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PANCREATITE AGUDA · Inflamação aguda do parênquima pancreático de natureza química, resultante da autodigestão enzimática pela ativação intraglandular de suas próprias enzimas · Pode acometer tecidos peripancreáticos e/ou levar à falência de múltiplos órgãos, dependendo da intensidade. · Uma vez que a causa e as complicações são removidas, há recuperação clínica, morfológica e funcional · O que não ocorre na pancreatite crônica (principal diferença entre as duas) ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS · Necrose gordurosa pancreática e peripancreática · Reação inflamatória associada · A extensão dessas alterações está relacionada diretamente com a gravidade do quadro CLASSIFICAÇÃO DE ATLANTA · LEVE: · Denominada edematosa/intersticial · Ausência de falência de órgãos · Não tem complicação local e nem sistêmica. · MODERADA: · Necrose estéril e/ou · Falência orgânica transitória e/ou · Complicações locais ou sistêmicas não persistentes (resolvem em 48 horas) · GRAVE: · Denominada de necrosante/necro-hemorrágica · Falência orgânica persistente SOBRE O PÂNCREAS · É um órgão retroperitonial, situando-se no abdome superior, entre as vértebras T12 e L2. · Divide-se em três partes: cabeça, corpo e cauda. · A cabeça é circundada pelo arco duodenal e sua cauda possui íntimo contato com o hilo esplênico. · É uma glândula do aparelho digestivo capaz de exercer uma dupla função: · Exócrina (produção e secreção do suco pancreático, rico em bicarbonato e enzimas digestivas); · Endócrina (liberação de hormônios, tais como a insulina, o glucagon e a somatostatina). · Toda secreção pancreática drena para o ducto pancreático principal, ou Ducto de Wirsung, desaguando no duodeno, na Papila de Vater ou papila maior do duodeno. · A papila de Vater contém o esfincter de Oldi que auxilia no controle da expulsão da bile e suco pancreático. ETIOLOGIAS · Litíase biliar (principal causa, pedra que migra pelo cístico ou colédoco) · Hipótese: Impactação do ductobiliopancreático e refluxo biliar para o pêncreas, provocando lesão das células acinosas por ativação das enzimas pancreáticas e a liberação de fatores inflamatórios. · Cálculos <5mm tem risco maior de causar pancreatite · Idiopática: 10-15% · Lama biliar e microlitiase são encontrados em 20 a 40% dos casos em que a causa não é conhecida. · Alcoólica (30% dos casos) · Disfunção do esfincter de Oddi · Formação de “rolhas proteicas”, responsáveis por obstrução de microductos pancreáticos · O próprio efeito tóxico direto do alcool · Hipertriglicidemia · 1-4%. Principalmente quando níveis superiores a 1000 mg/dl · Hiperparatireoidismo · Na criança a principal causa é trauma (síndrome do tanque) · Medicamendosa (imunussupressor, metronidazol, IECA, anticonvulsivante) · Autoimune · Tumor de pâncreas · Pós-operatório de cirurgia abdominal e cardíaca · CPRE · Fibrose cística · Infecções (hepatite, CMV, tuberculose, ascaridíase, caxumba). QUADRO CLÍNICO · Dor abdominal aguda que irradia para dorso – dor em barra. · Comumente associada à vômitos. · A dor pancreática se mantém por dias. · A progressão da dor é rápida atingindo intensidade máxima dentro de 10 a 20 minutos. · Posição “prece maometana” ou posição genupeitoral Melhora a dor · Sem peritonite · Pode apresentar alguns sinais: · Sinal de Cullen (equimose periumbilical) · Sinal de Grey Turner (equimoses nos flancos) · Sinal de Frey (equimose no ligamento inguinal) · Sinal de Fox (equimose na base do pênis) · Pode ter complicação local e sistêmica. Pode ter IRA, HD, SIRS. · Febre, desidratação, Taquicardia · Pode haver dor à palpação no epigástrio ou mais difusa · Distensão abdominal e ruídos hidroaéreos diminuídos · Choque ou Coma. · Na pancreatite necrosante, o paciente pode se apresentar: · Mau estado geral · Toxêmico · Pálido · Hipotenso · Taquicárdico (100-150 bpm) · Taquipneico (pela dor ou pelo acometimento pulmonar) · Febril (38,5-39ºC) · Com o sensório deprimido (confusão mental, torpor ou coma) · Derrame pleural à esquerda é comum. DIAGNÓSTICO · AMILASE · Eleva-se em 6-12 horas após início da dor · Normaliza em 3-5 dias · Aumentos acima de 3 vezes, têm sensibilidade de 67-83% e espec. 85-98% · Sugere pancreatite quando > 500 e principalmente quando > 1000. · Fatores que elevam a Amilase: · Pancreatite; CA de pulmão, pâncreas e ovário; Cistos ovarianos; Acidose metabólica; Feocromacitoma; Timoma; Circulação extracorpórea; Úlcera gástrica perfurada; Isquemia mesentérica; IC; Ruptura de sôfago; Obstrução intestinal; Gravidez tuária; Morfina; EDA, HIV. · LIPASE · Aumenta após 4-8 horas, com pico de 24 horas · Volta a normalizar-se em 8-14 dias · Sensibilidade e especificidade de 82-100% · Se elevação persistente, pensar em formação de pseudocisto · HEMOGRAMA: · Avaliação do hematócrito é importante (se elevar, é sinal de mau prognóstico) · ELETRÓLITOS · UREIA E CREATININA · Ureia nitrogenada sérica: Foi preditor de mortalidade · TRIGLICÉRIDES · Se concentração alta, pode reduzir falsamente os níveis de amilase · TGP · TGP >150 UI/L tem um valor preditivo positivo de 95% para o diagnóstico de pancreatite biliar · GASOMETRIA ARTERIAL: Avalia o comprometimento pulmonar · CÁLCIO SÉRICO: · Hipocalcemia é um achado que decorre da saponificação do cálcio circulante pela gordura peripancreática necrosada · Assim, possui relação com a gravidade do caso (cálcio <7mg/dl indica pior prognóstico) · CPRE na pancreatite: se o calcular não migrar – icterícia persistente. · COLECISTECTOMIA: na mesma internação, assim que o paciente estabilizar. · RAIO X: · Descartar quadros perfurativos pela presença de pneumoperitônio · 1/3 dos pcts apresentam alterações na radiografia do tórax · Elevação do hemidiafragma, derrame pleural, atelectasias basais, infiltrado pulmonar ou síndrome da angústia respiratória aguda. · Pode apresentar sinais inespecíficos: · Distenção de alça de delgado (alça-sentinela) · Sinal de Gobiet (distensão do cólon transverso devido à sua infiltração) · Sinal de cut off no colon (distenção gasosa dos ângulos hepático e esplênico e ausência de gás no transverso) · TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA · Baixo valor para diagnóstico na fase aguda, pois há uma demora para necrose · Principal exame para avaliação do pâncreas, principalmente com contraste · Importante para a detecção de necrose e avaliação da gravidade local do quadro · Solicitar após 48 horas em todos exames · Capaz de identificar coleções e pseudocistos · RESSONÂNCIA · Melhor, porém mais caro COMPLICAÇÕES · Podem acontecer em qualquer momento da sua evolução · As causas de mortalidade nas 2 primeiras semanas são relacionadas à síndrome da resposta inflamatória COMPLICAÇÕES POR SISTEMA DA PANCREATITE PULMONAR -Atelectasias, Derrame pleural e Síndrome da Angústia Respiratória. RENAL -Insuficiência renal aguda pré-renal (devido o sequestro de fluidos que ocorre na fase aguda) CARDÍACO -Falência aguda do miocárdio em decorrência do processo inflamatório METABÓLICO - Hiperglicemia, Acidose Metabólica, Hipocalcemia e Hipomagnesemia na fase aguda SISTÊMICO -Fase aguda: Coagulação intravascular disseminada, Disfunção de múltiplos órgãos e sistemas, choque hipovolêmico -Trombose venosa portoesplenomesentérica desenvolve-se em cerca de 50% dos pcts OUTROS - Gastrite Hemorrágica, Úlcera de estresse, Necrose gordurosa metastática, Retinopatia de Purtscher LOCAL - Fase aguda: Hemorragia e Necrose -Após 2 semanas: A necrose pode infectar, originando o abscesso pancreático. Tc mostra sinal da bolha de sabão- Bolha de gás no pâncreas ou tecido peripancreático -O processo inflamatório pode levar: isquemia e perfuração do colo transverso -O efeito de massa, gerado pelas coleções, pode provocar: Quadros obstrutivos gastrointestinais. - As coleções podem se juntar e formar uma capsula, formando um pseudocisto (coleção encapsulada de fluido com uma parede inflamatória bem definida com mínima ou nenhuma necrose. Ocorre após o 4° mês) FATORES PROGNÓSTICOS · RANSON (Avaliados na admissão e após48 horas dos sintomas) · Mortalidade em pacientes que apresentam menos de 3 critérios é de cerca de 1%, se mais que 3 chega a 35% · APACHE: Pancreatite grave se >8pontos · BALTHAZAR: >6 é grave RANSON (Causa Biliar) RANSON (Causa Biliar) À ADMISSÃO À ADMISSÃO IDADE >55 IDADE >70 GB >16000 GB >18000 LDH >350 LDH >250 AST >250 AST >250 GLICEMIA >200 mg/dl GLICEMIA >220 mg/dl APÓS 48 HORAS APÓS 48 HORAS Queda do Hematócrito >10% Queda do Hematócrito >10% Aumento da BUN >5 Aumento da BUN >2 CÁLCIO <8 CÁLCIO <8 POS <60 POS <60 Déficit de bases >4 Déficit de bases >5 Perda de fluidos >6 Perda de fluidos >4 L CRITÉRIOS DE BALTAZAR ELEMENTOS AVALIADOS ACHADOS PONTOS GRAU DE PANCREATITE AGUDA A: Normal 0 B: Edema pancreático 1 C: Borramento da gordura peripancreatico 2 D: Coleção única 3 E: 2 ou mais coleções 4 NECROSE PANCREÁTICA Ausente 0 Necrose de menos de 33% do pancreas 2 Necrose de 33 a 50% do pancreas 4 Necrose de mais de 50 % do pancreas 6 ÍNDICE DOS CRITÉRIOS DE BALTAZAR PONTOS COMPLICAÇÕES MORTALIDADE 0-1 0% 0% 2-3 8% 3% 4-6 35% 6% 7-10 92% 17% TRATAMENTO · Jejum · 24 a 48h · Se na reintrodução da dieta, paciente não aceita, faz por via nasoenteral · Se não aceita enteral, faz por via parenteral. · UTI: pacientes graves · Hidratação · Agressiva, entre 5 e 10ml/kg de solução cristaloide por hora · Balanço hídrico diário · Controle eletrolítico e acidobásico · Nos casos graves, reposição com 20ml/kg de fluido em 30 minutos, seguida por 3 ml/kg/h por 8 a 12 horas · Analgesia Intravenosa · Dipirona + hioscina e/ou Meperidina · Evita-se a morfina (Aumenta a pressão do esfincter de Oddi) · Sintomáticos: protetor gástrico, anti emético · Controle de diurese- sonda vesical. · Antibiótico · Principalmente Imipenem/meropeném, quinolonas ou metronidazol · Se infecção · Faz uma aspiração percutânea guiada por TC com Gram e cultura ou entra com terapia empírica · visualiza na TC- presença de gás, pontos pretos no retroperitôneo). · Principal causa de morte após 2 semanas é a infecção do tecido pancreático ou peripancreático · Principalmente derivados do intestino, incluindo E. Coli, Pseudomonas, Klebsiella e Enterococcus · Cirurgia- necrose infectada após 14d. MANEJO DA PANCREATITE AGUDA SEVERA
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