprodução eletrônica.
Assim, colocaram a caixa na sala da frente, que deveria
ficar com a janela aberta na hora que o Epaminondas passasse,
mas oculta por baixo de um "falso sofá" e passando os fios pelos
cantos, a ligaram ao equipamento que ficava oculto numa saleta
dos fundos (que ficaria fechada!).
Estava tudo pronto para a comprovação.
Logo pela manhã do dia seguinte, dentro do horário
previsto, lá vinha o Epaminondas de sua casa, carregando sua
inseparável tuba, assobiando alegremente uma marcha de John
Philip Sousa (*), rumo à barbearia. A presença da tuba era
facilmente explicada: após seu trabalho, tocaria na banda.
(*) John Philip Souza foi um compositor americano de
origem portuguesa que ficou famoso pelas suas músicas
de banda, intensamente tocadas pelas bandas militares,
como o Star and Stripes, muitas vezes confundido com o
hino nacional americano.
Ao passar diante da casa, ele reparou levemente que a
placa de "vende-se", finalmente, tinha sido retirada e a janela da
frente estava aberta. Olhou com curiosidade e pensou satisfeito:
− “Ótimo! Foi vendida! Mas, quem serão os novos
moradores?"
Reduziu a velocidade para dar uma olhadinha "indiscreta"
para ver se via e conhecia alguém, pois parecia que estavam
fazendo a limpeza do imóvel antes da mudança.
21
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
Como não viu nada, acelerou e seguiu normalmente seu
caminho. Entretanto, alguns passos além, um som muito familiar
ao músico saiu diretamente da janela da frente da casa:
− Pá! Póó! Puumm! Póo!...
O músico se engasgou, tropeçou, arrepiou-se todo e quase
deixou cair a sua tuba! Imediatamente encolheu-se, e parou!
Antes de se voltar, novamente, a sequência inconfundível
das notas de uma tuba foiemitida, e com uma potência que
surpreendeu o músico!
− Pá! Póó! Puum! Póo!...
Epaminondas ainda paralisado, saiu do transe e, voltando-
se vagarosamente, abriu um grande sorriso, comentando
baixinho:
− Tuba! Um baixo-tuba! E o "cara" é "potente"! Quem será?
Caminhou de volta lentamente, espiou pelo muro, com
muita curiosidade, esperou um pouco, mas nada! 
− Parou! − comentou Epaminondas− Deixa pra lá! Depois eu
descubro que é! Tai alguém que eu gostaria MUITO de
conhecer!...
Seguiu em frente alegremente até que lhe ocorreu um
terrível pensamento:
− Caramba! Se esse cara for mesmo bom como parece,
minha posição na banda está em "perigo"!
Agarrando firmemente sua tuba, sua expressão não era
mais tranquila, mas muito preocupada! O sorriso desapareceu, e
Epaminondas Começou a suar! A perspectiva de perder seu lugar
na "Gloriosa" Corporação Musical de Brederópolis pareceu-lhe
terrível:
22
NEWTON C. BRAGA
− É o fim do mundo! Preciso saber quem é esse "cara"! 
Finalmente, abalado, cabisbaixo e suando lá se foi, rumo à
barbearia, um músico muito preocupado. O professor Ventura,
Beto e Cleto que estavam no terreno baldio acompanharam tudo:
− Percebeu que é eletrônico! Eu não disse? − comentou
Beto.
− Não percebeu não! Se tivesse percebido, não estaria tão
preocupado! − discordou Cleto.
− Calma! Ele realmente sentiu algo diferente "no ar", mas
não podemos dizer o que é! − acalmou os dois, o
professor. − Precisamos continuar com o teste.
Epaminondas, entretanto, estava sofrendo! Depois de
cortar pelo menos dois clientes, pediu desculpas pelo nervosismo,
fechou a barbearia e foi para casa. Na volta não deixou de dar
uma espiada na casa vendida, que agora estava com a janela da
frente fechada.
− Deve ter ido embora! Mas, quem será o "desgraçado"! −
Epaminondas disse isso com raiva, disposto a descobrir
quem seria o "atrevido, que estaria querendo tomar seu
lugar na banda!"
− “Preciso me precaver!"− pensou ele, caminhando com
pressa.
Na sua casa, teve de ser acalmado por dona Pafúncia, sua
dedicada esposa, que só conseguiu fazer com que ele parasse de
andar para lá e para cá depois que lhe explicou:
− Calma, querido! Você nem sabe quem é‚ e já está
pensando que ele está querendo seu lugar! Por que não
descobre antes de quem se trata, e que intenções tem?
Epaminondas, finalmente mais calmo, concordou:
23
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
− É verdade! Vou descobrir quem é!
No dia seguinte o músico seguiu para a barbearia, mais
calmo, ainda carregando sua tuba, mas desta vez com um plano:
espionar a "casa da tuba", como ele passou a chamá-la
intimamente.
Novamente, ao chegar no local, reduziu a velocidade.
Beto, Cleto e o Professor Ventura, que conheciam os hábitos de
Epaminondas estavam de plantão no terreno baldio:
− A janela! Está aberta! Tem gente!...
Espiou com indisfarçável curiosidade, até ficou nas pontas
dos pés, pois afinal era baixinho e não havia ninguém por perto,
mas não viu nada!... Resolveu seguir em frente, mas bem
devagar, e foi aí que o Professor Ventura, com Beto e Cleto, no
terreno baldio, acionou o controle remoto:
− Pá! Póó! Puum! Pá! Póo!...
Epaminondas quase teve um colapso! Arrepiou-se todo, e
quando conseguiu se dominar o som tinha parado. Mas, mesmo
assim voltou!
− "Calma Epaminondas! Você vai descobrir quem é o
desgraçado!"− pensou o músico, procurando se controlar.
Diante da casa, tentou abrir o portão. Estava trancado!
Não teve dúvidas: como era baixo, pulou com agilidade, mesmo
carregando a incômoda tuba.
O professor, Beto e Cleto observavam tudo.
Epaminondas, cuidadosamente foi até a janela da frente e
espiou: nada! Depois, vagarosamente foi pelo lado da casa e
bateu palmas.
Nesse ponto, Beto e Cleto, usando o segundo canal do
controle remoto, colocaram em ação um dispositivo que tinham
instalado para desestimular a entrada do músico na casa: uma
gravação muito real do latido de um enorme cão de guarda!
24
NEWTON C. BRAGA
− Au! Au! Grrrr!...
Ao ouvir aquilo, Epaminondas que tinha um medo
"danado" de cachorros correu! E como correu!
− Uaaaiii! Tem cachorro! Segura o "bicho"!
Mas, havia um obstáculo para sua saída rápida: o portão,
que pareceu baixo na ida, para um “cara” apavorado carregando
uma tuba, e sem tempo para pensar nos movimentos que
deveriam ser usados na ultrapassagem, era um problemão! O
músico desajeitado em alta velocidade, colocou uma das mãos
sobre o portão e saltou, mas como o impulso foi demais ele subiu
além do que devia e "voou", com tuba e tudo, caindo do outro
lado!
Não se machucou, mas ficou frustrado!
Levantou-se. Verificou se não havia danificado a sua
preciosa tuba e esperou um pouco, mas ninguém saiu para
atendê-lo e não havia cachorro! O músico estranhou:
− Aí tem coisa! Por que não atendem?
Bateu palmas novamente no portão, mas ninguém
atendeu.
Agora, muito desconfiado, ele resolveu se retirar. Voltaria
noutra ocasião, ou procuraria saber diretamente do Pedro Vieira,
dono da casa, quem era o "desgraçado" do tubista, que, além de
tudo, era "covarde" e "soltava" um cachorro atrás dele!
− “Sim! Isso mesmo. É um covarde, pois acho que viu minha
tuba ou me conhece e ficou com medo de me enfrentar!"−
pensou Epaminondas. Ainda gritou para dentro da casa:
− Covarde!
O Professor Ventura, Beto e Cleto, não se contiveram,
rindo baixinho.
25
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
− Vamos acionar novamente a "tuba"? − perguntou Cleto,
quando Epaminondas já se afastava.
− Sim! 
E foi o que fizeram:
− Pá! Póó! Puum! Póo!...
Um novo susto para Epaminondas, mas desta vez ele
parou de um modo diferente das outras vezes:
− Opa! Aí tem coisa! Essa "tuba" está soando de um modo
um tanto quanto estranho! 
 Continuou parado, como que esperando um novo toque.
O modo como aquela "tuba" soou pareceu "esquisito demais"
para o experimentado músico, mesmo estando um pouco abalado
com sua presença.
− Vamos! Toque novamente! − disse ele baixinho sem se
voltar, mas prestando muita atenção.
E a tuba eletrônica tocou novamente:
− Ahá! − exclamou Epaminondas com um sorriso estranho.
Em seguida, seguiu seu caminho.
− Desconfia de alguma coisa! − disse o Professor Ventura,
observando o músico sumir na esquina.
− Eu não disse! − exclamou vitorioso Beto, olhando feio para
Cleto.
− A "coisa" não terminou ainda! Vamos descobrir o que o
Epaminondas acha da tuba.
Encontraram Epaminondas trabalhando normalmente na
barbearia. Beto e Cleto se sentaram nas cadeiras de espera e,
26
NEWTON C. BRAGA
depois de meia hora o freguês saiu, contente como sempre. O
músico também era perfeito como barbeiro, e se orgulhava disso.
− O próximo! − chamou finalmente Epaminondas, como
barbeiro.
Beto sentou-se na cadeira, enquanto Cleto ficou na
espera. Fingindo ler uma revista, ficou apenas observando. Beto
puxou a conversa, enquanto fazia seu corte de cabelo. Conforme
combinado, o Professor Ventura também foi a barbearia e, depois
de cumprimentar, com certa surpresa, os rapazes e o barbeiro,
sentou-se para esperar sua vez.
− Já soube que venderam a casa do Vieira, "seu"
Epaminondas? 
Ao ouvir aquilo, ele tremeu, mas não perdeu o controle:
− Foi bom vocês dizerem isso! Por acaso sabem quem é o
novo morador?
Epaminondas parou de cortar o cabelo de Beto. Percebia-
se que estava muito ansioso pela resposta.
− Dizem que é um músico. Será verdade? − respondeu Beto,
fingindo indiferença.
Epaminondas não se abalou:
− Disso eu sei! Mas, não se trata de um músico comum!
− Não?
 
− Isso mesmo! Ouvi o “cara” tocar, na verdade me pareceu
muito estranho o som do instrumento! − comentou
Epaminondas, continuando a manejar a tesoura com
habilidade.
− Estranho por quê? Afinal que instrumento ele toca? 
27
As Aventuras do Prof. Ventura, Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
− Tuba, ou melhor tenta "imitar" uma tuba! Acho até que
tem algo a ver comigo, pois tocou justamente na minha
passagem, e quando o procurei, escondeu-se!
− Ora, como é possível distinguir o som de uma tuba de
verdade de uma "imitação de tuba"? − Cleto, já
preocupado, interferiu na conversa.
Epaminondas parou, e orgulhosamente, para demonstrar
que tinha um ouvido "diferenciado" explicou:
− Aquilo não é uma tuba! Parece uma gravação, ou algo
"artificial", pois é um som mais "duro". Uma tuba de
verdade tem um som mais "rico"!
Beto olhou para Cleto com "ar vitorioso".
− Não entendo! Como um som pode ser "mais rico"? − na
verdade Beto estava querendo tirar mais informações do
músico-barbeiro.
− Há algo diferente! Não é possível descrever, mas ontem
quando eu ouvi aquele som, pude perceber claramente
que era "artificial" é isso! Artificial! − Epaminondas,
parado, olhava fixamente para o nada, como tentando
"sentir" o som que procurava descrever. No entanto, isso
não era possível, mas Beto e Cleto tiveram a nítida
sensação de que, para o músico, as mínimas diferenças
entre um som artificial e natural, principalmente de uma
tuba, eram sensíveis.
O professor Ventura, que até então só ouvia a conversa,
pode finalmente intervir:
− Está provado! − disse ele finalmente− Que um ouvido
treinado pode distinguir as diferenças que existem entre a
reprodução de um instrumento num equipamento
eletrônico e o próprio instrumento, porque elas realmente
28
NEWTON C. BRAGA
existem! E devemos essa prova ao Senhor Epaminondas,
não é verdade?
Epaminondas, surpreso, não entendia o que estava se
passando. O professor Ventura explicou então o que haviam feito.
O músico não se aborreceu, principalmente pelos elogios que o
professor fez:
− Somente um ouvido apurado como o seu poderia nos
ajudar a desvendar esse mistério! 
Orgulhoso, o tubista pode então tirar suas conclusões:
− Então é isso! Realmente, pude perceber que existe uma
diferença entre o som real e o artificial, mas se me
perguntarem por que, não sei dizer! Talvez, o professor
Ventura, como especialista é que pode explicar.
O professor confessou então que tinha uma teoria:
− A origem da diferença talvez esteja no próprio modo como
os sons de instrumentos musicais são reproduzidos, ou
sintetizados por equipamentos eletrônicos. Imaginem a
gravação do som de uma tuba! Como vocês acham que
ela deva ser feita para ser perfeita? − perguntou o
professor, olhando para Beto. O rapaz pensou um pouco e
respondeu:
− Naturalmente colocando-se um microfone diante da tuba,
e esse microfone deve ter a maior fidelidade possível, ou
seja, deve fornecer na sua saída um sinal cuja forma de
onda corresponda exatamente ao som que ele capta da
tuba!
− Certo! − concordou o Professor. − E, a reprodução, para
ser perfeita, como deve ser feita?
Mais uma vez Beto respondeu com precisão:
29
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
− Deve usar um amplificador fiel e uma caixa acústica que
produza sons com as mesmas formas de onda captadas
pelo microfone, ou seja, que correspondem à tuba!
O professor, levantou o dedo como que negando tudo e aí
fez uma afirmação surpreendente:
− Aí que está a diferença! O som que o microfone "capta",
ao gravar uma tuba não é exatamente o som que sai da
tuba, mas sim o som que chega ao microfone! Nesse
trajeto, muita coisa pode acontecer. Por exemplo, a
própria geometria da tuba pode contribuir para alterações.
As bordas de metal do instrumento difratam o som, pois
são ondas, e as diferentes frequências têm padrões de
irradiação diferentes!
− É mesmo! O som captado pelo microfone, ou mesmo por
muitos microfones, corresponde a uma situação local e
não ao padrão ambiente. Trata-se de um "ouvido"
colocado no local. − Concordou Beto.
O professor continuou:
− Exatamente! Desta forma, o "padrão" que se grava como
de uma tuba não é o padrão "espacial", mas sim o que
chega alterado ao microfone. Isso quer dizer que, na
reprodução, por mais perfeita que ela seja, não temos o
sinal que corresponde ao som que sai da tuba, mas sim o
que chega ao microfone, e isso tem diferenças!
− Puxa! Começo a entender! − disse Cleto, agora mais
consciente de seu engano de avaliação.
− E tem mais! As caixas que vão reproduzir o som, mesmo
que recebam uma forma de onda que correspondam ao
instrumento real, não têm o mesmo padrão de diretividade desse
instrumento: os sons não são irradiados como seriam se saíssem
de uma tuba, mas sim de uma caixa, e aí temos novas
diferenças.
30
NEWTON C. BRAGA
− Isso sem se falar que esse som que chega ao alto-falante
é o sinal já alterado captado pelo microfone! − completou
Beto.
Cleto concluiu então de maneira precisa o que ocorria:
− Começo a entender! O som "artificial" não corresponde ao
que sai do instrumento, mas sim ao que chega ao
microfone! E o microfone é um padrão pontual. Para a
reprodução ser real, ela teria de retratar um padrão
espacial, de modo que nos alto-falantes todas as
frequências audíveis e inaudíveis se espalhassem segundo
um padrão espacial, semelhante ao da tuba!
− Isso mostra a complexidade de reprodução necessária à
obtenção do som real! − completou o professor Ventura−
Acho que ainda será preciso muito avanço técnico para
que os sistemas de som cheguem a esse ponto!
− E eu que pensava que já tínhamos o máximo! − Beto
estava espantado com o que ele julgava ser o máximo em
reprodução.
Epaminondas, orgulhoso por ter demonstrado a
"superioridade" do som de sua tuba "natural" em relação ao
artificial, mesmo sem ter entendido muito as explicações técnicas
do Professor Ventura, e ainda aliviado por saber que não existia
realmente nenhum concorrente para tentar lhe tirar o lugar na
banda, resolveu voltar mais cedo para casa e dar as "boas novas"
para dona Pafúncia. Não telefonaria: queria fazer isso
pessoalmente!
Fechando a barbearia, lá foi o músico com tuba debaixo do
braço, rumo a sua casa, assobiando mais uma marcha muito
conhecida de Sousa.
Ia passando diante do velho galpão, ao lado da clínica
veterinária do Doutor Gadolino, quando um som diferente, na
verdade muito estranho, lhe chamou a atenção:
31
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
− Múúúóóóoohhhhcc!...
Epaminondas estancou, pois nunca tinha ouvido algo
semelhante na vida, e imediatamente pensou:
− “Natural ou artificial? Deve ser mais um teste do professor
Ventura!"
Esperou mais um pouco e ouviu novamente:
− Múúúúóóóhhhccc!...
− Ah! É artificial, esse eu conheço! − e indo diretamente
para a porta do galpão Epaminondas a abriu, esperando
encontrar mais um "belo sistema eletrônico de reprodução
de sons", obra do "maluco" do Professor Ventura, mas o
que viu não foi nada disso! O som era "natural" e
produzido pela bravíssima vaca Beneplácita, famosa na
cidade toda, e que estava esperando o momento de ser
examinada pelo veterinário em virtude de uma estranha
rouquidão, talvez causada por alguma inflamação de
garganta! O animal, com a abertura da porta foi ofuscado
pelo reflexo da tuba, e isso foi o bastante para enfurecê-
lo. Diante do olhar ameaçador da vaca, só houve tempo
para uma reação de Epaminondas: foi a vez músico
produzir seu som, que não podia ser mais natural:
− Uaaaiiiiii! 
E, saindo em disparada, com o bravíssimo animal a
persegui-lo, correu o quilômetro e meio até sua casa em tempo
recorde! 
O professor Ventura, ao saber do ocorrido só pode
comentar de maneira descontraída:
− Um ouvido tão treinado, enganado por uma vaca afônica!
Beto e Cleto riram.
32
NEWTON C. BRAGA
Projetos
No final de cada estória damos um projeto prático que
está diretamente relacionado com o tema central. Na estória
anteriorfalamos de som de instrumentos comuns e sons
produzidos artificialmente, ou seja, por circuitos eletrônicos.
Assim, selecionamos alguns circuitos interessantes que imitam
sons de instrumentos.
Monte e veja se eles realmente soam como instrumentos
“de verdade”. Temos desde circuitos muito simples que você pode
montar sem solda até os mais complexos que exigem uma placa.
Se você não sabe montar ainda veja nosso Curso Básico
de Eletrônica e nosso Manual Maker.
E, é claro, além desses artigos você poderá encontrar
muitos outros em nosso site.
Gerador de percussão
Este circuito pode ser usado como parte de projetos de
alarmes, campainhas, baterias eletrônicas, instrumentos
musicais, efeitos sonoros gerando tons de percussão semelhantes
ao de sinos, gongos, tambores, bongo, marimbas etc. 
A intensidade do sinal gerado é suficiente para excitar
amplificadores de áudio comuns e seu disparo pode ser feito com
sensores ou ainda interruptores comuns. Diversos, ligados a um
mixer, formarão uma interessante bateria eletrônica.
Este circuito consiste num oscilador de áudio amortecido
que gera sinais correspondentes ao de instrumentos musicais ou
de percussão como tambores, sinos etc., com grande perfeição.
A ressonância do som, ou seja, seu prolongamento, que
caracteriza uma batida num objeto de vidro ou de metal como um
sino é conseguida através de uma realimentação controlada.
Reduzindo esta realimentação obtemos sons mais "secos" como
os de tambores ou blocos de madeira.
Isso significa que, pelo ajuste do trimpot ou
potenciômetro, podemos dosar a ressonância da batida, levando-
a desde ao som de sinos e metais até o de blocos de madeira ou
tambores. Os valores dos capacitores determinam a frequência do
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http://www.newtoncbraga.com.br/index.php/42-newton-c-braga/biblioteca/16556-manual-maker-volume-1-primeiros-passos
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
som, o que para o caso de um sino pode ser associado ao seu
tamanho. 
Também temos a determinação dos outros instrumentos
imitados como por exemplo tambores pequenos, bumbos ou
surdos, conforme o desejo do montador. Os valores dos
capacitores, entretanto, devem manter uma relação fixa de
valores. 
Assim, se alterarmos qualquer capacitor, os demais do
"duplo T" devem ser alterados na mesma proporção para que o
circuito oscile. Podemos, por exemplo, usar um capacitor de 47
nF em lugar do de 22 nF e de 22 nF no lugar dos de 10 nF,
obtendo assim um sino "maior".
Os valores deste duplo T podem ficar dentro da faixa de
2,2 nF a 470 nF, o que permite ao montador obter exatamente o
som de percussão que deseja para uma determinada aplicação.
A alimentação do circuito pode ser feita com tensões de 6
a 12V e o transistor é um NPN de uso geral como o BC548 ou
qualquer equivalente. Para a saída ligada a um amplificador é
importante o uso de fio blindado com plugue de acordo com a
entrada AUX. O controle de volume será feito no próprio
amplificador usado. Se diversas unidades ou osciladores forem
montados, deve ser empregado um pequeno circuito de mixagem
para misturar seus sinais, aplicando-os a uma única saída.
MONTAGEM
Na figura 1 temos o diagrama completo do gerador de
percussão. A disposição dos componentes numa matriz de
contatos e mostrada na figura 2.
Como se trata de montagem bastante simples e não crítica
esta é a versão ideal para o iniciante ou experimentador que
deseja fazer testes com este circuito. No entanto, os que
desejarem este circuito como parte de um projeto mais elaborado
podem fazer uso de uma placa de circuito impresso para a
montagem.
A ponte (ou placa de circuito impresso) pode ser fixada no
interior de uma caixa plástica juntamente com o suporte de pilhas
ou bateria. Na parte externa temos apenas o interruptor geral S2,
o acionador que é um interruptor de pressão (S1) e o jaque de
saída.
34
NEWTON C. BRAGA
Figura 1 – Diagrama completo do gerador de percussão.
Figura 2 – Montagem numa matriz de contatos.
35
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
Os resistores são todos de 1/8W ou maiores com qualquer
tolerância e os capacitores podem ser de qualquer tipo. O trimpot
serve como ajuste do amortecimento e também faz uma leve
sintonia do oscilador. O valor deste componente não é crítico
podendo ficar entre 47k ohms e 220 k ohms.
PROVA E USO
Coloque as pilhas no suporte e conecte o aparelho na
entrada de um amplificador. Ajuste o volume do amplificador
conforme o desejado. Depois, alimente o oscilador e pressione
por um instante S1. Vá ajustando o trimpot até obter o som
desejado de percussão. Comprovado funcionamento é só usar o
aparelho. 
Uma ideia interessante é uma campainha diferente para
sua casa que vai soar como um sino. Se o interruptor de S1 tiver
uma localização distante do oscilador deve ser usado fio blindado
para sua ligação.
LISTA DE MATERIAL
Semicondutores:
Q1− BC547, BC548 ou equivalente− transistor NPN de uso
geral
Resistores: (1/8W, 5%)
R1, R2− 100 k ohms− marrom, preto, amarelo
R3− 10 k ohms− marrom, preto, laranja
R4− 4,7 k ohms− amarelo, violeta, vermelho
P1− 47 k ohms− trimpot
Capacitores:
C1− 22 nF− poliéster ou cerâmico
C2, C3− 10 nF− poliéster ou cerâmicos
C4− 47 nF− poliéster ou cerâmico
Diversos:
S1− Interruptor de pressão NA (Normalmente Aberto)
S2− Interruptor simples
B1− 6 ou 9V− 4 pilhas ou bateria
36
NEWTON C. BRAGA
Matriz de contatos ou placa de circuito impresso, caixa
para montagem, suporte de pilhas ou conector de bateria,
jaque, fios, fio blindado, solda etc.
Sino e Gongo Acionado Por Toque
Uma campainha residencial ou mesmo um instrumento
musical acionado por toque, podem ser elaborados a partir deste
circuito que imita o som de sino ou gongo dependendo dos
valores básicos dos componentes. Alimentado à por tensões entre
6 e 9 V (de bateria ou mais elevadas de fonte), este circuito pode
aplicar seu sinal na entrada de qualquer pequeno amplificador.
Osciladores de duplo T amortecidos podem imitar com
fidelidade instrumentos de percussão e assim servir de base para
interessantes projetos como este. 
 Um oscilador excitado por um sensível amplificador de
entrada pode produzir o som de um gongo, sino ou outro
instrumento semelhante pelo simples toque num sensor. 
A sensibilidade é muito grande, o que quer dizer que
mesmo um toque muito suave pode disparar o circuito, e se você
ligar a saída num potente amplificador terá um enorme gongo ou
sino soando com toda a sua potência.
A base do circuito é um oscilador de duplo T que produz
sinais de forma de onda senoidal cuja frequência depende dos
elementos do circuito de realimentação ou duplo T. 
Os valores dos componentes deste duplo T precisam
manter entre si uma relação bem definida. 
Controlando a realimentação deste circuito através do
potenciômetro P2 no diagrama principal podemos levar o circuito
a uma operação crítica e com isso à produção de oscilações
amortecidas, ou seja, oscilações que decrescem em intensidade
até desaparecer.
Estas oscilações quando amplificadas e aplicadas a um
alto-falante geram sons semelhantes ao que obtemos quando
batemos em objetos de vidro ou metal que ressoam por um certo
37
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
tempo, como o som produzido quando batemos num sino, num
gongo, num vidro ou numa barra de metal. 
Com a escolha dos valores apropriados para os capacitores
do duplo T podemos imitar com perfeição os sons destes objetos,
bastando para isso ajustar convenientemente P2.
Como o oscilador de duplo T é um pouco instável para se
obter um ajuste crítico, no nosso circuito acrescentamos uma
segunda temporização para garantir um prolongamento, sem que
a oscilação se mantenha "travada" indefinidamente.
Nonosso circuito isso é conseguido por Q1 que a partir do
estímulo em sua base obtido pela carga de C2 controla a
alimentação do duplo T de forma precisa, por um intervalo
ajustado em P1.
O sinal de estímulo pelo toque vem a partir de um
amplificador operacional do tipo 741. 
Este sinal nada mais é do que o ruído de rede que
normalmente é captado pelo nosso corpo e que transfere ao
circuito quando tocamos num sensor, via C1. 
O ganho do operacional nesta função é dado basicamente
por R3 e pode ser alterado. Valores menores permitem uma
redução da sensibilidade caso haja tendência ao disparo errático
do circuito. 
Valores entre 10 k ohms e 4,7 M ohms podem ser usados
neste projeto. Até mesmo um terceiro potenciômetro pode ser
acrescentado nesta função, dependendo da aplicação que o leitor
tenha em mente. 
O sinal de áudio obtido na saída do oscilador é fraco
demais para excitar um alto-falante, por isso precisamos de um
bom amplificador externo. 
 No caso dos sons mais graves, como de gongo e sino,
como temos uma frequência muito baixa, os melhores resultados
são obtidos com sistemas de som que possuam alto-falantes
pesados.
A alimentação do circuito com uma bateria de 6 V ou 9 V é
possível graças ao baixo consumo de corrente da unidade.
Na figura 1 temos o diagrama completo de nosso aparelho.
38
NEWTON C. BRAGA
Figura 1 – Diagrama completo do aparelho
Na figura 2 temos a disposição dos componentes numa
placa universal ou matriz de contatos.
Figura 2 – Montagem na matriz de contatos
Para a montagem em placa sugerimos a utilização de
soquete para o circuito integrado. Os transistores podem ser
substituídos por equivalentes. 
O diodo D1 também pode ser substituído por equivalentes
como o 1N4002 ou 1N914. P1 e P2 podem ser trimpots para
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
montagem na matriz ou potenciômetros, dependendo da
aplicação.
Os capacitores eletrolíticos são para 12 V ou mais e os
demais capacitores são de poliéster ou cerâmica. Os capacitores
do duplo T podem ser escolhidos conforme a tabela 1.
O sensor pode ser a simples ponta de um fio descascado
ou uma chapinha de metal com não mais que 5 cm de lado.
Chapas maiores podem causar instabilidades ao circuito assim
como fios mais longos que 1 metro. Neste caso devem ser usados
fios blindados. 
Para provar basta ligar a saída do circuito a um
amplificador de áudio a médio volume. Acione S1 e toque no
sensor ao mesmo tempo em que ajusta P1 e P2. Pelo ajuste de
P1 temos a temporização e pelo ajuste de P2 temos o
amortecimento que permite imitar o som desejado. 
Uma possibilidade interessante para o projetista consiste
em acrescentar uma chave que comute os valores dos
capacitores do duplo T. 
Se for usada fonte de alimentação externa ela deve ser de
9 a 12V com pelo menos 50 mA e excelente filtragem para que
não ocorram roncos no alto-falante. 
Não use fonte sem transformador já que o acionamento é
feito diretamente pelo toque. 
40
NEWTON C. BRAGA
LISTA DE MATERIAL
Cl-1 -741
Q1 e O2− 80548 ou equivalentes
D1− 1N4148 ou equivalente
P1 e P2− 100 k ohms− potenciômetro ou trimpot
B1− 6 ou 9 V− pilhas ou bateria
S1− Interruptor simples
Resistores: 1/8 W
R1 e R2− 22 k ohms
R3− 1M ohms
R4− 10 k ohms
R5− 1 k ohms:
R6 e R7− 100 k ohms
R8− 5,6 k ohms
Capacitores
C1− 100 nF− cerâmico ou poliéster
C2− 10 uF x 12 V− eletrolítico
C3− 10 nF− cerâmico ou eletrolítico
C4 e C5− 2,2 nF− ver texto− cerâmico ou poliéster
C6− 4,7 nF− ver texto− cerâmico ou poliéster
C7− 100 nF− cerâmico ou poliéster
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
BAIXOU O SANTO
 Esta estória, publicada originalmente nos anos 80, passou
por diversas atualizações e a que se encontra no site é a
mais moderna. Na verdade, o enredo é o mesmo,
mudando apenas a tecnologia que dos componentes
discretos e circuitos integrados tradicionais como o 555 e
o 4017, passou para componentes modernos como o
microcontrolador Arduino. Esta é uma das versões
atualizadas.
Newton C. Braga
O que tem a ver a mecatrônica e tecnologias associadas
com religião? Quando o Professor Ventura inventa alguma coisa
tudo é possível, e o que ocorreu desta vez não foge à regra. As
"maluquices" do Professor, quando não funcionam direito, podem
ter estranhos efeitos, inclusive alguns relacionados facilmente
com entidades sobrenaturais. Na estória "Baixou o Santo" o leitor
vai descobrir o que aconteceu desta vez e certamente rir muito.
Caminhando vagarosamente, eles entraram na cidade pela
via principal. Era um grupo de umas cinquenta pessoas todos
vestidos de branco e descalças, usando apenas um colar de
contas como adereço. O chefe, um sujeito corpulento de pele
escura, além de se distinguir pelos dois colares que usava, em
lugar de apenas um, carregava um cartaz em que se lia:
"VIEMOS EM PAZ
APENAS PROCURAMOS OCULÊ-OCULÊ-AIÊ"
Os olhares de curiosidade da população não abalaram a
estranha marcha, que terminou na praça principal, onde eles
"acamparam" formando um grande círculo.
− Serão pacíficos? − questionou alguém.
42
NEWTON C. BRAGA
− O que será que pretendem? − indagavam outros.
− Deve ser algum grupo religioso desses cultos "afro" que
agora estão em moda! − tentou explicar alguém "mais
esclarecido".
A situação ficou bem mais calma quando o sargento da
guarda local foi tirar informações com o chefe do grupo, e voltou
com notícias tranquilizadoras:
− Estão apenas em peregrinação, em busca do tal "Oculê" e
não vão ficar mais do que dois dias. São pacíficos e estão
cansados. Apenas desejam descansar um pouco!
− Oculê? O que é Oculê?
− Não pergunte a mim! − respondeu o policial− Sei tanto
quanto vocês, deve ser alguma "entidade" do culto deles.
Dizem que o "mestre" os mandou peregrinar até o
encontrarem!...
− Mas como vão saber quando o encontrarem? − perguntou
alguém.
− Eles dizem que será enviado um "sinal" inconfundível, que
possibilitará o seu reconhecimento!...
Passada agitação inicial que o "fenômeno" causou, a
pequena multidão que rodeou a praça se dispersou. Em pouco
tempo todos sabiam que o grupo era inofensivo e ninguém mais
se incomodou com sua presença.
Alheio ao que ocorria, o Professor Ventura trabalhava
animadamente num novo projeto. Beto e Cleto chegaram bem a
tempo de ver o estranho dispositivo que o Professor estava
"instalando em si mesmo".
− Que diabo é isso, Professor?− perguntou Beto.
43
As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
− Vai se eletrocutar Professor?− completou o interrogatório,
Cleto.
O professor, sem parar de mexer nos muitos fios que
saiam de uma caixinha presa a sua cintura explicou:
− É um estimulador de corrida! 
− ?
− Eu explico melhor: vocês sabem que eu gosto de correr
dois ou três quilômetros todos os dias, para "manter a
forma física", e o coração em ordem. Recomendações
médicas! Pois bem, notei que é meio difícil manter o
ritmo, e bolei um dispositivo eletrônico para ajudar.
− Um ritmador? − interrompeu Beto.
− Não, na verdade um estimulador! A ideia é aplicar nos
músculos envolvidos no processo de correr, estímulos
externos no momento certo, por um "clock" que vai
determinar o ritmo de suas contrações e distensões. 
− Como num computador? − questionou Cleto.
− Sim isso mesmo! O "ritmo" das operações que um
computador faz é dado por um circuito de relógio ou clock.
Ele funciona como um maestro que sincroniza todos os
circuitos internos de modo que tudo funcione em
harmonia. Meus músculos, para me fazer correr, também
precisam de algo que os faça funcionar em harmonia, por
isso "inventei" isso.
− Por que não usar apenas um metrônomo? Já vi isso em
alguns pedômetros que produzem um barulhinho que
ajuda o corredor a mantero ritmo? − Apesar da pergunta,
Beto sabia que o professor não se contentaria com um
barulhinho somente. 
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NEWTON C. BRAGA
− Usando estímulos diretos de um estimulador consegue-se
muito mais! Além de manter seu ritmo, esse aparelho
também pode fazer com que você corra quase que
"automaticamente"!
− Interessante! É só ajustar a velocidade e você corre
mesmo que não queira! Mas, e se precisar parar? − Cleto
tinha suas dúvidas quanto a funcionalidade do "negócio".
− Não é bem assim! Eu ajusto o nível de excitação num
ponto bem baixo, de modo a ter apenas o suficiente para
obter uma leve contração, mas sem perder o controle
sobre o movimento! Já experimentei e é muito
interessante, pois é como se houvesse uma "mão
invisível" segurando em você e ajudando-o a correr!
− Puxa! Isso poderia fazer um sucesso enorme com os
corredores preguiçosos! − comentou Beto olhando e
apalpando as gorduras do amigo.
− Mas, como funciona "tecnicamente"? − perguntou Cleto.
Parando de mexer nos fios, o Professor explicou:
− Vocês já ouviram falar dos PIC? Pois bem, os PICs são
pequenos microcontroladores da Microchip, uma empresa
que os fabrica, e que podem ser programados por um
computador para fazer qualquer coisa!
− Qualquer coisa? − Cleto era cético, pois não conhecia o
dispositivo. 
O professor percebeu e resolveu ir mais a fundo:
− A maioria dos aparelhos eletrônicos atuais consegue ter
uma grande complexidade, reunindo o máximo de funções
em ou poucos chips. Estes chips são denominados ASICs e
nada mais são do que microcontroladores, parecidos com
os que encontramos nos computadores. ASIC significa
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
Application Specific Integrated Circuits ou Circuitos
Integrados para Aplicações Específicas. Neles temos
diversos conjuntos de funções lógicas, normalmente
portas NAND que podem ser interligadas por meio de
programação externa de modo a se obter qualquer função
digital mais complexa do chip. Isso significa que os
fabricantes podem fabricar chips todos iguais e os usuários
determinam, por programação, o que ele vai fazer. Uma
das séries mais populares de microcontroladores deste
tipo é a formada pelos PICs da Microchip.
Tomando um pouco de fôlego o professor continuou:
− Um PIC contém então um microcontrolador semelhante,
mas mais simples, a qualquer Pentium de uma placa mãe
e uma memória que pode guardar o programa que diz o
que ele vai fazer. Quando compramos um PIC ele vem
"vazio".
− Vazio?
− Sim! Você pega um PIC vazio e coloca o programa,
digamos para acionar certos dispositivos de um sistema de
alarme, quando os sensores são ativados. O programa diz
o que o PIC deve ligar, acionando, por exemplo, um
alarme e até discando de modo automático um telefone
que chame a polícia, ou avise o dono da casa, se ele
estiver em outro local. 
− A partir de uma casa na praia, por exemplo!
− Certo! − continuou o professor− É uma maneira de
praticar eletrônica sem muitos componentes, assim como
de interligar o computador com outros dispositivos, que
ele pode controlar, ou simplesmente determinar o que
devem fazer. Como eu disse, podemos fazer quase tudo
com eles!
46
NEWTON C. BRAGA
Beto percebeu que o professor acrescentou um "quase",
mas deixou o velho mestre continuar, sem falar nada:
− Uma aplicação importante é na pequena indústria: você
cria uma nova máquina que deve realizar certas funções.
Usando PICs, você estabelece num programa estas
funções e simplesmente liga os dispositivos que devem ser
controlados por uma placa de interfaceamento apropriado.
Tudo muito simples. Máquinas de lavar roupa "eletrônicas"
são um exemplo em que temos um desses chips,
controlando tudo que ela faz...
− E então o senhor usou um PIC para lhe fazer correr sem
perder o pique? 
O professor Ventura e Beto fizeram uma careta diante do
trocadilho infame de Cleto. Sem se abalar o velho mestre
continuou explicando: 
− Nesta caixinha temos então um PIC bastante popular, que
pode ser comprado com um "kit" de programação e, nessa
versão, admite até 512 bytes de um programa de controle
carregado por um computador comum, pela sua porta
serial. Um oscilador interno determina o ritmo da corrida e
que é ajustado por meio deste potenciômetro...
− O "acelerador"! − brincou Beto.
− O programa do PIC determina que saídas devem ser
ativadas estabelecendo assim uma sequência para os
pulsos de estímulo, assim como determinando os locais
que eles são aplicados! Por exemplo, primeiro na perna
direita junto com o braço direito, depois na canela
esquerda com o braço esquerdo e os músculos das costas,
e assim por diante!...
Colocando um CD no CD-ROM o Professor mostrou uma
série de animações em que se mostrava o funcionamento dos
músculos de uma pessoa quando corria. Os pontos de excitação,
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
em uma sequência que seria necessária ao movimento de correr
eram destacados por setas indicadoras. O professor explicou:
− Fiz um estudo cuidadoso dos pontos de excitação, e de sua
sequência! São 26 pontos alimentados por uma sequência
de 9 pulsos, repetindo-se depois o ciclo!
− Puxa! − exclamou espantado Cleto.
O professor não tinha terminado:
− Os pulsos gerados pelo PIC são levados a transistores que
alimentam 9 pequenos transformadores de alta tensão,
que fornecem quase 800 volts de saída para os eletrodos.
Os eletrodos são conectados a uma matriz de diodos que
fornece a sequência final de pulsos no padrão desejado.
Na saída dos transistores, antes de passar para o
transformador, temos algo importante: o ajuste da
intensidade dos estímulos!
− Ah! Tem de haver um controle, pois com 800 volts o
Senhor iria "voar" e não "correr"! − brincou Beto.
− É claro! Ajusto os pulsos nas bases dos transistores
excitadores para obter um estímulo apenas na intensidade
necessária para uma leve contração! Mas, agora me
ajudem aqui!
− E a programação para controlar tudo isso? − Beto queria
saber mais. 
− Uma vantagem do PIC que estou usando, é que ele além
de muito barato e simples de usar, pode ser programado
com um software disponível na própria internet. Assim, a
partir do software apropriado, fiz um programa que
estabelece, no tempo certo, exatamente a sequência de
pulsos que eu preciso para a excitação dos músculos. Foi
só ligar o PC ao PIC, transferir o programa e pronto!
48
NEWTON C. BRAGA
Dito isso, o Professor pediu a Beto e Cleto que
continuassem a sua ajuda na fixação, com esparadrapos, das 26
pequenas chapinhas de metal que eram os eletrodos de excitação
espalhados por todo o corpo. Os fios de conexão para pernas e
braços eram finos assim como fixados por pequenos
esparadrapos, quase tudo imperceptível. 
Vestindo o seu "uniforme" de corrida, o professor estava
de tênis, meias de cano alto, calção e uma camiseta. O
aparelhinho, instalado numa pequena caixa, era levado preso na
cintura. Os eletrodos estavam presos por todo corpo: dois por
dentro da meia, com contacto perto das canelas, dois na "barriga
da perna" e dois nas coxas. Mais acima havia eletrodos nos
braços, nas costas e até na barriga!...
− Para excitar o diafragma! É importante para a respiração!
− explicava o Professor Ventura.
Não restava nenhuma dúvida, para Beto e Cleto, que o
Professor ía fazer um teste de funcionamento. Saltitando para se
aquecer e fazer os ajustes, o professor ligou o aparelho!
Controlando a intensidade e o ritmo, ele em poucos segundos
encontrou o ponto ideal, saindo pela porta do laboratório em
passo de corrida! Beto e Cleto foram atrás.
Correndo em boa velocidade, o professor "pegou" a rua
principal, e foi em direção à praça, que pretendia atravessar e
depois retornar!
−Está ótimo! Parece que a gente nem sente que está
correndo! − comentou o professor procurando não alterar
o ritmo de sua respiração. 
Ao entrar na praça, o professor se deparou com o estranho
grupo "acampado", mas não alterou suas pretensões de
atravessá-la. Beto e Cleto mais cautelosos pararam. Sentados em
"roda" eles pareciam amistosos e nada havia a temer. O
Professor, entretanto, para chegar onde pretendia deveria cortar
a "roda" dos "religiosos", e foi justamente quando ele fazia isso é
que as coisas começaram a acontecer!
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
Alguma "pane" no circuito do estimulador, talvez devido
aos passos firmes e fortes do professor, fez com que ao mesmo
tempo a velocidade do "clock" aumentasse, a ordem de excitação
dos eletrodos se tornasse aleatória e a tensão dos pequenos
transformadores se elevasse ao valor máximo!
O que se viu então foi espantoso!
O professor que vinha correndo normalmente, bem no
meio dos "acampados", mudou de ritmo começando a se
contorcer, levantar e abaixar as pernas de forma esquisita e
desordenada, agitar os braços e desesperadamente tentar
"arrancar" os eletrodos que estavam "dando" tremendos choques!
Como eles ocorriam na forma de impulsos descontrolados, os
estímulos provocavam uma dança esquisita, como se ele tivesse
com a roupa cheia de formigas e ainda para completar pisando
descalço em brasas! Era como se "ele estivesse tomado por
algum espírito", diria alguém depois de presenciar a insólita cena!
E, foi isso justamente que passou pelas cabeças dos membros do
estranho grupo religioso.
− Ai! Ui! Ugh! Uai! Sai fora!... Uai! Tirem este "troço" de
mim! Sai!...− Era o que gritava o Professor Ventura,
saltitante e desesperado!
A "dança contorcionista" durou pelo menos dois minutos,
antes que, ajudado por Beto e Cleto, que vieram em seu socorro,
conseguisse desligar o aparelho.
− Ufa! − foi a exclamação de alívio do Professor, arrependido
até os ossos de ter fechado o protótipo numa caixa com
tantos parafusos!
No entanto, quando ele e Cleto se deram conta de onde
estavam, ficaram assustados: os religiosos estavam todos de pé,
boquiabertos, e de olhos arregalados, observando tudo, mas não
diziam nada! Apenas olhavam!... E como olhavam!...
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NEWTON C. BRAGA
Neste momento o líder se levantou e foi em direção ao
professor que, assustado, dolorido e pensando em algo pior, não
esperou para conversar! Ajudado por Beto e Cleto, procurou sair
rapidamente dali!
− De volta para o laboratório! − foi a única coisa que o
professor conseguiu dizer, ainda meio trêmulo e sem
fôlego.
Quando se afastavam, ainda puderam ouvir comentários
em tom entusiasmado numa língua desconhecida, e algo no meio
que soava como "Oculê-Oculê-Aiê"!
O Professor Ventura voltou ao laboratório ainda meio
atordoado e depois de "se livrar" de todos os eletrodos e
esparadrapos, colocou o aparelho na bancada para verificar a
causa da "pane".
− Ora, vejam só!− foi sua exclamação, ao analisar a placa
de circuito impresso do aparelho− Uma solda mal feita no
capacitor de clock abriu o circuito, aumentando sua
frequência e, com os saltos ritmados, a blindagem de
alumínio que coloquei no fundo da caixa encostou no lado
cobreado da matriz de diodos, alterando a sequência dos
pulsos e também "elevando" a tensão de saída!
− Deve ter sido uma descarga e tanto! − comentou Beto.
− Se foi! Tremo até agora, mas o problema é que acho que
assustei aquele pessoal da praça! Por falar nisso, alguém
sabe quem são eles? − perguntou o professor.
Beto e Cleto sacudiram os ombros e balançaram
negativamente a cabeça.
O assunto foi esquecido, até que no dia seguinte, o
Professor Ventura e o Professor Salgado, diretor da Escola
Técnica, iam saindo pela porta principal, quando se depararam
com uma cena inesperada: o grupo das cinquenta pessoas de
branco estava acampado justamente em pleno jardim de entrada!
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
Beto e Cleto que tinham visto quando eles chegaram, se
aproximavam, juntamente com outros estudantes.
O professor desceu as escadas com o diretor, pensando
em não dar importância ao fato, pois já tinha recebido a notícia
de que eram pacíficos e estavam apenas em peregrinação. Foi
nesse momento que todos os religiosos de branco se voltaram
para o professor e, levantando-se com dedos apontados para ele,
começaram a comentar algo incompreensível. O líder do grupo,
identificando o professor Ventura, imediatamente acenou os
braços pedindo silêncio e, de olhos arregalados, voltou-se para o
velho mestre.
O indivíduo corpulento de pele escura caminhou então em
direção ao professor que, meio surpreso, meio assustado, parou!
O professor Salgado também parou! Não sabia o que pensar.
Dirigindo-se diretamente ao professor Ventura, o líder
falou com voz grave e respeitosa:
− Nossa busca terminou! Encontramos Oculê-Oculê-Aiê!
O professor Ventura sem saber o que fazer, o que falar e
muito menos o que era o tal de "Oculê", não lhe importando
"raios" que tivessem ou não o "encontrado", apenas esperou que
o líder religioso completasse sua fala:
− Oculê-Oculê-Aiê, no nosso dialeto, significa "Aquele-que-
recebe-o-espírito" e o nosso mestre disse que
receberíamos um sinal inconfundível quando o
encontrássemos! O que vimos ontem não deixa qualquer
dúvida: é o Senhor!
E, retirando um dos colares, que usava, colocou-o
cerimoniosamente no pescoço do professor Ventura sob o olhar
incrédulo do Diretor e dos alunos.
Afastando-se três passos sem se virar, o Líder fez uma
reverência e o grupo todo de religiosos, acompanhando-o,
gritaram em coro três vezes:
− Oculê-Oculê-Aiê!... Oculê-Oculê-Aiê!... Oculê-Oculê-Aiê!...
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NEWTON C. BRAGA
O professor não se moveu! Estava paralisado! O grupo
virou as costas, e repetindo em coro as mesmas palavras, se
afastou lentamente em procissão, deixando a cidade de
Brederópolis para voltar para "sabe-se-lá-para-onde", satisfeitos
e felizes por terem cumprido a missão do "mestre"!
O diretor da escola não acreditava no que tinha visto, e
ainda com o grupo se afastando, de mãos na cintura e olhando
sério para o cabisbaixo e ainda atordoado Professor Ventura,
falou:
− Macacos me mordam se isso tem algo a ver com a
eletrônica! Não me diga que desta vez "inventou" um
equipamento que faz "baixar o santo"! (E era isso
mesmo!) Não posso imaginar como, mas como para o
Senhor tudo é possível!...E que o "raio" da "coisa"
também tem algo a ver com a eletrônica, tenho certeza!...
Acho que me deve, ou melhor, deve a todos nós, uma
"bela" explicação!...
Beto e Cleto, um pouco afastados, faziam uma força
danada para não rir!
Projetos
 Evidentemente, pelo tema da estória, nossos projetos têm
muito a ver com choque. O primeiro, o Nervo Teste é justamente
um projeto que usamos nas escolas em que lecionamos para
entusiasmar os jovens pelo estudo de tecnologia. Com ele você
pode “dar choques” nos seus amigos, numa brincadeira bem
interessante. O segundo é um estimulador de nervos cuja
finalidade você vai descobrir no texto.
 Nervo Teste
Você é nervoso? Se não é, vai ficar quando souber o que
acontece com quem erra neste teste de firmeza e nervosismo, e
se é, vai ficar mais ainda se deixar de montá-lo. O que levamos
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
ao leitor é uma versão, com castigo, do conhecido “nervo-teste",
para verificar a firmeza de cada um num jogo de habilidade. O
castigo é um belo, porém inofensivo, choque elétrico que vai
revelar todo nervosismo do competidor num verdadeiro treme-
treme! 
Nota: na verdade, este projeto já saiu em diversas
ocasiões com nomes diferentes como Treme-Tremee
outros. Esta versão, numa linguagem bem simples para
iniciantes saiu na publicação de 1985 Experiências e
Brincadeiras com Eletrônica Jr, de nossa autoria, e aqui a
reproduzimos na íntegra.
Tente passar uma argolinha por um arame tortuoso sem
deixá-la encostar! Parece simples se você pensar apenas em
termos de desafio. 
Entretanto, não será tão simples se você pensar que existe
um dispositivo eletrônico fiscalizando-o nesta tarefa e que, se
você errar, este mesmo dispositivo se encarrega de castigá-lo
com um ”belo" choque elétrico, porém inofensivo.
Monte este treme-treme e desafie seus amigos para uma
competição de técnica, habilidade e principalmente coragem. Veja
quem consegue levar a argolinha até o final do arame tortuoso
sem levar choque, sem largar tudo ou sem errar! (figura 1)
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NEWTON C. BRAGA
Extremamente simples de montar, o "treme-treme" usa
apenas dois componentes que podem ser conseguidos com muita
facilidade nas lojas especializadas a um custo que está ao alcance
de qualquer leitor.
COMO FUNCIONA
Pilhas não dão choque, pois os 1,5V que fornecem são
insuficientes para forçar uma corrente elétrica através de nossa
pele. Para que haja uma sensação de choque é preciso elevar a
tensão em primeiro lugar para que, vencendo a resistência da
pele, possa circular uma corrente que excite o nosso sistema
nervoso.
Podemos conseguir isso através de um dispositivo
denominado transformador. Este dispositivo, conforme mostra a
figura 2 tem dois enrolamentos, um formado por poucas voltas de
fio e o outro por muitas voltas de fio esmaltado. 
Se aplicarmos momentaneamente uma tensão baixa no
enrolamento de poucas voltas, ela será multiplicada e aparecerá
muito mais alta no enrolamento de muitas voltas.
Com um transformador comum, do tipo que reduz a
tensão da tomada de 220 V ou 110 V para 5 ou 6V, podemos
obter de 60 a 80 V a partir de uma pilha grande comum, o que é
suficiente para dar um bom choque, porém totalmente inofensivo,
pela sua curta duração e baixa corrente.
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
O transformador será então ligado de tal modo que
“dispare” quando o jogador errar e aplique a alta tensão nos
cabos do arame e argola que ele segura! 
MONTAGEM
Como apenas dois componentes são usados, a sua
montagem é muito simples. Entretanto, existe a necessidade de
se preparar com cuidado o arame e a argola com fio grosso,
conforme mostra a figura 3.
O arame é feito com um pedaço de 40 cm de fio comum,
grosso (14 ou 16), do qual descascamos quase tudo, deixando
apenas uma capa na ponta, de uns 5 ou 6 cm. O restante do
arame é dobrado, formando diversas curvas, como mostra a
mesma figura. 
A argola é feita com um pedaço de 7 ou 8 cm do mesmo
fio, totalmente descascado. Forme um arco de 1 cm de diâmetro
aproximadamente e solde o ponto em que ele se fecha. O circuito
completo do nervo-teste é mostrado na figura 4.
O transformador usado pode ser um do tipo com primário
de 110 V e 220 V e secundário de 5 a 9 V com 100 mA ou mais
de corrente. Se tiver um rádio antigo de válvulas, pode usar o
transformador de saída que vai ligado ao alto-falante. Os fios que
vão à pilha são os que estavam ligados ao alto-falante. Na figura
5 temos a montagem pronta do aparelho.
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NEWTON C. BRAGA
Em todos os pontos de solda você deve limpar bem os fios,
principalmente do transformador se forem esmaltados, siga as
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
cores dos fios de ligação, pois se houver inversão ele não
funcionará. Veja que dois fios permanecem desligados.
Monte tudo numa caixinha, de preferência resistente a
tombos e pancadas, pois os puxões que as “vítimas" dos choques
vão dar, sem dúvida, podem causar danos ao aparelho. Dê um nó
nos pontos em que os fios saem da caixa para evitar que estes
puxões os arranquem.
PROVA E USO
Uma vez montado (coloque somente pilha grande, nova),
segure o arame tortuoso e a argola, um em cada mão. Tente,
com cuidado, passar a argola pelo arame sem deixar um encostar
no outro. Se isso acontecer logo você vai ver se o aparelho
funciona ou não!
Ao jogar, estabeleça que não vale segurar pelo fio.
Quando não estiver usando, não deixe de modo algum a
argola em contacto com o arame, pois isso, além de não causar o
disparo do aparelho dando choque em quem o pegar, como
poderia pensar o leitor, provoca o rápido desgaste da pilha.
Guarde o aparelho sempre com a argola separada do
arame.
LISTA DE MATERIAL
T1− transformador de alimentação com primário de
110/220 V e secundário de 5, 6 ou 9 V com tomada
central e pelo menos 100 mA de corrente
B1 -1,5V− uma pilha grande 
Diversos: 50 cm de fio 14 ou 16,1m de fio descascado, 5
m de fio comum, caixa para montagem etc.
Máquina de Choque
Eis uma montagem experimental muito simples que gera
tensões elevadas a partir de uma pilha comum. Estas tensões
servem para a excitação de nervos (máquina de choque), o que
será interessante em demonstrações em salas de aulas, feiras e
eventos ou mesmo como brincadeira.
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NEWTON C. BRAGA
O princípio de operação é simples: uma pilha não fornece
tensão suficiente para produzir choques, pois esta tensão não
consegue vencer a resistência da pele com a produção de uma
corrente capaz de excitar os nervos.
O que fazemos então é passar esta corrente pelo
enrolamento primário de um transformador que pode elevar a
tensão para 100 V ou mais, o que é suficiente para vencera
resistência da pele, causando então o choque.
Como o transformador não trabalha com corrente contínua
pura, usamos uma lima, na qual esfregamos um fio de modo a
interromper a corrente rapidamente, obtendo assim uma corrente
contínua pulsante. Esta corrente consegue passar pelo
transformador, levando aos efeitos desejados.
Montagem
Na figura 1 temos o diagrama completo do aparelho e na
figura 2 o aspecto da montagem.
Figura 1− Diagrama do aparelho
O transformador pode ser do tipo usado em antigos rádios
valvulados ou ainda em pequenas fontes de alimentação com
primário de 110 V ou 220 V e secundário de 5 a 12 V com
corrente de 250 a 300 mA. O enrolamento de baixa tensão será
ligado a pilha.
A pilha deve ser média ou grande para que tenhamos uma
boa corrente e a lima pode ser de qualquer tipo. O fio deve ser
bem raspado para poder fazer bom contacto nos pontos de
conexão.
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As Aventuras do Prof. Ventura , Beto e Cleto− 2 – Mouser Electronics
Figura 2 – Aspecto da montagem da máquina de choque
Para testar o aparelho, encoste os dedos nos terminais de
alta tensão do fio, segurando-os separados e esfregue o fio na
lima. Lembre-se que o choque só ocorre quando o fio é raspado.
Mantendo o fio encostado, a pilha descarrega e não há choque.
Ligando uma lâmpada neon ou fluorescente na saída do
transformador elas piscarão quando rasparmos o fio na lima.
Lista de Material
B1− 1,5 V− pilha média ou grande
T1− Transformador – ver texto
X1− Lima
Diversos: fios, solda etc.
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NEWTON C. BRAGA
Entrega rápida
Esta estória, escrita nos anos 80 nunca foi publicada
antes. Temos apenas uma versão em nosso site. Ela serve
como excelente aula de física para quem deseja saber um
pouco mais sobre inércia, giroscópios e sensores inerciais,
assunto muito importante para quem deseja trabalhar com
drones, robôs e outros veículos que necessitam de um
controle automático de equilíbrio dinâmico.
Newton C. Braga
Imaginem um objeto que se negue a ser entregue num
local, ou pelo menos a ir até ele! Se vocês acham que nem
mesmo com os recursos mais avançados da mecatrônica isso não
é possível, estão enganados. Nesta estória o Professor Ventura,
Beto e Cleto vão mostrar que um engenho antigo, encontrado
num depósito de sucata de aviões pode servir para fazer uma
brincadeira muito interessante,

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